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A natureza de Cristo:

a questão soteriológica
Kwabena Donkor, Ph.D.
Biblical Research Institute, Washington, DC.

Resumo: O presente artigo trata da nature- Emanuel, “Deus conosco”.1 Seus seguido-
za de Cristo à luz da doutrina da salvação. res tinham uma crença firme de que nele
O autor avalia as conexões soteriológicas haviam encontrado o próprio Yahweh. A
envolvidas na rejeição pela igreja cristã de reflexão neotestamentária sobre essa ex-
algumas das principais heresias cristoló- periência e suas implicações conduziu à
gicas dos primeiros séculos. Em seguida, opinião de que Ele é tanto Deus quanto
demonstra como a compreensão da obra Salvador (2Pe 1:1). Tão comumente era
salvífica de Cristo ajuda a definir se sua Jesus avaliado como Messias ou Cristo,
natureza era a que Adão possuía antes da que a palavra “Cristo” se tornou um nome
queda (pré-lapsariana) ou depois da mes- pessoal.2 Era a asserção dos escritores do
ma (pós-lapsariana). A conclusão do traba- Novo Testamento de que Jesus de Nazaré
lho emerge da análise de textos bíblicos e de é divino.
Ellen G. White referentes ao assunto, bem
como do significado e implicações de certos A convicção inequívoca dos escrito-
termos e expressões centrais à discussão. res do Novo Testamento no que concer-
ne à divindade de Jesus encontrou um
Abstract: This article deals with the destino diferente entre as mentalidades
nature of Christ in the light of the sal- judaica e grega. Algumas pessoas de
vation doctrine. The author evaluates herança judaica, com uma estrita for-
the soteriological connections involved mação monoteísta, evoluíram em seu
in the rejection by the Christian church pensamento chegando a manter o que
of some of the main Christological her- tem sido chamado de opinião adocio-
esies of the first centuries. Next, it dem- nista. Esta concepção, defendida pelos
onstrates how the understanding of the ebionitas, “compreendia a Jesus como
salvific work of Christ helps to define um mero homem que, por escrupulosa
whether his nature was that of Adam had observância da lei, foi justificado e con-
before the Fall (pre-lapsarian) or after it seqüentemente se tornou o Messias”.3
(post-lapsarian) the conclusion of the Por outro lado, a mentalidade grega,
study emerges of the analysis of bible imbuída de racionalismo, imaginava
texts and references of Ellen G. White o aparente paradoxo divino-humano
on this topic, as well as the meaning and em termos metafísicos. Para eles, era
implications of some central terms and importante decidir sobre a identidade
expressions to the discussion. ontológica de Jesus de Nazaré. Essas
preocupações gregas reforçam as várias
Introdução opiniões docetistas. Segundo o ponto
de vista docético, o Cristo divino não
É muito evidente nas Escrituras que os tinha um corpo humano real; era apenas
seguidores de Jesus o reconheciam como uma aparência, um fantasma; sendo que
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Cristo morreu, então Ele não era Deus, enfatizava a divindade de Jesus a ponto
e se Ele era Deus, então não morreu. de obscurecer a distinção entre a divin-
dade e a humanidade.
Essas objeções judaicas e gregas re-
sultaram em grandes heresias no início
da história do pensamento cristão. De- A controvérsia ariana
sejo examinar brevemente quatro dessas
primitivas heresias para fazer uma obser- A controvérsia ariana, desencadeada
vação significativa: o acompanhamento por Ário, um popular presbítero da igreja
das controvérsias resultou em concepções de Alexandria (falecido em 335 d.C.), cen-
particulares de salvação. Faço esta obser- tralizava-se nas idéias expressas por ele
vação com o objetivo de explorar como que pareciam refletir as opiniões da escola
essas duradouras controvérsias podem antioquina de pensamento. Ário, compro-
animar o debate dentro da comunidade de metido com a idéia grega filosoficamente
fé adventista. A hipótese subjacente ao en- influenciada de que Deus é indiferencia-
foque que estou aqui seguindo é a de que do, argumentava que Jesus, o Filho ou Lo-
a discussão cristológica na comunidade gos, tinha de ser uma criatura e, portanto,
adventista pode ser iluminada prestando- deve ter tido um princípio. Como ele se
se mais atenção aos respectivos pontos de expressa,
vista soteriológicos. o que afirmamos e pensamos e temos en-
sinado e continuamos ensinando; que o
A natureza de Cristo na história Filho não é congênito, nem parte do con-
do pensamento cristão gênito em nenhum sentido, nem é ele deri-
vado de alguma substância [...] e antes que
Tenho observado que as controvérsias fosse gerado, ou criado, ou nomeado, ou
estabelecido, ele não existia, porque não
sobre a natureza de Cristo foram acompa-
era congênito. Somos perseguidos porque
nhadas por opiniões particulares de sal- afirmamos que o Filho tem um princípio,
vação. Realmente podemos afirmar que mas Deus é sem princípio.4
as implicações soteriológicas dos vários
pontos de vista mantidos sobre a natureza Portanto, o ponto de partida de Ário é
de Cristo alimentavam as controvérsias ontológico, significando que termos como
cristológicas. Testarei esta observação o “Filho” não devem ser interpretados
reexaminando as quatro grandes contro- para definir a natureza essencial de Jesus.
vérsias da história cristã. Antes de fazê-
lo, devo observar que as tendências ado- A conexão soteriológica. O principal
cionista e docetista já haviam se consoli- opositor de Ário, o pai da igreja Ataná-
dado em duas escolas de pensamento: as sio, revelou em sua oposição que, embora
cristologias antioquinas e alexandrinas, Ário argumentasse a partir de uma pers-
respectivamente. Essas duas escolas cris- pectiva ontológica, a essência do debate
tológicas dominantes estavam no centro era soteriológica. Atanásio afirmava que
dos debates cristológicos. A escola antio- a salvação só pode ser trazida à humani-
quina, originada em Antioquia, Síria, pa- dade por alguém que é verdadeiramente
rece ter sido influenciada pela mentalida- Deus.5 É verdade que a opinião particular
de judaica, onde a humanidade de Jesus de Atanásio quanto à salvação, em que a
era enfatizada exageradamente a ponto humanidade é participante da natureza di-
de negar a sua divindade. A cristologia vina, estava na essência do seu argumen-
alexandrina, porém, que se originou em to; contudo, a posição central da questão
Alexandria, um centro de cultura grega, da salvação para o debate cristológico é
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inegável. Devemos lembrar-nos de que a curou; é o que está unido à sua divindade
Igreja rejeitou o ponto de vista de Ário no que é salvo.”7 O ponto de vista de Apo-
Primeiro Concílio Ecumênico (325 d.C. linário foi rejeitado no Segundo Concí-
em Nicéia), decidindo que Jesus era gera- lio Ecumênico (em Constantinopla, 381
do do Pai e da mesma substância do Pai. d.C.), confirmando a posição nicena.
O concílio, portanto, reconheceu a divin-
dade de Jesus. A controvérsia de Nestório

Apolinarismo Deve-se lembrar que sustentando o


ponto de vista niceno, consistentemente
A declaração nicena da divindade de reconhecido nas controvérsias, estava a
Jesus deixou sem resposta a indagação cristologia alexandrina. Ao contrário da
de como sua unidade como o Pai seria cristologia antioquena, que tendia a criar
mantida. Apolinário estava preocupado duas pessoas, a tendência da alexandrina
em confirmar o ponto de vista niceno e era a de obscurecer a distinção entre o di-
desenvolver uma solução que preservasse vino e o humano. A cristologia alexandri-
a integridade de Jesus, isto é, integrasse na insistia em uma verdadeira comunica-
realmente o divino e o humano contra a ção peculiar de duas naturezas, doutrina
escola antioquina, que tendia a criar duas que Nestório não podia aceitar, uma vez
pessoas. que para ele esta fundia as naturezas divi-
na e humana. Nestório procurou corrigir a
Apolinário formulou sua solução com
percepção antecedente; daí sua oposição
base na antropologia platônica, que com-
ao título de “Portadora de Deus” [ou Mãe
preendia a pessoa humana como consis-
de Deus] conforme aplicado a Maria. Para
tindo de três entidades substanciais: cor-
ele, tal caracterização não enfatizava sufi-
po, alma e espírito. Sua proposição era a
cientemente a integridade das duas natu-
de que na encarnação o corpo e a alma de
rezas. Nestório procurou manter a integri-
Jesus eram de natureza humana, enquanto
dade das naturezas afirmando que a união
que o Logos ocupava seu espírito.
entre a divindade e a humanidade era uma
A conexão soteriológica. Conquanto a união voluntária. A união é voluntária em
solução ontológica de Apolinário pareces- dois sentidos: a união resulta da livre von-
se resolver a questão acerca da identidade tade de Deus; a vontade da natureza hu-
de Jesus, como na controvérsia ariana o mana concorda com a vontade divina.8
problema soteriológico se tornou o teste
para sua aceitação. Além de sua tendência A conexão soteriológica. O ponto de
docetista, a opinião apolinarista foi tam- vista de Nestório foi rejeitado no Terceiro
bém criticada por não refletir corretamen- Concílio Ecumênico reunido em Éfeso em
te o ponto de vista cristão de que Jesus é 431 d.C. como dividindo Jesus em duas
o portador da salvação.6 A idéia era a de pessoas. Todavia, a subentendida dimen-
que aquilo que o Logos não assumiu na são soteriológica é significativamente no-
encarnação, neste caso o “espírito”, o Lo- tada por Grenz:
gos não podia redimir. O ponto de vista No fundamento da posição nestoriana jaz
foi explicitamente declarado por Gregó- outra heresia, a antropologia desenvolvida
rio de Nazianzo como segue: “Se alguém por Pelágio. Segundo a opinião teológica
pôs nele a sua confiança como um homem antagônica de Agostinho, a pessoa huma-
sem uma mente humana, ele mesmo está na é dotada por ocasião do nascimento de
desprovido de mente e indigno da salva- graça suficiente para reforçar a vontade
ção. Porque o que ele não assumiu ele não humana em sua batalha contra o pecado, o
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qual, por sua vez, não é uma condição do implicações a favor da salvação. Em ou-
ser mas jaz inteiramente na ação humana. tras palavras, embora as controvérsias pa-
Devido a esse dom, o indivíduo poderia recessem centralizar-se no “ser” de Jesus,
teoricamente atingir a perfeição. Nestório em última instância, a questão significati-
viu essa perfectível substância humana re- va era como esse “ser” se relacionava com
velada em Jesus. O homem Jesus empre-
a nossa salvação. Como pode esta conclu-
gou a dotação natural da graça sem falhar.
Este exercício de sua livre vontade efetuou
são trazer algum esclarecimento sobre o
a união voluntária entre Jesus e o Logos.9
problema da natureza de Cristo no atual
pensamento adventista? É possível que,
afinal de contas, o debate cristológico seja
A controvérsia eutiquiana realmente um assunto acerca de opiniões
sobre salvação?
Êutiques, nome pelo qual é conhecida
a controvérsia, acusou Nestório de dividir A natureza de Cristo no pensamento
Jesus em duas naturezas. Sua própria so-
adventista
lução era insistir em que Jesus possuía so-
mente “uma natureza” (donde, monofisis- O debate cristológico entre os adven-
mo), natureza que, afinal, nem era humana tistas tem se dividido nos termos de se
nem divina. O eutiquianismo foi rejeitado Jesus, ao tornar-se homem, assumiu uma
no Quarto Concílio Ecumênico, realizado natureza “caída” ou “não caída”12 [pré
em Calcedônia em 451 d.C., e as duas na- ou pós-lapsariana]. Como nas primeiras
turezas de Jesus foram reconhecidas sem controvérsias da igreja apostólica, o de-
confundir, mudar, dividir ou separar a bate sobre a natureza de Cristo parece
ambas.10 centralizar-se no “ser” de Cristo, que as
A conexão soteriológica. O que é im- opiniões antagônicas esperam estabele-
portante para o propósito deste debate fo- cer baseadas na exegese de textos rele-
ram as repercussões de Calcedônia com vantes. Todavia, ao contrário dos mais
respeito à salvação. Os monotelistas, antigos debates, as posições “caída” e
baseando-se em Calcedônia, concluíram “não caída” do pensamento adventista
que Jesus tinha somente uma vontade, concentram-se na natureza da humanida-
a saber, a vontade do Logos. Em outras de de Jesus, sem tratar explicitamente da
palavras, a obediência de Jesus era o relação entre sua divindade e humanida-
resultado da força impulsora do Logos. de. Minha discussão, portanto, terá este
Aqui, outra vez, como na controvérsia reduzido enfoque. Como nossa compre-
apolinarista, a Igreja primitiva aplicou o ensão da salvação nos ajuda a definir as
teste soteriológico para rejeitar a posição questões “ontológicas”? No restante des-
monotelista, argumentando que “a reden- ta apresentação desejo analisar as posi-
ção completa demanda uma completa en- ções “caída” e “não caída” com respeito
carnação, inclusive a concepção de uma à sua subjacente soteriologia e antropo-
vontade humana”.11 logia (explícitas ou implícitas). Ademais,
procurarei mostrar como os comentários
Conclusão de Ellen G. White podem prestar algum
esclarecimento sobre a análise.
É muito instrutivo notar que nessas
primeiras controvérsias o teste da ortodo- A natureza humana de Jesus: caída?
xia, de qualquer ponto de vista, ontologi-
camente, foi decidido em relação às suas O argumento fundamental para o pon-
implicações soteriológicas, ou seja, suas to de vista da “natureza caída” [ou pós-
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lapsariana] é o de que Jesus de alguma é interpretada ontologicamente; portan-


forma assumiu a carne pecaminosa caída to, a noção de hereditariedade se destaca
sem ser um pecador. Esta opinião baseia- nestes argumentos. Desse modo, no que
se na premissa de que “uma pessoa nasci- concerne ao nascimento virginal, obser-
da com carne pecaminosa não precisa ser va Gage: “Nenhuma evidência bíblica
um pecador”.13 Por carne pecaminosa se sugere que a corrente de hereditariedade
quer dizer “a condição humana em todos humana foi interrompida entre Maria e
os seus aspectos, conforme afetada pela Jesus”16; além disso, o segundo Adão “é
queda de Adão e Eva”.14 O grande prin- um descendente hereditário, nascido de
cípio que serve de base para a posição mulher”.17 Semelhantemente, passagens-
“caída” é o de que o testemunho dos es- chaves de Hebreus 2 são tratadas nos
critores do Novo Testamento sugere que termos da solidariedade ou unidade on-
Jesus não tinha nenhuma vantagem físi- tológica entre Jesus e os seres humanos
ca, emocional ou moral sobre seus con- pós-queda. Assim, “todos vêm de um...”
temporâneos.15 Parece aceitável concluir, (v. 11) significa hereditariedade humana
partindo da perspectiva dos defensores comum; “carne e sangue” (v. 14) signi-
da “natureza caída”, que tanto quanto fica a mesma natureza; e “em seu mais
diz respeito à humanidade de Jesus, Ele imediato e óbvio sentido, os versos 16-
era exatamente semelhante a qualquer 18 parecem afirmar que Cristo assumiu a
ser humano depois de Adão e Eva. Es- natureza humana comum a toda a huma-
tas convicções fundamentais da posição nidade pós-Queda”.18
da “natureza caída” são de natureza on-
A próxima série de argumentos em
tológica. Mas que possível visão de sal-
apoio da opinião de que Jesus nasceu com
vação confere tal ontologia? Explorarei
carne pecaminosa é um exame de textos
estes assuntos. O motivo pelo qual estou
que especificamente usam as palavras
escolhendo enfatizar o problema soterio-
“pecaminosa” e “carne” em relação a Ele.
lógico, em vez de ontológico, é o de que,
Primeiramente, argumenta-se que em al-
em minha opinião, o primeiro é menos
guns empregos paulinos da palavra sarx,
inviável na Bíblia.
particularmente Romanos 8:3, embora a
Duas interrogações básicas podem palavra seja moralmente neutra, “provê
ser feitas à posição da “natureza caída”. o alicerce e material em que o mal pode
Primeira: é biblicamente exato argumen- operar”.19 Sarx, portanto, segundo este
tar que a carne pecaminosa não pode ser ponto de vista, é a condição humana ca-
igualada ao pecado? Segunda: é correto ída dada a todos os homens e mulheres
afirmar que Jesus em sua humanidade era em seu nascimento, embora ninguém seja
exatamente como nós depois da queda? considerado culpado ou responsável pela
condição. Gage cita Anders Nygren com
Nascido com carne pecaminosa mas
aprovação. Com referência a Romanos
não um pecador. Várias passagens escri-
8:3, observa Nygren: “Ele partilhou de
turísticas são reunidas em apoio à idéia
todas as nossas limitações. Estava sob os
de que Jesus nasceu com carne pecami-
mesmos poderes de destruição. Por meio
nosa. O nascimento virginal de Jesus (Mt
da ‘carne’ surgiam para ele as mesmas
1:16, 18-25; Lc 1:26-38; 3:23); sua au-
tentações que para nós.”20
todescrição como Filho do homem (Mt
8:20; 24:27); e a analogia Adão/Cristo de Apesar do fato de que Jesus tinha as
Paulo (Rm 5) são usados para apoiar a mesmas tendências e desvantagens co-
solidariedade ou unidade de Jesus com a muns a toda a espécie humana, Ele não
raça humana. Esta solidariedade, porém, pecou. Referindo-se a Jesus, escreve
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Gage: “Ele tinha a faculdade da escolha Jesus não nasceu com carne pecami-
e a hereditariedade que a enfraquece e nosa por causa da natureza do pecado. A
desencaminha. Ele tinha uma natureza na posição da “natureza não caída” enfatiza
qual as tentações comuns a homens e mu- grandemente o conceito teológico do pe-
lheres podiam encontrar atração. Mas em cado original. Partindo de sua perspectiva,
Jesus o mal não encontrou nenhuma res- todos os seres humanos pós-queda parti-
posta.”21 A vitória de Jesus sobre o pecado cipam do pecado original, que é definido
tem implicações para nós. Gage interpreta primeiramente como a ruptura de um re-
Hebreus 4:15 no contexto do grande con- lacionamento entre o homem e Deus (Rm
flito, concluindo que “porque Jesus não 14:23), o que então leva à perpetração de
pecou, nenhum homem deve pecar”.22 Isto atos iníquos (1Jo 3:4).24
é, sendo que Jesus foi feito como seus ir-
Romanos 5:12-21 é apresentado como
mãos em todos os sentidos e foi tentado
uma passagem-chave na defesa do pecado
como somos, contudo sem pecado, nós
original. Rand conclui desta passagem que
também podemos viver sem pecar.
a morte, ou a condenação não é transmitida
para cada pessoa somente por causa do seu
A natureza humana de Jesus: próprio pecado. Isto também o faz. Mas em
não caída? um sentido profundo, a morte passa a todos
os homens por causa do pecado de Adão, ou
O ponto de vista da “natureza não ca- rompe o relacionamento com Deus (que o
ída” argumenta primariamente a partir da pecado de Adão afeta toda a raça é mencio-
natureza do pecado. Se o pecado fosse nado cinco vezes nos versos 15-19). Sim-
plesmente não é verdade que o pecado não
simplesmente uma questão de atos, en-
está presente até o primeiro ato pecaminoso
tão seria possível a compreensão de Je- da pessoa. Os homens são nascidos peca-
sus como nascido com carne pecaminosa, dores. “A morte reinou” (v. 14) a partir do
sem, contudo, ser um pecador. Mas partin- pecado de Adão. Os bebês morrem antes de
do da perspectiva da posição da “natureza pecarem conscientemente.25
não caída”, “simplesmente não é verdade
que o pecado não está presente até que a Rand desenvolve o argumento a favor
pessoa cometa o primeiro ato pecamino- do pecado original baseado em Salmos
so. Os homens são nascidos pecadores.”23 51:5, e conclui que todo ser humano, ex-
Portanto, Jesus não podia ter nascido com ceto Cristo, é nascido pecador.26 Contudo,
carne pecaminosa. ele distingue este conceito bíblico de pe-
Deve ser observado que, ao contrário cado original do conceito católico roma-
da opinião da “natureza caída”, que argu- no que imputa a culpa a cada ser huma-
menta partindo da ontologia para a sote- no nascido baseando-se na idéia de que
riologia, a posição da “natureza não caí- cada um estava seminalmente presente
da” segue o caminho oposto, operando a em Adão quando ele pecou. Tem-se a im-
partir da hamartiologia/soteriologia para a pressão de que a posição da “natureza não
ontologia. Mas é biblicamente exato afir- caída” também edifica sobre um princípio
mar que o pecado não é consumado ape- de solidariedade ou unidade, embora não
nas em atos? É biblicamente correto dizer ontologicamente, entre Adão e a raça hu-
que Jesus era diferente, ontologicamente, mana pós-queda.
do restante da humanidade no nascimen- A natureza de Jesus foi sem pecado
to? A resposta a estas duas interrogações porque Ele era singular. A posição da
básicas deve habilitar-nos a desenvolver a natureza “não caída” defende a singulari-
posição da “natureza não caída”. dade de Jesus, ontologicamente e de ou-
A natureza de Cristo: a questão soteriológica / 25

tra forma, por um exame de dois impor- A posição da “natureza caída”


tantes termos gregos aplicados a Jesus:
monogenēs e prōtotokos. Primeiro, todos Em minha visão geral da posição da
os nove empregos do termo monogenēs natureza caída chamei a atenção para dois
no Novo Testamento são examinados importantes argumentos escriturísticos:
para mostrar que em suas cinco aplica- aqueles que se relacionam com a unidade
ções a Jesus (Jo 1:14, 18; 3:16, 18; 1Jo ontológica de Jesus conosco e os textos so-
4:9) ele significa “singular”, e “um de bre “carne” ou “carne pecaminosa”. O que
uma espécie”. Esta singularidade é inter- pode ser dito acerca da interpretação destes
pretada cristologicamente significando textos pela posição da natureza caída?
que “sua singularidade consistia não so-
Primeiro, a analogia Adão/Cristo. No
mente na maneira como ele nasceu (sem
mínimo, podemos dizer que a unidade on-
pai humano) mas com que natureza ele
tológica talvez não seja a melhor ou a úni-
nasceu (sem pecado humano).27 Segundo,
ca interpretação possível. F. F. Bruce, por
os empregos da palavra prōtotokos com
exemplo, compreende o conceito hebraico
referência a Cristo (Hb 1:6; Rm 8:29; Cl
de personalidade corporativa para destacar
1:15, 18; Ap 1:5) produzem os mesmos
o argumento de Paulo em Romanos 5:12-
resultados de singularidade com especial
21. Em outras palavras, para Paulo, Adão
referência à missão.
era mais do que um personagem histórico.
Jesus não veio em carne pecaminosa Sim, ele foi o primeiro homem, mas ele
mas na semelhança de carne pecaminosa. foi também a “humanidade”.29 Contrário
Como acontece com a posição da “natu- à hereditariedade da posição da natureza
reza caída”, o ponto de vista da “nature- caída, a solidariedade ontológica, observa
za não caída” examina Romanos 8:3 mas Bruce: “Não é simplesmente porque Adão
chega à conclusão oposta. Rand mostra é o ancestral da espécie humana que se diz
que não somente em Romanos 8:3, mas que todos pecaram em seu pecado (doutra
também em Filipenses 2:7 e Hebreus 2:7, forma poder-se-ia argumentar que porque
o uso do grego homoiōma ou homoioō Abraão creu em Deus todos os seus des-
(semelhança) em vez de isos (mesmo) cendentes foram necessariamente envol-
sugere que “Jesus era apenas semelhante vidos em sua crença); é porque Adão é a
a outros seres humanos em ter um corpo raça humana.”30
humano físico afetado pelo pecado, mas William Barclay concorda com a in-
não o mesmo que outros seres humanos, terpretação de Bruce. Embora ele admita
porque somente Ele era impecável em sua a plausibilidade da interpretação de que o
relação espiritual com Deus”.28 que herdamos de Adão é a tendência para
o pecado (uma idéia ontológica), Barclay
Avaliando os dois pontos de vista insiste que isto não é o que Paulo queria
dizer aqui. Na opinião de Barclay, deve-
A avaliação dos dois pontos de vista ria ser dada à passagem o que ele chama
sobre a natureza de Cristo será empreen- de interpretação realista, “a saber, que por
dida, em primeiro lugar, dando uma se- causa da unidade da raça humana, toda a
gunda olhada para os textos escriturísticos humanidade realmente pecou em Adão.
fundamentais que servem como seus res- Esta idéia não era estranha para um ju-
pectivos pontos de partida, e, em segundo, deu; era a crença real dos pensadores ju-
avaliando suas opiniões sobre salvação. deus.”31
Nesta avaliação serão empregadas passa- Em segundo lugar, Hebreus 2:14 de-
gens relevantes do Espírito de Profecia. clara que Jesus participou de carne e san-
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gue. Embora o texto basicamente fale de que Jesus “não conheceu pecado” (2Co
Jesus participando da natureza humana, 5:21), não dizer que Jesus veio “em carne
por si mesmo não caracteriza exaustiva- pecaminosa”, sendo que em sua opinião
mente a humanidade de Jesus. Se com- isto “poderia indicar que havia pecado
preendemos a natureza humana de Jesus nele”.34 Paulo pretende apagar tal infe-
como uma exata participação ontológica rência com a frase “em semelhança de
em todos os aspectos da vida humana, carne pecaminosa”.
como faz a posição da natureza caída, en-
tão Ele deve ter experimentado provações Deve ser notado que a posição caída
e enfrentado tentações da maneira como também crê que Jesus nunca pecou. Sen-
todos nós. Falando sobre a tentação es- do este o caso, parece que eles são capa-
creve Tiago: “Cada um é tentado pela sua zes de reter esta crença e dizer, ao mesmo
própria cobiça, quando esta o atrai e se- tempo, que Cristo veio com carne pecami-
duz” (Tg 1:14). Sobre este ponto, Grenz nosa tendo por base sua noção de pecado.
observa que sabemos pelos evangelhos O pecado parece consistir exclusivamente
que Jesus não era atraído para o pecado de ações, sendo que Jesus partilhou de to-
desta maneira. Então ele extrai a implica- das as nossas condições, incluindo o mau
ção ontológica: desejo inerente que atrai a tentação, não
tendo sido, todavia, um pecador.
Neste sentido podemos afirmar a... posição
de que Jesus estava livre da mancha do Ellen G. White sobre a condição do
pecado original, que é proveniente da pro- “ser” de Jesus
pensão para o pecado que todos os seres
humanos herdam de Adão... Jesus não era
atraído para o pecado por um mau desejo
O Espírito de Profecia presta algum
inerente dentro de sua natureza humana.32 esclarecimento sobre a condição ontoló-
gica da natureza humana de Cristo, parti-
A conclusão de Grenz é contrária a cularmente no que se refere à sua alega-
Hebreus 4:15, onde se afirma que Jesus da solidariedade ontológica com os seres
foi tentado em todos os pontos como nós humanos pós-queda? Apenas citarei, sem
somos? Não necessariamente. Hebreus muito comentário, algumas referências
4:15 simplesmente declara que Jesus foi sobre o assunto.
tentado tal como os seres humanos são 1. “A encarnação de Cristo sempre tem
tentados. Tinha Jesus que ter a má pro- sido, e sempre permanecerá um mistério.
pensão em sua natureza humana a fim de O que está revelado é para nós e para nos-
ser tentado como são os seres humanos? sos filhos, mas que cada ser humano seja
Não, Adão foi tentado humanamente, mas advertido o terreno de fazer a Cristo com-
ele não tinha as más propensões quando pletamente humano, tal como um de nós
mesmos, porque isto não pode ser.”35
foi tentado.
2. “Ele é um irmão em nossas fraquezas,
Em terceiro lugar, o que dizer de mas não em possuir idênticas paixões.
Romanos 8:3? Gage citou Nygren com Como o Impecável, sua natureza recuava
aprovação e disse que Jesus partilhou do mal.”36.
de todas as nossas condições. Ostensi- 3. “Por causa do pecado sua [de Adão] pos-
vamente, isto deve incluir nossa propen- teridade nasceu com propensões inerentes
são para o pecado, sendo que “da ‘carne’ de desobediência. Mas Jesus Cristo era o
surgia para Ele as mesmas tentações que unigênito Filho de Deus. Ele tomou sobre
para nós”.33 Aqui Bruce novamente pen- si a natureza humana, e foi tentado em to-
sa que isto estaria incorreto em vista do das as coisas como a natureza humana é
fato de Paulo, que claramente ensinou tentada. Ele poderia ter pecado; Ele pode-
A natureza de Cristo: a questão soteriológica / 27

ria ter caído, mas nem por um momento evidência em seus escritos no que concer-
houve nele uma má propensão.”37 ne à ausência de propensão para o mal na
4. “Ele era um poderoso suplicante, não natureza humana de Cristo? Erwin Gane
possuindo as paixões de nossa natureza argumenta que a menos que estejamos
humana caída, mas cercado de semelhan- dispostos a afirmar que Ellen G. White se
tes fraquezas, tentado em todas as coisas contradiz, somos obrigados a interpretar
como nós somos. Jesus suportou a agonia a passagem de alguma outra maneira. Da
que exigia auxílio e apoio de Seu Pai.”38 sua parte, Gane aplica os efeitos dos 4 mil
Muito claramente, Ellen G. White não anos sobre a humanidade de Jesus à sua
via a natureza humana de Cristo como dimensão física.40
sendo exatamente como a nossa. Ao me- Gane não é inexato nesta sugestão
nos tanto quanto diz respeito à propensão quando consideramos a seguinte declara-
para o pecado Ele não estava em completa ção da Sra. White: “Ele é um irmão em
solidariedade ontológica com nossa peca- nossas fraquezas, mas não em possuir
minosa e depravada natureza. idênticas paixões. Como o Impecável,
A despeito destas claras afirmações já sua natureza recuava do mal.”41 Nesta
citadas, outras passagens parecem dar a passagem, paixão se relaciona com “na-
impressão de que Cristo herdou uma na- tureza”, que em E. G. White, conforme
tureza humana caída e pecaminosa. Con- Gane mostra cuidadosamente, se trata de
sidere, por exemplo, a seguinte: sua natureza espiritual, distinta da natu-
reza física e intelectual do homem.42 Nis-
A história de Belém é inexaurível. Nela so, Cristo é diferente de nós. Por outro
se acham ocultas as “profundidades das lado, Cristo era semelhante a nós em nos-
riquezas, tanto da sabedoria como da sas fraquezas, que, neste caso, devem ser
ciência de Deus” (Rm 11:33). Maravi-
o que fica da natureza humana quando o
lhamo-nos do sacrifício do Salvador em
espiritual é retirado; a saber, as fraquezas
permutar o trono do Céu pela manjedou-
ra, e a companhia dos anjos que o ado- físicas.43
ravam pela dos animais da estrebaria. O
orgulho e presunção humanos ficam re- A conexão soteriológica no ponto de
preendidos em sua presença. Todavia, vista da “natureza caída”
esse passo não era senão o princípio de
sua maravilhosa condescendência. Teria
A avaliação soteriológica da posição
sido uma quase infinita humilhação para
natureza caída deve iniciar-se com sua
o Filho de Deus, revestir-se da natureza
humana mesmo quando Adão permane- opinião de pecado. O ponto de vista de
cia em seu estado de inocência, no Éden. que “possuir carne pecaminosa não torna
Mas Jesus aceitou a humanidade quando necessariamente a pessoa um pecador”
a raça havia sido enfraquecida por quatro já foi examinado e demonstrado como
mil anos de pecado. Como qualquer filho biblicamente incorreto. A noção, porém,
de Adão, aceitou os resultados da opera- incorpora um conceito específico de pe-
ção da grande lei da hereditariedade. O cado, podendo ser justificada somente se
que estes resultados foram, manifesta-se o pecado for definido em termos de ações.
na história de seus ancestrais terrestres. Em poucas palavras, parece que esta é
Veio com essa hereditariedade para par- a opinião de pecado que fundamenta a
tilhar de nossas dores e tentações, e dar-
posição da “natureza caída”, conforme
nos o exemplo de uma vida impecável.39
apresentada por Gage.
Como devemos lidar com tal declara- Uma ação que focalize a hamartiologia
ção em face do que parece ser esmagadora [estudo do pecado] tende a conduzir a uma
28 / Parousia - 1º semestre de 2008

soteriologia perfeccionista que, no míni- a sedução das tentações quer de dentro ou de


mo, parece ser sugerida em alguns lugares fora (cf. a ênfase sobre o papel da vontade
na dissertação de Gage. Tal é o caso, por com a união voluntária de Nestório)48.
exemplo, quando ele diz: “porque Jesus
não pecou, nenhum homem deve pecar”.44 À semelhança do nestorianismo, e re-
Semelhantemente, sua citação de C. E. B. almente como a escola antioquina, a po-
Cranfield sobre o método de Cristo em sição da “natureza caída”, tecnicamente
vencer parece chegar muito perto de uma mascara uma antropologia pelagiana. É
opinião de salvação perfeccionista e lega- nesta antropologia e sua concomitante so-
lista. Escreve Cranfield: teriologia que eles parecem dar forma à
sua cristologia da “natureza caída”.
A vida de Cristo antes do seu ministério
e morte reais não foi apenas uma posi-
ção onde estivera o Adão não caído, sem A posição da “natureza não caída”
se render à tentação diante da qual Adão
sucumbiu, mas uma questão de começar Analisando a posição da “natureza não
de onde nós começamos, sujeito a todas caída”, conforme apresentada por Rand,
as más pressões que herdamos, e usar o notei três pontos-chaves escriturísticos. O
completamente inflexível e inadequado que pode ser dito acerca destes pontos ao
material de nossa natureza corrupta para avaliarmos esta opinião?
desenvolver uma perfeita e impecável obe-
diência (ênfase minha).45 Primeiro, a opinião da natureza do pe-
cado. Parece muito exato, biblicamente,
A interpretação de Gage de Hebreus definir o pecado além de ações para incluir
2:10 tem o mesmo tom perfeccionista. também a natureza humana pós-queda, de
Para ele, as expressões “pioneiro da sal- sorte que possuir natureza pecaminosa é
vação” humana e “aperfeiçoado por meio ser um pecador. Grenz pesquisa os vários
do sofrimento” significam que Jesus “er- termos usados para pecado na Bíblia, e
gueu-se triunfante na mesma arena em que depois de concluir que o mais vastamente
seus homólogos humanos têm caído, não usado no Novo Testamento é hamartia ele
empregando nenhuma outra arma que ho- observa:
mens e mulheres caídos não tenham à sua O uso de hamartia no Novo Testamento
disposição.”46 Donald Guthrie, porém, in- descreve a difícil situação humana como
terpreta a frase pioneiro da salvação como uma situação complexa. [...] Hamartia
uma figura de linguagem. “O pioneiro, pode se referir ao pecado como um ato
neste sentido, é mais do que um exemplo específico. Mas, além disso, os autores do
para outros seguirem. Sua missão é pro- Novo Testamento falam de um poder ou
ver a base sobre a qual a salvação pode ser força operante na esfera humana. Como
oferecida a outros.”47 Parece, contudo, que uma estranha realidade que nos mantém
em sua soteriologia Gage apresenta Cristo em seu controle, o pecado exerce domí-
mais como um modelo ou exemplo do que nio sobre os indivíduos não apenas exter-
namente, mas também internamente. Por
como a fonte de nossa salvação. Note, por
conseguinte, hamartia também denota a
exemplo, a seguinte citação: dimensão imperfeita e interna da pessoa
Seu [de Jesus] desenvolvimento moral era humana.49
um exemplo de como todos os homens e
mulheres desenvolveriam um caráter como o Segundo, a singularidade de Jesus. O
seu. Eles seriam aperfeiçoados, aprendendo que é de importância em nossa avaliação
a obediência no meio de difíceis decisões. não é simplesmente a correção técnica
Devem escolher a vontade de Deus e rejeitar de definir monogenēs como um de uma
A natureza de Cristo: a questão soteriológica / 29

espécie. O que tem relevância para nós é A conexão soteriológica no ponto de


a conexão cristológica. O estudo de Dale vista da “natureza não caída”
Moody da tradução de João 3:16 na Re-
vised Standard Version permanece muito A soteriologia da posição da “natureza
conclusivo. Moody nota que “o significa- não caída” é coerente com sua ontologia.
do de monogenēs nos escritos joaninos é o Os defensores dessa posição não têm de
epítome da Cristologia”.50 Ele observa que insistir sobre identidade ontológica entre
dois aspectos de monogenēs declarados em Cristo e nós porque para eles a salvação
1 João e expandidos no Evangelho de João não é obtida por meio do seguimento exa-
são: como revelador (1Jo 4:8/cf. Jo 1:14) e to do exemplo de alguém que em todos os
como redentor (1Jo 4:10/cf. Jo 3:16). aspectos foi semelhante a eles, mas lutou
Terceiro, sobre a interpretação de “se- e saiu vitorioso.
melhança de carne pecaminosa”, a crítica Para eles, como observa Rand: “Je-
já avançada contra a posição da “natureza sus foi tanto nosso substituto como nosso
caída” em Romanos 8:3 nos leva a con- exemplo, e nesta ordem. Há uma priori-
cluir que a posição da “natureza não caí- dade de substituto sobre exemplo como
da” sobre o assunto representa muito acer- há de Deus sobre o homem e do Salvador
tadamente o ponto de vista bíblico. sobre os salvos.”51 George Ladd parece
concordar com o equilíbrio da posição
Ellen G. White sobre a condição do da “natureza não caída”. Escreve ele: “A
“ser” de Jesus morte de Jesus não é apenas redentora; a
expiação é efetuada por substituição.”52
Todas as citações de Ellen G. White
apresentadas anteriormente podem ser
lembradas para dar crédito ao ponto de Conclusão
vista da “posição não caída”, ou seja, a
de que Jesus não assumiu nossa carne pe- Tentei mostrar neste artigo que sote-
caminosa; apenas a semelhança da carne riologia e cristologia são dois lados da
pecaminosa, um ponto que o torna sin- mesma moeda. Foi este o caso nos deba-
gular em sua humanidade. Esta singula- tes cristológicos do início da Era Cristã,
ridade é expressa nos termos monogenēs e este é o caso no atual debate que ocor-
e prōtotokos. Ao aceitarmos esta opinião, re no pensamento adventista sobre a na-
porém, surge imediatamente a interroga- tureza humana de Cristo. Em cristologia
ção soteriológica: se Jesus não era exata- faríamos bem se seguíssemos o método
mente como nós, poderia Ele nos salvar? de Paulo de esclarecer o fato da salvação
A resposta depende da opinião que se no Cristo singular em vez de explorar sua
tem de salvação. condição ontológica.

Referências 3
Stanley J. Grenz, Theology for the Community
of God (Grand Rapids, MI: Eerdmans Publishing
1
Artigo traduzido do original em inglês por Company, 1994): 247.
Francisco Alves de Pontes.
4
Veja “A Carta de Ário a Eusébio” em Docu-
2
Raymond E. Brown, An Introduction to the mentos da Igreja Cristã.
New Testament Christology (Paulist Press, New
York, 1994): 3. 5
Grenz, 248.
30 / Parousia - 1º semestre de 2008
6
Ibid., 274. (Philadelphia: The Westminster Press, 1975), 80.
7
Gregório de Nazianzo, “An Examination of 32
Grenz, 276.
Apollinarius,” em Bettenson, 45. 33
Gage, 4 (ênfase minha).
8
Justo L. Gonzalez, A History of Christian Thou- 34
Bruce, 152.
ght, Vol. 1. (Nashville: Abingdon Press, 1970): 363.
9
Grenz, 296.
35
Ellen G. White, em Don F. Neufeld, ed.,
Seventh-day Adventist Bible Commentary (Jagers-
10
John H. Leith, ed., Creeds of the Churches town, MD: Review and Herald, 1979), 5:1129.
(Atlanta: John Knox, 1982), 36.
36
Idem, Testemunhos para a Igreja (Tatuí, SP:
11
Grenz, 298. Casa Publicadora Brasileira, 2002), 2:202.
12
Duas dissertações tratando das respectivas
Idem, em Don F. Neufeld, ed., Seventh-day
37
posições estão publicadas no Website do Instituto
Adventist Bible Commentary, 5:1129.
de Pesquisas Bíblicas [www.adventistbiblicalre-
search.org]: Kenneth Gage (pseudônimo), “What 38
Idem, Testemunhos para a Igreja, 2:202.
Human Nature Did Jesus Take? Fallen”; Benjamin 39
Idem, O Desejado de Todas as Nações (Ta-
Rand (pseudônimo), “What Human Nature Did
tuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1990), 25.
Jesus Take? Unfallen” [esta última publicada nes-
ta edição de Parousia com o título “Que natureza 40
Erwin R. Gane, “Christ and Human Per-
humana Jesus assumiu? Não caída”]. Estas decla- fection”, Ministry, outubro de 1970, Suplemento
rações de posturas oficiais cristalizam os pensa- Reimpresso de Ministry, agosto de 2003, 16. Veja
mentos sobre lados opostos e serão inseparáveis em Gane, 15-16 para o que ele considera ser outras in-
minha análise. satisfatórias, mas possíveis maneiras de interpretar
a passagem.
13
Gage, 3.
41
Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja,
14
Ibidem. 2:202.
15
Ibidem. 42
Erwin R. Gane, “Christ and Human Perfec-
16
Ibidem. tion”, 6.
17
Ibidem.
43
Embora E. G. White use a palavra fraqueza tam-
bém no sentido de fraqueza espiritual, o uso prepon-
18
Ibid., 6. derante da palavra parece ser em um sentido físico e
19
Ibid., 4. material (Atos dos Apóstolos, 208; Testemunhos para
a Igreja, 2:434; Testemunhos para Igreja, 4:30; Ciên-
20
Ibidem. cia do Bom Viver, 226; Mensagens Escolhidas, 2:231;
21
Ibid., 6 (ênfase minha). Testemunhos para a Igreja, 1:306; Santificação, 25).
22
Ibidem.
44
Gage, 6.
23
Benjamin Rand, “Que natureza humana Jesus
45
Ibid., 5.
assumiu? Não caída”, nesta edição de Parousia, 34. 46
Ibid., 6 (ênfase minha).
24
Ibidem. Donald Guthrie, Tyndale New Testament
47

25
Ibidem. Commentaries, Hebrews (Grand Rapids, MI: Eerd-
mans Publishing Company, 1989): 88-89.
26
Ibidem. 48
Gage, 6.
27
Ibid., 35. 49
Grenz, 184.
28
Ibid., 33. 50
Dale Moody, “God’s Only Son”, Journal of
29
F. F. Bruce, Tyndale New Testament Commen- Biblical Literature, 72 (1953): 4.
taries, Romans (Grand Rapids, MI: Eerdmans Pu-
blishing Company, 1988), 118-123.
51
Rand, 39.
52
George E. Ladd, A Theology of the New Tes-
30
Ibid., 123.
tament (Grand Rapids, MI: Eerdmans Publishing
31
William Barclay, The Letter to the Romans, Company, 1991): 188.

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