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Material Teórico
As Funções Sociais da Religião
Revisão Textual:
Profa. Ms. Alessandra Fabiana Cavalcanti
As Funções Sociais da Religião
• Introdução
• Sociologia da Religião
• Funções Sociais da Religião
• Formas de Organização Social e Modelos de Liderança na Religião
OBJETIVO DE APRENDIZADO
·· Aprender a pensar a religião como fenômeno humano condicionado pelas
circunstâncias históricas e socioculturais;
·· Conhecer a religião pelo viés da sociologia, em especial da sociologia
da religião;
·· Reconhecer as diferentes correntes e tendências sociológicas na abordagem
do fenômeno religioso e o modo como cada uma entende as funções
sociais, que cabe à religião no conjunto da sociedade.
·· Favorecer uma abordagem crítica da religião sob óticas distintas na forma
de estabelecer a relação entre religião, indivíduo e sociedade.
ORIENTAÇÕES
Você está começando uma nova unidade de ensino cujo tema central é a dimensão
sociológica da religião. Trata-se de uma unidade de caráter profundamente teórico,
mas ao mesmo tempo aponta para um alto grau de referência ao que diz respeito à
vida em seu nível mais prático e comportamental.
Leia com atenção o texto teórico e observe as diferentes formas de se compreender a
sociedade, e veja o modo como se concebe a realidade social e como aquela interfere
no modo como vemos, concebemos e praticamos a religião. O contrário também é ver-
dadeiro. O modo como praticamos e como concebemos a religião interfere no modo
como vemos a sociedade e nos relacionamos socialmente com ela.
Religião e sociedade estão, definitivamente, juntas desde o nascimento de ambas,
implicadas e comprometidas.
O objetivo mais importante dessa unidade é mostrar que a religião é um fenômeno
humano, e como tal, é social e historicamente produzida. Isto significa que a fé reli-
giosa é sempre produto histórico de relações sociais que interferem no modo como
nos relacionamos com as outras dimensões da vida, seja no trabalho, na escola, na
arte, no lazer, no amor e no modo como pautamos a hierarquia de nossos valores.
Por isso, fique atento aos autores e busque informações complementares a respeito de-
les. Nesta unidade procuramos focar apenas três deles: Durkheim, Marx e Weber. São
pensadores consideramos clássicos na produção do conhecimento sobre a sociedade. E
o mais importante é que eles, ao se dedicarem ao estudo da realidade social, acabaram
por razões desse primeiro interesse, tendo que investigar a natureza do fenômeno que
está na origem da sociedade e continua presente em todas elas: a religião.
UNIDADE As Funções Sociais da Religião
Contextualização
Você já deve ter ouvido alguém dizer: “Se Deus é o mesmo por que há tantas re-
ligiões e tantas igrejas”? O pressuposto dessa opinião é a concepção da diversidade
e do pluralismo religioso, no mínimo, como coisas estranhas e equivocadas. O fato
é que o mundo religioso tem se diversificado cada vez mais em virtude do acesso à
informação e entre outras coisas, ao clima de maior liberdade que as pessoas e as
famílias adotaram para escolher o rumo religioso que quer dar a si mesmas e a seus
filhos, ainda que com muita resistência das gerações anteriores. O fenômeno se deve
ao fato de que a religião como fenômeno humano foi aos poucos sendo afastada do
espaço público. A lógica da produtividade e do consumo na sociedade laica da mo-
dernidade foi transformando a religião em assunto de interesse privado e de objeto
de escolha meramente subjetiva. Acontece que a dimensão religiosa não parece obe-
decer a essa tendência, principalmente quando razões religiosas são alegadas para
afirmar preconceitos, disputas e guerras entre grupos e povos. Do ponto de vista
positivo, a religião ou a motivação religiosa, também, tem ocupado espaços públicos
para a defesa de certos direitos e a afirmação de determinados valores e práticas.
Neste sentido, faz toda diferença estudar a religião em sua dimensão social
como é a proposta dessa unidade, sobretudo para compreender melhor o fenô-
meno das transformações que ocorrem nos dois níveis, tanto na sociedade quan-
to no modo como a religião, ou, neste caso, as religiões, se adaptam ou resistem
às mudanças em curso.
1 OLIVEIRA, Manfredo Araújo de. A religião na sociedade urbana e pluralista. São Paulo: Paulus, 2013. 366p.
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Introdução
A presente unidade pretende apresentar a religião como fenômeno humano
condicionado pela sociedade e ao mesmo tempo como dimensão a contribuir com
os mais variados aspectos do tecido social. Trata-se de analisar as funções sociais
da religião. O enfoque é predominantemente marcado pelas pesquisas e pelos
resultados das discussões teóricas da sociologia da religião. Sem desconsiderar
os aspectos subjetivos das experiências religiosas, o que se quer agora é refletir
com um olhar filosófico, as interfaces objetivamente sociais da religião em suas
implicações históricas, culturais, econômicas e políticas.
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UNIDADE As Funções Sociais da Religião
Sociologia da Religião
A sociologia da religião é uma disciplina da ciência sociológica. Importa em
primeiro lugar definir o que é sociologia, apontar seu objeto de estudo, os princi-
pais temas, problemas e correntes teóricas de abordagem relacionados às ques-
tões sociológicas.
Sociologia
Segundo Reinaldo Dias, sociologia é:
[...] o estudo sistemático do comportamento social, dos grupos e das
interações humanas. Preocupa-se, particularmente, em explicar como
as atitudes e os comportamentos das pessoas são influenciados pela
sociedade mais geral e pelos diferentes grupos humanos em particular,
e, em uma perspectiva mais ampla, qual é a dinâmica social que mantém
as sociedades estáveis ou provoca a mudança social (DIAS, 2010, p. 6).
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A sociologia é, portanto, o estudo das relações sociais que supõe abordagens
teóricas diversas, algumas com o foco na forma como as sociedades se organizam
e mantêm a coesão entre indivíduos, grupos e instituições, outras com o olhar
voltado para os conflitos estruturais e aquelas que priorizam a relação de
mútua influência entre perspectivas e motivações individuais e as condições e
determinantes socioculturais. Émile Durkheim (1858-1917) representa a primeira
visão teórica que se convencionou chamar de sociologia funcionalista. A segunda,
centrada na ideia de conflito, tem em Karl Marx (1818-1883) o expoente da
sociologia de caráter materialista voltada para a mudança social. A terceira, por
sua vez, tem como representante maior o sociológico Max Weber (1864-1920),
que estabeleceu as bases para uma sociologia compreensiva da ação social, cuja
ênfase recai sobre os agentes sociais em sua interação com as estruturas e não as
estruturas como condição determinante da ação social, como entenderam tanto
Durkheim quanto Marx.
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UNIDADE As Funções Sociais da Religião
Sociologia da Religião
A Sociologia da Religião é a disciplina que visa a estudar a religião sob a ótica
de suas funções sociais, isto é, dos papéis que a religião desenvolve na dinâmica
das relações sociais e do lugar que ocupa na totalidade das estruturas da sociedade.
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Funções Sociais da Religião
Como vimos anteriormente, destacamos três grandes tendências teóricas em
sociologia. Neste momento vamos demonstrar como cada uma delas propõe e
concebe o papel fundamental que cabe à religião na dinâmica da vida social. Neste
tópico analisaremos as concepções de Durkheim e Marx. No tópico seguinte, como
conclusão, serão demonstradas as concepções de Weber sobre o assunto.
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UNIDADE As Funções Sociais da Religião
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sociologia de Marx1, mas a sua filosofia e, consequentemente, como ele aplica esse
pensamento para entender o fenômeno religioso: 1º) o materialismo histórico; 2º)
a dialética; 3º) o modo de produção; 4º) as classes sociais e a luta de classes; 5º) a
ideologia. Em seguida apresentaremos sua visão crítica da religião.
O Materialismo Histórico
O mundo material é a base e o elemento originário de tudo o que existe. Materia-
lismo histórico é a concepção da história como fruto da evolução dos processos de
transformação tecnológica produzidos pelo ser humano, quando este, por sua vez, se
vê confrontado com necessidades materiais de manutenção e reprodução de sua vida
biológica. A máxima do materialismo histórico se expressa com a célebre sentença
da obra que ele escreveu com Engels: “Não é a consciência que determina a vida,
mas a vida que determina a consciência” (MARX & ENGELS, 1993, p. 37).
A Dialética
A dialética é um método de análise da evolução contraditória dos fenômenos
sociais. Marx é herdeiro da dialética de Hegel (1770-1831), mas a concebe
de modo diferente, tornando-a, sobretudo, um método cuja base não é mais o
conflito das ideias, mas sim as necessidades materiais. A dialética de Marx tem
origem na realidade material e socialmente nos conflitos de ordem econômica.
Não há uma evolução e um desenvolvimento linear e harmonioso da sociedade;
há sim um conflito perpétuo pelo controle e usufruto dos bens materiais como
condição da satisfação das necessidades de manutenção e de reprodução da vida
de toda a sociedade.
O Modo de Produção
O modo de produção é um modelo teórico de interpretação da sociedade. Trata-
se de uma categoria que identifica o modo como uma sociedade produz e reproduz
sua vida, a partir dos elementos mais importantes que caracterizam a dinâmica da
produção material, segundo as relações sociais que determinam economicamente
a configuração social. Não é apenas uma categoria econômica, mas a partir da
economia, o modo de produção é o modo como a sociedade, num determinado
momento de sua história, organiza a totalidade de sua vida, segundo uma forma
específica de dividir o trabalho social, de estabelecer os critérios de apropriação, de
produção, de circulação e de consumo dos bens e meios de produção.
Para Marx, há uma evolução dos modos de produção, segundo o avanço da
tecnologia produtiva: o modo de produção coletivista é típico de sociedades primitivas
coletoras que vivem de caça e pesca, por exemplo. Mas ao longo da história, temos
modos de produção tributário, escravagista, feudal e capitalista. Marx procurava
classificar cada modo, conforme as diferenças na base da organização social das
forças produtivas. Daí que o modo de produção em Marx é a categoria chave para
a compreensão da realidade social.
1 Uma apresentação mais detalhada desses conceitos foi publicada no livro A Bíblia e o desafio da interpretação
sociológica (LARA, 2009, p. 61-63).
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UNIDADE As Funções Sociais da Religião
A Ideologia
A ideologia em Marx é um conceito que tem um vínculo com os interesses na
esfera material, econômica e de classes. Ideologia é o conjunto de ideias, símbolos
e representações da realidade, seja ciência, arte, filosofia ou religião que produz
uma visão de mundo, valores, princípios e objetivos que governam atitudes e
práticas humanas de modo a reproduzir a ordem do sistema social vigente, a partir
da ótica daqueles que dominam e controlam a organização da sociedade. As ideias
dominantes são ideologias dominantes, à medida que visam mostrar apenas a
realidade que convém no intuito ou de negar e de camuflar os conflitos reais, ou, de
esconder a que de fato eles se devem, a saber, às desigualdades de classe oriundas
da apropriação privada dos meios de produção, causadora da injusta divisão social
do trabalho (MARX & ENGELS, 1993, p. 35-37;72).
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Essa citação deve ser compreendida, no quadro mais amplo da concepção
que Marx atribuía à religião, não como revelação divina, mas como criação
humana determinada pelas condições e pelas necessidades humanas histórica e
socialmente situadas.
A religião não faz o homem, mas, ao contrário, o homem faz a religião.
[...] A religião é a teoria geral deste mundo, seu compêndio enciclopédico,
sua lógica popular, sua dignidade espiritualista, seu entusiasmo, sua
sanção moral, seu complemento solene, sua razão geral de consolo e de
justificação (MARX, 1991, p. 106).
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UNIDADE As Funções Sociais da Religião
sociedade. Neste trabalho, o autor demonstra que não são os fatores econômicos,
como pensava Marx, as causas fundadoras do fenômeno social. Na concepção
weberiana, há uma série complexa de fatores na gênese das estruturas sociais:
fatos, ideias, valores e motivações humanas. A sociedade não pode ser entendida
fora das ações individuais motivadas, por exemplo, por fatores de ordem ética
e de natureza religiosa. O espírito do capitalismo em sua relação com a ética
protestante é a tese fundamental desse modelo interpretativo de Weber. Sua
análise demonstrou como a busca do sucesso material, como sinal do favor e
da eleição divina propagada pelo calvinismo em sociedades predominantemente
protestantes, de fato favoreceu o desenvolvimento do capitalismo que partilhava
do mesmo espírito de progresso material.
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Teoria Weberiana do Processo Histórico de Organização
Social da Religião2
Abaixo segue um esquema simplificado de Max Weber com as características
que identificam os diferentes momentos pelos quais passam de modo variável,
os movimentos religiosos no processo de constituição e de consolidação de sua
organização social.
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UNIDADE As Funções Sociais da Religião
Há três tipos puros de liderança e de poder, segundo Weber, que são aceitos
socialmente. Tipos puros significam construção racional com a finalidade meto-
dológica de proporcionar uma compreensão da realidade concreta, nem sempre
pura, pois quase sempre em situações históricas determinadas estão misturadas.
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• 1º) carismático: legitimidade fundada sob um tipo de liderança reconhecida
por seus dons (carismas) extraordinários de santidade, heroísmo, cura e outras
capacidades e fundamentalmente como portador (mensageiro) de mensagem
de revelação.
• 2º) tradicional: legitimidade fundada sob um tipo de liderança reconhecida
pela crença na santidade e pelo poder dado às tradições do passado,
transmitidas através de instituições e de líderes autorizados pela história legada
da comunidade, grupo ou sociedade; são líderes, geralmente, anciãos ou anciãs
encarregados de preservar a memória, a unidade e a transmissão do saber que
recebem de seus antecessores.
• 3º) racional: legitimidade fundada na objetividade e na legalidade das
ordenações, leis e sistemas jurídicos estatuídos, marcados, ao menos em tese,
pela impessoalidade, isonomia e universalidade, bem como pelo critério de
profissionalismo e de competência.
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UNIDADE As Funções Sociais da Religião
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Filmes
Brincando nos campos do Senhor
Direção: Héctor Babenco. 1991, EUA. Um grupo de missionários evangélicos vai para
selva amazônica tentar “pacificar” a tribo dos Niaruna, um grupo pequeno, porém,
impenetrável de índios que habitam a selva amazônica. Enquanto os religiosos buscam
fazer com que os indígenas “aceitem Jesus”, poderosos estão atrás das terras para
explorar o ouro presente na área. Trata-se de um filme que ilustra de maneira vigorosa
a relação conflituosa entre religião, sociedade e cultura.
Filmes
Batismo de Sangue
Direção: Helvécio Ratton. O filme é uma adaptação do livro homônimo de Frei Betto,
vencedor do prêmio Jabuti. Ganhou os prêmios de Melhor Diretor e Melhor Fotografia
no Festival de Brasília. 110 min. Observe como as relações entre sociedade e religião
estão expostas de modo contundente.
Leitura
Religião e Política, Sim. Igreja e Estado, Não
Para perceber mais especificamente as implicações entre religião e sociedade segundo
a dimensão da presença da igreja no cenário político, leia o texto de Paul Freston
(Religião e Política, Sim. Igreja e Estado, Não. Os evangélicos e a participação
política. Viçosa/MG: Editora Ultimato, 2006, 200p.) sobre as relações entre Religião
e Política, a partir da participação dos evangélicos em cenários históricos recentes da
vida política nacional.
https://goo.gl/lvfNn3
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Referências
COSTA, Maria Cristina Castilho. Sociologia. Introdução à ciência da sociedade.
São Paulo: Moderna, 1987. 248p.
GUIMARÃES ROSA, João. Grande Sertão: Veredas. 25 ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1986.
________ & ENGELS, Friedrich. Ideologia Alemã. 9. ed. São Paulo: Hucitec,
1993. 138p.
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