Вы находитесь на странице: 1из 1

Diário do Pará

4 VOC
VOCÊ sábado Belém-PA, 02/10/2010

SAGA DOS CONSTRUTORES NO PARÁ


Oswaldo Coimbra
coimbra@amazonline.com.br

“Edifício da morte”: os danos da ausência de Justiça


N
o dia 13 de julho
de 1994, o então fu-
turo juiz do traba-
lho Océlio Moraes,
ainda no exercício de sua pri-
meira profissão, o jornalismo,
publicou um texto de página
inteira com o título “Impuni-
dade paira sobre tragédia”. No
texto, ele manifestava sua apre-
ensão com a demora no jul-
gamento dos engenheiros res-
ponsabilizados, na Justiça, pelo
desabamento do prédio Rai-
mundo Farias, ocorrido no dia José Maria, Fernando Borges, Amilton Marques e Domingos Elias - pedreiros e serventes soterrados
13 de agosto de 1987, quan-
do sua construção estava quase encontrados pela Justiça ar- Mas, nem isto apressou o julga- cos, eles foram blindados, por
concluída, na Rua Diogo Móia, gumentos consistentes contra mento dos denunciados. Como um pequeno número de enge-
próximo à Avenida Visconde de eles. Océlio temia, a demora na tra- nheiros. Mas pareceu se espa-
Souza Franco. “Se os denuncia- Em 1994, quando Océlio ma- mitação levou à prescrição do lhar uma cumplicidade por toda
dos não forem julgados até o nifestou sua preocupação com processo, uma nova agressão às a categoria como se a categoria
próximo ano - ele escreveu -, o a prescrição daquele processo, famílias dos operários mortos. tivesse optado por ela. Quando,
crime estará prescrito, os res- a Justiça dispunha de três lau- Para a categoria dos engenhei- na realidade, à grande maioria
ponsáveis livres da imputação dos sobre o desabamento. Um ros do Pará, a impunidade dos construtores paraenses, ob-
penal, e, restará às famílias das deles, emitido pela Polícia Ci- dos denunciados, decorrente viamente, repugnava a impuni-
vítimas a perda inestimável e a entífica de São Paulo, por soli- de falta de julgamento, levou os dade pela morte de 40 pessoas.
decepção com a Justiça”. citação da Polícia do Pará, mos- riscos de desqualificação públi- A repugnância era inevitável
As famílias a que se refe- trava, em linguagem técnica e ca e de perda de função histó- porque a ausência da Justiça, no
riu Océlio eram quarenta. E o resumidamente, aquilo que o rico-social. Em 1987, o desaba- episódio do desabamento, for-
crime que ele mencionou foi jornalista chamou de “deslizes mento tinha sido apresentado taleceu a tendência a compor-
a morte, em soterramento, de fatais”: 1°) Deficiência de son- em rede nacional de televisão, tamentos anti-sociais existente
uma criança, Débora Cunha, dagens; 2º) Irregularidade na com insistência, como se pu- em qualquer grupo humano. No
de dez anos de idade, filha de cravação de estacas do pilar P- desse validar o preconceito que âmbito da Engenharia local, ela
um zelador, de nove mulheres 12; 3º) Sistema de travamento leva à suposição de que no Pará é evidente nas construções de
adultas que estavam na obra da fundação num só sentido; ninguém é capaz de construir prédios sem preocupação com
(alguns de seus nomes: Dalva 4º) Irregularidades nas cargas um prédio que se mantenha de o meio ambiente, que degra-
dos Santos, Sueli Souza, Car- dimensionadas para o pilar P- pé. Em programas humorísti- dam as obras dos engenheiros
melita Oliveira, Célia Correa e 12; 5º) Aumento da carga estru- cos transmitidos nacionalmen- do passado e tornam mais di-
Terezinha Fonseca), e, de 30 tural sem o devido recálculo e te nossos engenheiros tinham fícil o cotidiano em nossas ci-
operários. reforços das fundações; 6º) De- sido ridicularizados como in- dades - uma doença a corroer
Um ano após a tragédia, em ficiências construtivas. competentes. No ápice da des- por dentro o organismo social
1988, o promotor Manoel da Àquela altura, Océlio havia en- qualificação, os diplomas de da Engenharia do Pará. Para que
Silva Castelo Branco havia de- contrado algumas famílias dos engenheiros emitidos no Pará esta doença seja, hoje, extirpa-
nunciado os engenheiros civis operários mortos. A filha do pe- chegaram a ser recusados em da, é necessário que os pesqui-
José Haroldo Rufeill Farias, dreiro Ival Ramos, Maria do So- alguns Estados brasileiros. sadores universitários se voltem
Eduardo Marques e Silva e Ar- corro, disse a ele, se referindo Ao mesmo tempo, a perda de para o Raimundo Farias. E que
chimino Cardoso de Athayde ao desabamento: “Desde aquele apoio que a Justiça poderia ofe- o prédio se transforme em tema
como autores do crime de de- dia nossa vida virou só sacrifíci- recer para o julgamento dos de semanas de debates. Deste
sabamento. Outros engenheiros os”. A esposa do soldador Clau- denunciados por seus próprios modo, o imenso sofrimento pro-
envolvidos na obra - Durval dionor Rodrigues, Benedita de colegas, nas instâncias apropria- duzido pelo desabamento po-
Pinheiro, Antônio Enéas Res- Souza, revelou ao repórter: “Ele das, abriu espaço à imposição derá se tornar numa fonte de
que Duarte, e, Paulo Beliche de não queria ir trabalhar. Belém da força das amizades que eles aprendizado para os alunos de
Souza Leão - não foram de- Edifício da morte, assim o Diário do Pará chamou o Raimundo Farias inteira sabia que aquele prédio mantinham no ambiente profis- Engenharia. E os operários mor-
nunciados por não terem sido na época do desabamento estava rachando”. sional da Engenharia. Aos pou- tos não serão esquecidos.

Вам также может понравиться