Вы находитесь на странице: 1из 2

- - - - - -- -DESTAQUE EM CRIATIVIDADE, INICIATIVA E TALENTO- - - - - -

Loiro, de olhos claros, cerca de um metro e noventa. Para puxar o samba-enredo da Escola
de Samba Pinguim, ia no chão mesmo, misturado a muita gente, confetes e serpentinas que
voavam.
Na Rua Trajano Lima, num terreno vago, onde atualmente existe uma cafeteria, sempre
ficou à mostra uma intrigante abertura de túnel, só iniciado, na pequena encosta, onde foram
construídos, lá mais para cima, a Matriz do Bom Jesus e o Seminário Apostólico. Essa é a
mesma rua do antigo Clube do Grêmio e de pelo menos dois bares famosos que tinham
sinucões como atração principal. E era também a rua, do centro de Manhumirim, mais
próxima dos padres e seminaristas. Idade Média e século XX se comunicavam por sons.
Nas noites silenciosas, as pessoas cá de baixo podiam ouvir o latim do seminário na Salve
Regina, canto gregoriano, acompanhada de órfão harmônio, de fole. Nas noites agitadas,
os seminaristas é que eram atiçados com as músicas da discoteque, vindas da rua.
A Trajano Lima tinha também uma passagem em forma de beco que dava para uma área,
mais no alto, parcialmente coberta, que nos fundos se comunicava com a grande horta do
seminário. Era nesse quintal que os próprios seminaristas cultivavam parte da alimentação
da casa. Havia dois encarregados disso. E esses dois, certa vez foram flagrados, numa noite
quente, dançando ali perto, no point jovem da cidade. Aqueles postulantes à vida sacerdotal,
para chegar ali, tiveram o trabalho simples de fazer um furo na cerca, camuflar o buraco e
esperar que a noite chegasse. Muita gente e a música alta. Estava no Portão 36, mas não
foram ao balcão do bar nem pediram qualquer bebida gelada ou quente. Nem mesmo aquele
St. Remy, que o mais novo, quando era do mundo, tinha experimentado algumas vezes.
Não se sentaram nem pediram as batatas fritas que o outro amava. As meninas... Os olhos
deles tremiam, seus corações balançavam, suas libidos... Mas não. Eram firmes na escolha
que faziam. A pista de dança? Aí e que se esbaldaram. Foi para isso que estavam lá. E
parecia que dançavam mais rápido que o ritmo das músicas, para terminar mais depressa,
voltar, atravessar o buraco da cerca e alcançar o dormitório em segredo. Só que à porta do
dormitório, encontraram o padre reitor já os esperando. Não havia celular, mas alguém
encontrou um telefone fixo e deu o serviço. Estavam avisados, no dia seguinte haveria uma
conversa séria.
Essa boate, chamada Portão 36, paixão de dois seminaristas rebeldes, era do puxador de
samba, grandão lá em cima. Era aquele beco, na rua Trajano Lima, transformado em
endereço de entretenimento. Nos anos de 1980, era o que se tinha de melhor na região.
Estava na programação de todos os jovens, menos daqueles trinta e poucos que se
dedicavam a Deus ali pertinho, parede-meia.
Curiosamente, não compreendemos por completo o sentido do que as pessoas são e fazem.
Um médico, em seu plantão de 24 horas num pronto-socorro, está ali para trabalhar e
receber em troca a remuneração que vai levar para casa como qualquer um em qualquer
tipo de atividade. Ao final do expediente, ele está cansado, atendeu a algumas dezenas de
pessoas com queixas e sintomas diversos. Auscultou, fez suturas e muitas prescrições de
analgésicos, soro fisiológico, anti-inflamatórios, anti-hipertensivos... Entretanto, para além
de tudo isso, o que ele fez mesmo foi dar alívio e conforto para os incômodos e desesperos
de muita gente. Alunos de escolas públicas custam a entender que a sociedade está
bancando suas despesas de 200, 300 mil por escola, todo mês, para ter pessoas preparadas
para os serviços de que a população precisa, e o mais eficientes que possam ser. Não
deveriam brincar tanto.
Altair de Oliveira, o Furmigão, aquele sujeito grande, bem-humorado, de mitos amigos, foi o
criador da boate Portão 36, descrita acima. E fez dela um dos empreendimentos mais
vitoriosos de sua carreira. E ele, como qualquer cidadão, talvez trabalhasse apenas por
gostar do que fazia, por querer se sustentar honestamente, por desejar erguer seu merecido
patrimônio justo. Mas fez mais do que isso. Com os carnavais de rua que promoveu, os
bailes que movimentou, as festas que produziu, os amigos que cultivou... fez bem mais.
Furmigão criou também o Prêmio DESTAQUE, um título de reconhecimento ao mérito de
profissionais e empreendedores locais. Era uma forma de estímulo e de importante feedback
para os produtos e serviços oferecidos na cidade. A população elegia, voto a voto, os
melhores, os que mereciam ser DESTAQUE. A promoção culminava em um baile e grande
festa.
Enfim, o empresário, artista e agitador cultural realizou uma obra interessante a ser
lembrada, e a ser lembrado, ao mesmo tempo, todos os benefícios trazidos por ela: alegria,
diversão, autoestima, encontros, elevação da cidade no cenário regional, migração de
divisas, com a presença de visitantes de outras cidades, e tudo o que as festas costumam
gerar de bom e saudável.
Alguém de muito prestígio já disse que o ser humano não precisa só de pão para viver. Os
seminaristas são prova disso. O Furmigão fez a parte dele. Parabéns!

Вам также может понравиться