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MÁRCIO JOSÉ SANTANA

DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO:


ÁFRICA, BRASIL E LITERATURA

SÃO PAULO
2017
MÁRCIO JOSÉ SANTANA

DIREITOS HUMANOS E DIVERSIDADE NA EDUCAÇÃO:


ÁFRICA, BRASIL E LITERATURA

Trabalho final apresentado à disciplina


de Educação Direitos Humanos e
Diversidade na Educação, como
exigência parcial para a obtenção do
curso de Programa Especial de
Formação Pedagógica R2 – Turma 105,
sob a supervisão do Professor Roberto
de Souza
Polo: PAULISTA

São Paulo
2017
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 4
2 DESENVOLVIMENTO .................................................................................... 5
2.1 HISTÓRIA DA ÁFRICA E LITERATURA ................................................. 5
2.2 A LITERATURA AFRICANA NO BRASIL ............................................... 8
2.3 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA .......................................... 9
2.4 PRESENÇA NEGRA E ESTEREÓTIPOS .............................................. 13
3 CONCLUSÃO ............................................................................................... 15
4 REFERÊNCIAS ............................................................................................. 17
1 INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como tema geral os direitos humanos na educação,


sendo, paras tanto, tratadas de modo mais específico questões relacionadas às
diferenças étnicas e diversidade cultural presentes na sociedade brasileira.
Essa discussão se mostra relevante quando se pensa nessas diferenças
a partir do ambiente escolar ou da educação propriamente dita.
Cabe à educação o papel de trabalhar as diferenças culturais entre as
diversas etnias que formam a sociedade brasileira numa riqueza ainda maior,
aparando as arestas da intolerância e dos preconceitos, entre outros aspectos
negativos que podem impedir enxergar essa riqueza cultural.
O estudo tem como base a literatura africana, em especial a literatura
infantil, e sua mescla com a literatura brasileira. Assim, pretende-se abordar a
introdução do ensino da história da África nas escolas, discutir a literatura
africana no Brasil, apresentar questões sobre a construção da identidade negra
na nossa sociedade; mostrar como os estereótipos sobre a presença negra no
Brasil são fatores de preconceitos e discriminação.
O estudo foi realizado a partir de pesquisa bibliográfica, que consiste,
conforme mostra Oliveira (2002), na leitura e releitura de autores e obras que
abordam o assunto estudado de modo a se compor um conjunto de
conhecimento mais atualizado e sintetizado, oferecendo assim a oportunidade
de chegar-se a maiores esclarecimentos sobre questões cujas respostas
podem apresentar dúvidas ou mesmo dificuldades de interpretação.
2 DESENVOLVIMENTO

2.1 HISTÓRIA DA ÁFRICA E LITERATURA

Por muitas décadas o ensino de História em nossas escolas limitou o


conhecimento sobre África apenas ao contexto da escravidão praticado no
Brasil pelos europeus.
Conforme Araújo (2005) esse contexto se limitava praticamente aos
indivíduos arrancados das suas raízes e trazidos para cá na condição de
escravos, muitas vezes nem sendo dada muita importância aos descendentes
desses indivíduos, isto é, os escravos nascidos aqui mesmo, da mesma forma
que pouco se valorizava todo o saber cultural carregado por esse povo.
Na verdade, conforme Araújo (2005), o saber cultural dos povos
africanos foi, e ainda continua sendo, muitas vezes diminuído, rejeitado,
ridicularizado e até mesmo proibido, sendo exemplos mais significativos suas
religiões e também suas músicas e danças, entre outros conhecimentos.
Para o autor, assim com para muitos que buscam conhecer a nossa
própria identidade cultural, havia necessidade de se fazer uma reparação moral
por parte do Estado, num primeiro momento, no sentido de resgatar o
verdadeiro valor do povo e da cultura africana no Brasil, de modo a estender
essa reparação a toda a sociedade, trazendo assim a igual do cidadão negro
como um direito. Isso feito. Ao menos na questão do direito, faltando, no
entanto, a reparação moral por parte da sociedade, o que vem acontecendo
por meio do da educação, do ensino.
No na de 2003 foram acrescentados à Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDBEN) dois artigos fundamentais no caminho da
reparação moral aos direitos de igualdade dos descendentes de africanos,
começando pela divulgação e valorização da cultura e da história de suas
gerações passadas. Tratam-se dos artigos 26-A, com seus dois incisos, e 79-B,
conforme mostrados abaixo:
Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino
médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e
cultura afro-brasileira e indígena.
§ 1º O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá
diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação
da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como
o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos
povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o
negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as
suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à
história do Brasil.
§ 2º Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos
povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o
currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de
literatura e histórias brasileiras. [...]
Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como
"Dia Nacional da Consciência Negra”.

Como pode ser observado, os referidos artigos não se referem apenas


aos povos africanos ou deles descendentes, pois abrange também a população
indígena.
No entanto, como tema deste trabalho, interessa destacar os aspetos
voltados para o fortalecimento da população afro-brasileira e do movimento
negro-africano no cenário político brasileiro, por meio da releitura da história e
da formação do país a partir do campo educacional. No dizer de Araújo (2005)
essa releitura, como expressa os dois artigos da LDBEN, perpassa ao mesmo
tempo pela necessidade de afastamento de uma perspectiva monocultural em
relação à formação nacional e pelo reconhecimento e valorização dos
diferentes grupos étnicos que constituem o Brasil.
Conforme Fonseca (2005) o ensino da história da África em nossas
escolas é uma nova perspectiva saber que abre novos horizontes no sentido de
conhecer a nós mesmos, isto é, a nossa própria sociedade, fragmentada de
valores, resultado da diversidade cultural da história do Brasil. Nossa história,
escrita principalmente por indígenas nativos, europeus colonizadores e
africanos escravizado, hoje se constitui numa diversidade cultural
extremamente complexo e, ao mesmo tempo, rica para a construção de uma
identidade nacional.
Conforme Fonseca (2005) não se pode pensar, como muitos desejam,
na construção de uma identidade nacional a partir apenas do ponto de vista
daqueles que aqui chegaram como invasores e colonizadores e que
impuseram sua economia, sua cultura e, principalmente, a sua própria história
como elemento formativo da sociedade brasileira. É certo que muitos entre nós
fazemos parte dessa cultura europeia aqui implantada, considerando a grande
quantidade de povos que para cá vieram desde o início da colonização e
principalmente a partir das imigrações iniciadas no século XIX, mas é certo
também que mesmo na condição de imigrantes ou de descendentes de
imigrantes, europeus ou não, cada um de nós carrega uma grande carga
cultural oriunda do continente africano, dos seus povos, das suas religiões, dos
seus costumes e tudo o mais.

(...) a condição inicialmente escrava dos primeiros (os negros) e as


consequências sócio históricas a ela vinculadas contribuíram para
acentuar a diferença que fundamenta a discriminação, mas o complexo
processo de miscigenação aqui efetivado teceu o véu que pretende
disfarçar o preconceito e que precisa ser permanentemente
denunciado (FONSECA, 2001, p. 101).

Ou seja, apesar dessa carga cultural africana que cada um de nós


carrega o que sempre foi visto em nossa sociedade e em nossas escolas foram
tentativas de diminuir a importância negra e valorizar a importância europeia,
uma excluindo a outra, quando, no dizer de Fonseca (2005) e também Araújo
(2005), a única saída realmente positiva para a construção da nossa identidade
cultural é a mescla de valores dessas culturas e também de outras que formam
a nossa cultura geral. Negar o valor da cultura africana entre nós é negar a
nossa própria cultura.
Conforme Braslavsky (2002) a abolição da escravatura, em 1888, depois
de mais de trezentos anos de prática em nosso país de modo algum significou
a liberdade para os negros e seus descendentes, visto que continuaram sendo
tratados como tal ou, então, passaram a ser vistos como párias da sociedade,
sem acesso a terras, direito a moradias dignas ou, ainda, a trabalhos
considerados dignificantes, pois esses eram reservados aos brancos. Na
verdade, conforme a autora, até mesmo nomes nacionais e grupos que antes
apoiavam a abolição da escravatura calaram suas vozes em relação à inserção
dos negros e mestiços na política do país.
2.2 A LITERATURA AFRICANA NO BRASIL

Conforme descreve Figueiredo (2010) existe uma polêmica discussão no


cenário literário brasileiro acerca das expressões “literatura negra”, “literatura
afro-brasileira”. O fato é que expressões desse tipo, mesmo amplamente
utilizadas no meio acadêmico, não chegam a ser suficientes para dirimir muitas
questões relacionadas com a literatura, a crítica, a educação.
Ainda Figueiredo (2010) diz que a expressão ‘literatura negra’, por
exemplo, pode estar ligada a movimentos surgidos nos Estados Unidos e no
Caribe, e que se espalharam por outros espaços incentivando um tipo de
literatura voltada para questões relacionadas à identidade e às culturas dos
povos africanos e afrodescendentes. Mormente, trata-se de uma literatura de
enfrentamento ao racismo e à discriminação racial presente nesses países,
sendo, portanto, uma literatura essencialmente politica, muito embora se valha
do reconhecimento e revalorização da herança cultural africana e da cultura
popular para expressar um novo modo de se ver e conceber o mundo, isto é,
um mundo sem desigualdades.
Figueiredo (2010) diz então que a questão da expressão mais acerta se
torna irrelevante diante do fato de que grande parte dos escritores negros ou
afrodescendentes não é conhecida dos leitores simplesmente porque seus
textos não fazem parte da rotina escolar. Essa é, sem dúvida, a questão maior.
De fato, conforme Fonseca (2006), a discussão sobre qual tipo de
expressão utilizar ainda mais a existência de um fosso separando dois tipos de
literatura quando o ideal é que elas coexistissem como uma coisa só, como
uma cultura só ou, em outras palavras, como uma verdadeira literatura
brasileira pincelada pelos mais diversos aspectos culturais dos vários povos
que compõem a nossa sociedade. Isto porque, enquanto houver distinção entre
literaturas haverá distinção entre povos.
Claro é que essa distinção existe e deve ser cultivada. Mesmo cultivo
deve ser pela soma das diferenças rumo a uma igualdade e não o contrário.
Nesse sentido, a utilização do termo literatura afro-brasileira pode ser
interessante na medida em que pode funcionar com elemento propiciador de
discussão das temáticas que envolvem o grupo étnico negro e também, como
destaque das produções destinadas ao negro ou escritas por este. Ou seja,
trata-se de uma distinção no sentido de evidenciar a importância da cultura afro
na formação de nossa sociedade e não de separar o que é uma coisa é o que
é outra.
Outra questão das mais importantes, conforme Figueiredo (2010), é que
o poder de escolha, isto é, o que vai ou não vai ser veiculado nas produções
literárias está nas mãos de grupos sociais privilegiados; os especialistas ou
críticos, isso quando não se considera o poder econômico envolvido na
questão.
Na verdade, o poder econômico é o fator de maior decisão, pois além de
colocar o lado financeiro acima de qualquer outra questão, trata-se de um
poder que está nas mãos de uma pequena elite com sua própria ideologia;
ideologia essa que funciona como filtro à literatura que chega às mãos do
grande público.
Por outro lado, ou, além dessa elite e associados a ela, estão os
especialistas ou críticos a decidirem o que é bom e o que não é para o público.
Ou seja, decidem sobre quais autores devem ser lidos e os textos que devem
fazer parte dos programas de literatura na escola.

2.3 A CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE NEGRA

De acordo com Cavaleiro (2001) a identidade negra ou, de fato, a


construção de identidade étnico-racial decorre da interação entre os indivíduos
dentro da sociedade, em todos os seus ambientes, tais como na escola, no
trabalho, em qualquer espaço social, enfim, a começar pela própria família,
pois a família é que formará a base de tudo o que o indivíduo vai ser na sua
vida adulta. Essa identidade se dá, portanto, não na forma como o indivíduo vê
a si mesmo, sobre suas características físicas e tudo o mais, mas, sim, pela
forma como ele é visto por seus pares ou, mais ainda, pela forma como ele se
sente percebido pelos demais.
Gomes (2007), ao tratar da construção de identidade destaca que a
identidade, para se constituir como realidade, pressupõe uma interação. A ideia
que um indivíduo faz de si mesmo, de seu “eu”, é intermediada pelo
reconhecimento obtido dos outros em decorrência de sua ação. Nenhuma
identidade é construída no isolamento. Ao contrário, é negociada durante a
vida toda por meio do diálogo, parcialmente exterior, parcialmente interior, com
os outros.

No Brasil, a construção da(s) identidade(s) negra(s) passa por


processos complexos e tensos. Essas identidades foram (e tem sido)
ressignificadas, historicamente, desde o processo da escravidão até as
formas sutis e explícitas de racismo, à construção da miscigenação
racial e cultural e às muitas formas de resistência negra num processo
– não menos tenso – de continuidade e recriação de referências
identitárias africanas (GOMES, 2007, p. 27).

Assim, pelo que se depreende de Cavaleiro (2001) Gomes (2007),


quando se pensa na literatura infantil ou na literatura em geral, a construção de
identidade étnico-racial da criança negra só se tornará efetiva mediante: em
primeiro lugar, a presença positiva do negro no livro; e em segundo lugar,
talvez até de modo mais importante, pelo acesso a esse livro, tanto por
crianças negras quanto por crianças não negras, em todos espaços sociais.
Em outras palavras, conforme acrescenta Gomes (2007), é preciso
primeiro que todos tenham acesso à literatura, e que nessa literatura todos
sejam abordados e tratados de forma igual, sem os estereótipos usualmente
destinados às etnias consideradas minorias ou inferiorizadas. O que está na
literatura é o que será reproduzido na sociedade, ou seja, a desconstrução dos
estereótipos e a construção de identidade de cada povo, de cada etnia terá
forçosamente de passar por uma literatura compromissada com essa
construção identitária e, também, acessível a todos.
Conforme Munanga (2004)

(...) a oralidade é uma forte referência para os povos africanos, a


palavra entre esses povos tem sinônimo de verdade absoluta. A
tradição oral africana é a grande escola da maioria dos povos africanos
e a cultura africana não é isolada da vida, é tão importante quanto a
tradição escrita (MUNANGA, 2004, p. 45).

Mas a oralidade é também a referência para o mundo infantil na nossa


sociedade, mesmo depois que a criança já aprendeu a ler e a escrever, com a
implicação de que a criança tende a repetir o que ouve dos adultos, de tal
forma que conforme mostram Munanga (2004) e Oliveira (2003), da mesma
forma que a fala das crianças negras atuais ainda reflita muito da oralidade
africana, ainda que antigos africanos trazidos para o Brasil não mais existam,
também a oralidade da criança branca reflete muito da sociedade colonial e
escravista, com todos os preconceitos e estereótipos nela inseridos. Ou seja,
universo cultural permanece como memória e tende a manter construções
feitas no passado. São essas construções que precisam ser desfeitas e não
reforçadas ainda mais por meio da literatura infantil.
No dizer de Escanfella (2007) na maior parte do Ocidente se tem a
palavra escrita como registro da história, sendo que, conforme acrescenta
Coelho (2005), a literatura é uma forma de palavra escrita ou, na verdade, uma
linguagem específica que expressa a experiência humana, sendo, por isso
mesmo, difícil de ser definida com exatidão. Mas se é difícil definir, não é difícil
perceber a sua força, isto é, a capacidade que tem a literatura de transformar o
meio social onde é aplicada.
Escanfella (2007) lembra também a importância da linguagem
iconográfica, presente em todas as sociedades, não importa o continente ou o
tempo considerado. Essa linguagem é profundamente significativa no que se
refere a cultuar e gravar na memória das pessoas os mais diversos conceitos.
Imagens são como raízes que se fincam e, muitas vezes, marcam mais do que
palavras, sendo importante, portanto, considerar também os efeitos das
imagens iconográficas apresentadas às crianças na literatura infantil. Por outro
lado, mesmo sem o apoio de texto narrativo esse tipo de livro de história sem
palavras apresenta excelentes estratégias para as crianças reconhecerem
seres e coisas que se misturam no mundo que as rodeia. Narrativas com pouca
ou nenhuma palavra é, na verdade, um processo lúdico de leitura que, na
mente infantil, une os dois mundos que ela precisa aprender a viver: o mundo
real-concreto à sua volta e o mundo da linguagem, no qual o real-concreto
precisa ser nomeado para existir definitivamente e reconhecido por todos.
De acordo com Santos (2010) é fato que a imagem exerce um papel
muito importante no tocante ao processo de interação da criança com a
literatura bem como com o sentimento de pertencimento da criança negra em
seu grupo étnico-racial. A criança precisa se ver nas imagens para poder
reconhecer-se, identificar-se e, como resultado, auto realizar-se dentro da
narrativa vivida.
As ilustrações dispostas num livro de literatura infantil são capazes de
contar a história tanto quanto ou até mais que a linguagem oral ou escrita. A
imagem seduz a criança, estimulando-a e desenvolvendo o seu imaginário. A
criança consegue facilmente relacionar os objetos e os fatos presentes nas
histórias com imagens com os objetos e os fatos do seu dia a dia, o que
significa dizer que as ilustrações que compõem a história mexem
profundamente com os esquemas cognitivos e psicológicos da criança,
levando-a a desenvolver novos conhecimentos de si mesma e do mundo à sua
volta.
Sobre a significação da ilustração nas obras de literatura infantil
Abramovich (1991) afirma que em relação à presença do negro na literatura
não é o caso, entretanto de criticar a qualidade técnica das ilustrações, mas,
sim, de se ficar atento aos estereótipos, estruturadores da visão das pessoas e
de sua forma de agir e de ser. O resultado visual até pode ser bonito ou feio,
mas não é isso o que realmente importa. O que importa são preconceitos
transmitidos em cada ilustração ou no conjunto da obra. De fato, os
preconceitos são passados e repassados muito mais por meio de imagens do
que por meio de palavras, isto porque as imagens exercem força muito maior
na nossa mente.
Assim, conforme enfatiza Cavalleiro (2003), é fundamental, portanto,
manter um olhar crítico ao analisar qualquer obra literária como um todo, dando
uma atenção especial às imagens principalmente, se esta obra for destinada
para crianças, já que será por meio destas que a criança irá de forma
autônoma, adentrar ao mundo da escrita.
É necessário compreender que o uso das imagens apresentadas nas
obras literárias, pode se for destituída de preconceitos, proporcionar ao aluno,
especialmente o negro, olhar a si próprio e ao outro como sujeito produtores e
reprodutores de cultura, dotados de valores e saberes.
2.4 PRESENÇA NEGRA E ESTEREÓTIPOS

Conforme Rosemberg (2005) no decorrer da história do negro no Brasil,


que apesar de sua contribuição para a construção deste país, como foi trazido
na condição de escravo e, portanto, sem direitos, o negro foi e continua sendo
julgado como inferior, sendo que alguns de seus traços fenotípicos
característicos servem de parâmetro para desqualificação. A própria cor é
comumente associada à sujeira, à tragédia, à maldade. Impera, portanto, a
ideologia da inferioridade do negro e a falta de valor ou positividade ao que lhe
é atribuído. As características fenotípicas, como a espessura dos lábios, o
formato do nariz e a textura capilar, nessa mentalidade brasileira cristalizada,
tornam-se marcas relevantes para a classificação das pessoas consideradas
bonitas ou feias.
Assim, quem possui “características caucasianas” – pele branca, nariz
afilado, lábios finos, cabelo liso – entra na categoria das pessoas bonitas e
quem possui “características negroides” (nariz largo, cabelo crespo, lábios
grossos) seria despojado de uma categorização positiva, não sendo
considerado belo. O preconceito para com as características físicas dos negros
é representado em obras diversas. O conceito de identidade é o produto dos
papéis sociais que o sujeito assume em suas relações sociais; sentimento que
uma pessoa tem de possuir continuidade, como distinguível de todas as outras.
É importante verificar, portanto, em narrativas da literatura infantil, como
se dá a sustentação ou omissão dos estereótipos ou rótulos atribuídos aos
negros, já que, as ideias pejorativas que associam o negro à feiura, à
desonestidade, aos trabalhos menos valorizados, dentre outras imagens
negativas, continuam sendo produzidas e veiculadas, definindo padrões
positivos incompatíveis para aqueles que têm pele escura no Brasil da
democracia racial. É possível verificar que essa construção social em torno do
negro perpassa a história do Brasil, sendo que o cabelo afro é um traço do
negro que foi muito estigmatizado. Ele serviu de critério para classificar os
escravos quanto ao trabalho que deveriam fazer. Assim, o cabelo foi um dos
principais definidores de um padrão estético em relação aos negros.
Conforme Rosemberg (2005) na sociedade brasileira, o cabelo crespo é
uma linguagem e, enquanto tal, ele comunica e informa sobre as relações
raciais. Ao mesmo tempo em que serve como símbolo de identidade e
pertencimento a um grupo, o sentido que é dado ao cabelo crespo estigmatiza-
o, inferiorizando-o.
Conforme Gomes (2007)

(...) o cabelo e a cor da pele são vistos como categorias que, em


alguns momentos, ajudam a definir quem é negro e quem é branco no
Brasil e, em outros, revelam a ambiguidade do racismo brasileiro e o
efeito encobridor dos conflitos raciais aqui existentes, os quais podem
ser considerados como consequências da não-integração do negro na
sociedade brasileira após a abolição e do mito da democracia racial.
(GOMES, 2007, p.138).

Deste modo, é importante analisar como o cabelo crespo do negro é


representado na literatura infantil, verificando se ele serve como elemento
constituinte da identidade negra ou como elemento de estigma, visto como algo
inferior e vergonhoso.
3 CONCLUSÃO

Ao fazer discutir as diferenças étnicas e a diversidade cultural e


considerações sobre o objetivo deste trabalho no sentido de buscar a melhor
compreensão sobre a história da presença da cultura africana na história e na
arte brasileira, um dos primeiros aspectos a ser relevado é que essa melhor
compreensão contribui também para a construção da nossa própria identidade
como nação.
Consideramo-nos como uma nação, mas não temos uma ideia exata do
quanto essa consideração é verdadeira. Isto porque, além de dispersos por um
território de proporções continentais, os povos que formam essa nação
possuem culturas muito diferentes entre si. Do Sul ao Norte, Nordeste, Centro
Oeste, não podemos dizer que somos de fato um povo único sob o aspecto
cultural.
E quando lembramos que cultura é também História, isto é, que ambas
fazem parte de um processo histórico construído e moldado ao longo do tempo
segundo condições e razões bem diversas, logo podemos compreender que
esse processo ou, na verdade, os processos de construção da nossa
sociedade nem sempre caminharam de forma idêntica no tempo e no espaço.
Assim, do gaúcho no Sul, ao sertanejo no Nordeste, do caipira no
Sudeste ao caboclo no Norte, passamos por tantos povos, tantas culturas e, na
verdade, por tantas histórias muitas vezes bem diferentes: os portugueses que
ocuparam originalmente o Brasil à custa da desestruturação nas nações
indígenas antes existentes; os europeus que vieram para o Sul do país em
buscas de novos ares, novas terra e novas oportunidades; e os povos africanos
trazidos à força para comporem uma massa escrava e gerar lucros para os
senhores do poder, com certeza não são povos com a mesma história, com o
mesmo processo, com as mesmas oportunidades.
Compreender tudo isso, no entanto, não é uma questão das mais
simples, pois há muito que ser compreendido. Mas também não é uma tarefa
das mais difíceis, principalmente quando se considera construir essa
compreensão oferecendo a cada um a oportunidade dele próprio construir o
seu conhecimento, isto é, levando até nossas escolas a discussão sobre o
assunto.
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