Вы находитесь на странице: 1из 10

“É preciso deixar de pensar que a mulher é sempre uma vítima” | C... https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/12/cultura/1515761428_9...

CULTURA
ENTREVISTA

“É preciso deixar de pensar que a


mulher é sempre uma vítima”
Catherine Millet, promotora do manifesto contra o #MeeToo,
denuncia seus métodos e consequências
ÁLEX VICENTE

Paris - 12 JAN 2018 - 21:00 BRST

A escritora francesa Catherine Millet, em sua casa, em abril de 2016. ULF ANDERSEN (AURIMAGES)

Seu manifesto conseguiu semear o caos na França e em boa parte do


mundo. A escritora e crítica de arte Catherine Millet (Bois-Colombes, 1948),
autora do best-seller A Vida Sexual de Catherine M., é uma das cinco

1 de 10 28/04/18 14:52
“É preciso deixar de pensar que a mulher é sempre uma vítima” | C... https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/12/cultura/1515761428_9...

mulheres por trás do manifesto contra o #MeToo, assinado por 100


personalidades da cultura francesa, lideradas pela atriz Catherine Deneuve,
a cantora Ingrid Caven e a editora Joëlle Losfeld. Millet diz que esse
movimento, que rotula de “puritano”, favorece a volta da “moral vitoriana”.
Ela defende “a liberdade de importunar”, inclusive no sentido físico,
considerando-a indispensável para assegurar a herança da revolução sexual.
É o que afirma em seu escritório parisiense, um quarto cheio de catálogos
amontoados onde o telefone não para de tocar desde que começou a dirigir
a revista Art Press, que cofundou em 1972.

Pergunta: Vocês esperavam as


MAIS INFORMAÇÕES
violentas reações que o texto
Cem artistas francesas
contra o “puritanismo” provocou?
sexual

A íntegra do manifesto assinado por


Catherine Deneuve

A resposta das feministas francesas a


Catherine Deneuve

PUBLICIDADE

2 de 10 28/04/18 14:52
“É preciso deixar de pensar que a mulher é sempre uma vítima” | C... https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/12/cultura/1515761428_9...

inRead invented by Teads

Resposta: Absolutamente. Só quisemos reagir ante a palavra das feministas


radicais, que era a única que líamos na imprensa. Aquilo nos incomodava,
pois não era um ponto de vista que compartilhássemos e porque, ao nosso
redor, conhecíamos muitas mulheres que não pensavam assim. No meu
entender, você não fica traumatizada durante anos porque um homem tocou
na sua coxa. A ideia era contar que nem todas as mulheres reagimos da
mesma forma ante gestos que podemos considerar grosseiros ou
indelicados.

P. Criticaram sua falta de solidariedade em relação às outras mulheres...

R. Ninguém pede a um homem que compartilhe as opiniões de todos os


demais homens do planeta. Isso é impossível. Não estamos dizendo que
achamos bom que estuprem as mulheres; o que fazemos é mostrar os
deslizes cometidos por esse movimento. Por exemplo, questionar certos
homens por atos mínimos e que tiveram consequências graves em suas
carreiras. Foi criado um tribunal público onde eles nem ao menos tiveram a
chance de se defender. De repente, tivemos a sensação de que todos os
homens eram porcos. É preciso estar na pele dos que sofreram violência
sexual, mas também pensar nos homens que foram vítimas de acusações
muito rápidas e com sérias consequências para suas vidas profissionais.

P. Ressaltando as disfunções do
movimento e não seus acertos, “Se me estuprassem,
vocês não correm o risco de tentaria esquecer”
prejudicar essa tomada de
consciência sobre a violência
sexual e os abusos de poder, que
seu próprio manifesto considera “necessária”?

R. As feministas não dizem que a palavra foi libertada? Então, se é assim,


nossa palavra vale o mesmo que a delas. A censura que esse caso pôde

3 de 10 28/04/18 14:52
“É preciso deixar de pensar que a mulher é sempre uma vítima” | C... https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/12/cultura/1515761428_9...

provocar me parece ridícula. É muito grave que se remova um ator de um


filme [Kevin Spacey, substituído por outro ator em Todo o Dinheiro do
Mundo após ser acusado de agressões sexuais]. São métodos que me fazem
lembrar os do stalinismo...

PUBLICIDADE

inRead invented by Teads

P. Seu movimento fala de “uma onda purificadora” que acabaria instalando


“uma sociedade totalitária”. Não é um pouco excessivo?

R. Justamente, você cita uma frase que eu escrevi. Em todo texto polêmico
há um pouco de exagero, mas eu o assumo totalmente. Vejo surgir um clima
de inquisição, em que cada um vigia seu vizinho, como acontecia nos
regimes soviéticos, e depois o denuncia nas redes sociais. Todos os cantos
da sociedade estão sob vigilância, incluindo nossa esfera íntima...

P. Essas acusações não são o

“A codificação de nossas resultado de uma Justiça


relações é impossível, a imperfeita, por causa das
não ser que nos prescrições de crimes e da falta de
transformemos em provas?

4 de 10 28/04/18 14:52
“É preciso deixar de pensar que a mulher é sempre uma vítima” | C... https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/12/cultura/1515761428_9...

robôs” R. Concordo, mas esse não é o


melhor método. Se cada cidadão
faz justiça com as próprias mãos,
retornamos aos tempos do
faroeste. A Justiça tem defeitos, e é inegável que não dá conta de tudo, mas
vivemos numa sociedade que aceita que é ela a encarregada de julgar, não
um tribunal popular. Nisso eu sou radical.

P. A senhora foi acusada de antifeminista. É de fato?

R. Se falamos desse feminismo específico, realmente sou contra. Mas hoje


existem várias correntes feministas... Me sinto mais próxima das feministas
que integram o sexo em seu discurso — que costumam ser mais jovens que
eu — do que das que expressam, através do movimento #MeToo, posições
radicais que nunca compartilhei, nem agora nem durante os anos setenta. O
feminismo continua sendo muito justificado no entorno social. Por exemplo,
no que se refere à igualdade salarial. Também defendo essa igualdade na
liberdade sexual, isso damos por certo...

P. Vocês também são criticadas por serem quase todas brancas e


burguesas. Por defenderem, no final das contas, uma postura elitista.

R. Sim, nos criticaram por não andarmos de metrô. Na verdade, eu pego o


metrô várias vezes por dia. Quando era mais jovem, certa vez um homem
passou a mão em mim no transporte público, e nem por isso morri ou me
tornei uma inválida.... Entre as signatárias do manifesto, há uma mistura
geracional e de origens. Por outro lado, as mulheres que nos atacam
também são intelectuais e universitárias, assim como nós. Catherine
Deneuve deve ter um modo de vida um tanto diferente, mas todas as demais
somos bastante parecidas com as que nos atacam...

P. Considera que o famoso “direito


de importunar” que o texto “A censura já não provém
defende é mais importante que o

5 de 10 28/04/18 14:52
“É preciso deixar de pensar que a mulher é sempre uma vítima” | C... https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/12/cultura/1515761428_9...

direito de não ser importunado? de círculos


extremamente
conservadores, mas de
R. É que as duas coisas andam
mulheres que se
juntas.... Quando um homem te
consideram feministas”
incomoda, você tem a liberdade de
lhe dizer que pare com isso.
Temos a capacidade de dizer que
não. Por outro lado, importunar é
uma palavra bastante leve. Não é o mesmo que assediar, nem de longe.
Alguém pode importunar você fumando do seu lado num lugar público...

P. Não é o mesmo grau de intrusão que tocar em alguém.

R. Sei que criticaram muito essa palavra, mas abram os dicionários. Veja,
vou buscá-la... [procura a definição em seu tablet]. Importunar é sinônimo
de incomodar, aborrecer, causar desconforto, irritar...

P. Mas a senhora entende que existam mulheres que não querem ser
importunadas quando passeiam pela rua ou vão ao metrô?

R. Não. Acredito que há uma margem em que o comportamento dos demais


pode acontecer sem que seja considerado um crime. Você pode achar
desagradável e reclamar, mas nem por isso é um crime. E, como tal, não
quero que esteja regulado, nem por uma moral superior nem pela lei. É
preciso aceitar que existem impertinentes na vida. Essas mulheres parecem
almejar uma sociedade utópica e regulada nos mínimos detalhes, onde um
homem deverá tomar precauções antes de se dirigir a uma mulher. A
codificação de nossas relações é impossível, a não ser que nos
transformemos em robôs.

P. A senhora afirma que esse direito de importunar é indispensável para


garantir a liberdade sexual. Em que sentido?

R. Numa relação entre dois indivíduos, sempre há um momento confuso e

6 de 10 28/04/18 14:52
“É preciso deixar de pensar que a mulher é sempre uma vítima” | C... https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/12/cultura/1515761428_9...

ambíguo, em que um dos dois não sabe muito bem o que quer. Quando um
homem tentava me seduzir, às vezes sentia uma atração que não era grande
o suficiente para ceder de imediato. Um momento de dúvida. Às vezes você
acaba cedendo; em outras, não. Essas mulheres dizem que um “não”
sempre é definitivo, mas eu acredito que existam nuances. Às vezes, os
homens têm uma oportunidade se insistirem novamente.

P. Seu movimento denuncia um

“Se comparo minhas retorno à moral vitoriana. De novo:


possibilidades com a vida não é um pouco exagerado, numa
que minha mãe teve, sociedade em que a sexualidade é
numa única geração onipresente?
ganhamos muito”
R. Há tempos acredito que, quanto
mais liberdade existe no discurso e
na circulação de imagens, mais se
exasperam os setores que a consideram incômoda – e sua reação se torna
cada vez mais violenta. O surpreendente é que essa vontade de censura já
não provém de círculos extremamente conservadores, mas de mulheres que
se consideram feministas. Não sei se você viu as duas meninas que pediram
ao Metropolitan de Nova York que retirasse um quadro de Balthus: eram
duas jovens modernas e provavelmente de esquerda...

P. São casos pontuais, que já ocorriam muito antes do movimento #MeToo.


Pintores como Balthus e Schiele, ao qual seu texto também se refere, geram
escândalos há décadas. Não tomam a exceção como se fosse a regra?

R. Sim, mas acredito que devemos reagir com rapidez, pois os efeitos podem
ser imediatos. Veja o caso desse professor norte-americano demitido por
mostrar imagens do século XVIII, provavelmente um tanto libertinas, aos
alunos. Alguns dos pais as haviam considerado pornográficas!

P. “Lamento muito não ter sido estuprada, porque assim poderia dar fé de
que um estupro também pode ser superado”, disse a senhora em dezembro.

7 de 10 28/04/18 14:52
“É preciso deixar de pensar que a mulher é sempre uma vítima” | C... https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/12/cultura/1515761428_9...

Sua frase gerou um enorme escândalo. Se arrepende de tê-la pronunciado?

R. Não. Foi uma formulação um tanto cômica e sem reflexão, mas só porque
não queria me expressar com um tom excessivamente grave. Tendo a vida
sexual que tive, na qual contei com muitos companheiros diferentes —
alguns deles, perfeitos desconhecidos —, sempre disse que, se me
encontrasse numa situação de estupro, não me defenderia. Assim sofreria
menos riscos, pois conseguiria neutralizar a violência do agressor. Se a
violência desse ato tivesse me transtornado, acredito contar com a
capacidade moral suficiente para superar esse fato e tentar esquecê-lo. Essa
é minha resposta pessoal. Há pouco tempo, li uma entrevista de uma
advogada que havia sido estuprada quando jovem e que desaconselhava
suas clientes a denunciar e processar, porque isso só te faz prisioneira do
sofrimento. Salvo em casos em que haja consequências físicas graves,
acredito que a mente consegue vencer o corpo.

P. Não acha que um estupro


também tem consequências “Vejo surgir um clima de
psicológicas? inquisição, em que cada
um vigia seu vizinho”
R. Elas existem para algumas
mulheres, mas não para todas. É
preciso deixar de pensar que a
mulher é sempre uma vítima. Pode ser vítima desse ato num instante, mas
também pode encontrar a capacidade de reagir...

P. Uma das signatárias do texto, a filósofa Peggy Sastre, é autora de um


ensaio intitulado A Dominação Masculina Não Existe. Concorda com isso?

R. Existe, mas não em todas as partes. Em nossa sociedade, atualmente e na


classe média, as mulheres contam com um grande poder. No âmbito
doméstico, com frequência são elas que impõem sua vontade dentro do
casal, por causa da culpabilidade dos homens jovens e do fato de
trabalharem e serem economicamente livres...

8 de 10 28/04/18 14:52
“É preciso deixar de pensar que a mulher é sempre uma vítima” | C... https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/12/cultura/1515761428_9...

P. Então, onde persiste a dominação masculina?

R. Vou esquivar a pergunta... Houve tantos avanços nas últimas décadas...


Se comparo minhas possibilidades com a vida que minha mãe teve, numa
única geração ganhamos muito. Mas as feministas continuam interessadas
em nos fazer acreditar que nossa sociedade é unicamente patriarcal. Isso
não é verdade. Acho que também existe um matriarcado...

P. Considera que o patriarcado é coisa do passado?

R. Digamos que foi drasticamente reduzido.

ARQUIVADO EM:

Catherine Deneuve · Catherine Millet · Cultura · movimiento #MeToo · Feminismo


· Movimentos sociais · Mulheres · Sociedade

CONTENIDO PATROCINADO

Una experta en ¿Propietario? Você tem R$100 mil [Fotos] Lembra


lingüística explica Descubre cómo em conta? Saiba deles? Veja como
como hablar un ganar hasta onde investir eles estão agora!
nuevo idioma con
(BABBEL) 1000€/mes alojando
(BOOKING.COM) (INVESTIR.MAGNETIS) (DESAFIOMUNDIAL)

Y ADEMÁS...

El vídeo antiguo de La dieta que cambió Manolo "el del Un estadounidense


Ana War que ya el físico de Daniel Bombo" se lleva un reivindica el muro
demostraba que era Craig para ‘Casino varapalo con el de Trump en un
'Una
(EPIK)reina del pop' Royale’
(DEPORTE Y VIDA) Mundial de Rusia
(TIKITAKAS) combate... y su rival
(MÁS DEPORTE EN
AS.COM)

recomendado por

9 de 10 28/04/18 14:52
“É preciso deixar de pensar que a mulher é sempre uma vítima” | C... https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/12/cultura/1515761428_9...

© EDICIONES EL PAÍS, S.L.


Contato Venda de Conteúdos Publicidade Aviso legal Política cookies Mapa EL PAÍS no KIOSKOyMÁS
Índice RSS

10 de 10 28/04/18 14:52

Вам также может понравиться