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SOUZA, Roberto Acizelo de. Iniciação aos Estudos Literários. São Paulo: Martins
Fontes, 2006, pp.149-57.
RETÓRICA
Mas é provável que não sejam assim tão simples os fatores implicados na origem
da disciplina; se tudo se reduzisse à mera determinação por uma conjuntura histórica
particularíssima, como seria possível explicar a permanência não só das técnicas
retóricas, mas de verdadeira mentalidade de conformação retórica ao longo de toda a
histórica ocidental, portanto muito para além da extinção completa da circunstância que
a teria gerado? Como não se cabe aqui o aprofundamento dessa questão, assinalemos
apenas que o problema dos fatores que teriam determinado a gênese da retórica parece
bem mais complexo; assim, sem negar a ação pontual dos fatos político-sociais
referidos, é preciso reconhecer que a disciplina em causa tem raízes mais fundas, como
indiciam, por exemplo, a valorização da linguagem na poesia homérica – seus heróis
são pródigos em discursos longos e pomposos, e a narrativa com frequência comporta
enunciados metalinguísticos, referindo-se constantemente à própria língua e a noções
conexas – e sua transformação em tema filosófico privilegiado desde as cogitações de
pensadores anteclássicos.
Publicado anteriormente em: SOUZA, Roberto Acízelo de. O império da eloquência – retórica e poética
no Brasil oitocentista. Rio de Janeiro: Eduerj/ Niterói: Eduff, 1999, pp. 6-12.
Voltemos, no entanto, ao terreno historiográfico, ainda que, no caso que nos
ocupa, os “fatos” quase se diluam na lenda, sendo precariamente reconstituídos a partir
de relatos de escritores antigos.
Em fins do século V a.C. a retórica entra num período mais bem documentado,
podendo-se dizer, contudo, que a controvérsia referida, entre a arte da palavra como
embalagem do raciocínio ou como encantamento e ilusionismo, se transforma em
verdadeiro mote do debate filosófico que atravessaria os séculos. Neste período,
destacam-se as obras de Platão e de Aristóteles. Ao passo que o primeiro, em seus
diálogos, ora reagiu contra a retórica enquanto hipertrofia da linguagem como forma
sedutora, ora a avaliou positivamente, desde que identificada com a dialética, o segundo
lhe dedicou um tratado específico – Arte retórica – destinado a ampla influência,
concebendo-a como técnica rigorosa de argumentação e como arte de estilo, além de
estuda-la dos pontos de vista do éthos do orador e do páthos dos ouvintes.
No âmbito grego a retórica seguiria sua carreira: teve muita importância entre os
estóicos (séculos IV-III a.C.), floresceu na época de Augusto (séculos I a.C.-I d.C.) e
conheceu o ocaso com a chamada segunda sofística, entre os séculos II e IV d.C. (cf.
Plebe, 1978 [a968], cap. IV a VI).
A partir do século I a.C. torna-se também latina: Cícero (séculos II-I a.C.)
desenvolve a prática da retórica aristotélica e postulo a natureza intercomplementar das
relações entre retórica e filosofia; o tratado de autoria anônima Rhetorica ad Herennim
(século I a.C.) divulga e populariza as fontes gregas, firmando a terminologia retórica
em latim; Quitiliano (séculos I-II d.C.) estabelece a pedagogia da retórica aristotélica
em Roma.
Há também a distinção entra as partes da retórica, que visa das contas das fases
percorridas na elaboração e execução de um discurso, nomeadas com os seguintes
termos tradicionais gregos e latinos heúresis ou inventio (invenção; achar o que dizer);
táxis ou dispositio (disposição; pôr em certa ordem o que se tem a dizer); léxis ou
elocutio (elocução; colocar os ornamentos do discurso); hypókrisis ou pronuntiatio
(pronunciação; proferir o discurso, tendo em vista a dicção e a gesticulação adequadas);
mnéme ou memoria (memória; confiar o discurso à memória).
Tais são alguns dos nomes e eventos que promovem a continuidade da retórica
por toda a Idade Média. Seus reveses, porém, então têm início: o lugar da preeminência
que conservou no trivium entre os séculos V e VII passa a ser ocupado primeiro pela
gramática, do século VIII ao X, e depois pela dialética, do século XI ao VV (cf. Barthes,
in Cohen et alii, 1975 [1970], p. 167); por fim, no limiar dos tempos modernos, Petrus
Ramus (século XVI) propõe uma redução do seu campo, argumentando que a inventio e
a dispositivo na verdade pertenciam à dialética, cabendo à retórica apenas a elocutio, a
pronuntiatio e a memoria (cf. Dixon, 1971, p. 46). Assim, a partir da difusão das idéias
ramistas, a retórica tem a influência progressivamente reduzida, a retórica tem a
influência progressivamente reduzida, podendo-se dizer que sua posição de relevo não
ultrapassa o século XVIII. Vejamos as causas e os estágios desse processo de
esvaziamento.
Mas, ainda que virtualmente extinta como o conjunto de práticas referidas por
Roland Barthes (Barthes, in Cohen et alii, 1975 [1970], pp. 148-9) – uma arte (no
sentido clássico do termo), um ensino, uma ciência, uma moral uma instituição social,
uma atividade lúdica –, a retórica, ou mais precisamente, alguns de seus fragmentos,
sobrevive, sob a forma de objeto ou motivação de certos empreendimentos intelectuais
do século XX bastante heterogêneas. Vejamos alguns, que recolhemos em indicações de
Roland Barthes, Michèle Lacoste e Franz Gunthner (in Cohen et alii, 1975 [1970]), bem
como de João Adolfo Hansen 91994): a estilística; o formalismo eslavo; o new
cristicism anglo-norte-americano; o estruturalismo e semiologia dos anos 1960; a
psicanálise; o pensamento dito pós-estruturalista de Derrida, Foucault, Deleuze,
Lyotard; a pedagogia da redação; a filosofia analítica ; a teoria da argumentação.
Texto 2
SOUZA, Roberto Acizelo de. Iniciação aos Estudos Literários. São Paulo: Martins
Fontes, 2006, pp.158-64.
POÉTICA
(*Publicado anteriormente em: Souza, Roberto Acízelo de. O império da eloquência – retórica e
poética no Brasil oitocentista. Rio de Janeiro: Eduerj. Niterói: Eduff, 1999, pp. 12-6).
Falar da poética como uma das disciplinas clássicas dos discursos implicará
constante referência à retórica, na qual muitas vezes a poética se achará subsumida, sem
embargo de se poder apontar também certo empenho de distinção relativa deste em face
daquela. Assim, as antigas artes retóricas sempre reconheceram os poetas – cujas
composições em princípio deveriam ficar no âmbito da poética – como pioneiros e
modelares, deles extraindo exemplos ilustrativos, que apresentavam a vantagem de ser
ao mesmo tempo concisos, memoráveis e muitas vezes já familiares (cf. Dixon, 1971,
p.51); depois, contudo, com a generalização da retórica – que já na Antiguidade deixa
de ater-se à persuasão para ocupar-se com o bem-dizer em geral – , ocorre um inversão:
“Tenho aprendido da poesia, especialmente em assuntos de estilo, a retórica aceitou os
poetas como seus discípulos aptos e predispostos” (Dixon, 1971, p. 52; tradução nossa).
Ainda quanto às origens das relações entre retórica e poética, um marco sempre
invocado é o papel atribuído pela tradição antiga ao sofista Górgias (séculos V-IV a. C.),
que, ao estender à prosa a linguagem elaborada e ornamental em princípio apanágio da
poesia, determina uma confluência entre as duas esferas, podendo-se considerar
portanto o seu Defesa de Helena tanto uma arte retórica quanto uma arte poética pré-
aristotélica (cf. Barthes, in Cohen et alii, 1975 [1970], pp. 152-3; Eudoro de Soussa, in
Aristóteles, 1966, p. 165; Plebe, 1978 [1968], pp. 12-3; Dixon, 1971, p.35).
Cícero (séculos II-I a.C.), por sua vez, embora reconhecendo os pontos de
contato, esforça-se em demonstrar as diferenças entre eloquência e poesia, a ele se
atribuindo a autoria da sentença que se tornou proverbial: “Nascimur poetae, fimus
oratores” (cf. Rónai, 1980, pp. 115 e 140) Seu quase contemporânea Ovídio (séculos I
a.C.-Id.C.), no entanto, é explícito quanto ao reconhecimento da interpretação entre as
artes retórica e poética, tendo declarado numa epistola em versos dirigida a um
professor de retórica: “[...] assim como minhas cadências recebem vigor da tua
eloquência, eu proporciono brilho às tuas palavras” (Ovídio, apud Dixon, 1971, 0.52;
tradução nossa).
Tendo verificado a persistência dos vínculos entre retórica e poética, que afinal
implicou verdadeiro sincretismo dessas duas artes, deve-se inferir que o processo de
descrédito da poética como uma das disciplinas clássicas dos discursos coincide com
aquele que conduziu à ruína da retórica. A propósito disso, portanto, remetemos o leitor
às considerações feitas no capítulo precedente, em que tratamos da obliteração das
práticas retóricas (ou, talvez mais precisamente, retórico-poéticas).
Quanto aos modos de permanência da poética, podem eles ser observados pelo
exame dos sentidos que se atribuem ao termo poética depois da superação histórica da
disciplina que incialmente essa palavras nomeava, isto é, sentido correntes do século
XIX em diante.
III – Histórico
TAVARES, Hênio. Teoria Literária. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2002, p. 330.
TAVARES, Hênio. Teoria Literária. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2002, p. 345.
A vida é folha que vai!” (João de Deus, in “A Vida”, do Campo de Flôres, v.1)
TAVARES, Hênio. Teoria Literária. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2002, p. 347.
TAVARES, Hênio. Teoria Literária. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2002, p. 374-5.
6. Metonímia – É a substituição do sentido de uma palavra pelo de outra que com ela
apresenta relação de constraste.
Exemplo literário:
“Gaetaninho ficou banazando bem no meio da rua. O Ford quase o derrubou e ele não
vio o Ford.” (Alcântara Machado, in “Gaetaninho”)
e)o lugar ou a marca pelo produto. Exemplos : Beber Caxambu, Porto etc.
“Acendeu um goiano.” (Alcântara Machado)
i) O concreto pelo abstrato. Exemplos: O marfim (alvura) de teus dentes; em rapaz (na
juventude; era meu braço direito (amparo) etc
“...da safira
TAVARES, Hênio. Teoria Literária. Belo Horizonte: Editora Itatiaia, 2002, p. 374.
“A morte tem duas portas: uma de vidro, por onde se sai da vida; outra de
diamante, por onde se entra à eternidade. Entre estas duas portas se acha subitamente
um homem no instante da morte, sem poder tornar atrás, nem parar, nem fugir, nem
dilatar, senão entrar por onde não sabe, e para sempre. Oh, que transe tão apertado! Oh,
que passo tão estreito! Oh, que momento tão terrível!” (Vieira)