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RESUMO
Com a necessidade de problematizar o espaço geográfico em nível local a partir de suas contradições
sócio históricas e assim evidenciar a sua relevância enquanto fator social, este artigo objetiva analisar
o processo de territorialização da Ilha Grande de Santa Isabel/PI e Pedra do Sal/PI, objetos de estudos
desse trabalho, que repercute histórica e socialmente nas relações de poder, entre os atores envolvidos,
a partir da histórica apropriação e dominação de terras no contexto local. Para isso,
metodologicamente, este artigo tem como abordagem qualitativa, tendo em vista o englobamento de
perspectivas analíticas que tal pesquisa pode gerar, através do levantamento bibliográfico, revisão em
periódicos que retratem tal problemática, pesquisa documental em órgãos públicos, entrevistas
semiestruturadas com a comunidade local, além de incursões realizadas para se compreender a
vivência do extrativismo com os autóctones que ocupam tal área. Assim, ficou evidente que existe um
dualismo entre as informações dos entrevistados x documentos de aforamento da terra pela SPU, no
qual, alguns contrapontos são questionadores. Além disso, percebe-se uma histórica relação social dos
entrevistados com o comércio, sobrevivência e ligação cultural/social como forma de afirmação
territorial. Percebe-se novos cenários emergindo e assim, o “homem territorial”, construído nos
diversos agentes envolvidos, atuará em novas configurações de territorialização, desterritorialização e
reterritorialização, sendo palco de transformações, rupturas e contradições a serem problematizadas.
Portanto, é relevante, aprofundar a pesquisa local acerca das relações sociais/espaciais locais caminho
de retaliação histórica em busca de um território livre e múltiplo.
1 INTRODUÇÃO
Ao longo do tempo, a organização social e econômica das sociedades aconteceu por
meio de variadas formas, imprimindo no espaço geográfico, as transformações de cunho
político, econômico, social, etc. Isto acontece devido ao homem globalizado que, pós-
revolução industrial, materializa suas transformações dentro do modo de produção vigente,
o modo de produção capitalista, dentro de uma lógica. Partindo deste contexto global, o
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Turismólogo/Comissão Ilha Ativa/E-mail: rayan.rayan.rr@hotmail.com
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Zootecnista/ Especialista em Educação do Campo e Agricultura Familiar Camponesa/ Presidente da Comissão
Ilha Ativa – CIA/ E-mail: leandroinakake@gmail.com
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Bióloga/ Especialista em Ecologia/ Comissão Ilha Ativa/ E-mail: kesley.bio@gmail.com
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espaço geográfico passa a problematizar outros patamares, como por exemplo, o território,
que conota duplamente, entre o material e o simbólico, aproximando-se de terra-territorium
quanto de térreo-territor (terror, aterrorizar), tem ligação com dominação de terra e inspira
medo para aqueles que são dominados, ou seja, impedidos de entrar ou ter acesso a terra
(Haesbaert, 2005).
No Brasil, a questão agrária possui um desafio a ser alcançado no qual a maior parte
das terras estão em posse de corporações nacionais e multinacionais, alimentando o
agronegócio indo de encontro à agricultura familiar (FERNANDES et al 2012), além de que,
políticas publicas precisam ser efetivadas, principalmente, a partir do momento em que se
vive uma negação dos direitos territoriais e criminalização de movimentos sociais que
defendem a socialização do território. Comunidades pesqueiras, quilombolas, indígenas, que
territorializam-se no espaço geográfico como forma de reproduzir seus modos de vida,
imbuídos de um direito social sobre a terra, vivem a realidade de terem seus territórios,
rifados/mercantilizados pela iniciativa pública e privada.
Quanto ao contexto econômico do espaço, fator determinante de suas novas relações,
no litoral piauiense4, existem variadas formas de geração de renda, principalmente no tocante
das comunidades pesqueiras e extrativistas. Por mais que o turismo que, timidamente, se
inicia como forma de geração de emprego e renda no litoral, tais comunidades vivem
principalmente por meio de atividades de subsistência como o extrativismo de frutícetos,
pesca, cata de caranguejo, além da dependência dos autóctones com as políticas sociais e
emprego público local.
É importante destacar as relações incrustradas no espaço geográfico, que
territorializam-o, por meio de novas relações estabelecidas que fogem da concretude.
Lefebvre, em A produção do espaço afirma que o espaço não é autônomo, estruturalmente, ou
seja, alheio ao externo, e sim, peça que se relaciona, dialeticamente com as relações de
produção, e paralelamente, relações sociais e espaciais (FILHO, 2013).
O território, construído socialmente por essas comunidades, apesar de rico e
“territorializado” com suas práticas socioeconômicas, apresenta alguns paradoxos que
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O litoral piauiense representa 66 km, iniciando na Barra das Canárias – fronteira com o Maranhão e segue pela
Ilha Grande de Santa Isabel, passando pelo farol e Praia da Pedra do Sal, indo até a Barra da Timonha, foz do rio
São João da Praia, na fronteira com o Ceará.
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De acordo com a pesquisa realizada por Ibiapina (2013), a geração de energia eólica aparece como
oportunidade por representar uma fonte renovável e apresentar “baixos” impactos, porém, tais impactos de
cunho social e ambiental não podem ser negligenciados.
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Atualmente, a Pure Resorts & Residences vem analisando a proposta de inserção de um resort e condomínio de
luxo natural na comunidade da Pedra do Sal, com promessa de geração de emprego e renda, além de alavancar a
atividade turística em nível municipal e estadual.
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Disponível em: http://comissaoilhaativa.org.br/
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2 ABORDAGEM METODOLÓGICA
Conforme pesquisa realizada pela Comissão Ilha Ativa – CIA (2012), um dos objetos
de estudo deste trabalho científico, Ilha Grande de Santa Isabel/PI8, faz parte da Área de
Proteção Ambiental – APA Delta do Parnaíba, no qual, tal unidade de conservação foi criada
objetivando proteger o “Delta do rio Parnaíba”, por meio da fauna, flora, dunas, recursos
hídricos, melhoria de qualidade de vida dos autóctones locais, preservação de suas culturas e
tradicionalismo assim como fomento da prática do turismo ecológico.
Com 240 km² de território, a Ilha Grande de Santa Isabel/PI possui uma organização
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Representa a maior ilha do Delta do Rio Parnaíba, possui toda sua área dentro da Área de Proteção Ambiental
Delta do Parnaíba, Unidade de Conservação de Uso Sustentável (CRESPO, 2007).
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social que engloba diversos grupos, associação e colônias se atendo na defesa da pesca,
artesanato, cata do caranguejo, cata do marisco e dentre outros (CIA, 2012). Isto reforça a
ligação/territorialização dos autóctones para com a terra, permitindo analisar o fator de
convívio e subsistência social que um território tem para quem os ocupa.
Já a Pedra do Sal/PI está localizada ao norte de Parnaíba, tendo como divisa, a cidade
de Ilha Grande/PI, distanciando-se em 19 quilômetros do município-sede. Tal comunidade
aqui problematizada é “conhecida por sua singularidade e tradicionalismo do seu povo,
representando um dos grandes atrativos do local” (CUNHA, MÉLO e PERINOTTO, 2014).
Além disso, também configura-se por meio de entidades que defendem categorias como as
artesãs, barraqueiras de praia, associações comunitárias, etc.
Por meio de uma análise documental dos processos que deram aforamento da terra
para “herdeiros”, é importante destacar que somente em 1989 (SPU, 2014), tal posse de terra
foi concedida, ultrapassando (leia-se como negação) a existência de famílias que se
apropriaram do espaço local conforme, serão apresentadas comprovações, no decorrer desse
trabalho analítico. Esta relação: Herdeiros x comunidade imprimem relações de poder e
desigualdade na posse da terra, devido aos diversos interesses envolvidos, demonstrando o
papel “territorializador” desses atores sociais, demostrado pelas suas motivações de ordem
política, social, econômica, ambiental, etc. De um lado, o caráter social do território
legitimando a multiplicidade que uma terra pode materializar enquanto no outro, a lógica
funcional do capital de produção para a reprodução do capital.
Assim, por meio desse mote, cabe aqui, conceituar o termo território que nos obriga a
recorrer a variadas vertentes de estudos, embora priorizemos contribuições teóricas que
partam da geografia crítica. Assim, a concepção mais breve coloca o espaço territorial como
instrumento que imprime poder e dominação por parte de agentes sociais (estado,
organizações não governamentais, setor privado, etc.) ou como Brito (2008, p. 19) situa
território com um viés social citando Milton Santos:
Os territórios, como lócus de manifestação das materialidades sociais em
meio às forças universalizantes do sistema capitalista, resultam no que
Santos M. (1994) designa de uma “forma impura”. Nesse sentido, a
territorialidade humana aparece como um conjunto de relações mediadas
pelo poder entre os distintos atores sociais (estado/governo, empresas,
instituições sociais..., cidadãos), que se interessam por algum objeto comum
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Assim, o homem enquanto “ser territorial” (ou territorialista como afirma Barel), atua
de diversas formas que materializam a multiplicidade de territórios criados e socializados e
essa experiência é evidente no convívio dos autóctones locais e suas diversas formas de
“territorializações” no meio em que vivem.
Com essas contribuições teóricas, buscamos dialogar algumas noções sobre “espaço”,
“território”, “territorialidade”, “desterritorialidade, “multiterritorialidade” e entre outros,
como forma repousar sobre o contexto local e assim compreender as problemáticas existentes.
Seguindo a abordagem metodológica deste trabalho, realizamos uma breve revisão
documental de processos antigos que deram aforamento de terra para tais herdeiros citados
anteriormente, no qual, teve como instituição responsável, a Secretária do Patrimônio da
União – SPU, endereçada no município de Parnaíba que foi responsável pela legalização de
terras da Ilha Grande de Santa Isabel/PI e Pedra do Sal/PI e possui documentação que
apresenta como se deu o processo de legalização das terras para esses herdeiros e que será
apresentada no capítulo “resultado e discussões” do presente artigo científico.
Por meio da observação participante junto aos autóctones, durante o ano de 2014,
foram realizadas uma série de incursões e entrevistas, objetivando conhecer historicamente,
por meio da fala da comunidade, como se deu processo de apropriação das terras dos objetos
de estudos aqui definidos (Ilha Grande de Santa Isabel/PI e pedra do Sal/PI), principalmente
pela problemática colocada no qual, as mesmas terras foram aforada em nomes de herdeiros.
Dessa forma, sob a participação de moradores, visitamos áreas já desocupadas que
demonstram uma ocupação histórica do município, apresentando ampla área de pesquisa para
o campo da arqueologia e ciências correlatas. Essas visitações duravam em média 1 a 4 horas,
proporcionando uma observação sobre o extrativismo local que já evidencia e legitima a
apropriação da área para fins sociais.
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3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para início de análise, vale ressaltar que esta pesquisa configura-se como uma
tentativa de fornecer um instrumento teórico-empírico de análise em defesa da apropriação de
terra no seu contexto social pelas comunidades ocupantes aqui citadas, tendo em vista à
histórica negação de tal realidade e a ausência de material científico que possibilite uma
compreensão sobre tais contradições locais. Para se chegar aos resultados históricos e sociais
sobre como se deu o processo de apropriação das terras da Ilha Grande de Santa Isabel/PI e
Pedra do Sal/PI, buscou-se caminho em um guia de entrevista, embora outros
questionamentos tenham surgido de acordo com os acontecimentos supracitados.
Questionamentos como: Desde quando, você mora na Pedra do Sal? Você sempre morou
neste local ou já morou em outras casas? Quem foi a primeira pessoa da sua família a morar
na Pedra do Sal? O que deveria ser feito para essa situação problemática das terras na Ilha
Grande/PI e Pedra do Sal/PI? e dentre outros, direcionaram o levantamento de dados.
Na totalidade, foram seis moradores entrevistados, sendo pertencentes do município de
Ilha Grande/PI e comunidade da Pedra do Sal, pertencente ao município de Parnaíba/PI. Por
meio de uma entrevista semiestruturada, optou-se entrevistar pessoas que pudessem discorrer
sobre o processo histórico de ocupação das localidades citadas, ou seja, pessoas antigas e que
de alguma forma, fornecessem informações relevantes para contradizer fatos levantados pelos
“donos da terra” ou “herdeiros” no aforamento realizado pela SPU. Questionou-se de início,
sobre a história de ocupação das famílias no município de Ilha Grande/PI e comunidade da
Pedra do Sal. Seu Garajau, morador da comunidade da Pedra do Sal, casado com Dona Maria
da Conceição, também moradora local, mora na localidade desde 1977, porém nunca
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E o entrevistado 2 complementa:
“Quando o João Tavares Silva chegou aqui, o avô “Vei Coringa” dela (Dona
Maria da Conceição) já morava aqui... Quando ele chegava aqui, vinha
em um cavalo e amarrava na budega que o “Vei Coringa” tinha e ia passear
nas pedras... Ele vinha da Ilha Grande de Santa Isabel”.
Nas falas acima dos moradores, percebe-se nas datas, que a ocupação das terras da
Pedra do Sal/PI ocorreu a mais de 100 anos, porém, observando documentos públicos da
SPU, percebe-se que as suas existências nas terras aforadas, assim como suas atividades de
subsistências, foram negadas. Em pesquisa feita nos processos de aforamento de terra feita
pela SPU, conforme processos tendo como procedência, João Carvalho de Carvalho e Silva,
apresenta informações quanto a demarcação de terras para 7 (sete) herdeiros, tendo como data
de processo iniciado, o ano de 1987:
E a entrevistada 4 também fala sobre como era antigamente, sua relação social com o
território aqui problematizado:
Tinha muita fartura, mais caju, murici e as belezas naturais que ainda temos
um pouco, mas não como antes. Eu vejo assim... Até mesmo no mar e nas
lagoas, tinha muito peixe que com o tempo foi acabando”. Então tinha lagoas
que davam muito peixe que era a lagoa da Vareda que meu avô pescava
muito, então tinha uma grande diversidade e com o tempo foi acabando. Eu
lembro muito dessa fartura... Eu lembro muito dessa fartura e eu cresci
vendo isso, nós íamos vender peixe no mercado em Parnaíba, íamos pelo
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emprego e renda.
Souza contextualiza poder e território da seguinte forma:
O território, objeto deste ensaio, é fundamentalmente um espaço definido e
delimitado por e a partir de relações de poder. A questão primordial, aqui,
não é, na realidade, quais são as características geoecológicas e os recursos
naturais de uma certa área, o que se produz ou quem produz identidade em
um dado espaço, ou ainda quais as ligações afetivas e de entre um grupo
social e seu espaço.
Estes aspectos podem ser de crucial importância para a compreensão da
gênese de um território ou do interesse por tomá-lo ou mantê-lo, como
exemplificam as palavras de Sun Tzu a propósito da conformação do terreno,
mas o verdadeiro Leitmotiv é o seguinte: quem domina ou influencia e como
domina ou influencia esse espaço? (SOUZA, M., 1995, p. 79, grifos do
autor).
Outro morador da Pedra do Sal fala sobre a não regularização da terra. Questionado
sobre a existência de documentação que comprova a posse do território, o entrevistado 5
Jonas afirma:
Tenho não. Pois quando chegamos aqui, tínhamos o entendimento (Já era
conhecido como Pedra do Sal) que era um lugar deserto... O Roberto Pilim
levou o João Severo no cartório para ele testemunhar que essas terras são da
Família Silva... Então isso aqui era aberto, não tinha dono, existiam poucas
casas e hoje em dia você vê a quantidade de casa... O que acontece é que a
Família Silva tem um monte de dinheiro, pois eu já fui na reunião da eólica e
a o rapaz disse pra nós que isso aqui (a terra) estava alugado pela família
Silva por 20 anos. Que menos eles ajudassem a comunidade, pois nós que
fizemos o cemitério e a igreja ainda teve ajuda do Herbet. Um trabalhador
desses me falou que daqui a 2 anos, serão instalados 90 cataventos.
De acordo com a SPU, as glebas divididas para cada herdeiro correspondem a grandes
áreas territoriais:
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E partindo de um contexto econômico sobre território, Marx fala que (1986, p. 87):
A noção de território estaria dada em sua declaração, “[...] o que faz com que
uma região da terra seja um território de caça é o fato das tribos caçarem
nela [...].” Com isso, o autor aponta a condição de suporte da vida material
de um dado grupo social que se apropria e usa uma parte do espaço
geográfico, em um período historicamente datado. É evidente que Marx
(1986) não estava preocupado em compreender o território em si, mas sim as
formações econômico-sociais pré-capitalistas, que forneceria elementos de
análise para seu trabalho de maior fôlego – O capital.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS