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A questão da metáfora, da referência e do sentido em pesquisas qualitativas

A questão da metáfora, da referência


e do sentido em pesquisas qualitativas:
o aporte da sociopoética

Jacques Zanidê Gauthier


Lycée de Muret, Académie de Toulouse

A posição do pesquisador ram instrumentos teóricos para termos uma visão crí-
em relação aos sujeitos da pesquisa tica e lúcida sobre as lutas na constituição do sentido
das práticas sociais e na enunciação de palavras que
A pesquisa qualitativa, na área de educação como revelem ou dissimulem esse sentido. Do seu lado, a
em outras ciências do ser humano e da sociedade, etnometodologia e o interacionismo simbólico favo-
possui um status cognitivo especial. O problema que recem a compreensão das alianças e do implícito a
desenvolvo aqui é o da relação entre o pesquisador e partir dos quais os grupos se constituem como tais,
as pessoas sujeitos da pesquisa, em termos de produ- ao produzirem identidades relativamente estáveis, ne-
ção de conhecimentos: Que tipo de conhecimentos gociadas e instituídas (Garfinkel, 1967). A corrente
cada um(a) produz, e qual o status da operação cog- chamada de pós-colonial, com autores como Bhabha
nitiva específica, realizada pelo pesquisador a partir (1998), realiza uma forma de síntese entre a tradição
dos dados da pesquisa? centrada sobre o conflito, marcada pelo marxismo, e
Essa questão é filosoficamente difícil, pois os os aportes da microssociologia, referida a orientações
dados de pesquisas qualitativas não são dados objeti- fenomenológicas; assim podemos dizer que, no iní-
vos, positivos, brutos, e sim narrativas (histórias de cio do século XXI, o sujeito das enunciações, o eu
vida…), entrevistas coletivas e individuais, produções falante, encontra-se cada vez mais no centro da pro-
artísticas, ou seja, produções de sentido. Os dados já blemática da constituição do sentido: ninguém pode
são interpretações do mundo, dependentes de qua- falar no lugar dele, e só ele é dono de suas identida-
dros conceituais culturalmente marcados, em que po- des – que foram descobertas como plurais, conflituo-
sições políticas estão em jogo, lutas simbólicas, fra- sas e até provisórias –, assim como do sentido das
turas e redes de alianças, que permitem a negociação suas palavras. O sujeito falante não é mais o rei car-
e constituição do sentido. Autores como Bakhtin tesiano, uma consciência soberana. A crítica feita pelas
(1992), Bourdieu (1982) ou McLaren (1997) nos de- filosofias da desconfiança (Nietzsche, Marx, Freud)

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é, neste ponto de vista, decisiva: a consciência de si cação e desidentificação) de sua própria fala em dire-
traz muitas ilusões, ou seja, erros dos quais gostamos ção aos pesquisados e, sobretudo, ele produz o senti-
e, até, que participam do sentido que damos à nossa do da escrita final de sua pesquisa, cuja existência
experiência e prática social. Mas os pensadores oriun- não teria sido possível sem a participação e colabora-
dos de povos que sofreram a colonização insistem ção dos sujeitos da pesquisa (dissertação, tese, rela-
em dizer que interpretar no lugar do outro o sentido tório de pós-doutorado…).
de sua fala, como faz, às vezes, o pesquisador em Os pesquisadores da nossa área, tendo conheci-
relação aos sujeitos de sua pesquisa, é alienar esse mento dos teóricos que fazem essas considerações,
outro, tirando-lhe sua própria humanidade de sujeito podem assumir uma posição de vigilância epistemo-
falante. lógica, pois são teoricamente armados para irem ao
Deste ponto de vista, a abordagem proposta por campo de pesquisa. Eles possuem um olhar crítico a
Barbier (1993), baseando-se na noção de escuta sen- priori sobre a cegueira específica gerada pela sua
sível e em uma certa forma de consciência noética, posição de poder no saber (Foucault, 1976) e são teo-
permite instrumentalizar a pesquisa de campo em di- ricamente capazes de analisar sua implicação no seu
reção a um respeito da pluralidade, do íntimo e até do objeto de pesquisa, ou seja, seu inconsciente institu-
segredo. Eticamente, não se deve esquecer que cional (Lourau, 1970; 1988): o que está em jogo e
pesquisar o outro é um ato de violência simbólica para pertence de maneira escondida ao processo de pes-
com ele. Serres (1997, p. 15) formulou isso com vi- quisa, à busca, à constituição do objeto de estudo e
gor: dos métodos de investigação no campo simbólico e
ideológico, no campo pulsional, no campo material e
Observaram que a curiosidade exerce-se constante- organizacional?
mente sobre os mortos e sobre os fracos sem defesa e nunca A dificuldade começa quando se trata de ir além
a propósito dos poderosos? Os sujeitos das ciências huma- da proclamação da exigência ética de respeitar os de-
nas diferem dos seus objetos, não são os mesmos homens. sejos e direitos dos sujeitos da pesquisa e de construir
Já encontraram na estrada para Paris uma organização de um distanciamento crítico para com sua própria posi-
camponeses indo para a capital para elucidar os usos dos ção institucional. Quando, no decorrer mesmo da pes-
seus administradores? Ou, voando para os Estados Unidos, quisa, interferem esses processos complexos de pro-
encontraram no avião uma escola de Zulus ou de Guaranis, dução de sentidos, a partir de posições de poder
indo para realizar um seminário sobre alguns sábios em dissimétricas. Para pensarmos melhor o campo semân-
destaque da América? Outrora, os dominantes colonizavam tico assim criado, proponho retomar a questão do sen-
os dominados, agora eles nos observam. tido e da referência. Mas não se tratará de repetir as
Queria que se inscrevesse nas constituições o direito discussões clássicas de Bertrand Russell (1961) e Fre-
dos homens e dos povos de recusarem ser estudados. (tra- ge (1952) no campo da lógica, independentemente dos
dução minha) aportes das recentes teorias lingüísticas da enuncia-
ção. Encontramos na obra de Deleuze e Guattari
Realizar uma pesquisa é assumir um status de (1980) uma conceitualização, desses aportes, direta-
poder sobre os sujeitos da pesquisa, a partir de um mente utilizável pelos pesquisadores de campo.
lugar cognitivo específico. Da mesma maneira que
esses sujeitos produzem o sentido de suas palavras Agenciamentos maquínicos e enunciativos
em complexos processos de lucidez e cegueira, luta e
negociação, identificação e desidentificação, o pes- Segundo Deleuze e Guattari (1980, p. 112), existe
quisador produz o sentido (em processos semelhan- um duplo agenciamento, de conteúdo e de expressão
tes de lucidez e cegueira, luta e negociação, identifi- que chamamos duplagem:

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O agenciamento maquínico de corpos, ações e pai- próprias. Elas podem antecipar, atrasar, tirar, cortar,
xões, mistura de corpos agindo uns sobre os outros. juntar diferentemente… esses conteúdos. Retomemos
O agenciamento coletivo de enunciação, de atos e os exemplos da cultura familiar, ou universitária, ou
enunciados, transformações incorporais atribuindo-se aos comunitária. Vê-se facilmente a importância desse
corpos (grifos do original). agenciamento complexo de enunciados na constitui-
ção mesmo da subjetividade, assim como daquilo que
Os autores continuam precisando: é chamado de cultura. Existem poços, rios, trilhas,
avenidas, terras, ventos, fronteiras, fluxos, toda uma
[...] o agenciamento tem, de um lado, lados territoriais ou geografia onde as palavras se juntam, comem, pegam,
reterritorializados, que o estabilizam, e de outro lado, pon- apagam, superpõem, parasitam, traem, espalham, es-
tas de desterritorialização, que o levam embora (idem). condem. Aqui também, o relevante é a existência de
pontos de territorialização, que atraem vários discur-
sos no mesmo campo semântico, fazem ecoar uns em
O que é um agenciamento maquínico outros, conectando-os, ou então supercodificando,
de corpos, ações e paixões? numa forma geral dominante, conteúdos diversos. É
por um processo de supercodificação que se produz o
Corpos atraem-se, repulsam-se, alteram-se, fa- que Gramsci (1977) chamava de cultura hegemônica.
zem alianças, combinam-se em aliagens, expandem- Mas existem também pontos de desterritorialização,
se, penetram-se, excluem-se. Esses corpos podem ser expressões de desejo instituintes, palavras que não
corpos ou partes ou grupos de corpos humanos, e se- podem ser capturadas pela ordem instituída. O que a
res naturais, ferramentas, máquinas, energias, que se linguagem política chama de culturas de resistência
compõem ou transformam segundo regras, em tem- são conjuntos de linhas que convergem em direção a
pos e lugares instituídos. Assim, a vida familiar numa um território, ou até criam um território novo, cuja
classe dada da sociedade é um agenciamento ordem semiótica é heterogênea em relação à ordem
maquínico, outro é a vida numa faculdade, ainda ou- instituída, e não é capturada. Como na filosofia de
tro uma organização comunitária. O importante é que Michel Foucault, as relações de poder e desejo
existem nessa máquina física poços de captura, que estruturam o campo de enunciação (Deleuze &
atraem as energias em pontos instituídos, repetitivos, Guattari, 1980, p. 101): “Não há significância que seja
reprodutores dele, devoradores; e existem, inversa- independente dos significados dominantes, não há
mente, linhas de fugas desejantes, criadoras de jogos subjetivação que seja independente da ordem estabe-
não previstos, que nem sempre vêm por vontade pró- lecida de sujeição”.
pria das pessoas, mas perpassam o conjunto de cor- Bacias de captura1 interligadas geram o que é
pos e afetos. Uma forma de desordem criadora, de chamado de cultura dominante ou hegemônica, en-
caos na organização. quanto agenciamentos discursivos heterogêneos, par-
cialmente capturados por esses significados dominan-
O que é um agenciamento tes, produzem o que é chamado de cultura dominada.
coletivo de enunciação? Por exemplo, a canção popular, quando submissa aos

Ele é composto das múltiplas falas e discursos


possíveis que produzem a subjetividade – essa não é 1
Em francês, bassins de capture é um conceito oriundo da
individual, e sim coletiva, conectando signos diver- teoria das catástrofes, atribuída ao matemático René Thom. Pode
sos. As enunciações não representam os conteúdos ser traduzido também como atratores, em referência à física do
(os corpos e afetos), pois possuem forma e coerência caos.

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padrões estéticos e econômicos do showbiz, ou ainda zes essa coerência só tem por função simplifi-
as formas de expressão dos afro-descendentes, quan- car e homogeneizar o que é heterogêneo. O erro
do tornadas invisíveis ou folclorizadas em padrões é acreditar na unicidade orgânica das formas
utilizados pelas classes dominantes. de vida discursiva e incorporar essa simplici-
Uma forma de resistência interna a um agencia- dade. Diante disso, a pesquisa resgata a
mento é a variação, que dificulta qualquer forma de polissemia dos signos. Não se deve temer a
codificação prévia. Multiplicar as variações, des- ambigüidade, a ambivalência e o paradoxo, que
homogeneizar, é criar a autonomia, resistir à média sempre são índices de um problema interes-
onde mora a maioria. Criar ligações inesperadas é uma sante.
outra forma de resistência. É a desterritorialização, a • O segundo componente é, na teoria de Deleuze
emergência de desejos instituintes. e Guattari (1980), o componente transforma-
cional, que mostra como um regime pode ser
Os componentes dos agenciamentos traduzido num outro, e um novo ser criado a
coletivos de enunciação partir de transformações. Um exemplo conhe-
cido é o nascimento do candomblé no Brasil,
Os agenciamentos coletivos de enunciação po- por interferência entre formas de vida coletiva
dem viver segundo quatro componentes de signos di- e espiritual características de vários povos afri-
ferentes (Deleuze & Guattari, 1980, p. 181-182), que canos deportados pela escravidão. Uma ques-
a pragmática ou esquizo-análise, ou ainda rizomáti- tão vai ser de se entender como tal criação
ca, estuda. Conscientizar-se desses componentes é de transformacional pode agir em outras áreas da
fundamental importância na análise dos dados, ou seja, realidade, até que ponto ela pode ser traduzida
na análise do agenciamento coletivo de enunciação na esfera do trabalho, da vida do bairro, da
produzido pelos participantes da pesquisa. Encontra- educação etc. É muito provável que, num país
mos: que se fez pela imigração e miscigenação, for-
çadas ou voluntárias, os processos discursivos
• O componente generativo, que mostra como de tradução e transformação estejam muito ati-
toda expressão combina vários regimes de sig- vos nos posicionamentos dos sujeitos falantes
nos. Isso significa, por exemplo, que não exis- nas nossas pesquisas.
te uma cultura pura, que não se pode adjetivar • O terceiro componente enunciativo é o com-
de maneira unívoca a cultura. Por exemplo, ex- ponente diagramático, em que é visível como
pressões como cultura popular, cultura indí- signos são extraídos de formas originárias, apa-
gena ou cultura burguesa não possuem nenhum recendo como partículas desterritorializadas,
sentido unívoco, sendo geradas por combina- capazes de serem combinadas entre elas. O
ções de desejos (Deleuze & Guattari, 1980) e samba carioca nasceu provavelmente dessa
por articulações de poder (Foucault, 1976). Não forma, a partir de tradições musicais do povo
é necessário uma coerência a priori entre os negro (samba de roda de ritmo Cabula), em
elementos interligados para que se criem cons- interação com a classe média branca, com um
tantes, comportamentos previsíveis, habitus. A complexo sistema de irrupção de marcadores
coerência pode ser criada après-coup, por um rítmicos e corporais negros, e de tentativas de
processo de supercodificação, de ecos que se controle social da parte das classes dominan-
reforçam mutuamente. Para o pesquisador, o tes. A MPB é rica de criações do que Deleuze
difícil é desconfiar da armadilha da coerência e Guattari (1980, p. 183) chamam de “[...] dia-
e da coesão entre os discursos, pois muitas ve- leto do gozo, de físicas e semióticas em peda-

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ços, de afetos não subjetivos, de signos que ções, esse componente está particularmente
nada significam, onde caem a sintaxe, a semân- presente.
tica e a lógica”. Podem ser o pior ou o melhor,
o xarope e a vulgaridade de algumas produ- Essa caracterização dos componentes enunciati-
ções comerciais, mas também a desarticulação vos por Deleuze e Guattari é muito interessante, por
do corpo e o nascimento de sopros nunca ou- ser fácil de usar na análise dos dados em nossas pes-
vidos. Encontramos aqui os marcadores da se- quisas. Além disso, ela realiza uma boa síntese dos
miótica corporal infra-lingüística,2 que vários conhecimentos trazidos pela lingüística do discurso e
autores (Bakhtin, 1970; Kristeva, 1969) valo- da enunciação. É só seguirmos esse quadro de pensa-
rizaram muito pelo entendimento do sentido mento e ganharemos muito em termos de precisão nas
político do que é dito e sugerido. Com efeito, análises enunciativas dos dados.
o corpo é o lugar em que os valores podem ser
invertidos (no pensamento carnavalesco de A questão da metáfora, do sentido
Rabelais, segundo Bakhtin) e em que as e da referência
entonações, os gritos e sussurros expressam o
que escapa da ordem semântica: da intencio- Para facilitar tal procedimento, é desejável to-
nalidade racional, das classificações políticas mar como foco prioritário de estudo as metáforas uti-
impostas entre o que pode ser dito e como, e o lizadas pelos sujeitos da pesquisa. Por que as metáfo-
que não pode ser expresso. Nossas pesquisas ras?
não podem perder essa dimensão, particular- Porque elas possuem um status ambíguo na lin-
mente explícita nas classes populares, da cons- guagem, que tornam fáceis de serem vistas as ligações
tituição do sentido das práticas sociais pelos entre agenciamentos, as desterritorializações dos sig-
sujeitos das pesquisas educacionais. nificados, as traduções de um regime de signo para um
• O quarto componente é o componente maquí- outro e a combinação desses regimes, ou seja, os qua-
nico, em que os dois agenciamentos, as dupla- tro componentes enunciativos acima mencionados.
gens, interferem uma na outra. As expressões Com efeito, além de definirem a metáfora como
modificam os corpos e as paixões, enquanto uma comparação implícita entre termos oriundos de
esses geram formas de expressão novas. Al- registros heterogêneos, muitos lingüistas (Ricoeur,
guns chamam isso de práxis, outros de clínica. 1975) consideram-na como uma regra constitutiva da
Em pesquisas cujo método consiste em trans- língua que indica como se pode encontrar ou criar
formar para conhecer, ou seja, introduzir uma um objeto diferente e semelhante, e, ao mesmo tem-
perturbação no meio para estudar as suas rea- po, apresentar intuitivamente o ícone desse objeto.
Portanto, a metáfora está entre o mundo do sentido
(interno à linguagem) e o mundo da referência (da
2
Aqui encontramos um problema de definições: Benveniste realidade não-lingüística). Ela é o índice de um tra-
(1966) chama de semântica a constituição do sentido ao nível ló- balho do espírito, que elabora um conflito, uma ten-
gico da frase, por oposição à semiótica, concebida ao nível do são dentro da língua (entre o que a metáfora é, por ser
signo. Isso permite a problematização da intencionalidade e do semelhante, e o que ela não é, por ser diferente), e
implícito e abre caminhos para as futuras análises de discurso. Já entre a língua e o real (pois a metáfora visa a algo que
Kristeva (1969) chama de semiótica a constituição do sentido a não está dado, que não está presente, ela dá vida a um
partir das pulsões, da ordem e desordem do corpo, cuja linguagem produto da imaginação).
pré-semântica participa da elaboração inconsciente do sentido Em minhas pesquisas, essa característica de se
político da práxis. dar entre os significados e entre a língua e o mundo,

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faz da metáfora um potente instrumento de identifi- mal,3 no próprio processo de pesquisa, entre os sujei-
cação do sentido que os sujeitos projetam no mundo. tos da pesquisa e o pesquisador?
Nossa escuta sensível pode tranqüilamente ser foca- Além dessa importância cognitiva, Bachelard
lizada nas metáforas das gravações oriundas de mi- (1957, p. 7) expressa a importância ontológica da
nhas pesquisas de campo; tenho certeza de encontrar imagem poética:
aí um tesouro de dados interessantes. Com efeito, me-
táforas usadas, quando escolhidas pelos sujeitos das [...] ela torna-se um ser novo da nossa linguagem, ela
pesquisas, apontam para uma certa dependência para nos expressa ao fazer de nós o que ela está expressando, ou
com as ideologias instituídas, para um certo fecha- seja, ela é, ao mesmo tempo, um devir de expressão e um
mento numa territorialização prévia, enquanto a cria- devir de nosso ser. Aqui, a expressão cria algo do ser.
ção de metáforas vivas, como diz Ricoeur, quebra as
categorizações congeladas da língua e do mundo, res- Para nós, pesquisadores, é de fundamental im-
gatando o poder classificador originário da lingua- portância o sétimo estudo, “Metáfora e referência”,
gem e criando um esboço de significações (discursi- da obra citada de Ricoeur (1975), A metáfora viva.
vas) e percepções (intuitivas) novas. Paul Ricoeur O sentido das falas ditas e/ou escritas, numa pesqui-
(1975, p. 263) fala, até, de “desmancho das áreas se- sa qualitativa, seja pelo pesquisador acadêmico, seja
mânticas sob o choque das contradições”. pelos sujeitos da pesquisa, está totalmente dentro do
Hester (1967) relaciona diretamente essa carac- que é dito. Geralmente, os lógicos concordam com
terística das metáforas ao poder de metaforização, que Russell e Wittgenstein que, contra as visões positi-
é um dos princípios geradores da linguagem. Uma vistas e científicas comuns (armadilha na qual o de-
metáfora tomada a sério obriga o ouvinte a suspender sencantamento do mundo nos faz cair), chamam os
sua relação instituída com o real, já constituída de fatos de existência de estados de coisas, expressan-
muitas metáforas mortas, esquecidas, que caíram fora do assim que os fatos são, na verdade, atos predica-
do campo da consciência, e a abrir-se para o virtual: tivos da mente humana. O fato não é a referência,
ver-como é deixar acontecer o evento do fluxo das aquilo que existe em si. A referência denotada pela
imagens, deixar-se trabalhar pela imaginação cria- descrição (há…) pode somente ser aquilo que é vi-
dora, sem perder de vista que esse fluxo não acontece sado pelo mundo do sentido, pelo discurso. Agora, o
sem regra nem ordem, e sim é um produto de condi- que podemos dizer sobre o que somente está aqui,
ções sócio-históricas (coletivas e individuais) que tra- ou não está? A referência, chamada por Frege de
balham a linguagem coletiva, assim como nossa fala denotação, abre para o além do dito, ou seja, para
privativa. aquilo sobre o qual é dito o sentido. Isto é, nas nos-
Entre pensamento e experiência, entre o coleti- sas pesquisas, para o mundo social visado. Conhe-
vo e o singular, a metáfora é, como escreve Ricoeur cemos esse mundo referencial em negativo: ao fala-
(1975, p. 271), “a solução de um enigma”, ou seja, o rem, os sujeitos da pesquisa torcem o sentido das
paradoxo da passagem intuitiva para o não-verbal (ver
a imagem), através um tropismo da língua.
Em termos de pesquisa qualitativa, encontramos 3
Vygotski (1985) criou o conceito de zona de desenvolvi-
aqui essa tensão muito produtiva, para nós pesquisa- mento proximal a partir da relação dialética entre o nível de de-
dores da área educacional, entre os conhecimentos senvolvimento potencial e o nível de desenvolvimento real. Essa
prévios dos sujeitos da pesquisa e o que eles sabem zona borda a trajetória que o sujeito percorre para desenvolver
não saber, ou melhor, querem e imaginam, mas sa- níveis de amadurecimento das estruturas simples a partir de estru-
bem ainda não saber. Será que aí se vai constituindo turas complexas que ele ainda não conquistou de forma indepen-
uma vygotskiana zona de desenvolvimento proxi- dente, mas que, com a ajuda do outro, ele consegue atualizar.

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A questão da metáfora, da referência e do sentido em pesquisas qualitativas

palavras comuns, segundo a singularidade de cada dade se constitui, nas próprias ciências, pela expan-
situação, visão, projeto. É essa singularidade que são de metáforas, de onde surgem os principais mo-
devemos apontar, para podermos, em seguida, delos cognitivos utilizados pelos físicos. Como os
interrogá-la em relação à sua contribuição para efei- modelos científicos, os mitos funcionariam segundo
tos enunciativos reprodutores das metáforas institu- esse mesmo princípio de expansão metafórica, apre-
ídas ou criadores de metáforas novas, vivas, entran- sentando coisas humanas na forma de aventuras divi-
do em composições, traduções, diagramas ou nas sistematizadas.
máquinas enunciativas que a teoria proposta por Daí o aspecto social contido na palavra sociopoé-
Deleuze e Guattari permitem identificar. tica. A poética presente na criação verbal dos partici-
É esse processo de torção, no qual algo é dito do pantes da pesquisa funciona de modo coletivo, mar-
real ao mesmo tempo que dito de outro jeito, estra- cado cultural e socialmente, e também de modo
nhando o familiar, ou seja, visando uma realidade ou- cooperativo: na produção coletiva de um mundo me-
tra, virtual, que está presente na metáfora viva como tafórico, ou melhor, na interferência de metáforas re-
emergência de um sentido ainda desconhecido. Cha- feridas a mundos semânticos heterogêneos, o grupo
mamos de sociopoética nosso método de pesquisa – das pessoas sujeitos da pesquisa elabora ficções, de-
método no sentido de Morin (1986), ou seja, caminho senha modelos de uma realidade sem dúvida comple-
que se faz caminhando, mais aberto para o imprevis- xa e imaginária, mas racional. O dispositivo de pes-
to do que seria uma metodologia – precisamente por- quisa deve, nesse momento, ser suficientemente
que estamos atentos à experiência radical que a poe- potente para catalisar a expansão poética desse pro-
sia propõe: em lugar de descrever o que é dado, como cesso de metaforização e, em seguida, favorecer sua
faz o uso comum, positivista e utilitarista, da lingua- análise crítica pelos próprios sujeitos da pesquisa.
gem, ela afasta do julgamento comum e pretende ir O interessante é que a ficção heurística vem da
até o limite da potência de criar o mundo, presente na impertinência semântica contida na metáfora. Da qua-
linguagem (Coletivo de autores, 1999; Gauthier, lidade de suas tensões internas e da pertinência de
1999a). sua impertinência (de seu deslocamento problemati-
O poema como agenciamento discursivo é uma zador das referências) depende a justeza da metáfora,
unidade metafórica: como a metáfora, mas num sen- ou, para falar como Foucault (1976), seus efeitos de
tido mais amplo, ele transfere o que era pertinente em verdade.
certos agenciamentos de corpos no mundo das coisas
sem interesse e dá a maior pertinência ao que era im- Impertinência semântica
pertinente. Cabe aos leitores fazerem uma parte do e abdução
caminho.
Como um poema o realiza de maneira radical, a Como processo cognitivo, a metáfora é um raio
metáfora traz tensões num mundo que se apresentava que gera uma nova categoria de conhecimento envol-
como pacífico, desproblematizado. É isso que é vendo dois campos de saber, alterando nossa com-
apaixonante para os pesquisadores que buscam uma preensão de um como do outro e, sobretudo, reali-
reproblematização do mundo. E quem vai reproble- zando um deslocamento no pensamento, uma fuga
matizar esse mundo, a não ser os próprios sujeitos da criadora em direção a terras novas. Ela favorece pro-
pesquisa, no quadro de um dispositivo que facilite essa cessos intelectuais intuitivos. Isso é particularmente
operação cognitiva? relevante nos estudos culturais, quando interferem
Além disso, a metáfora cria suas referências num campos de saber e aprendizagem heterogêneos.
modo virtual, o que permite à lingüista Hesse (1965) Lembremos as quatro formas de abdução, forma
falar de ficções heurísticas e afirmar que a racionali- lógica que a língua comum chama de intuição, se-

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gundo Peirce4 (Eco, 1991, p. 228-229): hipercodifi- A hipótese substitui uma concepção simples por um
cada, ela acontece quando interpretamos o significado complexo emaranhado de predicados vinculados a um su-
de uma palavra a partir de uma reconstrução do con- jeito. Mas, há uma sensação peculiar pertencente ao ato de
texto; hipocodificada, quando escolhemos uma hipó- pensar que cada um desses predicados impregna no sujeito.
tese entre várias, baseados na crença da regularidade Na inferência hipotética, esse sentimento complexo, assim
do mundo; criativa, quando reinventamos uma lei des- produzido, é substituído por um sentimento simples de maior
te mundo, por exemplo, ao intuirmos relações ines- intensidade, aquele que pertence ao ato de pensar a conclu-
peradas entre áreas heterogêneas; a quarta forma é a são hipotética5. Agora, quando nosso sistema nervoso é
meta-abdução, quando decidimos que o universo que excitado de uma maneira complexa, havendo uma relação
imaginamos no nosso pensamento corresponde ao uni- entre os elementos da excitação, o resultado é um distúrbio
verso da nossa experiência cotidiana. Para Umberto harmônico singular, o qual eu chamo de emoção. Deste
Eco, esta última forma caracteriza a criação científi- modo, os vários sons produzidos pelos instrumentos de uma
ca e a investigação policial. orquestra incidem sobre o ouvido e o resultado é uma emo-
Encontramos, diretamente, na terceira e na quar- ção musical peculiar, inteiramente distinta dos próprios sons.
ta forma de abdução, a ação da metáfora na constru- Essa emoção é, essencialmente, o mesmo que uma inferência
ção do conhecimento. hipotética, e qualquer inferência hipotética implica a for-
Particularmente, é provável que nas nossas pes- mação de uma tal emoção. Podemos dizer, portanto, que a
quisas interculturais encontremos freqüentemente, nas hipótese produz o elemento sensual do pensamento e a
metáforas utilizadas pelos sujeitos das pesquisas, indução o elemento habitual. (grifos do original)
abduções potenciais, que só precisamos desenvolver,
em parceria com o grupo-pesquisador. Sebeok e O segredo de nossas pesquisas?
Umiker-Sebeok (1991, p. 23) afirmam que a abdução A metáfora é intimamente ligada ao processo de
gera um tipo de emoção que a coloca à parte da dedu- raciocínio abdutivo: ela cria elos entre áreas hetero-
ção e da indução. O desafio cognitivo toma a forma gêneas da realidade; através desses elos passam emo-
de uma emoção na nossa relação com o que chama- ções e sensualidade. Geralmente, esses elementos es-
mos de mundo e na nossa crença nas formas desse tão explicitamente agindo nas pesquisas qualitativas,
mundo. Será que essa emoção é a mesma que encon- mas temos dificuldades em analisá-los.
tramos no nosso relacionamento com os sujeitos de É possível afirmar que para nós, pesquisadores
nossas pesquisas, que pertencem a mundos cognitivos em educação, a metáfora é a via real em direção ao
não homogêneos com o nosso? Sem a abdução não implícito da vida cognitiva dos sujeitos de nossas pes-
existiria a própria vida, acrescentam Sebeok e Umiker- quisas e à compreensão da nossa relação com esses
Sebeok. É um instinto que percebe as conexões in- sujeitos. Somos principalmente caçadores de metáfo-
conscientes do mundo, é a comunicação subliminar ras, na fala e nos silêncios de nossos parceiros em pes-
de mensagens. quisas. Isso, segundo dois eixos: as metáforas tornam
Eles referem-se diretamente a Peirce (1935-1966,
par. 2.643). Essa citação é muito esclarecedora e me- 5
Essa noção de conclusão hipotética é de fundamental im-
rece ser reproduzida in extenso, pois dá uma susten- portância nas pesquisas qualitativas. Na sociopoética, os facilita-
tação teórica ao nosso método sociopoético de pes- dores de pesquisa podem somente concluir hipoteticamente. Eles
quisa: vivem potentes emoções na sua relação com os demais membros
do grupo-pesquisador. A devolução dessas hipóteses para o grupo
permite, ao mesmo tempo, uma negociação dialógica dos resulta-
4
A questão da abdução na semiótica de Peirce é tratada sob dos da pesquisa e o distanciamento de cada um de suas implica-
múltiplos aspectos por vários autores. Ver Eco e Sebeok (orgs.), 1991. ções emocionais e cognitivas no tema-gerador da pesquisa.

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A questão da metáfora, da referência e do sentido em pesquisas qualitativas

problemático um dado da experiência social e educa- pular, como mostrou com força Certeau (1980).
cional que parecia óbvio; além disso, elas favorecem a Acontece também esse tipo de construção quando de-
abdução, sem a qual não há descobertas científicas, senvolvemos uma pesquisa científica. Isso nos dá a
como afirma Peirce. Ricoeur (1975, p. 321) fala de ve- responsabilidade de estarmos atentos a todas as for-
emência ontológica, e podemos falar de energização mas de abdução virtualmente contidas nas metáfo-
do agenciamento coletivo de enunciação. Na página ras, ou seja, hiper e hipocodificada, criativa e meta-
291, Ricoeur sintetiza esses aspectos, ao escrever: “A abdutiva.
excelência estética é uma excelência cognitiva”.
A metáfora liga arte e ciência, pois a invenção A sociopoética
por aproximação de estruturas heterogêneas é a base
de potentes efeitos de verdade em várias áreas da prá- Daí surge a idéia de inventar um dispositivo de
tica social. pesquisa que favoreça a investigação das relações en-
Será que sem metáforas não há pesquisa, logo, tre os sujeitos da pesquisa, das interferências ou inter-
nenhuma descoberta? referências constitutivas da intencionalidade de se dar
É só ampliar essa visão da força metafórica da um mundo comum e de criar, por metáforas, um mun-
língua comum, falada por pessoas comuns, para se do poético por certo heterogêneo, mas compartilhado,
perguntar se, finalmente, existe uma referência últi- no próprio processo de pesquisa. O grupo-sujeito, se-
ma, realista, que seria como o solo do núcleo comum gundo Sartre (1960), origem filosófica dos grupos do-
a todas as representações, e então responder, obvia- nos do processo de pesquisa-ação no sentido de Barbier
mente, que não. As metáforas ecoam umas às outras, (1998), próximo do círculo de cultura segundo Paulo
pois nenhum sentido, nas enunciações cotidianas, Freire (Freire, 1987), pode ser chamado de grupo-pes-
existe sem ter conexões com referências múltiplas, quisador, numa concepção da pesquisa qualitativa que
dimensões heterogêneas da vida social (componente focaliza a pesquisa como processo, ou seja, como ela
generativa). Nessa rede de ecos nascem metáforas transforma o meio onde acontece, enfatizando as per-
vivas (componente diagramático). O saber mais abs- guntas seguintes: Quais os efeitos produzidos pelo pro-
trato possui ligações recíprocas com afetos e emo- cesso de pesquisa entre os sujeitos?; Quais, entre seus
ções (componente maquínico). conhecimentos plurais (seus enunciados)? Outra per-
Assim deve a pesquisa qualitativa visar explici- gunta: Quais os efeitos produzidos entre seus conheci-
tamente às interferências, ou seja, às denotações co- mentos de um lado, e seus afetos, de outro lado? Ou
presentes (mesmo que geralmente heterogêneas) na melhor, por que as coisas não são separadas assim, para
experiência de cada um (componente transformacio- quem trabalha com máquinas enunciativas: O que
nal), enquanto essa experiência possui um sentido que acontece no entre-dois do saber e do sentir? Isso, no
a pessoa pode expressar. Isso relaciona a metáfora com grupo inteiro, que inclui o pesquisador acadêmico cha-
as formas hipercodificada e hipocodificada da mado de facilitador da pesquisa. De fato, uma pesqui-
abdução segundo Peirce, pois tanto a reconstrução do sa sociopoética é uma auto-análise coletiva, facilitada
contexto como a crença na regularidade do mundo por pessoas praticando dispositivos e técnicas apro-
acontecem em referências interligadas, na mente de priados.
cada sujeito da pesquisa.
A metáfora é o vínculo privilegiado que trans- O grupo-pesquisador
porta os sentidos da vida cotidiana de um mundo se-
mântico para um outro, participando da co-constru- Para responder a esse tipo de pergunta, e tam-
ção de agenciamentos coletivos de enunciação. É a bém poder observar afetos e saberes no estado nas-
experiência prática da vida, base da criatividade po- cente, ou seja, emergentes, é preciso constituir um

Revista Brasileira de Educação 135


Jacques Zanidê Gauthier

grupo-pesquisador, responsável pelo desenvolvimento negras e indígenas possuem essa força cognitiva ím-
do processo de pesquisa, pois assim interagem afetos par de relacionarem-se diretamente com o que Julia
desindividualizados e vão criando-se figuras novas e Kristeva chama de elemento semiótico pulsional e
emergentes a partir dos conhecimentos presentes no corporal, ou seja, com o componente propriamente
grupo. Essa instituição dos sujeitos da pesquisa em maquínico da duplagem entre os agenciamentos
grupo-pesquisador é o primeiro princípio da so- maquínicos de corpos e afetos e os agenciamentos
ciopoética. coletivos de enunciação, o componente mais comple-
xo e sensível a devires transformadores.
As culturas dominadas e de resistência
Conhecer com o corpo inteiro
O segundo princípio da sociopoética, conside-
rando a dialética que se vai instituindo entre o pes- O terceiro princípio da sociopoética é conhecer
quisador acadêmico e os demais membros do grupo- com o corpo inteiro: a emoção, as sensações, a intui-
pesquisador chamados de co-pesquisadores, é, ção, a gestualidade, a imaginação… e não apenas com
logicamente, o princípio da valorização das culturas a razão. Ele vem de práticas sociais dominadas no
dominadas e de resistência na produção e leitura dos mundo intelectual de hoje: de enfermeiros que me-
dados. Com efeito, por razões que podem ser de xem com os corpos doentes e aprendem, na sua prá-
recalcamento por causa de repressão e sofrimento tica, a conhecer com o corpo inteiro; de pesquisado-
(opressão dos corpos e das mentes) ou de culto dado res em educação popular que encontram corpos
ao segredo, ao silêncio e ao corpo (culturas negras e dançando, cantando, rodando, festejando apesar de
indígenas), a leitura clara do que é dito e não-dito nas marcados pelo açoite físico ou moral. De vários com-
metáforas, do que elas estão visando, intuindo e ig- ponentes populares da sociedade brasileira, princi-
norando, não é possível pelas meras armas teóricas palmente de origem africana e indígena. Muitas ve-
do racionalismo. É necessário a ajuda de fontes de zes, a pele, os nervos, os músculos, as pernas, o útero,
leitura mais intuitivas, sensíveis e até simbólicas, para a ginga… sabem o que o cérebro esquerdo ainda não
que se entenda a complexa riqueza das imagens me- sabe simbolizar. Varela, Thompson e Rosch (1993)
tafóricas. Já se cria a metáfora na interseção de mun- nos lembram que a forma mais relevante de conhe-
dos com apalavramentos e acertos (segundo a expres- cer, origem de outras formas mais descontextualiza-
são de Sodré, 1999) heterogêneos.6 É impossível das, é conhecer pela prática, resolvendo problemas
deixar se perder essa riqueza intercultural que per- vitais que mobilizam o corpo inteiro, com todas as
corre o mundo semântico brasileiro: as referências suas faculdades de adaptação e criação (gestualidade,
sentidos, categorização, imaginação, emoção, cria-
ção de conceitos, intuição…). Muitos especialistas
6
O apalavramento é uma raiz, um rizoma discursivo planta- das ciências contemporâneas concordam em afirmar
do numa terra sociocultural que liga o sujeito enunciativo a uma que o relevante é entender e compreender como são
comunidade por uma promessa e uma fidelidade. O acerto é o produzidos os conhecimentos, isso influenciando o
processo de negociação que liga o sujeito, coletivo ou individual, quê (o conteúdo, o significado) dos conhecimentos
a sujeitos ou comunidades de fora. Apalavramento e acerto são de produzidos.7
fundamental importância nas comunidades afro-brasileiras e per-
mitem definir o conceito de comunalidade como “ligado a um
conjunto de redes de alianças comunitárias que instituem formas 7
Essa problemática percorre a obra de Michel Serres, parti-
de expansão e afirmação existencial de um continuum civilizató- cularmente os cinco volumes de Hermes (1969, 1972, 1974, 1977
rio” (Santos, 2001, p. 37). e 1980). Sobre a questão do corpo, citaremos Serres (1985).

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A questão da metáfora, da referência e do sentido em pesquisas qualitativas

Técnicas artísticas de produção de dados cultura, suas memórias e com a imaginação mito-poética,
fomos evidenciando uma nova compreensão do brincar,
Obviamente, é muito mais fácil estudar metáfo- porque todos os Índios brincam. E brincam juntos, crian-
ras quando se usam técnicas de pesquisa favorecendo ças, jovens, adultos e velhos, participam dos jogos de uma
um processo de metaforização da experiência pelos maneira complementar, cooperativa e muito semelhante. Do
próprios sujeitos da pesquisa. Isso constitui o quarto mesmo modo, como é semelhante, a participação das crian-
princípio da sociopoética. Precisamos, no mundo da ças no trabalho coletivo, na produção artística e em tudo
pesquisa qualitativa, de várias técnicas artísticas de que diz respeito à produção deste brincar. (no prelo)
produção de dados. Como existe uma arte-educação,
existe igualmente uma arte-pesquisa. Colocar o gru- Vê-se nesse exemplo como a metáfora do brin-
po-sujeito da pesquisa numa posição criadora permite car como lugar-de-esquecer, consolidada na língua, é
ganhar em dois terrenos: em primeiro lugar, no levan- como uma imagem dialética, que condensa tanto a
tamento dos preconceitos e elementos ideológicos ins- tradição ancestral e a história como a abertura para
tituídos que envenenam a vida intelectual (inclusive a devires inesperados e desejados, por serem o modo
vida dos pesquisadores acadêmicos, que aprendem dos coletivo de se intuirem conhecimentos, até mesmo
demais membros do grupo-pesquisador a olharem suas pela busca iniciática do transe.
costas, sua sombra preconceituosa, ou seja, o que fi-
cou não-analisável antes do encontro com os parcei- O sentido da pesquisa
ros de pesquisa); em segundo lugar, na observação (na
presença atenta, diz o zen-budismo, segundo Varela, O quinto e último princípio da sociopoética diz
Thompson e Rosch, 1993) do modo de as imagens e respeito à responsabilidade do grupo-pesquisador na
metáforas novas, criadas na interação, emergirem aqui socialização dos resultados e na interrogação do sen-
e agora, e dos ambíguos ou dialéticos significados que tido social, político, ético, espiritual da pesquisa.
se vão tecendo e torcendo no grupo-pesquisador. Nada de moralista nisso, podendo a pesquisa ser, com
Luís Vítor Castro Júnior, Maria Geovanda Ba- proveito em termos de produção de conhecimentos,
tista e Jacques Gauthier (2003) expressam isso ao correta ou perversa: isso depende dos desejos do gru-
apontarem a etimologia da palavra ilusão, através do po-pesquisador.
latim il-ludere, que inclui o brincar. Maria Geovanda
Batista foi facilitadora, com a ajuda de mulheres ido- A metáfora viva e o confeto
sas Pataxó, de uma pesquisa sociopoética sobre os em pesquisas sociopoéticas
sentidos do brincar no mundo do povo indígena
Pataxó. Os referidos autores escrevem: No quadro limitado deste artigo, quero dar so-
mente o exemplo de uma técnica artística (no caso,
Com o grupo-pesquisador Pataxó, a atividade ritual- poética) favorecendo a visibilidade de metáforas,
lúdica está sendo traçada como mussaraitáua – brinquedo mortas ou vivas, instituídas na língua ou que emer-
no pidjin caboclo, que significa etimologicamente lugar- gem no seio do grupo-pesquisador, ou seja, provar
de-esquecer. Esquecer o inútil, aquilo que impede a pre- aos leitores que nossa discussão teórica tem efeitos
sença imediata, a intuição. Outra construção no plano, que práticos interessantes para nós e nossos orientandos.
se contrapõe à visão do ritual como droga, ópio do povo Numa pesquisa apoiada pelo CNPq, realizada
(Marx), ilusão (da raiz latina il-ludere, brincar em) vital da com três grupos-pesquisadores de uma escola comu-
força de vida (Nietzsche), já enganada pelos Portugueses nitária de Salvador (BA), de crianças, de educadoras
procurando os habitantes das Índias ou, mais provavelmen- e de pais e mães, colocamos, após realização de um
te, a terra da redenção. Ao rizomatizarmos com sua própria relaxamento tendo por objetivo um menor controle

Revista Brasileira de Educação 137


Jacques Zanidê Gauthier

racional sobre a fluidez das imagens que surgem, as medo de não poder sair, como o saber das drogas, ou como
seguintes perguntas: quando, frente à criança curiosa, os adultos (pai ou profes-
sora) se contradizem, ou não dão explicações satisfatórias,
Se as coisas mais importantes que você aprendeu, na ou praticam avaliações arbitrárias.
vida, na escola, na família, na rua, fossem uma Terra, como
seria essa terra? Após vinte segundos: Se fosse um Túnel, Cruzando essas metáforas com outras oriundas
como seria esse túnel?… Se fosse um Caminho?… Um La- de outros lugares geomíticos, os facilitadores pude-
birinto?… Um Arco-íris?… Uma Ponte?… Uma Gruta?… ram propor para contra-análise, ou seja, avaliação
Uma Galáxia? (Gauthier, 1999b) pelas crianças e discussão problematizadora, uma for-
ma de pensamento metafórico do grupo-pesquisador
As crianças desenham e, numa outra sessão de inteiro (o que Ricoeur chama de verdade metafóri-
pesquisa, comentam seus desenhos em relação ao ca). Esse pensamento é constituído de seres interme-
conceito de aprendizagem. Essa técnica é chamada diários entre o afeto e o conceito, que chamamos na
de técnica dos lugares geomíticos. O objetivo da pes- sociopoética de confetos. Por exemplo, a solidarieda-
quisa era comparar as aprendizagens e os saberes mais de cognitiva pode minimizar certos perigos. A arte
significativos para os três grupos-pesquisadores, o que possui também esse poder: no Arco-íris, ela assume
interessava muito à própria escola comunitária que uma parte de morte, ódio e mau-olhado. Sem a arte, a
estava num processo de avaliação de seu trabalho gente mataria, parecem afirmar as crianças. Aqui, arte
educativo. Rapidamente a pesquisa se tornou uma e solidariedade cognitiva são confetos.
pesquisa intercultural, por causa da freqüência da as- No método sociopoético, é solicitado aos co-pes-
sociação das imagens vistas pelos co-pesquisadores quisadores pensarem com base nessa conclusão aber-
com temas culturalmente marcados no mundo afro- ta. Essa reflexão pode gerar transformações pessoais
brasileiro baiano. ou institucionais, ou não. O grupo-pesquisador pro-
A técnica é explicitamente indutora de metáfo- duziu seu próprio questionamento e os facilitadores
ras. Selecionando algumas metáforas particularmen- não pretendem induzir respostas ou mudanças. Essas
te vivas e problematizadoras da vida cognitiva das dependem do grupo hóspede da pesquisa e do desejo
crianças, temos, no lugar Labirinto, as falas seguin- de cada ator co-pesquisador.
tes, comentários dos seus desenhos pelas crianças
(Gauthier, 1999b, p. 317): Conclusão:
a questão da interpretação
Apostando correndo sozinha, a menina muito alegre e da conceitualização
foi ajudada pelos bichos [em outros lugares muito perigo-
sos, podendo comer a menina] a matar um ser humano (Esta Existe um importante trabalho dos filósofos, em
menina é abusada, ela se chama Carla Perez, comenta M., duas direções: seja para darem vida às metáforas, ao
a autora da imagem); ouvirem o que está subliminarmente cantando na lin-
[...] uma princesa desmaiou de fome e sede, procurando guagem e encantando-o, seja para criticarem o que a
uma saída, conforme uma estória lida pela autora da ima- metáfora carrega de não analisado no conceito e apurá-
gem, I., que gosta muito de estórias de princesas. Opostos a lo desses elementos meio afetivos, intuitivos e confu-
isso, os deveres chatos quando se repetem; sos. Aliás, geralmente os filósofos trabalham nas duas
Na aula de arte misturamos as cores, como aconteceu direções, pois se trabalhassem somente na primeira
no passeio que fizemos e que serviu de quadro para a prova eles seriam poetas, e se trabalhassem somente na se-
de biologia (e chegou a pergunta: De que cor são os anjos?); gunda sem vida seria a sua língua filosófica, cortada
Existem saberes nos quais é melhor não entrar, por da criatividade da linguagem cotidiana.

138 Jan /Fev /Mar /Abr 2004 No 25


A questão da metáfora, da referência e do sentido em pesquisas qualitativas

Interpretar é um processo que acontece entre ti- criando as condições dos problemas identificados
rar a máscara da metáfora e respeitar seu segredo. (Deleuze & Guattari, 1991, p. 26-28). Os conceitos são:
Apesar de suas orientações filosóficas muito diferen- “centros de vibrações, cada um em si e uns em relação
tes, tanto Deleuze e Guattari (1991) como Ricoeur aos outros”.
(1975) insistem para que se diferencie o mundo do Do lado de Ricoeur, o conceito vai entrar em diá-
conceito filosófico do mundo do afeto e da metáfora: logo com outras criações filosóficas, radicalmente
não se pode confundir o plano de imanência, onde distanciadas da experiência. Na língua de Deleuze e
nascem os problemas e seus afetos próprios, com o Guattari, um conceito vai ser experimentado,8 na lín-
plano de consistência, onde insistem e interligam-se gua de Ricoeur, interpretado. Nos dois casos, ele vai
os conceitos, para Deleuze e Guattari; nem o mundo ganhar sua autonomia em relação a seu contexto de
da metáfora, vida da língua que ignora a separação emergência.
entre emoção e cognição, com o mundo do conceito, A sociopoética pretende atender a essa exigên-
pensamento especulativo que possui seu próprio re- cia, pela análise do pensamento do grupo-pesquisa-
gime discursivo, para Ricoeur. dor como se o grupo fosse um filósofo só, criador de
Como vemos, a sociopoética favorece a criação conceitos. Aí o grupo-pesquisador precisa da ajuda
de confetos. Mas, como pesquisadores, precisamos do facilitador da pesquisa, que tranqüilamente, em
igualmente de conceitos distanciados das cores, dos casa, vai se perguntar: Como esse grupo estrutura o
toques, dos cheiros, dos sons e dos gostos violentos e mundo que ele vai construindo através da pesquisa?
doces, maravilhosos e vergonhosos que constituem, Primeiro, quais as linhas de separação ou exclusão
para nós, o sentido da vida, metáfora gigantesca, su- que ele traça, nas palavras usadas por ele para dizer
blime e terrível. Kant, no parágrafo 49 da sua terceira sua experiência em relação ao tema orientador da
Crítica (1987, p. 144), expressa essa idéia com gênio, pesquisa? (momento das análises classificatórias). Se-
ao mostrar que a apresentação da Idéia pela imagina- gundo, quais as ligações secretas que ele estabelece
ção obriga o pensamento conceitual a pensar mais: entre vários planos dessa experiência? (momento do
“Ao ampliar esteticamente o próprio conceito de ma- estudo transversal).9
neira ilimitada, a imaginação torna-se criadora e co- Esse trabalho é difícil, mas permite a elaboração
loca em movimento a faculdade das Idéias intelec- de conceitos desterritorializados, que não são mais
tuais (a razão)”. Isso, acrescenta Kant, “[...] a fim de misturados com afetos, que o grupo vai, em seguida,
pensar, na oportunidade de uma representação […] discutir, criticar, avaliar e experimentar, conforme
muito mais que aquilo que pode ser entendido nela e nossa concepção peirceana da conclusão hipotética.
claramente concebido”. E Ricoeur completa (1975,
p. 383): “[...] toda interpretação visa a reinscrever o
esboço semântico desenhado pela enunciação meta- 8
“Um conceito exige […] uma encruzilhada de problemas,
fórica num horizonte de compreensão disponível e onde ele se alia com outros conceitos co-existentes” (Deleuze &
conceitualmente dominável”. Guattari, 1991, p. 24). E, na página 25: “O conceito de um pássaro
Assim, assume a sociopoética o desafio da tradu- não se encontra na sua espécie mas na composição de suas postu-
ção – outra forma de transporte, diferente da metáfo- ras, cores e cantos”. E ainda, página 26: “O conceito diz o evento,
ra – dos confetos em conceitos. Isso é o momento que não a essência ou a coisa”.
Deleuze e Guattari chamam de desterritorialização, 9
O processo de produção de metáforas vivas é particular-
sendo o conceito caracterizado pelas suas potências de mente solicitado, na sociopoética, no momento surreal, quando se
fugir de todo quadro de produção (sócio-histórico) dado pede aos co-pesquisadores para criarem novas imagens, oriundas
e de entrar em combinações intensivas com outros con- dos encontros inesperados que aconteceram durante esses estudos
ceitos. O conceito vai variar, intensificar, combinar, classificatórios e transversais.

Revista Brasileira de Educação 139


Jacques Zanidê Gauthier

Pode ser um conceito inovador da prática educacio- Vemos aqui funcionar um conceito deleuziano,
nal, nunca pensado antes da pesquisa, ou mais humil- como centro de vibrações e variações, intensidade
demente, um conceito desterritorializado nas margens desterritorializada, que se combina em rede com ou-
dessa prática, mas que pode trazer amplas mudanças tros conceitos. Obviamente, esse resultado não é in-
na instituição, por causa de sua potência intensiva, ou dependente do projeto político-pedagógico da esco-
de variação, ou de ligação, ou de contaminação. Um la, que os alunos conhecem. Sem dúvida, os
único conceito criado e exposto com alegria vale um comentários dos jovens co-pesquisadores sobre suas
doutorado inteiro, e não anula as intensidades viven- produções metafóricas não são totalmente livres des-
ciadas com os atores da pesquisa. Pelo contrário, ele sa pressão institucional implícita.
potencializa essas intensidades, ao voar como uma Mas nunca podíamos prever, antes de realizar-
águia, ou um gavião, gritando seu ritornelo. mos essa pesquisa, ou seja, esse tipo de pesquisa
Darei somente um exemplo de tal conceito co- metaforizante, o grande peso das tradições africana e
criado pelo grupo-pesquisador de crianças da Escola indígena no modo de aprender das crianças, cuidan-
Comunitária Luiza Mahim em Salvador, em colabo- do do outro e procurando a sabedoria da vida. O que
ração com os facilitadores da referida pesquisa finan- teríamos encontrado se tivéssemos somente utilizado
ciada pelo CNPq, que pesquisaram as estruturas im- técnicas de entrevista, sem termos tentado revelar
plícitas do pensamento do grupo-pesquisador.10 parte do inconsciente institucional pela mediação da
É o conceito mesmo de aprendizagem, assim de- metaforização artística e sem termos analisado o pen-
finido: é um momento na busca da sabedoria da vida, samento do grupo-pesquisador como um todo, como
que acontece por um processo mais global de cuidar se esse grupo-sujeito de crianças fosse um filósofo
do outro, de sonhar com ele, em que a beleza, a sede individual?
de justiça e a solidariedade têm um papel determi- Provavelmente, resultados mais previsíveis, já
nante. Paz, proteção e firmeza, segurança e autolegi- presentes na consciência e na razão das pessoas.
timação são buscadas na conquista dos saberes, ape-
sar de as crianças desconfiarem das provas e das JACQUES ZANIDÊ GAUTHIER, doutor em ciências da
lógicas instituídas. Vivenciando processos de lento educação pela Universidade de Paris VIII, é professor de filoso-
amadurecimento, elas buscam a ancestralidade e suas fia no Lycée de Muret, da Académie de Toulouse. Dentre suas
raízes, criando ludicamente e pela arte sua própria publicações mais importantes, organizou GAUTHIER, Jacques,
potência-no-saber, diferente da potência do outro, CABRAL, Ivone, SANTOS, Iraci, TAVARES, Cláudia M. Pes-
como seres aprendentes. Experimentam com paixão quisa em enfermagem: novas metodologias aplicadas (Rio de
na busca do saber. Parasitando, até, outros saberes, as Janeiro: Guanabara-Koogan, 1998); GAUTHIER, Jacques,
crianças não ignoram a empatia e a intuição como FLEURI, Reinaldo M., GRANDO, Beleni S. Uma pesquisa so-
fontes de aprendizagem. Procurando o respeito mú- ciopoética: o índio, o negro e o branco no imaginário de pesqui-
tuo, elas alteram-se e conseguem, às vezes, traduzir sadores da área de educação (Florianópolis: Núcleo de Publica-
os saberes uns em outros, tentando iniciar sua entra- ções da UFSC, 2001); e publicou: GAUTHIER, Jacques e
da num espaço novo, o espaço do conhecimento, com GAUTHIER, Leliana de Sousa. Le rapport au savoir comparé
regras próprias. Sua paixão está dirigida contra a frag- d’élèves, de parents et d’enseignants d’écoles de périphérie à
mentação do saber e contra a exclusão, pelos saberes Salvador de Bahia (Brésil): étude sociopoétique. In: CHARLOT,
academicamente legítimos, da sabedoria da vida. Bernard (org.). Les jeunes et le savoir: perspectives internatio-
nales (Paris: Anthropos/Economica, 2001). Pesquisa em desen-
volvimento: A relação com o saber de alunos, professores e pais
10
Ver uma apresentação dessa pesquisa em Gauthier e de uma escola comunitária francesa (La Prairie, Toulouse). E-
Gauthier, 2001, p. 69-89. mail: socpoet@wanadoo.fr

140 Jan /Fev /Mar /Abr 2004 No 25


A questão da metáfora, da referência e do sentido em pesquisas qualitativas

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142 Jan /Fev /Mar /Abr 2004 No 25

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