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ANÁLISE DA PRODUÇÃO DO
CONHECIMENTO (2000 – 2015)
Marli dos Santos de Oliveira
marli.oliveiras@hotmail.com
elis-scaff@hotmail.com
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O atual momento histórico brasileiro, com a recente aprovação do Plano Nacional de
Educação (PNE) 2014-2024, desencadeou processos de elaboração dos Planos Estaduais e
Municipais de Educação, estabelecendo metas e estratégias para a efetivação das políticas
educacionais no decênio. A esse respeito, historicamente, a desobrigação da União para com a
educação básica reforçou desigualdades regionais, de modo que, os municípios com maior
poder de investimento dispuseram de melhores condições de investir em educação, enquanto
que a suplementação por meio dos fundos destinados a redistribuir recursos para os
municípios com menor arrecadação, praticamente não aconteceu. (PERONI, FLORES, 2014).
Além disso, o texto final da Lei 13.005/14, que aprovou o PNE (2014-2024), trouxe avanços e
perdas para a consolidação da democracia na educação, e desse modo, foi aguardado no
âmbito dos estados e municípios da federação para que a partir dele pudessem se desdobrar os
respectivos planos estaduais e municipais. A construção desses planos nos contextos locais
deve significar avanços reais para as políticas educacionais, corroborando para a criação de
um Sistema Nacional de Educação em sua relação de interdependência com o Plano Nacional
de Educação. (PERONI, FLORES, 2014).
A fim de melhor compreender essa temática, o presente texto tem por objetivo apresentar as
produções acadêmicas na área da Educação, notadamente sobre os Planos Nacionais e
Municipais de Educação no período compreendido entre 2000 e 2015. Opta-se por esboçar o
estado do conhecimento nesse período devido à aprovação, em 2001do Plano Nacional de
Educação, Lei 10.172, bem como do atual Plano em vigor, aprovado em 2014, sob a Lei
13.005. Assim, pretende-se evidenciar os avanços e possíveis limitações na produção
acadêmica deste campo de pesquisa, de forma a ampliar o debate e suscitar reflexões.
A esse respeito, opta-se por realizar uma pesquisa do tipo Estado do Conhecimento, visto
permitir, em um recorte temporal definido, sistematizar apenas um setor das publicações
sobre o tema estudado, o que difere do Estado da Arte, ao abranger “toda uma área do
conhecimento, nos diferentes aspectos que geraram produções”. Não se restringe, portanto, a
um setor, mas as produções em congressos da área, periódicos, teses e dissertações
(ROMANOWSKI; ENS, 2006, p.39).
Com os avanços da informática, a seleção de fontes tem podido contar com os bancos de
dados existentes, cuja sistematização regular de informações possibilita maior abrangência do
levantamento; se, de um lado, eles ampliam o universo contemplado, de outro, armazenam os
dados de forma resumida, o que deve ser levado em conta ao se utilizar tais fontes, pois nem
sempre os resumos disponibilizam as informações básicas necessárias para análise. O ideal,
nesses casos, seria o exame dos textos originais, ainda que se admita a dificuldade de acesso a
eles [...] (SÁ BARRETO, 2001, p.5-6)
Assim, o presente texto pretende contribuir com o estado do conhecimento na área, haja vista
o planejamento educacional brasileiro estar em evidencia com a recente aprovação do Plano
Nacional de Educação, mas, sobretudo, pela urgente necessidade de se extinguir as lacunas de
regulamentação e descontinuidade das políticas públicas no Brasil, situações essas que
dificultam, sobremaneira, a construção de formas orgânicas de colaboração entre os sistemas
de ensino e seus entes federados, mesmo já sendo regulamentados em lei.
A tese de Doutorado de Edson Martins Júnior, defendida em 2011, cujo título é “Cultivações
Interculturais: um estudo sobre o Plano Nacional de Educação (2011-2020 ⚑), seus campos
de disputa e possibilidades curriculares”, teve como objetivo discutir e analisar os desafios e
as oportunidades curriculares postas neste inicio de século, no tocante as políticas
educacionais e, consequentemente aos currículos nacionais, tendo como cenário o projeto de
lei n° 8.035/2010 que propõe o Plano Nacional de Educação (2011-2020).
A pesquisa aponta que tal projeto de lei direciona-se a uma “perspectiva hegemônica, de
reprodução, aprofundamento e aperfeiçoamento, no sistema educacional e práticas
curriculares, da ordem do tipo capitalística”. (MARTINS JÚNIOR, 2011, p. 120). Considera o
projeto como tendencialmente privatista inferindo que, muito da ação de produção cultural e
curricular irá permanecer sob as proposições do governo ou de propostas, currículos e
sistemas de ensino já consolidados por instituições particulares, retirando, em muito o aspecto
público do processo. (MARTINS JÚNIOR, 2011).
A Dissertação de Mestrado elaborada por Ursulina Rozete Antunes Marion intitula-se “Plano
Nacional de Educação: os discursos sobre as metas educacionais nas revistas Veja e Época”,
foi defendida em 2012 e teve por objetivo problematizar alguns discursos que tratam as metas
educacionais do PNE (2011-2020) na mídia impressa (2009 a 2010).
A pesquisa realizada por Paulo Ferreira Pereira, Dissertação de Mestrado intitulada “Análise
do Plano Nacional de Educação e do Plano Municipal de Educação de Itajaí por seus níveis de
consistência e de congruência”, foi defendida em 2012 e teve por objetivo caracterizar o nível
de consistência interna, bem como o de congruência entre o Plano Nacional de Educação de
2001 e o Plano Municipal de Educação de Itajaí de 2004.
A pesquisa aponta que durante aproximadamente dois anos (2007 a 2009), houve disputas em
torno da definição do teor do Plano Municipal de Educação. Para alguns, o documento era um
elemento fundamental na definição de políticas públicas educacionais, enquanto que para
outros, a elaboração do PME não passava de uma atividade burocrática, necessária apenas
para o cumprimento das determinações legais.
A pesquisa concluiu que a comissão organizadora não tinha clareza do que se estava
planejando, bem como de qual era a função de um PME (Plano Municipal de Educação). A
esse respeito, a pesquisa evidencia que o planejamento em Rio Bonito apresentou-se
comprometido devido a forte presença do governo municipal, o que inviabilizou discussões
mais democráticas.
A pesquisa apontou que, para os segmentos representados na pesquisa, como conselhos, pais
de alunos e secretário de educação, o Plano Decenal Municipal de Educação do município é
considerado um documento fundamental, que tem o poder de contribuir para que se coloquem
em prática os anseios da comunidade. Além disso, notou-se que o processo de implementação
do Plano não ocorre com o mesmo dinamismo e entusiasmo conforme ocorrera na sua fase de
elaboração.
Outro aspecto constatado diz respeito ao distanciamento entre os entes federativos, União e
Estado durante a fase de implementação do Plano Decenal Municipal de Educação de
Oliveiras Fontes. Mendes (2012) evidencia que esse distanciamento não diz respeito ao ato de
fiscalizar ou regular a execução do plano, mas de somar esforços, acompanhar as
necessidades locais, bem como reconhecer as dificuldades no ato de implementação.
Constatou também que o Plano Decenal Municipal de Educação do referido município foi
fundamental para o preenchimento das ações do Plano de Ações Articuladas no que diz
respeito “aos estudos de demanda, diagnóstico, como também para verificação das metas
atingidas ou parcialmente atingidas ou as que não foram atingidas [...]”. (MENDES, 2012,
p.101). A esse respeito, o Plano de Ações Articuladas possibilitou a viabilização de recursos
para as escolas, entretanto, é percebido como superposição de atividades de modo a requerer
novos tempos e espaços de execução à par do Plano Municipal de Educação.
Total 24
27 19
Gráfico 1 - Produção científica por Estado disponíveis em periódicos.
Fonte: Elaborado pelas autoras a partir de informações do Portal Scielo e da RBPAE.
O artigo aponta que o referido plano teve tramitação sui generis, envolvendo embate entre o
projeto da sociedade brasileira e a proposta encaminhada pelo Executivo Federal, sendo que
ambas expressavam concepções e prioridades educacionais distintas, principalmente no que
diz respeito à abrangência das políticas em seu financiamento e gestão. Nessa perspectiva, a
aprovação do plano foi resultado da hegemonia governamental no Congresso Nacional que
buscava traduzir a lógica das políticas governamentais em curso.
A esse respeito, o plano aprovado contou com significativas restrições quanto a sua gestão e
financiamento, presenciando-se, como lógica e concepção política desse processo, “a
interpenetração entre as esferas pública e privada sob a égide do mercado, o que, na prática,
abriu espaços para a consolidação de novas formas de privatização da educação, sobretudo da
educação superior”. (DOURADO, 2010, p. 684).
Além disso, embora o plano apresentasse metas de amplo alcance e grandes desafios para a
melhoria da educação brasileira, apresentou-se como plano formal, marcado pela ausência de
mecanismos concretos de financiamento e organicidade orçamentária.
Por se configurar como um plano nacional para toda a educação, o PNE sinalizou metas a
serem efetivadas pelos diferentes entes federados e, desse modo, em função da lógica política
adotada e da não regulamentação do regime de colaboração, como previsto na Constituição
Federal de 1988, apresenta limites na sua efetivação. Merece ser ressaltado, ainda, que a
aprovação de planos estaduais e municipais, previstos no PNE como base para a sua
organicidade, não se efetivou como política concreta na maior parte dos estados e municípios,
e, desse modo, tal processo não contribuiu para o avanço na dinâmica de democratização do
planejamento e da gestão da educação no país e para a ratificação do Plano como política de
Estado. (DOURADO, 2010, p. 685).
Assim, percebe-se que o Plano Nacional de Educação aprovado não se constituiu como base e
diretriz para políticas, planejamento e gestão, como também não foi acionado pela sociedade
civil como tal. O autor destaca a importância de se superar os limites do plano, no que diz
respeito a sua proposição e materialização, além de ressaltar a importância dos processos
avaliativos desenvolvidos sobre o Plano.
O artigo de Maria da Graça Nóbrega Bollmann, publicado em 2010 sob o título “Revendo o
Plano Nacional de Educação: proposta da sociedade brasileira”, teve como objetivo analisar
as principais iniciativas do Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública (FNDEP) em suas
contribuições para as políticas educacionais brasileiras, em particular, ao Plano Nacional de
Educação.
A autora aponta que o FNDEP desempenhou importante papel no processo de elaboração
democrática de um Plano Nacional de Educação, inaugurando um processo de participação na
elaboração de projetos de lei para a educação brasileira. Nessa perspectiva, o FNDEP atuou
em diferentes momentos da política educacional, como por exemplo, na elaboração e
tramitação do Projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, entre 1988 a 1996,
nas mobilizações do processo de elaboração da Constituição da República Federativa do
Brasil, que culminou com a aprovação, em 1988, do Capítulo III, Seção I, Educação (artigos
205 a 214).
Devido à conjuntura dos anos de 1990, o FNDEP decidiu pela necessidade da sociedade civil
organizada elaborar uma proposta de educação nacional alternativa ao modelo vigente, tanto
no que diz respeito aos processos de elaboração como nos conteúdos.
Bollmann (2010) aponta que, embora a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996 e a
Constituição Federal de 1988 prevejam a elaboração do Plano Nacional de Educação, foi o
FNDEP que se responsabilizou por esse preceito constitucional a partir de 1996, na I
CONED, apresentando ao Congresso Nacional em 1997, antes do governo federal o seu
“Plano Nacional de Educação – Proposta da Sociedade Brasileira”.
Em consonância com a temática em tela, Flávia Obino Corrêa Werle e Jorge Alberto Soares
Barcellos escreveram o artigo “Plano Municipal de Educação e a afirmação de princípios para
a educação local”, publicado em 2008. O texto aborda o processo legislativo que constituiu o
Plano Municipal de Educação de Porto Alegre – RS, propondo-se a descrever e analisar as
partes do documento que foram produzidos por diferentes atores sociais, além de verificar seu
grau de consistência interna, considerando se os pressupostos declarados evidenciam-se em
seu texto.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os trabalhos descritos acima evidenciam a importância de pesquisas relacionadas ao
planejamento educacional, no sentido de debater sua função na dinâmica institucional do
Estado. Nessa perspectiva, mediante a leitura das pesquisas já realizadas, nota-se que o
Planejamento educacional brasileiro é marcado por tensões e descompassos, ora refletindo os
anseios de setores específicos da sociedade, ora como mero instrumento de desenvolvimento
nacional, marcado por inconstâncias e centralização das discussões e ações. Percebe-se
também que o Plano Nacional de Educação, que, a priori, deveria dar constância e
organicidade às ações no campo educacional têm sido falho em alguns aspectos, o que
evidencia a urgente necessidade de se avançar em estudos sobre sua construção e
implementação.
Além disso, as poucas produções científicas acerca dos Planos Nacionais, Estaduais e
Municipais de Educação apresentam-se também como um indicativo de se avançar nas
discussões, haja vista a importância desses documentos ao se buscar uma educação de
qualidade. Logo, o presente trabalho coloca-se como uma tentativa a mais de se compreender
melhor o planejamento educacional brasileiro, sobretudo o âmbito municipal, retomando as
discussões já existentes, ampliando-as e evidenciando a necessidade de se intensificar as
reflexões acerca da temática.
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