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CIDADE DE GOIÁS
ABRIL DE 2016
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HEITOR AMARAL PEREIRA
HENRIQUE FERREIRA ROQUE
CIDADE DE GOIÁS
ABRIL DE 2016
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RESUMO
O presente estudo apresenta breve análise sobre a decretação de prisão como medida
cautelar justificada pela necessidade de “garantia da ordem pública”, conforme disposição do
art. 312 do Código de Processo Penal. A decretação de prisão para que se garanta a ordem
pública pauta-se, única e exclusivamente, pela compreensão do julgador acerca do que lhe é
exposto, e gera ao indivíduo que teve sua liberdade cerceada, de pronto, aquilo que se pode
considerar como uma antecipação de pena que, na maioria dos casos, sequer condiz com o
delito pelo qual se espera julgamento. Para que se possa falar em reversão deste quadro
autoritário, apenas a aplicação da norma à luz dos princípios de direito, aliada à interpretação
constitucional da norma processual penal é que se abrirá, ao acusado, a porta das garantias de
um Estado Democrático.
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SUMÁRIO
Referências............................................................................................................10
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1 – Breve explanação sobre as medidas cautelares
O Processo Penal não admite, como o Processo Civil, um processo cautelar autônomo.
Assim, sendo necessário, a tutela cautelar na esfera processual penal se dá por meio da
aplicação de medidas específicas, trazidas pelo Código de Processo Penal, e também por
legislação especial.
Em matéria ritualística penal, a medida cautelar preza, de modo especial, pela
celeridade, e também pela efetiva aplicação da lei. “A razão de ser desses provimentos
cautelares é a possível demora na prestação jurisdicional, funcionando como instrumentos
adequados para se evitar a incidência dos efeitos avassaladores do tempo sobre a pretensão
que se visa a obter” (LIMA, 2013, p. 770).
Podem, as medidas cautelares, visar à proteção da instrução por meio da tentativa de
resguardo às provas, ao próprio procedimento ou ainda ter o indivíduo como ente processual
passível de sujeição à tutela cautelar. Neste último caso, a tutela cautelar, chamada de medida
cautelar de natureza pessoal, pode ser fundamentada pelas hipóteses trazidas pelo art. 312 do
Código de Processo Penal. São elas: garantia da ordem pública, garantia da ordem econômica,
conveniência da instrução criminal, para que se assegure a aplicação da lei penal, desde que
haja prova da existência do crime e indício suficiente de autoria.
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2 – O autoritarismo presente na justificativa pela “garantia da ordem pública”
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a prisão cautelar fundada na garantia da ordem pública tem sua gênese na
Alemanha nazifascista da década de 1930, período histórico em que o que se
buscava eram exatamente expressões abertas, vagas e imprecisas, que
pudessem ser utilizadas como alicerce para a realização de prisões que
pudessem ser contrárias ao sistema; vale dizer, o intuito era exatamente o de
se obter uma autorização geral e abstrata para prender. (...) No Brasil, o
fundamento da garantia da ordem pública foi inserido no sistema jurídico,
não por acaso, ainda na redação original do nosso Código de Processo Penal,
a qual remonta aos idos de 1941, época em que o nazifascismo ainda estava
em alta e a Segunda Grande Guerra no auge de seus acontecimentos.
(ROCHA, 2014, p. 10)
Inegável burla à legalidade em seu sentido estrito, violando, da lei, sua “condição
taxativa [n]a criação de crimes [e normas processuais], (...) proibindo-se a analogia ou outros
mecanismos que venham a converter o juiz em legislador” (SEMER, 2014, p. 33). Fato é que
abrir a possibilidade de ação dos juízes de forma a permitir que sua justificativa inclua quais
atos ou fundamentos no bojo dos “atentados à ordem pública” os torna suscetíveis ao
bombardeio midiático, ao apelo público, às próprias crenças, às crenças de determinado
grupo... Não é possível que um dispositivo legal se queira de tal forma abrindo tamanha
margem à arbitrariedade estatal escancarada pelo seu representante que ali decide.
Até que se alcance o momento de decisão em sentença, o juiz deve se pautar pelo
princípio da inércia. Não deve protagonizar qualquer dos atos instrutórios, ainda que seja em
nome da própria instrução. Antes disso, deve assumir sua condição de mediador, de mero
espectador.
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“(...) en función de su cargo y jerarquía y constituye una identidad asentada sobre estas bases. Rechaza los
relámpagos de consciencia acerca de las limitaciones de su poder (...), no le resta outro recurso que evitar
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Desta forma, a atuação do juiz passa a ser viciada, marcada pela ruptura com seu
próprio papel. Contradição exclusiva e escancaradamente autoritária, ignorando a função dos
princípios de Direito que, naturalmente, são garantidores da manutenção da ordem
democrática e da segurança jurídica das decisões (ZAFFARONI, 1998).
A aplicação da prisão como medida cautelar submete o indivíduo à mais grave sanção
estatal, e não deve ser pautada pelo entendimento do juiz por si só, em função de meros
indícios. Ainda assim, sendo os indícios a única fonte do “esclarecimento” do julgador, “tais
indícios devem (...) ser especificados de maneira estável pela lei, e não pelo juiz”
(BECCARIA, 2013, p. 30).
conflictos con las otras agencias para preservar su identidad falsa o artificial (...) y también para conservar su
función”.
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as alterações posteriores à promulgação da Constituição fizeram com que o instituto da prisão
cautelar pautada pela “garantia da ordem pública” fosse revisto. Isso acaba evidenciando que
a) o autoritarismo presente na edição inicial do CPP conta com força suficiente para se
perpetuar; e b) não há interesse majoritário em dar fim à interpretação autoritária dos
dispositivos legais, pautando a interpretação pelo texto Constitucional.
Quanto à permanência do autoritarismo, há que se destacar que a utilização do
argumento de “garantia da ordem pública” representa o mito “sempre presente em regimes
autoritários que se apresentam como Estados de Direito: o de que o processo penal é
instrumento de segurança pública/pacificação social” (CASARA, 2015, p. 194). Não há que
se falar em processo penal enquanto instrumento de segurança pública. Este mito se pauta
pela sempre presente e inflamada manifestação popular, que ignora o caráter humano daquele
que terá sua liberdade confiscada pelo Estado. “O clamor social, em razão da efemeridade que
lhe é ínsita, não pode ser arrimo de prisões cautelares, já que a construção desse clamor (...)
do fato pode esconder interesses outros na segregação de determinada pessoa, algo que nunca
poderá ser avaliado de maneira isenta” (ROCHA, 2014, p. 11).
A interpretação constitucional das normas em combate à interpretação da Constituição
a partir da ótica do ordenamento que a antecedia, especialmente na esfera criminal/processual
penal, por sua vez, é a forma que garantirá o respeito, de modo inafastável, ao princípio da
não culpabilidade.
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Em pesquisa realizada por meio de análise de todas as sentenças proferidas pela
Primeira Vara Criminal de Belém do Pará, no ano de 2014, descobriu-se que 80% dos que
aguardaram sentença preventivamente em regime fechado não receberam como pena a
reclusão em mesmo regime (SILVA e KOEING, 2016, p. 14). Este dado evidencia a ausência
de proporcionalidade na aplicação da medida cautelar de supressão da liberdade. Houve, no
caso exposto, a antecipação de uma pena que sequer viria a existir. “(...) é evidente que a
utilização de uma medida cautelar divorciada da sua função precípua de garantir a efetividade
do processo de conhecimento avilta o princípio da presunção de não culpabilidade,
traduzindo-se por verdadeira antecipação da pena” (ROCHA, 2014, p. 11).
4 – Conclusão
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REFERÊNCIAS
BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. Trad. Paulo M. Oliveira. 1ª Edição. São
Paulo: EDIPRO, 2013.
CASARA, Rubens R. R.. Mitologia Processual Penal. São Paulo: Saraiva, 2015.
LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de Processo Penal. Niterói: Ímpetus, 2013.
SEMER, Marcelo. Princípios Penais no Estado Democrático. 1ª Edição. São Paulo: Estúdio
Editores.com, 2014.
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