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A ÁRVORE
ERA uma vez um menino que se resfriara. Saíra e molhara os pés;
ninguém pôde compreender como, pois o tempo estava seco. Sua
mãe o despiu, vestiu-lhe uma roupa quente e mandou trazer a chaleira
com água fervendo, para preparar-lhe um chá que o aquecesse. No
mesmo instante se apresentou na porta o velho homem engelhado
que morava no alto da casa. Vivia sozinho, pois não tinha nem esposa
nem filhos; mas gostava muito de crianças e sabia tantos contos e
estórias, que era um prazer ouvi-lo.
- Agora beba o seu chá - disse a mãe. - Talvez depois disso o tio lhe
conte uma estória.
- Pronto! pronto ... Foi aí mesmo que você molhou os pés - disse o
velho. - Agora eu gostaria de contar-lhe uma estória, mas acontece
que não me lembro mais.
- Oh! 0 senhor bem poderia inventar uma - disse o menino. - Mamãe
sempre diz que tudo o que o senhor vê se transforma em um conto e
que tudo aquilo em que o senhor toca é motivo para uma estória.
- Sim; mas essas estórias e esses contos não valem nada. Os bons
geralmente vêm por eles mesmos. Batem na minha cabeça, dizendo:
"Aqui estou!"
- Conte, conte!
- Sim, uma estória deve aparecer. Mas as que valem a pena não
aparecem quando se deseja. Mas, atenção - disse de repente. Aqui
está uma: embaixo da chaleira.
- Sim, mas antes nós fomos à escola para nos instruirmos. Depois
fizemos a primeira comunhão e choramos muito. Depois do almoço,
de mãos dadas, subimos ao campanário redondo e nos embriagamos
com a vista de Copenhague e o mar. A seguir, fomos até
Friedrichsberg, onde o rei e a rainha passavam, em seu barco
soberbo, pelos canais.
- E eis que tiveram filhos por sua vez! E' a boa semente. Parece-me
que foi nesta estação que nós nos casamos.
Mas estes dois a tomaram por uma vizinha que lhes dava bom dia.
Fitaram-se e estenderam suas mãos enlaçadas. Logo depois
chegaram seus filhos e netos, que sabiam muito bem que era o dia
das bodas-de-ouro e já os haviam cumprimentado pela manhã.
Todavia, ao mesmo tempo em que se lembra de acontecimentos
passados, eles se haviam esquecido dessa circunstância. 0 lilás
brilhou mais forte, e o sol, que se deitava, veio iluminar o velho casal
bem no rosto. Eles tinham, todos dois, as faces coradas e o menor de
seus netos dançava em volta deles, gritando de alegria pois nessa
noite haveria uma grande festa e eles teriam batatas-doces quentes.
Mamãe-Lilás, na sua árvore, abaixa a cabeça e gritava "urra" junto
com os outros.
- Você pode achar que não - replicou o velho. - Mas vamos interrogar
Mamãe-Lilás a esse respeito.
- Aqui estamos na região. Você está vendo aquela casa de campo que
parece um ovo gigantesco? 0 lilás deixou cair seus ramos para baixo;
o galo caminhava orgulhosamente catando a terra a fim de arranjar
alimento para seus filhotes. Veja como ele incha o peito Agora
estamos perto da igreja. Está no alto da montanha, à sombra dos
grandes carvalhos que estão com as folhas meio secas. Agora
estamos diante da forja: o fogo queima e os homens seminus batem
com seus martelos, fazendo voar as faíscas que formam estrelas.
Para a frente! A caminho do belo castelo!
0 velho homem abriu seu livro de preces. Lá estava uma flor de lilás,
fresca como se tivesse sido colhida, e Mamãe-Lilás, ou melhor,
Recordação, pendia a cabeça, e os dois velhinhos, coroados de ouro,
sentavam-se sob o sol quente. Fecharam os olhos e... e... o conto
acabou-se.
E ali ficará.