Boletim Operário 489
Caxias do Sul, 14 de abril de 2018.
A Época Deixando de parte as reedições das
Rio de Janeiro antiquadas tiradas em favor do estado
17 de setembro de 1912. atual do problema do trabalho e várias
Página 5 outras pequeninas insinuações de caráter
Edição 49 burguês, o articulista faz uma odiosa e
Coluna Operária estreitíssima injustiça ao operário
brasileiro quando atribui a manejos de
Senhor Encarregado da “Coluna desordeiros e criminosos estrangeiros os
Operária” d’A Época: vários movimento mais ou menos
resolutos dos nossos obreiros na
O Jornal do Comercio de hoje (11 de conquista das suas liberdades e do seu
setembro) transcreve jubiloso em sua bem estar.
Gazetinha um longo artigo publico por O articulista injuria moralmente o
um periódico de classe intitulado operário nacional em tirar-lhe a
Boletem da Associação Comercial, em consciência dos seus direitos e em
que, sob o pretexto de velar a ordem apresenta-lo como instrumento de
social e os alentados princípios manobras dos anarquistas que considera
conservadores, analisa as causas da facínoras e destruidores.
greve dos operários das Docas de Realmente é preciso muita cegueira,
Santos e diz umas tantas coisas de que muita inconsciência ou muita audácia
não se sabe que mais admirar, se a para considerar o operário brasileiro uma
ligeireza das afirmações, se a simples maquina de trabalho e de
malevolência contra as classes ignorância, a ponto de negar-lhe todo
trabalhadoras, se a fria má fé. direito de deliberar sobre as suas
necessidades, o seu destino e as suas
ideias.
FACEBOOK Ao ler esse artigo pensa-se que de todo o
grande movimento de emancipação
operária executado em toda a terra
civilizada, só o operário brasileiro é
incapaz ou indigno de agir para conquista
TWITTER de suas regalias de ser humano e para
assimilação das nobres ideias de justiça e
de igualdade social. Fora preciso que os
estrangeiros, os assassinos, os ladroes, os
PLUS exploradores corridos das polícias de todo
mundo aportassem as terras do Brasil,
para que os homens de trabalho se
agrupassem em torno dessa escoria
EMAIL humana a fim de estudar os seus direitos
sociais!
Workers’ Bulletin
É espantoso isso! Mas lá esta escrito no
Boletim e transcrito no Jornal!
Demais o articulista, que assim insulta e
desmoraliza o operário de seu país, vai
mais longe e insinua que o governo deve
proibir a imigração de anarquistas, a fim
de salvaguardar os graves interesses
burgueses, como se um anarquista
tivesse na face o estigma inconfundível
da sua revolta, e se distinguisse do resto
dos homens pela miséria das roupas, que
se vêm, e pelas ideias no fundo do crânio
que se vêm também. Mas é absurdo isso!
Tão absurdo como pensar que se nunca
mais entrar um operário no Brasil, os
operários da terra retornarão a
animalidade e ao ‘passivismo’ dos bois de
arado e dos muares de nóra.
Devolvendo e repelindo essa injuria ao
seu autor, o operário brasileiro deverá
gritar-lhe bem alto e em face que por si
mesmo, é capaz de conquistar direito,
justiça e igualdade como qualquer outro,
porque a ideia não tem pátria nem paga
imposto ao fiscal nas barreiras.
Vosso agradecido
Pedro Severino