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Farmacoepidemiologia e Semiologia

Brasília-DF.
Elaboração

Juliana Meira Guedes

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE I
SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA.......................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO À SAÚDE PÚBLICA E A EPIDEMIOLOGIA................................................................ 9

CAPÍTULO 2
CONCEITOS E TIPOS DE ESTUDOS............................................................................................ 15

UNIDADE II
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA.............................................................................................. 28

CAPÍTULO 1
FARMACOEPIDEMIOLOGIA...................................................................................................... 28

CAPÍTULO 2
OUTROS ESTUDOS DE FARMACOEPIDEMILOGIA....................................................................... 47

UNIDADE III
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS................................................................. 50

CAPÍTULO 1
O MERCADO FARMACÊUTICO................................................................................................ 50

CAPÍTULO 2
REAÇÕES E EVENTOS ADVERSOS............................................................................................. 54

CAPÍTULO 3
RELAÇÃO FARMACOEPIDEMIOLOGIA COM RAM/EAM’S.......................................................... 66

UNIDADE IV
DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS......................................................................................... 69

CAPÍTULO 1
FARMACOLOGIA CLÍNICA....................................................................................................... 69

CAPÍTULO 2
FARMACOVIGILÂNCIA............................................................................................................ 75
CAPÍTULO 3
MEDICAMENTOS..................................................................................................................... 78

UNIDADE V
INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA...................................................................................... 81

CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA ........................................................................ 81

CAPÍTULO 2
SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA.................................................................................................. 89

CAPÍTULO 3
MÉTODOS A UTILIZAR............................................................................................................. 100

PARA (NÃO) FINALIZAR.................................................................................................................... 109

REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 112
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para
aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

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Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Caro aluno,

Esta disciplina tem como objetivo fornecer uma pequena introdução a Saúde Pública
conceitos básicos de Farmacologia Clínica e Epidemiologia e Semiologia Farmacêutica.
Discutirá questões referentes à farmacoepidemiologia e apresentará as diversas fases
de Desenvolvimentos de Novos Fármacos e a Segurança nas Etapas de Investigação e
Surgimento de novas drogas. Será discutido o uso de Medicamentos e a Farmacovigilância
entre outras questões importantes como Reações e Eventos Adversos na Administração
de Medicamentos e a Responsabilidade Sanitária. Ainda, tem o objetivo de apresentar a
nova modalidade de atuação profissional Farmacêutica: Semiologia.

Objetivos
»» Revisar os princípios básicos da Saúde Publica e sua relação com a
Epidemiologia e metodologia.

»» Adquirir conhecimento em Farmacoepidemiologia.

»» Conhecer as características dos principais modelos de estudos


epidemiológicos aplicados ao estudo do medicamento.

»» Adquirir os conhecimentos básicos sobre a metodologia epidemiológica


aplicada ao estudo do risco e do benefício associado ao uso do
medicamento.

»» Compreender o racional de estudos de utilização de medicamentos.

»» Avaliar e interpretar criticamente os resultados de estudos


farmacoepidemiológicos.

»» Adquirir conhecimentos e discutir do sistema de notificação ao Sistema


Nacional de Farmacovigilância.

»» Conhecer os processos de identificação de reações adversas e sua


notificação.

»» Conhecer e discutir questões importantes como Erros na Administração


de Medicamentos.

»» Introdução ao conceito e métodos de Semiologia Farmacêutica.

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SAÚDE PÚBLICA E UNIDADE I
EPIDEMIOLOGIA

CAPÍTULO 1
Introdução à saúde pública e a
epidemiologia

Não é fácil obter definição sucinta e clara de Saúde Pública, já que vários autores
contribuíram com seu estudo e deram cada um sua definição. Seus conceitos e
as suas visões podem abordar desde um conceito mais politico, como também
um conceito de serviços de saúde, ou então conceitos de saneamento básico e
meio ambiente.

É muito importante entender que a Saúde Pública é que é uma disciplina que
trata da proteção da saúde a nível populacional. Neste sentido, entendemos que
a Saúde Publica procura melhorar as condições de saúde das comunidades por
meio da promoção de estilos de vida saudáveis, das campanhas de sensibilização,
da educação e da investigação.

Em resumo, ela surge de vários movimentos tanto na Europa quanto nas Américas
como forma de controlar, as endemias e epidemias que ameaçavam a ordem
econômica vigente e depois como controle social, buscando a erradicação da
miséria, desnutrição e analfabetismo.

E vem como mais força quando surgem as transformações na química, nos


processos industriais farmacêuticos, nos diagnósticos e nos métodos científicos
juntamente com as transformações políticas, culturais e econômicas que as duas
Grandes Guerras fizeram marcar em todo o mundo.

Saúde Publica
Existem muitas definições sobre o que é a Saúde Publica, mas talvez a que mais se
identifica com sua verdadeira essência é a definição de Winslow (1920) e Terris

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UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA

(1991), conceituam a saúde pública como “a arte e a ciência de prevenir a doença e a


incapacidade, prolongar a vida e promover a saúde física e mental mediante os esforços
organizados da comunidade” (TERRIS apud PAIM, p.12).

Seu diferencial com a medicina é o conceito do coletivo e de comunidade, e se entende


que é na população que se deve focar a solução de problemas e eventos de saúde.

Em nossa Constituição Federal de 1988, a Saúde Publica e o direito a saúde são vistos
entre os arts. 196 e 200, que falam sobre as responsabilidades e direitos de cada cidadão
além do mais reúne um conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação
da saúde.

Podemos encontrar no primeiro e no segundo articulo o conceito do direito à saúde,


e o dever do Estado de garantir não apenas serviços públicos de promoção, proteção,
assistência e recuperação da saúde, mas de adotar políticas econômicas e sociais que
melhorem as condições de vida da população. E com essa visão surge o Sistema Único
de Saúde ─ SUS, Sistema Público de Saúde brasileiro, do qual este órgão e a outros
setores da Administração Pública é atribuído o dever de cuidar da população e sua
saúde.

Com a criação do SUS, toda a população brasileira passou a ter direito a saúde universal,
equitativa e gratuita, que deve ser fornecida pelos três órgãos federativos, e não somente
do Estado. Estes órgãos federativos são responsáveis também pela saúde da população:
União, estados, Distrito Federal e os municípios.

Esse novo conceito de saúde considera alimentação, moradia, saneamento, meio


ambiente, trabalho, educação, transporte etc. fatores determinantes; impõe aos órgãos
que compõem o Sistema Único de Saúde o dever de identificar esses fatos sociais e
ambientais e ao Governo o de formular políticas públicas condizentes com a elevação
do estilo e modo de vida da população.

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e
de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços
para sua promoção, proteção e recuperação. Art. 197. São de relevância
pública as ações e serviços de saúde, cabendo ao Poder Público dispor,
nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle,
devendo sua execução ser feita diretamente ou através de terceiros e,
também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.

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SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I

Acessem o site da OMS e descubram quais são as funções essenciais da Saúde


Publica: <http://www.who.int/en/>, você poderá escolher o idioma inglês ou
espanhol.

Aqui <http://www.conselho.saude.gov.br/14cns/docs/constituicaofederal.pdf>,
podemos encontrar todos os artigos relacionados aos Direito a Saúde, Constituição
Federal de 1988.

Epidemiologia

A relação entre a Epidemiologia e a Saúde Pública, sempre caminharam juntas e por


isso se foram definindo e fazendo sentido em conjunto desde muito tempo.

Para a Saúde Pública seu elemento principal e diferencial de estudo é a saúde coletiva,
saúde e bem-estar da comunidade e da população.

No final do século XIX, houve uma explosão de doenças infecciosas, epidemias e


endemias que preocuparam e mobilizaram toda a área de saúde desta época, e é justo
neste momento em que se inicia a produção de medicamentos em grande escala.

Com essa grande produção, tempos depois, surge o uso abusivo de medicamentos,
as reações adversas aos medicamentos e a resistência da ação medicamentosa e não
controle de doenças infecciosas na população.

É a medida que aumenta o número de medicamentos no mundo, aumenta também a


preocupação por parte dos profissionais da área de saúde em como utilizar devidamente
este “recurso”. Por isso, a contribuição da epidemiologia ao estudo dos medicamentos
nas sociedades, apesar de um tema ainda pouco conhecido, é muito importante.

Vários acontecimentos no decorrer da história nos mostram que conhecer bem a


utilização de um medicamento é muito significativo.

Em 1937, mais de 100 crianças morreram nos Estados Unidos (EUA) pelo
uso de um elixir de sulfanilamida, que foi um dos primeiros medicamentos
empregados no combate às infecções bacterianas, que continha como veículo
o dietilenoglicol. Apesar do conhecimento dos efeitos tóxicos do solvente já
fossem bem estabelecidos naquela época, não eram conhecidos pelo próprio
fabricante do elixir.

Como resultado deste incidente, em 1938 foi aprovado à lei que criou nos
Estados Unidos a Food and Drug Administration (FDA), dos quais as indústrias

11
UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA

farmacêuticas deveriam por lei e supervisão deste órgão, fornecer a eles todos
os dados clínicos sobre segurança de novos medicamentos antes da permissão
para a sua comercialização.

Depois, outro ocorrido marcante foi no início da década de 1950, observou se


o uso terapêutico de cloranfeniclol, um antibiótico de amplo espectro, sendo
eficaz contra bactérias Gram-negativas, gram-positivas e riquetsias, que induzia
em alguns pacientes a anemia aplástica (Anemia Aplástica ou Aplásica ocorre
quando a medula óssea produz em quantidade insuficiente os três diferentes
tipos de elementos sanguíneos: glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e
plaquetas) como efeito adverso.

Em 1960, a FDA lançou nos Estados Unidos o programa de notificação de


efeitos adversos causados pelos medicamentos e também foram publicados os
primeiros estudos de utilização de medicamentos, englobando a comercialização,
distribuição, prescrição, dispensação e uso de medicamentos em uma sociedade,
enfatizando especialmente as consequências médicas, sociais e econômicas que
resultam desta utilização (OMS, 1977).

O fato mais marcante relacionado ao uso de medicamentos foi o surto de


focomelia, ocorrido em 1961, que atingiu vários países onde a talidomida
era comercializada. Alguns dados nos mostram que mais de 10.000 crianças
nasceram deformadas em consequência do uso de talidomida pelas mães, sendo
que somente aproximadamente 5.000 recém-nascidos sobreviveram a este fato.

A Talidomida foi desenvolvida como um sedativo, anti-inflamatório, mas seu efeito


adverso resultou ser a focomelia. Focomelia quer dizer deformação dos membros, e é
uma síndrome caracterizada pela aproximação ou encurtamento dos membros junto ao
tronco do feto, tornando-os semelhantes aos de uma foca.

Somente um comprimido, utilizado durante os primeiros meses de gravidez provoca


graves defeitos e más formações visuais, auditivos, da coluna vertebral e, em casos mais
raros, do tubo digestivo e problemas cardíacos.

Durante os estudos epidemiológicos do uso da talidomida comprovaram os seus efeitos


teratogênicos.

Com o FDA nos Estados Unidos praticamente não houve incidentes relacionados à
talidomida, pois já se havia dado o alerta de alguns efeitos colaterais indesejáveis como
o hipotireoidismo e neuropatia periférica, e devido a isso foi retirado do mercado.

12
SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I

Neste cenário, foram iniciados os primeiros estudos com enfoque na utilização racional
de medicamentos, em resposta à necessidade de se conhecer e relatar os problemas
relacionados à medicação e da elevada morbidade e mortalidade associada ao uso
inadequado dos medicamentos (OMS, 1969).

No entanto, em 1965 foi descoberto o seu efeito benéfico no tratamento de estados


reacionais em Hanseníase (antigamente conhecida como lepra), e não para tratar a
doença propriamente dita, o que gerou a sua reintrodução no mercado brasileiro com
essa finalidade específica.

A partir daí foram descobertas inúmeras utilizações para a droga no tratamento de


HIV, Lupus, e doenças crônico-degenerativas ─ Câncer e Transplante de Medula.

Sabendo dos seus efeitos teratogênicos, a Talidomida, é um medicamento vigiado por


nossa autoridade sanitária e por força da Portaria no 354, de 15 de agosto de 1997,
proibida para mulheres em idade fértil e grávidas em todo o território nacional.

E para o sexo masculino, conforme a Resolução RDC no 140/2003 da ANVISA, a


bula do medicamento informa que “os homens que utilizam a Talidomida e mantém
vida sexual ativa com mulheres em idade fértil, mesmo tendo sido submetidos
à vasectomia, devem ser orientados a adotar o uso de preservativo durante o
tratamento” e ainda “sobre a importância dos usuários não doarem sangue ou
esperma”. E seu uso vem acompanhado de uma notificação ao usuário e um termo
de consentimento para seu uso.

Podemos citar outros vários casos, mas o mais importante foi aprender com estes
grandes sustos mundiais, e a partir de então, entender que a ideia do medicamento
como produto de qualidade e segurança absoluta deve ser questionada.

O avanço da farmacologia clínica, com seus conhecimentos sobre o efeito do medicamento


moderno ao homem, permitiu-nos compreender mais claramente a distinção sobre
os efeitos terapêuticos e os efeitos indesejáveis ambos presentes durante o uso de um
medicamento.

A indústria farmacêutica é um dos maiores complexos industriais no mundo. Por isso,


à medida que aumenta o número de medicamentos no mundo, e apesar dos novos e
sofisticados métodos para a produção, maior é a necessidade de estudá-los e este é o
dilema da Farmacoepidemiologia.

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UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA

Um bom texto para praticar e entender a importância da vigilância em


saúde quando falamos de medicamentos é o “USO DA VIGILÂNCIA E DA
MONITORIZAÇÃO EM SAÚDE PÚBLICA” que você pode encontrar em: <http://
portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/iesus_vol7_3_usos.pdf>.

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CAPÍTULO 2
Conceitos e tipos de estudos

Conceito de Epidemiologia
A palavra Epidemiologia deriva de três vocábulos gregos:

EPI – que significa “sobre”;

DEMOS – que quer dizer “população” e

LOGOS – que pode ser traduzido como “tratado”, “estudo”.

Ou seja, Epidemiologia é o ramo da Ciência de Saúde que estuda o que ocorre sobre
a população. Ela é considerada como uma disciplina básica da Saúde Pública, que se
ocupa de uma dimensão coletiva utilizando métodos de estudos biológicos.

A epidemiologia tem sido indicada, há quase meio século, para o uso diverso como
a descrição de doenças em populações, identificação de grupos suscetíveis, além da
avaliação de serviços, programas e ações de saúde (MORRIS, 1975).

É o estudo das relações dos diferentes fatores que determinam a frequência e distribuição
de um processo ou doença em uma comunidade. Deve-se observar que a Epidemiologia
preocupa-se com todas as condições que dizem respeito ao estado de saúde de uma
população e não somente do indivíduo.

Tem como definição tradicional de ciência que trata o estudo da distribuição das
doenças, de suas causas e de sua frequência no homem, assim como o conhecimento
de dados para a intervenção orientada ao controle e erradicação dessas doenças. Hoje
esse conceito evoluiu e somando a definição também é uma ciência que se ocupa
das relações entre a saúde e a doença, e as condições de vida dos diferentes grupos
populacionais, por meio de estudos de um grupo multidisciplinar, utilizando diversos
conceitos, métodos e técnicas.

[...] ciência que estuda o processo saúde ─ doença em coletividades


humanas, analisando a distribuição e os fatores determinantes das
enfermidades, danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva,
propondo medidas específicas de prevenção, controle, ou erradicação
de doenças, e fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao

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UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA

planejamento, administração e avaliação das ações em saúde.


(ROUQUAYROL; GOLDBAUM, 1999, p.15).

Na prática da investigação epidemiológica, nos locais de saúde e nos institutos


sanitários, a epidemiologia desenvolveu primeiramente seu interesse em alguns eventos
ou problemas de saúde, que por diversas razões, foram classificadas como prioridade.

Devido a isso, se desenvolveu a epidemiologia de doenças infecciosas, crônicas e


degenerativas, de acidentes, mentais e recentemente as doenças ambientais.

Tempos depois surgiu à epidemiologia clínica que é a aplicação de princípios e métodos


epidemiológicos em problemas encontrados na clínica médica, analisando e medindo
as observações científicas em medicina. A aplicação destes métodos epidemiológicos e
técnicas estatísticas para o estudo de problemas clínicos e de sua melhoria é realizado
sempre e quando necessário.

A epidemiologia clínica porque procura responder essas questões e ajudar a tomar


decisões com a melhor evidência disponível. É epidemiológica, muitos dos métodos
utilizados para responder a estas questões foram desenvolvidos por epidemiologistas e
devidos aos cuidados administrados aos doentes individuais são vistos no contexto de
um grupo maior da população de que o doente faz parte.

Os objetivos principais da epidemiologia clínica são: definições de normalidade e


anormalidade validade dos testes de história natural e prognóstico das doenças, a
efetividade do tratamento e prevenção na prática clínica, análise de riscos e benefícios
dos procedimentos diagnósticos e terapêuticos e avaliação dos serviços de cuidados de
saúde.

Fonte: <http://whqlibdoc.who.int/publications/2010/9788572888394_por.pdf>.

E por fim, surgiu a epidemiologia social, que analisa os determinantes sociais do


processo saúde-doença. O que distingue a epidemiologia social das outras abordagens
epidemiológicas não é a consideração de aspectos sociais, afinal todas reconhecem a
importância desses aspectos, mas sim a explicação do processo saúde-doença e sua
evolução com as condições de seu entorno e a educação recebida em esta população
analisada. Ela analisa discussões questões locais, regionais, estaduais, nacionais e
internacionais, os mercados financeiros, o lixo, pobreza, as catástrofes ambientais,
o desemprego, a desnutrição, a precariedade do trabalho, o trabalho escravo e as
condições de vida em escala mundial.

Todas essas informações e toda essa investigação dos cuidados de saúde podem ser
muito útil para gestão, recomendações, melhores práticas etc.

16
SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I

A utilização efetiva do uso da epidemiologia no planejamento das ações em saúde é um


assunto importante por sugerir uma tomada de decisão no campo da saúde, podendo
refletir na prevenção de doenças e promoção da saúde da população.

Podemos entender o papel da Epidemiologia e sua importância para a saúde?

Estudos epidemiológicos

Um passo importante da investigação epidemiológica consiste na aplicação de estudos


que relacionam fatores e doenças, e também estratégias para analises de dados obtidos
para a melhoria da saúde da população.

Praticamente os estudos Epidemiológicos se dividem e se fundamentam nos seguintes


métodos:

»» Descritivos: simples descrição da distribuição dos problemas ou eventos de


saúde em determinadas populações ou diferentes grupos de uma mesma
população, que identifica-se quais os grupos de risco e as necessidades
e as suas características. A epidemiologia descritiva examina como a
incidência (casos novos) ou a prevalência (casos existentes).

»» Analíticos: são estudos desenhados especialmente para examinar a


validade de algumas hipóteses e questões científicas que relacionam
eventos, como uma suposta “causa” e um dado “efeito”, ou “exposição”
e “doença”. Ou seja, ele pode começar em um estudo descritivo, que se
selecionará grupos ou determinadas populações para realizarem estudos
que procuram esclarecer uma dada associação entre uma exposição, em
particular, e um efeito específico previamente já formulado. Sempre
haverá dois grupos já que o estilo dos estudos analíticos é comparativo.
Com isso, terá no mínimo dois grupos de indivíduos estudados: o grupo
“estudo” e o grupo de comparação conhecido como “grupo controle”.

»» Experimental: são estudos de manipulação, ou seja, de aplicação,


modificação de frequência, intensidade da suposta causa e observação
realizada neste estudo. É o momento da intervenção do investigador.
Realizam-se estudos que o investigador se questiona se a determinada
intervenção funciona, qual seu efeito e o que seria o melhor método.
Portanto, podemos definir este tipo de estudo como um teste ou até uma
comparação. A intervenção experimental pode ser uma nova droga a ser
testada ou uma nova conduta de tratamento. Como é o investigador quem
diz para quais indivíduos vai dar a intervenção e quais vão continuar

17
UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA

recebendo a antiga intervenção ou a nenhuma, ele tem a possibilidade de


tornar os dois grupos estudados muito semelhantes entre si, utilizando
uma escolha do tipo aleatória ou randomizada, que poderia ser por
sorteio, ou escolha ao azar.

»» Observacionais: este método conhecido como observacional o


investigador do estudo não intervém, como o próprio nome sugere, mas
realiza as medições e as investigações devidas em seu objeto de estudo.
Essas medições são conhecidas como desenhos epidemiológicos, que os
grupos de estudo e de controle, já estão separados com as características
já existentes nesses indivíduos. Esses desenhos são classificados como:
Transversal, Coorte, Caso-Controle e Ecológico.

Em realidade devido a algumas características de cada grupo, podemos observar que um


tipo de estudo tem uma próxima etapa, que em realidade seria o outro tipo de estudo.

Em todos se observa que se inclui vigilância, análises, pesquisa analítica e experimento.


A análise do tempo, local e características dos indivíduos, são determinantes, e também
todos os fatores físicos, biológicos, sociais, culturais e comportamentais que influenciam
a saúde. Condições relacionadas à saúde incluem doenças, causas de mortalidade,
hábitos de vida (como tabagismo, dieta, atividades físicas, estilo de vida etc.), provisão
e uso de serviços de saúde e de medicamentos.

Figura 1. A seguir poderá identificar a divisão desses dois métodos e suas próximas etapas de estudo.

Descritivos Analíticos

Experimentais
Observacionais

Caso Controle
Ecológicos
Transversal Coorte

Fonte: Autor.

18
SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I

Estudos epidemiológicos observacional transversal

O estudo transversal, também chamado estudo de prevalência, tem como objetivo


principal medir a prevalência de um determinado evento é dos estudos mais utilizados
em epidemiologia pelas vantagens que apresentam e estas serão discutidas a seguir.
Todas as medições são feitas em um único “momento”, não existindo, assim, período
de seguimento dos indivíduos estudados. Para a realização de um estudo transversal
o investigador tem que, primeiro, definir a questão a responder, depois, definir a
população a estudar e eleger um método de escolha da amostra e, por fim, definir os
fenômenos a estudar e os métodos de medição das variáveis de interesse.

Vantagens

A maior vantagem dos estudos transversais é que permitem tirar conclusões sem a
existência de um período de seguimento. Estas questões tornam os estudos transversais
mais baratos, mais rápidos, mais fáceis em termos logísticos e não sensíveis aos
problemas como as perdas de seguimento e outros, característicos de outros estudos
como os estudos longitudinais. Este tipo de estudos é a única maneira de calcular a
prevalência das doenças e dos fatores de risco. São também estudos adequados à análise
de redes de causalidade.

Desvantagens

A maior desvantagem dos estudos transversais é com a impossibilidade de estabelecer


relações causais por não provarem a existência de uma sequência temporal entre
exposição ao fator estudado e o subsequente desenvolvimento da doença.

O fato de nos estudos transversais só se poder medir a prevalência, e não a incidência


torna limitada a informação produzida por este tipo de estudos no que respeita à história
natural das doenças e ao seu prognóstico.

Figura 2. Estudos transversais.

POPULAÇÃO ALVO

AMOSTRA ESTUDADA

 EXPOSTOS E DOENTES

 EXPOSTOS E /NÃO DOENTES

 NÃO EXPOSTOS E DOENTES

 NÃO EXPOSTOS E NÃO DOENTES


Fonte: Autor.

19
UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA

Estudos epidemiológicos observacional coorte

Nos Estudos de Coorte, o investigador forma os grupos de expostos e não expostos a um


determinado fator de interesse, ou entre as pessoas que já apresentam cada uma das
condições e segue-os durante algum tempo para verificar os efeitos da exposição, por
comparação dos dois grupos.

O termo Coorte é utilizado para designar um grupo de indivíduos que têm em comum
um conjunto de características e que são observados durante um determinado período
de tempo com o intuito de analisar a sua evolução.

Em Estudo de Coorte é, inicialmente, agrupado um conjunto de indivíduos conhecidos


como coorte que não apresentam o resultado esperado outcome.

É, assim, possível estudar o modo como a presença de determinada característica


influencia o aparecimento de determinada doença e comparar os riscos de desenvolver
a doença daqueles que têm tal característica com o risco daqueles que não a têm.

Vantagens

Os estudos de coorte são a melhor alternativa aos estudos experimentais que são muitas
vezes inviáveis em investigação.

Uma das principais vantagens destes estudos é ser o melhor método de estudar a
incidência e história natural das doenças.

Os estudos de coorte são estudos prospectivos que permitem uma medição das variáveis,
porque se determinam exposições no presente sem ter que recorrer à memória dos
indivíduos, ou outras fontes indiretas, o que poderia ser relevante para determinação.

Com ele as determinações são feitas antes do resultado esperado, geralmente uma
doença, ter acontecido, evitando, assim, o enviesamento inerente à determinação da
exposição em um indivíduo que conhece já o seu estado de doente.

Ainda relacionado com o carácter prospectivo dos estudos de coorte está o fato de estes
permitirem apresentar resultados com crescentes tempos de seguimento, aumentando,
assim, à medida que o tempo de seguimento se torna mais longo, o número de casos e o
poder estatístico do estudo, à custa de um modesto aumento no custo do estudo.

20
SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I

Desvantagens

Cientificamente falando a maior desvantagem dos estudos observacionais de coorte, é


estarem sujeitos aos erros sistemáticos que os estudos experimentais, uma vez que não
se controla diretamente a exposição ao fator em estudo.

Importante exemplo deste tipo de erros são os fatores de confusão, que as pessoas que
são expostas a um determinado fator de risco, provavelmente, diferem do grupo de não
expostos com que são comparados em muitos outros fatores para além daquele que
se pretende estudar. Se tais fatores estiverem relacionados com a doença, poderão ser
eles e não o fator que se pretende estudar os responsáveis pela possível associação que
se pode encontrar entre o fator em causa e a doença. A estes outros fatores que estão
associados simultaneamente à doença em estudo e ao fator em causa e que confundem
a relação entre este e a doença, dá-se o nome de fatores de confusão.

Outro fator de desvantagem é que este estudo pode tornar mais caro e mais difícil e
também a dificuldade no seguimento dos doentes nos estudos de coorte já que se deve
prolongar por um período de tempo suficientemente longo como para permitir que o
risco inerente à exposição se manifeste.

A principal limitação para o desenvolvimento de um Estudo de Coorte, além do seu custo


financeiro, é a perda de participantes ao longo do seguimento por conta de recusas para
continuar participando do estudo, mudanças de endereços ou emigração. Os custos e as
dificuldades de execução podem comprometer o desenvolvimento.

Figura 3. Os custos e as dificuldades de execução podem comprometer o desenvolvimento.

PESSOAS LIVRES DA
EXPOSTOS / NÃO EXPOSTOS
ENFERMIDADE

TEMPO DE OBSERVAÇÃO DOENTES E NÃO DOENTES

Fonte: Autor.

Estudos epidemiológicos observacional caso


controle

Nos estudos de caso-controle, o investigador forma dois grupos, os grupos de doentes


e o grupo de não doentes entre as pessoas que já apresentam cada uma das condições

21
UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA

para estimar fatores de risco para a doença, comparando as exposições a que os dois
grupos estiveram sujeitos.

Os estudos caso-controle e os estudos de coorte podem ser utilizados para investigar a


etiologia de doenças ou de condições relacionadas à saúde entre idosos, determinantes
da longevidade; e para avaliar ações e serviços de saúde. Os estudos de coorte também
podem ser utilizados para investigar a história natural das doenças.

Nos estudos caso-controle, primeiramente, identificam-se indivíduos com a doença


(casos) e, para efeito de comparação, indivíduos sem a doença (controles).

Os estudos caso-controle e os estudos de coorte podem ser utilizados para investigar a


etiologia de doenças ou de condições relacionadas à saúde entre idosos, determinantes
da longevidade; e para avaliar ações e serviços de saúde. Os estudos de coorte também
podem ser utilizados para investigar a história natural das doenças.

Vantagens

»» rápidos e baratos quando comparados com outros desenhos;

»» particularmente bons no estudo de doenças com períodos de latência


muito longos;

»» ótimos para estudar doenças raras;

»» pode estudar múltiplos fatores de risco de uma doença;

»» promovem poucas perdas.

Desvantagens

»» ineficiente para estudar exposições raras;

»» não mede diretamente as incidências, a não ser que seja um estudo de


base populacional;

»» em algumas situações não se pode medir o tempo entre exposição e


doença;

»» susceptível a erros, principalmente de seleção ou de aferição


(recordatórios).

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SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I

Figura 4. Exposição.

SELECIONAM-SE PESSOAS COM A DOENÇA (CASOS)

COMPARA-SE COM PESSOAS SEM A DOENÇA (CONTROLES)

ANALISA FATORES DE RISCO (EXPOSIÇÃO)

Fonte: Autor.

Estudos epidemiológicos observacional ecológico

Utilizam como unidade de observação grupos de indivíduos e não indivíduos isolados.


Estudam a ocorrência de doença em um grupo de indivíduos em função das características
desse grupo. Servem essencialmente para levantar hipóteses para estudos analíticos.

Nos Estudos Ecológicos as medidas usadas representam características de grupos


populacionais, que é possível analisar a frequência de uma enfermidade ou problema
de saúde com uma visão coletiva, bem limitada e definida.

Podemos analisar comunidades, municípios, cidades, regiões ou países. Mas sempre


tendo como princípio populações que uma determinada exposição é mais frequente
terão maior incidência de doenças causadas por esta exposição.

Vantagens

»» Rapidez e baixo custo.

»» Úteis para levantar hipóteses e avaliar programas de saúde. Constituem,


às vezes, a única alternativa razoável quando há grande homogeneidade
populacional em relação à exposição (por exemplo: poluição do ar e
doenças respiratórias).

Desvantagens

»» Limitado às doenças que têm registro.

»» Falta controle na qualidade dos dados.

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UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA

A limitação que ocorre neste estudo é o que chamamos por falácia ecológica, ou seja,
pode surgir uma associação entre uma exposição e evento ao nível da população que não
permite afirmar que a exposição está mais presente naqueles que adquirem a doença.

Estes estudos, no entanto, ajudam a identificar fatores que merecem uma investigação
mais detalhada por meio de estudo com maior capacidade analítica. Por exemplo, a
demonstração de uma relação entre venda de cigarros per capita e mortalidade de
doença cardiovascular (DCV) em estudos ecológicos motivou o planejamento de estudos
Caso Controle e Coorte que vierem a demonstrar de forma bem mais convincente que
o hábito de fumar é um dos fatores determinantes de DCV, particularmente doença
coronariana e acidente vascular cerebral.

Algumas perguntas que podemos fazer para ajudarnos a identificar o tipo de


estudo/desenho epidemiológico:

»» existe manipulação? Se a resposta é sim, seguir pelo ramo de


estudo Experimental; se a resposta é não, seguir o ramo do estudo
Observacional;

»» somente se a resposta anterior foi não: a unidade de estudos são


indivíduos ou grupos de indivíduos? Se a resposta é indivíduos, seguir
o ramo de observacional, se a resposta for grupo de indivíduos, o
estudo é Ecológico;

»» se a resposta da pergunta anterior foi indivíduos: existe seguimento?


Se a resposta é sim, seguir pelo ramo Observacional Logitudinal, e se a
resposta é não, seguir pelo estudo Transversal;

»» em relação a resposta anterior: se a resposta foi sim, qual o sentido


cronológico do estudo? Para frente os estudos são to tipo Coorte, e se
é para atrás o estudo será do tipo Caso-Controle.

Medidas de frequências

As medidas de frequências nos estudos epidemiológicos compreendem medidas


estatísticas (media, mediana, modo), as frequências absolutas e relativas, os coeficientes
e as taxas.

São as medidas básicas da ocorrência das doenças em uma determinada população


e período. Para o cálculo dos coeficientes ou taxas, considera-se que o número de
casos está relacionado ao tamanho da população que lhes deu origem. O numerador

24
SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I

refere-se ao número de casos detectados que se quer estudar (por exemplo: mortes,
doenças, fatores de risco etc.), e o denominador refere-se a toda população capaz de
sofrer aquele evento – é a chamada população em risco. O denominador, portanto,
reflete o número de casos acrescido do número de pessoas que poderiam tornar-se
casos naquele período de tempo. Às vezes, dependendo do evento estudado, é preciso
excluir algumas pessoas do denominador.

As taxas interessam particularmente a epidemiologia, porque são utilizadas para medir


o risco de saúde por meio de um coeficiente. É simplesmente a expressão matemática
da relação entre o numerador e o denominador comum em um determinado tempo.

Quantidade de casos em um determinado período de tempo


x 10n
População exposta ao risco

São exemplos de taxas: taxa de mortalidade, taxa de mortalidade por causa específica e
taxa de mortalidade infantil.

Algumas taxas particulares apresentam um maior valor em epidemiologia;Taxa de


Incidência ou Frequência: a incidência mede o número de casos novos de uma doença,
episódios ou eventos na população dentro de um período definido de tempo e é um dos
melhores indicadores para avaliar se uma condição está diminuindo, aumentando ou
permanecendo estável, pois indica o número de pessoas da população que passou de
um estado de não doente para doente.

»» Incidência cumulativa = número de casos no decorrer do período/


população exposta no início do período.

»» Taxa de Prevalência: a prevalência (P) mede o número total de casos,


episódios ou eventos existentes em um determinado ponto no tempo.
O coeficiente da proporção de casos ou eventos em uma população
delimitada em um tempo determinado.

»» Coeficiente de prevalência= número de casos existentes/número de


pessoas na população.

»» Taxa de Letalidade: número de pessoas falecidas durante um período.

»» Taxa de Mortalidade: o número de óbitos.

25
UNIDADE I │ SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA

Medidas de efeito e associação


»» Risco Relativo (RR) expressão uma comparação matemática entre o risco
de enfermar-se em um grupo exposto a um fator qualquer e o risco em
um grupo não exposto ao mesmo fator.

»» RR = Índice de incidência entre o grupo exposto/Índice de incidência


entre os nãos expostos = (1,0 ausências de associação).

É de grande importância porque expressa o risco de um grupo com um fator, por


exemplo, homens, hipertensos, fumantes etc., em comparação a um grupo de referência
sem este fator, mulheres, não fumadoras, pressão estável etc. Não indica a frequência,
mas indica à medida que esta aumentando esse risco. Determina que um paciente
que talvez se encontre em um grupo de alto risco e assim prevenir. É muito útil para
descobrir e estudar a etiologia de uma enfermidade.

»» Razão de Prevalência (RP): é um sucessor do RR, estimado a partir de


dados de estudos de tipo coorte transversal.

»» Razão de Produtos Cruzados ou Odds Ratio (OR): em inglês Odds


significa chance e Ratio razão. Em estudos que não podemos utilizar RR
utilizaremos OR, ou quando a doença ou o evento é pouco frequente.

»» OR = probabilidade de não ocorrer /probabilidade de um acontecimento


ocorrer ou OR = odds de desenvolver a doença nos não expostos / odds
de desenvolver a doença nos expostos.

»» Risco Atribuído (RA): mede a magnitude de um risco absoluto (frequência)


que se pode atribuir a um fator particular, como o tabagismo.

»» RA = índice de frequência entre os expostos – índice de frequência entre


os não expostos.

Analise de dados

A análise de dados de um estudo epidemiológico depende do tipo estudo de seu objetivo.

»» Obtenção de medidas de frequência:

›› em estudos transversais se obtém estimações de prevalência;

›› em estudos experimentais e de Coortes se obtém incidências;

26
SAÚDE PÚBLICA E EPIDEMIOLOGIA │ UNIDADE I

›› em estudos de Casos e controles, se obtém odds de exposição para


casos e controles: odds de exposição dos casos: casos expostos/casos
não expostos; e odds de exposição de controles: controles expostos/
controles não expostos.

»» Obtenção de medidas de associação: medem a magnitude e o sentido da


relação de duas variáveis:

›› em um Estudo de Coorte experimental se calcula o RR e a partir das


medidas de incidência;

›› nos Estudos de Casos e controles se calcula OR a partir da Odds casos


e da Odds controles.

Um dos aspectos fundamentais da Epidemiologia é a quantificação de problemas


relacionados com a saúde de uma população. A possibilidade de medir a
frequência absoluta de uma doença assim como também suas variáveis, suas
áreas geográficas predominantes, são elementos básicos para a investigação e
para as profilaxias de distintas doenças.

27
OS MEDICAMENTOS E A UNIDADE II
SAÚDE PÚBLICA

CAPÍTULO 1
Farmacoepidemiologia

Os medicamentos essenciais são de fundamental importância no âmbito do


Sistema Único de Saúde.

São aqueles que têm como objetivo satisfazer as necessidades prioritárias de


cuidados da saúde da população.

Se a população tem à disposição no SUS os medicamentos mais seguros e


eficazes, do ponto de vista das evidências científicas, isso diminui muito o risco
de problemas relacionados com a farmacoterapia.

Esses medicamentos são selecionados por critérios embasados em evidências


científicas, entre elas a melhoria da qualidade de atenção à saúde, mais eficácia
na gestão dos medicamentos e prescrições médicas com mais qualidade.

Conheca a RELAÇÃO NACIONAL DE MEDICAMENTOS ESSENCIAIS – RENAME

Disponível em: <http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/rename_


pt_533_2012.pdf>.

O Ministério da Saúde publicou a Portaria MS/GM no 533, de 28


de março de 2012, que estabelece o elenco de medicamentos
e insumos da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais –
RENAME. A RENAME/2012 foi elaborada a partir das definições do
Decreto no 7.508, de 28 de junho de 2008 e estruturada de acordo
com a Resolução no 1/CIT, de 17 de janeiro de 2012.

28
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II

Conceito de Farmacoepidemiologia
Quando um novo fármaco é lançado no mercado, minimamente devemos saber que
durante seu desenvolvimento e sua fabricação se observou as seguintes características:

a. características físico-químicas;

b. perfil de atividades farmacológicas sobre modelos experimentais in vivo


e in vitro;

c. perfil de toxicidade experimental aguda, subaguda e crônica;

d. características farmacocinéticas;

e. atividade farmacológica e seus efeitos farmacológicos no homem;

f. dados de toxicidade aguda (e às vezes crônica) no homem e dados


comparativos com alternativas terapêuticas obtidas a partir de ensaios
clínicos controlados.

A farmacologia é uma disciplina que estuda os efeitos dos fármacos, suas aplicações,
benefícios, nova utilização em seres humanos por meio da Farmacologia Clínica, sendo
em grupos ou em pacientes individuais como vimos anteriormente.

Podemos dizer que se trata de uma área de Ciências de Saúde, que tem como objetivo
principal atingir o uso racional de medicamentos.

A farmacoepidemiologia é considerada como o resultado do casamento


entre a farmacologia e a epidemiologia. É definida como o estudo do
uso e dos efeitos dos medicamentos no conjunto das pessoas, sendo
sua principal preocupação os efeitos adversos identificados após a
comercialização dos produtos. (STROM, 1994)

Outra definição interessante a Farmacoepidemiologia é de Porta e Hartzema (1989) “É


uma nova disciplina no campo da pesquisa com fármacos; é definida como a aplicação
do conhecimento epidemiológico, dos métodos e da lógica dos estudos dos efeitos e dos
usos dos fármacos em populações humanas”.

E uma terceira definição “É a vigilância da vida do medicamento na comunidade, que


é descrita mediante técnicas adequadas, padronizadas e comparáveis, aparecendo na
literatura farmacológica como o conjunto de fatos relevantes sobre a relação do fármaco
com a medicina, produzidos no cenário científico e com imagem pública” (LAPORTE;
TOGNONI, 1989).

29
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

O medicamento tem se convertido em elemento importante na recuperação e garantia


da qualidade de vida da sociedade. Sabemos que os progressos da terapêutica
medicamentosa têm sido notáveis, desde muito tempo. Com isso, os medicamentos se
converteram em elementos poderosos para diminuir o sofrimento humano, produzir a
cura, prolongar a vida e retardar o surgimento de complicações associadas a doenças,
facilitando assim, o convívio entre o indivíduo e sua enfermidade.

Estudos Epidemiológicos de Medicamentos

Estudos de Utilização de Medicamentos (EUM)

Abordar epidemiologicamente o uso de um medicamento impõe reconhecer que sua


utilização não é somente na busca de um resultado farmacoterapêutico, se não como a
sociedade o utiliza, e o que esse uso gera nesta sociedade.

A análise dessa prática deve buscar demonstrar como os padrões de condutas


individuais e coletivas se comportam e como são construídas perante esse grande
mercado farmacêutico.

Se o objeto de epidemiologia é entendido como estudar e conhecer as “doenças em


populações”, podemos entender o consumo dos medicamentos pela população do lugar
a disciplina de farmacoepidemiologia.

A OMS define a utilização de medicamentos como “a comercialização, distribuição,


prescrição e uso de medicamentos em uma sociedade, com ênfase especial sobre as
consequências médicas sociais e econômicas resultantes” (OMS, 1977).

Os estudos relacionados a medicamentos e seu uso são conhecidos como EUM “Estudos
de Utilização de Medicamentos”, e são aqueles que independente do método, objetivo
buscam esclarecer tais aspectos. Esses estudos nos oferecem uma visão geral, ou de
particularidades da questão do uso de medicamentos em uma sociedade. Seria como
entender esse consumo e seus impactos na sociedade.

Objetivos da EUM

»» descrição do uso de medicamentos;

»» valoração qualitativa do uso de medicamentos;

»» intervenção para solucionar os problemas identificados;

30
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II

»» identificação e analises de problemas de uso de medicamentos;

»» analises e desenvolvimento de ações para solucionar os problemas


encontrados;

»» analises dos efeitos das ações encontradas.

Aspectos médicos

»» benefícios: eficácia na prevenção, alívio e cura das doenças e de seus


sintomas e complicações;

»» risco: efeitos adversos a curto e longo prazo; fatores especiais de risco


com provável determinação genética, doença e ambiente, nutrição, idade,
sexo, gravidez, amamentação etc.;

»» relação benefício/risco: até onde a prescrição e uso inapropriados


reduzem os benefícios e incrementam os riscos.

Aspectos econômicos

»» preços e custos dos medicamentos; produção local versus importação;


custos de novos fármacos em comparação com os já existentes e com
medicamentos genéricos; custos do tratamento farmacológico;

»» relação custo/eficácia/segurança em comparação com os aspectos


assinalados;

»» destinação atual e futura dos recursos nacionais (capital, pessoal,


instalações) no orçamento dos setores de saúde e de medicamentos.

Aspectos sociais

»» atitudes em relação aos fármacos e à saúde, tendências atuais na “cultura


do medicamento” versus a persistência ou ressurgimento da medicina
tradicional;

»» abuso de fármacos e a dependência química (causas e consequências);

»» uso inapropriado dos medicamentos (prescrição incorreta ou uso de


automedicação, de medicamentos recomendados por família, amigos,
vizinhos,...);

31
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

»» discriminação e injustiça social (a falta de disponibilidade de


medicamentos para os que dele necessitam).

Problemas detectados na EUM

»» oferta inadequada – excessiva ou insuficiente;

»» uso de Medicamentos Ineficazes ou Ineficientes;

»» fraude ou falsificação de medicamentos;

»» abuso ou excesso de utilização absoluta de medicamentos;

»» abuso ou excesso de utilização relativa de medicamentos;

»» mau uso na prescrição de medicamentos;

»» mal uso de medicamentos.

Alguns exemplos de problemas detectados pela EUM

»» Nifedipina em lugar da clortalidona ou atenolol;

»» Betabloqueadores na prevenção de Infarto Agudo do Miocárdio (IAM);

»» elevadas doses de Benzodiazepínicos em pessoas idosas;

»» alto índice de pessoas com hipertensão apesar de todas as opções de


tratamentos;

Você se animaria a entender o porquê a EUM relatou esses exemplos como


problemas?

Muitos estudiosos e pesquisadores brasileiros vêm dedicando-se cada vez mais a


estudos de utilização de medicamentos por meio da EUM, incorporando aos mesmos
aspectos relevantes no contexto da saúde pública.

Por isso, entender que saúde pública nos dias de hoje enxerga muito mais do que
doenças infecto contagiosas é muito importante.

Os estudos nascem de preocupações sanitárias que procuram gerar informações que


possam ser usadas para melhorias na realidade observada. Na área farmacêutica, é dada
mais ênfase aos estudos farmacoepidemiológicos que utilizam métodos quantitativos,

32
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II

porém reconhecendo que a utilização de medicamentos é um fenômeno complexo,


resultado de abordagem qualitativa que pode colaborar na compreensão do fenômeno
“utilização de medicamentos”, possibilitando a geração de práticas profissionais, como
prescrição e atenção farmacêutica, culturalmente mais apropriada.

A farmacoepidemiologia é a ciência que estuda o uso e os efeitos benéficos


e adversos dos medicamentos em grandes populações a partir do
método epidemiológico. Detecta riscos associados ao uso generalizado
de medicamentos e sua efetividade, emprega conceitos da farmacologia
clínica e da epidemiologia e seu desenvolvimento está centrado no
estudo da segurança dos fármacos na etapa de pós comercialização e no
âmbito dos estudos de utilização de medicamentos (EUM).

Estudos farmacoepidemiologicos

Vamos relacionar os estudos epidemiológicos com a farmacologia.

Estudos descritivos

Em este tipo de estudo, não tem como objetivo avaliar associações entre causas e efeitos,
mas muitas vezes esse tipo de estudo tem por base dados estatísticos de mortalidade.
Portanto, pode-se em este tipo de estudo, analisar dados como mortes por sexo, mortes
por idade, por grupos étnicos, por períodos (ano ou meses) condições climáticas ou até
por localização geográfica.

Em farmacoepidemiologia, este tipo de estudo tem sido muito utilizado para conhecer
aspectos importantes da utilização de medicamentos por determinados grupos de
população ou regiões. Com isso se pode estudar a interação do uso de medicamentos
com a assistência sanitária que corresponde a esta localização, e como é a incidência
do uso de determinados medicamentos, como foram prescritos, ou como a cultura da
automedicação.

Por meio desta análise, podemos estudar os medicamentos como indicadores da


prevalência de problemas médicos e da maneira como os profissionais de saúde
interagem com a comunidade utilizadora deste serviço na seleção de soluções que
envolvam a intervenção farmacológica.

Algumas estratégicas são estudadas:

1. analise da oferta de medicamentos;

2. estudos quantitativos de consumo de medicamentos;

33
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

3. estudos sobre a qualidade de consumo de medicamentos;

4. estudos sobre as prescrições médicas e hábitos de prescrições;

5. estudos de cumprimento na utilização da prescrição;

6. vigilância orientada a problemas na utilização de medicamentos.

Para o desenvolvimento destes estudos existe uma metodologia comum, com base em
uma classificação de medicamentos e no reconhecimento da existência de diferentes
técnicas para a quantificação e qualificação de consumo.

Drug Utilization Research Group (DRUG) é um grupo da OMS que recomenda


a classificação para estes tipos de estudos. Esse método recomendado chama-se
Classificação Anatômico-Terapeutico-Quimico, ATC.

Análise da oferta de medicamentos

A análise da oferta de medicamentos tem como fonte de dados de registros nacionais,


os catálogos oficias de origem nacional e os catálogos oferecidos pela indústria
farmacêutica. Esses catálogos fornecem ao estudo informações sobre o consumo, a
oferta e a qualidade de ambos, ou seja, a qualidade do consumo e a qualidade da oferta.

Um exemplo deste estudo foi baseado no DEF, Dicionário de Especialidades


Farmacêuticas. Um exemplar do ano 1989/1990, foi analisado. Um total de 95
medicamentos foi analisado, dos quais 27,4% continham uma única substância ativa
e 69,5% eram constituídos por dois ou mais princípios ativos. Os medicamentos
utilizados para baixar o nível de estresse e ansiedade da vida (calmantes, tranquilizantes,
antidepressivos, ansiolíticos), contribuíram com quase 70% das associações encontradas
e representavam quase 50% do total de medicamentos indicados para tal fim.

Os autores desses estudos alertaram sobre a deficiência e algumas distorções contidas no


DEF quando comparadas com as leituras cientificas de cada droga, o que ficou sugeriu a
omissão das indústrias farmacêuticas para não prejudicar a oferta e o consumo.

<http://pesquisa.biblioteca.iscte.pt/record?id=other:psyh:1993-85592-
001&original=false>.

Se você tem um DEF já tentou fazer algum tipo de analise deste tipo? Se sim, porque
não compartilha suas ideias com a gente? Caso contrário, quem se anima a um estudo
descritivo deste tipo?

34
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II

Estudos quantitativos de consumo

Os estudos quantitativos de consumo geram informações sobre tendências comparadas


de consumos de diversos produtos, sobre as motivações dos médicos e permitem as
analises entre regiões e períodos.

Para esse estudo utilizam fontes sobre as vendas privadas e para instituições como
hospitais, sanatórios e instituições públicas.

A quantificação do consumo pode enfocar diferentes aspectos, como preços, unidades


vendidas e unidades consumidas. A quantificação econômica do consumo, expressa,
por exemplo, como se comporta a verba destinada à área de saúde de cada região, ou de
um determinado sistema de saúde de um determinado país.

Pode se analisar também o consumo de determinado princípio ativo, ou grupo


terapêutico, unidades vendidas, comprar lugares de consumo, tipo de consumidor e
períodos de consumo.

Para enfrentar tais dificuldades em relação ao consumo abusivo e indiscriminado,


foi determinada a dose diária definida (DDD), que representa a dose media diária de
todos os medicamentos ou fármacos na sua dose ideal, indicada por literatura cientifica
de seu laboratório fabricante. Assim a DDD é uma unidade técnica que permite as
comparações neste tipo de estudo.

Não interfere neste estudo, os preços de cada medicamento, que pode variar, por
exemplo, em cada país.

Estudos sobre a qualidade de consumo

Os estudos sobre a qualidade de consumo enfocam amostras de medicamentos mais


vendidos, mais receitados, mais utilizados em hospitais e serviços de saúde. Informam
a qualidade de seu uso e a evolução do usuário.

Esse tipo estudo pode ser utilizado também para identificar a necessidade de intervenções
específicas como o esclarecimento à população quanto a seu uso adequado, a formação e
educação continuada de profissionais de saúde para a prescrição racional, identificação
de populações em risco de consumo crônico de medicamentos inadequados.

Avaliar a qualidade do uso de medicamentos por meio da análise do padrão do uso, do


grau de concordância com listas de medicamentos essenciais, do valor terapêutico e das
interações medicamentosas entre o uso.

35
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

Estudos de hábitos de prescrição médica

Os estudos de hábitos de prescrição médica utilizam as amostras de prescrições nas


comunidades, nos serviços de saúde e nos hospitais. Em geral, fornecem a prevalência da
prescrição médica em determinado grupo ou local. Podem também gerar informações
sobre a relação entre a indicação e a prescrição. Este tipo de estudo pode servir para
que os planejadores, administradores, investigadores e docentes façam comparações
básicas entre diferentes estabelecimentos e em diferentes momentos:

a. descrever práticas atuais de tratamento;

b. comparar condutas prescritivas entre estabelecimentos de características


similares;

c. monitorar periodicamente e supervisionar as condutas na prescrição e


uso de fármacos;

d. avaliar o efeito de uma intervenção que tenha sido desenhada para mudar
práticas de prescrição.

Estudos de cumprimento da prescrição

Os estudos de cumprimento da prescrição apresentam técnicas indiretas ou diretas


para a obtenção desses dados, mas nunca foi fácil avaliar o cumprimento da prescrição
médica em qualquer tipo de estudo.

As principais informações obtidas nestes estudos são: a prescrição comparada com


o uso real; o grau de informação do paciente sobre sua doença e sobre os efeitos da
medicação, indicadores da qualidade da relação médico/paciente.

As técnicas indiretas incluem: curso clínico, detecção de marcadores fisiológicos,


impressão do médico, entrevistas estruturadas, controle de repetição de prescrições,
contagem de comprimidos, monitorização da medicação. E as técnicas indiretas, temos
a determinação do fármaco, um metabólito ou um marcador em líquidos orgânicos, dos
quais avaliaram os níveis plasmáticos do fármaco e dos seus metabolitos e analisam a
estabilidade dos coeficientes do nível/dose e os níveis sanguíneos constantes, partindo
do princípio que os doentes que cumprem a prescrição apresentariam coeficientes de
nível/dose e níveis totais plasmático constantes.

Métodos simples como a contagem dos comprimidos ou da prescrição raramente são


exatos e a monitorização plasmática ou a contagem eletrônica raramente são simples
apesar de serem mais exatos. Tanto os próprios doentes como os médicos tem tendência

36
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II

para sobrestimar o cumprimento da prescrição e, infelizmente, não existe nenhum


método 100% confiável para quantificar o comprimento da prescrição.

Fontes de informações como as histórias clínicas, os conhecidos como


pacientes-problema ou tratamentos-problema e a partir dessa fonte pode obter
uma descrição detalhada de critérios de utilização de fármacos e de técnicas e
protocolos terapêuticos.

Hoje em dia, existem aparelhos registam o tempo preciso de abertura de um blister


de comprimidos, para monitorizar se o doente cumpre a prescrição farmacológica. No
entanto, esse aparelho de alta tecnologia, não é infalível, dado que não registram o
número de comprimidos retirados de cada vez e não podem inevitavelmente provar que
os comprimidos foram realmente.

Outros estudos sobre cumprimento da prescrição médica muitos fatores diferentes


influenciam o cumprimento da medicação, principalmente que as pessoas que vivem
sozinhas ou que tomam dois ou mais medicamentos evidenciam a falta de cumprimento
da prescrição. Inclusive podemos ressaltar também a falta de cumprimento nos horários
recomendados de toma dos comprimidos, por exemplo, de 8 em 8 horas ou de 12 em
12 horas.

1. Estudos de consumo – Descrevem quais medicamentos são


empregados e em que quantidade.

2. Estudos de prescrição-indicação – Descrevem as indicações de


utilização de um determinado fármaco ou grupo de fármacos.

3. Estudos indicação-prescrição – Descrevem os fármacos utilizados em


uma determinada indicação ou grupo de indicações.

4. Estudos sobre o esquema terapêutico – Descrevem características da


utilização prática dos medicamentos (doses, acompanhamento dos
níveis plasmáticos, duração do tratamento, observância).

5. Estudos dos fatores que condicionam os hábitos de prescrição


e dispensação – Descrevem características dos prescritores, dos
dispensadores, dos pacientes e de outros elementos atinentes
aos medicamentos e sua relação com os hábitos de prescrição e
dispensação.

6. Estudos das consequências práticas da utilização dos medicamentos –


Descrevem benefícios, efeitos indesejáveis e custos reais do tratamento

37
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

farmacológico, podem expor sua ligação com as características da


utilização dos medicamentos.

7. Estudos de intervenção – Descrevem as características da utilização


dos medicamentos vinculados a um programa de intervenção
concreta sobre seu uso.

Arnaud et al 1991 (in Barros)

Estudos ecológicos

Os estudos ecológicos podem ser chamados também denominados estudos de correlação


e são estudos de execução relativamente fácil e comparam indicadores globais de áreas
geográficas distintas ou de uma mesma área geográfica, em diferentes períodos.

A unidade de análise são populações ou grupos de pessoas, fato que não permite fazer
a associação individual entre a exposição e a doença.

A associação observada entre variáveis de um grupo não representa necessariamente


a associação existente ao nível individual, mas estudos ecológicos, entretanto, têm
frequentemente proporcionado um proveitoso início para pesquisas epidemiológicas
mais detalhadas.

Vejamos um exemplo da utilidade deste tipo de estudo em farmacoepidemiologia,


relatado por Stolley. Na Inglaterra durante um século, antes de 1960, as taxas de
mortalidade por asma permaneceram muito estáveis e baixas, em torno de 0,5 mortes
por 100.000 pessoas. A análise rotineira de estatísticas vitais mostrou a ocorrência
de uma epidemia. Em 1961, estas taxas de mortalidade começaram a aumentar
rapidamente, especialmente nas faixas etárias entre 5 e 34 anos. Depois de 1967,
essas taxas começaram a declinar, aproximando-se dos níveis pré-epidêmicos nos
anos de 1970.

Fonte: Stolley PD. The use of case-control studies in pharmacoepidemiology. In.:


Strom BL, Velo G. Drug epidemiology and post-marketing surveillance. New York, Plenum
Press: 49-52, 1992.

Varias investigações epidemiológicas analisam o aumento de uma taxa de mortalidade


em um determinado período ou em uma determinada região.

38
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II

Embora produzam informações úteis para a avaliação epidemiológica de medicamentos,


os estudos de correlação têm sérias limitações, particularmente se a proporção da
população que está usando a droga é pequena. Em geral eles somente podem ser
utilizados como uma evidência auxiliar para estudos baseados em métodos mais
rigorosos.

Estudos transversais

Este tipo de estudo é muito comum na investigação epidemiológica, também são


conhecidos como estudos de prevalência. Os estudos transversais medem, em uma
população previamente delimitada, a exposição a um ou mais fatores e o efeito da
doença ou condição.

Operacionalmente são estudos fáceis de realizar e de custo relativamente baixo, e suas


informações obtidas são de muita utilidade na avaliação das necessidades de saúde das
populações e no planejamento das ações para enfrentá-las.

Dois autores, Rouquayrol e Almeida Filho, identificaram cinco subtipos de estudos


transversais:

Estudos de grupos de tratamento

Estes estudos utilizam registros institucionais e a partir da procedência do paciente,


identificam a base populacional para o cálculo das prevalências. Suas estimativas são
influenciadas pela quantidade, qualidade e distribuição dos serviços, sendo difícil
operacionalizá-lo em locais que a organização do sistema de saúde é incipiente ou
precária. Ademais, este subtipo de estudo somente é eficaz quando as doenças são
graves e o tratamento se impõe.

Estudos em populações especiais

Os estudos deste tipo desenvolveram um interessante estudo transversal que se investiga


padrões de consumo de medicamentos em populações especiais.

Inquéritos na atenção primaria

Os estudos deste tipo são viáveis do qual existem redes regionalizadas de atenção
primária organizada. A fonte de dados pode ser tanto os registros institucionais quanto
um instrumento de detecção de casos aplicado a uma amostra ou à totalidade dos
usuários do serviço em um período definido de tempo.

39
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

Inquéritos domiciliares de morbidade

Neste estudo, é necessária a definição, por meio de amostragem ou recenseamento, de


uma base populacional para o estudo. Todos os indivíduos incluídos na investigação são
então examinados. Para minimizar a baixa confiabilidade do exame e da história clínica,
deve se utilizar entrevistas estruturadas e procedimentos diagnósticos padronizados.

Estudo transversal multifásico

Este estudo constitui um aperfeiçoamento do subtipo anterior, melhorando a relação


custo-efetividade. Inicialmente, aplicam-se instrumentos simplificados a toda
população ou amostra, triando para um exame mais completo aqueles participantes
suspeitos de serem portadores da condição enfocada, uma vez que atingiram pontos de
corte em instrumentos de detecção.

Fonte: Rouquayrol MZ, Almeida Filho N. Desenhos de pesquisa em epidemiologia.


In.: Epidemiologia e Saúde. 5.ed. Rio de Janeiro, Medsi: 149-170, 1999.

Estudos transversais realizados em populações usuárias de serviços específicos podem


fornecer informações importantes para a organização destes serviços.

Discutir resultados, alertar o alto consumo de medicamentos sem uma necessidade


comprovada, os riscos para a saúde que estes podem causar a alta taxa de disponibilidade
de medicamentos nos domicílios e risco de intoxicações que podem produzir quando
mal utilizados, o elevado consumo de analgésicos, assim como os medicamentos para o
aparelho respiratório e digestório, as distorções terapêuticas e às vezes a má distribuição
social da incidência desses problemas. Ainda pode-se dizer da falta de informação a
respeito do uso de medicamentos.

Todas essas perguntas quando respondidas geram dados estatísticos em tipo de estudo.
Esses dados poderão ser utilizados para a organização do nosso sistema de saúde e
da assistência farmacêutica, e quando exemplificados permitem conhecer melhor os
determinantes e o padrão de consumo de medicamentos na população. Desse modo,
podem contribuir significativamente tanto para o planejamento e organização das
ações de saúde quanto para reorientar as práticas assistenciais, na perspectiva de uma
utilização mais racional dos medicamentos em nosso país.

Estudos caso-controle

O desenho deste tipo de estudo possibilita a comparação entre dois grupos de pessoas.
Um dos grupos é composto por pessoas com uma determinada doença ou determinado
evento e essas pessoas são denominadas casos. O outro grupo é composto por pessoas
40
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II

com características semelhantes aos casos, exceto pelo fato de que não sofrem a doença
ou deste evento e essas pessoas são denominadas controles.

A comparação entre os dois grupos tem por objetivo identificar diferenças de exposição,
no passado, a uma ou mais variáveis que possam ter contribuído para a ocorrência da
doença/evento.

Quando se comprova a associação estatisticamente significante entre uma variável e a


doença/evento, esta passa a ser denominado fator de risco para aquela doença/evento.
As principais vantagens deste desenho são: custo relativamente barato, facilidade
na execução e grande utilidade na investigação de causas de doenças/eventos,
especialmente quando se trata de casos raros.

Estudos caso-controle podem ser particularmente úteis quando o pesquisador procura


estudar várias possíveis causas de uma única doença, uma vez que ele pode estudar
qualquer número de exposições como potenciais fatores de risco usando os mesmos
casos e controles.

Os principais problemas relacionados a este método incluem sua incapacidade de


estimar o risco, sua vulnerabilidade e sua complexidade analítica.

Para se obter a máxima similaridade entre casos e controles deve-se considerar na


escolha dos controles:

»» área geográfica de origem;

»» fatores socioeconômicos;

»» fatores culturais da comunidade;

»» a instituição ou serviço de saúde onde tenham sido atendidos previamente.

Em geral, a coleta de dados em estudos do tipo caso-controle é conduzida por meio


de entrevistas pessoais ou por consulta a registros médicos. Devem-se padronizar
rigorosamente os instrumentos, fontes de dados e critérios de atribuição de exposição
entre os grupos do estudo, com o objetivo de obter um dado de exposição válido e
confiável, tanto para os casos quanto para os controles.

Em farmacoepidemiologia, este tipo de desenho tem sido muito utilizado em estudos


de reações adversas a medicamentos (RAM), podendo contribuir também, mas com
pequena intensidade, na avaliação dos benefícios de um medicamento.

41
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

Figura 5.Um dos primeiros exemplos de comparação entre casos e controles, investigando RAM foi a descoberta

da relação entre o uso de talidomida por gestantes e a ocorrência de malformações congênitas em bebes

alemães nascidos entre 1959 e 1960,

Fonte: <http://eagaspar.com.br/mcguido/conceitos.htm>

Estudos de Coorte

Neste tipo de estudo se seleciona um grupo de pessoas de uma população que, no início
do estudo, não sejam portadoras da doença ou de um evento que se quer estudar e
avalia-se se a exposição a uma determinada variável contribui para o desenvolvimento
dessa doença, por exemplo. Os participantes são classificados em dois subgrupos,
segundo a presença ou ausência de exposição a um potencial fator de risco para a
doença/evento.

As variáveis de interesse são especificadas e medidas, e o Estudo de Coorte é acompanhado,


para ver se surge o desenvolvimento de novos casos da doença e se diferem entre os
grupos, conforme a presença ou não da exposição.

O grupo deve ser o mais homogêneo possível quanto às demais características, como
por exemplo, a faixa etária, local de residência ou de trabalho, atividade ocupacional
etc. que seja o mais padronizado possível.

O desenho é simples e não apresenta dificuldades para sua análise, e os estudos são
os que produzem a melhor informação sobre a etiologia das doenças e a medida mais
direta do risco para desenvolvê-la. Além disso, como recrutam pessoas saudáveis no
seu início, os estudos de coorte permitem investigar se os potenciais fatores de risco
enfocados estão relacionados a uma ampla variedade de desfechos (doenças/eventos) e
não apenas a um deles, como ocorre nos estudos caso-controle.

42
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II

Por outro lado, uma vez que a doença pode ocorrer somente após longos períodos de
exposição, este método pode requerer um período prolongado de acompanhamento, o
que resulta em um custo relativamente alto, e talvez ate uma maior chance de perdas
durante o acompanhamento por diversos motivos.

Outro problema relacionado aos estudos de coorte é sua inadequação quando a doença/
evento é rara nos dois grupos (expostos e não expostos), situação em que pode ser difícil
garantir um número de participantes suficientemente grandes para obter resultados
válidos.

Por exemplo, é necessário monitorar uma coorte com mais de 8.000 pessoas para
garantir um poder estatístico de 80% na detecção de um evento (RAM) que ocorre uma
vez a cada 5.000 pacientes expostos a um determinado medicamento.

Os participantes devem constituir um grupo o mais homogêneo possível quanto


às características de faixa etária, local de residência ou de trabalho, atividade
ocupacional etc.

Tal grupo homogêneo, assim definido, denomina-se coorte. O termo


“coorte” designava originalmente as unidades de combate das
legiões romanas, identificadas nos campos de batalha pelo uniforme
padronizado..

Fonte: Rouquayrol MZ, Almeida Filho N. Desenhos de pesquisa em epidemiologia. In.:

Epidemiologia e Saúde. 5.ed. Rio de Janeiro, Medsi: 149-170, 1999.

Essa analise requer medidas de associação que serão comparadas: Risco Relativo (Razão
de Incidências) e o Risco Atribuível (Diferença de Incidências), e os dados dos estudos
serão comparados e também suas proporções entre indivíduos que desenvolvem a
doença/evento no período de estudo, entre expostos e não expostos, permitindo o
cálculo de medidas de incidência e de estimativas de risco.

A análise comparativa produz medidas de associação que expressam,


respectivamente, o Risco Relativo (Razão de Incidências) e o Risco
Atribuível (Diferença de Incidências). Como consequência do fato de
quais fatores de exposição e doença são considerados sequencialmente
durante o período de seguimento do estudo, seus resultados, em geral,
permitem o estabelecimento da sequência temporal da associação.

Fonte: Rouquayrol MZ, Almeida Filho N. Desenhos de pesquisa em epidemiologia. In.:

Epidemiologia e Saúde. 5.ed. Rio de Janeiro, Medsi: 149-170, 1999.

43
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

Um estudo farmacoepidemiológico de coorte pode ser prospectivo quando é


desenvolvido simultaneamente com os eventos clínicos e observação. Os resultados
nos pacientes são desconhecidos no início do estudo; retrospectivo quando se estuda
exposições e eventos que ocorreram antes do início do estudo, mas é importante que
os pacientes sejam recrutados para o estudo com base na presença ou ausência de
determinada exposição, e os dois grupos devem ter uma doença ou condição clínica,
assim como outras características, que proporcionem a cada grupo uma probabilidade
igual de exposição ao medicamento.

Uma boa leitura, disponível em:< http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_


arttext&pid=S0102-311X2004000100017>.

Figura 6. Exemplo de Estudo de Coorte ambispectivo é um estudo multicêntrico de vigilância pós-

comercialização.

Fonte: <http://200.145.142.234/Metodologia/f-aula_6/01-estudos_de_coorte.htm>. Acesso em: 7 abr. 2015.

1. Os estudos de coorte podem ser utilizados em farmacoepidemiologia


para avaliar:

2. o efeito de medicamentos a longo prazo;

3. efeitos cuja frequência seja muito baixa em uma população;

4. a efetividade de medicamentos na prática cotidiana, em situações


reais;

5. os modificadores da eficácia do medicamento, como por exemplo,


medicações simultâneas, estilo de vida ou severidade da doença.

6. a eficácia de um medicamento para uma indicação para a qual a droga


não foi originalmente aprovada.

44
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II

Ensaio clínico randomizado

É o desenho de estudo experimental utilizado para analisar uma nova forma terapêutica
ou preventiva. A população participante do estudo é distribuída aleatoriamente em dois
grupos, denominados grupo de tratamento e grupo controle. Os participantes do grupo
de tratamento são expostos a uma determinada intervenção e os do grupo controle não
sofrem essa exposição. A intervenção estudada pode ser uma nova droga ou conduta
médica.

Os estudos de ensaios clínicos randomizados constituem uma ferramenta essencial


na construção de evidências científicas para a prática clínica e para a saúde pública.
São diferentes dos estudos observacionais por que nos ensaios clínicos é feita uma
intervenção, em geral são estudados dois grupos: controle e o tratado. Avaliam-se
prospectivamente os resultados comparando os dois grupos.

A randomização garante, se o tamanho da amostra é suficientemente grande, que


os determinantes conhecidos e desconhecidos do resultado estejam igualmente
distribuídos entre os grupos de tratamento e de controle.

Outro procedimento, o duplo-cego, tornou-se padrão nos ensaios clínicos de


medicamentos: o placebo recebido pelo grupo controle deve ser idêntico no tamanho,
na cor, consistência e sabor ao do medicamento recebido pelo grupo de tratamento.

O objetivo desse procedimento é assegurar que nem os pacientes nem os investigadores


saibam quem está recebendo tratamento ativo ou placebo, diminuindo a possibilidade
de introdução de vieses no estudo.

Além disto, uma precisa definição das medidas de resultado, a padronização de


técnicas de mensuração, seu teste e calibração visando garantir a reprodutibilidade da
mensuração são estratégias para minimizar o erro aleatório neste tipo de estudo.

Esses tipos de estudos enfrentam problemas que nos outros estudos não foram falados,
são problemas éticos e logísticos, além de serem caros. Hoje em dia existem comissões
de éticas que regulamentam este tipo de estudo.

Em farmacoepidemiologia, são frequentemente utilizados pela indústria farmacêutica


para demonstrar a eficácia de um determinado medicamento e convencer as agências
reguladoras de que o produto pode ser comercializado.

45
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

População alvo

A população de interesse em um estudo é chamada de população alvo. E essa população


alvo pode ser: usuários de medicamentos, população alvo do pesquisador, população
elegível, população de estudo, população da pesquisa ou população distribuída no
atributo. A definição deve ser clara e a escolha da população deve ser eficiente.

A população de usuários de medicamentos compreende aos usuários que são


portadores de uma determinada doença, dentro de uma região geográfica limitada, e
com características que devem ser conhecidas, já que essas características são fatores
importantes que influenciam ou não nos resultados.

Essa população reflete a cultura sanitária e a qualidade do sistema de saúde local, por
exemplo: acesso do usuário ao sistema de saúde, suas noções de quais serviços deve
procurar, disponibilidade técnica de diagnóstico, entre outros.

Amostragem, Coletar dados, questionários, formulários e entrevistas são os meios de


realizar estes estudos.

A escolha do delineamento epidemiológico apropriado à avaliação da eficácia e da


segurança dos medicamentos depende dos objetivos do estudo. E cada desenho de
estudo epidemiológico tem um papel apropriado no progresso científico e a decisão
de desenvolver um estudo farmacoepidemiológico, que pode ser considerada como
semelhante à decisão regulatória sobre a aprovação de um medicamento para
comercialização ou a decisão clínica quanto à prescrição de um medicamento.

Em cada caso a tomada de decisão envolve a ponderação dos custos e riscos da terapia e
seus benefícios. Os principais custos são obviamente os destinados ao desenvolvimento
do estudo. E entre os riscos de desenvolver um estudo farmacoepidemiológico estão as
possibilidade de identificar uma reação adversa associada ao medicamento, quando de
fato isto não ocorre, ou prover falsas garantias quanto à segurança do medicamento.

Estes riscos podem ser minimizados pelo desenho apropriado do estudo, por
pesquisadores capacitados e uma interpretação dos resultados obtidos.

Os benefícios dos estudos farmacoepidemiológicos envolvem a regularização do


medicamento no mercado, a área legal, clínica e comercial. Cada uma será de importância
para diferentes organizações e indivíduos envolvidos na decisão de iniciar um estudo.

46
CAPÍTULO 2
Outros estudos de
Farmacoepidemilogia

Grupo de investigação da utilização de


medicamentos
A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu os EUM como o grupo que se ocupa da
comercialização, distribuição, prescrição e uso dos medicamentos em uma sociedade,
consequências médicas, sociais e econômicas resultantes. O grupo de especialistas
conhecido como Drug Utilization Research Group (DURG) propõe uma definição
menos geral: os trabalhos de investigação sobre os aspectos quantitativos e qualitativos
dos determinantes do uso de medicamentos e de seus efeitos em pacientes específicos
ou em uma população geral. A utilização dos medicamentos se considera um indicador
sócio sanitário, sendo os EUM a ferramenta que nos permite sua avaliação e posterior
planejamento de estratégias de intervenção.

O processo de avaliação de qualquer medicamento inclui três passos complementares:

1. A avaliação dos benefícios dos medicamentos, por exemplo, a avaliação


quantitativa e qualitativa de sua eficácia.

2. O estudo do risco dos medicamentos, tanto em estudos controlados como


em condições normais de cuidado.

3. A avaliação do impacto dos tratamentos na história natural das doenças


na sociedade.

Juntamente com a EUM a OMS e o DURG, surge o sistema ATC/DDD, que permitem
fazer estudos comparativos de consumo de medicamentos no país em diferentes
períodos de tempo e estudos internacionais, independente de variações de preços, de
apresentações farmacêuticas e da procedência dos dados.

Algumas limitações do uso da DDD são os fármacos que possuem mais de uma
indicação com doses diferentes para cada indicação; não equivalem necessariamente a
dose média prescrita nem a dose média ingerida; pouco útil para expressar o consumo
de medicamentos quando as combinações em doses fixas de dois ou mais princípios
ativos constituem uma parte importante do mercado.

47
UNIDADE II │ OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA

»» ATC: Anatomical Therapeutic Chemical (ATC), ou seja, Classificação


Anatômico terapêutica, onde os fármacos são classificados em 5 grupos: 1)
grupo anatômico; 2) grupo terapêutico; 3) grupo farmacológico; 4) grupo
químico; 5) grupo com o nome da substância química ou princípio ativo.
Exemplo: com a metformina (hipoglicemiante oral): A = trato alimentar
e metabolismo (anatômico); A10: drogas utilizadas para diabetes
(terapêutico); A10B: droga oral para redução da glicemia (farmacológico);
A10BA: Biguanida (grupo químico); A10BA02: Metformina (substância
química, princípio ativo.

»» A DDD é a dose média diária de manutenção de um medicamento


utilizada para sua indicação principal em adultos. Mais detalhes sobre
a DDD: cada fármaco possui uma DDD única dependendo da via de
administração; a DDD se baseia no uso em adultos com peso médio de 70
kg; sendo a administração profilática a principal indicação do fármaco,
a DDD será correspondente a profilática; algumas preparações não têm
DDD listada; em preparações com mais de um fármaco a DDD será em
relação ao componente mais importante na ação terapêutica; preparações
associadas ou aquelas que a DDD não pode ser expressa pela unidade do
principio ativo é atribuído o uso de uma Unidade de Dose (UD) de acordo
com a forma farmacêutica; a DDD não é uma dose recomendada, mas
uma unidade de medida.

Epi info

Epi info é um software de domínio público, que podemos baixar a instalação pela Internet,
que foi criado pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC) , para a área da
saúde na parte de epidemiologia.

Tem como objetivo atender uma necessidade do gerenciamento e da análise de bancos


de informações, utilizado por profissionais de saúde pública para conduzir investigações
epidemiológicas, administrar bancos de dados para vigilância de saúde pública e outras
tarefas, e aplicações gerais de bancos de dados e estatísticos. Embora ele possa ser
programado para produzir sistemas para uso permanente, também pode ser usado
interativamente para projeto rápido de um questionário, entrada de dados, e análise
durante uma investigação.

A primeira versão do Epi Info foi lançada em 1985, ainda utilizando o sistema DOS
e EPI2000 é a primeira versão para Windows, facilitando a compatibilidade com os
programas Access e Excel.

48
OS MEDICAMENTOS E A SAÚDE PÚBLICA │ UNIDADE II

Foi desenhado por Andrew G.Dean, MD, MPH, THOMAS G. ARNER e PHD. Na divisão
de Epidemiologia e Informática em Atlanta, Geórgia.

Nele podemos desenvolver estatísticas epidemiológicas, gráficos, e tabelas com


comandos simples. E ainda, um componente chamado Epi Map exibe mapas geográficos
com dados provenientes do Epi Info.

Nele podemos criar uma base de dados, mediante a tabelas, que estão relacionadas ente
si, permitindo uma leitura simples e logica para que se possa trabalhar cm esses dados.

Em farmacoepidemiologia é muito útil, para organizar os questionários, os dados


dos pacientes, as reações detectadas anteriormente por determinado medicamento,
podendo incluir quantas variáveis queremos investigar. O desenho da base de dados
captura a informação, valida, codifica e elabora um informe.

Por exemplo, para criar um questionário devemos considerar:

O questionário pode ser:

»» história clínica;

»» perguntas;

»» formulários.

Fatores importantes:

»» descrever o questionário;

»» escolher o desenho da tabela;

»» estética da pesquisa.

Tipo de estudo:

»» quais são as fontes de informação;

»» quais são as variáveis incluídas;

»» quais são as unidades de análise.

49
USO RACIONAL DE
MEDICAMENTOS UNIDADE III
E REAÇÕES
ADVERSAS

CAPÍTULO 1
O Mercado Farmacêutico

Medicamentos, no Brasil, são registrados na Anvisa, por sua Gerência-Geral


de Medicamentos (GGMED). Esta inclui a Gerência de Medicamentos Novos,
Pesquisa e Ensaios Clínicos (GEPEC), a Gerência de Medicamentos Similares
(GEMES), a Gerência de Medicamentos Genéricos (GEMEG), a Gerência de
Medicamentos Isentos, Fitoterápicos e Homeopáticos (GMEFH), a Unidade
de Produtos Biológicos e Hemoderivados (UPBIH), a Unidade de Produtos
Controlados (UPROC) e a Unidade de Farmacovigilância (UFARM).

A avaliação de um dossiê de registro costuma ser dividida em três partes: análise


farmacotécnica, análise de eficácia, e análise de segurança.

Fonte:< http://www.anvisa.gov.br/medicamentos/registro/registro_novos.htm>.

»» Cerca de 50% dos medicamentos se prescrevem, se vendem ou se


administram de forma inapropriada e cerca de 50% dos pacientes não
tomam os medicamentos de forma adequada.

»» 50 a 70% das consultas médicas geram prescrição medicamentosa.

»» De todos os pacientes que dão entrada em prontos-socorros com


intoxicação, 40% são vítimas dos medicamentos.

Fonte: Dados retirados da OMS (2002). Promoción del USO racional de medicamentos:

componentes centrales. Perspectivas políticas de la OMS sobre medicamentos, no.5 de 2002.

Ginebra, Organización Mundial de la Salud.

50
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS │ UNIDADE III

Uso racional de medicamentos


Cadeia do Medicamento: processo que envolve as etapas do registro até
o uso do medicamento pela população, sendo que cada uma das etapas
é determinante do efeito final do fármaco. A cadeia do medicamento
envolve: os sistemas de saúde, indústria farmacêutica, universidades,
sociedades científicas, profissionais de saúde, usuários (pacientes),
registro do produto, comercialização, distribuição, prescrição,
dispensação e utilização.

Fonte: Portaria no 802, de 8 de outubro de 1998 do Ministério da Saúde.

Os pacientes recebem a medicação adequada a suas necessidades


clínicas, nas doses correspondentes aos seus requisitos individuais,
durante um período de tempo adequado e ao menor custo possível para
eles e para a comunidade.

Fonte: Definição da OMS

Diversos fatores influenciam o uso não racional de medicamentos: a promoção de


medicamentos por parte da indústria farmacêutica, a falta de informação independente
das atitudes, crenças e práticas dos profissionais da saúde e dos consumidores. E a taxa
de uso de medicamentos e suas consequências na morbidade e mortalidade é alta.

O conceito de dispensação é um ponto importante a se considerar quando se trata de


uso racional de medicamento, mas a preocupação maior ainda é a automedicação é
uma das grandes causas Problemas Relacionados com os Medicamentos (PRM´s).

Os PRM´s diz respeito a todos os efeitos adversos, ou reações adversas medicamentosas


(RAM`s), entre outros problemas e complicações clínicas que possam resultar de uma
utilização de medicamentos, e tem de tem várias traduções: Drugrelated Problems
(DRP); Drug Therapy Problems (DTP); MedicineRelated Problems (MRP), entre outros.

Problemas de saúde entendida como resultados clínicos negativos,


derivados da farmacoterapia que, produzidos por diversas causas,
conduzem ao não alcance dos objetivos terapêuticos ou ao surgimento
de efeitos não desejados (COMITÉ DE CONSENSO, 2002, p. 65).

Fonte: <http://www.portaleducacao.com.br/farmacia/artigos/9720/problemas-relacionados-
com-medicamentos-prm#ixzz2Jsvzxp1P>.

Seu conceito surge a partir de 3 pontos importantes: indicação, efetividade e segurança,


discutido no Consenso de Granada.

51
UNIDADE III │ USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS

O Consenso de Granada sobre Problemas Relacionados com


Medicamentos (PRM) publicado em 1999 foi um marco importante
para todos os profissionais de saúde que, quer na área da investigação,
quer na prática clínica, trabalham em seguimento farmacoterapêutico.
Este Consenso de Granada sobre PRM visa propor uma ferramenta de
trabalho a todos os autores e investigadores que, na área do seguimento
do tratamento farmacológico, pretendam homologar os resultados dos
seus trabalhos.
Fonte: <http://actamedicaportuguesa.com/pdf/2004-17/1/059-066.pdf>.

Conheça mais sobre o Consenso de Granada utilizando este mesmo endereco


web citado anteriormente.

Para os autores Espejo e Fernández-Llimós, em 2002, definem PRM como falhas da


farmacoterapia que, resultam ao não alcance dos objetivos terapêuticos ou se produzam
efeitos não desejados.

A atenção farmacêutica engloba todas as atividades realizadas pelo farmacêutico


em orientação ao paciente, com o objetivo de conseguir o máximo de benefício os
medicamentos, assim como a promoção de ações que proporcionem saúde e previnam
doenças. A função do farmacêutico na farmacoterapia consiste em identificar, prevenir
e resolver os resultados negativos associados à medicação e suas causas que podem ser
prevenidas. A falha na farmacoterapia existe quando não se consegue os resultados
terapêuticos desejados e quando provoca danos adicionais. Essa falha tem um custo
adicional à saúde dos pacientes e sobre os recursos sanitários e sociais, o que a torna
um verdadeiro problema de saúde pública.

Figura 7. O primeiro Consenso de Granada estabelece uma classificação baseada nas 3 básicas necessidades
de farmacoterapia: necessidades, efetividade e segurança.

Necessidade que os medicamentos estejam indicados


PRM 1: o paciente não usa o medicamento que necessita.
PRM 2: o paciente usa os medicamentos que não necessita.
Necessidade que os medicamentos sejam efetivos
PRM 3: o paciente usa um medicamento que indicado para a situação está mal selecionado.
PRM 4: o paciente usa uma dose padrão e/ou duração inferior a necessária.
Necessidade que os medicamentos sejam seguros
PRM 5: o paciente usa uma dose padrão e/ou duração superior a necessária.
PRM 6: o paciente usa um medicamento que provoca reação adversa (RAM).

Mais recentemente, foram sugeridas algumas modificações para esta classificação: a


primeira eliminação do termo duração, dos PRM 4 e 5 por confundir com os 1 e 2. E a
52
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS │ UNIDADE III

modificação do enunciado do PRM 3, proposto por Díez Rodrigálvarez a substituição


do termo por má seleção do medicamento, mudando para o paciente que não responde
ao tratamento.

A assistência farmacêutica compreende atitudes, ética, comportamentos, compromissos


e corresponsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde
de forma integrada a equipe de saúde. Deve assegurar um tratamento farmacológico
apropriado, efetivo, seguro e cômodo aos pacientes, satisfazendo suas necessidades
em relação aos medicamentos, a promoção do uso racional dos mesmos, a redução de
custos com a saúde e a melhoria contínua da qualidade de vida da população.

A sua ausência pode resultar administração errada do medicamento, conservação


inadequada dos medicamentos, contraindicações, dose e duração de tratamento
equivocados, duplicidade, erros na dispensação, erros na prescrição, não cumprimento
da terapia; efeitos adversos etc.Devido a esses erros e consequências, surgiram os
resultados negativos associados à medicação (RNM), que estão relacionados ao
resultado dos PRM´s.O RNM está relacionado aos resultados do uso, especificamente
os resultados negativos sobre: sintomas, sinais, eventos clínicos exames laboratoriais
e óbito.

O uso inadequado de medicamentos é um problema de Saúde Pública prevalente em


todo o mundo.

<http://www.institutosalus.com/noticias/uso-racional-de-medicamentos>.

53
CAPÍTULO 2
Reações e eventos adversos

As reações adversas a medicamentos constituem um problema importante na prática


do profissional da área da saúde. O risco associado ao uso de medicamentos é comum,
apesar de existirem uma série de normas para sua comercialização. São muitas as
reações adversas e qualquer sistema pode ser alvo principal ou podem estar envolvidos
simultaneamente.

O uso de medicamentos pode trazer, além dos efeitos benéficos de seu tratamento, as
reações adversas e sabe-se que essas reações são causas significativas de hospitalização,
de aumento do tempo de permanência hospitalar e, até mesmo, de óbito.

Além disso, elas afetam a qualidade de vida do paciente, influenciam na perda de


confiança do paciente para com o médico, aumentam custos, atrasam tratamentos,
desenvolvem novos problemas. Em outras palavras, pode ocorrer na utilização de
determinado medicamento, de forma não intencional e inesperada pelo paciente,
caracterizando-se como um efeito nocivo.

O curso temporal do efeito adverso de algum fármaco algumas vezes são resultados da
administração, que em seguida pode-se realizar a interrupção dessa aplicação e cessar
os efeitos, porem, alguns podem aparecer meses, ou anos após o tratamento crônico,
por exemplo, ser iniciado.

Segundo a OMS a definição de reação adversa a medicamentos (RAM) é: “qualquer


efeito prejudicial ou indesejável, não intencional, que aparece após a administração
de um medicamento em doses normalmente utilizadas no homem para a profilaxia, o
diagnóstico e o tratamento de uma enfermidade”.

De acordo com Laporte e Capellá, 1989, os termos “reação adversa”, “efeito indesejável”
e “doença iatrogênica” são equivalentes. No entanto, diversos termos são empregados
provocando confusões resultantes da própria dificuldade conceitual e de problemas de
traduções.

Independente do termo deve-se diferenciar deste conceito o de evento adverso,


considerado que evento pode ser devido a vários fatores relacionados com o tratamento:
dose do medicamento incorreta, dose omitida, via de administração não especificada,
horário de administração incorreto, apesar de que RAM pode ser entendido como um
evento adverso ao esperado quando se indica essa terapêutica.

54
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS │ UNIDADE III

Evento adverso relacionado a medicamentos (EAM) é qualquer dano apresentado pelo


paciente que possa ser imputado a medicamentos. Os EAM podem decorrer da utilização
adequada, inadequada, ou mesmo, da falta de acesso àqueles fármacos clinicamente
necessários (OMS, 2004; ROSA; PERINI, 2003).

Os EAM são subdivididos em dois grupos. O primeiro, denominado reações adversas


a medicamentos, diz respeito ao risco inerente frente à utilização adequada de
medicamentos, portanto, inevitáveis. O outro, definido como erros de medicação,
entendido como qualquer evento passível de prevenção, decorrentes do uso inadequado
ou não utilização de medicamentos necessários, portanto, possivelmente relacionado
com falhas nos procedimentos (ROSA; PERINI, 2003).

Classificação de reações adversas

Superdosagem relativa

É aquela que ocorre quando um fármaco é administrado em doses terapêuticas, porém


suas concentrações são superiores às habituais. São situações que se devem a alterações
funcionais, e que podem aumentar o risco de concentrações elevadas do fármaco no
organismo.

Exemplo:

»» a maior incidência de surdez entre pacientes com insuficiência renal


tratados com antibióticos aminoglicosídeos;

»» intoxicação digitálica em paciente com insuficiência cardíaca tratados


com doses usuais de digoxina, uma vez que este paciente pode apresentar
hipocalemia concomitante ou uma reduzida massa muscular, ou ainda,
apresentar a função renal diminuída o que diminui a excreção do
glicosídeo.

Efeitos colaterais

São relativos à própria ação do medicamento, porém, o aparecimento é indesejável em um


momento determinado de sua aplicação. Na verdade, é considerado um prolongamento
da ação farmacológica principal do medicamento e resulta em um efeito farmacológico
menos intenso em relação à ação principal de uma determinada substância.

55
UNIDADE III │ USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS

Exemplo:

»» broncoespasmo produzido pelos bloqueadores b ─ adrenérgicos;

»» bloqueio neuromuscular produzido por aminoglicosídeos;

»» sonolência pelos benzodiazepínicos;

»» arritmias cardíacas com os glicosídeos.

Efeitos secundários

São os devidos não à ação farmacológica principal do medicamento, mas como


consequência do efeito buscado.

Exemplo:

»» a tetraciclina com ação bacteriostática poderá depositar-se nos dentes,


quando utilizada na pediatria, e estas deposições podem descolorir o
esmalte dos dentes decíduos assim como dos permanentes.

»» e poderá também depositar-se nos ossos, pode provocar redução do


crescimento ósseo.

Idiossincrasia

Reações nocivas, às vezes fatais, que ocorrem em uma minoria dos pacientes. Definida
como uma sensibilidade relativa a um determinado produto. Em geral considera-se que
as este tipo de reação se deve ao polimorfismo genético, que é a variação no número e
no tipo de mutações estáveis do DNA.

Exemplo:

»» anemia hemolítica por deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase


(G6PD), um traço herdado na forma recessiva ligada ao sexo, esse tipo
de anemia pode acontecer, por exemplo, em determinados indivíduos
que utilizam a droga antimalárica primaquina. Em 5 a 10% dos
indivíduos afro descendentes, a droga causa hemólise (o rompimento
de uma hemácia que libera a hemoglobina no plasma), conduzindo a
uma anemia grave.

56
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS │ UNIDADE III

Hipersensibilidade alérgica

Para que ocorra uma hipersensibilidade alérgica é necessária à sensibilização prévia


do indivíduo e a mediação de algum mecanismo imunitário. Relaciona-se a reação de
intensidade com a dose administrada.

Exemplo:

Tipo I ─ anafilaxia, uma resposta súbita e potencialmente letal, provocada pela liberação
de histamina e de outros mediadores. As principais características incluem erupções
urticariformes, edema dos tecidos moles, broncoconstrição e hipotensão.

Tolerância

É fenômeno pelo qual a administração de doses repetidas, de forma contínua ou crônica


de um fármaco ou droga na mesma dose, diminui progressivamente a intensidade dos
efeitos farmacológicos esperados, sendo necessário aumentar gradualmente a dose
para poder manter os efeitos na mesma intensidade. É um efeito muito comum em
pacientes que se automedicam. A tolerância é um fenômeno que leva dias ou semanas
para acontecer.

Exemplo:

A tolerância produzida entre pacientes que usam barbitúricos, já que seu uso contínuo
e crônico pode anular seu efeito anticonvulsivante.

Para um conhecer um estudo sobre EAM e RAM podemos ler essa analise realizada
em um Hospital Público no Rio de Janeiro, disponível em: <http://www.unirio.br/
propg/posgrad/stricto_paginas/site%20Enfermagem/SiteENFv3/dissertacoes/
Dissertacoes%202010/Rejane.pdf>.

Seguem alguns exemplos:

ANFOTERICINA B: calafrios, febre, dor no local da injeção, prurido, rash.

DICLOFENACO: rash, prurido, urticária, tontura, hipertensão, diarreia, vômitos,


náusea.

DIPIRONA: discrasias sanguíneas, urticária, rash, prurido.

DIGOXINA: agitação, cefaleia, tontura, vertigem, arritmias, náusea, vômitos,


diarreia.

57
UNIDADE III │ USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS

FENOBARBITAL: síndrome de Stevens-Johnson, rash, urticária, náuseas, vômitos.

METOCLOPRAMIDA: reações extrapiramidais, tontura, náuseas.

PREDNISONA: síndrome de Cushing, edema, hipertensão, ulcera, insônia.

VANCOMICINA: síndrome do homem vermelho, calafrios, febre, náuseas.

WARFARINA: hemorragias, necrose, urticária, dermatites, náuseas.

Para muitos autores esta classificação não tem muita aplicabilidade clínica e
epidemiológica. Alguns efeitos de importância clínica e sanitária são difíceis de serem
enquadrados nesta classificação, como exemplo a teratogenia.

Para outros autores, a classificação proposta por Rawlins e Thompson, é considerada


a mais adequada e tem sido a mais empregada. Segundo ela, as reações adversas
produzidas por medicamentos poderiam subdividir-se em dois grandes grupos: as que
resultam de efeitos farmacológicos normais, ou seja, reações por meio do resultado
de uma ação e um efeito farmacológico exagerado de um fármaco administrado em
doses terapêuticas habituais (tipo A). E as reações que possuem efeitos farmacológicos
totalmente anormais e inesperados, ainda que considerando as propriedades
farmacológicas de um medicamento administrado em doses habituais (tipo B).
(RAWLINS,MD; THOMAS,SHL,1998)

As reações do tipo A são farmacologicamente previsíveis, geralmente dependem


da dose, têm alta incidência e morbidade, baixa mortalidade e podem ser tratadas
ajustando-se as doses. São reações produzidas por mecanismos de superdosagem
relativa, efeito colateral, citotoxicidade, interações medicamentosas ou alterações na
forma farmacêutica..

As do tipo B não são farmacologicamente previsíveis nem dose-dependentes, têm


incidência e morbidade baixas, e sua mortalidade pode ser alta. Devem ser tratadas
com a suspensão do fármaco e são produzidas por mecanismos de hipersensibilidade,
idiossincrasia, intolerância e até mesmo por alterações na formulação farmacêutica.

Em resumo podemos também podemos dizer que as reações adversas podem ou não
estar relacionadas com a ação farmacológica principal do fármaco.

Segundo Rang e Dale, se a incidência de uma reação adversa é 1 em 6000


pacientes expostos, aproximadamente 18.000 pacientes devem ter sido expostos
ao farmaco para três ventos que ocorrem e aproximadamente dobrar esse
número de eventos a serem detectados, com sua possivel relação do farmaco
reconhecida e relatada, mesmo se não houvesse a incidência e o conhecimento
preciso do evento em questão.

58
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS │ UNIDADE III

RAM de acordo com a gravidade

De acordo com a gravidade das reações adversas a medicamentos elas podem ser
classificadas como leve, moderada, grave ou letal.

»» Leve: não requer tratamentos específicos e não é necessária a suspensão


da droga.

»» Moderada: exige modificação da terapêutica medicamentosa. Pode


necessitar a hospitalização e exigir tratamento específico.

»» Grave: potencialmente fatal, requer a interrupção da administração do


medicamento e exige tratamento específico da reação adversa. Resulta em
hospitalização ou prolonga a internação de pacientes já hospitalizados.

»» Letal: contribui direta ou indiretamente para a morte do paciente.

RAM de acordo com a casualidade

Para alguns autores há cinco tipos de causa-efeito para medicamentos que causam
alguma reação adversa:

1. Definida: uma reação que sabemos que pode ocorrer a partir da


administração do medicamento ou da obtenção de níveis séricos ou
tissulares resultados de exames bioquímicos; que segue uma resposta
padrão conhecida para o medicamento suspeito; e que é confirmada pela
melhora quando se suspende o medicamento e pelo reaparecimento da
reação ao se repetir a exposição.

2. Provável: uma reação que surge a partir da administração do


medicamento ou da obtenção de níveis séricos ou tissulares por meio de
exames bioquímicos; que segue uma resposta padrão conhecida para o
medicamento suspeito; e que não pode ser razoavelmente explicada pelas
características conhecidas do estado clínico do paciente.

3. Possível: uma reação que ocorre a partir da administração do


medicamento ou da obtenção de níveis séricos ou tissulares mediante
a exames bioquímicos; que segue uma resposta padrão conhecida para
o medicamento suspeito; mas que pode ter sido produzida pelo estado
clínico do paciente ou de outras terapêuticas utilizadas em um mesmo
período.

59
UNIDADE III │ USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS

4. Condicional: uma reação surge a partir da administração do medicamento


ou da de níveis séricos ou tissulares obtidos por meio de exames
bioquímicos; que não segue uma resposta padrão conhecida para o
medicamento suspeito; mas que não pode ser razoavelmente explicada
pelas características conhecidas.

5. Duvidosa: qualquer reação que não segue os critérios acima.

Grupos de população e RAM

Alguns grupos da população são particularmente suscetíveis ao aparecimento de RAM.


Qualquer uso de medicamentos por indivíduos que pertencem a esses grupos exige uma
cuidadosa monitoração clínica e uma rigorosa avaliação da relação entre o benefício e o
risco de seu uso, mais uma avaliação de acordo com seu quadro clínico considerando as
reações adversas do medicamento, e o grau de comprometimento do paciente.

Grupo I – Extremos de Idade

Neonatos e crianças

As crianças podem sofrer variações farmacocinéticas e/ou farmacodinâmicas, além


de outras alterações que são próprias de essa faixa etária, alterando os padrões de
crescimento e diferenciação que refletem sobre o desenvolvimento. Um exemplo destas
alterações em crianças são os transtornos do crescimento ósseo ocasionado por drogas
como as tetraciclinas, corticoides.

As alterações farmacodinâmicas podem levar a um aumento ou diminuição da


sensibilidade a algumas drogas. A absorção em neonatos pode estar alterada devido a
menor secreção de ácido e redução da motilidade gastrointestinal, porém, tais variações
não são uniformes e são dificilmente previsíveis. Também podemos falar das vias de
administração de fármacos que também apresentam limitações para uso em crianças,
particularmente em neonatos, que tem a via oral de administração como uso limitado
nos primeiros dias de vida. E em crianças a via oral é de difícil aceitação, muitas drogas
ocasionam sensibilidade, irritação e vômitos frequentes. A absorção tópica é elevada
em relação aos adultos devido ao delgado extrato córneo e a via endovenosa é limitada
pelo volume de diluição. Os neonatos apresentam massa muscular e tecido adiposo
desproporcionalmente reduzido, se comparado aos adultos. A água corporal total
é muito maior em neonatos, cerca de 75% do peso corporal, afetando diretamente a
distribuição das drogas .E a concentração das proteínas plasmáticas está diminuída
nos recém-nascidos, consequentemente, ocorre uma diminuição na taxa de ligação

60
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS │ UNIDADE III

de drogas as proteínas. Entre muitos outros exemplos a saber clinicamente quando se


decide utilizar determinada medicação em este grupo.

Idosos

Os pacientes idosos estão predispostos às reações adversas por diversas razões, como:
a dificuldade de obediência ao regime de tratamento, seja por esquecimento, por
incompreensão do esquema terapêutico, ou por dependência física, terapia com múltiplas
drogas, aumento das reações de hipersensibilidade, e alterações farmacocinéticas e
farmacodinâmicas características desta faixa etária.

A absorção pode encontrar-se diminuída, devido a redução da liberação basal de ácido


com aumento do pH, o que pode afetar a ionização e a solubilização de drogas. Ocorre
diminuição do fluxo sanguíneo, redução do número de células de absorção, diminuição
do ritmo de esvaziamento gástrico. A distribuição encontra-se alterada com a diminuição
da massa muscular, aumento do tecido adiposo e pode ocorrer ainda redução na
concentração de albumina. O envelhecimento também é preocupante porque sabemos
que há uma diminuição do número de células hepáticas, e há ainda a diminuição do fluxo
renal e da filtração glomerular, perda de função tubular e diminuição dos processos de
reabsorção.

Grupo II – Gênero

As mulheres são mais suscetíveis às reações adversas, possivelmente, por uma


associação de fatores como as complicações obstétricas que ocorrem ao longo da vida
fértil da mulher, os episódios de dismenorreia que requerem o uso de medicamentos,
às vezes por vários anos, o uso de contraceptivos, e uma maior concentração de tecido
adiposo. É possível, ainda, que exista um determinante hormonal que possa afetar o
metabolismo.

Grupo III – Gestantes

O uso de medicamentos deve ser avaliado considerando-se as variações farmacocinéticas


que ocorrem durante a gravidez, as alterações fisiológicas das funções maternas e os
efeitos que estes possam ter sobre o feto. Todas as fases da gestação e até mesmo, a fase
de amamentação é muito delicada, e por isso devemos ter a maior atenção na avaliação
de risco benefício.

Durante a gravidez a mulher passa por alterações. Em geral, nesse período ocorre um
aumento do volume sanguíneo de cerca de 50%, o que implica em aumento do volume

61
UNIDADE III │ USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS

de distribuição de drogas hidrossolúveis, por exemplo. A atividade metabolizadora


enzimática pode estar alterada devido aos fatores hormonais, tornando-se mais efetiva
para a biotransformação de algumas drogas e menos para outras.

Ainda aumenta a excreção urinária como consequência do maior fluxo renal. E


algumas drogas podem interferir com funções fisiológicas da mãe prejudicando o
desenvolvimento do feto.

Contudo, a maior preocupação com o uso de medicamentos durante a gravidez é com os


efeitos que estes possam ter sobre o desenvolvimento e a constituição do feto.

A “barreira placentária” que é constituída por tecidos que obedecem aos mesmos fatores
que controlam o transporte transmembrana, tem sua velocidade de transferência de
drogas dependente das características físico-químicas da droga e do seu gradiente
de concentração. No período embrionário que vai da terceira à décima semana de
gravidez, aproximadamente, o embrião é mais suscetível às agressões químicas devido
às altas taxas de diferenciação celular, desenvolvimento funcional e crescimento que
ocorrem durante este curto período de tempo. E é nesta fase que ocorre a maioria das
teratogenias, sendo considerado um período crítico para o consumo de medicamentos.

No estágio subsequente, período fetal, ocorre o desenvolvimento e maturação dos


órgãos e sistemas e a exposição fetal a teratógenos comumente leva a lesões em áreas
mais restritas ou alterações funcionais.

O uso de medicamentos no período pré-parto também é preocupante, pois, neste


período a unidade feto placentária será desfeita e a reduzida capacidade eliminadora
do neonato pode levar a um quadro de toxicidade.

E por fim durante o período de amamentação a presença de drogas no leite materno


irá obedecer aos parâmetros de transporte transmembrana e também pode levar ao
surgimento de toxicidade para o lactente.

Grupo IV – Patologias

Patologia Insuficiência Renal: O uso de medicamentos em pessoas portadores desta


enfermidade necessita de muita atenção, principalmente quando se faz necessário o
uso de doses múltiplas. Como se trata de um problema altamente complexo, o cuidado
é maior devido às alterações funcionais do rim, principal órgão excretor, e suas
implicações metabólicas como: retenção de água e sódio, hiperpotassemia, acidose
metabólica e uremia, entre outros.

62
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS │ UNIDADE III

A seleção de medicamentos para esses pacientes deve levar em consideração as


propriedades do fármaco, como a biodisponibilidade, margem de segurança, via de
eliminação, atividade dos metabólitos e sobrecarga metabólica que esta possa vir a
desencadear.

Dada à complexidade do processo de insuficiência renal o uso de medicamentos por


esses pacientes deve ser rigorosamente acompanhado.

Insuficiência Hepática: o fígado possui diversas funções metabólicas importantes


para a manutenção da homeostase corporal, desta forma, suas funções podem ficar
comprometidas quando este órgão é lesado por patologias ou fármacos/compostos
químicos, e a insuficiência hepática pode levar a profundas alterações na farmacocinética
das drogas.

O grau de lesão hepática determinará alterações na formação e nos sítios de ligação


das proteínas plasmáticas. Poderá ocorrer decréscimo no nível sérico de albumina,
aparecimento de proteínas plasmáticas defeituosas, acúmulo de compostos endógenos
como a bilirrubina, fatores que alteram a taxa de ligação das drogas às proteínas
plasmáticas.

Para realizar um tratamento farmacológico deverão ser realizados testes de função


hepática e ajustar as doses recomendadas.

Grupo V – Hipersensibilidade
Reação de hipersensibilidade é uma variação resultante da exposição a um alérgeno.

As reações alérgicas podem ser reconhecidas em função de algumas características:

»» exposição anterior ao agente sensibilizante;

»» independência da dose administrada;

»» recorrência;

»» reação não associada a atividade farmacológica da droga;

»» sintomas característicos.

Grupo VI –Variabilidade Genética


Respostas anormais a medicamentos incidentes em uma população específica podem
ser decorrentes de alterações farmacocinéticas ou farmacodinâmicas devido a um
polimorfismo genético.

63
UNIDADE III │ USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS

Grupo VII – Polimedicação

As interações medicamentosas constituem um sério problema na prática médica e


farmacêutica. A incidência de reações adversas aumenta exponencialmente com o número
de drogas administradas e, isto é, em parte, devido às interações medicamentosas.

O uso abusivo de drogas de venda livre, a automedicação, o uso de produtos naturais


e remédios caseiros são responsáveis por uma grande parte dessas interações, que
muitas vezes não são adequadamente identificadas e acabam por serem confundidas
com outras patologias, devido à dificuldade de recuperar os dados da utilização de tais
práticas terapêuticas.

A Polimedicação também pode resultar em uma anulação de determinada droga quando


utilizada concomitantemente com outra. Por exemplo, o uso excessivo de antibióticos e os
anticonceptivos orais. Os antibióticos que matam as bactérias intestinais causarão uma
diminuição do ciclo enterohepatico dos estrógenos, facilitados por essa bactéria. Isso
diminuirá a concentração de anticoncepcionais no plasma, alterando sua efetividade.

Alguns dados encontrados em estudos Farmacoepidemiologicos sobre RAM e


EAM:

»» o não cumprimento do tratamento farmacoterápico, por parte


dos idosos, leva a problemas que colocam em perigo a vida desses
pacientes;

»» estudo demonstra que metade dos pacientes, que utilizavam seis ou


mais medicamentos, tiveram prescrições de mais de três médicos,
sugerindo falta de comunicação entre eles;

»» 65% das prescrições de pacientes idosos, recebidas em uma farmácia


ambulatorial nos Estados Unidos, havia um ou mais medicamentos
inapropriados prescritos, sendo 57% destes inefetivos, não indicados
ou terapeuticamente duplicados;

»» pediatria: medicamentos de 3 grupos farmacoterapêuticos


(anti-infecciosos, sistema nervoso central e respiratório) representam
mais de ¾ dos medicamentos prescritos.

»» as mulheres são mais consumidoras que os homens; os indivíduos


caucasianos utilizam mais medicamentos do que os indivíduos de
raça afrodescendente;

64
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS │ UNIDADE III

»» aumento progressivo de consumo continuado de medicamentos


psicotrópicos e antidepressivos;

»» aumento progressivo de utilização de betabloqueadores (52% para


76%) e aspirina (25% para 88%).

Fonte: < http://www.ismp.org/>.

Voce encontra mais exemplos em: <http://www.ismp.org/>.

65
CAPÍTULO 3
Relação Farmacoepidemiologia com
RAM/EAM’s

As Reações Adversas podem limitar o uso de alguns fármacos em grupos de pacientes


ou ainda podem provocar a retirada de algum medicamento do mercado.

Alguns términos básicos nos ajudam a identificar fármaco epidemiologicamente, outros


fatores importantes na avaliação de um estudo, como exemplo, a exposição excessiva a
um medicamento.

Conceitos importantes e exposição aos


medicamentos

Términos de exposição de medicamentos


»» Hazard Rate: permite conhecendo a possibilidade de risco, prever a
mortalidade. Deste resultou o Hazard Ratio, o qual originou o Risco
Relativo, o ODDS Ratio, já comentado anteriormente.

»» Hazard Function: probabilidade individual do aparecimento de um efeito


(E) no momento t.

»» Temporal Tracking: utilização do fármaco ao longo do tempo.

»» Risk Window ou Time Window é o tempo durante o qual se assume que


o efeito (risco) pode ocorrer relacionado com a exposição em estudo.
Avaliação de uma utilização recente, período de tempo após a exposição
a um medicamento durante o qual o indivíduo é susceptível de vir a
desenvolver um efeito adverso (EA).

»» Immortal Time: período em que se considera que a exposição ao


medicamento não foi relevante para o aparecimento do efeito.

Dinâmica da exposição ao medicamento

Dinâmica da exposição

»» frequência (rara, comum);

66
USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS │ UNIDADE III

»» duração (curta, intermitente, longa);

»» ritmo (Ocasional, intermitente, contínuo);

»» processo de prescrição/utilização.

Período de risco

»» immortal time;

»» efeito durante o uso do medicamento;

»» efeito depois da descontinuação do tratamento.

Parâmetros para a avalição da exposição ao


medicamento

1. Rigor e exaustividade.

2. Classificação não diferencial.

3. Taxa de resposta.

4. Utilização do fármaco ao longo do tempo (temporal tracking).

5. Populações especiais (crianças, idosos, gestantes, portadores de


enfermidades hepáticas, renais).

6. Informação detalhada sobre o medicamento.

7. Informação detalhada sobre a utilização.

8. Método epidemiológico disponível.

9. Eficiência.

Viés (erro sistemático ou tendenciosidade) e


confundimento

Erro sistemático que ocorre devido à utilização de um medicamento no momento em


que ocorre o efeito ou em um momento imediatamente anterior (medicamento usado
para tratar o efeito e não relacionado com o efeito).

67
UNIDADE III │ USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS E REAÇÕES ADVERSAS

1. Que fatores em sua opinião são importantes em uma decisão de um


tratamento farmacológico?

2. Quais informações aprendidas nesta unidade são importantes para a


Farmacoepidemiologia?

3. O paciente só deverá começar um tratamento, se estiver bem


informado sobre o seus medicamentos a utilizar?

4. Em sua opinião qual a participação essencial do paciente durante seu


tratamento?

5. As reações adversas correspondem aos resultados negativos


associados à medicação?

Tipos de viés em Farmacoepidemiologia

»» Viés de seleção: traduz-se na distorção da estimativa de uma medida de


risco (efeito) devido à distribuição desigual e não usual entre a exposição
e o outcome entre os grupos em comparação (casos e controles).

»» Viés de autosseleção (self-selection bias): erro que afeta muito os


estudos de caso controle ou quando um doente decide não participar ou
abandonar um estudo, a razão pode estar relacionada com o seu “estado”
relativamente à exposição ou ao outcome.

»» Depletion of susceptibles: risco maior de ocorrência de um efeito


adverso nos indivíduos expostos ao medicamento pela primeira vez
(incident or first-time users) indivíduos que já utilizaram o medicamento
anteriormente (past users or prevalent users).

68
DESENVOLVIMENTO DE UNIDADE IV
NOVOS FÁRMACOS

CAPÍTULO 1
Farmacologia Clínica

Os fármacos são substâncias químicas que podem ter sua origem animal, vegetal,
mineral ou sintética. Essas substâncias químicas são utilizadas para prevenir,
diagnosticar e tratar doenças.

Com o desenvolvimento da indústria Farmacêutica ao final do século XIX, a


descoberta de fármacos cresceu muito. Hoje a maior parte de medicamentos
novos, vem das grandes indústrias farmacêuticas, de medicamentos éticos,
genéricos e inovadores.

E que prometem a seus tratamentos farmacológicos uma variedade de


modalidades, que tem como objetivo remover os agentes causadores, aliviar
sintomas, reduzir sofrimento e levar a um resultado satisfatório e de bem estar
de seus usuários.

Conceito de Farmacologia Clínica

A tarefa de projetar e descobrir um novo fármaco nas indústrias farmacêuticas é


contínua. A busca da seleção do alvo, proteínas funcionais, receptores, que é onde o
fármaco ira atuar, encontrar as substâncias importantes, sua atividade funcional e
desenvolver e otimizar o protótipo.

Depois de passada a fase de descoberta de um fármaco, durante seu desenvolvimento e


a fase de testes de novas drogas, a segurança e a utilidade da droga em questão deve ser
determinada da seguinte maneira:

69
UNIDADE IV │ DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS

Ensaios pré-clínicos

Os ensaios pré-clínicos são obrigatórios antes de iniciar a Farmacologia Clínica,


têm duração de 1 a 6 anos, podem ser in vitro ou in vivo. E podem ser divididos em
farmacológicos e toxicológicos.

In vitro é uma expressão do latim e significa “em vidro”, ou seja, processos biológicos
que são realizados em ambiente fechado, controlado, de um laboratório, normalmente
feitos em recipientes de vidro (exemplo: fertilização in vitro realizada por meio de
técnicas de reprodução assistida).

E in vivo palavra derivada do latim que significa “dentro do vivo”, ou seja, “que ocorre
ou tem lugar dentro de um organismo”. Em ciência, in vivo se refere a experimentos
com animais (ratos, cães, camundongos ou outras espécies) ou tecidos vivos de animais.

Os ensaios pré-clinicos in vitro podem ser do tipo: físico-químico (estrutura, peso


molecular, solubilidade, estabilidade) e celular, que se realiza a cultura de células e
aplicação da nova droga química a estudar.

E os estudos farmacológicos nesta fase abordam os aspectos farmacocinéticos e


farmacodinâmicos básicos da droga e servem para detectar a toxicidades aguda,
subaguda e crônica. O objetivo é detectar qualquer efeito tóxico que a droga possa
ter sobre a celular, sobre os tecidos e órgãos, e também seus efeitos carcinogênicos,
mutagênicos e teratogênicos.

Farmacocinético: descreve a absorção, a distribuição, o metabolismo e a eliminação dos


fármacos.

Farmacodinâmico: descreve os efeitos fisiológicos que as drogas têm em células


ou organismos vivos (como o corpo humano) e mostra como as drogas influenciam
as funções corporais por meio das mudanças bioquímicas nos fluidos e nos tecidos
corporais. Descreve o mecanismo de ação e sues efeitos terapêuticos.

E os estudos toxicológicos deverão abordar ensaios de toxicidade aguda, toxicidade


de doses repetidas, toxicidade subcrônica e toxicidade crônica, que este deve abordar
mutagenicidade, embriofetotoxicidade, alterações de fertilidade, carcinogenicidade,
indução de dependência.

Nos ensaios pré-clínicos in vivo, os estudos toxicológicos mais comuns são por meio da
avaliação da dose letal 50% (DL50), dose eficaz 50% (DE50) e índice terapêutico (IT),
que chamamos de fase aguda.

70
DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS │ UNIDADE IV

DL50 é a dose letal que a concentração de uma substância química capaz de matar 50%
da população de animais testados em um experimento, por exemplo. A dose geralmente
é medida em miligramas (mg) de substância por quilograma (kg) de massa corporal do
animal testado. E depende do modo de exposição ao produto tóxico. Para cada caso
haverá uma classificação de toxicidade.

DE50 é a dose “eficaz” para 50% da população. Sendo assim, depende da medida de
eficácia usada.

Para o cálculo do Índice Terapêutico (índice que indica a margem de segurança dos
fármacos considera as doses letal e eficaz em seu cálculo, isso significa que quanto
maior o IT, maior a sua segurança).

Índice Terapêutico IT= DL50/DE50

Ensaios clínicos
Ensaio clínico é o delineamento, com maior poder, para delimitar eficácia de um
fármaco ou outro tratamento. O ensaio clínico consiste no principal método utilizado
pela Farmacologia Clínica. Nele, o tratamento é administrado a um grupo de indivíduos
(grupo intervenção), sendo seus resultados comparados com os verificados em outro
grupo (grupo controle) que recebe substância desprovida de efeito próprio (placebo)
ou tratamento convencional. Definição da OMS é que “um experimento planejado ética
e cuidadosamente com o objetivo de responder a algumas perguntas precisas e bem
delineadas”. Os princípio cinéticos e dinâmicos, e o perfil tóxico de uma droga continua
sendo investigado durantes as fases clínicas, com supervisão médica e de uma equipe
interdisciplinares sempre que necessária.

Durante a Fase 1, que é o primeiro estudo que a droga é testada em um pequeno


número de indivíduos voluntários e saudáveis. Estas pesquisas se propõem estabelecer
uma evolução preliminar da segurança e do perfil farmacocinético e quando
possível, um perfil farmacodinâmico. Farmacocinética no ser humano (metabolismo
e biodisponibilidade).

Fase l: tolerância em voluntários saudáveis.

»» Maior dose tolerável.

»» Menor dose efetiva.

»» Relação dose/efeito.

71
UNIDADE IV │ DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS

»» Duração do efeito.

»» Efeitos colaterais.

Na fase 2, se administra a droga em um número seleto de pacientes doentes, para


demonstrar efetividade potencial da medicação. É conhecido como Estudo Terapêutico
Piloto, que tem como objetivos demonstrar a atividade e estabelecer a segurança em
curto prazo do princípio ativo, em pacientes afetados por uma determinada enfermidade
ou condição patológica. As pesquisas realizam-se em um número limitado e reduzido
de pessoas e frequentemente são seguidas de um estudo de administração.

Fase ll: (Estudo Terapêutico Piloto).

»» Indicação da eficácia.

»» Confirmação da segurança.

»» Biodisponibilidade e bioequivalência de diferentes formulações.

Enquanto na Fase 3, são conduzidos testes extensivos, de significância estatística.


Exploram-se nesta fase o tipo e perfil das reações adversas mais frequentes, assim como
características especiais do medicamento e/ou especialidade medicinal, por exemplo:
interações clinicamente relevantes, principais fatores modificatórios do efeito tais como
idade etc.

Fase lll: estudos internacionais, de larga escala, em múltiplos centros, com diferentes
populações de pacientes para demonstrar eficácia e segurança (população mínima
aprox. 800).

»» conhecimento do produto em doenças de expansão;

»» estabelecimento do perfil terapêutico;indicações;

»» dose e via de administração;

»» contraindicações;

»» efeitos colaterais;

»» medidas de precaução;

»» demonstração de vantagem terapêutica (ex.: comparação com


competidores);

»» farmacoeconomia e qualidade de vida;

»» estratégia de publicação e comunicação (ex.: congressos e workshops).


72
DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS │ UNIDADE IV

Fase III: Estudo Terapêutico Ampliado.

São estudos realizados em grandes e variados grupos de pacientes, com o objetivo de


determinar:

»» Resultado do risco/benefício a curto e longo prazos das formulações do


princípio ativo.

»» Maneira global (geral) o valor terapêutico relativo.

Depois de iniciada a comercialização da droga, uma nova fase conhecida como


farmacovigilância começa, e então os efeitos colaterais, as indicações adicionais, a
eficácia e a tolerância podem ser investigadas por completo.

Fase IV: após aprovação para comercialização do produto.

»» Detectar eventos adversos, pouco frequentes ou não esperadas (vigilância


pós-comercialização).

»» Estudos de suporte ao marketing.

»» Estudos adicionais comparativos com produtos competidores.

»» Novas formulações (palatabilidade, facilidade de ingestão).

Fase IV: são pesquisas realizadas depois de comercializado o produto e/ou especialidade
medicinal.

Estas pesquisas são executadas com base nas características com que foi autorizado
o medicamento e/ou especialidade medicinal. Geralmente, são estudos de vigilância
pós-comercialização, para estabelecer o valor terapêutico, o surgimento de novas
reações adversas e/ou confirmação da frequência de surgimento das já conhecidas, e as
estratégias de tratamento.

Nas pesquisas de fase IV devem-se seguir as mesmas normas éticas e científicas


aplicadas às pesquisas de fases anteriores.

Fonte: <www.anivisa.gov.br>.

Os testes clínicos são cuidadosamente planejados, projetados e controlados. Os testes


randomizados são os mais frequentes. São diferentes dos estudos observacionais, pois
nos ensaios clínicos é feita uma intervenção, em geral são estudados dois grupos, o de
controle e o tratado.

73
UNIDADE IV │ DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS

Os ensaios controlados são aqueles em que se compara o teste com o controle (placebo:
“ativo” ou “inativo”). Podem ser divididos em abertos (tratamento conhecido) e cegos
(uma ou ambas as partes desconhecem o tratamento).

Placebo: são substâncias farmacologicamente inativas ou ativas com o fundamento


de que é um tratamento inerte que apresenta efeitos fisiológicos desencadeados pela
crença do paciente que está sendo tratado.

Placebo ativo: um comprimido de Vitamina C pode aliviar a dor de cabeça de quem


acredite estar ingerindo um analgésico, sendo um exemplo clássico de que o que cura é
não apenas o conteúdo do que inferimos, mas também a forma.

Placebo inativo: por exemplo, no uso de cápsulas desprovidas de substâncias terapêuticas


ou contendo produtos conhecidamente inertes e inócuos, que são administrados a
grupos pacientes para comparar o efeito da sugestão no tratamento de doenças.

As fases da resposta terapêutica

Importante princípio em farmacologia que nos mostra que a resposta terapêutica da


grande maioria dos fármacos depende fundamentalmente da interação entre suas
moléculas com receptores farmacológicos específicos.

Entretanto, é totalmente conhecido que a relação existente entre dose e efeito dos
fármacos é muito variável entre cada indivíduos. Tais variações dependem não só da
dose, mas também da gravidade da doença, das funções cardiológicas, hepatológicas,
renais e da motilidade gastrintestinal, da atividade hormonal e da farmacocinética do
princípio ativo. Assim, várias fases estão envolvidas na resposta terapêutica do fármaco:
fase farmacêutica; fase farmacocinética; fase farmacodinâmica.

74
CAPÍTULO 2
Farmacovigilância

Farmacovigilância é definida como a ciência e atividades relacionadas à detecção,


avaliação, compreensão e prevenção dos efeitos adversos ou qualquer outro problema
relacionado aos medicamentos e ferramenta no cuidado ao paciente, e é essencial para
a organização de sistemas de relatos de reações adversas, monitoramento de fármacos,
vigilância de produtos pós-comercialização e programas nacionais de saúde pública.

A boa farmacovigilância identificará os riscos e os fatores de risco em tempo reduzido


para evitar ou minimizar os danos.

Seus objetivos são a melhoria no uso dos medicamentos para tratamento e prevenção
de doenças.

O medicamento antes de entrar em comercialização, tem que primeiro demonstrar a sua


eficácia, qualidade e segurança. E a “vigilância pós-comercialização de medicamentos”
também deve ser mantida.

No Dicionário de Epidemiologia dirigido pela International Epidemiological


Association, o procedimento posterior à autorização do registro de um novo fármaco
é criado e desenhado para procurar informação sobre o uso real do fármaco indicado
para determinada patologia e assim verificar a aparição de efeitos indesejáveis.

Farmacovigilância é o método para o estudo epidemiológico das reações adversas aos


medicamentos. Isto corresponde aos procedimentos que na farmacologia clínica fase
IV e V, sendo uma necessidade complementar aos ensaios clínicos fases I, II e III.

A farmacovigilância como em qualquer sistema de vigilância epidemiológica, deve-se


combinar a seleção de eventos para notificação, a definição das variáveis que serão
trabalhadas e a identificação e o envolvimento das fontes de informação.

A definição dos eventos a serem trabalhados deve corresponder à capacidade de


assimilação e resposta do sistema. E a seleção de eventos pode partir da consideração de
possíveis reações adversas, tomadas de uma forma geral ou de acordo com uma relação
de ocorrências estabelecida previamente, ou da definição de alguns medicamentos,
cujo uso será acompanhado. Em uma perspectiva ampla, portanto, o acompanhamento
do uso de medicamentos pode ser objeto das ações de farmacovigilância, desde que tal
acompanhamento é atividade fundamental para a prevenção da ocorrência de reações
adversas.

75
UNIDADE IV │ DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS

Segundo a OMS, “um reporte de casos em farmacovigilância pode ser definido como:
uma notificação relativa a um paciente com um evento adverso médico (ou teste de
laboratório anormal) suspeito de haver sido induzido por um medicamento.” As ações
de farmacovigilância estão voltadas para a detecção precoce de reações adversas
desconhecidas ou interações medicamentosas e para a detecção de aumentos na
frequência de ocorrência de reações adversas conhecidas.

Tal para a vigilância epidemiológica de rotina, a notificação em farmacovigilância é


quase sempre de suspeita a ser posteriormente confirmada ou não.

As ações constituem, assim, um ponto de partida ou um alerta para a necessidade


de desenvolvimento de estudos epidemiológicos mais apurados voltados para o
estabelecimento de relações de causa e efeito. Este serão estudos farmacoepidemiológicos
tipos caso-controle, coorte ou mesmo transversal. Os estudos transversais propiciam
informações importantes sobre o uso de medicamentos que são especialmente úteis
em países como o Brasil, que as políticas de regulação de medicamentos ainda não
alcançaram a eficácia e o nível de organização desejados.

São diversas as fontes de informação em farmacovigilância: são os boletins, que


chamamos também de notificações espontâneas, temos os estudos ou publicações em
jornais científicos, sites como a Anvisa.

A informação proveniente do notificador é inicialmente colhida em um nível local,


transmitida a uma estrutura central que ela será avaliada e classificada de acordo com
um índice restrito, depois se necessário, é difundida para uma ou várias administrações
regionais, sendo que cada uma tem seus métodos de tratamento e conduta.

O instrumento principal de um sistema de farmacovigilância é o boletim de notificação,


que é um instrumento simples e objetivo, onde encontramos informações básicas sobre
a identificação do paciente, o uso de medicamentos e sobre a suspeita reação adversa.

No boletim devem constar as iniciais dos pacientes, sexo e data de nascimento,


os nomes dos medicamentos envolvidos, o motivo do seu uso, a dosagem diária
administrada, as datas de início e fim do período de uso, o uso concomitante de
outros medicamentos, a descrição da reação suspeita observada e a identificação e o
endereço do notificador.

Informações sobre o comportamento da reação suspeita após a retirada ou reintrodução


do medicamento em questão, a situação clínica dos pacientes no que diz respeito a
patologias importantes preexistentes e resultados de exames laboratoriais realizados
também podem constar no boletim.

76
DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS │ UNIDADE IV

Para encontrar e agrupar as anomalias próximas ou semelhantes do ponto de vista


médico foi proposto terminologias para as reações indesejáveis, sendo que a da OMS
é a mais difundida. Trata-se em realidade de listas de términos sem definição, porque
existem inúmeras definições, por exemplo, se compararmos as definições de vários
dicionários médicos, vamos notar essas variações. Mas a ideia é não rejeitar nenhuma
informação com o objetivo de melhorar o conhecimento de um medicamento e de
identificar os dados imprecisos ou incoerentes.

77
CAPÍTULO 3
Medicamentos

Utilização segura de medicamentos


O método de conciliação de medicamentos tem grande impacto na prevenção de eventos
adversos relacionados a medicamentos, sendo eficiente na redução das discrepâncias
encontradas entre as prescrições hospitalares e os medicamentos utilizados em casa,
promovendo, assim, a redução dos erros de medicação em cerca de 70%.
Fonte: <http://www.ismp.org/>.

Para esta organização deve haver uma equipe multidisciplinar para o desenvolvimento
e avaliação da conciliação de medicação

Recomenda-se elaboração de questionário para obtenção de informações dos


medicamentos usados pelos pacientes nos pontos de transição (hospital, clinicas,
consultórios, farmácias) Verificação minuciosa do histórico de utilização dos
medicamentos, conferindo os medicamentos, conversando com os pacientes e
familiares, entre outas medidas que devemos considerar para uma boa assistência e
dedicar ao paciente um tratamento farmacológico correto.

Para pensar algumas medidas seguras na utilização de medicamentos:

»» uso de medicamentos em idosos: problema de saúde pública;

»» disponibilizar assistência farmacêutica integral e racional aos idosos é


um desafio;

»» a conciliação é parte do uso racional de medicamentos;

»» a conciliação é uma ferramenta sistematizadora e auxiliar;

»» medidas não farmacológicas devem ser incentivadas.

Responsabilidades sanitária e medicamentos


Uma das estratégias da Anvisa são as ações de Farmacovigilância. Para a Organização
Mundial da Saúde, a farmacovigilância é “a ciência e atividades relativas à identificação,
avaliação, compreensão e prevenção de efeitos adversos ou qualquer problema possível
relacionado com fármacos”.

78
DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS │ UNIDADE IV

De acordo com a Anvisa, esse campo de atividade tem se expandindo e, recentemente,


incluiu novos elementos de observação e estudo, como:

»» plantas medicinais;

»» medicina tradicional e complementar;

»» produtos derivados de sangue;

»» produtos biológicos;

»» produtos médico-farmacêuticos;

»» vacinas.

A contribuição dos profissionais da saúde é fundamental, sobretudo na função de


notificação voluntária de reações adversas.

Método Dader

Este método de Seguimento Farmacoterapêutico (SFT) foi elaborado em Granada


(Espanha), em 1999, pelo grupo de Investigação em Atenção Farmacêutica. Trata-se
de um sistema simples que nos permite realizar este seguimento a qualquer paciente,
em qualquer tipo de assistência sistematizada, documentada e contínua. É permitido
registrar, monitorar e avaliar os efeitos da farmacoterapia.

Ele funciona a partir da obtenção de informação sobre os problemas de saúde e da


farmacoterapia do paciente e na elaboração de sua historia farmacoterapêutica.

O Método propõe um procedimento concreto, no qual se elabora um estado de situação


objetivo do paciente. Deste, derivam-se as intervenções farmacêuticas correspondentes,
nas quais cada profissional clínico conjuntamente com o paciente e seu médico decidem
o que fazer em função dos conhecimentos e condições particulares que afetam cada
caso.

O procedimento de AFT consta das seguintes fases:

»» Oferta do Serviço.

»» Primeira Entrevista.

»» Estado de Situação.

»» Fase de Estudo.

79
UNIDADE IV │ DESENVOLVIMENTO DE NOVOS FÁRMACOS

»» Fase de Avaliação.

»» Fase de Intervenção

»» Resultado da Intervenção.

»» Novo Estado de Situação.

»» Entrevistas Sucessivas.

Você pode encontrar MÉTODO DÁDER “MANUAL DE ACOMPANHAMENTO


FARMACOTERAPÊUTICO” Grupo de Investigação em Atenção Farmacêutica (CTS-
131) Universidade de Granada no site <http://www.pharmanet.com.br/atencao/
metododader.pdf>.

A entrevista farmacêutica consiste:

a. desde quando? Há quanto tempo toma a medicação? Serve para estabelecer


relações de causalidade entre os problemas e os medicamentos;

b. quanto? A posologia do medicamento dá indícios da relação dose efeito,


se existe efeito dose-dependente;

c. como toma? A maneira de tomar durante o dia, com alimento, antes ou


depois das refeições, em hora determinada;

d. até quando? Por quanto tempo deve tomar a medicação;

e. como se sente? Como o efeito é percebido pelo paciente;

f. algo estranho? Relaciona-se algum efeito indesejável quando toma o


medicamento.

Voce incrementaria esta entrevista? Quais perguntas voce modificaria ou


excluriria? Em sua opinião falta alguma pergunta? Quais são suas restrições?

80
INTRODUÇÃO
A SEMIOLOGIA UNIDADE V
FARMACÊUTICA

CAPÍTULO 1
Introdução a Semiologia Farmacêutica

Definição e História

Semiologia é o ramo da medicina que estuda os sinais e os sintomas da doença, e por


meio desse estudo se pode interpretar o que o paciente está sentindo para chegar a um
diagnóstico.

Portanto, tratamos semiologia como a arte e a ciência, que nos ajudará a chegar a um
diagnóstico, e com ele chegar ao tratamento apropriado.

Para realizar uma semiologia bem sucedida os profissionais devem ter conhecimentos de
diferentes áreas como anatomia, fisiologia, patologia, microbiologia e farmacologia.

Esses conhecimentos nos guiarão para examinar um paciente e interrogá-lo, com o


objetivo de entender melhor sua condição e obter uma hipótese do que está acontecendo
com ele e de suas necessidades.

Em 2013, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) previu que os farmacêuticos possam


prescrever medicamentos sem a necessidade de receita médica. A resolução no 585
afirma que, faz parte das atribuições clínicas do farmacêutico “prescrever, conforme
legislação específica, no âmbito de sua competência profissional”.

A prescrição farmacêutica é definida como o ato pelo qual o profissional farmacêutico


seleciona e documenta terapias farmacológicas e não farmacológicas, e também atua
em outras intervenções relativas ao cuidado à saúde do paciente. Esse ato surge como
um novo ramo na busca pela saúde da população, com o objetivo de promover, proteger
e recuperar a saúde, além de prevenir doenças, nas farmácias principalmente.

81
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

Entre as décadas de 1960 e 1970, nos Estados Unidos, surgiu a Farmácia Clínica, que
estimulou a participação do farmacêutico em programas de uso seguro de medicamentos
em hospitais, e nos anos 2000 chegou ao Brasil. Mais de uma década depois, sabemos
que hoje é uma prática que pode ser desenvolvidas em hospitais, ambulatórios,
unidades de atenção primária à saúde, farmácias comunitárias, instituições de longa
permanência e domicílios de pacientes, entre outros, e esse conceito se relacionará
muito com a Semiologia Farmacêutica.

Em 1998, a Farmácia Clínica ganhou força com a ajuda da OMS e da Federação


Interacional de Farmacêuticos (FIP) que preconizaram a atuação do farmacêutico na
automedicação e no autocuidado.

Essa decisão vem juntamente com o seguinte critério

... A expansão das atividades clínicas do farmacêutico ocorreu, em parte,


como resposta ao fenômeno da transição demográfica e epidemiológica
observado na sociedade. A crescente morbimortalidade relativa às
doenças e agravos não transmissíveis e à farmacoterapia repercutiu
nos sistemas de saúde e exigiu um novo perfil do farmacêutico.
(RESOLUÇÃO NO 585/2013 CRF)

Para começar, podemos falar um pouco sobre o surgimento do diagnóstico clínico.


Historicamente, o exame físico era o momento em que, segundo Hipócrates (500 anos
A.C.) se realizava a inspeção e palpação em um paciente. Falamos de Hipócrates porque
ele é considerado o pai da Medicina e historicamente desmistifica as funções sacerdotais
mitológicas que até então predominavam nessa época e introduz o conceito de que a
interpretação da doença só será possível pela observação e pelo controle do paciente,
formando assim o caminho inicial de medicina.

Depois, naturalmente foram surgindo os avanços da medicina na segunda metade do


século XVIII.

Os quatro ramos da semiologia podem ser divididos em:

1. Semiótica: é o conjunto de métodos de pesquisa utilizados para obter ou


apreciar os sinais e sintomas. É, sem dúvida, a parte mais importante da
construir um diagnóstico correto e inclui os materiais e métodos clínicos
complementares.

2. Semiogenesis: este ramo lida com o estudo da origem dos sinais e


sintomas.

82
INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

3. Semiografía: corresponde ao sinal de escrita ou sintoma de uma


transcrição. E este nos possibilita estudar as características de esses
próprios sinais utilizando gráficos. Exemplo: curva febril.

4. Propedêutica Clínica: interpreta, recolhe e classifica o conjunto de


sinais e sintomas deintegrados em um quadro clínico para chegar a um
diagnóstico.

Sintomas e sinais como língua de diagnóstico

O corpo humano usa a linguagem de sinais e sintomas para se comunicar.

Seus conceitos são: sintomas: desconforto ou sensações são considerados subjetivamente


a doença (por exemplo, dor, náuseas, tonturas). São todas as manifestações da doença
que o paciente relata, mas não pode ser estabelecida objetivamente. Ele pode fingir,
modificar ou alterar o sintoma.

É sempre relatada pelo paciente como um incômodo que só ele consegue perceber.

A dor só é sentida pelo paciente e o examinador conhecerá a sua característica, exceto


pela própria história do paciente.

Alguns exemplos de sintomas incluem: acidez gástrica, dispneia, disfagia, zumbidos,


parestesias etc.

Já os sinais são dados que são vistos, tocados, medidas etc., pelo profissional. São
objetivos.

Será possível de se verificar por qualquer outro examinador. Não aparecem relacionados
pelo paciente. São extraídos dos exames.

Exemplos clássicos de sinais são: pressão, pulso, respiração e temperatura, conhecidos


como sinais vitais.

A História Clínica de um paciente, é um documento do qual é listado em ordem


cronológica todos os dados relativos ao seu estado de saúde ou doença. Ela pode ser
coletada em um consultório médico, em casa, em uma sala de emergência ou em um
quarto de hospital e consiste de dois componentes primários: o interrogatório e exame
físico.

Os sinais são considerados como sintomas inúteis quando considerados isoladamente.


Agora se, por outro lado, são considerados em conjunto, forma-se um quadro clínico.

83
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

Às vezes esse quadro clínico é exclusivo para uma causa. Quando isso acontece, já
começamos a falar de doença.

Poder definir sinais e sintomas que se desenvolvem ao mesmo tempo, é definir um


quadro clínico cuja etiologia (causa) é única.

A síndrome é um conjunto de sintomas e sinais, que pode ter diferentes causas. A


síndrome pode ser causada por várias doenças, por exemplo: síndrome febril, síndrome
do hipertireoidismo, síndrome meníngea.

Quando falamos em síndromes, falamos sobre as condições clínicas que podem ser
causadas por diferentes causas, mas o que este quadro clínico é sempre o mesmo.

Se você estuda em profundidade o paciente geralmente pode estabelecer a síndrome


de origem. Por exemplo, você pode determinar se uma síndrome lombociatalgia foi
produzida por um tumor ou uma hérnia de disco.

A doença tem as suas próprias características e, em geral, tem uma causa específica,
é uma alteração ou desvio de estado fisiológico em uma ou mais partes de corpo, que
geralmente é devido a uma etiologia específica e manifesta-se por sintomas e sinais
característicos, cuja evolução é mais ou menos previsível.

Terminologia

Terminologia em um Processo Patológico:

ETIOLOGÍA = Causa

Conhecer a causa primaria, sobre ela podemos realizar o diagnóstico, entender seu
mecanismo de ação e pensar em um tratamento.

Fatores ou agentes etiológicos:

»» Intrínsecos, congénitos ou adquiridos.

»» Genéticos ou ambientais.

»» Epigenéticos: refere-se à denominação que recebem as características


de organismos unicelulares e multicelulares (como as modificações de
cromatina e DNA) que são estáveis ao longo de diversas divisões celulares,
mas que não envolvem mudanças na sequência de DNA do organismo.

PATOGENIA= Mecanismo de desenvolvimento da doença.

84
INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

Sequência de acontecimentos na resposta celular e do tecido frente ao agente etiológico,


desde seu início até a expressão final da doença.

MODIFICAÇÕES MORFOLÓGICAS E BIOQUÍMICAS= São as alterações estruturais e


moleculares que sofrem os tecidos e as células, são as lesões e disfunções que vão sofrer
nosso organismo.

SIGNIFICADO CLÍNICO= São as consequências funcionais que resultam das


modificações morfológicas e bioquímicas que sofre nosso organismo frente a uma
etiologia que pode ser externa ou interna.

Mudanças morfológicas e bioquímicas

Alteração estrutural e molecular que sofrem as células e os tecidos que são alterações
devido à própria característica da patologia enfrentada. Envolve a histopatología, a
biologia molecular, a bioquímica, a imunologia, matrizes do DNA e de proteínas.

Para resumir:

Sintomas = se refere ao que sente ao paciente, e ele mesmo pode descrever.

Sinais= são os encontrados pelo profissional durante o exame físico.

Quando e como começamos a falar de cuidado


clínico

Na parte clínica, sabemos que os médicos estão totalmente presentes, e ainda, nos dias
de hoje, continuam buscando uma metodologia que os aproxime mais dos pacientes,
para desenvolver o tratamento e chegar à patologia em si, e com isso a cura do paciente,
ou pelo menos a uma melhor qualidade de vida.

Para muitas doenças, já sabemos como é o tratamento, já conhecemos as referências,


os estudos, os protocolos, mas ainda assim, a busca pela melhor opção de tratamento,
sem tantos efeitos adversos e a possível cura, é interminável.

Se uma tarde qualquer, buscamos na internet, ou em bibliotecas de faculdades, os


estudos e artigos científicos que existem sobre uma única doença, com novas propostas,
ou com novos estudos, ou com os mesmos protocolos debatendo ou discutindo a forma
de tratamento “x” ou a forma de tratamento “y”, discutindo a teoria já apresentada,
certamente necessitaremos mais tardes como estas.

85
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

Muitos autores colaboraram para o método clínico, e para o surgimento do prontuário


médico.

Conforme vimos com Hipócrates, considerado uma das figuras mais importantes
da medicina, o objetivo de uma história clínica, ou prontuário médico, era agrupar
informações, que pudessem auxiliar na reflexão sobre o curso da doença, indicando
possíveis causas e encontrando por meio da análise comparativa e empírica a melhor
forma de tratá-las.

Entre muitas teorias, sobre o surgimento e sobre a evolução desse importante registro,
apresentamos algumas, que necessitamos para o nosso contexto de semiologia
farmacêutica, de maneira bem resumida:

Em 1978, um autor conhecido como Elstein, apresentou um trabalho sobre um método


voltado à resolução de problemas clínicos que, a partir de um problema apresentado ao
médico, ocorre a formulação e o teste de hipóteses, a tomada de decisão e o planejamento,
seguido do acompanhamento médico.

Em 1984, o autor Pendleton, investigou a prática centrada no paciente, definindo cinco


tarefas do médico:

1. averiguação da razão que levou o paciente à consulta (incluindo o


problema e as ideias que o mesmo tem sobre isso);

2. considerar outros problemas e fatores de risco;

3. escolha, em colaboração com o paciente, de uma atuação adequada a


cada problema;

4. alcançar uma compreensão compartilhada dos problemas com o paciente;

5. envolver o paciente na gestão dos problemas e encorajá-lo a aceitar a


responsabilidade adequada.

E Lawrence Weed que a partir dos anos de 1960, publicou seus estudos tratando o
método clínico, os registros médicos e a avaliação da qualidade que apresenta uma
abordagem, conhecida pela sigla PORM, que significa Problem-Oriented Medical
Record, propôs quatro fases da ação médica:

1. coleta de dados;

2. identificação de problemas;

3. planejamento;

4. seguimento.

86
INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

Até então, os métodos que eram utilizados previamente com cada médico, que tinha seu
próprio método de anotações de acordo com a condição do paciente e de acordo com
a sua especialidade. Estas notas informavam o estado deste paciente neste momento
e em caso de realizar um procedimento, se anotava qual era, qual o resultado obtido e
nada mais.

A história clínica, defendida por Weed, é um método lógico de documentar o


atendimento prestado ao paciente, o que permite uma melhor comunicação entre
diferentes profissionais ao cuidar do paciente, ao longo dos seus processos patológicos
e sua evolução.

Atualmente, a maioria dos centros de saúde, hospitais, segue este método para a
realização das histórias clínicas médicas, sendo um documento obrigatório, que
estabelece a elaboração de um prontuário médico para cada paciente. Este prontuário
pode ser elaborado tanto no papel, como também de forma eletrônica.Voltando a teoria
e ao método de Weed, os principais componentes de uma história clínica orientada por
problemas é estabelecer uma base de dados, lista de problemas e notas SOAP.

No quadro abaixo, podemos observar como estão desenvolvidas essas quatro fases, em
uma descrição realizada em 1971:

Quadro 1. Quatro fases da ação médica, segundo Weed et al (1971).

Fase 1. Coleta de dados – Organização do conjunto de dados do paciente incluindo história clínica, exame físico e resultados laboratoriais.
Fase 2. Identificação de problemas – Formulação de uma lista completa dos problemas do
paciente identificados pelo médico.
Fase 3. Plano – Desenvolvimento de planos de ação para cada problema identificado.
Fase 4. Seguimento – Acompanhar o progresso das ações realizadas e a evolução dos
problemas abordados.

E assim se define o significado de SOAP:

S: subjective (dados subjetivos).

O: objective (dados objetivos).

A: assessment (valoração).

P: plan (plano a seguir) .

Esses registros de dados descrevem como o paciente se sente, como ele explica e o que
o profissional de saúde observa, são dados descritivos, não são confirmados por testes.
São obtidos observando como o paciente se comporta e escutando como ele descreve
seus sintomas.

87
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

Séculos se passaram, e os registros médicos enriqueceram-se com dados que


complementavam o histórico do indivíduo: exames, evolução clínica, cirurgias,
medicamentos e tratamentos aplicados.

A história clínica (H.C) deve ser um documento único, integrado e com toda a informação
para cada paciente no hospital, tendo que ser um sistema de recuperação eficaz da
informação clínica.

Sua principal função é assistir o paciente permitindo o registro por equipes diferentes.
Outras características são: ensino, permitindo estudos para investigação e epidemiologia,
avaliação da qualidade e potencial profissional, planejamento e saúde gestão e utilização
em casos legais nessas situações jurídicas se necessário.

88
CAPÍTULO 2
Semiologia Farmacêutica

A Semiologia Farmacêutica, ou Propedêutica, consiste na aplicação de conhecimentos


farmacêuticos e técnicas sobre sinais e sintomas, ajudando a terapêutica aplicada em
questão, avaliando se a mesma está correta e apropriadamente indicada, se a mesma
é a mais efetiva e segura possível, e se a adesão do paciente ao tratamento está sendo
realizada.

Não é porque falamos de adesão do paciente, devemos afastar-nos de toda a


responsabilidade.

É uma tarefa e responsabilidade do paciente? Sim! Mas quando falamos de semiologia


farmacêutica, passa também a ser responsabilidade nossa, ou seja, é uma tarefa
compartilhada.

Essa atividade passou a ser uma das atribuições clínicas do profissional farmacêutico e
deve apresentar como objetivo as necessidades de saúde do paciente, sempre baseada
nas melhores evidências científicas, nos princípios éticos e estar em conformidade com
as políticas de saúde vigentes. O exercício deve estar fundamentado em conhecimentos
e habilidades que garantem a sua autonomia técnica.

Hoje sabemos que também depende do nosso esforço, essa adesão do paciente
e o sucesso do seu tratamento.

Nos últimos tempos, o farmacêutico em sua atividade vem buscando uma participação
ativa frente a uma integração multidisciplinar, para garantir à eficácia e a eficiência do
tratamento, fazendo-se presente a equipe de atenção à saúde.

Primeiro mediante do surgimento da farmácia clínica e, posteriormente, com atenção


farmacêutica, com a farmacoepidemiologia e a farmacovigilância, para desenvolver
uma prática focada no paciente, com a prevenção de problemas farmacoterapêuticos,
como observamos nas unidades estudadas anteriormente.

Para o autor, Marcelo Bisson (2007, p. 24) o termo semiologia farmacêutica se refere
“à utilização dos métodos de semiologia adaptados à prática farmacêutica e voltados à
prevenção e a condutas tomadas para problemas relacionados a medicamentos”.

89
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

A abordagem direcionada ao cuidado dos pacientes pelo farmacêutico se instalou


quando os conhecedores do método PORM, Kishi e Watanabe, em 1974, utilizaram
a mesma abordagem, em conjunto com os farmacêuticos. (KISHI; HORIGUCHI;
WATANABE; HAYASHI).

O método que eles utilizaram foi avaliar a utilização em estudantes de farmácia sobre
o desenvolvimento de habilidades de raciocínio clínico.

Acompanhem este estudo:

Kishi, D.T.; Watanabe,A.S. A systematic approach to drug ther apy for the
pharmacist. Am J Pharm Educ 1974; cap. 24. pp. 228-31.

E logo mais, em 1988, Strand, Morley e Cipolle propõem um método chamado


Pharmacist Workup of Drug Therapy ─ PWDT (Análise da Farmacoterapia pelo
Farmacêutico).

Fonte: Strand LM, Cipolle RJ, Morley PC. Documenting the clinical pharmacist’s
activities: back to basics. Drug Intell Clin Pharm 1988; pp. 22:63-6.

Eles se baseiam no sistema POMR, para desenvolver um raciocínio clínico e sistema de


documentação adaptado à prática farmacêutica.

Em realidade, eles enxergaram que a necessidade da farmácia era desenvolver ou


adaptar um método clínico de atendimento a pacientes, um sistema de documentação
e uma lista de problemas farmacoterapêuticos.

Nos dias de hoje, e nessa etapa de nossa carreira como profissional de saúde, observamos
claramente que o uso indiscriminado de drogas é uma das causas que gera o aumento
da expectativa de vida, mas que também traz riscos e falhas na farmacoterapia.

De longe, sabemos ainda, que pode essa situação pode ser atribuído ao uso indevido
de drogas por pacientes. E sabemos também que a Atenção Farmacêutica, veio para
garantir o uso de um medicamento eficaz e seguro para todos pacientes. Este conceito
veio como a resposta de saúde para a necessidade social para ajudar os pacientes a
obter o máximo benefício seus medicamentos.

Realizar a Atenção Farmaceutica envolve não apenas identificar e resolver problemas


existentes, já que estudamos farmacologia e podemos saber o que esta por vir, identificar
as dúvidas que surgirão e agir com prevenção para futuros problemas.

Entendendo este conceito, ou esta filosofia, estaremos trabalhando com o paciente e


para o paciente, a fim de obter resultados e sucesso na terapia adotada para ele.

90
INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

Quando um paciente não pergunta ao farmacêutico sobre uma dúvida que tem sobre
seu tratamento, pode ser um problema e pior, não significa que esta questão, problema
ou dúvida, não exista, porque o paciente pode às vezes nem saber o que esta por vir,
afinal não foi ele quem estudou para isso. Nós, sim podemos avaliar toda a situação,
paciente e medicamento, e compreender o que está passando, ou o que pode passar.

Com essa nova medida do CFF, podemos criar em nosso âmbito de trabalho um
ambiente que nos permita trabalhar desta maneira.

A Atenção Farmacêutica está inserida no contexto da Assistência Farmacêutica e são


partes do mesmo conceito em realidade.

Existe uma versão interessante, de 2008, sobre o conceito de Assistência e Atenção


Farmacêutica, do qual a 20o ExpoFarmacia, define por meio do seu blog, da seguinte
maneira:

5. Assistência Farmacêutica tem sido concebida como um conjunto


amplo de ações com características multiprofissionais, destinadas a
apoiar as ações de saúde demandadas por uma comunidade, sendo,
portanto, responsabilidade de todos e de cada um dos membros da
equipe de profissionais envolvidos direta ou indiretamente com o uso de
medicamentos na sociedade. A Assistência Farmacêutica é, portanto, uma
atividade essencial que possibilita que os vários processos que envolvem
o fármaco, desde sua pesquisa até sua utilização, ocorram de forma
segura e racional beneficiando individual e coletivamente os usuários de
medicamentos no país.

6. O conceito de Atenção Farmacêutica direciona o exercício


profissional do farmacêutico para o atendimento das necessidades
farmacoterapêuticas do paciente e este passa a ser o seu foco principal
de atenção. Desta forma, o farmacêutico assume a responsabilidade
de buscar que o medicamento esteja produzindo no paciente o efeito
desejado pelo médico que o prescreveu e, ao mesmo tempo, que, ao longo
do tratamento, não apareçam, ou apareçam de modo mínimo, problemas
indesejados possíveis e, em caso de manifestação destes problemas, que
eles sejam solucionados. Portanto, a atividade de Atenção Farmacêutica
faz também parte do conceito de Assistência Farmacêutica, enquanto
atividade especializada, realizada pelo farmacêutico, que passa a
compartilhar os resultados de seu exercício profissional clínico com os
demais profissionais envolvidos no atendimento ao paciente.

Fonte: <http://semanaracine.blogspot.com.ar/2008/04/qual-diferena-entre-ateno-
farmacutica-e.html>.

91
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

O que vocês pensam dessa versão?

Existem estudos que relatam que 23,5% de uma população idosa ambulatorial
receberam um ou mais medicamentos de uma lista com 20 medicamentos
considerados impróprios para idosos (estudo mostrado em WILLCOS et al) E
outros estudos evidenciam o uso inapropriado de antibióticos em condições
para as quais eles oferecem pouco ou nenhum beneficio em 21% de suas
prescrições. (GONZÁLES et al)

Como começar
O Farmacêutico quando atue em semiologia deverá saber realizar o exame físico do
paciente, e isso pode incluir os seguintes procedimentos: inspeção, palpação, percussão
e auscultação. E esses conceitos se verão a seguir quando tratemos de Exames Físicos.

O Ato de identificar sinais e sintomas menores em farmácias durante a prática da atenção


farmacêutica é necessário para avaliação da efetividade e segurança de medicamentos
em uso. E isso para o paciente, ajudará a resolver os seus problemas de saúde.

Em relação ao médico, ajudará a complementar e auxiliar nos cuidados de saúde


prestados aos seu paciente. Além de tudo, profissionalizará o ato de dispensação.

A semiologia Farmacêutica não substitui uma consulta médica, nem exames de


diagnósticos, sejam bioquímicos, imunológicos etc. E ainda vale ressaltar, que o
paciente pode optar ou não pela adesão.

Existem dois passos iniciais:

O primeiro é identificar o problema e depois, traçar um novo perfil.

Em 2004, segundo nossos autores já citados (CIPOLLE; STRAND;MOLEY), a farmácia


é um local frequentado porque os consumidores apresentam problemas relacionados
a medicamentos entre outros (esses outros poderão ser motivos alheios, como uma
compra de perfumaria, ou verificar a pressão arterial, por exemplo).

Um farmacêutico para poder identificar um possível problema, e quando falamos


problemas falamos de PRM, que já vimos anteriormente o conceito, deverá apresentar
habilidades e conhecimentos em:

92
INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

»» epidemiologia;

»» etiologia;

»» causas primárias;

»» fisiopatologia;

»» apresentação clínica;

»» tratamento;

»» desfechos desejados;

»» objetivos terapêuticos;

»» outros possíveis tratamentos;

»» terapia não farmacológica;

»» farmacoterapia;

»» controvérsias clínicas;

»» objetivos atingidos;

»» monitorização clinica;

»» adesão ao tratamento;

»» as complicações da doença e como e quando se podem demonstrar;

»» a prevenção da doença;

»» seleção de drogas (apenas situações e nomes DCI).

Não podemos esquecer-nos dos grupos de riscos!

Os Grupos de Risco, segundo a terminologia médica, indica a uma população sujeita


a determinados factores ou com determinadas características, que a tornam mais
propensa a ter ou adquirir determinada doença, logo depois de haver sido comprovado
cientificamente por meio de estudos epidemiologicos, por exemplo.

Pensemos um pouco antes de ir ao próximo parágrafo ou façam a revisão

93
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

Aqui estão alguns exemplos:

»» maiores de 65 anos;

»» doentes com patologias crônicas;

»» inmunodeprimidos;

»» residentes em casas de repouso;

»» pacientes grávidas.

E quais são os sintomas e sinais menores que podemos identificar em farmácias?

»» alergias de leves a moderadas;

»» problemas cutâneos;

»» distúrbios Respiratórias (resfriados, gripes, sinusites, rinites);

»» distúrbios Digestivos (constipação, hemorroidas);

»» problemas odontológicos;

»» oftalmológicos;

»» náuseas, vômitos;

»» cefaleia;

»» dismenorreia.

Nesse ponto, aproveitamos para adicionar, um conceito que aparace na ementa da


Resolução no 586, de 29/8/2013, do CFF:

Prescrição farmacêutica ─ Ato pelo qual o farmacêutico seleciona


e documenta terapias farmacológicas e não farmacológicas e outras
intervenções relativas ao cuidado à saúde do paciente, visando à
promoção, proteção e recuperação da saúde, e a prevenção de doenças
e outros problemas de saúde.

E segundo ela, um farmacêutico habilitado pode:

Art. 3o ─ Para os propósitos desta resolução, define-se a prescrição


farmacêutica como ato pelo qual o farmacêutico seleciona e documenta
terapias farmacológicas e não farmacológicas, e outras intervenções

94
INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

relativas ao cuidado à saúde do paciente, visando à promoção, proteção


e recuperação da saúde, e à prevenção de doenças e de outros problemas
de saúde.

Art. 4o ─ O ato da prescrição farmacêutica poderá ocorrer em diferentes


estabelecimentos farmacêuticos, consultórios, serviços e níveis de
atenção à saúde, desde que respeitado o princípio da confidencialidade
e a privacidade do paciente no atendimento.

Art. 5o ─ O farmacêutico poderá realizar a prescrição de medicamentos


e outros produtos com finalidade terapêutica, cuja dispensação não
exija prescrição médica, incluindo medicamentos industrializados
e preparações magistrais ─ alopáticos ou dinamizados ─, plantas
medicinais, drogas vegetais e outras categorias ou relações de
medicamentos que venham a ser aprovadas pelo órgão sanitário federal
para prescrição do farmacêutico.

Leiam por completo: Resolução no 586, de 29 de agosto de 2013.

É importante entender o que diz também a Resolução no 585/2013 do CFF.


Busquem o conceito de Medicamentos Isentos de Prescrição (MIP).

É necessário saber que na semiologia farmacêutica, não veio para que toda a população
realize consultas nas farmácias, ou substituam diagnósticos médicos, mas sim
para que quando um paciente chegue à farmácia, e necessite, possamos investigar
sintomas e sinais para identificar qual o melhor medicamento para ele ou se o seu caso
necessita de consulta médica, por exemplo. Além de realizar o cuidado clínico, ou um
acompanhamento de seu tratamento.

O Exame físico na Farmácia

O procedimento de realizar um exame físico na Farmácia não tem finalidade de


diagnóstico e não substitui a consulta médica ou a realização de exames laboratoriais,
mas tem como fundamento ajudar na identificar sinais e sintomas.

Os Procedimentos básicos que podemos realizar na Farmácia são:

1. Inspeção: é um processo de observação, investigação panorâmica e


localizada, que os aspectos relevantes são: odor, higiene, hidratação,
alimentação, entre outros.

95
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

2. Palpação: pode ser divididas em dois métodos: Tato (superficial) Pressão


(profunda). E é realizado em áreas delicadas e sensíveis, se verifica:
resistência, elasticidade, mobilidade.

3. Percussão: deve ser realizado pelas pontas dos dedos, e se avalia tamanho,
limites e consistência de órgãos. Sensação de edema, densidade de
estruturas.

4. Ausculta: é realizada a Monitoração de sons produzidos pelo corpo


(estetoscópio), e analise do som: pulmão, coração, abdômen versus
frequência, volume, qualidade e duração.

Esses quatro procedimentos podem ou não ser seguida de indicação de medicamentos


de venda livre para tratamentos de curta duração.

E é necessário mais um conjunto de ações sob os princípios de atenção básica, como:

»» escutar o paciente e questiona-lo;

»» tomar decisão: que pode levar a um tratamento medicamentoso, ou não


medicamento e o encaminhamento ao médico;

»» dispensação e orientação.

O farmacêutico não substitui os outros profissionais de saúde, e sim tem sua função
como atuação complementar, combatendo a automedicação, o consumo abusivo de
medicamentos e prevenindo a morte por intoxicação de medicamentos.

Não devemos esquecer:

Regulamento técnico de Boas Práticas de Farmácia RES no 357/2001, CFF

Enquadramento na categoria de venda de medicamentos, RES, RDC no 138/2003.

Comité de Consenso. Tercer Consenso de Granada sobre problemas


relacionados con los medicamentos (PRM) y resultados negativos asociados
a la medicación (RNM). Ars Pharm 2007; 48(1):5-17

CORRER, C.J.; PONTAROLO, R.; MELCHIORS, A.C.; SOUZA, R.A.P.; ROSSIGNOLI,


P. Fernández – Llimós F. Satisfação dos usuários com serviços da farmácia:
tradução e validação do Pharmacy Services Questionnaire para o Brasil. Cad.
Saúde Pública 2009 Jan; 25(1): pp. 87-96.

WANNMACHER, L.; FUCHS, F.D . Conduta terapêutica embasada em evidências.


Rev. Assoc. Med. Bras 2000; 46(3): pp.237-241.

96
INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

Conhecendo um pouco mais sobre PRM

Os métodos a seguir são bem parecidos. Todos contam com etapas, do qual o profissional
tem total contato com o paciente, ambos conversam muito e definem praticas de como
manter e seguir o tratamento aplicado.

O conceito de PRM vem junto com os seguintes critérios:

1. necessidade do Medicamento;

2. efetividade do Medicamento;

3. segurança do Medicamento.

E a sua identificação pode dar-se mediante a etapas:

»» Coleta de dados do paciente

›› Nome – Idade – Sexo – Patologia.

»» Identificação do Problema

›› relação entre a droga e a indicação; seleção adequada; recomendação


regime posológico; duplicação de medicamentos (com o mesmo efeito/
indicação);

›› alergias e intolerância; reações adversas; interações droga-droga,


droga-doença; dependência; as informações do paciente em relação
à sua farmacoterapia.; falta de terapia; custos de terapia; seguimento
farmacoterapêutico.

›› fármaco utilizado;

›› doses;

›› via de administração;

›› início;

›› fim;

›› observações.

97
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

Algumas perguntas nos poderão ajudar:

1. Este paciente necessita deste medicamento neste momento?

›› Se a resposta anterior é sim:

2. Este medicamento é efetivo e traz resultados?

›› Se a resposta anterior é sim:

3. Este medicamento é seguro?

›› E a partir delas, o farmacêutico começará a realizar o processo de Atenção


Farmacêutica e o processo Semiologia Farmacêutica/Propedêutica, e a
partir daqui serão inúmeras as perguntas que poderão surgir.

Para refrescar o conceito de PRM:

Um PRM é um problema de saúde, vinculado com a farmacoterapia


de um paciente, que interfere ou pode interferir com os resultados de
saúde esperados para este paciente: entendendo como problema de
saúde todo aquele que requer ou pode requerer uma ação por parte
do agente de saúde, incluindo o próprio paciente. (CONSENSO DE
GRANADA, 12/1998)

Com a semiologia farmacêutica então, sabemos que devemos além de promover o uso
racional do medicamento, garantir sua máxima efetividade e segurança.

Para isso:

»» coletar dados, e organizar a história clínica;

»» identificar os possíveis PRM;

»» revisar a terapêutica;

»» elaborar um plano de cuidado juntamente com o paciente;

»» realizar o seguimento do progresso, dos resultados, de novos possíveis


problemas.

98
INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

E em conjunto com o paciente:

1. O paciente não está usando a medicação de que necessita?

2. O paciente está utilizando um medicamento selecionado erroneamente


para sua condição?

3. O paciente usa uma posologia menos eficiente?

4. O paciente usar uma posologia superior a necessária?

5. O paciente não está utilizando corretamente o que está prescrito?

6. O paciente tem uma reação adversa impedindo eficiência?

7. Paciente sofre interação entre drogas e diminui a eficácia ou aumentou o


efeito tóxico?

(STRAND, L.M., 1990)

99
CAPÍTULO 3
Métodos a utilizar

Método de Dadér
O método de Dadér, desenvolvido pelo grupo de pesquisa em Atenção Farmacêutica da
Universidade de Granada, que falamos em capítulos anteriores também está presente
na semiologia. O método segue o modelo orientado por problemas de Weed.

Revisar: Unidade IV – Desenvolvimento de Novos Fármacos.

Já sabemos que ele funciona a partir da obtenção de informação sobre os problemas de


saúde e da farmacoterapia do paciente, e na elaboração de sua história farmacoterapêutica.

O método Dáder é amplamente utilizado na Espanha e na América Latina, incluindo o Brasil,


tem a finalidade de promover o registro de informações durante o desenvolvimento do
seguimento terapêutico, e é considerado ponto essencial e a base do desenvolvimento
da história farmacoterapêutico.

É o conjunto de documentos, produzido e/ou compilado pelo farmacêutico durante


todo o processo de atendimento ao paciente, contendo dados, exames e informações de
qualquer natureza, projetado para monitorar e avaliar os efeitos do uso de drogas por
parte do paciente.

Fonte: <http://scielo.sld.cu/scielo.php?pid=S0034-75152012000200010&script=sci_
arttext>.

Aproveitem para ler uma proposta baseada no método de Dader:

<http://scielo.sld.cu/scielo.php?pid=S0034-75152012000200010&script=sci_
arttext>.

Pharmacotherapy Workup – PWDT

E agora vamos a conhecer o método conhecido como “Pharmacotherapy Workup”,


desenvolvido por Cipolle, Strand e Morley.

100
INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

Em 1988, estes autores, propõem um método chamado PWDT - Pharmacist Workup of


Drug Therapy (Análise da Farmacoterapia pelo Farmacêutico), e se baseiam no sistema
PORM para desenvolver um raciocínio clínico e sistema de documentação adaptado
à prática farmacêutica, a ser utilizado na identificação e resolução de problemas
relacionados com medicamentos específicos dos pacientes.

Mais tarde, um conceito e a classificação de PRM são propostos e se aprofunda a


construção da base do que viria a ser conhecido então como atenção farmacêutica.
Fonte: Cipolle, R.J.; Strand, L.M.; Morley, P.C. Pharmaceutical Care Practice – The
Clinician’s Guide. 2a ed. New York: McGraw-Hill, 2004

Este método é também conhecido como modelo Minnesota porque após a publicação
do conceito de atenção farmacêutica por Hepler e Strand foi desenvolvido um projeto
na Universidade de Minnesota denominado Minnesota Pharmaceutical Care Project.
Fonte: CIPOLLE,R.J.; STRAND, L.M.; MORLEY, P.C. Pharmaceutical Care Practice
– The Clinician’s Guide. 2a ed. New York: McGraw-Hill, 2004

Nesse caso, o projeto foi coordenado pelo Instituto Peters de Atenção Farmacêutica,
e se estudou aplicação prática do PWDT por 54 farmacêuticos em 20 farmácias. Os
resultados deste projeto, com duração inicial prevista de três anos, foram publicados
em 1998 em livro e traziam dados de 5.480 pacientes atendidos durante os últimos
doze meses do projeto.
Fonte: CIPOLLE,R.J.; STRAND, L.M.; MORLEY, P.C. Pharmaceutical Care Practice
– The Clinician’s Guide. 2a ed. New York: McGraw-Hill, 2004

O estudo evidenciou as características da prática e seus resultados econômicos,


demonstrando sua viabilidade e desenvolvendo um programa informático de suporte.
Em 2000, foram divulgados resultados semelhantes e, recentemente, foi publicado
em livro estudo descritivo com resultados da atenção farmacêutica em outros 5.136
pacientes, atendidos em 26.238 encontros por 95 farmacêuticos.
Fonte: CIPOLLE,R.J.; STRAND, L.M.; MORLEY, P.C. Pharmaceutical Care Practice
– The Clinician’s Guide. 2a ed. New York: McGraw-Hill, 2004

O método consiste no raciocínio clínico, nas necessidades, e nos problemas terapêuticos


apresentados pelo paciente, e no processo de atenção.

Tem como base os seguintes pontos:

1. avaliação;

2. desenvolvimento de um plano de cuidado;

3. acompanhamento do paciente, e sua evolução e adesão ao tratamento.


101
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

Na primeira fase, o farmacêutico pode realizar uma entrevista para coletar informações
do paciente para posterior avaliação. Nesse momento se obtém quais medicamentos
estão sendo utilizados por ele, seus hábitos de vida do paciente e informações clínicas.

Fonte: <http://www.ufpi.br/subsiteFiles/lapnex/arquivos/files/metodos_clinicos_
mc.pdf>.

Durante a análise da indicação, se analisa o produto farmacêutico, a posologia e os


resultados de saúde do paciente obtidos e são nesses quatro pontos, que devemos ter
em conta em relação aos sinais e sintomas dos pacientes.

Com respeito à efetividade e a segurança são conceitos que são tomados como dimensões
dos resultados que nos trás a farmacoterapia. E por fim, a adesão do paciente só deve
ser considerada após essa análise.

Logo após, concluída essa fase de avaliação, o farmacêutico deve elaborar um


plano de cuidado com o objetivo de resolver cada um dos problemas encontrados,
além de promover o alcance das metas terapêuticas e prevenir novos problemas
farmacoterapêuticos que podem surgir.

Com isso, será formulado um plano de cuidado para cada tratamento, havendo ou não
presença de PRM, e cada plano é registrado em um formulário próprio de uma página
ou de um arquivo.

Em seguida, é necessário monitorar a evolução do paciente a fim de observar se as


metas do plano de cuidado foram atingidas ou se novos problemas possam ter surgido.
O acompanhamento de cada problema de saúde é registrado separadamente em um
formulário, também de uma página.

Assim, do ponto de vista do registro, o prontuário de um paciente atendido sob este


método constará de um formulário de avaliação inicial e tantos formulários de plano
de cuidado e monitorização quantos forem os problemas de saúde presentes ou
tratamentos em curso.

Fonte: <http://www.ufpi.br/subsiteFiles/lapnex/arquivos/files/metodos_clinicos_
mc.pdf>.

Os autores do Pharmacotherapy Workup propõem um método muito interessante


além de ser um método universal de atenção farmacêutica, muitos profissionais de
saúde podem utilizá-lo como base e por em pratica sua atuação.

102
INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

Therapeutic Outcomes Monitoring (TOM)

A sigla TOM, faz referencia ao método Therapeutic Outcomes Monitoring, que em


português, significa monitoração dos resultados terapêuticos.

É um método que deriva do PWDT e se baseia basicamente em 10 passos:

1. coleta de informações;

2. identificação dos objetivos explícitos de cada prescrição;

3. avaliação do plano terapêutico;

4. desenvolvimento do plano de monitoração;

5. dispensação do medicamento;

6. entendimento do paciente;

7. implantação do plano terapêutico;

8. agendamento da nova visita/consulta;

9. avaliação do uso de medicamento em relação aos resultados;

10. resolução do PRM e/ou realização do plano adotado.

Então os quatro métodos de seguimento e acompanhamento farmacoterapêutico que


podemos utilizar, são:

1. SOAP;

2. PWDT;

3. TOM;

4. DADER.

Para praticar porque não fazemos um resumo com os principais pontos de cada
método? Isso ajudará a organizar as ideias e por em prática sua atuação.

103
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

Luz! Câmera e Ação!

Durante a entrevista, que tecnicamente é chamada de anamnese, o profissional deve


estar atento aos seguintes pontos:

»» história de fatos clinicamente relevantes;

»» evitar interromper o paciente;

»» demostrar interesse e empatia;

»» observar pequenos detalhes;abordar história familiar, e sócio econômico;

»» confirmar a história clínica; manter sigilo profissional;

»» ser ético profissional.

Aqui é importantissimo aplicar o nosso conhecimento em Farmacologia:

»» princípios da farmacologia;

»» indicação;

»» efetividade;

»» segurança.

E isso inclui:

»» grupos e subgrupos terapêuticos, com seus princípios ativos e


especialidades, se possível os excipientes de cada um;

»» Farmacovigilância;

»» a educação do paciente sobre os medicamentos;

»» monitoramento de drogas;

»» protocolo de monitoramento de pacientes;

»» visitas sucessivas: frequência das visitas e o que fazer;

»» follow-up em problemas.

104
INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

O conceito aqui é conhecido como consulta farmacêutica. Essa consulta pode ser
considerada um ato demandado pelo paciente, ou seja, por sua própria vontade, ou
pela equipe de saúde no qual o farmacêutico busca prevenir e resolver os problemas
relacionados à saúde e a farmacoterapia do paciente que foi a sua procura.

No hospital, por exemplo, o farmacêutico clínico, deve ser capaz de interpretar a H.C., e
a partir dela obter a informação que pode relacionar ou influenciar na farmacoterapia,
que neste momento o paciente esta recebendo. Por isso, a importância de conhecer o
que é uma História Clínica e seu conteúdo.

Em uma farmácia ou em um estabelecimento de saúde devemos optar pelo mesmo


modelo e pelo conhecimento. Portanto, o primeiro passo no processo de momento
farmacoterapia é a coleta de informação para criar um banco de dados, ou uma História
Clínica Farmacêutica.

A história clínica farmacêutica será o motivo da consulta: a história da doença atual, a


história médica pregressa, histórico familiar e hábitos sociais. E o motivo é o porquê
o paciente está buscando o profissional, consistirá em um ou dois sintomas, e será
descrita pelo próprio paciente.

Existem quatro tipos de História Clínica Farmacêutica.História da doença atual: tempo,


início frequência, localização, quantidade e característica, entre outros, por exemplo,
fatores que influenciam e sintomas associados.

I. História médica pregressa: descrição breve dos problemas e ocorrências


anteriores, ocorrências medicas, que incluem hospitalização, consultas,
injúrias, obstetrícia no caso de mulheres, alergias, vacinas, doenças
comuns da infância, traumatismo.

II. Histórico Familiar: descrição breve de enfermidades na família, em


familiares diretos, câncer, diabetes, hipertensão arterial, problemas
psiquiátricos.

III. Hábitos Sociais: uso de álcool, tabaco, drogas ilícitas, alimentação,


atividades físicas, meio sociais.

Nela podemos incluir também, sempre que possível com a colaboração de nossos
“pacientes”:

»» sinais vitais;

»» parâmetros Bioquímicos já identificados (ou podemos utilizar algum que


podemos medir nas Farmacias: exemplo: Glicemia.

»» exames laboratoriais já realizados.

105
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

Ficar atentos, quando um paciente já está utilizando um tratamento farmacológico,


principalmente em:

»» indicação: relação com a enfermidade;

»» data início da doença: tempo de duração;

»» medicamento, concentração e dose: estão ok?;

»» tratamento: tempo de inicio do uso do medicamento e Horários: Jejum/


Café/Almoço/Lanche/Jantar/Antes de dormir.

Muita atenção nesse ponto em relação a complexidade da Farmacoterapia: números de


medicamentos, números de doses e horários e instruções adicionais.

A adesão ao tratamento vai depender do paciente, de sua confiança e do seu interesse


no método:

Ela pode se apresentar de duas maneiras:

»» Não adesão involuntária (não intencional) do paciente, que ocorre quando


o paciente apresenta dificuldade em cumprir o tratamento ou o segue de
forma inconsistente com as instruções do prescritor.

»» Não adesão voluntária do paciente, situação na qual o paciente decide


racionalmente não utilizar seus medicamentos ou faz de forma diferente
das instruções do prescrito.

E pode-se perceber com o relato do paciente, sua relação sobre as dificuldades para
tomar os medicamentos, quantas vezes esqueceu-se de tomar nesses últimos dias.
Analisa-se mediante:

»» contagem dos comprimidos;

»» histórico de compra;

»» falha na resposta terapêutica.

Além da facilidade ou dificuldade ao acesso aos medicamentos, condições


socioeconômicas e culturais, conhecimento sobre os medicamentos, capacidade
cognitiva, complexidade da farmacoterapia, aspectos religiosos, expectativas e medos
ligados ao tratamento, melhora ou agravamento da condição clínica, entre outros.

106
INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA │ UNIDADE V

Todos esses fatores podemos utilizar para avaliar adequadamente de como o paciente
faz uso dos medicamentos e de sua experiência de medicação. A responsabilidade
do profissional neste caso será compreender a dimensão da adesão do paciente ao
tratamento e trabalhar a fim de que ela não seja um problema.

Finalmente, na relação “Farmacêutico – Paciente”, o objetivo da atuação do profissional


farmacêutico é atuar frente a:

»» metas terapêuticas;

»» intervenções terapêuticas;

»» prazo para retorno;

»» SOAP;

»» identificar PRM;

»» plano de cuidado.

Às vezes será necessário o contato com o médico, que pode não ser simples, mas sempre
que surge essa necessidade, deverá ser realizado.

Como devemos realizar este contato?

Em relação ao contato com o médico, muitas vezes, é inadequado pedir ao paciente


que relate ao médico sugestões adquirida na farmácia, pois a informação pode chegar
distorcida e gerar desentendimento.

O ideal é realizá-la por meio de:

»» contato pessoal ou telefônico;

»» envio de carta escrita ao médico.

Quando o contato telefônico com o médico não está disponível ou é inoportuno, a


sugestão é de elaborar um informe escrito, tornando-se é a melhor solução. Ou uma
carta ao médico, que também é conhecida com o informe terapêutico, é uma ferramenta
poderosa de comunicação.

O paciente deve entregar o informe ou a carta ao médico, preservando a relação


médico-paciente.

Seu objetivo será apresentar um parecer farmacêutico, com a identificação de problemas


do paciente, e propor alternativas de resolução, deixando claro a responsabilidade
e o comprometimento do farmacêutico com a continuidade do cuidado e o trabalho
multidisciplinar.

107
UNIDADE V │ INTRODUÇÃO A SEMIOLOGIA FARMACÊUTICA

Definir a volta e a nova consulta farmacêutica

Um medicamento pode ser considerado seguro quando não causa um novo problema
de saúde no paciente nem agrava um problema de saúde já existente.

Fonte: <http://www.saude.sp.gov.br/resources/ipgg/assistencia-farmaceutica/otuki-met
odoclinicoparaatencaofarmaceutica.pdf>.

Agendar o seguimento do paciente trata-se de um padrão de qualidade da atenção


farmacêutica e deve ser feita ou revisada sempre como parte do plano de cuidado, ao
final da consulta farmacêutica.

Fonte: <http://www.saude.sp.gov.br/resources/ipgg/assistencia-farmaceutica/otuki-met
odoclinicoparaatencaofarmaceutica.pdf>.

O tempo entre uma consulta e outra, dependerá de muitos fatores, mas o principal é
esperar para observar resultados se é esse o objetivo.

Quadro 2.Tipos de intervenções farmacêuticas realizadas na Atenção Farmacêutica.

Links interessantes:

<www.pharmaceutical-care.org>.

<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/PropostaConsensoAtenfar.pdf>.

<http://www.cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/138/pb86web.pdf>.

108
Para (não) Finalizar

Epidemiologia, medicamentos e atuação


farmacêutica por meio da semiologia
Segundo a Anvisa, a definição de farmacoepidemiologia é aplicação do método e
raciocínio epidemiológico no estudo dos efeitos ─ benéficos e adversos ─ e do uso de
medicamentos em populações humanas. Reconhecida através da Portaria no 3.916/
MS/GM, de 30 de outubro de 1998.

Surge com a necessidade de avaliar os riscos associados ao emprego generalizado de


medicamentos e a vigilância de sua eficácia em condições normais de uso efetividade
e uma junção de farmacologia clínica e da epidemiologia. Seu desenvolvimento está
centrado em uma parte ao estudo da segurança dos fármacos, sobretudo durante a
etapa pós-comercialização e por outra parte no âmbito dos estudos de utilização de
medicamentos.

No Brasil, teve seu início quando Carlos da Silva Lacaz, médico, cientista e professor,
Formado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, destacou-se no estudo
da medicina de doenças tropicais, e juntamente com seus colaboradores publicaram o
livro “Doenças Latrogênicas”, no início da década de 1970, com o objetivo de alertar os
profissionais de saúde quanto ao risco relacionado ao uso dos medicamentos, podemos
considerar o início das discussões relativas ao assunto farmacoepidemiologia.

Doenças Iatrogênicas para farmacologia são doenças ou alterações patológicas


resultantes de efeitos adversos dos medicamentos, que podem ocorrer devido a um erro
médico, uma negligência, ou imprudência e imperícia de algum profissional da área de
saúde, ou ainda devido ao uso inadequado de antibióticos e demais medicamentos por
diagnóstico equivocados, por automedicação, uso excessivo de medicamentos ou por
desinformação de como administrar a medicação, entre outros.

Observamos que os ensaios clínicos não são feitos sobre um número suficiente de
pacientes tratados durante um período suficientemente longo para permitir detectar
todos os efeitos indesejáveis do produto estudado, e necessitam às vezes muitos
recursos para sua realização que infelizmente nem sempre esta disponível. Os estudos
intensivos ou os estudos de coorte tem um custo muito elevado e nunca conseguem

109
PARA (NÃO) FINALIZAR

pacientes suficientes para descobrir e finalizar um estudo com segurança, por exemplo,
de reações indesejáveis cuja incidência é inferior a 1 para 5000 ou 10000 pacientes.

Devido a este motivo, é indispensável completar os conhecimentos de um medicamento


após sua comercialização.

A metodologia epidemiológica deve estar vinculada desde o começo com todos os


processos de planificação da saúde, a fim de conhecer as necessidades e as demandas
da população, mediante a uma nova analise e avalição de necessidades básicas.

Sejam em hospitais, clínicas, centros de unidades básicas, farmácias, assim como todas
as organizações relacionadas à atenção de serviços de saúde, necessitam ferramentas
essenciais de epidemiologia.

A Farmacologia como vimos, é essencial para a Saúde Pública e a farmacovigilância


ocupa um lugar cada vez mais importante na avalição da relação risco/benefício de um
medicamento.

A notificação espontânea é uma fonte insubstituível de informações para estes objetos


de estudos. A equipe deve ser de multidisciplinares, já que os médicos nem sempre
são formados ou sensíveis a esta atividade, o que não é o caso de transformar todos os
médicos em especialistas da avalição de um medicamento.

Vale lembrar, que as reações podem começar antes mesmo da utilização de um


medicamento, por isso ela deve ser estudada. Algumas surgem minutos ou horas
depois de seu primeiro uso. Sua evolução cronológica é muito importante: uma reação
que desaparece quando o tratamento é continuado tem poucas chances de ser devida
ao produto utilizado, e uma reação que reaparece de forma idêntica sem a retomada
da administração do medicamento, vários dias depois também tem poucas chances
de ser devido ao medicamento. Agora se reaparece após a volta da administração do
medicamento, tem grandes chances de ser devido ao seu uso.

Uma boa avalição requer tempo, com dados bem precisos, como datas, horários início e
términos da administração do medicamento e o tempo em que surge o efeito indesejável
ou a anomalia.

Hoje contamos com sistemas on-line de notificação. A Primeira Portaria é a Portaria CVS
4 publicada em 7 de maio de 2005, que atualiza e institui os formulários de notificação
de suspeita de RAM e desvio de qualidade, dispõe sobre sues fluxos e da providências
correlatas.

110
PARA (NÃO) FINALIZAR

Com respeito a Semiologia Farmacêutica, e a Segurança no Uso Racional de


medicamentos, sabemos que muitos são os fatores desencadeiam o uso irracional de
medicamentos, os mesmos vão desde o desconhecimento por parte do usuário, pelo
acesso de muitos medicamentos que não necessitam de receita médica sem orientação,
e até na falta de profissionais farmacêuticos habilitados, ou na falta de atuação de
Atenção e Assistência Farmacêutica. Esses fatores permitem o uso de medicamentos
desnecessários, de forma inadequada e propiciam uma terapêutica duvidosa.

Sabemos que no Brasil, o cenário da assistência médica no setor público às vezes não é
fácil, e muitas vezes há uma sobrecarga na atenção particular.

Muitos recorrem à automedicação, buscando nas farmácias a resolução para os


seus sintomas mais comuns. No entanto, a automedicação quando é realizada sem
a orientação adequada de um profissional da saúde pode provocar agravos e muitos
efeitos indesejáveis.

A implantação de dispensação ativa, do qual o usuário recebe orientação farmacêutica


adequada quanto ao uso seguro dos medicamentos, como a indicação e forma correta
de administração, os benefícios seriam muitos maiores, que englobam o tão esperado
tratamento de saúde efetivo e adequado, até o fator econômico. Aproveitemos que os
olhos estão voltados a Semiologia Farmacêutica.

Aproveitemos para criar e crescer nessa prática profissional, e a utilizemos a participação


do profissional na dispensação de medicamentos de venda livre ajudar ao paciente a
obter sucesso no seu tratamento, e manter a sua saúde.

Assim ele agradece, a população agradece (não passa a ser um problema generalizado)
e nós, outros profissionais farmacêuticos, também agradecemos.

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Referências

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