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DIREITO AO ASILO
HISTÓRIAS ILUSTRATIVAS
Através do Olhar dos Refugiados a cidade em 2010, depois de militantes o
terem tentado matar. Ela fugiu de camião
“O meu nome é Zamzam M. Deg Ahmed. Te- com os seus filhos, em novembro, sobrevi-
nho 38 anos e estou deslocada de minha casa. vendo a um assalto durante a viagem. Vive
Fugi de Mogadishu, na Somália. Posso falar agora num bairro de barracas nos subúr-
sobre a situação das mulheres: é muito difícil. bios da cidade do norte de Galkayo.
Os maridos ou filhos das mulheres Somalis (Fonte: UNHCR. 2011. Story Telling:
em Mogadishu…ou morreram ou foram for- Through the Eyes of Refugees.)
çados a fugir e a abandonar as suas famílias.
A última vez que eu vi o meu marido foi há “O meu nome é Lucy Juah. Sou refugiada
12 meses. Enquanto dormíamos, pessoas com no Quénia. Cheguei ao Quénia em 1992.
máscaras entraram na nossa casa à procura Fugi do Sudão devido à guerra civil que de-
dele. Não o encontraram. Ele estava escondido corre há 21 anos. A pior memória que te-
debaixo da cama. Depois de saírem, ele saiu nho é, ainda em Juba, do SPLM, a que cha-
de casa. Foi a última vez que o vi. Fugimos mamos os rebeldes – quando estávamos no
de manhã cedo, após as orações. Já na estra- Sudão chamávamos-lhes de rebeldes –, a
da, homens mascarados disparam contra nós, bombardear a cidade e das bombas, quan-
pararam o camião e levaram-nos para os ar- do caíam, a cortar tudo à sua volta. Vi uma
bustos. Disseram a todos nós para descermos mulher grávida a ficar cortada em pedaços
e deixarmos tudo. Eu estava preocupada pela devido a uma partícula.
minha filha. Ela tem 14 anos e eu estava com Foi muito doloroso deixar o meu país por-
medo que a violassem. Não pode imaginar o que não sabia para onde ia. Não conhecia
meu medo, até as crianças choraram. o meu destino. Ia simplesmente. De certa
Agora que chegamos a um lugar pacífico, forma também me senti bem pois estava
gostava de encontrar trabalho e que as a deixar algo. Estava a deixar aquela área
crianças continuassem a educação delas. terrível, com destino a um local mais se-
Estou preocupada com o futuro dos meus guro.
filhos, como irão crescer, tomar conta deles Foi muito difícil chegar a um local cuja lín-
próprios e sustentar-me. É nisto que penso gua desconhecia. Ao acordarmos, de ma-
quando tento adormecer. nhã, ninguém nos cumprimentava, como
Lembro-me de muitas coisas, terríveis, a no Sudão. No Sudão, se encontramos al-
perda da nação…a insegurança…os proble- guém no caminho, eles cumprimentam-
mas com que se defrontaram as mulheres… nos. Mas quando cheguei ao Quénia era
a fuga e a deslocação. Qualquer pessoa fi- um pouco diferente. Nós estávamos em
caria perturbada com esta situação. Estou casa com a porta sempre fechada. Não vía-
muito perturbada com os problemas na So- mos ninguém.
mália. Quem não estaria?” Zamzam M. Deg No dia em que o Sudão se tornou inde-
Ahmed, de 38 anos, é mãe de dez crianças, pendente, pensei que a nossa vida poderia
de Mogadishu, na Somália, que vendia ali- mudar, sei que poderei regressar ao Sudão,
mentos secos no mercado principal para poderei construir a minha casa porque, da
sustentar a família. O seu marido deixou forma como estava a ser assediada, todos
P. DIREITO AO ASILO 503
os meses tinha de pagar uma renda da civil do Sudão, em 1992, para o Quénia,
casa. Isto foi a primeira coisa que me veio onde tem estado a trabalhar como peque-
à mente. Temos terra suficiente que está na empresária e a cuidar de uma família
simplesmente inutilizada. Quero regressar com cinco filhos. Após a votação sobre a
porque somos milhares de mulheres Suda- independência do Sul do Sudão, em julho
nesas que nada sabem. Elas sabem, mas é de 2011, ela decidiu regressar a Juba com
muito difícil implementar. Sinto que quero o seu marido. Deixou para trás os seus fi-
regressar ao Sudão. Vamos e partilharemos lhos, em Nairobi, ao cuidado da filha mais
as nossas ideias com as nossas irmãs, com velha, até que terminem a educação.
as mulheres que deixei para trás, partilha- (Fonte: UNHCR. 2011. Story Telling:
remos ideias. Trabalharemos juntas de for- Through the Eyes of Refugees.)
ma a podermos fazer algo que possa aju-
dar a nação.
Será um pouco assustador para mim deixar Questões para debate
os meus filhos no Quénia e ir para o Sudão, 1. Por que é que Zamzam e Lucy deixaram
devido a muitas coisas que têm acontecido os seus países? Fizeram-no voluntaria-
no Quénia, por estes dias. Até os adultos mente?
estão a ser raptados, as crianças, crianças 2. O que lhes poderia ter acontecido e às
com menos de seis anos a ser violadas. Vou suas famílias se não tivessem fugido?
ficar um pouco preocupada, estarei a todo 3. Quais os direitos humanos que são,
o momento a pensar nos meus filhos, se com grande probabilidade, violados em
estarão em segurança. tempo de guerra?
Escrevi ao meu marido. Disse-lhe que, já
que veio a paz, um dia gostaria de vê-lo “Com o meu marido morto e com o nosso
sentado debaixo de uma grande árvore a modo de vida na Somália destruído, senti
olhar para os nossos netos a correr, à volta que nada mais tinha a perder. As minhas
do lugar. A casa que construímos... estarei únicas expetativas são as de conseguir um
lá sentada com o meu marido debaixo da abrigo, água e segurança.”
nossa grande árvore e a olhar pelos nossos Sara, 57, refugiada de Sirko na Somália, numa en-
netos. Sinto que a minha vida irá mudar.” trevista com os Médecins sans Frontières. 2011.
Lucy Juah, de 39 anos, fugiu da guerra
A SABER
1. INTRODUÇÃO do mundo. Os números apontados pelo
Alto Comissariado das Nações Unidas
O mundo permanece extremamente inse- para os Refugiados (ACNUR), desde o final
guro para milhões de indivíduos. Estima- de 2011, demonstram que destes, 15.2 mi-
se que 42.5 milhões de pessoas estejam lhões de pessoas são refugiados, 895.000
presentemente deslocadas à força, por são requerentes de asilo e 26.4 milhões
todo o mundo, como resultado de confli- são pessoas deslocadas internas (PDI). No
tos antigos ou novos, em partes diferentes final de 2011, 25.9 milhões de pessoas –
504 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
de ser expulsa para o seu país de origem. caso de não conseguirem o estatuto inte-
O direito ao respeito da vida privada e da gral de refugiados, nos termos da Conven-
vida familiar pode fazer com que a ex- ção de Genebra dos Refugiados.
pulsão da pessoa seja inaceitável à luz da
Convenção de Genebra. Proibição da Tortura
lamentos que promulguem para assegu- que Rege os Aspetos Específicos dos Pro-
rar a aplicação da Convenção (artº 36º blemas dos Refugiados em África (Con-
da Convenção). vention Governing the Specific Aspects of
Refugee Problems in Africa), de 1969, e a
A Convenção e o Protocolo de 1967 pre- Declaração de Cartagena, de 1984, adota-
vêem que os Estados cooperem com o da por um grupo de Estados Latino-Ame-
ACNUR no exercício das suas funções e ricanos.
que ajudem o ACNUR a supervisionar
a implementação das normas da Con- O Papel do Tribunal Europeu dos Direi-
venção. tos Humanos
Os Estados Partes também devem dispo- O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos
nibilizar ao ACNUR as informações e da- (TEDH) é o tribunal do sistema de direitos
dos estatísticos pedidos, no respeitante: humanos do Conselho da Europa. Desem-
• à condição dos refugiados, penha um papel de capital importância na
proteção dos direitos humanos dos reque-
• à implementação da Convenção e do
rentes de asilo. Primeiro, decide sobre a
seu Protocolo de 1967, e
aplicação do artº 3º da Convenção Euro-
• às leis, regulamentos e decretos rela- peia dos Direitos Humanos (CEDH), isto
cionados com os refugiados que este- é, sobre a proibição da tortura e penas ou
jam ou possam vir a estar em vigor. tratamentos desumanos ou degradantes,
no respeitante aos procedimentos de de-
Assim, coloca-se um peso específico na portação e ao princípio de não repulsão
interpretação da Convenção, pelo ACNUR. (non refoulement). A deportação é proibi-
da se uma pessoa ao regressar ao seu país
O Pacto Internacional sobre os Direitos Ci- de origem ficar sujeita à tortura. A decisão
vis e Políticos (PIDCP) não inclui normas de referência respeitante a esta questão é o
explícitas sobre o direito ao asilo. Porém, processo Soering c. Reino Unido, em 1989.
os artos 6º e 7º do Pacto aplicam-se rela- O artº 8º (sobre o direito à privacidade e
tivamente ao princípio da não repulsão à vida familiar) também é muito impor-
(non-refoulement). Assim, a violação des- tante para os requerentes de asilo. Estes
tas normas, relevantes para o direito ao podem também recorrer ao Tribunal com
asilo, encontra-se sujeita aos mecanismos base neste artigo, se a sua vida familiar
de monitorização do PIDCP. tiver sido desrespeitada por decisões rela-
cionadas com o processo de asilo ou de
Instrumentos Regionais deportação pendente.
Para além da Convenção de Genebra dos Só se pode apresentar queixas junto do
Refugiados, existem instrumentos regio- Tribunal Europeu dos Direitos Humanos
nais para a proteção de refugiados (por quando tiverem sido esgotados todos os
ex., os princípios de Bangkok sobre o mecanismos internos de proteção e apenas
Estatuto e Tratamento de Refugiados, no prazo de seis meses após a decisão in-
adotados no Comité Jurídico Consultivo terna final, no Estado.
Afro-Asiático (Asian-African Legal Con-
sultative Committee), de 1966, a Conven- Com a adesão esperada da União Eu-
ção da Organização de Unidade Africana ropeia à CEDH, também as instituições
512 II. MÓDULOS SOBRE QUESTÕES SELECIONADAS DE DIREITOS HUMANOS
CONVÉM SABER
1. BOAS PRÁTICAS RefWorld
A Refworld é uma das fontes de informa-
Esquema de Reunificação Familiar ção mais importantes para as decisões
Uma das funções mais importantes do Co- sobre o estatuto de refugiado. A Refworld
mité Internacional da Cruz Vermelha contém um grande número de relatórios
(CICV), em conjunto com as Sociedades sobre os países de origem, documentos de
Nacionais da Cruz Vermelha e do Crescente diretrizes e posições políticas e documen-
Vermelho, é ajudar na reunificação de famí- tos relacionados com quadros jurídicos
lias separadas devido a conflitos ou desas- internacionais e nacionais. A informação
tres naturais. Durantes estas crises, as famí- é recolhida pelo ACNUR e pelas suas re-
lias podem ficar imediatamente separadas, presentações no terreno, governos e ONG,
nalguns casos, durantes anos. O CICV tra- assim como por entidades académicas e
balha no sentido de se descobrir o paradeiro judiciais.
de familiares e, uma vez descobertos, atua
como intermediário no processo de troca de
mensagens entre eles e ajuda na eventual Emancipação dos Refugiados
reunificação. A Agência Central de Rastrea- O Projeto de Emancipação de Refugiados
mento (Central Tracing Agency) do CICV é um projeto iniciado por requerentes de
também ajuda os Estados participantes em asilo na Alemanha. Pretende usar a inter-
conflitos armados a respeitarem as suas net como uma ferramenta para ligar os re-
obrigações de direito internacional humani- fugiados a outras pessoas, nos seus países
tário, exigindo às autoridades do Estado que de origem e por todo o lado, para reduzir o
façam tudo o que for possível para ajudar seu isolamento. Neste contexto, o projeto
os familiares separados devido ao conflito. organiza seminários e cursos e disponibi-
Esta obrigação fundamenta-se nos direitos liza informações de sensibilização. Para
reconhecidos internacionalmente, relaciona- além do fórum de conversações online,
dos com a proibição dos desaparecimentos também se editam, no website, histórias
forçados, e no direito a ser informado sobre pessoais. Desta forma, pode melhorar-se a
o destino dos familiares desaparecidos. qualidade de vida dos refugiados na Ale-
manha, simplesmente através da comu-
Direitos Humanos em Conflito nicação com outros a viverem situações
Armado semelhantes.
P. DIREITO AO ASILO 513
recebeu 6.555 chegadas marítimas irre- refugiado de Sirko, na Somália disse: “Eu
gulares, porém, muitos não conseguiram cheguei ontem à noite. Vim para cá com
atingir o continente tendo sido interceta- a minha mãe, mulher e as nossas cinco
dos pelos militares, ficando detidos em crianças. Não trouxemos nada connosco a
centros de processamento offshore. Em não ser as roupas que tínhamos vestidas.
dezembro de 2010, 50 viajantes morreram Estamos no abrigo da minha irmã, com
após a embarcação se ter despenhado con- a sua família de oito, enquanto aguarda-
tra rochas, na Ilha Natal na Austrália. mos encontrar o nosso local para viver-
(Fontes: Navi Pillay. 2009. Migrants at sea mos. No momento, dependemos da minha
are not toxic cargo.; UNHCR. 2009. Irre- irmã para tudo. Eles estão a partilhar as
gular Migration by Sea: Frequently Asked suas rações connosco, para que possamos
Questions.) comer.” Uma enfermeira dos Médecins
Sans Frontières disse: “Estas pessoas estão
Dadaab, o Maior Campo de Refugiados a sobreviver com o mínimo com que um
do Mundo ser humano pode sobreviver”.
O campo de refugiados de Dadaab, no (Fonte: Médecins Sans Frontières (MSF).
Quénia, foi estabelecido há 20 anos para 2011. No way in. The biggest refugee camp
abrigar refugiados que fugiam da vio- in the world is full.)
lência e guerra civil na Somália. Com o
conflito ainda em curso, Dadaab tornou- O Racismo e a Xenofobia em relação aos
se no maior complexo de refugiados do Migrantes, Refugiados e Requerentes de
mundo, albergando 500.000 pessoas. Foi Asilo
estabelecido para albergar até 90.000 pes- Em muitos países anfitriões, os migran-
soas, sendo que as condições básicas, no- tes, assim como os refugiados e reque-
meadamente os abrigos, água, condições rentes de asilo são confrontados com
sanitárias, educação e proteção para to- racismo, xenofobia e alegações de uso
das as pessoas a viverem no campo e de- incorreto do direito de asilo. Estas ati-
serto circundante, encontram-se a dimi- tudes xenofóbicas e de paranoia da so-
nuir. “A vida em Dadaab é muito difícil: ciedade são exacerbadas pelos meios de
somos dependentes do ACNUR para tudo. informação e políticos populistas ou ra-
A comida aqui não chega. Existe uma cri- cistas, o que resulta em leis e políticas de
se de água, ninguém tem água suficiente. migração e asilo mais restritivas, igno-
Recebemos apenas quatro contentores de rando ou mesmo violando as obrigações
água por família por dia, para tomarmos e compromissos de direitos humanos
banho, lavarmos a roupa, lavarmos os internacionais, de proteção efetiva das
utensílios, cozinharmos e para bebermos. pessoas da perseguição.
Todos necessitam de assistência e não a
conseguem”, disse Anfi, de 25 anos, re- Antirracismo e Não Discrimina-
fugiado de Kismayo na Somália, vivendo ção
em Dadaab, desde os seis anos de idade.
Para além da violência e das dificuldades, Distribuição Justa das Responsabilida-
os longos períodos de chuva intensa des- des
troem os abrigos de muitas pessoas e os Um relatório do ACNUR revela um pro-
mantimentos de comida. Hassan, de 39, fundo desequilíbrio no apoio internacio-
P. DIREITO AO ASILO 515
ATIVIDADES SELECIONADAS
1. APPELLIDO
2. PRIMER NOMBRE
3. FECHA DE NACIMIENTO
4. PAIS, CIUDAD DE RESIDENCIA
5. OU GENYEN FANMI NE ETAZINI?
6. KISA YO YE POU WOU
7. KI PAPYE IMAGRASYON FANMI OU YO
GENYEN ISIT?
8. ESKE OU ANSENT?
9. ESKE OU GEN AVOKA?
10. OU JAM AL NAHOKEN JYMAN
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