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Buscando uma resposta para Regina

Me pego a pensar sobre meu papel de designer em um momento social tão inconstante e
maluco como o nosso. Não falo aqui apenas de conflitos políticos e sociais brasileiros – os quais
já são bastante assustadores – mas de sustos maiores que vamos tomando durante nossos dias.
A escravidão denunciada pela morte de fugitivos a navio em direção à Europa, a fome que ainda
assola muitos lugares do mundo e os descarados preços baixos de todo tipo de mercadoria (sim,
levo sustos a cada passada de olho pelas etiquetas!).

Nos demos de bandeja às grandes corporações. Me parece que tudo o que vale a pena é que
elas próprias continuem a lucrar, sem se importarem com as consequências desse lucro. É que
aprendi com os sertanejos de baixo de grandes umbuzeiros na Bahia, com os caipiras simples do
interior de São Paulo e do sul de Minas, com os empregados de um tio endinheirado no
Tocantins, que a vida pode ser muito mais do que o dinheiro ou o conforto, porém, foi
encontrando-os em situações de quase miséria material que encontrei a grandeza de suas
existências. Será preciso sempre chegar a um extremo para discernir seu ser do que ele acha
que tem, compra, leva ou cria?

Quando Regina me sugeriu que compartilhasse com ela, de alguma forma, sobre minhas
memórias, meu território existencial, meu lugar de pertencimento e meu fazer compartilhado,
não pude escrever nada. E acredito que ainda não tenho essa capacidade ou até mesmo esse
direito. Não posso, porque esse lugar não existe. O que existe para mim é o atravessamento do
que sou eu, do que é o outro, do que é esse espaço-tempo em que vivemos e de como se
configuram todas essas linhas atravessadas. Meu território, assim, não me pertence. Minha
própria existência só acontece em relação a outras.

Durante a conversa, ela cita alguma história relacionada a avós, nos manda um texto que fala
sobre se ter um lugar, uma terra firme e sobre se ser cambiante, nômade em busca de terras
mais férteis. Passa por minha cabeça a primeira vez que me dei conta que minha avó costurava;
todas as vezes que sentei à máquina completamente sozinha (mas ainda assim cheia de gente
ao meu lado); as vezes que ensinei minha mãe a fazer algum acabamento bem detalhado e o
quanto ela aprendeu rápido a ponto de me ensinar novas coisas depois de um tempo; e, por
último, as tantas vezes que dei aula de costura aqui em casa para algumas amigas, percebendo
o quanto a costura pode ser revolucionária.
E penso: se Regina precisa de alguma resposta, eu não sei qual é – não gosto muito de respostas
– mas posso lhe dar algumas pistas – dessas eu gosto muito!

Uma sensação que tenho quando me mudo de cidade – e já fiz isso tantas vezes que não me
interessa mais contar – é a de que somente quando chega minha máquina de costura é que a
cidade começa para mim. Começa a aventura de procurar novas lojas de tecido, aviamentos,
descobertas de novas padronagens e texturas. A descoberta da própria cidade e,
consequentemente, de mim mesma naquele atravessamento. São muitas as linhas, os nós, os
emaranhados, mas isso tudo está sempre em movimento. O território se faz e se desfaz o tempo
todo. Regina que me desculpe, mas essa linha da vida não é minha, esse pertencimento não é
meu, porque aqui mesmo, agora, sou muitos e não sou ninguém.

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