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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA PRIMEIRA

VARA CÍVEL DA COMARCA DE JARU, ESTADO DE RONDONIA.

Proc. 7003946-67.2017.8.22.0003
AÇÃO POSSESSÓRIA
Autor – Ademir Salvalágio
Réu(s) – Paulo Henrique da Silva Ramalho e outros

PAULO HENRIQUE DA SILVA RAMALHO, brasileiro,


camponês, portador da cédula de identidade RG. 1083832-SESDEC/RO e
inscrito no CPF/MF 005805692-75; GILMAR REIS SANTOS, brasileiro,
agricultor, portador da cédula de identidade RG. 529295-SSP/PR e inscrito
no CPF/MF 569355922-68; JUCELEI DE JESUS, brasileiro, agricultor,
portador da cédula de identidade RG. 3911866 –SSP/GO e inscrito no
CPF//MF 56443161-87, e os demais camponeses componentes do
ACAMPAMENTO FIDEL CASTRO 1 incrustados no TD.ASSUNÇÃO
município de Theobroma/RO e comarca de Jarú, Estado de Rondônia
relacionados nominalmente junto ao INSTITUTO NACIONAL DE
COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA e cadastrados no CAD ÚNICO ,
residentes e domiciliados na R0000000000000000000 133 – linha 605 –
sentido Vale do Anarí, km 48-Travessão 12 – km 12 Lote 119 – Gleba Rio
Jarú, nos autos em epígrafe, por seu advogado, in fine assinado, ut
instrumento de mandato incluso vem mui respeitosamente ante a presença
honrosa de V.Exa. responder a epigrafada possessória , o que faz alegando
e requerendo no final o seguinte:
1- Os réus e as famílias acampadas no
ACAMPAMENTO MONTE CRISTO localizado em área contígua à da autora
se encontram no final da linha 203 municipio de Vale do Paraíso -RO com a
finalidade de pressionar o órgão gestor da política agrária nacional , o INCRA
Regional a encaminhar o pedido de DESAPROPRIAÇÃO POR INTERESSE
GENÉRICO da área objeto material da lide, com base na Lei 4.132/62, para
realizar no local um ASSENTAMENTO ou permitir a regularização fundiária
dos acampados nas parcelas que funcionalizarem a posse, considerando
que a autora descumpriu as leis ambientais cortando as árvores castanheiras
da mata nativa para transformar em tábuas,caibros, vigas, ripas, enfim
industrializou madeiras de Lei cujo corte sempre foi proibido.
2- A ganancia da autora em explorar os recursos
naturais da área com fito único e exclusivo de obter lucro é notório e evidente
a qualquer um que esteja no local com para observar este lado da
propriedade. Descumpriu a função sócio-ambiental da área e a propriedade é
meramente documental quando não cumpriu a função ambiental por ter
totalmente destruído o meio ambiente. A parte de pastagens também não se
observa qualquer cuidado com a preservação do meio ambiente já que a
área de mata que era para compensar o desmatamento fui desvastada.
3 – A AUTORA mantém a área meramente para fins de
especulação imobiliária tanto que no decorrer destes últimos anos não se
preocupou em respeitar a função ambiental da terra e retirou as madeiras
cujo corte é proibido no Projeto de Manejo cortando as castanheiras que por
Lei é proibido .

4 – Este tipo de propriedade


meramente documental não deve mais subsistir frente ao princípio da
função social ambiental da propriedade da qual a funcionalização da posse é
um sub-princípio.
5- Os réus estão com as famílias na área e pretendem
funcionalizar a posse.
6 – Há que se compreender melhor a evolução do
Direito de propriedade no Brasil e entender que o conceito de função social
tanto da propriedade como da posse não mais condiz com o conceito antigo
de propriedade meramente documental que respaldava no passado a
“grilagem” de terras públicas, diga-se INVASÃO DE TERRAS PÚBLICAS em
várias modalidades que serviram muito mais para a reconcentração
imobiliária como no caso.
7 – O clamor do povo é por um pedaço de terra para
nela plantar e sobreviver com os alimentos ali produzidos e não o contrário
como no caso onde fica um só em cima de quase 5000 alqueires de terras
onde ao longo dos anos não fez mais do que desvastar o meio ambiente
degradando-o com pastagens e cortando arvores sementeiras que em
qualquer projeto de manejo mesmo naqueles irregulares, diga-se, "frios"
como parece acontecer no caso tem que formalmente estar demonstrado a
proibição do corte destas árvores.
8 – Areas ocupadas e reconcentradas na região como
esta demonstram à evidencia que não cumprem a função social da terra
porque provavelmente parte foram desmatadas sem licenciamento
ambiental e é fato notório que a propriedade deve reverter à União
Federal/INCRA que deve manifestar se tem ou não interesse para cumprir o
rigor das prescrições legais do artigo 5 º da Lei 9.469, de 10 de julho de
1997, como já dito na modalidade de DESAPROPRIAÇÃO POR
INTERESSE GENÉRICO, na conformidade da Lei 4.132/62.
11 – Camponeses grassam por todo País aglomerados
em acampametnos que é um fato jurídico e o Poder Público não deve
simplesmente transformar em caso de polícia a situação fática de famílias
acampadas em busca de um pedaço de terra para dela sobreviver quando os
órgãos do Governo Federal como o INCRA e o Programa Terral são muito
burocráticos e procrastinam a propalada REFORMA AGRÁRIA, agora
12 – Os camponeses requeridos querem terra para
trabalharem e dela tirar seu próprio sustento.
13 – É sabido e consabido que uma das grandes
finalidades da POSSE AGRÁRIA é a fixação do homem à terra, o que se faz,
basicamente, pelo acesso à propriedade sobre o imóvel quer pelo usucapião,
pela legitamação, pela regularização ou pela preferência pela aquisição, pelo
usucapião coletivo do artigo 1228, §4º e 5º do Código Civil Brasileiro.
14 – Inegável, todavia, que esta fixação do homem do
campo à terra que cultiva também se assegura , e até com mais
imediatidade, pelo direito de defesa da posse, acaso ameaçada, turbada ou
esbulhada.
15 – A atividade agrária é um complexo de comportamentos
que se interpenetram, completam e aperfeiçoam. Não há como imaginar , por
exemplo, o cultivo da terra, atividade de produção, sem a necessária
complementação com o respeito aos recursos naturais renováveis, ou por
meio de ações preservativas e ou conservativas.
16 – Não cumprindo a função social da terra “ o proprietário
se sujeita a diversas sanções, numa escala progressiva, a culminar com
a caracterização do imóvel objeto do direito de propriedade como
latifúndio; que o deixa na linha de fogo da desapropriação por interesse
social para finalidade de reforma agrária, transferindo-se a propriedade
do mesmo a outrem que tenha mais consciência da verdadeira
designação social do bem. Isto para não se falar do usucapião agrário”.
17 – “Os bens de produção – propriedade agrícola não
podia ficar , como não ficaram, sujeitos a finalidades estranhas ao seu
atributivo específico. Não se admite, no que respeita a este bens, o
exercício do direito dominial com o escopo especulativo, ou qualquer
outro que venha desfigurar a natureza deste bens
substanciais”. Stefaninni, L. Lima. A Propriedade no Direito Agrário, p.
103.
18 – A conclusão é irretorquível A POSSE AGRÁRIA é que
legitima a PROPRIEDADE AGRÁRIA.
19 – Em exposições feitas durante o ensino da disciplina
DIREITO AGRÁRIO COMPARADO , Román José Duque Corredor mostrou
que Direito Agrário põe em relevo a utilização da terra, seja na configuração
da propriedade, seja na posse concluindo ser a posse agrária a legitimadora
da propriedade – Anotações em aula – Direito Agrário Comparado,
Universidade Federal de Goiás , outubro de 1987.
20 – Os documentos juntados com a inicial não se prestam
para justificar a função social da posse e quando muito a posse civil que
está em desprestígio em relação à POSSE AGRÁRIA garantida pela
Constituição Federal.
21 – Vê-se portanto que , sem prejuízo, das disposições
preexistentes no Estatuto da Terra, a propriedade se vê exigida, quanto ao
desempenho de sua função social, podendo-se dizer que a atividade agrária
se impõe como verdadeira necessidade para que a propriedade agrária se
veja credora da garantia que a Constituição lhe assegura.
22 – A análise, ainda que rápida, das exigências
constitucionais e estatutárias para que a propriedade atinja sua destinação
social demonstra que tal é absolutamente impossível sem que sobre o bem
imóvel se realize a atividade agrária e esta sem dúvida corporifica a POSSE
AGRÁRIA. Daí a afirmação de que a POSSE AGRÁRIA é que dá
legitimidade ao direito de propriedade, não sendo verdadeira a recíproca.
23 – Dir-se-ia, então que o direito de propriedade deveria ser
abolido?
Não. Evidentemente não!
24 – Ele é necessário. Se assim não fosse, não teria a posse
sobre o bem imóvel, dentre os seus principais reflexos, estes que são
conducentes à aquisição da propriedade plena: o usucapião, a legitimação e
regularização da posse e o direito de preferência, e o usucapião coletivo do
artigo 1228, § 4º e 5º do Código Civil Brasileiro.
25 – “No sistema agrário registrário vigente no País, a
titulação instrumental ainda é referência importante. Todavia, inegável é
inescondível é que a propriedade não mais se demonstra defensável em
razão do registro do proprietário rural, os sem terra, o governo e
igualmente os habitantes das grandes cidades que restam inchadas em
virtude do êxodo rural, todos, sem exceção, colaboraram para que em
um país gigantesco como o Brasil, e cheio de fazendeiros endividados
que querem vender as suas terras, exista um contingente tão grande de
miseráveis no campo. Por sinal, nosso país é tão gigantesco que nos
permitimos cogitar, inclusive que a existência de alguns latifúndios,
desde que produtivos, não seria fator necessariamente impeditivo a que
todos tivessem acesso à terra...”.
26 – A citada fonte ao aludir sobre – As invasões de terras e o
Direito Penal no item 2 aduz que – “ O direito penal, estático e rígido, há
que estar sempre em sintonia com a realidade humana e por isso
imutável, bem como os direitos e garantias fundamentais que vão
continuamente e aos poucos, se revelando no tempo daí não serem
taxativos os direitos e garantias fundamentais elencados em nossa
Magna Carta a teor do seu art.5º. § 2º...”.
27 – E é essa a árdua tarefa de nossos Tribunais, ou seja, de
adaptar a Lei ordinária à nova realidade constitucional e, também, aos
direitos sociais e individuais, revelados na prática, respeitando-se ao mesmo
tempo, o primado da segurança jurídica.
28 – Nesse contexto, é de se questionar se a invasão de terras
com o objetivo de chamar atenção do Governo para que a sua
desapropriação seja efetuada, configuraria algum ilícito penal.
29 – Alípio Silveira cita que Henri de Page ao tratar da chamada
interpretação sociológica, afirma que “ a interpretação das leis não deve ser
formal, deve ser, antes de tudo , real , humana, e socialmente útil. O
entendimento do sentido da função social da propriedade deve ser
extraída cientificamente em cotejo com a função social da posse, e o
julgamento dos casos que envolvam conflitos fundiários
desencadeados pelos movimento sociais multitudinários deve
qualificar-se, antes de mais nada, por um amplitude na base de
compreensão do FATO JURÍDICO buscando subsidio na jurística
sociológica, sociologia jurídica, macro sociologia jurídica, estática e
dinâmica social, como facilmente se detecta no conceito excertado da
fonte aludida: “ Em fim, os órgãos do Poder Judiciáriao , o MP e os
advogados, todos, devem estar atentos a este outro conflito social - o
da miséria – que é muito mais profundo e relevante do que as
aparentes, só aparentes, violações do Código Penal, parte dos
integrantes do MST que invadem fazendas improdutivas, com o único
objetivo de pressionar o governo e acelerar a implementação da
REFORMA AGRÁRIA , nos limites aqui traçados”.
30 – A Carta Magna ao tratar dos direitos e garantias individuais
no capítula 1 – referente aos direitos e deveres individuais e coletivos dispõe
no artigo 5º, inciso XXII o seguinte: “ Todos são iguais perante a Lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à PROPRIEDADE, nos seguintes
termos: XXIII – A PROPRIEDADE ATENDERÁ A SUA FUNÇÃO SOCIAL.
31 – No artigo 170, inciso III a Constituição Federal dispõe sobre
os princípios gerais da atividade econômica prescreve o seguinte: “ A ordem
econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna , conforme os
ditames da Justiça Social, observando os seguintes princípios: III -
FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE.
32 – Em Pluralismo Jurídico – Fundamentos de uma nova
cultura do Direito de Antonio Carlos Volkmer – Ed. Alfa Omega com acurada
visão crítica e científica sobre a ineficácia instrumental do Poder Judiciário
constata às pags. 94 que: “ Mesmo que se reconheça que uma das
causas dos conflitos coletivos poder ser encontrada, como foi
mencionado anteriormente, na negação ou ausência de Direitos às
necessidades vitais, sócio-políticas e culturais, presentemente
privilegiar-se-ão conflitos relacionados às necessidades materiais,
corporificadas no direito à posse, à moradia, ao solo urbano, e à
propriedade agrícola. Deste modo, ainda que seja crescente a
Sociedade Brasileira a confluência de conflitos de natureza essencial
(saúde, saneamento básico, transporte etc), de teor trabalhista,
ecológico e de consumo, nenhum alcança o grau de extensão,
intensidade e violência dos conflitos do campo e dos centros urbanos
relativamente à propriedade da terra.
33 – No mesmo diapasão segue afirmando que: “ Ressalta-se,
por conseguinte, a falência de um modelo jurídico estatal que , através
de seu ordenamento positivo (Código Civil e Código de Processo Civil)
e de seu órgão jurisdicional de decisão (Poder Judiciário), está limitado
a tão somente regulamentar conflitos interindividuais/patrimoniais e
não sociais de massa, ou seja, não consegue garantir uma correta
regulamentação de tensões coletivas que abrangem o acesso à terra
(invasão de terras públicas e privadas improdutivas) e o conseqüente
processo de ocupação nas áreas rurais e urbanas. De fato, legislação
privada e as políticas legais importadas pelo Estado não conseguiram ,
até hoje, enfrentar e solucionar adequadamente as agudas questões
estruturais da sociedade Brasileira, como a concentração da riqueza
nas mãos de poucos, as abissais desigualdades sociais e a crescente
exclusão para milhões de pessoas da moradia e da posse da terra. É
paradoxal e inconcebível que um dos países de maior extensão
territorial do mundo possua como um dos seus cruciais e quase
insolúveis problemas os conflitos coletivos de natureza fundiária,
causadores de grande parcelas em desuso do território nacional, e uma
grande massa construída por milhões de despossuídos sociais dos
“sem terra” e dos “sem teto”.
34 – Afirma o conceituado autor que o confronto envolvendo
disputa pela posse, uso e distribuição da terra, desenrola-se no contexto de
uma estrutura agrária de privilégios e injustiças, assentada na dominação
política autoritária e clientelística, nos intentos capitalistas especulativos e
discriminadores e na produção do legal comprometimento com os interesses
das tradicionais elites agrárias.
35 – Conclui, afirmando que: “ Ora, se todo fundamento deste
arcabouço jurídico de teor lógico-formal e liberal –burguês, montado
em 1916, para assegurar as condições da aristocracia rural, veio
privilegiar, de modo exclusivo, inatacável e absoluto, o direito individual
de propriedade, tudo induz a crer que a solução da presente agudização
político-social desloca-se para a relevância de um “ novo” Direito, o
DIREITO SOCIAL DA POSSE. O aspecto absoleto, estático e excludente
das instituições normativas oficiais (tanto a nível da legislação positiva
quanto ao Poder Judiciário), que acarreta uma precária eficácia da
legalidade dominante e uma profunda crise de legitimidade, abre
espaço para os movimentos sociais marginalizados e despossuídos –
os “ sem – teto e os sem-terra” – que, sem acesso à justiça oficial (via
de regra lenta e onerosa) utilizam-se de práticas jurídicas paralelas dos
movimentos sociais definem nos horizontes do que a ordem legal
vigente chama de “ilegalidade”, um novo espaço instituinte de cujas
relações e rupturas, calcadas no binômio “legal/ ilegal”, emergem
direitos igualmente reconhecidos que acabam não só legitimando a
“ilegalidade”, mas edificando um “outro Direito” sob formas de
legitimação”.
36 – Na aludida fonte citada, Antonio Carlos Volkmer, trata no
capítulo denominado “O Espaço da Crise Contemporânea” – A JUSTIÇA NO
CAPITALISMO – dos conflitos coletivos no Brasil: algumas experiências
como marco histórico-políticos no item 2.3 registra o estudo de 3 situações
de conflitos, constando a caracterização do conflito enquanto conflito por solo
urbano e conflito pela propriedade da terra, o tipo de resposta do Poder
Judiciário aos movimentos sociais e o procedimento adequado que permitem
a solução do conflito, cita que: “trata-se de um dos raros casos em que,
via de regra, determina a explusão dos invasores. Em maio de l988, o
Juiz Victor Sant Anna de Souza Filho, da comarca de Alvorada na
grande Porto Alegre, valendo-se de uma interpretação baseada na
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão ( art. XXXV: “ Quando
o governo viola os direitos do povo, a insurreição é, para o povo, o
mais sagrado dos Direitos e o mais indispensável dos deveres”),
negou o pedido de liminar de reintegração de posse feito pelas
empresas proprietárias das 44 unidades dos conjuntos habitacionais de
Vila São Carlos e Jardim Porto Alegre. No seu bem fraturado despacho,
o Juiz de Alvorada assinalou, com propriedade, que “ (...) milhões de
desgraçados brasileiros passam fome, vivendo, uns na mais
degradante miséria, os trabalhadores com seus ganhos cada vez mais
defasados, sem ter onde morar dignamente, enquanto ows conjuntos
habitacionais, construídos com recursos de suas contribuições para
FGTS, permanecem desabitados, inconclusos, se deterioram”. Em
consequência, entendendo que não houve esbulho possessório, o
magistrado indefere a liminar argumentando que “ (...) o Poder
Judiciário nesta hora tem que ter sensibilidade, evitando medidas de
força que “ (...) povo, em nome do qual se exerce o poder, não se
submete ao ordenamento legal, tal o descompasso entre suas
aspirações e o Direito”.
Reportando-se no aludido estudo da afirmação de Dalmo de
Abreu Dallari , em o Brasil formal contra o Brasil justo, o faz nos seguintes
termos: “ Na verdade, as lutas sociais dos “sem teto e dos “sem –
terras” transcendem aos meros conflitos por direito à propriedade pois
abrangem um amplo espectro reivindicatório de direito à vida digna
para os “sem teto” na periferia das grandes cidades é o direito de ter
com segurança uma moradia, e vida digna para os agricultores “sem
terra”, alijados do processo de produção, é o direito de possuir e
assegurar uma porção de terra, almejando produzir alimentos para sua
sobrevivência. A compreensão do fenômeno social e político das
invasões de propriedade urbana e rural, geradora dos mais violentos
conflitos de massa em sociedade periférica, deve ser apreciada à luz da
privação das necessidades materiais essenciais e da negação absoluta
da vida com dignidade.
Neste contexto afirma se: “ Esta problemática não passa
despercebida para alguns “juristas orgânicos”, com Dalmo de A.
Dallari, para quem “ (...) milhões de brasileiros (...) vivem com suas
famílias em terras invadidas, nos campos e nas cidades. Seu
fundamento é o mais antigo dos direitos (...) é o direito que nasce da
necessidade de ter uma família e um abrigo para ela, da necessidade de
ter alimento para a sobrevivência do corpo e um mínimo de dignidade
na convivência para preservação da condição humana. (...) Existe um
direito acima da lei formal e o Brasil já está vivendo situações em que a
necessidade faz prevalecer esse direito”.
Nilson Marques – em A LUTA DE CLASSE NA QUESTÃO FUNDIÁRIA –
afirma que : “ o abandono do Direito Oficial e a intensificação de práticas
normativas não-estatais de teor informativo, articulado por meio da
pressão e da luta dos novos agentes agregadores de interesses.
Igualmente, a reflexão que se pode extrair, tendo em conta as inúmeras
experiências histórica-concretas inerentes à realidade brasileira, é a de
que a legalidade estatal liberal-individualista não consegue absorver
satisfatoriamente os novos conflitos sociais de massa. Por
conseqüência, urge pensar num referencial normativo compatível com
as condições das sociedades periféricas que se encaminham para o
final do século XX. Isso representa a decisiva opção e o
estabelecimento de novos conceitos e princípios, de um “outro”
paradigma do Direito que não mais leve em consideração a regra
abstrata, o título e o registro, mas o fato emergencial, as necessidades
e as carências cotidianas. Trata-se, por conseguinte, de definir uma
nova legalidade que tenha o seu núcleo central não na concepção
abstrata do que se convencionou chamar de “função social da
propriedade”, mais na prática real do que seja “função social da
posse”.
Da Bahia, a voz do emérito Dr.Joaquim Calmon de Passos, em "A QUESTÃO
DAS LIMINARES E O PERECIMENTO DO DIREITO" - 1955 - com acurado
senso de justiça diz que "Para mim só há um valor, e é este que me
comove e que me compromete: o homem. Não acredito no homem sem
cara, sem história e sem biografia; não acredito na massa. Conheço
pessoa físicas, que tem a consciência nítida de que essa vida é muito
curta, aquelas em que há uma exigência muito forte de felicidade e cujo
projeto de vida cada qual de nós está comprometido em ferir o menos
possível. Um ser precioso, que nasceu e vai morrer, e a respeito do qual
nada sbemos, que é um mistério , cuja intimidade, se ele não se abrir
para nós não revelar, nunca atingiremos. Só creio nisso. Sou muito
bronco para chegar até interesses difusos e coletivos, metas
individuais altíssimas, conheço pessoas, criatura em cujo olhos você
pode olhar, estar junto, amar, odiar, seja lá o que for."
Então, só consigo pensar em Direito comprometido com alguém que é real
que não é um conceito, um princípio, e sim uma realidade, o social não é
mais do que isso. "O social não é mais do que essa capacidade de
termos sensibilidade e percepção do que é comum a essas várias
criaturas, cuja dignidade pessoal precisa ser respeitada e protegida".
Reiterando em JUSTIÇA E CONFLITO - Os juízes em face dos novos
movimentos sociais - José Eduardo Faria - ao tratar no capítulo 1
denominado " Os dilemas judiciários; racionalidade jurídica e conflituosidade
social" - no item 1.1 sobre " Os novos movimentos sociais e os conflitos
da crise de hegemonia e a crise de legitimação converge para a crise de
matriz organizacional do Estado brasileiro num processo que agetou
profundamente as estrutura sócio-econômicas do país, gerando
acentuadas desiguldades setoriais e regionais em seu interior, intensas
alterações em suas hierarquis políticas e uma explosão da litigiosidade
que, assumindo inúmeras configurações, terminou por cortar tanto
horizontal quando verticalmente as fronteiras da estratificação social.
Neste diapasão afirma que : "Eis ai o "momento maquiavélico" no qual
emergiu não só um governo , em l987. Trata-se de um tenso período
histórico marcado por uma ampla e profunda crise organizacional do
Estado, o que fora convertido numa ampla e desarticulada arena de
conflitos sociais. Esses conflitos, por serem cada vez menos absorvido
pelos canais tradicionais de representação política e pelos mecanismo
judiciais em vigor, tal a dificuldade do formalismo jurídico em conjugar
mudança e permanência de modo a colocar em perspectiva
democrática os fenômenos sócio-econômicos recentes, exigiram
soluções institucionais inovadoras e criativas nos domínios da relação
entre capital e trabalho, da estrutura fundiária da eliminação a nobreza
do equacionamento da violência da reorganização da produção e da
vida comunitária etc. O que todos esses problemas entreabrem é o
paradoxo entre uma crescente demanda de justiça por parte de eficácia
e de operacionalidade dos mecanismos institucionais de gestão das
tensões e dos antagonismos de interesses".
E continua afirmando o conceituado autor às págs. 21 e segs.do aludido livro - JUSTIÇA E
CONFLITO - ipsis litteris que " O que as invasões de terra as ocupações de edifícios públicos ou
privados e os acampamentos de protestos passaram a revelar ao longo dos últimos anos da década
de oitenta, é neste sentido uma infinidade de relações desprezadas pelas instituições políticas e
jurídicas. Preparado para resolver questões inter-individuais, mas nunca as coletivas o direito oficial
não alcança os setores mais desfavorecidos e marginalização jurídica que foram condenados esses
setores nada mais é do que subproduto de sua marginalização social e economica. Diante da
extrema complexidade técnica dos dilemas econômicos inerentes a inflação no déficit público a
dívida interna externa por um lado e do alargamento do conceito de participação política no
processo de capacitação social do movimento sindical e dos setores populares, por outro, as tensões
e os dilemas inerentes as crises de hegemonia e legitimação do regime vinham sendo até o início da
"Nova República", em 1985, parcialmente neutralizados mediante formas para legais de
negociação, mediação e arbitragem. Apesar da crise organizacional dos Estados, ou por causa dela
os novos modos de racionalidade formal dos ordenamentos tradicionais, ao mesmo tempo em que
também consolidada substantiva dos novos interesses de classe em confronto".

A proteção à posse se impõe e em sede doutrinária FRANCISCO RAITANE


trazendo a lume lição de Maria Guimaraes, diz em seu livro PRATICA DE
PROCESSO CIVIL, 17a Edição - Ed. Saraiva 1990 - que: "Protegendo a
posse, a lei protege o trabalho, a economia, previdência. Não foram os
proprietários de latifúndios, foram os possuidores ou posseiros,na
linguagem do povo que transformaram o sertão inculto de São Paulo,
habitado pelos índios e infestado pela maleita em requissimas zonas
cafeeiras onde pompeiam as lavouras florescentes dia a dia. Não pode
pois o possuidor que contrbui para a riqueza social ficar à mercê do
proprietário nativo. A sua posse merece amparo. Considerada afinal
entre o direito daquele, mas na reivindicatória onde se lhe facilita a
oportunidade para alegar benfeitorias permitir que o proprietário por ter
o domínio o expulse sem tir-te nem guar-te é abrir a parta para largos
abusos”. (Mario Guimarães).
Ao tratar os direitos e garantias individuais no capítulo I referente aos direitos
e deveres individuais e coletivos a nossa LEX FUNDAMENTALIS dispõe no
artigo 5º , inciso XXII o seguinte: “ Todos sãos iguais perante a Lei sem
distinção de qualquer natureza garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida à
liberdade, à igualdade, a segurança e a propriedade nos seguintes
termos: XXII – A PROPRIEDADE ATENDERA À SUA FUNÇÃO SOCIAL.
No artigo 170, inciso III a Constituição Federal dispões sobre princípios
gerais da atividade econômica prescreve o seguinte: “ A ordem
econômicas fundada na valorização do trabalho humano e na livre
iniciativa tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da JUSTIÇA SOCIAL, observados os seguintes princípios> III –
FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE.
O eminente presidente do TFR – Min . Fernando da Costa Tourinho Neto em
entrevista à revista ISTO É de 10 de maio de 2000 ao justificar a invasão de
terras improdutivas no Brasil afirma que: “ A Justiça deve solucionar e não
adiar conflitos, não pode mascarar uma solução tem que resolver. O
Juiz deve ter opinião porque não há justiça neutra. O Juiz é um cidadão
comum decide a favor da classe dominante ou dos oprimidos. O
fundamental é a imparcialidade mas juiz neutro não existe, não existirá
nem nunca existiu. Ele é fruto de uma sociedade que o influenciou. O
mal do nosso juiz começa no ensino preconceituoso orientado para dar
guarida a teses de classes dominantes. Veja o exemplo do Códgio Civil,
ele é perfeito tecnicamente, mas lá vale mais a propriedade e a riqueza
do que a necessidade dos homens no código da classe dominante”.
Aduz que muita coisa precisa mudadr. “O Código Civil, por exemplo dá
mais valor à propriedade da terra, quando o essencial é a sua posse, e
não o documento. O fundamental é a produção de que adianta um
latifúndio documentado se o dono nada produz? Essa terra tem que ser
ocupada por alguém que vá produzir. Isso é que faz a riqueza do País. O
mesmo ocorre com um sem terra para que recebe um lote e nada
produz. Ele também tem que deixar para outro assentado que vai
plantar”. Sobre o respeito à propriedade o eminente ministro diz que : “
defender a propriedade apenas porque está documentada por alguém,
sem posse é crime contra o povo. Se a terra não está produzindo o que
adianta? Nada. Esta prejudicando a todos. Mas se o proprietário está
trabalhando, a terra sendo utilizada e produzindo adequadamente, não
pode ser ocupada. Não defendo a repartição da terra para dividi-la com
quem não tem”.
Caio Mario da Silva Pereira ao teorizar sobre o ius possessionis ensina que
: “é o direito originado da situação jurídica da posse e independe da
preexistência de uma relação. Aquele que encontra um objeto e o utiliza
, não tem o ius possessionis, embora lhe falte um tiítulo para possuir. O
que cultiva uma gleba de terra abandonada tem ius possessionis,
embora lhe falte o ius possindendi. Outras vezes aliada a posse a
outros requisitos que compõem o usucapião, a Lei converte o ius
possessionis em propriedade que a sua turno gera ius possidendi
sobre a mesma coisa”.
A conceituda jurista Marina Mariani de Macedo Rabahie, ensina que: “
função social da propriedade não pode ser entendida como simples
fundamento do Poder de Polícia do Estado. O princípio se relaciona
diretamente como evolução do significado do direito de propriedade
qualificando-o, transformando-o” .
Schmoller em significaticos comentários sobre a propriedade afirma que : “
O direito de propriedade é como que o núcleo e o cventro de todo
direito em todo caso de todo DIREITO PRIVADO. Todos os direitos
desta natureza e uma parte do direito de família e do direito de
sucessão não passam de um anexo do direito de propriedade. Parte
considerável do direito das obrigações e do direito penal não
representam senão um meio para atingir os fins que são os direitos de
propriedade”.
Os ROMANOS que apresentam a propriedade em cada uma de suas épocas
possuíam inúmeras formas de propriedade, tais como a quiritária, bonitária
sobre fundos provinciais dos peregrinos.
FALTA DE INTERVENÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Ficou ausente no tramite processual a intimação do MP, na
conformidade do artigo 82, inciso III, do CPC, que inquina de nulidade a
LIMINAR DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE expedida por este D.Juízo .
Ausente a intervenção, nula é a decisão liminar.
Resolução CDH-ONU 1993/77, e seu comentário Geral N.4 –
States parties “recognize the right of everyone to an adequate standard
of living for himself and his family, including adequate food, clothing
and housing, and to the continous improvement of living conditions”.
The human right to adequate housing, which is thus derived from the
right to an adequate standard of living, is of central importance for the
enjoyment of all economic, social and cultural rights.
(…)
Dispeti the fact that the international community has frequently
reaffirmed the importance of full respect for the right to adequate
housing, there remains a disturbingle large gap between the standards
set in article 11 (1) of the Convenant and the situation prevailing in
many parts of the world.
ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO – inciso III, art.1º da Constituição
Federal.
MARIA GURGEL DA COSTA – especialista em direito privado e assessora
técnica do Tribunal de Justiça de Alagoas, na Revista do Ministério Público
de Alagoas nº 14 – janeiro/junho 2005, dissertando sobre a função social da
posse : “ A POSSE COMO ELEMENTO CONCRETIZADOR DOS VALORES
E OBJETIVOS FUNDAMENTAIS DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE
1988 – diz que: “ O discurso levado a efeito pela teoria romanista da
propriedade não contempla os objetivos fundamentais da sociedade
pós-industrial matizada pela pluralidade e complexidade de seus
elementos alcançada pela inversão de valores protagonizada pelo
modelo do Estado de Bem Estar Social, em superação do Estado
absenteísta burgês”.
RICARDO ARONNE , aquilatando a natureza principiológica da função
social e apontando a função social da posse como princípio que melhor
realiza o telos da função social da propriedade, sem com ela se confundir,
reverbera: “ Toca na matéria possessória, com tanta expressividade
quanto no âmbito da propriedade, contrato e empresa, o princípio da
função social erigido à condição de direito fundamental,
indiscutivelmente dotado de eficácia direta e horizontal, bem como
norteador vinculante da ordem econômica do Brasil. O princípio da
função social da propriedade é densificado pelo princípio da função
social da posse, sem descuido da devida autonomia, mas sem desleixo
da notável e classicamente reconhecida inter-relação”.
LUIZ EDSON FACHIN, rememora a Conferência proferida pelo Professor
Roman J. Duque Corredor sobre “La posesión civil e La posesio
agrária” no 1º Encontro Internacional de Jus-Agraristas, realizado em
maio de 1981, em Belém, diz que: “ Em diversos países, a mera
titularidade decaiu em importância em favor do trabalho e realização
humanos, na medida em que a posse aliada ao trabalho como matrizes
do aproveitamento racional da natureza traduzem expressões naturais
da necessidade humana , como mecanismos de satisfação individual e
catalizador de vantagens ao bem comum”.
Com base num relatório do Programa de Assentamentos
Humanos da ONU (HABITAT) o Jornal O GLOBO de 07/10/03 ensaia uma
posição das conseqüências oriundas do crescimento desordenado das
cidades e do avanço da pobreza no mundo cunhado como “urbanização da
pobreza”.
Traduz prognóstico escabroso e estarrecedor “o número de
pessoas (...) até 2050 estimamos que a população mundial seja de nove
bilhões (38%) estarão vivendo em favelas se não fizermos alguma coisa
radical para resolver esse problema (...) . É uma bomba relógio.
No 2º fórum Urbano Mundial – Barcelona – setembro/2004 –
reeditado em Porto Alegre nos dias 24/25 de janeiro de 2005, com a
participação de 180 prefeitos e representantes de cidades da Europa,
América Latina e África abordando a temática do direito de
autodeterminação dos povos de estreita conexão com a questão dos
assentamentos humanos nos Comentários Gerais da ONU nº 12 do COMITÊ
DOS DIREITOS DO HOMEM asseguram o direito de todo cidadão não
serem privados de meios de prover a própria subsitência, implicando no
dever dos Estados em criar, mediante seus mecanismos institucionais, o
ambiente propício à observância deste direito e de informar à comunidade
internacional dos obstáculos à sua realização.
SENÃO VEJAMOS : “5.Paragrafh 2 affirms a particular aspecto of the
economic content of the right of self-determination, namely the right of
peoples, for their own ends, freely to “dispose of their natural weath on
resources without prejudice to any obligations arising out of
international economic cooperation, based upon the principie of mutual
benefit, and international Law. In no case may a people he deprived of
its own means of subsistence”. This right entails corresponding duties
for all States and the international community. States shoul indicate any
factors or difficulties which prevente the free disposal on their natural
weath and resources contrary the provisions of the paragrafh and to
what extent that affects the enjoyment of other rights set forth in the
Convenant . In Comentários Gerais da ONU nº 12 do Comitê dos
Direitos do Homen.
O Colendo STJ posiciona-se sobre a ausência de esbulho em caso
de acampamento de sem terras com o brilhante voto do Min. Luiz Vicente
Cernicchiaro, proferido no julgamento do HC 4399-SP , 96/0008845, 6ª
Turma, unânime j. 13/12/2013, afirmando que a luta pela reforma agrária não
se confunde com esbulho, 184 usque 191. Evidente essa norma tem
destinatário e como “INVOQUE-se a Constituição da República,
especificamente o Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira – cujo
capítulo II registra como programa a ser cumprido a REFORMA AGRÁRIA
(art.destinatário, titular do direito “pelo menos interesse”) à concretização da
mencionada reforma. A demora (justificada ou injustificada) da implantação
gera reações, nem sempre cativas à extensão da norma jurídica. A conduta
da pessoa com interesse na reforma agrária (...) No esbulho possessório, o
agente dolosamente, investe contra a propriedade alheia, afim de usufruir um
de seus atributos (uso), ou alterar os limites do domínio para enriquecimento
sem justa causa. No caso dos autos, ao contrário, diviso pressão social para
concretização de um direito (pelo menos interesse). No primeiro caso, o
contraste de legalidade compreende aspectos material e formal. No segundo,
substancialmente, não há ilícito algum. Formalmente, e só nesse nível,
poder-se-á debater o modus faciedi”. (Sem grifos no original).
Como disse o Min. Cernicchiaro, a REFORMA AGRÁRIA é um direito
constitucional, sendo os trabalhadores rurais em terra os destinatários desse
direito. Sua conduta, portanto, é a tentativa de exercício desse direito, não
havendo o ânimo de esbulhar para enriquecer em justa causa, mas apenas a
defesa do interesse de ter um lugar para morar e obter trabalho e renda
através da produção de alimentos.
De modo semelhante, decidiu o eminente Juiz da 8ª Vara Federal de
Minas Gerais em ação de reintegração de posse proposta pelo DNER contra
um grupo de trabalhadores rurais sem terra: “ ... quando a lei regula as ações
possessórias, mandando defenestrar os invasores (arts. 920 e segs.do CPC)
, ela, COMO TODA LEI – tem em mira o homem comum, o cidadão médio,
que , no caso, tendo outras opções de vida e de moradia diante de si, prefere
assenhorear-se do que não é dele, por esperteza, conveniência, ou ,
qualquer outro motivo que mereça a censura da Lei e , sobretudo, repugne a
consciência e o sentido do justo que os seres da mesma espécie possuem.
Mas este não é o caso no presente processo. Não estamos diante de
pessoas comuns, que tivessem recebido do Poder Público razoáveis
oportunidades de trabalho e de sobrevivência dignas. Não, os “invasores”
(propositadamente entre aspas) definitivamente não são pessoas comuns,
como não são milhares de outras que “habitam” as pontes, viadutos e até
redes de esgotos de nossas cidades. São párias da sociedade (hoje
chamados de excluídos , ontem de descamisados). Resultado perverso do
modelo econômico adotado pelo país. Contra este exército de excluídos, o
Estado (aqui através do DNER) não pode exigir a rigorosa aplicação da Lei
(no caso, reintegração de posse) enquanto ele próprio – o Estado não se
desincumbir, pelo menos razoavelmente da tarefa que lhe reservou a Lei
Maior. Ou seja, enquanto não construir – ou pelo menos esboçar – “uma
sociedade livre, justa e solidária (CF, art.3º, I), erradicando “a pobreza e a
marginalização” (art.1º, III), assegurando “a todos existência digna, conforme
os ditames da Justiça Social” (artigo 5º, XXIII, e 170, III), dando à família,
base da sociedade “especial proteção” (art.226) , e colocando a criança e o
adolescente “ a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, maldade e opressão (art.227), enquanto não fizer isso,
elevando os marginalizados à condição de cidadãos comuns, pessoas
normais, aptas a exercerem sua cidadania,o Estado não tem autoridade para
deles exigir – diretamente ou pelo braço da Justiça – o reto cumprimento da
Lei”.
Com efeito, não poderá o Estado exigir ainda mais paciência e
passividade dos trabalhadores rurais enquanto o mesmo não tiver, pelo
menos, o esboço de uma política para os pequenos agricultores, de um
programa de segurança alimentar para as famílias em situação de indigência
(a minoria está nas zonas rurais) e de um plano nacional de reforma agrária
voltados para “erradicação da pobreza e da marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais”.
O PROCESSO NÃO PODE SERVIR PARA AGRAVAMENTO DOS
CONFLITOS, MAS SIM PARA O ENCAMINHAMENTO DE SUAS
SOLUÇÕES.
O concreto enquadramento político do processo conduz à
insuficiência da determinação de um escopo da jurisdição e mostra a
inadequação de todas as posturas meramente jurídicas. Assim, já segundo a
lição de Cândido Rangel Dinamarco (A Instrumentalidade do Processo, 2ª.
Ed. São Paulo, RT, 1990).
Em relação ao escopo político do processo, destaca-se a proteção da
liberdade e limitação do poder. Da mesma maneira como o processo é
instrumento para a solução do litígio, fazendo com o Estado afirme seu
poder, fazendo justiça, ele também é um instrumento de garantia para as
partes interessadas. Se a solução do litígio não é, desde logo, simples e
amigável, ele só poderá ser resolvido através do devido processo legal, com
ampla instrução probatória.
Frente à amplitude e gravidade do litígio ora em tela, há que se
privilegiar a ampla participação e mediação dos Poderes constituídos e da
sociedade civil. É extremamente importante que haja intensa participação
das pessoas nas decisões que são tomadas pelo Estado.
No processo civil, é basicamente através do contraditório que se
verifica esta participação, assegurando-se as partes a ampla defesa. O
reconhecimento da responsabilidade e repercussão social dos despejos,
ainda que decorrente de ordens liminarmente concedidas, fez com que em
07/09/1995, o Presidente da República anunciasse que o Governo Federal e
a Sociedade Civil elaboraram um PLANO NACIONAL DE DIREITOS
HUMANOS.

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