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Filosofia 2016
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Filosofia 2016
Pró-Reitoria de Extensão
FILOSOFIA I
Pré-Universitário Popular
Alternativa
Autoria:
Eduardo Adirbal Rosa
Jéssica Coimbra Padilha
Robson Rodrigues Carvalho
Santa Maria
2016
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Filosofia 2016
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Filosofia 2016
SUMÁRIO
UNIDADE I ..............................................................................................................… 06
O que é filosofia(r)? Para que serve? Onde, quando e como começou?
UNIDADE II …............................................................................................................ 40
O que é raciocínio lógico? O que é argumentar? Como identificar argumentos?
Como identificar as falácias no discurso?
UNIDADE IV …........................................................................................................... 73
O que é conhecimento? Como nós o alcançamos? Qual a sua essência? É possível
saber algo?
UNIDADE V …............................................................................................................. 82
O que é ciência? Como funciona a ciência? O que é método científico?
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Filosofia 2016
Unidade I
O QUE É FILOSOFIA(R)? PARA QUE SERVE?
ONDE, QUANDO E COMO COMEÇOU?
ONDE COMEÇA A FILOSOFIA?
Sobre os filósofos e a filosofia
O que você sabe sobre filosofia? Você sabe o que ela é e quem são aqueles que
se dedicam a mesma, os filósofos(as)? Você sabe para que serve a filosofia? É certo que
se ouve falar por aí, nas falas de muitas pessoas, sejam leigos ou especialistas, a
ocorrência dos termos filosofia e filósofos, mas em sentidos muito diversos. O que elas
estão querendo dizer? Responder a estas questões talvez não seja das tarefas mais fáceis.
Para início de estudos é importante saber que a palavra
―filosofia‖ é de origem grega, philosophia, resultante da junção
dos termos philia e sophia, mesmo que isto talvez não seja uma
novidade. Além disto, pode-se dizer também que a filosofia é um
modo de pensar sobre e conhecer a nós mesmos e o mundo que
nos cerca, podendo converter-se em um modo de viver, mas
acima de tudo é algo distinto dos outros tipos de saberes
desenvolvidos pelos humanos, tal como senso comum (mundo da
vida), o mitológico, o científico, o religioso e o artístico. Por fim,
Figura 1: Pintura de Munch,
uma homenagem a escultura
que este saber designado pelo termo filosofia tem perdurado por "O pensador" de Rodin
cerca de 2500 anos no pensamento ocidental, tendo sido
transmitido desde a antiguidade até chegar aos dias de hoje, o que faz com que nos
perguntemos: o que os filósofos ficaram fazendo todo este tempo? Que contribuições
trouxeram?
Mas aqui, por hora, ainda estamos no começo dos estudos. Vamos com calma!
Por isso, é interessante focar-se em apenas um problema, que é este: onde começa a
filosofia? A vantagem de se focar neste problema é que ele é capaz de resumir os demais
problemas com os quais vamos nos deparar. Pois, quando alguém pergunta sobre o
―começo‖ de alguma coisa, esta pessoa ou está querendo saber sobre o lugar em que
algo surgiu pela primeira vez e as razões de não ter surgido em outra parte, ou saber
sobre as fronteiras, as margens que separam algo daquilo que ainda não é ou não é por
inteiro. Aplicando ao no nosso caso aqui, trata-se de saber onde, quando e como temos o
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nascimento da filosofia, para somente então pensarmos a respeito de suas fronteiras e
limites, ou seja, o que ela é, desvendando também qual a sua utilidade, se é que tem
alguma.
Os pequenos textos que seguem tentam fornecer as informações e as pistas para
que você possa estudar para saber mais sobre filosofia, bem como pensar e resolver as
questões acima colocadas. E certamente, muito mais questões surgirão – o que pode ser
prazeroso, mas pode também causar desorientação.
Afinal, onde começa a filosofia? Disse Epicuro certa vez que nunca é cedo
demais nem tarde demais para filosofar. Isto significa que é importante que se filosofe,
seja quando se é jovem ou se é velho. Por baixo disto está a necessidade de que se
comece, não importando a idade. Assim, podemos adicionar aos dois sentidos de
―começo‖ acima mencionados, um terceiro: o começo de algo na vida de alguém. Onde,
quando e como começa a filosofia na vida de uma pessoa?
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Segundo alguns autores o estudo da filosofia começou entre os bárbaros*. Esses autores
sustentam que os persas tiveram seus Magos, os babilônios ou assírios seus Caldeus, e os indianos
seus Gimnosofistas; além disso entre os celtas e gálatas encontram-se os chamados Druidas ou
Veneráveis (…).
Os propagadores da ideia de que a filosofia apareceu entre os bárbaros prosseguem
explicando as diferentes formas que os diversos filósofos lhe deram. Os Gimnosofistas e Druidas
teriam exposto suas doutrinas por meio de enigmas, exortando os homens a reverenciar os deuses, a
abster-se totalmente de más ações e a ser corajosos. Com efeito, os Gimnosofistas desdenham a
própria morte: que os caldeus dedicam-se à astronomia e a previsão do futuro; e que os Magos
consomem o seu tempo no culto dos deuses, em sacrifícios e em preces, como se fossem os únicos a
ser ouvidos pelas divindades.
Esses autores ignoram que os feitos por eles atribuídos aos bárbaros pertencem aos helenos.
(…) Pitágoras foi o primeiro a usar o termo [filosofia] e a chamar-se de filósofo [amigo da
sabedoria], na presença do rei de Fliús, Lêon. (Livro I, Proêmio 1-12, adaptado).
* Para os gregos, bárbaros eram todos aqueles que não falavam a língua grega.
* A partir da leitura dos textos acima, faça anotações filosóficas a respeito da origem, da
criação da atividade filosófica bem como dos termos “filosofia” e “filósofo”?
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Exercite: conforme o seu entendimento, ensaie uma compreensão dos fatores que
levaram ao nascimento da filosofia.
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A questão dos mitos e sua relação com a existência humana e com a filosofia,
por si só, renderia um curso a parte. Antropologicamente podemos dizer que o homem é
o único animal que precisa esclarecer sobre qual é sua condição, qual sua posição no
cosmos. O que se quer dizer com isto é que se o homem levanta sua cabeça e observa
para além dos limites do óbvio e imediato, vislumbra aquele excesso de inexplicável e
inexplorado sobre o pouco já explorado, e então reage ficando inquieto existencialmente
diante da imensidão obscura e temível do mundo. Esta inquietude pode tornar-se medo,
assombro e até mesmo maravilhamento. E assim, desta inquietude, surgem as perguntas
a respeito da origem, finalidade e sentido da existência das coisas e da vida humana.
Para tratar desta inquietude existencial, os homens da antiguidade arcaica criaram as
narrativas míticas, ou, simplesmente, mitos. Assim, aos mitos coube a tarefa de contar
ou narrar tal como se alguém estivesse lá no começo das coisas. No Ocidente, os
primeiros registros míticos escritos que temos vem da obra de Homero, mas lembre-se
que eles já existiam antes, através do boca-a-boca, a narrativa oral. Veja a explicação
abaixo:
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Rapsodos como Homero andavam de cidade em cidade e cantavam versos sobre como havia
sido a vida dos gregos em tempos remotos. As pessoas escutavam atentas; era como uma escola
popular itinerante. Os gregos tomavam aqueles versos como um saber, e, assim, entendiam de
onde tinham vindo e como seus heróis e deuses atuavam. Dessa forma, eram transmitidos os
seus modelos de comportamento ou os elementos indicativos de como organizar a vida social e
particular.
Homero foi o responsável por obras básicas do mundo ocidental: a Ilíada e a Odisseia. A
Ilíada conta a Guerra de Troia, a Odisseia. a viagem de Ulisses de volta da guerra para a sua
casa, a ilha de Ítaca. Talvez nunca venhamos se saber se alguma coisa do que é contado nos
versos homéricos realmente aconteceu. O que importava na pedagogia exercida pelo rapsodo,
era a ideia de expor um passado grandioso. Todos podiam escutar sua história, e assim se fazia a
educação popular do povo grego. Acreditar no rapsodo era a garantia de se sentir pertencente
àquela cultura, isto é, de ser um grego. (...)
O que Homero cantava em seu versos eram mitos. A palavra 'mito' vem do grego mythos,
que significa mensagem, conselho, narrativa ou rumor. Do modo como o povo a utilizava nos
tempos de Homero, ela era a ―palavra proferida". O verbo coligado, mythéomai, significa narrar,
contar, nomear, anunciar, deliberar sobre si. Mito era a palavra usada para denominar a narrativa
cuja verdade era garantida pelo testemunho dos outros, os que davam credibilidade a tal narrativa,
ou seja, os rapsodos, homens que se diziam inspirados por forças superiores. (Retirado e adaptado
de As aventuras da Filosofia, de P. Ghiraldelli)
Resumidamente, o que é o mito? O mito é um tipo de narrativa que relata a
origem das coisas e, ao fazer isto, explica a realidade e dá o modelo exemplar de
comportamento para as atividades humanas: alimentação, sexualidade, trabalho,
educação, organização social, política, etc, ou seja, os mitos não são historias contadas
apenas por se contar, eles mostram como os homens devem se comportar e agir, e isto
deve ser feito através da imitação das ações dos deuses e heróis.
Como os mitos narram a origem do mundo?
Encontrando o pai e a mãe
Encontrando as
das coisas e dos seres. Tudo Encontrando uma rivalidade
ou uma aliança entre os deuses recompensas ou castigos
o que existe decorre de
que faz surgir alguma coisa no que os deuses dão a quem
relações sexuais entre mundo os obedece ou desobedece.
forças divinas pessoais.
ajudou as pessoas a encontrarem seu lugar no mundo e sua verdadeira orientação. Todos
queremos saber de onde viemos, mas, como os primórdios se perderam nas brumas da
pré-história, criamos mitos sobre nossos antepassados, que não são históricos, porém ajudam
a explicar atitudes atuais em relação a nosso ambiente, nossos semelhantes e nossos
costumes. Também queremos saber para onde vamos, por isso elaboramos histórias que
falam de uma existência póstuma. (…) E queremos explicar os momentos sublimes, quando
parece que somos transportados para além de nossas preocupações ordinárias. Os deuses nos
ajudavam a explicar a experiência da transcendência. A religião tem sido um dos meios mais
tradicionais para alcançar o êxtase, mas, se as pessoas não o encontram mais nos templos,
sinagogas, igrejas ou mosteiros, procuram-no em outro lugar. (Retirado de Uma breve
historia do mito, de K. Armstrong)
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Anotações filosóficas
Mas e hoje, ainda temos mitos? Se sim, sua natureza e função ainda é a mesma que
nas sociedades antigas? Alguns textos podem ajudar a ampliar os horizontes:
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Todavia, a imagem do Superman não escapa totalmente às possibilidades de
identificação por parte do leitor. De fato, ele vive entre os homens sob as falsas vestes
do jornalista Clark Kent; e, como tal, é um tipo aparentemente medroso, tímido, de
medíocre inteligência, um pouco embaraçado, míope, e desprezado por Louis Lane, que
é loucamente enamorada por Superman.
Do ponto de vista mito poético: Clark Kent personaliza, de modo bastante típico,
o leitor médio torturado por complexos e desprezado pelos seus semelhantes; através de
um óbvio processo de identificação, uma pessoa qualquer, de uma cidade qualquer,
nutre secretamente a esperança de que um dia, das vestes da sua atual personalidade,
possa florir um super-homem capaz de resgatar anos de mediocridade. (Adaptado de
Apocalípticos e integrados, de Umberto Eco).
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Anotações:
Assim nos conta Vernant sobre a origem existencial e afetiva tanto dos mitos,
como da filosofia, pelo thâuma, o assombro, mas também nos informa sobre uma
profunda transformação de atitude nos primeiros filósofos em relação a realidade. O que
aparece já não causa maravilhamento ou medo, mas apresenta-se como um problema, e
este precisa ser abordado e explicado racionalmente, sem o recurso ao sobrenatural. Esta
mudança de atitude em relação a realidade, a passagem do mito a filosofia, é resultado
de uma ruptura radical ou de uma continuidade entre mito e filosofia?
Houve quem defendeu a ruptura direta e total por um lado, no caso do helenista
Burnet. Para este, os gregos descobriram sozinhos a razão, pois a inteligência grega era
composta de duas qualidades únicas: o espírito de observação e o poder de ra ciocínio.
Contrariamente a Burnet, houve quem mostrou os aspectos de continuidade entre mito e
religião com a filosofia, tal como Cornford e Jaeger. Estes argumentaram e mostraram
que os filósofos transportaram numa forma laica e num pensamento abstrato os
conteúdos da religião e dos mitos, ou seja, o surgimento da filosofia grega se dá em um
contínuo processo de racionalização dos mitos. No entanto, seria a filosofia apenas uma
outra linguagem para dizer o mesmo que era dito no mito? O que precisa ser
esclarecido, então, como coloca Vernant, é aquilo que faz com que a filosofia deixe de
ser mito para ser filosofia, ou seja: o que há de verdadeiramente novo na mentalidade
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filosófica em relação aos mitos? Ou seja, o que há de verdadeira ruptura entre mito e
filosofia?
A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a
origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário deter-nos nela e levá-la a sério?
Sim, e por três razões: 1) porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; 2)
porque faz sem imagem e fabulação; e enfim, 3), porque nela, embora apenas em estado
de crisálida, está contido o pensamento: ―Tudo é um‖. A razão citada em primeiro lugar
deixa Tales ainda em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa
sociedade e mostra-o como investigador da natureza, mas, em virtude da terceira, Tales
se torna o primeiro filósofo grego.
O comentário de Nietzsche nos mostra o programa de investigação não somente
de Tales, mas dos filósofos deste período nascente da filosofia grega. O que o trecho
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sobre Tales nos diz a respeito do que investigavam estes primeiros filósofos. Observe
onde há continuidade e ruptura com a mitologia.
Anotações filosóficas
Já vimos antes que eram pelas narrativas míticas que se obtém o conhecimento a
respeito da origem das coisas, sejam elas por cosmogonias ou teogonias; observamos
acima também que estas narrativas passaram a não dar mais conta de explicar a
realidade. O que há de novo é que os primeiros filósofos, ao abastecerem-se de
problemas abordados e estruturas presentes nos mitos, passaram a explicar as coisas de
outro modo. A origem e a ordem do mundo são agora naturais.
Assim, a filosofia elaborada pelos pré-socráticos apresenta-se como uma
cosmologia, contraposta as cosmogonias míticas, ou seja, é uma LEMBRETE!
O que os gregos
explicação da origem do mundo através da determinação de um denominaram de
princípio originário e racional que é a origem e causa das coisas e phýsis nada tem a
ver com os
de sua ordenação. O que apresenta-se já não causa medo ou fenômenos
maravilhamento, mas instiga a pensar, coloca-se como problema: explicados pelas
ciências naturais
como as coisas e os seres foram gerados? O que lhe dá continuidade hoje.
e sustentação? Como explicar as mudanças e repetições, as
oposições e semelhanças, o surgimento e desaparecimento das coisas? Qual é a causa
das mudanças e transformações? Estas últimas três questões são inovações em relação
as narrativas míticas. Todos estes problemas podem ser resumidos no termo phýsis, o
qual é traduzido por natureza. É dar conta da phýsis e de sua complexidade que os pré-
socráticos se preocupavam. Em sua expressão original, physis designa o processo de
surgir e desenvolver-se num constante e permanente movimento vital, confundindo-se
com a própria força motriz de tal movimento. É a realidade primeira
Os filósofos
jamais deixaram e última, subjacente a todas as coisas de nossa experiência. É
de se espantarem
considerada assim a expressão daquilo que é primário, fundamental e
e preocuparem
com o problema persistente, opondo-se ao que é secundário, derivado e transitório. A
da kínesis: o
phýsis é a totalidade de tudo o que é e assim pode ser apreendida em
devir incessante
da natureza.
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tudo o que existe.
O princípio originário buscado pelos pré-socráticos era uma arkhé, um princípio
idêntico e imutável subjacente as mudanças visíveis que se manifestavam na phýsis. A
arkhé é a origem, não no sentido de algo do passado, e sim como aquilo que, ainda aqui
e agora, continua dando origem a tudo, permanentemente. E, por fim, o que causava
espanto e admiração nos primeiros filósofos é a eterna instabilidade das coisas, o
nascimento e morte, o surgimento e desaparecimento. Enfim, a mudança, kínesis. Para
os gregos, kínesis significava todas as mudanças que algo pode sofrer, sejam
qualitativas, quantitativas ou de lugar.
Phýsis, arkhé e kínesis são os tópicos de preocupação dos primeiros filósofos, os
pré-socráticos, ou, em uma nomenclatura mais adequada, cosmólogos ou fisiólogos
(estudiosos da phýsis). Infelizmente, muito pouco ou nada restou de suas obras. O que
temos basicamente são testemunhos de outros filósofos ou historiadores a respeito de
seus pensamentos. Como já sabemos, Tales foi o primeiro, mas há outros mais. Há
outros, pois eles não concordavam entre si ao determinar o que era propriamente a
phýsis. Podemos dividir estes filósofos e seus modos de explicação da phýsis nas
seguintes escolas:
ESCOLA JÔNICA
sintetiza sua doutrina da mobilidade e fluxo da phýsis. Sua doutrina está em direta
controvérsia com a de Parmênides.
ESCOLA ITALIANA
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apelar para um recurso extremo: usar o último argumento que é seu próprio corpo, sua
carne, sua vida. Se estas pessoas são levadas a morte, o impacto de suas mortes tem
tremendas consequências culturais: a criação de uma nova tradição.
Ao longo da história, é comum que pessoas morram ―por uma causa‖: Deus,
companheiros, ideias, coisas reais ou imaginárias, razoáveis ou utópicas. E não são
poucos os exemplos. Um dos primeiros que pode vir à lembrança é Jesus. De outro
modo, mas pondo também o corpo e a vida em risco, temos o exemplo de Gandhi. Em
todos estes casos, ideias foram envolvidas por carne. Geralmente, fazer filosofia não
leva a morte, mesmo que os filósofos possam falar coisas que desagradem. Mesmo
assim, não foram poucos os casos em que fazer filosofia e defender suas ideias levou
filósofos a morte: Thomas More, Hipátia, Giordano Bruno. Anaxágoras foi condenado
pelos Atenienses e escapou por pouco. Galileu, fundador da ciência moderna, se retratou
se não o fizesse seria queimado na fogueira.
A morte que nos interessa aqui e que cria uma nova tradição nova de
pensamento, na filosofia, é a de Sócrates. O caso de Sócrates já foi comparado com o de
Jesus muitas vezes. Ambos foram condenados, morrem por suas ideias e, a partir disto,
criam-se novas tradições: uma filosófica, outra religiosa. Em ambos os casos temos
pouca quantia de registros a respeito de suas existências históricas, e nenhum destes
registros, seja de seus pensamentos ou de suas vidas, foi feito por eles mesmos, o que dá
margem para se questionar se não são simplesmente personagens criadas e imaginadas
por alguém.
O que sabemos sobre Sócrates é que ele
nasceu em Atenas, vindo a morrer com a idade Os registros dignos de confiança a respeito de
Sócrates provém da divertida comédia As
de 70 anos em 399 a.C; casou com Xantipa e Nuvens de Aristófanes, d'Os ditos e feitos
teve filhos; participou de batalhas a favor de memoráveis de Sócrates e uma Apologia de
autoria de Xenofonte e os diálogos de Platão,
Atenas; e foi um filósofo. Sua prática sendo o mais importantes aqueles do primeiro
período, no qual se encontra a Apologia.
filosófica, bem como sua condenação a morte
se deu no contexto da pólis grega sob o regime de uma democracia direta que havia
florescido e se consolidado. Nesta era democrática, o ideal de paideia
(educação/formação) da juventude, não era formar bons guerreiros, mas bons cidadãos.
Os bons cidadãos eram aqueles participantes das discussões políticas. E um requisito
para isto era ser bom orador. É aí que surgem os sofistas. A educação passa a ser feita
não mais pelos poetas rapsodos, mas pelos sofistas, professores itinerantes, que iam de
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cidade em cidade, ensinando aqueles que podiam pagar por suas lições e ensinamentos.
O que eles ensinavam? A arte de bem argumentar e persuadir (a retórica), útil para quem
vive em uma democracia onde as decisões são feitas em público através de debates e
discussões e nas quais vence quem souber melhor convencer. Por outro lado, eles são os
responsáveis diretos por deslocar o eixo das reflexões filosóficas da phýsis para as
questões a respeito da vida do homem em sociedade. No entanto, Sócrates e os seus
seguidores não concordavam com as práticas dos sofistas, pois estes não estavam
preocupados com a busca pela verdade, eles tinham interesse apenas em fornecer as
armas para defender qualquer ideia, desde que isto fosse vantajoso. No fim das contas,
eles faziam o erro e a mentira valem tanto quanto a verdade, corrompendo a mente dos
jovens.
O início de sua atividade filosófica se deu a partir da consulta que Querofonte,
um amigo, faz ao Oráculo de Delfos. Lá ele questionou o Oráculo perguntando se havia
alguém mais sábio que Sócrates: a resposta era que não havia alguém mais sábio.
Quando soube disto, Sócrates assim refletiu e compreendeu aquelas palavras como uma
missão:
―Que quererá dizer o deus? Que sentido oculto pôs na resposta? Eu cá não tenho
consciência de ser nem muito sábio nem pouco; que quererá ele, então, significar
declarando-me o mais sábio? Naturalmente, não está mentindo, porque isso lhe é
impossível.‖ Por longo tempo fiquei nessa incerteza sobre o sentido; por fim, muito contra
meu gosto, decidi-me por uma investigação, que passo a expor. Fui ter com um dos que
passam por sábios, porquanto, se havia lugar, era ali que, para rebater o oráculo, mostraria
ao deus: ―Eis aqui um mais sábio que eu, quando tu disseste que eu o era!‖ Submeti a
exame essa pessoa — é escusado dizer o seu nome; era um dos políticos. Eis, Atenienses, a
impressão que me ficou do exame e da conversa que tive com ele; achei que ele passava por
sábio aos olhos de muita gente, principalmente aos seus próprios, mas não o era. Meti-me,
então, a explicar-lhe que supunha ser sábio, mas não o era. A consequência foi tornar-me
odiado dele e de muitos dos circunstantes.
Ao retirar-me, ia concluindo de mim para comigo: "Mais sábio do que esse homem
eu sou; é bem provável que nenhum de nós saiba nada de bom, mas ele supõe saber alguma
coisa e não sabe, enquanto eu, se não sei, tampouco suponho saber. Parece que sou um
nadinha mais sábio que ele exatamente em não supor que saiba o que não sei." Daí fui ter
com outro, um dos que passam por ainda mais sábios e tive a mesmíssima impressão;
também ali me tornei odiado dele e de muitos outros.
Foi devido a este tipo de prática que foi condenado: os atenienses sentiram-se
incomodados pelo modo de questionamento, via o método dialético (ver abaixo), que
Sócrates aplicava pelas ruas de Atenas. Ele estava colocando em questão a sabedoria de
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Ninguém, nem os amigos, consegue convencê-lo a abdicar de sua consciência. Entra a mulher
de Sócrates, Xantipa, trazendo os filhos para a despedida. Sócrates permanece sereno.
Finalmente chega o carcereiro com a cicuta. Imperturbável, Sócrates toma o vaso que lhe é
oferecido, de um só gole bebendo todo o veneno. Os amigos soluçam. Mas ele ainda os anima:
"Não, amigos, tudo deve terminar com palavras de bom augúrio: permanecei, pois, serenos e
fortes". (Os Pensadores - Sócrates)
caso jurídico em que Sócrates está envolvido.
Sua morte, acontecimento de consequências tremendas para a filosofia, não é
relatada na Apologia, mas no diálogo Fédon, também de Platão, onde encontramos a
dramatização da morte de Sócrates e dos dias que a antecedem enquanto está na
prisão na companhia de amigos e discípulos, que tentam persuadi-lo a fugir, mas ele
permanece sereno a espera do momento derradeiro.
Sócrates foi acusado de corromper a juventude, não acreditar nos antigos deuses e cultuar
novos deuses. Fez sua defesa em assembleia e, na votação, foi condenado. Aceitou a
condenação: morte por envenenamento. Aceitou-a não por se considerar culpado, mas por
entender que não podia se revoltar contra 'as leis', ou seja, a determinação da cidade. (As
aventuras da Filosofia, de P. Ghiraldelli)
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Filosofia 2016
Por sua morte, Sócrates é tido como uma figura fundadora da filosofia, pelo
menos de certo modo de se fazer filosofia. Ele é tomado como um marco divisor na
história do pensamento filosófico, pois ainda hoje continua-se utilizando a
designação ―pré-socráticos‖ para se referir aos filósofos anteriores a Sócrates, Tales e
os demais cosmólogos ou fisiólogos, investigadores da phýsis. Sócrates inaugura um
modo de fazer filosofia, influenciado pelos sofistas, que tem como foco das
preocupações e reflexões as questões humanas da ética e política.
Anotações filosóficas
O QUE É UM FILÓSOFO?
―O que faz de alguém um filósofo, além de ser considerado como tal pela
universidade?‖, a esta pergunta Mary Warnock responde que os verdadeiros filósofos
não somente apresentam suas ideias, mas também argumentam a favor delas, o que leva
os filósofos a terem um interesse apaixonado pelas ideias uns aos outros. O que resulta
disso? Que os filósofos conversam entre si, discordando e até refutando os argumentos
uns dos outros, expondo suas teorias por meio de diálogos, falados ou escritos.
Sócrates dialogou falando. E a sua morte levou não somente Platão, mas
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Sobre o Banquete
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O Amor está no meio da sabedoria e da ignorância. Eis com efeito o que se dá. Nenhum deus
filosofa ou deseja ser sábio – pois já é –, assim como se alguém mais é sábio, não filosofa.
Nem também os ignorantes filosofam ou desejam ser sábios; pois é nisso mesmo que está o
difícil da ignorância, no pensar, quem não é um homem distinto e gentil, nem inteligente, que
lhe basta assim. Não deseja portanto quem não imagina ser deficiente naquilo que não pensa
lhe ser preciso. Quais então [...] os que filosofam, se não são nem os sábios, nem os
ignorantes? [...] São os que estão entre esses dois extremos, e um deles seria o Amor. Com
efeito, uma das coisas mais belas é a sabedoria, e o Amor é amor pelo belo, de modo que é
forçoso o Amor ser filósofo e, sendo filósofo, estar entre o sábio e o ignorante. E a causa de
sua condição é a sua origem: pois é filho de um pai sábio e rico e de uma uma mãe que não é
sábia, e pobre. (PLATÃO. O Banquete. 5. ed. São Paulo: Nova cultural, 1991. p. 35-36, Os
Pensadores)
Anotações filosóficas
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Ou, sobre a (in)utilidade da filosofia
“A filosofia é algo com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual”
(Ditado popular)
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abre a avenida da crítica, e as tradições populares podem não gostar da crítica. Neste
sentido, as ideologias tornam-se círculos fechados, prontas a sentirem-se ultrajadas pelo
espírito interrogante. Nos últimos 2 mil anos, a tradição filosófica tem sido a inimiga
deste tipo de complacência confortável. Tem insistido na ideia de que uma vida não
examinada não vale a pena ser vivida. Tem insistido no poder da reflexão racional para
descobrir o que há de errado nas nossas práticas, e para as substituir por práticas
melhores. Tem identificado a auto-reflexão crítica com a liberdade — e a ideia é que só
quando nos conseguimos ver a nós mesmos de forma adequada podemos controlar a
direção em que desejamos caminhar. (Retirado e adaptado de Pense, de Blackburn)
EXERCÍCIOS FILOSÓFICOS
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natureza, mas sim como divindades: Gaia é a Terra, Urano é o Céu, Cronos é o Tempo,
aparecendo ora por segregação, ora pela intervenção de Eros, princípio que aproxima os
opostos.
04) Os primeiros filósofos gregos buscaram descobrir o princípio (arché) originário
de todas as coisas, o elemento ou a substância constitutiva do universo; elaborando uma
cosmologia, não se contentavam com doutrinas divinamente inspiradas, mas tentavam
compreender racionalmente o cosmo.
08) Os gregos foram pouco originais no exercício do pensamento crítico racional;
apropriaram-se das conquistas científicas e do patrimônio cultural de civilizações
orientais com mínimas alterações.
16) É tese hoje bastante aceita que o nascimento da filosofia na Grécia não foi um
―milagre‖ realizado por um povo privilegiado, mas a culminação de um processo lento,
tributário de um passado mítico, e influenciado por transformações políticas,
econômicas e sociais.
SOMA:_____
2. (Ueg 2013) O ser humano, desde sua origem, em sua existência cotidiana,
faz afirmações, nega, deseja, recusa e aprova coisas e pessoas, elaborando juízos de
fato e de valor por meio dos quais procura orientar seu comportamento teórico e
prático. Entretanto, houve um momento em sua evolução histórico-social em que o
ser humano começa a conferir um caráter filosófico às suas indagações e
perplexidades, questionando racionalmente suas crenças, valores e escolhas.
Nesse sentido, pode-se afirmar que a filosofia:
a) é algo inerente ao ser humano desde sua origem e que, por meio da elaboração dos
sentimentos, das percepções e dos anseios humanos, procura consolidar nossas crenças
e opiniões.
b) existe desde que existe o ser humano, não havendo um local ou uma época específica
para seu nascimento, o que nos autoriza a afirmar que mesmo a mentalidade mítica é
também filosófica e exige o trabalho da razão.
c) inicia sua investigação quando aceitamos os dogmas e as certezas cotidianas que nos
são impostos pela tradição e pela sociedade, visando educar o ser humano como
cidadão.
d) surge quando o ser humano começa a exigir provas e justificações racionais que
validam ou invalidam suas crenças, seus valores e suas práticas, em detrimento da
verdade revelada pela codificação mítica.
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Filosofia 2016
dos mitos. Ainda no século XX, Vernant, mesmo aceitando certa continuidade entre
mito e filosofia, criticou seus predecessores, ao rejeitar a ideia de que a filosofia
apenas afirmava, de outra maneira, o mesmo que o mito. Assim, a discussão sobre
a especificidade da filosofia em relação ao mito foi retomada.
Considerando o breve histórico acima, concernente à relação entre o mito e a
filosofia nascente, assinale a opção que expressa, de forma mais adequada, essa
relação na Grécia Antiga.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação entre mito e filosofia
na Grécia, é correto afirmar:
a) Em que pese ser considerada como criação dos gregos, a filosofia se origina no
Oriente sob o influxo da religião e apenas posteriormente chega à Grécia.
b) A filosofia representa uma ruptura radical em relação aos mitos, representando
uma nova forma de pensamento plenamente racional desde as suas origens.
c) Apesar de ser pensamento racional, a filosofia se desvincula dos mitos de forma
gradual.
d) Filosofia e mito sempre mantiveram uma relação de interdependência, uma vez
que o pensamento filosófico necessita do mito para se expressar.
e) O mito já era filosofia, uma vez que buscava respostas para problemas que até
hoje são objeto da pesquisa filosófica.
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Filosofia 2016
I) O mito é incapaz de instituir uma realidade social, pois seu caráter fantasioso nã o
possui credibilidade alguma para seus ouvintes.
II) A transformação de uma representação dominantemente mítica do mundo para
uma concepção filosófica expressa, entre os séculos VIII e VI a. C., na antiga Grécia,
uma mudança estrutural da sociedade.
III)Os filósofos da escola jônica realizaram uma ruptura definitiva entre a mitologia e
a filosofia; depois deles, não é possível encontrar, no pensamento filosófico, presença
alguma de mitos.
IV) O mito de Édipo, encontrado na tragédia de Sófocles, será aproveitado por
Sigmund Freud para explicar o complexo de édipo como causa de determinadas
neuroses.
V) Homero foi o primeiro historiador grego. Na Ilíada e na Odisseia, descreve o
comportamento de homens heroicos cujas ações não possuem mais componente
mitológico algum.
Estão corretas:
a) as alternativas I, II e III.
b) as alternativas I, III e V.
c) as alternativas II, IV e V.
d) as alternativas II e IV.
e) as alternativas I, II, III e V.
7. (UEL- 2003) “Tales foi o iniciador da filosofia da physis, pois foi o primeiro
a afirmar a existência de um princípio originário único, causa de todas as coisas
que existem, sustentando que esse princípio é a água. Essa proposta é
importantíssima... podendo com boa dose de razão ser qualificada como a primeira
proposta filosófica daquilo que se costuma chamar civilização ocidental.” (REALE,
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Filosofia 2016
Giovanni. História da filosofia: Antiguidade e Idade Média. São Paulo: Paulus,
1990. p. 29.)
A filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C. Seus primeiros filósofos foram os
chamados pré-socráticos. De acordo com o texto, assinale a alternativa que
expressa o principal problema por eles investigado.
a) A ética, enquanto investigação racional do agir humano.
b) A estética, enquanto estudo sobre o belo na arte.
c) A epistemologia, como avaliação dos procedimentos científicos.
d) A cosmologia, como investigação acerca da origem e da ordem do mundo.
e) A filosofia política, enquanto análise do Estado e sua legislação.
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Filosofia 2016
10. (Enem 2015) “A filosofia grega parece começar com uma ideia absurda,
com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo
necessário deter-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro
lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas, em segundo
lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e enfim, em terceiro lugar, porque
nela, embora apenas em estado de crisálida, está contido o pensamento: Tudo é
um.”
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Filosofia 2016
conflitantes entre si.
a) aquele que se reconhece como ignorante torna-se mais sábio por querer adquirir
conhecimentos.
b) é um exercício de humildade diante da cultura dos sábios do passado, uma vez que a
função da Filosofia era reproduzir os ensinamentos dos filósofos gregos.
c) a dúvida é uma condição para o aprendizado e a Filosofia é o saber que estabelece
verdades dogmáticas a partir de métodos rigorosos.
d) é uma forma de declarar ignorância e permanecer distante dos problemas concretos,
preocupando-se apenas com causas abstratas.
Unidade II
O QUE É RACIOCÍNIO LÓGICO?
O QUE É ARGUMENTAR?
COMO IDENTIFICAR ARGUMENTOS?
COMO IDENTIFICAR AS FALÁCIAS NO
DISCURSO?
INTRODUÇÃO
A lógica foi fundada por Aristóteles (384-322 a.c), na Grécia antiga. Foi
complementada pelos estoicos e muito sistematizada na idade média. Mas só no século
XIX e XX a lógica conheceu desenvolvimento revolucionário, tornando-se a mais exata
das disciplina do conhecimento. Os filósofos Gottlob Frege (1848-1925), Beltrand
Russell (1872-1970) foram alguns dos mais importantes criadores da lógica formal
contemporânea.
Mas porque estudar lógica? A razão é simples, pois no dia a dia em alguns
diálogos (orais e escritos) somos constantemente requisitados a ter quer dar as razões de
porque decidimos algo, ou somos chamados a explicar certas ações. Nem todas as
formas de diálogos têm por fim defender racionalmente um ponto de vista, uma teoria
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Filosofia 2016
ou uma ideia (tese), pois temos outros tipos de diálogos que tem finalidades variadas.
Por exemplo, uma negociação tem por finalidade um ganho; um diálogo pedagógico
tem por fim ensino etc. Mas quando estamos em uma situação em que se quer defende
um ponto de vista, ou uma teoria, é necessário o uso de argumentação, isto é, apresentar
as razões que nos levaram a pensar que tal ponto de vista é correto. Ou, também
podemos estar num situação inversa, pois rejeitamos certo ponto de vista, pois cremos
ter razões para afirmar que ele está errado. Uma ideia, tese, ou teoria será tão boa
quanto for a qualidade do argumento que lhe apoia. Sendo assim, se quisermos pensar
claramente e debater questões de modo sério, temos que aprender algumas coisas
básicas para avaliarmos bons argumentos de maus argumentos.
Os aspectos mais gerais que estudaremos é:
1. Distinguir argumentos corretos e incorretos;
2. Explicar porque razão alguns argumentos são corretos e outros não;
3. Aprender a argumentar melhor;
Princípios lógicos
a) O QUE É ARGUMENTAR?
Argumentar é defender uma ideia com razões, assim tanto as razões quanto as
próprias ideais que forma nosso argumento, são proposições.
Uma proposição é o pensamento que uma sentença declarativa exprime
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Filosofia 2016
literalmente.
Somente as sentença declarativas podem exprimir proposições. As frases
interrogativas, exclamativas, prescritivas e promessas não exprimem proposição
alguma. As frases seguintes são exemplos:
1. Feche a porta!
2. Será que há água em marte?
3. Quem me dera ter boas notas em filosofia!
4. Prometo que te devolvo o dinheiro amanha!
As sentenças imperativas, interrogativas e exclamativas, assim como as
promessas, não exprimem proposição porque não carregam pensamentos que tenha
valor de verdade, isto é, elas não podem ser verdadeiras ou falsas, podem ser
cumpridas ou não, seguidas ou não, e respondidas. Pois se quer faz sentido dizer que
uma pergunta, por exemplo, é falsa. Podemos dizer então que, todo e qualquer
argumento terá como elemento básico proposições, que irão desempenhar o papel de
premissas e conclusão.
2. PREMISSAS E CONCLUSÃO.
Podemos compreender o que é argumentar vendo o seguinte exemplo:
JOÃO – Este quadro é horrível! É só traços e cores! Até eu fazia isso!
ADRIANA – Concordo que não é muito bonito, mas nem toda a arte tem de se bela.
JOÃO – Não sei … Por que razão diz isso?
ADRIANA – Porque nem tudo o que os artistas fazem é belo.
JOÃO – E dai? É claro que nem tudo que eles fazem é belo, mas disso se não se segue
nada.
ADRIANA – Claro que se segue! Dado que tudo que os artistas fazem é arte, segue-se
que nem toda a arte tem de ser bela.
O que podemos identificar nesse pequeno diálogo é que Adriana argumentou que
nem toda arte é bela. Esse é um caso claro de alguém defendendo uma ideia com base e
algumas razões, essas razões em lógica tem o nome de premissas.
Um argumento é um conjunto de proposições, em que se pretende que a
conclusão, seja apoiada por outras proposições (as premissas). Podemos perceber isso
melhor, organizando as premissas e a conclusão da seguinte forma:
PREMISSA 1: Nem tudo o que os artistas fazem é belo.
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Filosofia 2016
Temos aqui um argumento composto de duas premissas. Mas poderia ser só uma
premissa. A condição mínima para considerarmos algo um argumento é ter aunemos
uma premissa e uma conclusão servindo como suporte para uma inferência. Se apenas
nos limitarmos a apresentar ideias sem apresentar as nossas razões para defender a tal,
não estamos a defender racionalmente nada. Quando nós passamos de premissas para
conclusão, estamos dando um passo inferencial, estamos propriamente a raciocinar.
Mas por qual razão esse argumento é invalido? Pois a forma lógica do
argumento não é imune a possibilidade de ter premissas verdadeiras, e mesmo assim,
conclusão falsa. É bem fácil pesar uma situação em que ambas as premissas seja
verdadeiras, mas a conclusão falsa. Podo ser o caso de ser estudar muito, mas não se
formar. O que deve ficar entendido é que, mesmo que sejam verdadeiras as duas
premissas, dada a estrutura desse argumento, sua conclusão não se segue, e por isso o
argumento é invalido.
4. AVALIANDO ARGUMENTO
Podemos avaliar um argumento sob dois aspectos, o primeiro nós já vimos, que
podemos chamar de aspecto formal, isto é, saber se um argumento é valido ou não. Mas
quando nos perguntamos quanto a verdade ou não das premissas, estamos a olhar para o
aspecto material do argumento. As possibilidades são duas, ou o argumento é correto ou
incorreto, se for correto, então ele além de ser válido, tem as premissas verdadeiras.
Exemplo:
P1 Se a água do mar é salgada, então não beberei.
P2 A água do mar é salgado
Logo, não beberei.
5. TIPOS DE ARGUMENTOS
DEDUTIVOS INDUTIVOS
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Filosofia 2016
- a conclusão é verdadeira ou falsa a partir - a conclusão tem maior ou menor
das premissas; possibilidade de ser verdadeira, dadas as
- é impossível ter uma conclusão falsa a premissas;
partir de premissas verdadeiras; - a conclusão tem mais informações que as
- o argumento pode ser válido ou não- premissas;
válido, independentemente da - generalizações, previsões.
verdade/falsidade das proposições). Ex.:
Ex:
Pratique!
Indique se os argumentos são dedutivos ou indutivos:
1. Você não pode descontar este cheque porque hoje é dia 1o de agosto e o cheque
está datado de 15 de julho e todo o cheque perde a validade depois de 30 dias.
2. Nos últimos cem sorteios da Loteria X o número 13 saiu uma só vez. Ora, você
não vai ser sorteado, já que você concorre com o número 13.
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Filosofia 2016
PROPOSIÇÕES CATEGÓRICAS
Atenção!
2. A proposição ―Todos os lógicos são chatos‖ não implica a existência de
lógicos. Diz apenas que, se eles existirem, eles são chatos.
3. A proposição ―Alguns filósofos são lógicos‖ não necessariamente descarta
o fato de que todos os filósofos sejam lógicos. Se alguns filósofos forem
lógicos, pode ainda assim ser o caso que, na verdade, todos os filósofos
tenham essa característica.
4. A quantidade da proposição categórica nem sempre é expressa por ―Todo‖
e ―Algum‖. Às vezes sinônimos aparecem. Fique atento para as expressões
―A maior parte‖ ―a minoria‖, e similares: todas essas expressões estão
falando de uma parte, portanto de Alguns!
PRATIQUE!
7. Com relação às seguintes proposições categóricas, indique sua quantidade e sua
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Filosofia 2016
qualidade:
É o termo que se repete nas duas premissas. Sua função é mediar, relacionar, as
outras duas classes que formam o silogismo: assim ocorre a eliminação do termo médio
na conclusão:
Todos os homens são mortais.
Todos os gregos são homens.
Todos os gregos são mortais.
Quadrado de oposições
A silogística não apenas é capaz de indicar que conclusão se pode tirar de um par
de premissas sob certas condições, como também é capaz de indicar outras relações
lógicas que as proposições categóricas mantêm entre si. Isso pode ser apresentado no
quadrado de oposições:
Todo A é Nenhum A
B éB
Algum A é Algum A
B não é B
Cada uma das arestas desse quadrado – seus lados e suas diagonais – representa
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Filosofia 2016
uma relação que duas proposições categóricas, que compartilham seus termos para
classe, mantêm entre si.
LÓGICA INFORMAL
Na lógica dedutiva, as premissas eram OU verdadeiras OU falsas (disjunção
exclusiva). Na lógica não-dedutiva, muitas vezes não conseguimos determinar o valor
de verdade das proposições. Às vezes, podemos determinar somente a plausibilidade
das premissas ou certo grau de verdade, por exemplo: A população do mundo crescerá
de 6 para 9 bilhões nos próximos 15 anos. Se pretendemos fornecer alimentos para
todos, nós precisamos de uma maneira de fornecer comida para um adicional de 3
bilhões de pessoas.
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Filosofia 2016
―Um governo é como um time de futebol.‖
É possível determinar inequivocamente o valor de verdades dessas premissas?
Assim, a Lógica Informal tem como objetivos:
1. Falso dilema: ocorre quando alguém apresenta uma situação com apenas duas
alternativas, quando existem outras possíveis
Ou concorda comigo ou não.
Ou vota no João ou teremos uma desgraça.
Ou uma pessoa é boa ou é má.
3. Apelo à força: o argumentador utiliza recurso à força ou privilégio para justificar sua
tese.
É melhor admitires que a nova orientação da empresa é a melhor - se pretendes
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Filosofia 2016
manter o emprego.
5. Apelo ao povo: a proposição é verdadeira por ser aceita por parte representativa da
população.
As sondagens sugerem que os liberais vão ter a maioria no parlamento, também
deve votar neles.
Todo mundo sabe que a Terra é plana. Então por que razão insiste nas suas
excêntricas teorias?
6. Ataques pessoais: Ataca-se a pessoa que apresenta o argumento e não as suas razões
ou evidências, ou o suposto interesse dela naquele tópico.
É natural que o ministro diga que essa política fiscal é boa porque ele não será
atingido por ela
Podemos passar por alto as afirmações de Simplício porque ele é patrocinado
pela indústria da madeira
7. Apelo à autoridade: O argumentador baseia-se na autoridade de outrem para
justificar sua conclusão. Especialmente se:
1. A pessoa não está qualificada para ter uma opinião de perito no assunto.
2. Não há acordo entre os peritos do campo em questão.
3. A autoridade não pode, por algum motivo ser levada a sério — porque estava
brincando, estava ébria ou por qualquer outro motivo.
O famoso psicólogo Dr. João Silva recomenda que compre o último modelo de
carro da Skoda.
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Filosofia 2016
extrapolam as suas semelhanças.
Empregados são como pregos. Temos de martelar a cabeça dos pregos para estes
desempenharem suas funções. O mesmo deve ser feito aos empregados.
10. Depois disso, por causa disso: Presumir que por se seguirem temporalmente, uma
coisa causou a outra.
Tomei o remédio para gripe e logo fiquei com coceira.
Saí de casa sem guarda-chuva, e logo começou a chover.
11. Petição de princípio: O argumentador justifica a tese partindo da ideia de que ela é
verdadeira.
Dado que não estou a mentir, estou dizendo a verdade.
Deus existe, porque está escrito na Bíblia, e Deus escreveu a Bíblia.
13. Generalização apressada/ falsa indução: Atribui-se uma regra específica ao caso
genérico.
Meus amigos são mais fortes que minhas amigas. Portanto, homens são mais
fortes que mulheres.
16. Falácia genética: De uma coisa, B, que tem origem em outra coisa, A, supõe-se que
todas as propriedades de A também são possuídas por B. Falácia comum aos discursos
políticos e religiosos, por exemplo.
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Filosofia 2016
EXERCÍCIOS
9. Se for verdade que “é possível fazer ensaios em pequenos grupos de 20
alunos”, então a afirmação de que
Está(ão) correta(s):
a) I
b) II
c) III
d) I e II
e) II e III
Conjunção – falsa
Disjunção – falsa
Negação – falsa
Disjunção – verdadeira
Conjunção - verdadeira
11. UFSM 2009 – Se for verdade que “Toda população natural tem um limite
no crescimento populacional”, então é
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Filosofia 2016
d) I e II
e) II e III
12. O enunciado “Julgava que a minha vida no campo era boa, mas agora vejo
que, afinal, vivo na penúria” pode ser assim reescrito: “Julgava que p, mas agora
julgo que q”. Nessa nova formulação,
a) V – V – V
b) F – V – V
c) F – F – V
d) F – F – F
e) V – V – F
13. Todo lugar intocado pelo ser humano é um lugar selvagem. Nenhum jardim
botânico é um lugar intocado pelo ser humano. Portanto, nenhum jardim botânico
é um lugar selvagem. O termo médio desse silogismo é _________________, e a
negação (oposta contraditória) de “Todo A é B” é _________________.
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Filosofia 2016
Está(ão) correta(s):
a) I
b) II
c) I e III
d) II e III
e) I, II e III
15. “Permitir a todos os homens uma liberdade ilimitada de expressa deve ser
sempre, de um modo geral, vantajoso para o Estado; pois é altamente propício aos
interesses da comunidade que cada indivíduo desfrute de liberdade, perfeitamente
ilimitada, para expressar seus sentimentos”. In: Filosofando. Maria L. de A. Aranha
e Maria H. P. Martins. Ed. Moderna
Está(ão) correta(s):
a) apenas II.
b) apenas III
c) apenas I e II.
d) apenas I e III
e) I, II e III.
17. A boa notícia é que nossa capacidade de inovar é tão ilimitada quanto nosso
apetite. A ciência resolverá o problema da fome. Se a capacidade ilimitada de
inovação da ciência é conclusão de um argumento cujas premissas descrevem a
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Filosofia 2016
história do desenvolvimento da ciência, o argumento em questão é do tipo _____, e
a conclusão é ______ face às premissas.
a) dedutivo - necessária.
b) dedutivo - provável.
c) analógico - provável.
d) indutivo - provável.
e) indutivo - necessária.
I. Aquele que recebe uma opinião é mais prejudicado do que aquele que a emite.
II. Uma opinião é errada somente se é contrastada com uma opinião correta.
III. As afirmações condicionais desse trecho não se contradizem.
Está(ão) correta(s):
a) apenas I.
b) apenas 11.
c) apenas III.
d) apenas I e II.
19. Uma questão apresenta uma definição de alucinógeno como substância que
modifica qualitativamente a atividade do cérebro, causando confusão mental e
alucinação. A seguir, é nomeada uma dessas drogas, o artane, dizendo ser uma
droga antícoiinérgica, com ação alucinógena. De acordo com as teorias do
silogismo e das definições, pode-se afirmar que:
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Filosofia 2016
b) apenas II
c) apenas III
d) apenas I e II
e) apenas I e III
a) João e Maria foram ao cinema hoje e voltarão para casa um pouco mais tarde.
b) João e Maria foram ao cinema hoje e não voltarão para casa um pouco mais tarde.
c) João e Maria não foram ao cinema hoje ou voltarão para casa um pouco mais tarde.
d) João e Maria não foram ao cinema hoje ou não voltarão para casa um pouco mais
tarde.
e) João e Maria não foram ao cinema hoje nem voltarão para casa um pouco mais tarde.
23. Não se deve aguar muito uma planta, porque o excesso de água pode matá-
la. A premissa desse argumento é um juízo de _______, e a conclusão desse
argumento é um juízo de_______. O argumento é_______.
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Filosofia 2016
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas.
Está(ão) correta(s):
a) apenas I.
b) apenas II..
c) apenas III.
d) apenas I e II.
e) apenas II e III.
a) Em uma economia capitalista, os bens materiais devem ser produzidos apenas por
empresas privadas.
b) Em uma economia capitalista, os bens não materiais não são produzidos por
empresas privadas.
c) Em uma economia não capitalista, os bens materiais não podem ser produzidos por
empresas privadas.
d) Em uma economia não capitalista, empresas privadas produzem bens não materiais.
e) Em uma economia capitalista, há empresas privadas.
26. Se for argumentado que um jardim botânico é belo, por que cada uma das
suas plantas é bela, comete-se erro lógico denominado;
a) apelo à autoridade.
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Filosofia 2016
b) falácia da divisão.
c) apelo à emoção.
d) falácia da composição,
e) falso dilema.
27. UFSM PS2 2014 - Na vida comum, pode haver erros de deliberação ou
raciocínio prático. Esses erros costumam levar a julgamentos e ações erradas.
Alguns erros de raciocínio lógico têm também uma dimensão moral, como a falácia
do apelo à autoridade, que frequentemente está na base de abusos de autoridade e
algumas formas de diferenciação social injustas. Qual dos argumentos a seguir
comete a falácia do apelo à autoridade?
a) O professor Antônio Lavoisier afirmou que sódio é um metal que faz parte da
composição do sal de cozinha. Pode-se concluir que isso é verdade, pois esse professor
é um especialista em química.
b) O professor Antônio Lavoisier analisou amostras de sal de cozinha comum nos
laboratórios de Química da UFSM e concluiu que essa substância é composta
principalmente por cloreto de sódio.
c) Se uma amostra do sal de cozinha comum, ao ser analisada em laboratórios de
Química, mostrar não conter sódio, pode-se concluir que o sal de cozinha comum não é
composto principalmente por cloreto de sódio.
d) Segundo especialistas ligados ao Ministério da Saúde, o consumo excessivo de sal é
prejudicial à saúde. Logo, é recomendável que o consumo excessivo dessa substância
seja evitado.
e) Se todos comem sal regularmente, então se pode concluir que não faz mal à saúde.
Unidade III
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Filosofia 2016
O QUE É A LINGUAGEM?
Será a linguagem aquilo que nos faz ser e define o que somos?
―De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos?‖, de Paul Gauguin
Os homens e os animais: É uma coisa bastante notável que não haja homens tão
embrutecidos e tão estúpidos, sem excluir mesmo os insanos, que não sejam capazes de
arranjar conjuntamente diversas palavras, e de compô-las num discurso pelo qual façam
entender seus pensamentos, e que, ao contrário, não exista outro animal, por mais
perfeito e bem concebido que possa ser, que faça o mesmo. E isso não se dá porque lhes
faltem órgãos, pois verificamos que as pegas e os papagaios podem proferir palavras
assim como nós, e, todavia, não podem falar como nós, isto é, testemunhando que
pensam o que dizem. Por outro lado, os homens que, tendo nascido surdos e mudos, são
desprovidos dos órgãos que servem aos demais a falar, tanto ou mais que os animais
costumam inventar eles próprios alguns símbolos pelos quais se fazem entender por
quem, estando comumente com eles, disponha de tempo para aprender a sua língua. E
isso não demonstra apenas que os animais possuem menos razão que do que os homens,
mas que não a possuem absolutamente. Vemos que é preciso muito pouco para saber
falar; e já que se nota desigualdade entre os animais de mesma espécie, assim como
entre os homens, e que uns são mais fáceis de serem adestrados do que outros, não é
crível que um macaco ou um papagaio, por mais perfeito que fossem, em sua espécie,
não igualassem uma criança das mais estúpidas ou pelo o menos que tivesse o cérebro
perturbado, se sua alma não fosse de uma natureza inteiramente diferente da nossa.
(DESCARTES, René. Discurso do método)
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Filosofia 2016
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Filosofia 2016
O que você acha?
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demonstra exatamente essa situação, pois um chimpanzé recebe um tipo de droga que é
capaz de deixá-lo mais inteligente dando um salto evolutivo quando ele aprende a falar.
A primeira palavra que ele pronuncia é ―não!‖ e logo se inicia uma batalha e rebelião
contra os humanos.
Se, então, é a linguagem que faz com que sejamos humanos, diferentes dos
demais animais, o que é a linguagem?
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Filosofia 2016
capaz de criar símbolos
Ex: as palavras que formam uma língua, a cor preta que indica luto, a aliança no dedo
anelar da mão esquerda como símbolo de casamento.
ATENÇÃO!
A linguagem humana possui uma especificidade frente às
linguagens que os demais animais usam. Cachorros latem, gatos
miam, mas apenas a linguagem humana é PROPOSICIONAL.
Apenas os seres humanos
- falam sobre verdadeiro ou falso;
- falam sobre o que deve e não deve ser feito;
- e, falam sobre o belo e o feio.
Pratique!
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Filosofia 2016
um símbolo que representa o ato de nos sentarmos A palavra correr, é um símbolo que
representa uma ação e representa o fato de nos movimentarmos. É importante salientar
que uma característica importante sobre o símbolo é o fato de que ele representa alguma
coisa por convenção. Isso significa dizer que as pessoas ao criarem uma língua,
combinam entre si, que o objeto para sentar será chamado de sofá em português e chaise
em francês e assim por diante. E é por meio desse sistema de símbolos que nos
comunicamos e nos entendemos no nosso cotidiano. A banda Karnak brincou com essas
convenções na canção O mundo, mencionando ―Todos somos filhos de Deus; só não
falamos a mesma língua...‖
IMPORTANTE!
Enquanto a Linguagem é um sistema ou conjunto organizado de signos
de qualquer tipo, uma Língua é um sistema de signos verbais que
permitem a comunicação pela fala. Ou seja, a língua é um tipo
específico de linguagem. Uma língua surge de condições históricas,
geográficas, econômicas e políticas de uma comunidade de pessoas. Pode,
portanto, variar de lugar pra lugar, de acordo com estas condições.
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Filosofia 2016
afirmação pode ser analisada de várias outras maneiras: Quem é Rafael? Ele tem irmão?
Ele tem apenas um irmão, ou mais de um? No caso de ter mais de um, qual deles está
doente? Perguntas como essas caracterizam uma corrente filosófica surgida no século
XX, à filosofia analítica. Segundo esses filósofos, a única tarefa plausível para a
filosofia seria produzir uma análise lógica da linguagem, de modo a analisar as frases e
proposições, para testar se essas podem ser verdadeiras ou falsas.
No mesmo século XX, fala-se em uma virada linguística, isto é, uma mudança
de foco nas preocupações da filosofia, porque consolidou-se uma nova ciência, a
linguística, também orientada para os estudos da linguagem. E ela teria grande
influência também em outras ciências humanas e na filosofia, por meio da teoria
estruturalista.
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mundo estão, portanto, intrinsecamente, ligados. É por isso que ele chega a uma
interessante afirmação: quanta mais ampla a minha linguagem (minhas possibilidades
de representação) mais amplo é o meu mundo, quanto mais restrita minha linguagem,
também mais restrito é o meu mundo. ; e vice – versa. De modo que, quanto mais amplo
o meu mundo e minha linguagem, mais possibilidades de pensamento eu tenho.
Você já ouviu falar no romance de 1984, de George Orwell? O livro narra uma
sociedade do futuro, na qual os seres humanos são vigiados e controlados por um
governante totalitário, o Grande Irmão ou Big Brother, no original inglês. Nessa
sociedade o principal objetivo do governante é controlar o que as pessoas pensam e
sentem. E como isso é realizado? Pela linguagem! Considera-se que uma linguagem
muito rica e variada, gera muitos pensamentos, o que é ruim para o sistema. O governo,
então cria uma nova língua a ―novilingua‖, que nada mais é do que uma simplificação
da linguagem. A cada semana, a linguagem e reduzida, o mundo é reduzido e
consequentemente o pensamento também. Em Wittgenstein, encontramos uma ideia
parecida. Em uma das suas obras, ele termina com a proposição ― Sobre aquilo que não
se pode falar, deve-se calar!‖.
A filosofia de Wittgenstein sempre foi fonte de estudo para ele mesmo durante
toda sua vida. Ele passa a considerar que o problema não e busca por uma essência da
linguagem, uma vez que não haveria essência a ser encontrada. Em sua obra
Investigações filosóficas, ele afirma que não existe a linguagem, mas linguagens
múltiplas, com diferentes objetivos. Dessa forma, ele faz uma analogia com jogos, a
saber, não existe um único jogo, mas vários jogos e todos eles possuem suas próprias
regras. Jogar tênis, por exemplo, não é a mesma coisa que jogar xadrez, porém todos
são jogos e compreensíveis quando se joga. Quando muda o jogo, mudam as regras.
Em decorrência dessa analogia entre linguagem e jogo, o filósofo, afirma que as
linguagens são múltiplas, porque múltiplos são os jogos de linguagem. Esses jogos são
os variados jogos da linguagem: usamos a linguagem para expressar nossos
sentimentos, emoções, pensamentos, mas usamos também para dar ordens; usamos a
linguagem para pedir desculpas, bem como para fantasiar. Cada um desses usos, é um
jogo com regras próprias de elementos próprios e com formas de funcionamentos
próprios. Dessa forma, não há uma linguagem, com regras e usos, mas muitos jogos de
linguagem, cada um com seus usos e suas regras.
Uma pessoa pode não se comunicar bem em algum jogo de linguagem, isso não
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Filosofia 2016
significa que isso é indizível, ela pode dizê-lo quem sabe em outro jogo de linguagem
diferente em que aquilo faça sentido e que seja mais fácil de expressar. São diferentes
jogos de linguagem, cada um com seus interesses e possibilidades. O que é importante
salientar que o significado de uma palavra não é imutável e universal. Seu significado
depende do jogo em que está sendo usado. A questão consiste então, de saber usar as
palavras de acordo com o jogo de linguagem em questão. Pense no exemplo: Se alguém
diz: ―Maria pegue a manga e venha cá‖! O significado de ―manga‖ depende do jogo de
linguagem em questão, pois manga pode ser fruta ou objeto a ser utilizado para limpar
calçadas ou encher piscinas. A palavras, ―manga‖, portanto, pode ter mais de um
sentido, depende do jogo de linguagem em questão.
Sugestão de leitura!
Pratique!
2. UFSM PS1 2014 - “Uma criança se machuca e grita; então os adultos falam
com ela e lhe ensinam exclamações e, posteriormente, frases. Ensinam à criança
um novo comportamento perante a dor.” Fonte: WITTGENSTEIN, L. Investigações
Filosóficas. São Paulo: Editora Abril, 1974. p. 95.
a. expressivo.
b. descritivo.
c. normativo.
d. lógico.
e. performativo.
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Filosofia 2016
FUNÇÕES DA LINGUAGEM
Para que servem as linguagens?
O linguista contemporâneo Roman Jakobson propôs uma abordagem das
funções comunicativas da língua verbal bastante ampla que também pode ser usada para
as demais linguagens. Na década de 50, após ter conhecido outros trabalhos, percebeu a
necessidade uma semiótica (teoria geral dos signos) que firmasse a linguagem como
elemento de comunicação humana por excelência. Jakobson distingue seis fatores
fundamentais na comunicação verbal que dão origem a seis funções linguísticas
diferentes. Esses fatores podem ser esquematizados da seguinte forma:
Resumindo e explicando:
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Filosofia 2016
d) A função FÁTICA tem por objetivo estabelecer, manter ou interromper a
comunicação. Ex: Você está entendendo?
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Filosofia 2016
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Filosofia 2016
própria de vida de determinado povo, nesse sentido, falamos de ―culturas indígenas‖,
―culturas pré-colombianas‖, ―cultura brasileira‖ e ―culturas europeias‖, por exemplo.
Em termos mais estritamente filosóficos (portanto, conceituais), podemos entender por
cultura o conjunto de tudo aquilo, no ambiente em que vivemos, que foi produzido pelo
ser humano. Como você já deve saber, Karl Marx associou o trabalho à natureza
humana, uma vez que é por meio do trabalho que o ser humano transforma o mundo e
transforma-se a si mesmo. A atividade de transformação do mundo pelo trabalho é
justamente o que chamamos de cultura.
Percebe-se, portanto, uma estreita ligação entre trabalho, cultura e linguagem:
produzimos cultura ao transformar o mundo por meio do trabalho, e expressamos essas
transformações pela linguagem. Mas a produção de linguagem é também uma forma de
trabalho, o que significa que também a linguagem transforma o mundo, como vimos
anteriormente. Se entendermos, então, por cultura o mundo transformado pelo ser
humano e por natureza a parte do mundo que não depende de nós, que não foi
transformada por nós, será que há uma espécie de oposição entre natureza e cultura? De
forma nenhuma. O universo humano só pode ser compreendido pelo entrecruzamento
de natureza e cultura.
Marx também afirmava que a natureza é o ―corpo inorgânico‖ do ser humano.
Isso porque o corpo humano é a ferramenta do indivíduo. Quando ele transforma um
objeto em extensão de seu corpo – uma pedra afiada em forma de lança, por exemplo –,
esse objeto se torna seu ―corpo inorgânico‖. Assim, para realizar seu trabalho como
transformação, o ser humano atravessa o mundo natural e é atravessado por ele. A
cultura é a produção desse mútuo atravessamento.
Pensando na cultura como o mundo transformado pelo ser humano, podemos
concebê-la como uma ―trama simbólica‖, produzida pela linguagem. Assim, quando
usamos uma roupa, por exemplo, não estamos apenas cumprindo uma função material
de proteger e aquecer o corpo, mas estamos também, por meio dela, expressando nossa
visão de mundo, nossos valores e o grupo social ao qual pertencemos. É comum
ouvirmos falar em ―cultura erudita‖ e ―cultura popular‖. A primeira compreenderia as
grandes realizações culturais humanas, nas artes e no pensamento de forma geral; a
segunda reuniria as expressões das pessoas comuns, com suas festas, crenças, músicas e
outras manifestações culturais. Qual das duas é mais importante? Embora conheçamos
respostas em favor de uma ou de outra, em termos filosóficos essa é uma pergunta que
não faz sentido, pois ambas são igualmente importantes como expressões do ser
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Filosofia 2016
humano.
MAIS ALGUNS CONCEITOS DE FILOSOFIA DA LINGUAGEM
AMBIGUIDADE VAGUEZA
É a qualidade de uma expressão ter mais Expressões vagas são aquelas que dão
de um significado. origem a casos de fronteira. Nesses casos,
A. lexical: a palavra tem mais de um há incerteza sobre a aplicação da
significado. É a mais comum. Ex: manga expressão pois as propriedades (a
A. estrutural: ―Todas as garotas bonitas intensão) não são adequadamente
amam um príncipe.‖ explicitadas.
A. processo/produto: podemos
considerar certos temas sob dois pontos
de vista.
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Filosofia 2016
propriedades das expressões que estão pelas coisas.
USO MENÇÃO
É quando empregamos um termo SEM É quando empregamos um termo entre
aspas para falar da coisa que o termo aspas para falar do termo. Ex: "Miau" tem
refere. Ex: Miau tem quatro patas. A quatro letras. "Água" tem quatro letras.
água ferve quanto atinge uma "Maria" é um substantivo.
temperatura de 100°C. Maria é um
egoísta.
Pratique!
Está(ão) correta(s):
a) Apenas I c) Apenas III e) Apenas II e III
b) Apenas II d) Apenas I e II
Unidade IV
O QUE É CONHECIMENTO?
COMO NÓS O ALCANÇAMOS?
QUAL A SUA ESSÊNCIA?
É POSSÍVEL SABER ALGO?
A Teoria do Conhecimento (também chamada Epistemologia) é a parte da
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Filosofia 2016
Mas antes podemos nos perguntar: o que é conhecimento? O que podemos dizer
que conhecemos? O que sabemos? O que vocês sabem?
Podemos falar de conhecimento em três sentidos diferentes:
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Filosofia 2016
Platão, no diálogo Teeteto, foi o primeiro filósofo a examinar
sistematicamente o problema do conhecimento. Nesse diálogo, foi elaborada
uma definição de conhecimento proposicional que se tornou padrão.
Segundo Platão, o conceito de conhecimento é definido como: crença
verdadeira justificada.
O conhecimento proposicional, como o nome já diz, é conhecimento de
proposições. Como vimos, uma proposição é aquilo que é dito por meio de uma
sentença assertiva.
Uma DICA para reconhecer uma proposição é usar o prefixo ―que‖ na frase:
podemos dizer que uma frase prefixada da palavra ―que‖ é uma sentença assertiva:
A neve é branca -> que a neve é branca
Eu sei que a neve é branca -> Eu sei que p
Ex.:
(F1) A neve é branca.
(F2) Snow is white.
(F3) Schnee ist weiss.
F1, F2 e F3 são frases ou sentenças que têm o mesmo conteúdo, ou seja, que
expressam uma mesma proposição.
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Filosofia 2016
A CRENÇA:
A primeira condição para que haja conhecimento é a crença. É preciso que haja
um sujeito S que creia que p, ou seja, que creia naquilo que é dito por meio de uma
sentença assertiva e que pode ser verdadeiro ou falso, ou seja, em uma proposição. Em
outras palavras, a proposição é o conteúdo da crença; algo objetivo e que pode ser
compartilhado, sendo comum a todos.
A crença como disposição para agir: Quem crê, crê em uma proposição que
considera verdadeira e acaba por agir de acordo com essa crença. Por exemplo, se eu
não acreditasse que o chão não afunda quando eu piso, eu não pisaria nele. Se eu olho
pela janela e vejo que o tempo está fechando, passo a acreditar que vai chover e saio pra
recolher a roupa. Desse modo, crer é estar em um estado de disposição para fazer algo.
Crenças inconscientes: Nem sempre temos consciência das nossas crenças.
Retomando o exemplo anterior, não precisamos lembrar a todo o momento que o chão
não afunda para sairmos caminhando. Outro exemplo é a nossa crença de que existem
coisas, de que existe o mundo. Essas são chamadas crenças básicas.
Essas crenças são chamadas de crenças básicas, ou não professadas. Bom, e
quando falarmos da justificação, veremos que essas crenças básicas podem servir como
uma razão para fundamentar outras crenças, pois elas não precisam ser justificadas.
A VERDADE:
Quem acredita em algo (p. ex.: acreditar que a neve é branca) toma aquilo que
acredita como verdadeiro. E para que tenhamos conhecimento, o que acreditamos
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Filosofia 2016
precisa realmente ser verdadeiro, pois não há conhecimento de crenças falsas.
E quando falamos que uma crença é verdadeira, estamos pressupondo alguma
teoria da verdade, que nos diz quando é que uma crença, ou mais precisamente, uma
proposição é verdadeira, e nos diz quais os critérios que usamos para identificar a
verdade. Algumas teorias que tentam caracterizar a verdade:
Teoria Relativista da Verdade: Segundo a teoria relativista, não há verdade
absoluta, a verdade é sempre relativa a um indivíduo ou a um grupo de indivíduos; é
múltipla e depende do ponto de vista do sujeito ou do contexto em que é formulada. P.
ex., a frase ‗Deus existe‘ é verdadeira para o crente e falsa para o ateu,
Mas essa teoria pode levar a consequências absurdas, pode tornar a discussão de
ideias vazia de sentido. Se cada qual tem sua verdade, não há necessidade de levar a
sério os argumentos alheios ou de justificar as nossas próprias ideias, que também
seriam apenas pontos de vista. Mas se tudo não passa de ponto de vista, então somos
levados a admitir que mesmo os preconceitos racistas, sexistas e toda forma de
fundamentalismos religiosos são igualmente legítimos.
A verdade por ser relativa a diferentes critérios também varia de acordo com o
tempo. Por exemplo, na época medieval as pessoas tinham boas razões para acreditar
que a Terra era plana. Agora, temos razões suficientes para acreditar que a Terra é
redonda. Como se explica isso? Que a terra era plana naquela época e deixou de ser?
Que era verdade para os medievais que ela é plana e ao mesmo tempo verdade que é
redonda? Que a Terra pode não ser realmente redonda?
O PARADOXO DO RELATIVISMO
A suposta verdade do relativismo também é relativa?
a) Se sim: não passa de uma opinião.
b) Se não: suposta verdade incompatível com a tese relativista (verdade é
relativa).
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Filosofia 2016
P. ex.: a sentença ‗a neve é fofinha‘ é verdadeira se corresponde com o fato de a neve ser
fofinha. Nessa teoria, a verdade seria uma relação (propriedade relacional) entre
proposições (portadores de verdade) e fatos (fazedores de verdade). Aristóteles foi quem
formulou pela primeira vez uma noção de verdade em termos de correspondência. Ele
disse: "Dizer do que é que é e do que não é que não é é dizer a verdade e dizer do que é
que não é e do que não é que é é dizer algo falso".
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Filosofia 2016
principio é vantajoso crer em Deus (podemos nos sentir seguros e protegidos
acreditando na existência de um ser que zela por nós). Mas há um problema nisso:
surgem consequências relativistas. Como? Bom, o tipo de utilidade que pode definir a
verdade pode variar de pessoa para pessoa. Pode ser vantajoso para muitas pessoas crer
em Deus (ter um ser a quem recorrer nas horas difíceis, por exemplo), assim como pode
ser desvantajoso para os ateus crer em Deus, pois isso comprometeria a liberdade
humana com ideias como as de pecado e danação eterna, fogo do inferno, etc.
Como foi dito, algo pode ser útil para alguém e inútil para outro, vantajoso para
alguns e desvantajoso para outros. E ainda há outro problema. Pode ser muito vantajoso
para alguém manter crenças falsas e, desvantajoso adotar crenças verdadeiras. Do
mesmo modo, uma sentença pode ser útil e falsa. Mas os pragmatistas acreditam que
isso não é possível (uma sentença ser útil e falsa ao mesmo tempo).
A JUSTIFICAÇÃO
A ORIGEM DO CONHECIMENTO
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Filosofia 2016
Agora que sabemos o que é conhecimento, qual sua definição e alguns dos
problemas desta, devemos nos perguntar como alcançamos o conhecimento. O que
temos de fazer para que tenhamos conhecimento? Existem algumas respostas na
tradição a essas perguntas:
RACIONALISMO
Para esta corrente filosófica, o conhecimento deve ser logicamente necessário e
universalmente válido. Filósofos como Descartes e Platão consideravam a matemática o
modelo de conhecimento para as outras disciplinas. E os conhecimentos matemáticos
têm origem na razão, uma faculdade intelectual especial do ser humano, que permitiria
que tivéssemos conhecimento sem a necessidade da experiência.
Problemas:
EMPIRISMO
Para o empirismo, o conhecimento tem origem nos dados sensíveis, ou seja,
naquilo que nos é fornecido pelos sentidos e na experiência. Como diz John Locke,
―não há nada que na mente que não tenha estado antes nos sentidos‖. O conhecimento
tem origem na experiência e pode ser explicado recorrendo-se a esta.
Problemas:
CRITICISMO
De acordo com o criticismo, desenvolvido por Immanuel Kant, é possível que
haja conhecimento tanto com a razão quanto com a experiência.
Que todo o nosso conhecimento começa com a experiência, não há dúvida alguma,
pois, do contrário, por meio do que a faculdade de conhecimento deveria ser despertada
para o exercício senão através de objetos que tocam nossos sentidos e em parte
produzem por si próprio representações, em parte põem em movimento a atividade do
nosso entendimento para compará-las, conectá-las ou separá-las e, desse modo,
assimilar a matéria bruta das impressões sensíveis a um conhecimento dos objetos que
se chama experiência? Segundo o tempo, portanto, nenhum conhecimento em nós
precede a experiência, e todo ele começa com ela. Mas embora todo o nosso
conhecimento comece com a experiência, nem por isso todo ele se origina justamente
84
da experiência. (Retirado de Crítica da Razão Pura, de Immanuel Kant)
Filosofia 2016
A POSSIBILIDADE DO CONHECIMENTO
É POSSÍVEL SABER ALGO?
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Filosofia 2016
EXERCÍCIOS
1. Todo o poder criativo da mente se reduz a nada mais do que a faculdade de
compor, transpor, aumentar ou diminuir os materiais que nos fornecem os
sentidos e a experiência. Quando pensamos em uma montanha de ouro, não
fazemos mais do que juntar duas ideias consistentes, ouro e montanha, que já
conhecíamos. Podemos conceber um cavalo virtuoso, porque somos capazes de
conceber a virtude a partir de nossos próprios sentimentos, e podemos unir a isso
a figura e a forma de um cavalo, animal que nos é familiar. (HUME,
D. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1995.)
Hume estabelece um vínculo entre pensamento e impressão ao considerar
que:
a) os conteúdos das ideias no intelecto têm origem na sensação.
b) o espírito é capaz de classificar os dados da percepção sensível.
c) as ideias fracas resultam de experiências sensoriais determinadas pelo acaso.
d) os sentimentos ordenam como os pensamentos devem ser processados na memória.
e) as ideias têm como fonte específica o sentimento cujos dados são colhidos na
empiria.
Unidade V
O QUE É CIÊNCIA?
COMO FUNCIONA A CIÊNCIA?
O QUE É MÉTODO CIENTÍFICO?
A influência da ciência na nossa vida é tão profunda que se torna muito difícil
imaginar como seria hoje o mundo caso o
conhecimento científico tivesse estagnado a
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Filosofia 2016
séculos atrás. Há existência de computadores, celulares, vacinas, antibióticos, lâmpadas,
carros e infinitas outras coisas são diretamente fruto da pesquisa em ciência. A ciência
tem um evidente valor prático, sobre isso poucos discordariam, esse lado prático da
ciência, em geral atende pelo nome de tecnologia. A ciência também alavancou novos
problemas especialmente envolvendo questões éticas, tais como o uso da bomba
atômica, a possibilidade de clonagem, manipulação genética etc. Essas são algumas das
muitas interfaces da ciência com a cultura e a sociedade. Como foi visto na seção
anterior sobre epistemologia, podemos fazer uma investigação sobre o que é
conhecimento em sentido geral. Mas podemos também fazer uma análise mais
específica focando, por exemplo, nas estruturas epistemológicas da atividade científica e
entender seus principais pontos. Nessa atividade, estamos fazendo uma reflexão
filosófica sobre a ciência, portanto fazendo filosofia da ciência.
Sempre é possível fazemos perguntas que são típicas da ciência, por exemplo,
qual é o mecanismo responsável pela produção de bile no nosso organismo? A que
temperatura a água ferve? Por que o sol gira em torno da terra? Como podemos explicar
uma propriedade medicinal de certa uma planta? Mas as questões que a filosofia da
ciência coloca são diferentes, elas são da seguinte natureza: Há um método especial em
ciência? Como testamos as teorias ou hipóteses científicas? Qual é a diferença das
explicações científicas para outras formas de explicação? Qual o papel da experiência
ou dos experimentos em ciência? O que é uma evidência científica? A ciência evolui de
modo contínuo e cumulativo? Essas são algumas das indagações que os filósofos das
ciências fazem. Não temos a pretensão de tratar todas elas, iremos apenas fazer um
sobre vôo sobre algumas ideias centrais nessa área da filosofia.
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Filosofia 2016
extraordinário sucesso prático alcançado pela física, pela química e pela biologia,
principalmente. Assume-se, implícita ou explicitamente, que por detrás desse sucesso
existe um “método” especial, uma ―receita‖ que, quando seguida, redunda em
conhecimento certo, seguro. Vejamos alguns ―ingredientes‖ dessa ―receita‖:
g) Temos aqui a primeira tentativa de dizer algo sobre a especificidade da
ciência. Ela produz conhecimento certo, pois tem um método especial.
h) Para produzir saber científico basta seguir a seguinte ―receita‖: A) o número
de observações de um dado fenômeno deve ser grande; B) devem-se variar
amplamente as condições em que o fenômeno se produz; C) não deve existir
nenhuma contra-evidência. Exemplo:
1. O ferro conduz eletricidade (Observação 1°)
2. O ferro é metal (Observação 2°)
3. O ouro conduz eletricidade (Observação 3°)
4. O ouro é metal (Observação 4°)
5. O cobre conduz eletricidade (Observação 5°)
6. O cobre é metal (observação 6°)
7. Logo, todos os metais conduzem eletricidade. (Conclusão indutiva
provavelmente verdadeira)
Os indutivistas acreditam que a explicação para os fenômenos advém
unicamente da observação dos fatos, seguida de uma inferência indutiva. Essa visão da
ciência foi criticada por muitos, pois ela tem várias limitações, e imprecisões que iremos
analisar.
QUESTÕES DE REVISÃO: Em sua opinião a ciência busca certezas? E se
busca, ela as consegue alcançar? Mas as mudanças que ocorrem na ciência, como
podem ser explicadas? E esse método indutivo lhe parece confiável? Você concorda
com a afirmação, ―a ciência começa com a observação‖?
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Filosofia 2016
POSITIVISMO LÓGICO OU CÍRCULO DE VIENA
Termos:
Hipótese – possível explicação para o fenômeno observado ou para as
relações entre os dados. Tem caráter provisório.
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Filosofia 2016
Popper tinha em mente uma proposta alternativa sobre o que algo tem que ter
para ser considerada científico. Antes de apresentar sua proposta, vamos
apresentar algumas das suas críticas às visões de ciência esboçada na seção 2 e 3.
Por que o método indutivo não deve ser o que distingue (problema da demarcação) a
ciência da magia, da metafísica, conhecimento popular etc.
A CIÊNCIA
Será uma teoria científica, somente aquelas teorias que forem em princípio
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Filosofia 2016
falseáveis empiricamente?
De acordo com Popper, o diferencial da ciência não esta ligado ao uso
método indutivo ou com a perspectiva de verificação de hipóteses. Mas sim com a
possibilidade que todas as teorias da ciência têm de em alguma situação, mostrarem-
se refutáveis. Teorias ou hipóteses irrefutáveis não são teorias científicas. Exemplo
de hipóteses irrefutáveis:
Amanha vai chover ou não vai chover. (tautologia)
Deus foi o criador de tudo que existe (hipótese transcendente)
Há um princípio vital em todos os seres humanos que os torna vivos.
(hipótese mística)
Algumas pessoas do signo de virgem são sensíveis, outras não. (astrologia)
No fundo você odeia seu pai. (psicanálise) *[se admitir à hipótese está
correta, se negar, está apenas reprimindo uma verdade profunda]
Hipóteses científicas: passíveis de refutação.
Amanha vai chover. (afirmação do dia-dia)
Se a luz passa perto do campo gravitacional de um corpo celeste qualquer,
ela terá um desvio. (física relativística)
Um pedaço de carne bem isolado não é capas de gerar vida
espontaneamente. (hipótese da biologia)
Um corpo pode ser eletrificado por contato. (física dos materiais)
Todos os planetas do nosso sistema solar giram de forma elíptica em torno
do sol. (astronomia)
Temos que ter em mente que o critério de Popper, demanda que uma hipótese ou
teoria sejam refutável (falseável) em princípio, não de fato ou praticamente. Uma
hipótese pode nunca se revelar falsa, mas ela deve ter essa possibilidade lógica para ser
científica, deve ser possível conceber essa situação. O cientista para Popper é aquele
que inventa hipóteses, ou dito de outro modo, conjecturas sobre um problema relevante,
e em seguida tenta honestamente testar tais conjecturas, e se elas forem refutadas ele
deve criar outra conjectura, mas agora sabendo que não pode cometer os mesmos erros
da conjectura anterior. Para Popper mesmo quando uma teoria passa nos testes, não
podemos acreditar que ela é verdadeira, ou foi verificada, pois a história da ciência nos
desmentiria. A sugestão de Popper é dizer que tal teoria foi corroborada, isso significa
que a teoria ainda não foi refutada, por tanto é racional aceitar ela. Assim a ciência
91
Filosofia 2016
avança com o conhecimento, sempre tendo em vista que todas as teorias científicas
são “provisórias”, isto é, aceitas até que alguma outra teoria melhor venha a substituí-
la no futuro.
QUESTÕES DE REVISÃO: Você concorda que a ciência não começa com
observações? Faz sentido pensar que a ciência busca aprender com seus erros? Por que
uma teoria irrefutável não pode ser científica? Confirmar ou verificar teorias parece ser
uma das metas da ciência, você não acha?
EXERCÍCIOS
1. (Ufsj 2013) O Círculo de Viena foi um importante marco para a filosofia e,
exemplarmente, propôs que,
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