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Equações Diferenciais Lineares

Prof. Romildo Nascimento de Lima

UFCG - 2017.2
Sumário

1 Introdução às Equações Diferenciais 3

1.1 Terminologia e Definições Básicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2 Equações Diferenciais de Primeira Ordem 10

2.1 Teoria Preliminar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

2.2 Métodos de Resolução: Equações de Variáveis Separáveis . . . . . . . . . . 12

2.3 Métodos de Resolução: Equações Homogêneas . . . . . . . . . . . . . . . . 14

2.4 Métodos de Resolução: Equações Exatas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

2.5 Métodos de Resolução: Equações Lineares de 1a Ordem . . . . . . . . . . . 19

2.6 Substituições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

3 Aplicações das Equações Diferenciais de Primeira Ordem 25

3.1 Trajetórias Ortogonais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

3.2 Aplicações de Equações Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

3.3 Aplicações de Equações Não-Lineares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31

1
4 Equações Diferenciais Lineares de Segunda Ordem 35

4.1 Equações Homogêneas com Coeficientes Constantes . . . . . . . . . . . . . 35

4.2 Soluções de Equações Lineares Homogêneas; o Wronskiano . . . . . . . . . 38

4.3 Raı́zes Complexas da Equação Caracterı́stica . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

4.4 Raı́zes Repetidas; Redução de Ordem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

4.5 Equações Não-Homogêneas; Método dos Coeficientes indeterminados . . . 50

4.6 Variação dos Parâmetros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

4.7 Uma Equação com Coeficientes Não-Constantes . . . . . . . . . . . . . . . 57

5 Aplicações das Equações Diferenciais de Segunda Ordem 60

2
Capı́tulo 1

Introdução às Equações Diferenciais

1.1 Terminologia e Definições Básicas

Nos cursos de Cálculo: dada uma função y = f (x), a derivada


dy
= f 0 (x)
dx
é também, ela mesma, uma função de x e é calculada por regras apropriadas. Por exemplo,
2
se y = ex , então
dy 2 dy
= 2xex ou = 2xy. (1.1)
dx dx
O problema com o qual nos deparamos neste curso não é: dada uma função y = f (x), en-
contre sua derivada. Nosso problema é: dada uma equação como dy/dx = 2xy, encontre,
de algum modo, uma função y = f (x) que satisfaça a equação. Em outras palavras, nós
queremos resolver equações diferenciais.

Definição 1. Uma equação que contém as derivadas ou diferenciais de uma ou mais


variáveis dependentes, em relação a uma ou mais variáveis independentes, é chamada de
equações diferenciais (ED).

Equações diferenciais são classificadas de acordo com o tipo, a ordem e a lineari-


dade.

3
Classificação pelo Tipo

Se uma equação contém somente derivadas ordinárias de uma ou mais variáveis de-
pendentes, com relação a uma única variável independente, ela é chamada de equação
diferencial ordinária (EDO).

Exemplos 1.

dy
a) − 5y = 1
dt
b) (y − x)dx + 4xdy = 0
du dv
c) − =x
dx dx
d2 y dy
d) 2
− 2 + 6y = 0
dx dx

são equações diferenciais ordinárias. Uma equação que envolve as derivadas parciais de
uma ou mais variáveis dependentes de duas ou mais variáveis independentes é chamada
de equação diferencial parcial (EDP).

Exemplos 2.

∂u ∂v
a) =−
∂y ∂x
∂u ∂u
b) x +y =u
∂x ∂y
∂ 2u ∂ 2u ∂u
c) 2
= 2
−2
∂x ∂t ∂t

são equações diferenciais parciais.

4
Classificação pela Ordem

A ordem da derivada de maior ordem em uma equação diferencial é, por definição, a
ordem da equação. Por exemplo,
3
d2 y

dy
+5 − 4y = ex
dx2 dx
é uma equação diferencial ordinária de segunda ordem (ou de ordem dois). Como a
equação diferencial (y − x)dx + 4xdy = 0 pode ser escrita na forma
dy
4x +y =x
dx
trata-se, então, de uma equação diferencial ordinária de primeira ordem. A equação
∂ 4u ∂ 2u
a2 + 2 =0
∂x4 ∂t
é uma equação diferencial parcial de quarta ordem.

Embora as equações diferenciais parciais sejam muito importantes, seu estudo de-
manda um bom conhecimento da teoria de equações diferenciais ordinárias.

Uma equação diferencial ordinária geral de n−ésima ordem é freqüentemente repre-


sentada pelo simbolismo
dn y
 
dy
F x, y, , · · · , n = 0. (1.2)
dx dx
O que vem a seguir é um caso especial de (1.1).

Classificação como Linear ou não-Linear

Uma equação diferencial é chamada de linear quando pode ser escrita na forma
dn y dn−1 y dy
an (x) n
+ a n−1 (x) n−1
+ · · · + a1 (x) + a0 (x)y = g(x).
dx dx dx
Observe que as equações diferenciais lineares são caracterizadas por duas propriedades:

(i) A variável dependente y e todas as suas derivadas são do primeiro grau, ou seja, a
potência de cada termo envolvendo y é 1.

5
(ii) Cada coeficiente depende apenas da variável independente x.

Uma equação que não é linear é chamada de não-linear.

Exemplos 3. a) xdy + ydx = 0

b) y 00 − 2y 0 + y = 0
d3 y 2
2d y dy
c) x3 − x + 3x + 5y = ex
dx3 dx2 dx

são EDO’s lineares de primeira, segunda e terceira ordens, respectivamente. Por outro
lado,
d3 y
yy 00 − 2y 0 = x ou + y2 = 0
dx3
são EDO’s não-lineares de segunda e terceira ordens, respectivamente.

Soluções

Como mencionamos antes, nosso objetivo é resolver ou encontrar soluções para EDO’s.

Definição 2. Qualquer função f definida em algum intervalo I, que, quando substituı́da


na equação diferencial, reduz a equação a uma identidade, é chamada de solução para a
equação no intervalo.

Em outras palavras, uma solução para uma EDO

F (x, y, y 0 , · · · , y (n) ) = 0

é uma função f que possui pelo menos n derivadas e satisfaz a equação, ou seja,

F (x, f (x), f 0 (x), · · · , f (n) (x)) = 0

para todo x ∈ I.

Exemplo 1. Verifique que y = x4 /16 é uma solução para a equação não-linear


dy
= xy 1/2 , no intervalo (−∞, ∞).
dx

6
Exemplo 2. Verifique que y = xex é uma solução para a equação linear

y 00 − 2y 0 + y = 0, no intervalo (−∞, ∞).

Nem toda equação diferencial que escrevemos possui necessariamente uma solução.
Por exemplo:  2
dy
+1=0 e (y 0 )2 + y 2 + 4 = 0
dx
não possuem soluções. Por outro lado, a equação de segunda ordem (y 00 )2 + 10y 4 = 0
possui somente uma solução real.

Soluções Explı́citas e Implı́citas

Uma solução para a EDO (1.2) que pode ser escrita na forma y = f (x) é chamada de
solução explı́cita. Dizemos que uma relação G(x, y) = 0 é uma solução implı́cita de
uma EDO em um intervalo I, se ela define uma ou mais soluções explı́citas em I.

Exemplo 3. Para −2 < x < 2, a relação x2 + y 2 − 4 = 0 é uma solução implı́cita para a


dy x
EDO =− .
dx y

Número de soluções

É muito importante se acostumar com o fato de que uma dada EDO geralmente possui
um número infinito de soluções.

Exemplo 4. Para qualquer valor de c, a função y = c/x + 1 é uma solução da EDO de


primeira ordem
dy
x +y =1
dx
no intervalo (0, ∞).

Exemplo 5.

7
a) As funções y = c1 cos(4x) e y = c2 sen(4x), em que c1 e c2 são constantes arbitrárias,
são soluções para a EDO y 00 + 16y = 0.

b) A soma de duas soluções da parte (a), y = c1 cos(4x) + c2 sen(4x), também é uma


solução para y 00 + 16y = 0.

Exemplo 6. Verifique que

y = ex , y = e−x , y = c1 ex , y = c2 e−x e y = c1 ex + c2 e−x

são soluções da EDO linear de segunda ordem y 00 − y = 0.

Exemplo 7. Qualquer função da famı́lia a um parâmetro y = cx4 é uma solução para a


equação diferencial xy 0 − 4y = 0. A função definida por partes

 −x4 , x < 0
y=
 x4 , x ≥ 0

é também uma solução.

Mais terminologia

Quando resolvemos uma EDO de primeira ordem F (x, y, y 0 ) = 0, normalmente obte-


mos uma famı́lia de curvas ou funções G(x, y, c) = 0, contendo um parâmetro arbitrário
tal que cada membro da famı́lia é uma solução da EDO. Na verdade, quando resolvemos
uma equação de n−ésima ordem F (x, y, y 0 , · · · , y (n) ) = 0, em que y (n) significa dn y/dxn ,
esperamos uma famı́lia a n−parâmetros de soluções G(x, y, c1 , · · · , cn ) = 0.

Uma solução para uma EDO que não depende de parâmetros arbitrários é chamada
de solução particular. Uma maneira de obter uma solução particular é escolher valores
especı́ficos para o(s) parâmetro(s) na famı́lia de soluções. Por exemplo, é fácil ver que
y = cex é uma famı́lia a um parâmetro de soluções para a equação de primeira ordem
muito simples y 0 = y. Para c = 0, −2 e 5, obtemos as soluções particulares y = 0,
y = −2ex e y = 5ex , respectivamente.

8
Às vezes, uma equação diferencial possui uma solução que não pode ser obtida espe-
cificando os parâmetros em uma famı́lia de soluções. Tal solução é chamada de solução
singular.

Se toda solução para F (x, y, y 0 , · · · , y (n) ) = 0 no intervalo I pode ser obtida de


G(x, y, c1 , · · · , cn ) = 0 por uma escolha apropriada dos ci , i = 1, · · · , n, dizemos que
a famı́lia a n−parâmetros é uma solução geral, ou completa, para a EDO.

9
Capı́tulo 2

Equações Diferenciais de Primeira


Ordem

2.1 Teoria Preliminar

Problema de Valor Inicial

Estamos interessados em resolver uma EDO de primeira ordem

dy
= f (x, y) (2.1)
dx

sujeita à condição inicial y(x0 ) = y0 , em que x0 é um número no intervalo I e y0 é um


número real arbitrário. O problema

dy
Resolva: = f (x, y) Sujeito a: y(x0 ) = y0 (2.2)
dx

é chamado de problema de valor inicial (PVI). Em termos geométricos, estamos


procurando uma solução para a equação diferencial, definida em algum intervalo I tal que
o gráfico da solução passe por um ponto (x0 , y0 ) determinado a priori.

Exemplo 8. Vimos anteriormente que y = cex é uma famı́lia a um parâmetro de soluções

10
para y 0 = y no intervalo (−∞, ∞). Se especificarmos, digamos, y(0) = 3, então y = 3ex
é uma solução do (PVI).

Questões fundamentais surgem quando consideramos um problema de valor inicial


como (2.2):

• Existe uma solução para o problema?

• Se existe uma solução, ela é única?

Em outras palavras, a equação diferencial dy/dx = f (x, y) possui uma solução cujo
gráfico passa pelo ponto (x0 , y0 )? E será que essa solução, se existir, é única?

Exemplo 9. As funções y = 0 e y = x4 /16 satisfazem a equação diferencial e a condição


inicial no problema
dy
= xy 1/2 , y(0) = 0.
dx
Teorema 1 (Existência e Unicidade de Solução - Teorema de Picard). Seja
∂f
R = [a, b] × [c, d], com (x0 , y0 ) pertencente ao interior de R. Se f e são contı́nuas em
∂y
R, então existe um intervalo I centrado em x0 e uma única função y(x) definida em I
que satisfaz o problema de valor inicial (2.2).

Exemplo 10. A equação diferencial

dy
= xy 1/2
dx

possui pelo menos duas soluções cujos gráficos passam por (0, 0). As funções

∂f x
f (x, y) = xy 1/2 e = 1/2
∂y 2y

são contı́nuas no semiplano superior definido por y > 0. Daı́, pelo Teorema 1, dado
um ponto (x0 , y0 ) com y0 > 0, existe algum intervalo em torno de x0 no qual a equação
diferencial dada possui uma única solução y(t), tal que y(x0 ) = y0 .

11
Exemplo 11. O Teorema 1 garante que existe um intervalo contendo x = 0 no qual
y = 3ex é a única solução para o problema de valor inicial do Exemplo 8:

y 0 = y, y(0) = 3.

∂f
Isso segue do fato que f (x, y) = y e = 1 são contı́nuas em todo o plano xy.
∂y
Exemplo 12. Para
dy
= x2 + y 2
dx
∂f
observamos que f (x, y) = x2 + y 2 e = 2y são contı́nuas em todo o plano xy. Logo,
∂y
por qualquer ponto (x0 , y0 ) passa uma e somente uma solução para a equação diferencial.

2.2 Métodos de Resolução: Equações de Variáveis


Separáveis

Comecemos com a mais simples de todas as EDO’s.

Se g(x) é uma função contı́nua dada, então a equação de primeira ordem

dy
= g(x) (2.3)
dx

pode ser resolvida por integração. A solução para (2.3) é


Z
y = g(x)dx + c.

dy
Exemplos 4. a) = 1 + e2x
dx
dy
b) = sen x
dx
Definição 3 (Equação Separável). Uma equação diferencial da forma

dy g(x)
=
dx h(y)

é chamada separável ou tem variáveis separáveis.

12
Observe que, uma equação separável pode ser escrita como

dy
h(y) = g(x). (2.4)
dx

É imediato que (2.4) se reduz a (2.3) quando h(y) = 1.

Agora, se y = f (x)denota uma solução para (2.4), temos

h(f (x))f 0 (x) = g(x),

logo, Z Z
0
h(f (x))f (x)dx = g(x)dx + c. (2.5)

Mas, dy = f 0 (x)dx, assim (2.5) é o mesmo que


Z Z
h(y)dy = g(x)dx + c. (2.6)

Método de solução

A equação (2.6) indica o procedimento na resolução para equações diferenciais se-


paráveis. Uma famı́lia a um parâmetro de soluções, em geral parada implicitamente, é
obtida integrando ambos os lados de h(y)dy = g(x)dx.

Exemplo 13. Resolva (1 + x)dy − ydx = 0.

Exemplo 14. Resolva o problema de valor inicial

dy x
=− , y(4) = 3.
dx y

Exemplo 15. Resolva xe−y sen xdx − ydy = 0.

Exemplo 16. Resolva xy 4 dx + (y 2 + 2)e−3x dy = 0.

Exemplo 17. Resolva o problema de valor inicial

dy
= y 2 − 4, y(0) = −2.
dx

13
2.3 Métodos de Resolução: Equações Homogêneas

Definição 4 (Função Homogênea). Se uma função f satisfaz

f (tx, ty) = tn f (x, y) (2.7)

para algum número real n, então dizemos que f é uma função homogênea de grau n.

Exemplos 5.

a) f (x, y) = x2 − 3xy + 5y 2
p
3
b) f (x, y) = x2 + y 2

c) f (x, y) = x3 + y 3 + 1
x
d) f (x, y) = +4
2y
Definição 5 (Equação Homogênea). Uma equação diferencial da forma

M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0 (2.8)

é chamada de homogênea se ambos os coeficientes M e N são funções homogêneas de


mesmo grau.

Em outras palavras, M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0 é homogênea se

M (tx, ty) = tn M (x, y) e N (tx, ty) = tn N (x, y)

para algum n ∈ R.

Método de Solução

Uma equação diferencial homogênea M (x, y)dx+N (x, y)dy = 0 pode ser resolvida por
meio de uma substituição algébrica. Especificamente, a substituição y = ux ou x = vy, em

14
que u e v são as novas variáveis independentes, transformará a equação em uma equação
diferencial de primeira ordem separável. Para ver isso, seja y = ux; então, sua diferencial
dy = udx + xdu. Substituindo em (2.8), temos

M (x, ux)dx + N (x, ux)[udx + xdu] = 0.

Desta forma,
xn M (1, u)dx + xn N (1, u)[udx + xdu] = 0

ou
[M (1, u) + uN (1, u)]dx + xN (1, u)du = 0,

assim,
dx N (1, u)du
+ = 0.
x M (1, u) + uN (1, u)
A fórmula acima não deve ser memorizada. O melhor é repetir o processo sempre que
for necessário. A prova que a substituição x = vy em (2.8) também leva a uma equação
separável é deixada como exercı́cio.

Exemplos 6. Resolva:

a) (x2 + y 2 )dx + (x2 − xy)dy = 0

b) (x + y)dx + xdy = 0

c) 2x3 ydx + (x4 + y 4 )dy = 0

Uma equação diferencial homogênea pode sempre ser expressa na forma alternativa

dy y
=F .
dx x
dy
Para ver isso, suponha que escrevamos a equação M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0 como =
dx
f (x, y), em que
M (x, y)
f (x, y) = − .
N (x, y)

15
A função f (x, y) deve ser necessariamente homogênea de grau zero quando M e N são
homogêneas de grau n. Desta forma,
xn M 1, xy M 1, xy
 
f (x, y) = − n  =− .
x N 1, xy N 1, xy
y
A última razão é uma função da forma F . Deixamos como exercı́cio a demonstração
x  
dy x
de que uma equação diferencial homogênea pode também ser escrita como =G .
dx y
Exemplo 18. Resolva o problema de valor inicial
dy
x = y + xey/x , y(1) = 1.
dx

2.4 Métodos de Resolução: Equações Exatas

Considere a equação diferencial

2x + y 2 + 2xyy 0 = 0. (2.9)

A equação acima não é separável e nem homogênea, de modo que não podemos aplicar
aqui os métodos já estudados para esses tipos de equações. Entretanto, note que que a
função ψ(x, y) = x2 + xy 2 tem a propriedade
∂ψ ∂ψ
2x + y 2 = , 2xy = . (2.10)
∂x ∂y
Portanto, a equação diferencial pode ser escrita como
∂ψ ∂ψ dy
+ = 0. (2.11)
∂x ∂y dx
Supondo que y é uma função de x e usando a regra da cadeia, podemos escrever a expressão
à esquerda do sinal de igualdade (2.11) como dψ(x, y)/dx. Então, a equação (2.11) fica
na forma
∂ψ d 2
(x, y) = (x + xy 2 ) = 0. (2.12)
∂x dx
Integrando a equação (2.12), obtemos

ψ(x, y) = x2 + xy 2 = c, (2.13)

16
onde c é uma constante arbitrária.

Ao resolver a equação (2.9), o passo-chave foi o reconhecimento de que existe uma


função ψ que satisfaz as equações (2.10). De modo geral, seja a equação diferencial

dy
M (x, y) + N (x, y) = 0. (2.14)
dx

Suponha que possamos identificar uma função ψ(x, y) tal que

∂ψ ∂ψ
(x, y) = M (x, y) e (x, y) = N (x, y), (2.15)
∂x ∂y

onde ψ(x, y) = c define y = f (x) implicitamente como uma função diferenciável de x.


Então,
dy ∂ψ ∂ψ dy d
M (x, y) + N (x, y) = + = ψ[x, f (x)]
dx ∂x ∂y dx dx
e a equação diferencial (2.14), torna-se

d
ψ[x, f (x)] = 0. (2.16)
dx

Nesse caso, a equação (2.14) é dita uma equação diferencial exata. Soluções da equação
(2.14), ou da equação equivalente (2.16), são dadas implicitamente por

ψ(x, y) = c. (2.17)

Teorema 2 (Critério para uma Equação Diferencial Exata). Sejam M (x, y) e


N (x, y) funções contı́nuas com derivadas parciais contı́nuas em uma região retangular R
definida por a < x < b, c < y < d. Então, uma condição necessária e suficiente para que

M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0

seja uma equação diferencial exata é

∂M ∂N
(x, y) = (x, y), (2.18)
∂y ∂x

para todo (x, y) ∈ R. Ou seja, existe uma função ψ satisfazendo (2.15),

∂ψ ∂ψ
(x, y) = M (x, y) e (x, y) = N (x, y).
∂x ∂y

17
Método de Solução

Dada a equação diferencial

M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0 (2.19)

mostre primeiro que


∂M ∂N
= .
∂y ∂x
Depois, suponha que
∂f
= M (x, y)
∂x
daı́, podemos encontrar f integrando M (x, y) com relação a x, considerando y constante.
Escrevemos, Z
f (x, y) = M (x, y)dx + g(y), (2.20)

em que a função arbitrária g(y) é a constante de integração. Agora, derivando (2.20) com
∂f
relação a y e supondo = N (x, y):
∂y
Z
∂f ∂
= M (x, y)dx + g 0 (y) = N (x, y).
∂y ∂y

Assim, Z
0 ∂
g (y) = N (x, y) − M (x, y)dx. (2.21)
∂y
Finalmente, integre (2.21) com relação a y e substitua o resultado em (2.20). A solução
para a equação é f (x, y) = c.

Exemplos 7. Resolva:

a) 2xydx + (x2 − 1)dy = 0

b) (e2y − y cos(xy))dx + (2xe2y − x cos(xy) + 2y)dy = 0

Exemplo 19. Resolva o problema de valor inicial

(cos x sen x − xy 2 )dx + y(1 − x2 )dy = 0, y(0) = 2.

18
Fator de Integração

Algumas vezes, é possı́vel converter uma equação diferencial não exata em uma equação
exata multiplicando-a por uma função µ(x, y) chamada fator de integração. Porém, a
equação exata resultante
µM (x, y)dx + µN (x, y)dy = 0

pode não ser equivalente à original no sentido de que a solução para uma é também a
solução para a outra. A multiplicação pode ocasionar perdas ou ganhos de soluções.
1
Exemplo 20. Resolva (x + y)dx + x ln xdy = 0, usando µ(x, y) = em (0, ∞).
x

2.5 Métodos de Resolução: Equações Lineares de 1a


Ordem

Definição 6 (Equação Linear de 1a Ordem). Uma equação diferencial da forma


dy
a1 (x) + a0 (x)y = g(x)
dx
é chamada de equação diferencial linear de 1a ordem.

Dividindo pelo coeficiente a1 (x), obtemos uma forma mais útil de uma equação linear:
dy
+ P (x)y = f (x). (2.22)
dx
Procuramos uma solução para (2.22) em um intervalo I no qual as funções P (x) e f (x)
são contı́nuas. A seguir, estaremos supondo que (2.22) possui solução.

Fator de Integração

A equação (2.22), pode ser escrita como

dy + [P (x)y − f (x)]dx = 0. (2.23)

19
Equações lineares possuem a propriedade através da qual podemos sempre encontrar uma
função µ(x) em que
µ(x)dy + µ(x)[P (x)y − f (x)]dx = 0 (2.24)

é uma equação diferencial exata. Sendo assim,


∂ ∂
µ(x) = µ(x)[P (x)y − f (x)] (2.25)
∂x ∂y
ou

= µP (x).
dx
Esta é uma equação separável em que podemos determinar µ(x). Temos

= P (x)dx
µ
logo, Z
ln |µ| = P (x)dx (2.26)

assim,
R
P (x)dx
µ(x) = e . (2.27)

a função µ(x) definida em (2.27) é um fator de integração para a equação linear. Note
que não precisamos usar uma constante de integração em (2.26), pois (2.24) não se altera
ao multiplicarmos por uma constante. Ainda, µ(x) 6= 0 para todo x ∈ I, e é contı́nua e
diferenciável.

É interessante observar que a equação (2.24) é ainda uma equação diferencial exata
mesmo quando f (x) = 0. Em verdade, f (x) não desempenha papel algum na deter-
minação de µ(x), pois vemos de (2.25) que (∂/∂y)µ(x)f (x) = 0. Logo, ambas
R R
P (x)dx P (x)dx
e dy + e [P (x)y − f (x)]dx

e
R R
P (x)dx P (x)dx
e dy + e P (x)ydx

são diferenciais exatas. Agora, escrevemos (2.24) na forma


R R R
P (x)dx P (x)dx P (x)dx
e dy + e P (x)ydx = e f (x)dx

20
e verificamos que podemos escrevê-la como
h R i R
d e P (x)dx y = e P (x)dx f (x)dx.

Integrando a última equação, temos


R
Z R
P (x)dx P (x)dx
e y= e f (x)dx + c

ou Z
R R R

y=e P (x)dx
e P (x)dx
f (x)dx + ce− P (x)dx
. (2.28)

Em outras palavras, se (2.22) tiver uma solução, ela deverá ser da forma (2.28). Recipro-
camente, é imediato que (2.28) constitui uma famı́lia a um parâmetro de soluções para a
equação (2.22)

Resumo do Método

(i) Para resolver uma equação linear de primeira ordem, primeiro coloque-a na forma
(2.22).

(ii) Identifique P (x) e encontre o fator de integração


R
P (x)dx
µ(x) = e .

(iii) Multiplique a equação obtida em (i) pelo fator de integração:

P (x)dx dy
R R R
P (x)dx P (x)dx
e + P (x)e y=e f (x).
dx

(iv) O lado esquerdo da equação em (iii) é a derivada do produto do fator de integração


e a variável dependente y, ou seja,

d R P (x)dx R
[e y] = e P (x)dx f (x).
dx

(v) Integre ambos os lados da equação encontrada em (iv).

Exemplos 8. Resolva as equações:

21
dy 4
a) x − y = x6 e x
dx x
dy
b) − 3y = 0
dx
dy
c) (4 + x2 ) + 2xy = 4x
dx
d) y 0 − 4y = 4 − x

e) 2y 0 + y = 3x2

Por hipótese, P (x) e f (x) são contı́nuas em um intervalo I e x0 é um ponto desse


intervalo. Então, segue-se do Teorema de Picard que existe uma única solução para o
problema de valor inicial

dy
+ P (x)y = f (x), y(x0 ) = y0 . (2.29)
dx

Exemplos 9. Resolva os PVI’s:

dy
a) + 2xy = x, y(0) = −3
dx
dy
b) x + y = 2x, y(1) = 0
dx
c) xy 0 + 2y = 4x2 , y(1) = 2

d) 2y 0 + xy = 2, y(0) = 1

Exemplo 21. Encontre uma solução contı́nua satisfazendo



dy  1, 0 ≤ x ≤ 1
+ y = f (x), em que f (x) = .
dx  0, x > 1

Exemplo 22. Encontre uma solução contı́nua satisfazendo a equação diferencial e a


condição inicial.

dy  1, 0≤x≤3
+ 2y = f (x), f (x) = , y(0) = 0
dx  0, x>3

22
2.6 Substituições

Equação de Bernoulli

A equação diferencial
dy
+ P (x)y = f (x)y n , (2.30)
dx
em que n é um número real qualquer, é chamada de equação de Bernoulli. Para n = 0
ou n = 1, a equação (2.30) é linear em y. Agora, se y 6= 0, (2.30) pode ser escrita como

dy
y −n + P (x)y 1−n = f (x). (2.31)
dx

Se fizermos w = y 1−n , n 6= 0, n 6= 1, então

dw dy
= (1 − n)y −n .
dx dx

Com essa substituição, (2.31) transforma-se na equação linear

dw
+ (1 − n)P (x)w = (1 − n)f (x). (2.32)
dx

Resolvendo (2.32) e depois fazendo y 1−n = w, obtemos uma solução para (2.30).

Exemplos 10. Resolva:

dy 1
a) + y = xy 2
dx x
b) x2 y 0 + 2xy − y 3 = 0
dy
c) = y(xy 3 − 1)
dx

Uma equação pode parecer diferente de todas as que vimos e estudamos até o momento,
porém fazendo uma mudança apropriada de variável, talvez possamos resolvê-lo com as
ferramentas que temos disponı́veis.

Exemplos 11. Resolva as equações abaixo, através das mudanças apropriadas.

23
a) y(1 + 2xy)dx + x(1 − 2xy)dy = 0, com u = 2xy;
dy
b) 2xy + 2y 2 = 3x − 6, com u = y 2 ;
dx
x3 y/x
c) xy 0 − y = e , com u = y/x;
y
d) y 00 = 2x(y 0 )2 , com u = y 0

24
Capı́tulo 3

Aplicações das Equações Diferenciais


de Primeira Ordem

3.1 Trajetórias Ortogonais

No final do Capı́tulo 1 expressamos a expectativa, ou melhor, a possibilidade que uma


equação diferencial ordinária de n−ésima ordem levasse a uma famı́lia a n−parâmetros
de soluções. Por outro lado, suponha que invertamos o problema: Começando com uma
famı́lia a n−parâmetros de curvas, será que podemos encontrar uma equação diferencial
de n−ésima ordem associada a essa famı́lia? Na maioria das vezes a resposta é sim.
dy
A seguir, estamos interessados em encontrar a equação diferencial = f (x, y) de
dx
uma famı́lia a n−parâmetros de curvas.

Exemplo 23. Encontre a equação diferencial da famı́lia y = c1 x3 .

25
Curvas Ortogonais

Em Geometria Analı́tica, duas retas r1 e r2 não paralelas aos eixos coordenados são per-
pendiculares se, e somente se, seus respectivos coeficientes angulares satisfazem a relação
m1 m2 = −1. Por essa razão, os gráficos de y = (−1/2)x + 1 e y = 2x + 4 são perpen-
diculares. Duas curvas C1 e C2 são ortogonais em um ponto se, e somente se, suas retas
tangentes T1 e T2 forem perpendiculares no ponto de intersecção. Exceto no caso em que
T1 e T2 são paralelas aos eixos coordenados, isso significa que os coeficientes angulares das
tangentes são negativos inversos um do outro.

Exemplo 24. Mostre que as curvas C1 e C2 definidas por, y = x3 e x2 + 3y 2 = 4 são


ortogonais no(s) ponto(s) de interseção.

É fácil mostrar que qualquer curva C1 da famı́lia y = c1 x3 , c1 6= 0 é ortogonal a cada


curva C2 da famı́lia x2 + 3y 2 = c2 , c2 > 0.

Esta discussão leva à seguinte definição:

Definição 7 (Trajetórias Ortogonais). Quando todas as curvas de uma famı́lia G(x, y, c1 ) =


0 interceptam ortogonalmente todas as curvas de outra famı́lia H(x, y, c2 ) = 0, então di-
zemos que as famı́lias são trajetórias ortogonais uma da outra.

Em outras palavras, uma trajetória ortogonal é uma curva que intercepta toda a curva
de uma famı́lia em ângulos reto.

Exemplos 12.

a) O gráfico de y = (−1/2)x + 1 é uma trajetória ortogonal de y = 2x + c1 . as famı́lias


y = (−1/2)x + c2 e y = 2x + c1 são trajetórias ortogonais.

b) O gráfico de y = 4x3 é uma trajetória ortogonal de x2 + 3y 2 = c2 . As famı́lias


y = c1 x3 e x2 + 3y 2 = c2 são trajetórias ortogonais.

c) A famı́lia y = c1 x e a famı́lia x2 + y 2 = c2 de cı́rculos concêntricos, são trajetórias


ortogonais.

26
Método Geral

Para encontrar as trajetórias ortogonais de uma dada famı́lia de curvas, primeiro


encontramos a equação diferencial
dy
= f (x, y)
dx
que descreve a famı́lia. A equação diferencial da famı́lia ortogonal é então
dy 1
=− .
dx f (x, y)
c1
Exemplo 25. Encontre as trajetórias ortogonais da famı́lia de hipérboles y = .
x
c1 x
Exemplo 26. Encontre as trajetórias ortogonais de y = .
1+x

3.2 Aplicações de Equações Lineares

Crescimento e Decrescimento

O problema de valor inicial


dx
= kx, x(t0 ) = x0 , (3.1)
dt
em que k é uma constante de proporcionalidade (taxa de crescimento ou declı́nio), ocorre
em muitas teorias fı́sicas envolvendo o crescimento e decrescimento.

A constante de proporcionalidade k em (3.1) é positiva ou negativa e pode ser deter-


minada pela solução para o problema usando um valor subsequente de x em um instante
t1 > t0 .

Exemplo 27. Em uma cultura, há inicialmente N0 bactérias. Uma hora depois, t = 1,
o número de bactérias passa a ser (3/2)N0 . Se a taxa de crescimento é proporcional
ao número de bactérias presentes, determine o tempo necessário para que o número de
bactérias triplique.

27
Exemplo 28. Sabe-se que a população de uma certa comunidade cresce a uma taxa pro-
porcional ao número de pessoas presentes em qualquer instante. Se a população duplicou
em 5 anos, quando ela triplicará? Quando quadruplicará?

Exemplo 29. Suponha que a população da comunidade do Problema 1 seja 10.000 após
3 anos. Qual era a população inicial? Qual será a população em 10 anos?

Exemplo 30. A população de bactérias em uma cultura cresce a uma taxa proporcional
ao número de bactérias presentes em qualquer tempo. Após 3 horas, observa-se que há 400
bactérias presentes. Após 10 horas, existem 2000 bactérias presentes. qual era o número
inicial de bactérias?

Meia-vida

Em fı́sica, meia-vida é uma medida de estabilidade de uma substância radioativa.


A meia-vida é simplesmente o tempo gasto para metade dos átomos de uma quantidade
inicial A0 se desentegrar ou se transmutar em átomos de outro elemento. Quanto maior
a meia-vida de uma substância, mais estável ela é. Por exemplo, a meia-vida do ultra-
radioativo rádio, Ra-226, é cerca de 1700 anos. Em 1700, metade de uma dada quantidade
de Ra-226 é transmutada em radônio, Rn-222. O isótopo de urânio mais comum, U-238,
tem um meia-vida de aproximadamente 4.500.000.000 de anos. Nesse tempo, metade de
uma quantidade de U-238 é transmutada em chumbo, Pb-206.

Exemplo 31. Um reator converte urânio 238 em isótopo de plutônio 239. Após 15 anos,
foi detectado que 0,043% da quantidade inicial A0 de plutônio se desintegrou. Encon-
tre a meia-vida desse isótopo, se a taxa de desintegração é proporcional à quantidade
remanescente.

Exemplo 32. O isótopo radioativo de chumbo, Pb-209, decresce a uma taxa proporcional
à quantidade presente em qualquer tempo. Sua meia-vida é 3,3 horas. Se 1 grama de
chumbo está presente inicialmente, quanto tempo levará para 90% de chumbo desaparecer.

28
Exemplo 33. Inicialmente, havia 100 miligramas de uma substância radioativa presente.
Após 6 horas, a massa diminuiu 3%. Se a taxa de decrescimento é proporcional à quan-
tidade de substância presente em qualquer tempo, encontre a quantidade remanescence
após 24 horas. Determine a meia-vida desta substância radioativa.

Lei do Esfriamento/Aquecimento de Newton

A Lei de Resfriamento de Newton diz que a taxa de variação de temperatura T (t) de


um corpo em resfriamento é proporcional à diferença entre a temperatura do corpo e a
temperatura constante Tm do meio ambiente, isto é,

dT
= k(T − Tm ), (3.2)
dt

em que k é uma constante de proporcionalidade.

Exemplo 34. Quando um bolo é retirado do forno, sua temperatura é de 300◦ F . Três
minutos depois, sua temperatura passa para 200◦ F . Quanto tempo levará para sua tem-
peratuda chegar a 70◦ F , se a temperatura do meio ambiente em que ele foi colocado for
exatamente 70◦ F ?

Exemplo 35. Um termômetro é retirado de dentro de uma sala e colocado de lado de


fora, em que a temperatura é de 5◦ C. Após 1 minuto, o termômetro marcava 20◦ C; após
5 minutos, 10◦ . Qual a temperatura da sala?

Exemplo 36. A fórmula (3.2) também é válida quando o corpo absorve calor do meio
ambiente. Se uma pequena barra de metal, cuja temperatura inicial é de 20◦ C, é colocada
em um vasilhame de água em ebulição, quanto tempo levará para a temperatura da barra
atingir 90◦ C se é fato conhecido que sua temperatura aumenta 2◦ C em 1 segundo? Quanto
tempo levará para a temperatura da barra chegar a 98◦ C?

29
Circuitos em Série

Em um circuito em série contendo somente um resistor e um indutor, a segunda lei


di
de Kirchhoff diz que a soma da queda de tensão no indutor L e da queda de tensão no
dt
resistor iR é igual à voltagem E(t) no circuito. Veja a figura abaixo: Logo, obtemos a
equação diferencial linear para a corrente i(t),

di
L + iR = E(t), (3.3)
dt

em que L e R são constantes conhecidas como a indutância e a resistência, respectiva-


mente. A corrente é algumas vezes chamada de resposta do sistema.

A queda de potencial em um capacitor com capacitância C é dada por q(t)/C, em que


q é a carga no capacitor. Então, para o circuito em série mostrado abaixo: a segunda lei
de Kirchhoff no dá
1
Ri + q = E(t). (3.4)
C
dq
Mas a corrente i e a carga q estão relacionadas por i = , logo, (3.4) torna-se a equação
dt
diferencial linear
dq 1
R + q = E(t). (3.5)
dt C
Exemplo 37. Uma bateria de 12 volts é conectada a um circuito em série no qual a
indutância é de 1/2 henry e a resistência, 10 ohms. Determine a corrente i se a corrente
inicial é zero.

Exemplo 38. Uma força eletromatriz (fem) de 30 volts é aplicada a um circuito em série
L-R no qual a indutância é de 0,5 henry e a resistência, 50 ohms. Encontre a corrente
i(t) se i(0) = 0. Determine a corrente quando t → ∞.

Exemplo 39. Uma força eletromotiva de 100 volts é aplicada a um circuito R-C em série
no qual a resistência é de 200 ohms e a capacitância, 10−4 farad. Encontre a carga q(t)
no capacitor se q(0) = 0. Encontre a corrente i(t).

30
Problemas de Misturas

Na mistura de dois fluidos, muitas vezes temos de lidar com equações diferenciais
lineares de primeira ordem.

Exemplo 40. Inicialmente, 50 gramas de sal são dissolvidos em um tanque contendo 300
litros de água. Uma solução salina é bombeada para dentro do tanque a uma taxa de 3
litros por minuto, e a solução bem misturada é então drenada na mesma taxa. Veja a
figura abaixo: Se a concentração da solução que entra é 2 gramas por litro, determine a
quantidade de sal no tanque em qualquer instante. Quantos gramas de sal estão presentes
após 50 minutos? E depois de um longo tempo?

Exemplo 41. Um tanque contém 200 litros de fluido no qual são dissolvidos 30 g de
sal. Uma solução salina contendo 1 g de sal por litro é então bombeada para dentro do
tanque a uma taxa de 4 litros por minuto; a mistura é drenada à mesma taxa. Encontre
a quantidade de gramas de sal A(t) no tanque em qualquer instante.

Exemplo 42. Um tanque está parcialmente cheio com 100 litros de fluido nos quais 10
g de sal são dissolvidos. Uma solução salina contendo 0,5 g de sal por litro é bombeada
para dentro do tanque a uma taxa de 6 litros por minuto. A mistura é então drenada a
uma taxa de 4 litros por minuto. Descubra quantos gramas de sal haverá no tanque após
30 minutos.

3.3 Aplicações de Equações Não-Lineares

Dinâmica Populacional: Crescimento Logı́stico - Uma Análise


Qualitativa

Descrevemos anteriormente que a taxa de crescimento ou declı́nio de uma população


é proporcional ao valor atual da população, ou seja,
dy
= ky, (3.6)
dt

31
onde k é a taxa de crescimento ou declı́nio. No entanto, numa situação mais realista,
a taxa de crescimento ou declı́nio depende, de fato, da população, deve-se substituir a
constante k em (3.6) por uma função h(y) e obtemos, então, a equação modificada
dy
= h(y)y. (3.7)
dt

Agora, queremos escolher h(y) tal que h(y) ≈ k > 0 quando y é pequeno, h(y) diminui
quando y aumenta e h(y) < 0 quando y é suficientemente grande. A função mais simples
que tem essa propriedade é h(y) = k − ay, em que a também é uma constante positiva.

Usando essa função na equação (3.7), obtemos


dy
= (k − ay)y. (3.8)
dt
A equação (3.8) é conhecida como a equação de Verhulst ou equação logı́stica. É muitas
vezes conveniente escrever a equação logı́stica na forma equivalente
dy  y
=k 1− y (3.9)
dt R
onde R = k/a. A constante k é chamada de taxa de crescimento intrı́nseca, ou seja, a
taxa de crescimento na ausência de qualquer fator limitador.

Análise Qualitativa

Iniciemos procurando soluções de (3.9) do tipo mais simples possı́vel, ou seja, funções
dy
constantes. Para tal solução, = 0 para todo t, de modo que qualquer solução constante
dt
de (3.9) tem de satisfazer a equação algébrica
 y
k 1− y = 0.
R
Logo, as soluções constantes são φ1 (t) = 0 e φ2 (t) = R. São chamadas soluções de
equilı́brio de (3.9), já que não há variação ou mudança no valor de y quando t aumenta.

Para visualizar outras soluções de (3.9) e esboçar seus gráficos rapidamente, podemos
começar desenhando o gráfico de f (y) em função de y. No caso da equação (3.9), f (y) =
 y
k 1− y, logo o gráfico é a parábola:
R

32
dy
Note que, > 0 para 0 < y < R, portanto, y é uma função crescente de t quando y
dt
dy
está nesse intervalo. Analogamente, se y > R, então < 0, logo y é decrescente.
dt
Nesse contexto, o eixo dos y é chamado de reta de fase e está reproduzida em sua
orientação vertical ususal.

Os pontos em y = 0 e y = R são os pontos crı́ticos, ou soluções de equilı́brio.

Para esboçar os gráficos das soluções de (3.9) no plano, começamos com as soluções
de equilı́brio y = 0 e y = R, depois desenhamos outras curvas que são crescentes quando
0 < y < R, decrescentes quando y > R e cujas tangentes se aproximam da horizontal
quando y se aproximam da horizontal quando y se aproxima de 0 ou de R. Logo, os
gráficos das soluções da equação (3.9) devem ter a forma geral ilustrada abaixo:

Observação 1. Nenhuma solução se intersecta devido o Teorema de Picard.

Sendo um pouco mais detalhista, utilizando a regra da cadeia, temos que as soluções
são convexas quando 0 < y < R/2 ou y > R, e côncavas quando R/2 < y < R. Desta
maneira, temos que toda vez que o gráfico de y em função de t cruza a reta y = R/2
existe aı́ um ponto de inflexão.

Finalmente, note que R é a cota superior que é aproximada, mas nunca excedida,
por populações crescente começando abaixo deste valor. Assim, torna-se natural nos
referirmos a R como o nı́vel de saturação ou a capacidade de sustentação ambiental para
a espécie em questão.

Em muitas situações, basta obter a informação qualitativa ilustrada em (*) sobre uma
solução y = φ(t) de (3.9). Essa informação foi inteiramente obtida a partit do gráfico de
f (y) como função de y, sem resolver a equação diferencial (3.9). Entretanto, se quisermos
ter uma descrição mais detalhada do crescimento logı́stico, por exemplo, se quisermos
saber o número de elementos na população em um instante particular, então precisamos
resolver a equação (3.9) sujeita à condição inicial y(0) = y0 . Se y 6= 0 e y 6= R, podemos

33
escrever (3.9) na forma
dy
= kdt.
(1 − y/R) y
Usando uma expressão em frações parciais na expressão à esquerda do sinal de igualdade,
obtemos  
1 1/R
+ dy = kdt.
y 1 − y/R

Integrando, temos
y
ln |y| + ln 1 − = kt + c. (3.10)

R
Sabemos que, se 0 < y0 < R, então y permanece nesse intervalo para todo o tempo.
Portanto, nesse caso, podemos remover as barras de módulo em (3.10) e, calculando a
exponencial de todos os termos em (3.10), obtemos

y
= cekt . (3.11)
1 − y/R

Para que a condição y(0) = y0 seja satisfeita, precisamos escolher

y0
c=  .
1 − yR0

Desta forma,
y0 R
y= . (3.12)
y0 + (R − y0 )e−kt
Analogamente, se y0 > R. Note que, (3.12) contém as soluções de equilı́brio y = φ1 (t) = 0
e y = φ2 (t) = R que correspondem às condições iniciais y0 = 0 e y0 = R, respectivamente.

Exemplo 43. O modelo logı́stico tem sido aplicado ao crescimento natural da população
de linguado gigante em determinadas áreas do Oceano Pacı́fico. Seja y, medido em qui-
logramas, a massa total, ou biomassa, da população de linguado gigante no instante t.
Estima-se que os parâmetros na equação logı́stica tenham os valores k = 0, 71 por ano
e R = 80, 5 × 106 kg. Se a biomassa inicial é y0 = 0, 25R, encontre a biomassa 2 anos
depois. Encontre também, o instante τ para o qual y(τ ) = 0, 75R.

34
Capı́tulo 4

Equações Diferenciais Lineares de


Segunda Ordem

4.1 Equações Homogêneas com Coeficientes Cons-


tantes

Uma Equação Diferencial de segunda ordem tem a forma

d2 y
 
dy
= f x, y, , (4.1)
dx2 dx

em que f é alguma função dada. A equação (4.1) é dita linear se a função f tem a forma
 
dy dy
f x, y, = g(x) − p(x) − q(x)y, (4.2)
dx dx
dy
ou seja, se f é linear em y e em . Sendo assim, podemos reescrever a equação (4.1),
dx
em geral, como
y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = g(x). (4.3)

Com frequência, ao invés de encontrarmos a equação (4.3), encontramos

P (x)y 00 + Q(x)y 0 + R(x)y = G(x). (4.4)

35
Porém, se P (x) 6= 0, podemos dividir a equação (4.4) por P (x), obtendo assim a equação
(4.3), com
Q(x) R(x) G(x)
p(x) = , q(x) = e g(x) = . (4.5)
P (x) P (x) P (x)
Em nosso estudo, estaremos restringindo as funções p, q e g onde elas são contı́nuas.

Se a equação (4.1) não puder ser escrita da forma (4.3) ou (4.4), então ela é dita
não-linear.

Um problema de valor inicial consiste em uma equação diferencial, como a equação


(4.1), (4.3) ou (4.4), junto com um par de condições iniciais

y(x0 ) = y0 e y 0 (x0 ) = y00 , (4.6)

em que y0 e y00 são números dados que descrevem os valores de y e y 0 no ponto inicial x0 .

Uma equação linear de segunda ordem é dita homogênea se a função g(x) na equação
(4.3), ou G(x) na equação (4.4), for igual a zero para todo x. Caso contrário, a equação é
dita não-homogênea. Em consequência, a função g(x), ou G(x), é chamada de termo não
homogêneo. Vamos começar nossa discussão com equações homogêneas, que escrevemos
na forma
P (x)y 00 + Q(x)y 0 + R(x)y = 0 (4.7)

Posteriormente, mostraremos que, uma vez resolvida a equação homogênea, sempre é


possı́vel resolver a equação não-homogênea correspondente ou, pelo menos, expressar sua
solução em função de uma integral. Assim, o problema de resolver a equação homogênea
é o mais fundamental.

Vamos concentrar nossa atenção, neste curso, a equações nas quais as funções P , Q e
R são constantes. Ou seja, nos casos

ay 00 + by 0 + cy = 0 (4.8)

em que a, b e c são constantes dadas.

Exemplo 44. Resolva a equação


y 00 − y = 0, (4.9)

36
e encontre, também, a solução que satisfaz as condições iniciais

y(0) = 2 e y 0 (0) = −1. (4.10)

Explorando as ideias do exemplo acima, podemos resolver a equação (4.8) para quais-
quer valores de seus coeficientes e satisfazer, também, qualquer conjunto de condições
iniciais dado para y e y 0 . Começamos procurando soluções exponenciais da forma y = ert ,
em que r é um parâmetro a ser determinado. Segue que y 0 = rert e y 00 = r2 ert . Substi-
tuindo tais expressões na equação (4.8), obtemos

(ar2 + br + c)ert = 0,

ou, como ert 6= 0,


ar2 + br + c = 0. (4.11)

A equação (4.11) é chamada de equação caracterı́stica para a equação diferencial (4.8).


Seu significado reside no fato de que, se r é uma raiz da equação polinomial (4.11), então
y = ert é solução da equação diferencial (4.8). Como a equação caracterı́stica trata-se de
uma equação do segundo grau com coeficientes reais, ela tem duas raı́zes que podem ser
reais e diferentes, reais e iguais, ou complexas conjugadas. Consideremos o primeiro caso
inicialmente.

Supondo que as raı́zes da equação caracterı́stica são reais e distintas, vamos denotá-las
por r1 e r2 em que r1 6= r2 . Então y1 (x) = er1 x e y2 (x) = er2 x são duas soluções da equação
(4.8). Como no exemplo anterior, segue que

y = c1 y1 (x) + c2 y2 (x) = c1 er1 x + c2 er2 x (4.12)

também é solução de (4.8).

É possı́vel mostrar, com base no Teorema Fundamental, que citaremos posteriormente,


que todas as soluções da equação (4.8) estão incluı́das na expressão (4.12), pelo menos no
caso em que as raı́zes são reais e distintas. Desta forma, a equação (4.12) é chamada de
solução geral da equação (4.8). O fato de que quaisquer condições iniciais possı́veis podem

37
ser satisfeitas pela escolha adequada das constantes na equação (4.12) torna plausı́vel a
ideia de que essa expressão inclui, de fato, todas as soluções da equação (4.8).

Exemplo 45. Encontre a solução geral de

y 00 + 5y 0 + 6y = 0.

Exemplo 46. Encontre a solução do problema de valor inicial

y 00 + 5y 0 + 6y = 0, y(0) = 2, y 0 (0) = 3.

Exemplo 47. Encontre a solução do problema de valor inicial


1
4y 00 − 8y 0 + 3y = 0, y(0) = 2, y 0 (0) = .
2

4.2 Soluções de Equações Lineares Homogêneas; o


Wronskiano

Sejam p e q funções contı́nuas em um intervalo I. Então, para cada função φ duas


vezes derivável em I, definimos o operador diferencial L pela fórmula

L[φ] = φ00 + pφ0 + qφ. (4.13)

É importante notar que L[φ] é uma função em I, onde

L[φ](x) = φ00 (x) + p(x)φ0 (x) + q(x)φ(x).

Vamos estudar, nesta seção, a equação homogênea de segunda ordem L[φ](x) = 0.


Como é costume usar o sı́mbolo y para denotar φ(x), escreveremos esta equação na forma

L[y] = y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = 0. (4.14)

Associamos a equação (4.14) um conjunto de condições iniciais,

y(x0 ) = y0 , y 0 (x0 ) = y00 , (4.15)

38
em que x0 ∈ I e y0 , y00 ∈ R.

Gostarı́amos de saber se o problema com condição inicial acima, sempre tem solução
e se pode ter mais de uma solução. Gostarı́amos, também, de saber se é possı́vel dizer
alguma coisa sobre a forma e a estrutura das soluções que possa ajudar a encontrar
soluções de problemas particulares. As respostas a essas perguntas estão contidas nos
resultados que se seguem.

Teorema 3 (Existência e Unicidade). Considere o problema de valor inicial

y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = g(x), y(x0 ) = y0 , y 0 (x0 ) = y00 , (4.16)

em que p, q e g são contı́nuas em um intervalo aberto I que contém o ponto x0 . Então,


existe exatamente uma solução y = y(x) deste problema, e a solução existe em todo o
intervalo I.

Observação 2. O problema de valor inicial tem uma solução, ou seja, existe uma solução.

Observação 3. O problema de valor inicial tem apenas uma solução, ou seja, a solução
é única.

Observação 4. A solução y está definida em todo o intervalo I, em que os coeficientes


são contı́nuos, e é, pelo menos, duas vezes derivável neste intervalo.

Exemplo 48. Encontre o maior intervalo no qual a solução do problema de valor inicial

(x2 − 3x)y 00 + xy 0 − (x + 3)y = 0, y(1) = 2, y 0 (1) = 1

existe com certeza.

Exemplo 49. Encontre a única solução do problema de valor inicial

y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = 0, y(x0 ) = 0, y 0 (x0 ) = 0,

em que p e q são contı́nuas em um intervalo aberto I contendo x0 .

39
Teorema 4 (Princı́pio da Superposição). Se y1 e y2 são soluções da equação diferencial
(4.14),
L[y] = y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = 0,

então a combinação linear c1 y1 + c2 y2 também é solução, para todo c1 , c2 ∈ R.

O Teorema 4 diz que, começando com apenas duas soluções da equação (4.14), pode-
mos construir uma famı́lia infinita de soluções através das combinações lineares c1 y1 +c2 y2 .
A próxima pergunta é se todas as soluções da equação (4.14) estão incluı́das nas com-
binações lineares ou se podem existir soluções com formas diferentes. Começamos a
estudar essa questão examinando se as constantes c1 e c2 na combinação linear podem ser
escolhidas de modo que a solução satisfaça as condições iniciais (4.15). Essas condições
iniciais obrigam c1 e c2 a satisfazerem as equações

 c y (x ) + c y (x ) = y
1 1 0 2 2 0 0
(4.17)
 c y 0 (x ) + c y 0 (x ) = y 0
1 1 0 2 2 0 0

O determinante dos coeficientes do sistema acima é




y1 (x0 ) y2 (x0 )
W = = y1 (x0 )y20 (x0 ) − y10 (x0 )y2 (x0 ). (4.18)
0 0
y1 (x0 ) y2 (x0 )

Se W 6= 0, o sistema (4.17) têm uma única solução (c1 , c2 ), não importa quais sejam os
valores de y0 , y00 ∈ R. Esta solução é dada por


y0 y2 (x0 ) y1 (x0 ) y0

0 0 0 0
y0 y2 (x0 ) y1 (x0 ) y0
c1 = e c2 = . (4.19)

y1 (x0 ) y2 (x0 ) y1 (x0 ) y2 (x0 )

0
y1 (x0 ) y20 (x0 )
0
y1 (x0 ) y20 (x0 )

Com esses valores para c1 e c2 , a combinação linear y = c1 y1 +c2 y2 satisfaz as condições


iniciais (4.15), assim como a equação diferencial (4.14).

O determinante W é chamado de Determinante Wronskiano, ou simplesmente,


Wronskiano, das soluções y1 e y2 . Usamos, algumas vezes, a notação completa W (y1 , y2 )(x0 )

40
para denotar a expressão mais à direita na equação (4.18) enfatizando o fato de que o
Wronskiano depende das funções y1 e y2 e que é calculado no ponto x0 . Assim, temos o
resultado:

Teorema 5. Sejam y1 e y2 duas soluções da equação diferencial

L[y] = y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = 0,

e suponha que as condições iniciais

y(x0 ) = y0 , y 0 (x0 ) = y00 ,

sejam atribuı́das. Então, sempre é possı́vel escolher constantes c1 , c2 ∈ R, tais que

y(x) = c1 y2 (x) + c2 y2 (x)

satisfaça a equação diferencial e as condições iniciais se, e somente se, o Wronskiano

W = y1 y20 − y10 y2

não se anula em x0 .

Exemplo 50. Sabemos que y1 (x) = e−2x e y2 (x) = e−3x são soluções da equação diferen-
cial y 00 + 5y 0 + 6y = 0. Encontre o Wronskiano de y1 e y2 .

O próximo resultado justifica a expressão ”Solução Geral”comentada anteriormente


para a combinação linear c1 y1 + c2 y2 .

Teorema 6. Suponha que y1 e y2 sejam duas soluções da equação diferencial

L[y] = y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = 0.

Então a famı́lia de soluções

y(x) = c1 y1 (x) + c2 y2 (x)

com coeficientes arbitrários c1 , c2 ∈ R inclui todas as soluções da equação diferencial se,


e somente se, existe um ponto x0 em que o Wronskiano de y1 e y2 não é nulo.

41
O teorema acima nos garante que a combinação linear c1 y1 + c2 y2 contém todas as
soluções da equação (4.14) se, e somente se, o Wronskiano de y1 e y2 não é identicamente
nulo. É, portanto, natural chamar a expressão

y = c1 y2 (x) + c2 y2 (x)

com coeficientes constantes arbitrários, de Solução Geral da equação (4.14). Dizemos


que as soluções y1 e y2 formam um Conjunto Fundamental de Soluções da equação
(4.14) se, e somente se, seu Wronskiano é diferente de zero.

Antes de exibirmos alguns exemplos relacionados a utilização deste teorema, interpre-


taremos os resultados obtidos na linguagem da Álgebra Linear. Para isso, recordemos
algumas definições e um teorema associado da independência linear:

Definição 8 (Dependência Linear). Dizemos que um conjunto de funções f1 (x), · · · , fn (x)


é linearmente dependente em um intervalo I se existem constante c1 , · · · , cn ∈ R não
todas nulas, tais que
c1 f1 (x) + · · · + cn fn (x) = 0

para todo x ∈ I.

Definição 9 (Independência Linear). Dizemos que um conjunto de funções f1 (x), · · · , fn (x)


é linearmente independente em I se ele não é linearmente dependente em I.

Exemplos 13. Analise quanto a dependência/independência linear os conjuntos de funções:

a) f1 (x) = sen(2x) e f2 (x) = sen x cos x

b) f1 (x) = e−2x e f2 (x) = e−3x

Teorema 7 (Critério para Independência Linear de Funções). Suponha que f1 (x), · · · , fn (x)
sejam diferenciáveis pelo menos n − 1 vezes. Se o determinante

f1 f2 ··· fn


f10 0
··· 0

f2 fn
.. .. .. ..


. . . .

(n−1) (n−1)
· · · fn(n−1)

f1 f2

42
for diferente de zero em pelo menos um ponto do intervalo I, então as funções f1 (x), · · · , fn (x)
são linearmente independentes no intervalo.

Observação 5. O determinante do teorema acima é denotado por

W (f1 (x), · · · , fn (x))

e é chamado o Wronskiano das funções.

Observando estes fatos da Álgebra Linear, podemos concluir que o Conjunto Funda-
mental de Soluções é, na verdade, um Espaço Vetorial formado pelas soluções da Equação
Diferencial (4.14). E mais, tal espaço tem dimensão 2, desde que dadas duas soluções
conhecidas y1 e y2 tenhamos o W (y1 , y2 ) não nulo em algum x0 . O conjunto {y1 , y2 } é a
base pra tal Espaço Vetorial de Soluções.

Exemplo 51. Suponha que y1 (x) = er1 x e y2 (x) = er2 x são duas soluções de uma
equação diferencial da forma (4.14). Mostre que elas formam um conjunto fundamen-
tal de soluções, se r1 6= r2 .

Exemplo 52. Mostre que y1 (x) = x1/2 e y2 (x) = x−1 formam um conjunto fundamental
de soluções da equação diferencial

2x2 y 00 + 3xy 0 − y = 0, x > 0.

Teorema 8. Considere a equação diferencial

L[y] = y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = 0,

cujos coeficientes p e q são contı́nuos em algum intervalo aberto I. Escolha algum ponto
x0 em I. Seja y1 uma solução da equação diferencial, satisfazendo as condições iniciais

y(x0 ) = 1 e y 0 (x0 ) = 0

e seja y2 a solução da equação diferencial, satisfazendo as condições iniciais

y(x0 ) = 0 e y 0 (x0 ) = 1.

Então, y1 e y2 formam um conjunto fundamental de soluções da equação diferencial.

43
Exemplo 53. Encontre o conjunto fundamental de soluções especificado pelo teorema
acima para a equação diferencial y 00 − y = 0, usando o ponto inicial x0 = 0.

Encontraremos, na próxima seção, equações que têm soluções complexas. O teorema


a seguir é fundamental para tratar tais equações e suas soluções.

Teorema 9. Considere, novamente, a equação diferencial (4.14)

L[y] = y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = 0,

em que p e q são funções reais contı́nuas. Se y = u(x) + iv(x) é uma solução complexa
da equação diferencial (4.14), então suas partes real e imaginária, u e v, também, são
soluções desta equação.

Observação 6. Se y = u(x) + iv(x) é uma solução da equação (4.14), o seu conjugado


y = u(x) − iv(x) também é uma solução da equação (4.14).

Agora, vamos examinar melhor as propriedades do Wronskiano de duas soluções de


uma equação diferencial linear homogênea de segunda ordem.

Teorema 10 (Abel). Se y1 e y2 são soluções da equação diferencial (4.14)

L[y] = y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = 0,

em que p e q são contı́nuas em um intervalo aberto I, então o Wronskiano W (y1 , y2 )(x)


é dado por  Z 
W (y1 , y2 )(x) = c exp − p(x)dx ,

em que c é uma certa constante que só depende de y1 e y2 , mas não de x. Além disso,
W (y1 , y2 )(x) ou é nulo para todo x ∈ I (se c = 0) ou nunca se anula em I (se c 6= 0).

Observação 7. Note que, o Wronskiano de dois conjuntos fundamentais de soluções


quaisquer da mesma equação diferencial só podem diferir por uma constante multiplicativa
e que o Wronskiano de qualquer conjunto fundamental de soluções pode ser determinado,
a menos de uma constante multiplicativa, sem resolver a equação diferencial. Além disso,
pelo Teorema de Abel, o Wronskiano W é sempre zero ou nunca se anula.

44
Exemplo 54. Verifique o Teorema de Abel: Verificamos que y1 (x) = x1/2 e y2 (x) =
x−1 são soluções da equação

2x2 y 00 + 3xy 0 − y = 0, x > 0.

Verifique se o Wronskiano de y1 e y2 é dado como no Teorema de Abel.

4.3 Raı́zes Complexas da Equação Caracterı́stica

Continuando nossa discussão sobre a equação

ay 00 + by 0 + cy = 0, (4.20)

em que a, b, c ∈ R. Sabemos que procuramos soluções da forma y = erx , então r tem que
ser raiz da equação caracterı́stica

ax2 + bx + c = 0. (4.21)

Mostramos que, se as raı́zes r1 e r2 forem reais e distintas, o que ocorre sempre que o
discriminante for positivo, então a solução geral da equação (4.20) será

y = c1 er1 x + c2 er2 x . (4.22)

Supondo, agora, que o discriminante seja negativo. Então, as raı́zes da equação (4.21)
são números complexos conjugados, denotemo-los por

r1 = λ + iµ e r2 = λ − iµ, (4.23)

onde λ, µ ∈ R. As expressões correspondentes para y são:

y1 (x) = e(λ+iµ)x e y2 (x) = e(λ−iµ)x . (4.24)

Recordando a fórmula de Euler eix = cos x + i sen x, podemos reescrever as expressões


para y, usando:

e(λ+iµ)x = eλx eiµx = eλx (cos(µx) + i sen(µx)) = eλx cos(µx) + ieλx sen(µx) (4.25)

45
Exemplo 55. Encontre a solução geral da equação diferencial

y 00 + y 0 + 9, 25y = 0.

Encontre, também, a solução que satisfaz as condições iniciais

y(0) = 2 e y 0 (0) = 8.

Raı́zes Complexas: O Caso Geral

As funções y1 (x) e y2 (x), dadas pelas equações (4.24) e com o significado expresso
acima, são soluções da equação (4.20) quando as raı́zes da equação caracterı́stica (4.21)
são números complexos. Infelizmente, as soluções y1 e y2 são funções que assumem valores
complexos, no entanto, em geral, preferimos ter soluções reais, já que a própria equação
diferencial só tem coeficientes reais. No entanto, usando o Teorema 9, é possı́vel obter
um conjunto fundamental de soluções reais escolhendo a parte real e a parte imaginária
de y1 (x) e de y2 (x). Assim, obtemos as soluções

u(x) = eλx cos(µx) e v(x) = eλx sen(µx). (4.26)

Calculando diretamente o Wronskiano de u e v, obtemos

W (u, v)(x) = µe2λx . (4.27)

Portanto, desde que µ 6= 0, o Wronskiano W não é nulo, de modo que u e v formam um


conjunto fundamental de soluções. Consequentemente, a solução geral deste caso será

y(x) = c1 eλx cos(µx) + c2 eλx sen(µx) (4.28)

em que c1 , c2 ∈ R.

Exemplo 56. Encontre a solução geral do problema de valor inicial

16y 00 − 8y 0 + 145y = 0, y(0) = −2 e y 0 (0) = 1.

Exemplo 57. Encontre a solução geral da equação y 00 + 9y = 0.

46
4.4 Raı́zes Repetidas; Redução de Ordem

Mostramos anteriormente como resolver a equação

ay 00 + by 0 + cy = 0, (4.29)

quando as raı́zes da equação caracterı́stica

ar2 + br + c = 0, (4.30)

são reais e distintas ou complexas e conjugadas. Agora, vamos considerar a terceira


possibilidade, quando as duas raı́zes r1 e r2 são iguais. Neste caso, o discriminante é nulo.
Sendo assim,
r1 = r2 = −b/2a. (4.31)

A dificuldade é imediatamente aparente: ambas as raı́zes geram a mesma solução

y1 (x) = e−bx/2a (4.32)

da equação diferencial. E, não é nada óbvio encontrar uma segunda solução.

Exemplo 58. Resolva a equação diferencial y 00 + 4y 0 + 4y = 0.

O procedimento usado no exemplo acima pode ser estendido a uma equação geral cuja
equação caracterı́stica tenha raı́zes repetidas. Ou seja, supomos que os coeficientes da
equação caracterı́stica satisfazem b2 − 4ac = 0, neste caso

y1 (x) = e−bx/2a (4.33)

é uma solução. Para encontrar uma segunda solução, supomos qe

y(x) = v(x)y1 (x) = v(x)e−bx/2a (4.34)

e substituimos na equação (4.29) para determinar v(x). Temos,

b
y 0 (x) = v 0 (x)e−bx/2a − v(x)e−bx/2a (4.35)
2a

47
e
b b2
y 00 (x) = v 00 (x)e−bx/2a − v 0 (x)e−bx/2a + 2 v(x)e−bx/2a . (4.36)
a 4a
Então, substituindo na equação (4.29), obtemos

b2
     
b 0 b
00
a v (x) − v (x) + 2 v(x) + b v (x) − v(x) + cv(x) e−bx/2a = 0.
0
(4.37)
a 4a 2a

Consequentemente, como e−bx/2a 6= 0, temos

b2 b2
 
00 0
av (x) + (−b + b)v (x) + − + c v(x) = 0. (4.38)
4a 2a

Sendo assim, como a parcela envolvendo v 0 (x) é, claramente, nula e a parcela envolvendo
v(x) é, em virtude do discriminante ser zero, nula, temos

v 00 (x) = 0, (4.39)

logo,
v(x) = c1 + c2 x. (4.40)

Portanto,
y(x) = c1 e−bx/2a + c2 xe−bx/2a . (4.41)

Então, y é uma combinação linear das soluções

y1 (x) = e−bx/2a e y2 (x) = xe−bx/2a . (4.42)

O Wronskiano dessas duas soluções é



e−bx/2a xe−bx/2a


W (y1 , y2 )(x) = = e−bx/2a . (4.43)
 
− b e−bx/2a 1−
bx −bx/2a
e
2a 2a

Como W (y1 , y2 )(x) nunca se anula, as soluções y1 e y2 dadas pela equação (4.42) formam
um conjunto fundamental de soluções. Além disso, a equação (4.41) é a solução geral da
equação (4.29) quando as raı́zes da equação caracterı́stica são iguais.

Exemplo 59. Encontre a solução do problema de valor inicial

1
y 00 − y 0 + 0, 25y = 0, y(0) = 2, y 0 (0) = . (4.44)
3

48
Redução de Ordem

Vale a pena observar que o procedimento usando nesta seção para equações com co-
eficientes constantes é aplicável mais geralmente. Suponha que conhecemos uma solução
y1 (x), não identicamente nula, de

y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = 0. (4.45)

Para encontrar uma segunda solução, seja

y(x) = v(x)y1 (x). (4.46)

Então,
y 0 = v 0 (x)y1 (x) + v(x)y10 (x) (4.47)

e
y 00 = v 00 (x)y1 (x) + 2v 0 (x)y10 (x) + v(x)y100 (x). (4.48)

Substituindo essas expressões para y, y 0 e y 00 na equação (4.45) e juntando os termos,


encontramos
y1 v 00 + (2y10 + py1 )v 0 + (y100 + py10 + qy10 )v = 0. (4.49)

Como y1 é uma solução da equação (4.45), o coeficiente de v na equação (4.49) é zero, de


modo que a equação (4.49) fica

y1 v 00 + (2y10 + py1 )v 0 = 0. (4.50)

Por meio do método das variáveis separáveis é possı́vel obter v 0 e, consequentemente, por
integração obtemos v. Esse proceedimento é chamado de Redução de Ordem.

Exemplo 60. Dado que y1 (x) = x−1 é uma solução de

2x2 y 00 + 3xy 0 − y = 0, x > 0,

encontre um conjunto fundamental de soluções.

Exemplo 61. Sabendo-se que y1 (x) = x3 é uma solução para x2 y 00 − 6y = 0, use redução
de ordem para encontrar uma segunda solução no intervalo (0, ∞).

49
4.5 Equações Não-Homogêneas; Método dos Coefici-
entes indeterminados

Vamos retornar à equação não-homogênea

L[y] = y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = g(x), (4.51)

onde p, q e g são funções contı́nuas dadas em um intervalo aberto I. A equação

L[y] = y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = 0, (4.52)

na qual g(x) = 0 e p e q são as mesmas que na equação (4.51), é chamada de equação


homogênea associada à equação (4.51). Os dois resultados a seguir descrevem a estrutura
de soluções da equação não-homogênea (4.51) e fornecem uma base para a construção de
sua solução geral.

Teorema 11. Se Y1 e Y2 são duas soluções da equação não-homogênea (4.51), então sua
diferença Y1 − Y2 é uma solução da equação homogênea associada (4.52). Se, além disso,
y1 e y2 formarem um conjunto fundamental de soluções para a equação (4.52), então

Y1 (x) − Y2 (x) = c1 y1 (x) + c2 y2 (x), (4.53)

em que c1 e c2 são constantes determinadas.

Teorema 12. A solução geral da equação não-homogênea (4.51) pode ser escrita na forma

y = φ(x) = c1 y1 (x) + c2 y2 (x) + Y (x), (4.54)

em que y1 e y2 formam um conjunto fundamental de soluções da equação homogênea


associada (4.52), c1 e c2 são constantes arbitrárias e Y é alguma solução especı́fica da
equação não-homogênea (4.51).

O teorema acima, afirma que para resolver a equação não-homogênea (4.51), precisa-
mos fazer três coisas:

50
1. Encontrar a solução geral c1 y1 +c2 y2 da equação homogênea associada. Esta solução
é chamada, muitas vezes, de solução complementar, e pode ser denotada por yc (x).

2. Encontrar uma única solução Y (x) da equação não-homogênea. Referimo-nos a essa


solução, muitas vezes, como uma solução particular.

3. Somar as duas funções encontradas nas duas etapas precedentes.

Discutiremos dois métodos para obtenção de uma solução particular: Método dos
Coeficientes Indeterminados e o Método da Variação de Parâmetros.

O Método dos Coeficientes Indeterminados

O método dos coeficientes indeterminados (ou a determinar) requer uma hipótese ini-
cial sobre a forma da solução particular Y (x), mas com os coeficientes não especificados.
Substituı́mos, então a expressão hipotética na equação (4.51) e tentamos determinar os co-
eficientes de modo que a equação seja satisfeita. Se tivermos sucesso, teremos encontrado
uma solução da equação diferencial (4.51) e podemos usá-la como a solução particular
Y (x). Se não pudermos determinar os coeficientes, isso significa que não existe solução
da forma que supusemos. Nesse caso, temos que modificar a hipótese inicial e tentar
novamente.

A maior vantagem do método dos coeficientes indeterminados é que ele é fácil de


executar, uma vez feita a hipótese sobre a forma de Y (x). Sua maior limitação é que
é útil principalmente para equações para as quais é fácil escrever a forma correta da
solução particular antecipadamente. Por essa razão, este método só é usado, em geral,
para problemas nos quais a equação homogênea tem coeficientes constantes e o termo
não-homogêneo pertence a uma classe relativamente pequena de funções. Em particular,
consideramos apenas termos homogêneos consistindo em polinômios, exponenciais, senos
e cossenos. Apesar dessa limitação, o método dos coeficientes indeterminados é útil para
resolver muitos problemas que têm aplicações importantes.

51
Exemplo 62. Encontre uma solução particular da equação

y 00 − 3y 0 − 4y = 3e2x .

Exemplo 63. Encontre uma solução particular de

y 00 − 3y 0 − 4y = 2 sen x.

O método utilizado nos exemplos acima pode ser usado quando a expressão à direita
do sinal de igualdade é um polinômio. Assim, para encontrar uma solução particular de

y 00 − 3y 0 − 4y = 4x2 − 1, (4.55)

supomos, inicialmente, que Y (x) é um polinômio de mesmo grau que o termo não-
homogêneo, ou seja, Y (x) = Ax2 + Bx + C.

Resumindo: se o termo não-homogêneo g(x) na equação (4.51) for uma função expo-
nencial eαx , suponha que Y (x) é proporcional a essa mesma função exponencial; se g(x)
for igual a sen(βx) ou cos(βx), suponha que Y é uma combinação linear de sen(βx) e
cos(βx); se g(x) for um polinômio, suponha que Y (x) é um polinômio de mesmo grau. O
mesmo princı́pio se estende ao caso em que g(x) é um produto de quaisquer dois ou três
desses tipos de funções, como mostra o próximo exemplo.

Exemplo 64. Encontre uma solução particular de

y 00 − 3y 0 − 4y = −8ex cos(2x).

Suponha, agora, que g(x) é uma soma de dois termos, g(x) = g1 (x) + g2 (x), e suponha
que Y1 (x) e Y2 (x) são soluções das equações

ay 00 + by 0 + cy = g1 (x) e ay 00 + by 0 + cy = g2 (x),

respectivamente. Então, Y1 + Y2 é uma solução da equação

ay 00 + by 0 + cy = g(x).

52
Exemplo 65. Encontre uma solução particular de

y 00 − 3y 0 − 4y = 3e2x + 2 sen x − 8ex cos(2x).

O procedimento realizado acima nos permite resolver uma classe grande de problemas
de um modo razoavelmente eficiente. No entanto, existe uma dificuldade que ocorre às
vezes. O próximo exemplo mostra como isso acontece.

Exemplo 66. Encontre uma solução particular de

y 00 − 3y 0 − 4y = 2e−x .

Sumário. Vamos resumir as etapas envolvidas em encontrar a solução de um problema


de valor inicial consistindo em uma equação não-homogênea da forma

ay 00 + by 0 + cy = g(x),

em que os coeficientes a, b, c ∈ R, junto com um par de condições iniciais dado:

1. Encontre a solução geral da equação homogênea associada.

2. Certifique-se de que a função g(x) pertence à classe de funções discutidas nesta


seção, ou seja, não envolve outras funções além de exponenciais, senos, cossenos,
polinômios ou somas ou produtos de tais funções. Se não for esse o caso, use o
método de variação de parâmetros.

3. Se g(x) = g1 (x)+· · ·+gn (x), ou seja, se g(x) é uma soma de n parcelas, então forme n
subproblemas, cada um dos quais contendo apenas uma das parcelas g1 (x), · · · , gn (x).
O i−ésimo subproblema consiste na equação

ay 00 + by 0 + cy = gi (x),

em que i varia de 1 a n.

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4. Para o i−ésimo subproblema, suponha uma solução particular Yi (x) consistindo
na função apropriada, seja ela exponencial, seno, cosseno, polinomial ou uma com-
binação dessas. Se existir qualquer duplicidade na forma suposta de Yi (x) com as
soluções da equação homogênea, então multiplique Yi (x) por x ou (se necessário)
por x2 , de modo a remover a duplicidade.

5. Encontre uma solução particular Yi (x) para cada um dos subproblemas. Então a
soma Y1 (x) + · · · + Yn (x) será uma solução particular da equação não-homogênea.

6. Forme a soma da solução geral da equação homogênea com a solução particular da


equação não-homogênea. Essa é a solução geral da equação não-homogênea.

7. Use as condições iniciais para determinar os valores das constantes arbitrárias na


solução geral.

Exemplo 67. Encontre a solução geral para cada equação abaixo:

a) y 00 + 4y 0 − 2y = 2x2 − 3x + 6

b) y 00 − y 0 + y = 2 sen(3x)

c) y 00 − 2y 0 − 3y = 4x − 5 + 6xe2x

Exemplo 68. Resolva o problema de valor inicial

y 00 + y = 4x + 10 sen x, y(π) = 0, y 0 (π) = 2.

4.6 Variação dos Parâmetros

Exemplo 69. Encontre uma solução particular de

y 00 + 4y = 3 csc x. (4.56)

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No exemplo acima, o método de variação de parâmetros funcionou bem para deter-
minar uma solução particular e, portanto, uma solução geral para a equação diferencial
(4.56). A próxima pergunta é se esse método pode ser aplicado efetivamente a uma
equação arbitrária. Para tal, consideremos

y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = g(x), (4.57)

onde p, q e g são funções contı́nuas dadas. Como ponto de partida, vamos supor que
conhecemos a solução geral
yc (x) = c1 y1 (x) + c2 y2 (x) (4.58)

da equação homogênea associada

y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = 0. (4.59)

Lembre que, até o momento, só mostramos como resolver tal equação nos casos de coefi-
cientes constantes.

A ideia crucial, como ilustrado no exemplo acima, é substituir as constantes c1 e c2 na


equação (4.58) por funções u1 (x) e u2 (x), respectivamente. Desta forma,

y = u1 (x)y1 (x) + u2 (x)y2 (x). (4.60)

Podemos então, tentar determinar u1 (x) e u2 (x) de modo que a expressão na equação
(4.60) seja solução da equação não-homogênea (4.57), ao invés da equação homogênea
(4.59). Diferenciando a equação (4.60), obtemos

y 0 = u01 (x)y1 (x) + u1 (x)y10 (x) + u02 (x)y2 (x) + u2 (x)y20 (x). (4.61)

Como no exemplo visto, vamos igualar a zero a soma das parcelas envolvendo u01 (x) e
u02 (x) na equação (4.61), ou seja, vamos exigir que

u01 (x)y1 (x) + u02 (x)y2 (x) = 0. (4.62)

Na equação (4.61), temos

y 0 = u1 (x)y10 (x) + u2 (x)y20 (x). (4.63)

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Derivando novamente, obtemos

y 00 = u01 (x)y10 (x) + u1 (x)y100 (x) + u02 (x)y20 (x) + u2 (x)y200 (x). (4.64)

Agora, fazendo as devidas substituições e organizando a equação resultante, obtemos

u1 (x)[y100 (x)+p(x)y10 (x)+q(x)y1 (x)]+u2 (x)[y200 (x)+p(x)y20 (x)+q(x)y2 (x)]+u01 (x)y10 (x)+u02 (x)y20 (x) = g(x).
(4.65)
Cada uma das expressões acima entre colchetes é nula, pois ambas as funções y1 e y2 são
soluções da equação homogênea. Portanto, a equação acima, se reduz a

u01 (x)y10 (x) + u02 (x)y20 (x) = g(x). (4.66)

As equações (4.62) e (4.66) formam um sistema de duas equações lineares algébricas para
as derivadas u01 (x) e u02 (x) das funções desconhecidas.

Resolvendo o sistema (4.62)-(4.66), obtemos


y2 (x)g(x) y1 (x)g(x)
u01 (x) = − e u02 (x) = . (4.67)
W (y1 , y2 )(x) W (y1 , y2 )(x)
Note que a divisão por W é permitida, visto que y1 e y2 formam um conjunto fundamental
de soluções e, portanto, seu Wronskiano não se anula. Integrando as equações (4.67),
encontramos as funções desejadas u1 (x) e u2 (x), a saber,
Z Z
y2 (x)g(x) y1 (x)g(x)
u1 (x) = − + c1 e u2 (x) = dx + c2 . (4.68)
W (y1 , y2 )(x) W (y1 , y2 )(x)

Temos assim, o teorema:

Teorema 13. Se as funções p, q e g forem contı́nuas em um intervalo aberto I e se as


funções y1 e y2 formarem um conjunto fundamental de soluções da equação homogênea
(4.59) associada à equação não-homogênea (4.57)

y 00 + p(x)y 0 + q(x)y = g(x),

então uma solução particular da equação (4.57) é


Z x Z x
y2 (s)g(s) y1 (s)g(s)
Y (x) = −y1 (x) ds + y2 (x) ds, (4.69)
x0 W (y1 , y2 )(s) x0 W (y1 , y2 )(s)

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em que x0 é qualquer ponto escolhido convenientemente em I. A solução geral é

y(x) = c1 y1 (x) + c2 y2 (x) + Y (x). (4.70)

Exemplos 14. Encontre a solução geral das equações abaixo, utilizando o método da
variação de parâmetros e o método dos coeficientes indeterminados.

a) y 00 − 5y 0 + 6y = 2ex

b) y 00 + 2y 0 + y = 3e−x

Exemplos 15. Encontre a solução geral da equação diferencial dada.

a) y 00 + y = tg x, x ∈ (0, π/2)

b) y 00 + 4y 0 + 4y = x−2 e−2x , x > 0

4.7 Uma Equação com Coeficientes Não-Constantes

Equação de Euler

Uma equação diferencial com coeficientes não-constantes, relativamente simples é

L[y] = x2 y 00 + αxy 0 + βy = 0, (4.71)

onde α, β ∈ R. Tal equação é chamada Equação de Euler. Por conveniência, vamos


considerar primeiro o caso x > 0 e, mais adiante, o caso x < 0.

Note que, supondo que a equação de Euler tem uma solução da forma

y = xr , (4.72)

obtemos
L[xr ] = xr [r(r − 1) + αr + β] = 0. (4.73)

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Como x > 0, temos que r é raiz da equação de segundo grau

F (r) = r(r − 1) + αr + β. (4.74)

Assim como no caso de equações diferenciais lineares de segunda ordem com coeficientes
constantes, é necessário considerar separadamente os casos nos quais as raı́zes são reais
e diferentes, reais e iguais, ou complexas conjugadas. De fato, o estudo sobre equações
de Euler é semelhante ao estudo que fizemos de equações diferenciais lineares de segunda
ordem com coeficientes constantes, com erx substituı́do por xr .

Raı́zes Reais e Distintas

Se F (r) = 0 tem raı́zes r1 e r2 com r1 6= r2 , então y1 (x) = xr1 e y2 (x) = xr2 são
soluções da equação de Euler. Como

W (xr1 , xr2 ) 6= 0

segue que, a solução geral da equação é

y = c1 x r 1 + c2 x r 2 , x > 0. (4.75)

Exemplo 70. Resolva a equação diferencial

2x2 y 00 + 3xy 0 − y = 0, x > 0.

Raı́zes Iguais

Se F (r) = 0 tem duas raı́zes iguais r = r1 = r2 , obtemos apenas uma solução y1 (x) =
xr . Usando o método de redução de ordem, temos que a segunda solução é dada por
y2 (x) = xr ln x. Como
W (xr , xr ln x) 6= 0

segue que, a solução geral da equação é

y = (c1 + c2 ln x)xr , x > 0.

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Exemplo 71. Resolva a equação diferencial

x2 y 00 + 5xy 0 + 4y = 0, x > 0.

Raı́zes Complexas

Se F (r) = 0 tem raı́zes r1 e r2 complexas conjugadas, digamos r1 = λ+iµ e r2 = λ−iµ,


onde µ 6= 0. Temos que, por argumento análogo ao caso com coeficientes constantes,
y1 (x) = xλ cos(µ ln x) e y2 (x) = xλ sen(µ ln x). Como

W (xλ cos(µ ln x), xλ sen(µ ln x)) 6= 0

segue que, a solução geral da equação é

y = c1 xλ cos(µ ln x) + c2 xλ sen(µ ln x), x > 0.

Exemplo 72. Resolva a equação diferencial

x2 y 00 + xy 0 + y = 0, x > 0.

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Capı́tulo 5

Aplicações das Equações Diferenciais


de Segunda Ordem

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