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Disciplina Laboratório de História I

Prof. Dr. Carlos Gustavo Nóbrega de Jesus


Paulo Henrique Ferreira
RA 147602

Resenha

Pouco mais de meio século após a efervescência teórica no campo da História como
disciplina e ciência – levada a cabo pela Escola dos Annales – François Dosse coloca em
perspectiva as críticas do movimento francês aos historiadores do século XIX. Em “História e
Historiadores no século XIX” o autor contrapõe o olhar estigmatizado pela Escola dos Annales e
procura compreender os chamados historiadores metódicos como fundamentais para o
desenvolvimento da disciplina, dentro de seu tempo. Em meio à consolidação dos diversos
Estados Nacionais na Europa, Dosse vê os historiadores do século XIX como aqueles que
buscavam a verdade de seu passado a fim de conceber seu futuro. Tratava-se também do período
de pretensões cientificistas nas mais diversas instâncias que, no caso da História, veio a
contrapô-la às tradicionais disciplinas de Letras e Filosofia. Dosse retoma o papel basilar de
personagens como Wilhem von Humboldt e Leopold von Ranke. Ao primeiro, ele atribui o
nascimento do historicismo, no sentido de que a história deveria partir do particular a fim de
tender para o verdadeiro da ação humana. Ranke, por sua vez, elabora a necessidade da prática
empírica e positivista da disciplina, estabelecendo-a de vez como ciência. O trabalho de Charles-
Victor Langlois e Charles Seignobos, já na virada do século, propõe a necessidade da crítica
externa e rigorosa ao documento, de acordo com Dosse. O início do século XX, enfim, viu
surgirem as primeiras críticas ao historicismo do século anterior, mas Dosse faz a ressalva de que
a impossibilidade da objetividade do historiador, e portanto o subjetivismo de Humbolt, Ranke e
demais deveriam, por sua vez, ser analisados historicamente e compreendidos dentro do contexto
da ciência histórica do século XIX.
Em tendência paralela, em “Nova História seu passado e seu futuro”, Peter Burke procura
colocar em perspectiva a chamada Nova História, que abrange as diversas mudanças ocorridas na
disciplina da História na última geração (levando-se em consideração que Burke escrevia em
1992). O autor procura analisar as novas tendências e movimentos mais recentes na História. A
fim de pontuar os contrastes entre a antiga e a nova história, o autor também retoma, como o faz
Dosse, as contribuições e limitações da chamada historiografia tradicional – aquela desenvolvida
na segunda metade do século XIX. Apesar de focar sua análise nas inclinações pós 1970-80,
Burke olha para o passado da própria Nova História e encontra suas raízes não somente na
Escola dos Annales, mas também em casos anteriores de abordagens inovadoras, como no caso
de Jacob Burckhardt que, por sua vez, teria suas próprias raízes em autores precedentes. Burke
aponta ainda para os problemas da Nova História, como com relação às fontes utilizadas, aos
métodos e à definição de termos que nunca são absolutos. Ambos, François Dosse e Peter Burke,
valem-se de sua distância temporal dos novos caminhos da disciplina para colocá-las em
perspectiva e confrontá-las com seus antecedentes, até recentemente tão criticados.
A partir da consciência de que o próprio desenrolar da História como disciplina é passível
de julgamentos anacrônicos e subjetivos – e gerações futuras deverão, por sua vez, olhar as
análises de Dosse e Burke criticamente, ao inseri-las no contexto da produção histórica das
décadas de 1990-2010 – observemos quais são algumas das mais recentes tendências da
disciplina.
Em “A História vista de baixo” Jim Sharpe retoma a proposta cuja origem atribui a Le
Roy Ladurie em seu Montaillou de 1966, de olhar mais atentamente aos atores históricos que
quase sempre foram excluídos pela historiografia. A micro-história italiana amplamente
divulgada em O Queijo e os Vermes de Carlo Ginzburg e a História Social inglesa de Edward
Thompson e Eric Hobsbawm, souberam abordar as novas fontes oferecidas pela Nova História
com um olhar crítico. Conscientes da negligência com relação às fontes relativas às camadas
marginalizadas da sociedade – seja no momento da produção, mas também do armazenamento e
da conservação documental –, esses autores souberam aproveitar-se da documentação disponível
no que ela lhes permitia apreender, naquilo que transpirava, a respeito dos sujeitos
marginalizados, como mulheres, operários, camponeses etc. Ademais, tanto Ginzburg quanto
Thompson defenderam a agência histórica desses grupos. A ausência de documentação por eles
produzida não os situa como seres passivos nas relações históricas, nem valida a narrativa das
fontes como algo objetivo e unânime.
De maneira semelhante, Silvia Lara em “Blowin’in the Wind: E.P. Thompson e a
experiência negra no Brasil” segue a tendência da História Social Thompsiana ao questionar a
necessidade do estudo dos grupos marginalizados. A autora não vê a “inclusão dos incluídos”
como suficiente. Não basta estudar esses novos grupos se o olhar ainda for o dos “dominantes
sobre os dominados”. É preciso ir além e dar voz àqueles a quem a história negligenciou registro.
Também não se trata de inverter o jogo, mas de perceber as relações históricas como circulares,
conforme defendia Thompson, construídas num movimento constante por sujeitos históricos tão
ativos uns quanto os outros. Para tanto, é preciso ler os documentos e questionar sua origem, sua
autoria e sua intenção.
O documento histórico deve ser aproximado ao monumento, afirma Jacques Le Goff em
“Documento/Monumento”. Enquanto o segundo foi frequentemente compreendido como um
objeto produzido em determinado contexto, por determinadas pessoas, e com certas intenções, o
primeiro ganhou sentido de prova – portanto, incontestável. A pouca crítica ao documento até os
positivistas do século XIX, afirma Le Goff, estava condicionada apenas à averiguação de sua
autenticidade. No entanto, em paralelo às tendências apontadas por Sharpe e Lara, o autor
defende que não há um “documento objetivo, inócuo, primário”. Este é, ao contrário, sempre um
objeto de poder, produto de determinadas relações de força, perpetuamente manipulado pela
agência histórica. É apenas a partir do incessante questionamento do documento que o
historiador pode aproximar-se dele cientificamente.
O documento/monumento, por sua vez, existe não apenas no momento de sua produção,
nem somente ao ser analisado por um historiador. Ele existe através do tempo, em todos os
tempos, desde que foi gerado. Esse “tempo histórico” é atravessado pelos objetos físicos, mas
através dele os seres humanos perecem, nos legando sua memória em migalhas. É através de, ou
para esse tempo que o historiador deve olhar, de acordo com Marco Antônio Lopes, como um
observador externo. É o que fazem, afinal, François Dosse e Peter Burke. Ao encontrarem-se
suficientemente distantes do positivismo, da Escola dos Annales e da Nova História, podem
analisá-las historicamente. O próprio tempo, porém, deve ser historizado. Ele não foi percebido
da mesma maneira ao longo do curso da história, nem pelos diferentes grupos sociais. De acordo
com Lopes, é Fernand Braudel quem problematiza a questão do tempo na história a partir de sua
longue durée.
Bibliografia

BURKE, Peter. Abertura: Nova História seu passado e seu futuro. In. BURKE, Peter. (Org.). A
escrita da história: novas perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992, p. 7-37.
DOSSE, François. História e Historiadores no século XIX. In. MALERBA, Jurandir. Lições de
História. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010, p. 15-31.
LARA, Silvia Hunold. Blowin ´in the Wind: E.P. Thompson e a experiência negra no Brasil.
Projeto História. Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados em História e do
Departamento de História da PUC-SP, São Paulo. n.12. Out. 1995, p. 43-56.
LE GOFF, Jacques. Documento/Monumento In. ____. História e Memória. Campinas: Editora
da Unicamp, 2003, p. 525-539.
LOPES, Marco Antônio. Um tempo para a história. In. ____. Fernand Braudel: tempo e
história. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2003, p. 81-100
SHARPE, Jim. A história vista de baixo. In. BURKE, Peter. (Org.). A escrita da história: novas
perspectivas. São Paulo: UNESP, 1992, p. 39-62.

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