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e-ISSN 2237-7891

Dialética: uma análise à luz de Nietzsche


Robson Pedro Véras*
robson.veras@yahoo.com.br

Recebido em: 15/08/2014


Aceito em: 20/11/2014
Publicado: 30/12/2014

Resumo. Este trabalho busca demostrar a relação entre Nietzsche e os antigos


filósofos gregos, sobretudo, à luz do pensamento de Sócrates / Platão. Assim,
essa análise tem como subterfúgio direto as ações e determinações daquilo que
é pensado sobre a dialética e seus esforços em direção ao conhecimento. Basta
ainda dizer que essa construção sugere ora uma junção, ora uma disjunção
entre o que Nietzsche entende no escopo dialético de ação do ser, isso, por
dedução, em função do pensamento grego. Desse modo, esse texto se divide
em cinco alíneas, na qual a primeira busca apontar o público-alvo dessa leitura
e as condições mínimas para que sejam traçados um bom diálogo entre autor
e leitor, a segunda sugere uma descrição específica do problema, a terceira
aponta a dialética como possibilidade de obtenção da verdade, na seguinte
temos a descrição de uma dialética usada em última instância como uma
arma e, finalmente, a última alínea traz ao leitor possibilidades de reflexão à
luz de toda a construção textual.
Palavras-chaves: Dialética. Pensamento. Possibilidade. Ideia. Verdade.

DIALETIC: AN ANALISIS THE LIGHT FROM NIETZCHE


Abstract. This work aims to demonstrate the relationship between Nietzsche
and the ancient Greek philosophers, especially in light of the thought of
Socrates / Plato. Thus, this analysis are direct subterfuge actions and deter-
minations of what is thought about the dialectic and their efforts towards
knowledge. Just still say that sometimes suggests a construction joint, some-
times a disjunction between what Nietzsche believes in dialectical scope of
* Mestre
em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO).
Doutorando do Programa de Estudos Pós-Graduados em Filosofia, Sociedade da Pontifícia Uni-
versidade Católica de São Paulo (PUCSP)

©2014 DCHL-UESB Saberes em perspectiva, Jequié, v.4, n.10, p. 35–42, set./dez. 2014
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action be, that, by deduction, according to Greek thought. Thus, this paper
is divided into five paragraphs, in which first seeks to identify the target
audience of this reading and the minimum conditions for which are outlined
good dialogue between author and reader, the second suggests a specific
description of the problem, the third points to the dialectic as possible to
obtain the truth, we have the following description of a dialectic ultimately
used as a weapon and, finally, the last point brings the reader possibilities of
reflection in the light of all the textual construction.
Keywords: Dialectic. Thought. Possibility. Ideas. Truth.

Introdução

Para a construção e desenvolvimento de qualquer pressuposto alimentado


pelo pensamento do filósofo Nietzsche (1844–1900), se faz necessário que o leitor
tenha alguma pressuposição filosófica. Como esse texto é uma construção trans-
versal ao cenário da filosofia, ou seja, o público ao qual esse texto dialoga são
pesquisadores oriundos de uma formação em filosofia lato e stricto sensu e para as
ciências que, por acaso, se dispõem em debater o cenário da Dialética1 dentro das
prerrogativas da tese do filósofo Nietzsche.
Para que essa construção tenha significado, buscarei apresentar, pontu-
almente, o que temos entendido sobre a Dialética, sobretudo, especificamente,
dentro daquilo que está descrito na obra Crepúsculo dos Ídolos (NIETZSCHE,
2006)2 , material original escrito em 1888, em especial, quanto a descrição de Ni-
etzsche sobre o problema de Sócrates. Dessa forma, tentarei caminhar por um fio
que poderá possibilitar ao leitor um entendimento acerca do arcabouço da filo-
sofia grega e de sua transformação rumo a modernidade, sendo, de certa forma,
norteadora do pensamento do filósofo alemão em epígrafe.

O problema

É possível que exista, historicamente, uma enorme falha na interpretação


dos textos do período dado pelos séculos XIX e XX e de muitos outros, princi-
palmente, aqueles que requerem tradução, nesse caso, oriundos da Alemanha. É
claro, estamos no século XXI e toda a nossa carga hermenêutica se dispõe acerca
de nossa sociedade, desse mundo, de como ela se estabelece em sua estrutura. Por
isso, diante do texto do período descrito, somos, aparentemente, apressados ou
1 Dialética como método de divisão. Este foi o conceito de Platão. Para ele, a dialética é a técnica
da investigação conjunta, feito através da colaboração de duas ou mais pessoas, segundo o
procedimento socrático de perguntar e responder (ABBAGNANO, 2000). A palavra Dialética
poderá ser apresentada em letra maiúscula quando usada, não segundo o vernáculo, mas como
termo definido pela evolução na linha do logos ao pathos.
2 Para essa descrição se faz necessário apresentar o nome da obra em seu original, ou seja, o
texto Crepúsculo dos Ídolos, ou melhor, Götzen Dammerung Oder Wie Man Mit Dem Hammer
Philosophiert. Nietzsche, por assim dizer, retrata uma filosofia de base (grundlage), dito de outra
forma, é um texto que propõe, de certa forma, um retorno às testes defendidas pelo mesmo
autor em outros livros

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ingênuos em darmos o significado contemporâneo aos termos consolidados pela


época.
É possível que sejam feitas leituras apressadas acerca de vários temas,
como, por exemplo, o tema da Dialética. O filósofo Nietzsche talvez tenha sido, ao
longo dos anos, o que mais vezes foi injustiçado. Nietzsche em todo o seu conjunto
de obras procura estabelecer um diálogo com seus leitores. Algo que permita uma
possibilidade de ser recontada a história do mundo [Weltgeschichte], sobretudo,
dentro de um viés filosófico.
Dessa forma, estamos diante de uma possibilidade de dar ao mundo uma
ênfase em algo que pode ser entendido como grande, ou, quiçá, que possa permitir
ao seu leitor a construção de uma visão crítica de si, do outro e do mundo.
É passivo de nota o fato de que Nietzsche possa ter sido um dos filósofos
que mais perseguiram o caminho [Weg] da verdade [Wahrheit]. Por isso, a própria
Dialética pode ter sido usada como uma possibilidade de arma contra aqueles
que possuem algum tipo de dificuldade em se deparar com aquilo que é único ou
verdadeiro.
A verdade, dessa forma, pode ser um quesito em Nietzsche capaz de
conduzir o individuo ao mundo da realidade. Para isso, existe uma busca pela
plenitude, pelo conhecimento daquilo que não se esconde, da luz, da tolerância
pelo certo, pela verdade. Para isso, Nietzsche é propositor de uma filosofia capaz
de implementar ao seu interlocutor que ele esteja despido de todo conjunto ideias
definidas, que possa haver, nas pressuposições do autor (NIETZSCHE, 2000),
uma tomada de decisão. Por isso, a Dialética pode ser uma prerrogativa rumo a
atingir toda essa plenitude. Uma Dialética que cumpra um processo interior, uma
Dialética que busque uma ação endógena, do ser para o mundo.

Dialética: o caminho que pode conduzir à verdade

A palavra Dialética pode ser entendida como algo de muito valor por toda
a história da filosofia, basta saber que esse termo é usado de forma transversal
desde os filósofos pré-socráticos até os contemporâneos. Por isso, estamos diante
de uma terminologia de mais de 2000 anos. O filosofo Nietzsche, ao se apoderar
dela, faz seu uso em função de fazer com que ela seja, no mínimo, condutora de
uma verdade [Wahrheit]. Essa condução pode ser demonstrada em todo o seu
conjunto de obras e, nesse caso, no seguinte fragmento3 :

Sobre a vida, em todos os momentos, o homem mais sábio possui


igual poder de julgar: a vida é boa para nada... Sempre, e em toda
parte se ouviu de seus lábios o mesmo som – um som cheio de
dúvidas, cheio de melancolia, cheio de cansaço da vida, cheio
de resistência ao fígado. Mesmo Sócrates disse ao morrer: "viver
3 Em alguns momentos recorreremos ao texto em Alemão para que possamos verificar algum
aspecto em específico, visto que em algumas traduções poderemos nos deparar com algumas
disjunções ou apropriações indevidas da temática original do autor, com o intuito (é possível)
de tornar o texto palatável ao leitor de língua portuguesa.

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significa uma longa doença: devo um galo a Asclépio, o Salvador”.


Mesmo Sócrates estava cansado disso. — O que isso prova? O
que é isso; – Antigamente diziam (— oh, como já foi dito e alto
o suficiente com nossos pessimistas em frente!): “De qualquer
forma, pode ser que haja alguma verdade nisso! O consensus
sapientium prova a verdade.” – Ainda falaremos assim hoje?
Podemos falar assim? “É possível que haja alguma doença nisso”
– nós damos a resposta: foi o mais sábio de todos os tempos, eles
devem ser observados de perto! Talvez já não consigam fixar mais
as pernas? Tardios? Trêmulos? Decadentes? A sabedoria, talvez,
surja na terra como um corvo, entusiasmado com o cheiro de
carniça?... (NIETZSCHE, 2000, p. 17)[Tradução minha].4

A descrição do aforismo, no que se refere ao problema de Sócrates é intencio-


nal, na medida em que ele pode ser um detalhe inicial que conduzirá a Dialética a
ser uma forma de mediação entre um mundo plenamente vocacionado nas ideias
e a realidade como ela efetivamente se apresenta. Cabe nota o fato de que Nietzs-
che apresenta seu aforismo, aparentemente, com um dado referente ao poder de
julgar. Basta saber que toda condição de juízo pode ser remetida a uma condição
moral e, se assim for, a proposta Dialética pode estar interiormente definida no
indivíduo como uma condição de tornar externo aquilo que o indivíduo entende
como verdade. Mesmo assim, diante dessa proposta, a Dialética se apresenta como
uma construção, um movimento que conduz, ou pode conduzir, a construção de
uma verdade. A verdade, por assim dizer, tem aos olhos de Nietzsche, o princípio
que move o pensamento dos filósofos.
Ainda acerca do aforismo - acima descrito – se faz pertinente a observação
de que uma construção, ou melhor, a busca pela verdade utilizando-se da Dialética
como subterfúgio pode significar um caminhar pela vereda da dúvida. É claro que
no processo dialético a pergunta estará carregada de conceitos, formas e condições
de possibilidade de gerar no interlocutor algum tipo de pensamento ou de ação.
Por assim dizer, cabe observar que apenas nesse primeiro aforismo o filósofo
Nietzsche faz uso direto de nove perguntas. Dessa forma, dentro do contexto
dialético de construção e busca da verdade o filósofo chega a questionar sobre a
efetiva consciência da verdade tida, no passado, pelos sábios. “’Hier mußjedenfalls
etwas wahr sein! Der consensus sapientium beweist die Wahrheit.’ — Werden wir
heute noch so redden? Dürfen wir das?” (NIETZSCHE, 2000, p. 17). É percebida,
nesse recorte, a intenção de Nietzsche em mostrar aos seus interlocutores a crise
existente dentro do conceito de verdade. Ainda requer nota a argumentação de
4 Über das Leben haben su allen Zeiten die weisesten gleich geurteilt: es tauggt nichts . . . Immer
und uberall hat man aus ihrem Munde denselben Klang gehort – eine Klang voll Zweifel, voll
Schwermutt, voll Mudigkeit am Leben, voll Widerstand gegen das Leben. Selbst Sokrates sagte,
als er starb: “Leben – da heißt lange krank sein: ich bin dem Heilande Asklepios einen Hahn
schuldig."Selbst Sokrates hatte es satt. — Was beweist das? Worauf weist das: – ehemal hätte
mas gesagt (— Oh, man hat es gesagt und genung und unsre Pessimisten voran!): “Hier muß
jedenfalls etwas wahr sein! Der consensus sapientium beweist die Wahrheit.-– Werden wir
heute noch so redden? Dürfen wir das? Hier muß jedenfalls etwas krank sein – geben wir zur
Antwort: diese Weisesten allen zeiten, man sollte sie sich erst aus der Nähe ansehn! Waren sie
vielleicht allesamt auf den beinen nicht mehr fest? Spät? Wackelig? Decadentes? Er-chiene die
Weisheit vielleicht auf erden als Rabe, den kleiner Geruch von aas begeistert?

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que Nietzsche induz seu leitor rumo a observação de uma crise na admissão de
novas verdades, dito de outra forma, estaríamos diante de uma verdade em crise.
Ora, podemos perceber que nesse aforismo Nietzsche possibilita ao leitor, por
meio de uma condição Dialética certo descrédito acerca de quem pode ser ou não
detentor da verdade.
A crítica do filósofo Nietzsche àqueles que poderiam possuir algum tipo
de conhecimento e, daí, tê-lo como verdadeiro é também apontada na seguinte
descrição acerca dos Preconceitos dos Filósofos: “A vontade de atingir a verdade
nos seduzirá ainda para muitas aventuras, esta famosa vontade da veracidade,
tão venerada por todos os filósofos, que problema esta vontade já nos ofereceu!”
(NIETZSCHE, 2011, p. 12). A verdade então seria movida no indivíduo por meio
de uma vontade, de algo que poderia fazer do filosofo ou daquele que a detiver
uma pessoa melhor, capaz e cheia de possibilidades de dominar a si e ao meio em
que vive [über].

A dialética como arma

Antes de traçarmos quaisquer impressões acerca da Dialética como arma,


se faz necessário uma análise razoável da forma que nos apresenta a maiêutica de
Sócrates.
Para isso, vejamos que para termos efetivamente o entendimento sobre
a maiêutica e, a partir dela, da Dialética, é preciso partir da pressuposição de
que a maiêutica pode ser tida como uma proposta pedagógica de ensino ou da
busca pela verdade (PLATÃO, 1991). Essa visão dá ao homem uma condição de
transcender a prática de uma Dialética apenas como arma rumo a batalhas de
escopo argumentativo. O que possibilitaria uma distinção analítica do próprio
homem e de toda sua forma de engajamento na sociedade em que atua.
Por isso, Sócrates fazia uso dessa metodologia de forma proposital, a deixar
seu interlocutor mediado por suas reflexões ante a sua intensa falta de possibili-
dade de conceituação. A fragilidade do homem iria propor em sua cosmogênese
uma espécie de “parto das ideias” (PLATÃO, 2005).
Por assim dizer, a Dialética então pode ser vista como uma evolução do
Logos ao Pathos5 , pois entendemos o caráter mediador desses dois termos em seu
caráter histórico e na aquisição da manutenção da verdade.
Esse dissenso entre o Logos e o Pathos deve supor, hermeneuticamente, certa
ruptura e crítica do pensamento de Nietzsche em relação à construção de Sócrates,
pois há um tom de superação epistemológica, vejamos:

Não apenas anarquia e o desregramento confesso dos instintos


apontam para a decadente em Sócrates: também a superfetação
do lógico e a malvadez de raquítico que é sua marca. Também
não esqueçamos as alucinações auditivas, que foram interpre-
tadas como “demônio de Sócrates”, em sentido religioso. Tudo
5 O termo pathos é tomado aqui como um contra conceito estratégico voltado contra a metafísica
europeia, que se apresenta como uma filosofia do logos desde sua fundação platônica.

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nele é exagerado, buffo [burlesco], caricatura; tudo é ao mesmo


tempo oculto, de segundas intenções, subterrâneo, – Tento com-
preender de que idiossincrasia provém a equação socrática de
razão = virtude = felicidade: a mais bizarra equação que existe, e
que, em especial, tem contra si os instintos dos helenos antigos
(NIETZSCHE, 2006, p. 19).

Nesse aforismo Nietzsche reitera sua critica a filosofia dos gregos e é enfá-
tico ao declarar que em Sócrates há certa confusão, principalmente ao caricaturar
o filósofo grego como decadente. Ainda assim, logo após essa descrição, acima
citada, Nietzsche nos traz uma possibilidade de concatenação entre as duas formas
de filosofar e nos diz que “[...] Antes de Sócrates se rejeitava, na boa sociedade,
as maneiras dialéticas [...] o dialético é uma espécie de palhaço: as pessoas riem
dele, não o levam a sério. Sócrates foi o palhaço que se fez levar a sério [...]”
(NIETZSCHE, 2006, p. 20).
Nietzsche talvez entendesse que a ação da Dialética visasse diretamente
certa humilhação, destruição e até mesmo ser capaz de colocar o interlocutor do
dialético num estado de inteiro ridículo. Basta saber que tanto em Sócrates como
em Nietzsche a Dialética pode ser exercida dentro da gênese da maiêutica, ou seja,
o dialético na verdade tem total noção da condição epistêmica de seu interlocutor
e o ataca exatamente em seu ponto mais frágil, em sua ignorância.
Cabe nota que esse ataque Dialético fez com que o próprio Sócrates tivesse
sua vida posta em julgamento e, por isso, condenado a morte por envenenamento
em 399 a.C. (PLATÃO, 1991), mesmo assim, vale destacar que Sócrates trazia com
sua morte o nascimento de um mundo pautado pelo princípio [arché] das ideias.
Por isso, Nietzsche observa a Dialética como um embate interessante. A
Dialética assim pode ser descrita como uma arma que deve ser sacada apenas em
última instância. Essa arma teria esse vigor, talvez, por não dar ao interlocutor do
dialético o direito de resposta ou defesa, ou ainda, por saber Nietzsche que uma
arma como a Dialética, ao ser usada, poderia trazer consequências severas para
aquele que fizesse uso dela.
Desse modo, por dar a arma Dialética um poder de destruição tão emblemá-
tico, Nietzsche indica seu uso apenas como legítima defesa, pois é nesse momento
em que o dialético já não iria possuir outra arma. Nas palavras do filósofo:

Escolhe a dialética apenas quando não se tem outro recurso. Sabe-


se que ela suscita desconfiança, que não convence muito. Nada
é mais fácil de apagar que o efeito do dialético: isso é demons-
trado pela experiência de toda a assembleia em que se discute. A
dialética pode ser usada apenas como legitima defesa, nas mãos
daqueles que não possuem mais outras armas. É preciso que se
tenha de obter pela força seu direito: de outro modo não se faz
uso dela. Por isso os judeus eram dialéticos, a raposa Reinecke
era; como? Sócrates também era? (NIETZSCHE, 2006, p. 20).

Cabe destacar que Nietzsche, assim como já foi colocado, entendia Sócrates
como um filósofo já ultrapassado. Ora, a ideia de última arma usada como legitima

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defesa, por assim dizer, pode indicar, de forma hermenêutica, que seu utilizador
poderá também ser condenado à morte.
Cabe notar que em momento algum, nos fragmentos transcritos, Nietzsche
indica que mesmo ao ser feito uso da Dialética como arma, como último recurso e
legitima defesa, teria seu agente à vitória na batalha ou argumento. É passivo de
observação que mesmo que haja constrangimento daquele em que a Dialética é
empregada como arma, não se pode prever um alcance amplo capaz de fazer a
justificativa do uso dialético como uma ideia ou conceito universal.

Notas de conclusão

Nietzsche talvez seja um dos filósofos mais emblemáticos de toda a história


da filosofia. Suas considerações, formas, pensamento e até mesmo sua estrutura
textual, fazem com que seus leitores tenham condição de diálogo com ele, com o
mundo de Nietzsche e ainda reflitam sua relação prática enquanto propositores
(ou não) de uma filosofia (seja ela qual for).
Nesses termos, pode ser que exista certo anacronismo6 ou ainda que esteja-
mos diante de uma analítica que não consegue abraçar a base do pensamento do
filósofo alemão. Dessa forma, a reflexão sobre a Dialética, à luz de Nietzsche, nos
traz diretamente quatro possibilidades de reflexão, quais sejam: A Dialética como
algo desprovido de lógica, A dúvida se a Dialética possui de fato um compromisso
com a verdade, a Dialética como embate de consciências e, principalmente, a
batalha evolutiva do Logos ao Pathos.
Para iniciarmos o detalhamento das quatro possibilidades se faz necessário
indicar que sua ordem de apresentação não possui relação com sua ordem de
importância.
Desse modo, a Dialética pode ser que não tenha nenhuma consideração
com o aspecto lógico, visto que ela é um mecanismo para que seja possível a vitória
no embate, é uma arma que, como tal, busca o abatimento de sua vítima. É possível
que Nietzsche em sua crítica a Sócrates tenha o associado a um sofista. Pode ser
que o filósofo alemão ao entender que a Dialética não possua compromisso com a
lógica tenha dado a ela uma importância singular. Ora, por haver uma depreciação
ou descompromisso com a lógica, pode ser que este tenha sido um dos motivos
para que Nietzsche a tenha atribuído à alcunha de “arma de último caso” ou para
“legítima defesa”. Dito de outra forma, aparentemente, só se pode subtrair a lógica
no argumento em ultimo caso ou ainda para que não se perca o debate (sofisma).
A segunda possibilidade de reflexão é sobre a verdade. Caso a Dialética não
possua compromisso com a lógica, sua relação com a verdade também será falha.
A verdade possui características que a apresentam como possibilidade universal,
como algo natural em que todos, de certa forma, nos submetemos. A Dialética
então parece ser uma variação da verdade, ou ainda uma verdade particular, um
meio sócio antropológico na forma de ação.
6 Por anacronismo entendemos uma falha intencional na cronologia dos fatos. Parece ser que
Nietzsche brinca com a temporalidade.

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É nessa proposta que a terceira forma de reflexão emerge, como embate de


consciências. Assim, a Dialética pode ser uma arma de recondução do particular
para o universal. O que faria com que ela, de certa forma, fosse um mecanismo de
redimensionamento da consciência ontológica do ser.
A característica de redimensionamento nos conduz para a última análise, a
Dialética pode ser então uma batalha epistemológica e evolutiva. Para isso, ela
parte do Logos rumo ao Pathos. Essa evolução recoloca o homem como narrador
de si em sua condição estritamente humana. A Dialética então poderia ser uma
retomada das características do homem como um ser dotado da capacidade de
julgar, de ser e de agir [übermenschlichen].

Referências

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bosi. São Paulo:


Martins Fontes, 2000.

NIETZSCHE, F. Götzen-Dämmerung, oder Wie man mit dem Hammer


philosophiert. Frankfurt: Insel, 2000.

. Crepúsculo dos ídolos ou como se filosofa com o martelo. Trad. Paulo


César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

. Assim falou Zaratustra: um livro para todos e para ninguém. Trad. Paulo
César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.

PLATÃO. Diálogos. Trad. José Américo Motta Pessanha. 5. ed. São Paulo: Nova
Cultural, 1991. (Os pensadores).

. Teeteto. Trad. Adriana Manuela Nogueira e Marcelo Boeri. Lisboa:


Gulbenkian, 2005.

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