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A não violência como arma imperialista

Parte 1
Baby Siqueira Abrão

Quando falamos dos Estados Unidos ou de quaisquer de suas agências e órgãos,


como a NSA (National Security Agency) – aquela que grava tudo o que se passa no
mundo virtual –, o FBI ou a CIA, as primeiras imagens que nos vêm à mente são
cenas de guerra, armamentos, drones, mísseis e a destruição que tudo isso provoca.
Vêm à mente também espiões esgueirando-se nas sombras da noite, agentes
combinando ações terroristas enquanto comem uma pizza ou um macarrão
instantâneo entre mesas com pilhas de pastas e papéis.
Nunca imaginaríamos, portanto, que manifestações não violentas como passeatas,
atos públicos, acampamentos, sit-ins e greves de fome pudessem ser organizadas e
incentivadas pela CIA e por seus parceiros. Essas formas pacíficas de protesto não
combinam com um país capaz de tudo para manter sua hegemonia no mundo.
Mas é bom a gente mudar de paradigma. Entre o imenso arsenal de métodos de
conquista e dominação das autoridades estadunidenses estão, sim, ações de não
violência. Não aquelas utilizadas por Mahatma Gandhi como instrumento de luta
pela libertação da Índia, então colônia inglesa, nem as que orientaram Martin Luther
King e seus seguidores no esforço da conquista de direitos para a população negra
dos Estados Unidos. As técnicas de não violência utilizadas pela CIA fazem parte do
arsenal da guerra híbrida e têm basicamente dois objetivos principais. Um deles é
criar organizações de esquerda, ou infiltrar agentes nas já constituídas, para,
impondo a ideia da não violência como o suprassumo ético do ativismo político,
manter essas organizações sob controle. Outro objetivo é desestabilizar e derrubar
governos cujos líderes não se alinham às políticas adotadas pelos Estados Unidos. A
garantia de um mundo unipolar, com os EUA como único império dominante, passa
também por ações aparentemente inocentes e não violentas.
E elas não começaram no Brasil em junho de 2013, nem quando estava em curso, no
Supremo Tribunal Federal, a Ação Penal (AP) 470, mais conhecida como “Mensalão”
– suposto esquema de compra de votos de parlamentares para a aprovação de
projetos do primeiro governo Lula. As operações não violentas da CIA datam de 60
anos atrás, quando o órgão decidiu operar no campo das entidades de esquerda.
Isso foi muito comum, em especial, nos anos 1960, com parte do mundo ocidental
abalado por manifestações estudantis – muitas delas incentivadas pela própria CIA e
seus aliados ao redor do planeta.
Mais recentemente, a agência estadunidense animou os movimentos occupy, que
tinham como alvo símbolos fortes do capitalismo financeiro, como Wall Street. Em
muitos momentos, porém, essas manifestações escaparam do controle, e então foi
necessário acionar o plano B: forças policiais entraram em cena para botar “ordem”
no pedaço, sem a menor obrigação de observar a não violência.
No início dos anos 1990 a CIA recebeu um reforço e tanto. Gene Sharp, cientista
social e filósofo morto em janeiro de 2018, ex-pesquisador de Harvard e ex-
professor da universidade de Dartmouth, em Massachussets, resumiu seus 40 anos
de pesquisas sobre ações não violentas num livreto chamado Da ditadura à
democracia – uma estrutura conceitual para a libertação. A primeira edição,
patrocinada pela Open Society, de George Soros, saiu em 1993, em inglês e em
birmanês – o texto foi escrito a pedido de Tin Maug Win, ativista birmanês no exílio,
para orientar a luta da oposição daquele país na deposição do governo militar, no
poder desde 1962. O objetivo não foi alcançado, mas o livro se tornou uma espécie
de manual do ativismo político não violento patrocinado pela CIA: traduzido para
diversas línguas, foi utilizado em várias partes do planeta por grupos sobretudo de
jovens, dispostos a derrubar os governos de seus países.
O exemplo mais bem-sucedido, e que serviu de modelo para o mundo, foi o da
Sérvia. Inspirado nas propostas não violentas de Gene Sharp, o grupo Otpor!
(resistência) capitalizou o apoio da população descontente com o governo de
Slobodan Milosevic, no poder havia 13 anos: manifestações não violentas
constantes levaram milhares de pessoas às ruas de todo o país. O dinheiro para a
organização dos protestos e o material utilizado – de carros de som a bandeiras e
faixas – vieram de instituições estadunidenses.
Em 5 de outubro de 2000, furiosas com o boato de que a eleição de setembro
daquele ano – em que Milosevic fora vencido – seria anulada, mais de 300 mil
pessoas tomaram o centro de Belgrado. A multidão rasgou retratos de Milosevic,
invadiu o prédio da TV estatal, a sede do Partido Comunista e o Parlamento, ateou
fogo no primeiro andar do edifício e garantiu que Vojislav Kostunica, líder da
oposição, assumisse o posto de presidente.
Essa manifestação, a maior da história do país, levou a Stratfor, empresa texana de
inteligência geopolítica considerada “sombra da CIA”, a observar melhor alguns dos
líderes do Otpor!. Um membro da Stratfor, em mensagem publicada no site
Wikileaks, chegou a comentar que o grupo era “impressionante”: “Eles realizam
certas ações num país, para derrubar o regime. Se usados da maneira correta,
podem ser mais potentes que os porta-aviões”.
Srdja Popovic, um dos mais conhecidos dirigentes do Otpor!, contou, num vídeo em
que dividiu o protagonismo com Gene Sharp, que a experiência do grupo levou-o a
organizar equipes semelhantes em vários países do mundo. Tudo sob o patrocínio
de fundações e companhias parceiras da CIA.
Outro líder do Otpor!, Ivan Marovic, confirmou esse patrocínio à Agência Pública,
mas ressaltou que ele veio apenas na etapa final: “Foram dez anos de organização
estudantil durante os anos 1990. No final, o apoio do exterior finalmente veio. Seria
bobo eu negar isso. Eles tiveram um papel importante na etapa final. Sim, os
Estados Unidos deram dinheiro, mas todo mundo deu dinheiro: alemães, franceses,
espanhóis, italianos. Todos estavam colaborando porque ninguém mais apoiava o
Milosevic”.
Financiado por verbas estrangeiras, o grupo sérvio exportou seu conhecimento para
pontos diversos do globo. Participou ativamente das “revoluções coloridas”
promovidas pelos EUA em países da antiga União Soviética, por exemplo. Na
primeira delas, a Revolução das Rosas, o Otpor! treinou o movimento estudantil
Kmara, da Geórgia, em protestos que tiraram do poder o presidente Eduard
Shevardnadze, eleito em 1995 e reeleito em 2000. As acusações de corrupção e
irregularidades na eleição de novembro de 2003 para o Parlamento, reforçadas por
ações não violentas frequentes, levaram-no a renunciar naquele mesmo mês.
Georgi Kandelaki, um dos líderes do Kmara, contou que grupos de oposição a
Shevardnadze viajaram para Belgrado, capital da Sérvia, para reuniões com o
pessoal do Otpor!, e que 700 militantes georgianos foram treinados pelos sérvios
numa “escola de verão” localizada nos arredores de Tbilisi, capital da Geórgia.
Em 2004, o Otpor! e a Albert Einstein Institution, fundada por Gene Sharp,
treinaram os ativistas ucranianos que derrubaram o presidente Leonid Kuchma,
substituído por Viktor Yushchenko, político alinhado com as potências ocidentais. O
movimento, o segundo na lista das “revoluções coloridas”, ficou conhecido como
Orange Revolution (Revolução Laranja) e custou aos cofres de fundações
estadunidenses de direita a quantia de 60 milhões de dólares. A terceira insurreição
não violenta teve como palco o Quirguistão, onde Kurmanbek Bakiyev, líder da
Revolução das Tulipas, tomou o poder em 2005.
Nenhuma das “revoluções coloridas” durou muito. As políticas neoliberais
implantadas nesses países levaram ao fechamento dos regimes, ao aumento da
corrupção e ao empobrecimento das populações, que acabaram se voltando contra
os governos-fantoches implantados pelas ações não violentas patrocinadas pela CIA.

Logo da CIA

Cabeçalho de abertura do site da CIA

Logo do Otpor!

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