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Material Teórico
O Problema de Deus
Revisão Textual:
Profa. Ms. Alessandra Fabiana Cavalcanti
O Problema de Deus
• Introdução
• Atitudes preliminares para o estudo do problema de deus, segundo a
filosofia da religião.
• Quem, o que, como é deus?
• Argumentos filosóficos em favor da existência de deus
• Argumentos Filosóficos Contra a Existência de Deus
OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Apresentar a variedade de posições humanas e filosóficas que existem
em relação à crença em Deus.
· Aprender a distinguir conceitos filosóficos sobre crenças e descrenças
em Deus, deuses e outros objetos da crença religiosa.
· Reconhecer argumentos clássicos da filosofia que discutem a
possibilidade ou não da existência de Deus.
ORIENTAÇÕES
Atenção!
Contextualização
Leia trechos do texto do padre e teólogo Anselmo Borges*, no site da Global Midia Group.
Explor
A unidade sobre o problema de Deus é teórica, mas com certeza, diz respeito
a muitos conflitos que estamos vivendo em nossos dias, seja entre judeus e
palestinos, mulçumanos e cristãos, crentes e ateus. Claro que o conflito religioso,
muitas vezes é só um ingrediente cultural que potencializa a violência que já
existe por motivos que antecedem e independem da religião: desigualdade social,
conflitos de terra, escassez de recursos, busca pela afirmação de identidade
cultural e lutas históricas milenares, cujos motivos já se perderam no tempo e
continuam a gerar ódio e vingança.
Na base das religiões está a experiência do Sagrado, de Deus, de quem se
espera salvação para todos. Mas, depois, é o que se sabe: há uma brutal
“história criminosa” das religiões, devendo, porém, acrescentar-se que
essa história se estende ao ateísmo, que cai no mesmo paradoxo: uma
das suas razões é a intolerância, mas, depois, foi também o horror - basta
citar o nazismo e o comunismo e o seu ateísmo. E isto dá o que pensar.
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começou por ser pacífico e violentamente perseguido. As coisas mudaram
desde o século IV, com Constantino, e, sobretudo a partir de 380, ao
tornar-se religião de Estado, numa união religioso-política. De religião
perseguida, começou a tornar-se perseguidora e implacável para com os
infiéis não cristãos e os cristãos heréticos. Santo Agostinho já fala em
“perseguição justa”. Depois, são as cruzadas, fazendo o papa Urbano II
apelo à guerra santa: “Deus o quer.” E a “santa inquisição”. Santo Tomás
de Aquino escreveu: “Os hereges merecem ser suprimidos do mundo pela
morte.” E o ódio aos judeus. E a brutalidade da conquista da América e
do tráfico de escravos. O Alcorão prega a guerra santa contra os infiéis:
“Profeta, combate contra os infiéis e sê duro com eles” (9, 73); “Infundirei
o terror nos corações dos que não acreditam. Cortai-lhes o pescoço” (8,
12). E Lenoir lembra que Maomé foi ele próprio “ao mesmo tempo um
chefe espiritual e político, e um guerreiro”. Participou em 60 batalhas. A
história mostra que também o hinduísmo e o budismo não estão imunes à
violência, por vezes brutal, exercida até por monges.
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UNIDADE O Problema de Deus
Introdução
Deus é o tema talvez mais polêmico de todos os tempos. O que você acha?
Não me parece haver consenso a esse respeito. Observe o mundo a sua volta e
veja como profetas, magos, sacerdotes, pais e mães de santo, gurus, mulás ou
Ulemás, chefes indígenas, sábios, pastores, rabinos, padres ou qualquer espécie de
autoridade religiosa entendem Deus. Há mais divergências que convergências, não
é mesmo?
Mulá: Mulá, termo do islamismo xiita vem do árabe mawla, “senhor chefe” e surgiu no
Explor
Irã, enquanto Ulemá é termo da tradição islâmica sunita e significa “os que possuem o
conhecimento”. São termos usados habitualmente para nomear autoridades religiosas
reconhecidas como professores, teólogos e conhecedores dos textos sagrados do Islã.
Há religiões cuja essência não é Deus, mas deuses. Outras em que a noção de
Deus, por incrível que pareça não existe, pelo menos do modo como a sociedade
ocidental a entende. Você deve estar se perguntando, religião sem Deus não é
um contrassenso? Não necessariamente. O budismo, por exemplo, de Sidartha
Gautama, o primeiro grande Buda (iluminado), na Índia do século VI a.C., ao
propor sua doutrina, não contemplou a ideia de Deus, mas apenas a do ser humano
em seu caminho de iluminação para superar a dor e o sofrimento. Mais tarde, e,
sobretudo, hoje, no contato com outras religiões e culturas, o budismo tornou-se
uma religião de inúmeras ramificações, tradições e tendências, incluindo a noção
de Deus em boa parte delas.
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Embora cada um de nós seja herdeiro de uma tradição cultural que provavelmen-
te tem uma opinião bem alicerçada a respeito do que Deus é, se ele existe e qual
é a forma ou a modalidade de sua existência; é preciso reconhecer que nenhuma
clareza religiosa ou filosófica elimina os mistérios que permanecem em torno dessa
questão. Por isso, vale à pena assumir e observar alguns cuidados antes de conti-
nuar a leitura dessa unidade.
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De modo algum, você precisa ficar passivo a tudo o que ler. O nosso objetivo é
que você amplie o conhecimento que nos foi legado pela filosofia em relação a esse
tema e saiba confrontá-lo com sua experiência de vida. O resultado não precisa ser
a concordância, nem a discordância, mas o amadurecimento de sua própria visão
sobre o assunto, aprendendo a dialogar com autores, conceitos e noções diversas
que existem sobre Deus.
Teísta: pessoa que manifesta a convicção de que Deus (ou deuses) existe(m).
Agnóstico: pessoa que afirma não conhecer (“a – gnose” = não conhecimento;
a – gnóstico = aquele que não conhece) Deus. Admite apenas que se ele existe, ele
não é acessível ao nosso conhecimento. O agnóstico não é necessariamente ateu.
O ateu afirma categoricamente que Deus não existe, enquanto o agnóstico diz não
saber nada sobre esse assunto porque, diz ele, é impossível saber algo com certeza
a esse respeito.
Sem religião: pessoa que afirma não pertencer ou professar uma religião,
mas não é necessariamente um descrente em Deus, ateu ou agnóstico. O “sem
religião”, geralmente, é uma pessoa que faz sua própria síntese religiosa, adota
alguns ingredientes da fé de sua cultura, mas não se sente vinculado ou identificado
a uma determinada instituição religiosa. Isso significa que todo ateu e agnóstico é
“sem religião”, mas nem todo “sem religião” é ateu ou agnóstico.
Deísta: pessoa que entende Deus como entidade presente ou que sustenta a
natureza cósmica e suas leis, mas não como sujeito, isto é, não como pessoa ou
entidade de livre vontade.
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Totemismo: crença religiosa que atribui força sagrada em coisas, animais e
vegetais e que são a referência identitária de um clã, tribo ou comunidade étnica.
Panenteísmo: crença que manifesta a convicção de que Deus está em tudo, mas
se distingue de tudo.
A terceira atitude é a da humildade socrática. Não há como saber tudo.
Certezas no campo da filosofia, assim como na esfera da ciência estão no plano
do provisório, não do definitivo. Independentemente de sua opção de fé, de
seu ateísmo, agnosticismo, ou de sua postura não religiosa; o tema “Deus” é
extremamente controverso, complexo e relevante. Uma dose de humildade sincera
sobre os limites de nosso saber sobre o assunto pode evitar tendências ao fanatismo
e ao dogmatismo intolerante.
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À Sócrates é atribuída a célebre sentença: “Tudo o que sei é que nada sei”.
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Outro caminho possível é investigar primeiro se Deus existe. O problema aqui é
outro e talvez ainda mais perigoso, pois haverá sempre a questão que antecede a
essa investigação: afinal, quem, ou, o que é isto (ou este) a quem se pressupõe ser
Deus? A definição do que e de quem é, parece preceder necessariamente ao existir.
Pois sem definir o que procuro, não posso sequer procurar e nem mesmo discutir
se existe. Ignorar essa precedência é admitir o conceito sem declinar criticamente
sobre os atributos que o identificam. Sendo assim, optamos por começar a refletir
primeiro o que geralmente se entende por Deus (e aqui se toma basicamente o
imaginário mais conhecido entre nós e que se constitui como legado das tradições
religiosas judaica, cristã e islâmica) para depois analisar as posições de afirmação e
de negação desse conceito.
Em filosofia da religião o que está em jogo é o que se pode pensar sobre Deus.
Trata-se de analisar imaginários, avaliar conceitos, discutir ideias e teorias a respeito
de Deus. O conteúdo desse imaginário, na maioria dos casos, advém da experiência
e dos credos religiosos, de suas tradições orais e de seus textos sagrados, mas a
elaboração conceitual é problematizada pela filosofia. Analisemos então alguns
atributos bem conhecidos e tradicionais de Deus que podem ser encontrados de
modo variável nas proclamações de fé religiosa, nos manuais de teologia, mas
também na concepção de inúmeros filósofos. Por razões do espaço restrito de
nosso texto, sublinhamos apenas dez entre tantas características que podem ser
atribuídas à identidade de Deus.
Para quem quiser conferir e completar essa lista de atributos de Deus, qualquer bibliografia
Explor
de caráter teológico na área de teologia sistemática deve ajudar. Lembramos que haverá
variações conforme a fé teológica declarada. Abaixo sugerimos quatros fontes de consulta
online a esse respeito para quatro tradições religiosas. Sugerimos também a obra de Filosofia
da Religião de WILKINSON e CAMPBELL (2014, p. 96-108) que traz uma lista comentada de
atributos de Deus.
Tradição cristã evangélica: https://goo.gl/Lpz1zd
Tradição judaica: https://goo.gl/cpD7TZ
1. Criador
2. Onipotente
3. Onisciente
4. Onipresente
5. Infinito e Eterno
6. Imutável
7. Perfeito
8. Bom
9. Justo
10. Amoroso
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Deus criador (1). A ideia de um Deus criador perpassa muitas religiões, mas
gera enormes conflitos principalmente com a ciência. A possibilidade de haver um
ser criador não é de si um problema. A questão é como se entende a criação. Os
relatos míticos que explicam o modo como Deus cria (como no relato da criação
de Gênesis 1-2), se lidos literalmente, contrastam com a mentalidade científica
moderna fundamentalmente marcada pelo evolucionismo e outras formas de
conceber a natureza em geral. Muitos teólogos, filósofos e cientistas já levantaram
compatibilização dos relatos sobre a criação do mundo e as diferentes hipóteses
científicas sobre as origens do universo, mas a grande maioria dos fiéis religiosos
desconhece essas teses e continuam se posicionando contra ou a favor da ciência,
tendo que optar pela fé ou pela razão científica.
teoria de que a criação não nega a evolução, uma vez que para ele o Deus criador não cria o
mundo pronto e acabado, nem espécies prontas e definitivas. A criação divina é processual
e, portanto, evolutiva.
Imaginar Deus como ser onipotente (2) (com o poder total e absoluto sobre
todas as coisas), onisciente (3) (com saber absoluto e universal), onipresente (4)
(sempre presente em tudo e em todos), infinito (5) (porque não tem começo nem
fim) e eterno (5) (porque está fora e além dos limites do tempo) implica uma série
de problemas para quem vive nos limites do tempo presente e da finitude histórica.
Como conciliar esses atributos de Deus com o livre arbítrio humano? Deus seria
um ser alheio ao mundo e à trajetória histórica do ser humano como concebeu
Aristóteles? Somos órfãos de um Deus criador que se retirou da criação? Que
onipotência (2), amor (10), bondade (8) e justiça (9) divinas são compatíveis
com a dor, o sofrimento e tanta crueldade humana? Que perfeição (7) divina
criaria uma natureza tão vulnerável e catastrófica, apesar de bela e surpreende e
maravilhosamente engenhosa? O preço da liberdade conferida por Deus ao humano
é um preço compatível com o tamanho dos males sofridos pela humanidade?
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E a imutabilidade (6) é de fato um atributo de Deus? Como então compreender
a capacidade que Deus tem de perdoar, amar, intervir, alterar e realizar milagres
(afinal ele é onipotente), se ele como ser imutável é incapaz de mudar? Isso não é,
do ponto de vista lógico, uma contradição?
Bem, para cada uma dessas perguntas há uma resposta religiosa que a fé
é capaz de aderir e aceitar, mas nem sempre a inteligência consegue suportar
e compreender. Em filosofia, a tentativa de resolver os problemas que estão
pressupostos nesse conflito entre Deus perfeito, bom, justo e amoroso e um
mundo imperfeito, mau, injusto, onde o ódio parece ter muita força é tarefa
da Teodiceia. E a Teodiceia, nos remete aos argumentos principalmente dos
autores que defendem a existência de Deus.
“Teodiceia” é palavra de origem grega, “Teo (Deus) + Diceia (Justiça)”, que significa
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Os atributos de Deus refletidos aqui, bem como tantos outros que nós conhe-
cemos podem ser revistos e questionados com a mesma coragem e autenticidade
como fizeram os filhos diante da mãe na obra de Máximo Gorki cujo título é Mãe.
O diálogo ilustra de forma brilhante o que acontece quando se prioriza determina-
dos atributos e outros são negligenciados na concepção que se tem de Deus:
– Quanto a Deus, é melhor terem mais cuidado! Digam o que disserem!
[...] E uma velha como eu não terá mais onde apoiar-se, em meu desgosto,
se vocês me tirarem Deus.
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Crer, na ótica cristã, sempre foi a atitude básica e a mais importante, mas
compreender e buscar a inteligibilidade da fé também sempre foi uma exigência
natural do conhecimento de quem crê. Essa atitude de harmonia entre fé e
razão, filosofia e teologia foi muito bem sintetizada na expressão de Anselmo de
Cantuária (1033-1109) no capítulo I de sua célebre obra Proslógion: “Não busco
compreender para crer, mas creio para compreender”.
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O pensamento moderno, embora permaneça na esfera da racionalidade, adere
a uma metodologia menos abstrata que a metafísica tradicional e mais prática,
voltada para o reconhecimento dos limites do conhecimento. A prova da existência
de Deus se dá não mais pela lógica rigorosa do raciocínio dedutivo, mas pela força
das necessidades práticas, existenciais e éticas.
Ontológico, do grego “ontos” (ser, o que é ou está sendo) + “lógico” (verbo, discurso,
Explor
estudo), significa estudo do ser. Ontologia é a área da filosofia que estuda o ser enquanto
ser. A ontologia também é identificada por alguns pensadores como metafísica. A palavra
“ontológico” costuma designar algo que tem que ser, isto é, consistência e existência não só
como ideia, mas como objeto na realidade fora do sujeito.
(3) Se o ser de (1) existir somente na nossa mente, não será o maior que
se pode pensar;
(4) Portanto o ser pensado maior que qualquer outro (1) deve existir
na realidade;
(5) Se ele não existir na realidade, não seria o maior ser que se pode conceber;
(6) Portanto o maior ser que se pode conceber deve existir, e nós o
chamamos “Deus”.
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“Teleológica” é palavra de origem grega formada pela união de “Telos” (fim ou finalidade)
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+ “lógica” (verbo, discurso, estudo) que significa “estudo da finalidade”. O caráter teleológico
do argumento aponta a finalidade, o fim ou o objetivo para como as coisas são ordenadas.
A aposta Pascal
Blaise Pascal (1623-1662) é de natureza bastante diversa dos demais. Trata-se
de uma demonstração das vantagens e desvantagens que uma pessoa pode ter se
acreditar ou não na existência de Deus. O pressuposto é a ideia de salvação para o
crente e de condenação para o não crente. A lógica é pragmática e põe o sujeito
não mais diante de uma demonstração dos atributos inerentes à natureza de Deus
para provar a sua existência, mas diante de uma aposta existencial em que se pode
ter menos prejuízo e viver com mais segurança matematicamente provada quando
se crê na existência de Deus.
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Examinemos, pois, esse ponto, e digamos: Deus é, ou não é. Mas, para
que lado penderemos? A razão nada pode determinar aí. Há um caos
infinito que nos separa. Na extremidade dessa distância infinita, joga-se
cara ou coroa. Que apostareis? Pela razão, não podeis defender nem uma
nem outra coisa (PASCAL, 2002).
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Só um ser sumamente inteligente e racional pode prover como causa uma ética
racional, objetiva e universal. A equivalência ou harmonia entre justiça, virtude e
felicidade está subjetivamente pressuposto em Deus. Portanto, para Kant, Deus
existe como pressuposto da ética, mas não pode ser provado segundo as regras da
lógica racional teórica e dedutiva.
Para entender a crítica de Freud à religião consulte sua obra O futuro de uma ilusão
(FREUD, 1997); para compreender o pensamento e as críticas de Dawkins, cf. Deus um
delírio (2006).
Para uma consulta mais abrangente sobre o ateísmo sugiro consulto ao site da ATEA -
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ATEUS E AGNÓSTICOS: http://www.atea.org.br/
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Como conclusão ao argumento de Hume, é oportuno o comentário de Tilghman:
Talvez não fosse uma atitude sábia negar categoricamente que possa
haver um argumento coerente em favor da existência de Deus, mas é
parte da sabedoria admitir que há muito contra essa possibilidade. Há
quem ocasionalmente julgue isso um ataque à religião, como se apontar o
fracasso dos vários argumentos equivalesse a negar a existência de Deus.
Trata-se de um sério erro lógico. O fato de um argumento ser incoerente,
seja ele formalmente inválido ou tenha premissas falsas, nada nos diz
acerca da verdade ou da falsidade de sua conclusão. Argumentos inválidos
ou incoerentes podem ter conclusões verdadeiras. Se os vários argumentos
fracassam, tudo o que nos é permitido concluir é simplesmente que não
se pode chegar a Deus desse modo, e não que não haja um Deus ao qual
se chegar (TILGHMAN, 1996, p. 86).
Como você pôde observar, com Hume e mais tarde com Kant, há uma
desconstrução crítica dos argumentos lógicos anteriores que tentaram provar
a existência de Deus através de raciocínios dedutivos. O que sobrou foram as
provas indutivas, aquelas que partem da observação sensível que se faz através de
evidências empíricas. Mas estas, quando não se considera a fé religiosa, não levam
com certeza e objetividade a Deus, uma vez que, se Ele existe, está além dos limites
de nossa observação material. A partir daí o materialismo, típico da metodologia
científica adotou a negação ou a ignorância do problema da existência de Deus.
A filosofia de Augusto Comte (1798-1857) como base teórica para o positivismo científico
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(cujo valor de verdade precisa passar pelo crivo da evidência experimental) é herdeira dessa
postura ateia, bem como a filosofia analítica ou da linguagem de Ludwig Wittgenstein
(1889-1951), ambas seguem a mesma lógica, relegando a religião à dimensão das
necessidades subjetivas, sem a consistência de uma realidade que passe pelo critério da
prova experimental.
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Conclusão
O problema de Deus é um tema que permanece inconcluso e aberto na Filosofia
da Religião. O debate não acabou e os argumentos não parecem esgotar o campo
das possibilidades do pensamento crítico. Do ponto de vista da Filosofia persiste
o desafio de repensar e de atualizar os conceitos tradicionais sobre Deus e de
reinterpretar o legado cultural que nos foi transmitido a esse respeito.
Fé e razão não precisam ser coincidentes. Com certeza, são distintas, mas isso
não significa que devam ser contraditórias. Preservar a autonomia de ambas é o
melhor caminho para o diálogo entre filosofia e religião.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Sites
36 argumentos para a existência de Deus. Ou contra…
https://goo.gl/t2rBna
Vídeos
Cazuza - Cobaias de Deus
https://youtu.be/K0IItTbk-YU
Cazuza Azul e Amarelo legendado
https://youtu.be/GBT5GjeweqI
Debate: Deus Existe? William Lane Craig vs Christopher Hitchens - Legendado (Português) - Completo*
https://youtu.be/mgLhRmUV0mM
Filmes
Deus não está morto
Assista ao filme “Deus não está morto”. Saiba que é um filme de defesa da crença
na existência de Deus com alguns clichês muito comuns de religiosos em relação aos
ateus. Evidentemente que há formas distintas de se defender a existência de Deus sem
cair no preconceito contra os ateus. Entretanto, sugerimos esse filme como material
complementar porque ele acaba mostrando como o debate em torno do tema sobre
a existência de Deus tem características bastante emocionais. Os argumentos, tanto
aqueles que são postulados pelos ateus, quanto os que expressam as ideias do teísta,
provam apenas o que de fato eles de antemão já admitem acreditar. Observe que
quando não se distingue a lógica da fé religiosa da razão argumentativa filosófica, e
estas das evidências científicas, o discurso acaba escondendo na verdade intolerância e
dogmatismo. Filme: Deus não está morto. Direção: Harold Cronk, com Shane Harper,
Kevin Sorbo, David A. R. White. EUA, 2014, Drama.
https://goo.gl/QdK6Bo
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Referências
AGOSTINHO, Santo. Confissões. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1980 (Coleção
Os pensadores). 414p.
DAWKINS, Richard. Deus um delírio. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
HUME, David. Diálogos sobre a religião natural. Tradução José Oscar de Almeida
Marques. São Paulo: Martins Fontes, 1992. 110p. Versão online disponível em:
https://leandromarshall.files.wordpress.com/2012/05/david-hume-dic3a1logos-
sobre-a-religic3a3o-natural3.pdf. Acesso em 23 de abr. de 2016.
KANT, Immanuel Kant. A religião nos limites da simples razão. Tradução Ciro
Mioranza. São Paulo: Escala Educacional, 2006. 191p.
MATTAR, João. Introdução à Filosofia. São Paulo: Pearson Prentice Hal, 2010.
341p.
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SUNG, Jung Mo. Deus: ilusão ou realidade? São Paulo: Ática, 1996. 95p.
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