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Resumo:
A eugenia foi uma ciência com um forte viés de atuação social, surgida na
segunda metade do século XIX e que tinha por pressuposto principal o
aprimoramento da espécie humana. Tal discurso é geralmente associada à
figura do antropólogo inglês Francis Galton, considerado desde o
surgimento dessa “nova ciência” como o “pai da eugenia”. Porém, a
eugenia não se apresenta enquanto uma ciência estática, mas sim como
um discurso em constante transformação, em que os significados
variavam no decorrer do tempo e novos signos eram associados a
eugenia, de forma que ao mesmo tempo em que se difundia, ela também
se reconstruía e se moldava constantemente. Por isso, o presente artigo
se utiliza dos pressupostos do conceito de Representação, presentes nas
obras do historiador Roger Chartier, para refletir sobre a formação da
eugenia enquanto uma produção representativa originada em um
determinado contexto social, analisando tanto as suas condições de
formação quanto os usos que foi tendo no ambiente em que se constituía.
Abstract:
Eugenics was a science with a strong social bias, originated in the second
half of the nineteenth century and whose main presupposition was the
improvement of the human species. Such discourse is generally associated
with the figure of the English anthropologist Francis Galton, considered
since the emergence of this "new science" as the "father of eugenics".
However, eugenics does not present itself as a static science, but as a
constantly changing discourse, in which meanings varied over time and
new signs were associated with eugenics, so that at the same time that it
spread, it was also rebuilt and shaped constantly. Therefore, the present
article uses the assumptions of the concept of Representation, present in
the works of the historian Roger Chartier, to reflect on the formation of
eugenics as a representative production originated in a certain social
context, analyzing both its training conditions and the used in the
ambience in which it was constituted.
Introdução
A eugenia foi uma Ciência surgida no final do século XIX e que teve uma
vasta influência nos debates científicos e em questões sociais,
principalmente na primeira metade do século XX. Os discursos oriundos
dessa ciência eram comuns no início do século XX e apresentavam ligações
com a genética, o nacionalismo e o racismo (BLACK, 2003; DIWAN, 2007).
Porém, após a Segunda Guerra Mundial houve um certo desinteresse dos
pesquisadores pelo tema, motivadas possivelmente pela descoberta das
práticas de eugenia no governo hitlerista, e notadamente, o Holocausto
judeu (BLACK, 2003).
Esse despareço pela temática fez com que apenas após a década de 80 a
eugenia voltasse a ser um objeto mais amplamente pesquisado pelos
historiadores (JANZ JUNIOR, 2012, p.12). Atualmente, na segunda década
do início do século XXI, a eugenia continua a ser um tema largamente
estudado, em decorrência da sua relevância para a compreensão de
diversos fenômenos contemporâneos como os racismos e a ética nas
pesquisas sobre a genética.
“[...] raça, passava, agora, a ser entendida como força definidora a priori;
força que move os homens, entendidos pelo conceito de raça entre
homens civilizados [...] e barbárie, lugar-comum em que são postos todos
os “povos inferiores”. Uma vez instaurada a lógica darwinista, a própria
ideia de nacionalidade passaria a ser uma variação antropológica do
conceito de raça, dessa forma naturalizando a cultura e compreendendo-a
dentro de um espectro cientificista e racializado, que tornou possível a
identificação de tipos raciais e de escalas valorativas entre eles” (SILVEIRA,
2005, p. 32).
Assim, o racismo, era aceito como uma teoria científica com aplicação
social. Baseava-se na desigualdade entre grupos humanos e a existência
de qualidades e defeitos inatos ao indivíduo de cada grupo. Com isso, nas
suas entrelinhas ele também funcionava como uma ciência que atendia
aos interesses da burguesia em ascensão e excluía diversos grupos
considerados como inferiores.
“Sob a forma de racismo, cujo papel central no século XIX nunca será
demais ressaltar, a biologia era essencial para uma ideologia burguesa
teoricamente igualitária, pois deslocava a culpa das evidentes
desigualdades humanas da sociedade para a "natureza". Os pobres eram
pobres por terem nascido inferiores” (HOBSBAWM, 1988, p. 221).
Ainda nesse livro, ele defendia que era não apenas possível, mas também
necessário o desenvolvimento da ciência dedicada ao aprimoramento da
espécie humana. Esse princípio apontava para a combatividade da
eugenia. Ela não deveria ser apenas uma ciência teórica, mas
principalmente, um conhecimento científico voltado para a ação na
prática do aprimoramento da espécie.
O termo que deu nome à ciência, a Eugenia, que possui origem do grego e
significa “bem-nascido”, apareceu apenas em 1883, na obra Inquiries into
Human Faculty and Its Development (GALTON, 1883). Nesse período, o
pressuposto da possibilidade de aprimoramento das espécies e suas
possibilidades, aparece constantemente na forma de uma seleção a partir
do bom estímulo à reprodução dos mais fortes.
Porém, já nas primeiras obras de Galton sobre o tema, algumas
terminologias presentes nas obras apontam para seus significados
contextuais, ou seja, que precisam ser compreendidos no contexto em
que foram publicados. Assim, a terminologia aprimoramento da espécie,
que aparece já no Hereditarius Genius (1869) não significa em momento
algum um esforço para o aprimoramento de todos os indivíduos da
espécie humana, mas sim, a melhoria pelo pela seleção dos considerados
por ele como os mais aptos. Desde os seus primórdios, a eugenia era
seletiva e excluiu os grupos considerados como inaptos, e essa
seletividade excluinte foi um dos princípios básicos.
Considerações Finais
Porém, foi essa capacidade de adaptação que a permitiu que fosse aceita
em diversas regiões do globo, estando presentes em culturas de países tão
distintas como Brasil, Japão, EUA, México, Alemanha, etc. As significações
que foram construídas nesses ambientes, embora originais, e “construídas
na descontinuidade das trajetórias históricas” (CHARTIER, 1991, p. 180),
apresentavam uma inegável dívida para a produção de Galton, e, em suas
ressignificações, também funcionavam como ferramentas de controle de
determinados grupos (STEPAN, 2005).
Referências
Isaias Holowate é graduado em História pela UEPG e acadêmico do
Mestrado em História pela mesma instituição. O presente artigo é paralelo
em relação à sua pesquisa do Mestrado, na qual estuda as significações
que o discurso eugenista teve ao ser apropriado em um ambiente
específico.