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Existem paradigmas na psicanalise? (Sobre um artigo de R. Bernardi) Renato Mezan As teorias de Freud, Klein ¢ Lacan se tornaram incomensuraveis, como entende Bernardi? fendmeno marginal no nosso Campo. Ao contririo, tornou-se um, tema que vem atraindo a atengio de diversos estudiosos, os quais, segundo suas perspectivas especificas, procuram abordé-lo evitando a saida mais facil: a de negar que o problema exista, jd que apenas uma tendéncia — a sua propria — seria ou a ou a verdadeira psicanilise, todas as demais, consistindo em daturpacdes ou desvios sem maior significado. Entre os ¢: critos cesses autores, os do psicanalista uruguaio Ricardo Bernardi se des cam como especialmente ricos em sugest0es ¢ argumentos; um de scus tex- tos, recentemente publicado no International Journal dof Psychoanaysis", pode nos servir como ponto de partida para refletir sobre a questo. existéncia de diferentes maneiras de praticar e de conceber a psi canilise detxou de ser, ji hi algum tempo, considerada como um Renato Mezan — psicanalista, membro do Depariamento de Peicandise do instiuto Se es Sapient. 3 TEXTOS 1, Bernardi propée utilizar o con- ceito de paradigma introduzido por Thomas S. Kuha para caracteri- zaras distintas formas de ver ¢ pen- sar 0 que nos € trazido pela pratica da psicandlise. © trabalho da inter- ptetacao do analista € condicionado or certas maneiras de escutar, de selecionar do material bruto o que Ihe parece relevante, de articular os resultados dessa selegio num qua- dro dos fenémenos mobilizacios ne- le e em seu paciente pela anilise. Es- a5 operagoes, argumenta Bernardi, sio orientadas pelo paradigma a0 qual adere o psicanalista. Segundo ele, existem pelo menos trés pers- pectivas tedricas, na psicandlise atual, que preenchem as condigoes necessarias para que se possa falar ‘em patadigmas: a5 de Freud, Klein € Lacan. ‘Cada uma delas se tornou tum sistema interconectado de hip6- tescs, internamente auto-regula- doras ¢ vinculadas a praticas psica- naliticas especificas. Assim, dispen- sam-se de qualquer obrigacao de se apolar em quaisquer outras teorias ou de delas derivar logicamente, no obstante a tendéncia de Lacan ou de Klein de fazer Freud dizer 0 que na verdade est sendo dito por Lacan ou por Klein,” ©) Dada esta situacdo, as teorias as sociadas a esses trés nomes se tor- naram incomensuraveis, isto €, clei- xaram de partilhar uma medida co- ‘mum, ainda que tal incomensurabi lidade possa ser parcial — relativa por exemplo a certos setores da teo- tia, mas nao a outros. N4o parece a Bemardi eo grupo de trabalho que anima em Montevidéu que se tra- te apenas de diferentes perspectivas, sobre um mesmo objeto (0 incons- ciente, por exemplo). Em favor des- Sd posicio, que acentua a descon- tinuidade © a ruptura entre as di- versas escolas, argumenta Bernardi que: 1) existem muitos termos comuns a esas tres escolas, porém os concei- tos designados por esses termos s80 dispares: instinto, inconsciente, re- pressio, ego, Edipo, etc 2) hi conceitos simplesmente intra- duziveis de uma teoria para outra significante, outro, nome do pai, po- sigio, continente, elementos alfa beta, etc Para ilustrar essa verificagao, o au- tor procede a uma espécie de expe [| Bernardi, as teorias de Freud, Klein e Lacan permitem falar em paradigma. rimentum erueis: toma um mesmo ‘material — 0 sonho do Homem dos Lobos — e compara as leituras dele realizadas por Freud (no caso publi- cado em 1918), por Melanie Klein {no capitulo 9 de A psicandlise da crianga) ¢ por Leclaire (num artigo dle 1958 sobre 0 episodio psicético vivido pelo paciente em 1923). Des sa comparagio resultam significati- vas divergencias quanto a0 que ca- da autor "ve" no material, nas hips {eses que constr6i para da conta da- quilo que viu, e nas formulacdes metapsicoldgicas enearregndas de validar as hip6teses enunciadas no plano da singularidale deste pacien- fe. Resumidamente, Freud se inte- ressa pela postura dos lobos, que abre um caminho para a interpreta- io, focalzando a sexualidade infan- tile a angista da castracao, Klcin se interessa pela angiistialigada as fan- tasias de levoragao projetadas no animal fobico; Leclaize se interessa pelo lugar de fato designado ao me- nino por sua mie ¢ pelo jogo dos significantes na estrucaracdo dos sir tomas ¢ do desejo do paciente. A partir dessa eonstatagio, Bernardi se Interroga sobre o porque dessis di- ferentes leituras; sta resposta € que cada uma delas esté determinada pe Jo. paradigma correspondente,. 0 qual prescreve 0 que deve ser visto como se deve compreender 0 que Se viv como indicio de que hé um fragmento esquecido na histéria, cu- ja recuperacto € 0 objetivo da and lise e que contém tanto o desejo se- sual reprimido quanto 0 motivo pa- Tua epressio (Freud), como o indi- cio de que fantasias sidicas foram projetadas no lobo e 0 tornaram ameacador, 0 objetivo da andlise “ sendo, neste caso, aproximar-se do mundo interno do paciente e fazé lo vivenciar as emogdes basicas cu- ja inacessibilidade organiza suas fan tasias inconscientes (Klein); como 0 indicio de que 0 paciente vive nu- ma relacio imaginaria com 0s pais, que s6 pode ser rompida pelo aces- so ao simbélico e pela travessia da problemitica da castragao (Lacan). Esta comparagio conduz Bernar- di parte final de seu artigo, cujos trechos principais transcrevo a se ‘ui, f. que precisaremos discut-los com culdado: “alguns dos muitos desenootvimen- tos posteriores ao trabalbo de Preid se estabeleceram como siste- mas tedricos alternativos. Tanto as teorias de Freud quanto as ullerio- res sdo ao mesmo tempo de natu- reza parcial e total: parcial, na me- dida em que cada teoria parte de uma dada perspectiva; total, por- que cada wma delas reformula to- do 0 campo psicanaittico ¢ tem uma grande capacidade de ex- pansdo.(..) No focante d unidade e a divers: dade do nosso campo, procuramos ‘mostrar que esses diferentes para- digmas sao irreduttveis uns aos ow- tros, pois nao hd acordo entre eles nem quanto as premissas gerais (que nao partitbamn), nem quanto 4 experiéncia (que nao veem do ‘mesmo modo). (..) Tal situacdo de incomensurabitida- de coloca questées interessantes, embora também preocupantes. De- vemos considerar cada passo adiante como um desenvolvimento das idéias de Freud? O estudio apro- Jundado de perspectiva freudiana realmente ajuda 0 andlista laca- niano ow 0 kleiniano a desenvotver ‘seu proprio ponto de vista? Qual & 0 lugar e a funcao das origens?(...) Sord que isto significa que a unida- de da psicandlise esté perdida? Penso que nao. Nossa unidade re side no campo partithado de pro- blemas e no nas respostas que da mos a eles. Mas permanece 0 pro- blema da verdade. Kubn 0 coloca bastante bem, quando diz que so podemos falar de verdade ou fais: dade no referencial de uma feoria ufos pressupostos sao aceitos. No contexto da discussao intertesrica, 86 podemos falar de preferencias ou de critérios mais ou menos pro- dutivos, profundos, etc.” (p. 353-354), Bem, até aqui, apresentei o que me parece essencial no artigo de Bernardi, £ evidente que 0 leltor que puder obter o artigo original te- rimelhores condiges de avaliar tan- to a fdelidade deste resumo quan- to. pertinencia dos ‘comentarios Aue fareia seguir, Estes comentarios Serio de dots tipos: em primeira hi fat, examinarel algunas alirmacoes de Bernardi que me parecem part cularmente problemiticas; em se gundo, zetomando o livzo de Tho- mas Kuhn ao qual remete como pa rho de fund da sua discussto (4 Bs- trutura das Revolugtes Cientificas), procurare’ discutir a validade da pr6pria nogao de paradigma em sua aplicagao a paicandlise 2. A idéia de comparar 0 mesmo material sob varios pontos de vista s0a a principio interessante. O caso do Homem dos Lobos parece prestar-se bem a este trabalho, em parte porque € conhecido de todos em parte porque existem comen- trios sobre ele de todas as perspec tivas analiticas. Além disso, a inter- pretagio dos sonhos — atividade comum na andlise — mobiliza ope- rages para as quais € requisitada a teoria do funcionamento psiquico em seu conjunto, Dada esta circuns- tancia, examinar como 0s lobos sio vistos”” — ou melhor, construfdos — por cada intérprete, e de que mo- do os pressupostos te6ricos deter- minam a modalidade desta constru- 20, € um ponto de partida sugesti Yo. Contudo, 0 tratamento dess questi por Berardi nfo € equiva- lente nos trés casos que se propo a estudar. O raciocinio de Freud é seguido passo a passo e de modo ex- tremamente minucioso, reportan- do-se sempre ao estado da teoria no momento em que o caso € redigido. De Melanie Klein, transcreve-se um curto pardgrafo do capstulo IX da.A Pricandlise da Crianga, no qual cla afirma que 0 medo do menino de ser devorado pelo lobo nao é um substituto regressivo da angiistia da

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