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Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
COMARCA DE UNIÃO DA VITÓRIA
1ª VARA CÍVEL DE UNIÃO DA VITÓRIA - PROJUDI
Rua Marechal Floriano Peixoto, nº 314 - Centro - União da Vitória/PR - CEP: 84.600-000 -
Fone: (42)3522-0901
Processo: 0004927-92.2016.8.16.0174
Classe Processual: Monitória
Assunto Principal: Inadimplemento
Valor da Causa: R$34.108,55
Autor(s): Santo Expedito Madeiras LTDA - Picador
Réu(s): macasil industria e comercio de compensados ltda
SENTENÇA
SANTO EXPEDITO COMÉRCIO DE MADEIRAS LTDA. ajuíza ação monitória em face de MACASIL
INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE COMPENSADOS EIRELI, ambos qualificados nos autos.
Aduz a autora ser credora da parte ré no valor de R$ 34.583,74 (trinta e quatro mil quinhentos e oitenta e
três reais e setenta e quatro centavos) decorrentes de serviços de frete prestados pela requerente ao longo
do ano de 2015. Requer o pagamento do valor mencionado, corrigido pelo INPC e com juros de 1% ao
mês.
Citada, a parte ré apresenta “contestação” (mov. 26), a qual recebo na forma do art. 702 do Código de
Processo Civil, dada a natureza jurídica sui generis dos embargos à ação monitória. Alega não haver
“prova da real contratação dos serviços alegados”, apontando como insuficientes as notas fiscais
apresentadas na exordial. Impugna pormenorizadamente os documentos da parte autora e requer a
improcedência da demanda, além da condenação da requerente ao pagamento de despesas processuais e
honorários sucumbenciais no importe de 20% (vinte por cento) do valor da causa.
Apresentada resposta aos embargos (mov. 30), a autora/embargada impugna a integralidade das alegações
vertidas nos embargos monitórios. Pugna, ainda, pela condenação da demandada/embargante por
litigância de má-fé.
Designada a produção de prova oral (mov. 78.1), realiza-se audiência de instrução (mov. 86), com a oitiva
de duas testemunhas da autora e uma testemunha da requerida.
Apresentadas as derradeiras alegações (mov. 89.1 e mov. 92-1), vieram-me os autos conclusos.
PROJUDI - Processo: 0004927-92.2016.8.16.0174 - Ref. mov. 94.1 - Assinado digitalmente por Luis Mauro Lindenmeyer Eche:17546
12/07/2017: JULGADA IMPROCEDENTE A AÇÃO. Arq: Sentença
Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Da interpretação conforme à Constituição Federal das regras previstas no art. 489, § 1º, incs. I, II,
III, IV, V e VI, do vigente Código de Processo Civil.
Segundo a ótica do STF, tal praxe importa em violação à própria Constituição Federal, uma vez que o
órgão competente para emprestar a correta interpretação de dispositivos constitucionais, no caso a
Suprema Corte, já se manifestou acerca da sua adequada aplicação.
Outrossim, há cristalino malferimento ao princípio da separação dos poderes, cláusula pétrea de todo
Estado Democrático de Direito, porquanto a edição de uma lei pelo Poder Legislativo, visando, de forma
espúria, alterar interpretação pacificada na Suprema Corte sobre determinado tema, tem por escopo
interferir na própria interpretação da Constituição Federal, usurpando a competência do STF, guardião
último da Constituição Federal. Nesse sentido:
ADIn: (...). III. Foro especial por prerrogativa de função: extensão, no tempo, ao
momento posterior à cessação da investidura na função dele determinante. Súmula
394/STF (cancelamento pelo Supremo Tribunal Federal). Lei 10.628/2002, que
acrescentou os §§ 1º e 2º ao artigo 84 do C. Processo Penal: pretensão
inadmissível de interpretação autêntica da Constituição por lei ordinária e
usurpação da competência do Supremo Tribunal para interpretar a Constituição:
inconstitucionalidade declarada. 1. O novo § 1º do art. 84 CPrPen constitui
evidente reação legislativa ao cancelamento da Súmula 394 por decisão tomada
pelo Supremo Tribunal no Inq 687-QO, 25.8.97, rel. o em. Ministro Sydney
Sanches (RTJ 179/912), cujos fundamentos a lei nova contraria inequivocamente.
2. Tanto a Súmula 394, como a decisão do Supremo Tribunal, que a cancelou,
derivaram de interpretação direta e exclusiva da Constituição Federal. 3. Não pode
a lei ordinária pretender impor, como seu objeto imediato, uma interpretação da
Constituição: a questão é de inconstitucionalidade formal, ínsita a toda norma de
gradação inferior que se proponha a ditar interpretação da norma de hierarquia
superior. 4. Quando, ao vício de inconstitucionalidade formal, a lei interpretativa
da Constituição acresça o de opor-se ao entendimento da jurisprudência
constitucional do Supremo Tribunal - guarda da Constituição -, às razões
dogmáticas acentuadas se impõem ao Tribunal razões de alta política institucional
para repelir a usurpação pelo legislador de sua missão de intérprete final da Lei
Fundamental: admitir pudesse a lei ordinária inverter a leitura pelo Supremo
Tribunal da Constituição seria dizer que a interpretação constitucional da Corte
estaria sujeita ao referendo do legislador, ou seja, que a Constituição - como
entendida pelo órgão que ela própria erigiu em guarda da sua supremacia -, só
constituiria o correto entendimento da Lei Suprema na medida da inteligência que
lhe desse outro órgão constituído, o legislador ordinário, ao contrário, submetido
aos seus ditames. 5. Inconstitucionalidade do § 1º do art. 84 C.Pr.Penal, acrescido
pela lei questionada e, por arrastamento, da regra final do § 2º do mesmo artigo,
PROJUDI - Processo: 0004927-92.2016.8.16.0174 - Ref. mov. 94.1 - Assinado digitalmente por Luis Mauro Lindenmeyer Eche:17546
12/07/2017: JULGADA IMPROCEDENTE A AÇÃO. Arq: Sentença
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2797, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal Pleno, julgado em
15/09/2005, DJ 19-12-2006 PP-00037 EMENT VOL-02261-02 PP-00250).
No caso particular do art. 489, § 1º, e seus incisos, o legislador ordinário, em verdadeira reação à
(...).
3. O art. 93, IX, da Constituição Federal exige que o acórdão ou decisão sejam
fundamentados, ainda que sucintamente, sem determinar, contudo, o exame
pormenorizado de cada uma das alegações ou provas, nem que sejam corretos os
fundamentos da decisão.
(...).
(...).
(ARE 862175 AgR, Relator(a): Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado
em 26/05/2015, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-119 DIVULG 19-06-2015
PROJUDI - Processo: 0004927-92.2016.8.16.0174 - Ref. mov. 94.1 - Assinado digitalmente por Luis Mauro Lindenmeyer Eche:17546
12/07/2017: JULGADA IMPROCEDENTE A AÇÃO. Arq: Sentença
PUBLIC 22-06-2015).
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AGRAVO REGIMENTAL. PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO.
SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO. FUNDO DE COMPENSAÇÃO
DE VARIAÇÕES SALARIAIS - FCVS. VIOLAÇÃO PELO TRIBUNAL DE
ORIGEM DO ART. 535 DO CPC. INEXISTÊNCIA. SUFICIÊNCIA DE
PROVAS QUANTO AOS AVISOS REGULAMENTARES DE COBRANÇA
1. Com relação à alegada violação pelo Tribunal de origem ao art. 535 do CPC,
destaca-se que os órgãos julgadores não estão obrigados a examinar todas as teses
levantadas pelo jurisdicionado durante um processo judicial, bastando que as
decisões proferidas estejam devida e coerentemente fundamentadas, em
obediência ao que determina o art. 93, inc. IX, da Lei Maior. Isso não caracteriza
ofensa ao art. 535 do CPC.
Ademais, os juízes gozam de autonomia e liberdade para decidir e julgar os processos. Obrigá-los a seguir
jurisprudência, súmulas ou entendimento doutrinários, ainda que majoritário, é violar a própria
Constituição Federal. Aos magistrados cabe atenção obrigatória apenas às súmulas vinculantes e a
interpretação constitucional dada pelo STF porque a própria Constituição Federal assim os obriga.
Disposição em sentido contrário, emprestando obrigatoriedade à observância a outros precedentes malfere
a autonomia jurisdicional, princípio elementar do Estado Democrático de Direito e das prerrogativas de
todo e qualquer juiz brasileiro.
Nessa vereda, tem-se que os incs. I, II, III, IV, V e VI do § 1º do art. 489 do NCPC merecem ser aplicados
de acordo com a interpretação já expressada pelo STF acerca do alcance do disposto no art. 93, IX, da CF,
no sentido de que basta para atender aos requisitos constitucionais e legais que os despachos, as decisões
e as sentenças estejam fundamentadas de forma suficiente e bastante a apreciar a questão posta em litígio,
ainda que de forma sucinta, restando dispensado o exame pormenorizado de cada uma das alegações,
provas, teses, súmulas ou jurisprudências ventiladas pelas partes.
Sob essa ótica é que serão examinadas as pretensões e demais matérias postas nos autos.
No mérito.
A ação monitória visa a acelerar a formação do título executivo, tratando-se de processo de conhecimento,
com procedimento especial de cognição sumária.
PROJUDI - Processo: 0004927-92.2016.8.16.0174 - Ref. mov. 94.1 - Assinado digitalmente por Luis Mauro Lindenmeyer Eche:17546
12/07/2017: JULGADA IMPROCEDENTE A AÇÃO. Arq: Sentença
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Conforme dispõe o art. 700, do CPC, para o ajuizamento da ação monitória deve haver prova escrita, sem
força executiva, a partir da qual pretenda o autor receber soma em dinheiro, entrega de coisa fungível ou
infungível, de bem móvel ou imóvel, ou o cumprimento de obrigação de fazer ou de não fazer.
Se não efetuado o pagamento, não embargada a monitória ou rejeitados os embargos, constitui-se título
Ou seja, cumpre à parte autora da ação monitória comprovar, por meio de prova escrita, a existência de
crédito ou da obrigação de entrega de coisa ou bem, sem o que descabe o ajuizamento da ação monitória.
Dessa forma, passo ao exame pormenorizado das irresignações expressamente apontadas pela parte
ré/embargante.
Assevera, em apertada síntese, que os documentos apresentados junto à inicial são incapazes, por si só, de
embasar a condenação da requerida. Isto porque os comprovantes de serviço apresentados se referem
todos a uma mesma nota fiscal, bem como inexistem, nos autos, os comprovantes de recebimento das
mercadorias, documento que atestaria a efetiva realização daqueles serviços de frete.
Com razão a parte ré/embargante. É que os documentos apresentados nos movimentos 1.9 a 1.15, posto
que contenham, no campo “observações”, referência aos meses de prestação dos respectivos serviços, não
estão acompanhadas dos comprovantes de recebimento das mercadorias.
No entanto, observa-se que nenhum dos DACTE possui assinatura de recebimento, nem tampouco
comprovante que ateste a entrega da carga transportada. Os comprovantes de recebimento de frete
acostados no mov. 1.16 se referem às notas nº 4713, 4710, 4720, que não fazem menção direta a nenhum
dos DACTE apresentados.
A tabela constante no mov. 1.17, por sua vez, faz menção às notas 11898, 11899, 11912, 11913, 11923,
11922 e 11962, já informadas na observação do DACTE nº 1928 (mov. 1.12).
Quanto às planilhas constantes nos mov. 1.18 e 1.19, são de produção unilateral e, portanto, não possuem
o condão probatório das alegações deduzidas.
Sem a comprovação mínima de que os serviços de frete, referidos nos mov. 1.9 a 1.15, foram
efetivamente prestados pela requerente/embargada, já que não há nos autos documento que ateste
especificadamente o recebimento de cada uma das respectivas cargas fretadas, não sendo possível
estabelecer uma relação lógica entre a causa de pedir e os elementos de prova carreados aos autos.
Portanto, carece de eficácia probatória a documentação escrita apresentada na inicial.
Não obstante, o informante Marcio Milcheski, representante da autora, foi claro ao afirmar que não era
PROJUDI - Processo: 0004927-92.2016.8.16.0174 - Ref. mov. 94.1 - Assinado digitalmente por Luis Mauro Lindenmeyer Eche:17546
12/07/2017: JULGADA IMPROCEDENTE A AÇÃO. Arq: Sentença
realizado um controle efetivo de cada carga transportada, já que não possuía um comprovante de
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recebimento vinculado a cada uma delas. Procedia-se da seguinte forma: a cada quinzena a ré enviava um
relatório dos transportes realizados e a autora emitia um DACTE e todos os fretes do período. Ademais,
asseverou que não emitia uma nota fiscal para cada operação de frete (áudio de mov. 86.2).
É dever da parte autora provar fato constitutivo de seu direito, à luz do art. 373, I, do Código de Processo
Neste particular, importa dizer que, enquanto a parte autora não comprovar os fatos que deduz, não terá a
parte demandada qualquer ônus a se desonerar, a menos que pretenda fulminar com a pretensão contra ele
deduzida por meio do exercício de alguma defesa peremptória, cujo acolhimento importa na extinção do
feito de plano (prescrição, decadência, coisa julgada, etc). Bem observa tal circunstância o eminente
jurista João Batista Lopes, ao fazer referência às lições de Chiovenda acerca do ônus da prova:
Assim, em regra, incumbe ao autor a prova dos fatos constitutivos, e ao réu a dos
fatos extintivos, impeditivos e modificativos.
Entretanto, adverte, “enquanto o autor não provar os fatos que afirma, o réu não
tem necessidade de provar coisa alguma: actore non probante, reus absolvitur”.
[1]
Outrossim, não vislumbro, na espécie, nenhuma das hipóteses do art. 80 do Código de Processo Civil,
motivo porque deixo de considerar a autora/embargada como litigante de má-fé.
Do dispositivo.
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União da Vitória, 12 de Julho de 2017.
Juiz de Direito
[1] A Prova no Direito Processual Civil. 3ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. Pág. 41.