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INTRODUÇÃO
Não são poucas as dúvidas e incerteza existentes na comunidade esportiva quando o assunto
é Justiça Desportiva e a efetiva Prática Desportiva (formal e não-formal), em especial no âmbito das
entidades de administração do desporto (EADs) e mesmo da Administração Pública, muitas vezes
dando origem a equívocos de interpretação acerca de sua conformação legal constitucional e
infraconstitucional (adequação à lei), com reflexos diretos sobre o alcance (destinatários) do Código
Brasileiro de Justiça Desportiva – CBJD.
Tal insegurança se dá, inicialmente, em razão da Lei 9.615/98 (também conhecida como Lei
Pelé ou Lei Geral Sobre Desporto – LGSD), não estabelecer de forma expressa qual a relação entre
prática desportiva formal e não-formal, prevista na Constituição Federal (art. 217) e os conceitos de
desporto educacional, de participação e de rendimento (art. 3º da LGSD), decorrendo deste fato
uma série de conseqüências.
Neste sentido, nas linhas que seguem, enfrentamos tormentosa questão, que tem levado
muitos a graves enganos, salvo melhor juízo.
Todo desenvolvimento deste estudo terá referência em situações verificadas na comunidade
esportiva e sua correspondência com a legislação em vigor, que por sua vez será analisada de forma
didática e integrada, buscando extrair seu melhor sentido, para ao final alcançar uma interpretação
correta de seus verdadeiros desígnios.
Prática desportiva formal: (art. 1º, § 1o): “A prática desportiva formal é regulada por
normas nacionais e internacionais e pelas regras de prática desportiva de cada modalidade,
aceitas pelas respectivas entidades nacionais de administração do desporto”.
Desporto educacional (art. 3º, I): “Praticado nos sistemas de ensino e em formas
assistemáticas de educação, evitando-se a seletividade, a hipercompetitividade de seus
praticantes, com a finalidade de alcançar o desenvolvimento integral do indivíduo e a sua
formação para o exercício da cidadania e a prática do lazer”;
Desporto de rendimento (art. 3º, III): “Praticado segundo normas gerais desta Lei e regras
de prática desportiva, nacionais e internacionais, com a finalidade de obter resultados e
integrar pessoas e comunidades do País e estas com as de outras nações”.
Parágrafo único - O desporto de rendimento pode ser organizado e praticado: I - de modo
profissional, caracterizado pela remuneração pactuada em contrato formal de trabalho entre
o atleta e a entidade de prática desportiva; II - de modo não-profissional, identificado pela
liberdade de prática e pela inexistência de contrato de trabalho, sendo permitido o
recebimento de incentivos materiais e de patrocínio.
INTEGRAÇÃO DA LEI
Com base nestes elementos e numa perspectiva de integração da LGSD, evidenciam-se
relações lógicas, diretas e objetivas, estabelecendo conexões entre a prática desportiva e sua
natureza e finalidade, que permitem concluir, com segurança:
DESPORTO DE
PRÁTICA DESPORTIVA RENDIMENTO
FORMAL
Praticado segundo regras de prática desportiva,
Regulada por normas nacionais e
nacionais e internacionais, com a finalidade de
internacionais e pelas regras de
obter resultados.
prática desportiva.
DESPORTO DE
PARTICIPAÇÃO
PRÁTICA DESPORTIVA Voluntário, com finalidade de integração social,
NÃO-FORMAL saúde e educação.
DESPORTO
Caracterizada pela liberdade lúdica EDUCACIONAL
de seus praticantes. Evita-se a seletividade e hipercompetitividade,
tem finalidade de desenvolvimento, cidadania e
lazer.
Neste mesmo contexto, ficam patentes as incompatibilidades em sentido contrário, não
havendo como admitir o desporto de participação/educacional como sendo uma prática desportiva
formal, assim como o desporto de rendimento como sendo uma prática desportiva não-formal, pelo
que, podemos estabelecer o seguinte quadro.
DESPORTO
NACIONAL
PRÁTICA PRÁTICA
FORMAL NÃO-FORMAL
Modo Modo
Profissional Não-Profissional
Ministério do Esporte
Diante desses comandos, a legislação que regula a Justiça Desportiva é a própria Lei
9.615/98 (Capítulo VII, arts. 49 a 55), configurando-se, pois, como a Lei Geral Sobre Desporto e
Justiça Desportiva.
LGSD, art. 91 – Até a edição dos Códigos de Justiça dos Desportos Profissionais e Não-
Profissionais continuam em vigor os atuais Códigos, com as alterações constantes desta lei.
CBJD, art. 287 - Ficam revogadas as Portarias MEC nº 702, de 17 de dezembro de 1981;
nº 25 de 24 de janeiro de 198; nº 328, de 12 de maio de 1987; relativas ao Código
Brasileiro Disciplinar de Futebol (CBDF); Portarias MEC nº 629, de 2 de setembro de
1986; nº 877, de 23 de dezembro de 1986, relativas ao Código Brasileiro de Justiça e
Disciplina Desportivas (CBJDD), e as Resoluções de Diretoria das entidades de
administração do desporto que se tenham incorporado às Portarias ora revogadas, e
demais disposições em contrário. (grifo nosso)
Reforçamos que o CBJD foi instituído em razão da prática desportiva formal (desporto de
rendimento / praticado de modo profissional e não-profissional), que por sua vez foi estruturado
dentro do Sistema Nacional do Desporto (SND), configurando-se, assim, como uma questão de
ordem nacional, atraindo a competência de sua aprovação pelo Conselho Nacional do Esporte –
CNE.
Destinatários do CBJD
LGSD, art. 51 – O disposto nesta lei sobre Justiça Desportiva não se aplica ao Comitê
Olímpico e Paraolímpico Brasileiros.
Enfim, não temos a submissão ao CBJD por via dos incs. I e II e menos ainda por sua
conjugação com o inc. VI.
Neste ponto cumpre observar que as Ligas Municipais e Intermunicipais, apesar de não
estarem expressamente previstas na LGSD, devem ser consideradas como submetidas ao CBJD
quando forem direta ou indiretamente filiadas ou vinculadas à respectiva entidade nacional/regional
de administração do desporto, por força da parte final do art. 1º do CBJD.
- Entidades de prática desportiva filiadas ou não* àquelas referidas nos incisos anteriores (VI):
Identificadas pelo art. 16 da LGSD, são os clubes, associações, agremiações e afins,
reguladas por normas de direito civil (associação) ou comercial (clube-empresa).
* Quanto a expressão “filiadas ou não”, entendemos que deva ser compreendida no sentido
de que, independente de filiação, a simples participação em competição promovida pelas entidades
nacionais/regionais de administração do desporto, vincula ao CBJD, ou seja, abarca as competições
abertas a não-filiados.
Insubmissão ao CBJD
Cabe registrar que, no caso de entidades que estejam submetidas ao CBJD e que, seja qual
for o motivo, se utilizem de outro Código para julgar os casos afins, certamente estarão agindo fora
dos limites da lei (produzindo decisões nulas, apesar de, em geral, serem cumpridas
voluntariamente), ou seja, sujeitas a serem desconstituídas por via da Justiça Comum.
Por sua vez, os demais comandos da Lei para Justiça Desportiva são de ordem específica,
dirigidos ao COB e CPOB (art. 51) e às entidades de administração do desporto (stricto sensu), (§
4º do art. 50 e arts. 52 a 55), pelo que, não submetem a prática desportiva não-formal, podendo, no
máximo, servir de paradigma.
Nestas circunstâncias o que se conclui (e se observa no dia-a-dia) é que a prática desportiva
não-formal, considerada sua liberdade lúdica, não foi submetida - pelo CNE - a uma codificação
específica, até porque seria temeroso fazê-lo diante da diversidade das manifestações neste sentido,
que assumem diferentes contornos nas diversas regiões do País, face aos numerosos hábitos e a
pluralidade cultural de nosso povo, ou seja, sua codificação seria inoportuna, podendo inclusive
inviabilizar a prática e o pleno exercício da liberdade lúdica que a caracteriza.
Sendo assim, resta compreender que, quando se fizer necessária e de acordo com sua
magnitude, objetivos e realidade organizacional, deverão os responsáveis pela prática não-formal,
seja ela uma iniciativa pública ou privada, adotar uma configuração de Justiça Desportiva adequada
aos comandos do art. 217 e seus parágrafos da Constituição Federal e aos arts. 49 e 50 da Lei
9.615/98, fazendo-o através de Códigos Desportivos próprios, sempre primando pela absoluta
transparência nas suas decisões (como não poderia deixar de ser).
Não obstante, atente-se para o fato, deverão atuar com absoluto respeito aos direitos e
garantias fundamentais (ampla defesa, contraditório, devido processo legal, etc.), conforme o art. 5º
da Constituição Federal.
Tudo isso sob pena de nulidade de suas decisões, por via de declaração do Poder Judiciário
(quando provocado neste sentido), ou seja, a Justiça Desportiva não deve ser utilizada com excesso
de autoridade, abuso de poder, violação a direitos e garantias fundamentais ou com finalidade de
qualquer tipo de perseguição. A Justiça Desportiva existe para garantir tão somente a viabilidade, a
paz e a moralidade no desporto, seja ele de prática formal ou não-formal.
Liberdade para elaborar e aprovar Códigos de Justiça Desportiva para a prática não-
formal
Setor Público:
Na esfera da Administração Pública o que se tem visto é que algumas Leis Estaduais e
Municipais que constituem Sistemas próprios a fim de integrar o Sistema Brasileiro do Desporto,
atendendo ao disposto na LGSD (art. 25 e parágrafo único), conferem atribuição para seus
respectivos Conselhos aprovarem referidos Códigos no âmbito de suas competições, configurando-
se, diga-se de passagem, na melhor técnica legislativa.
Outras vezes sequer Leis Estaduais e Municipais são instituídas neste sentido, sendo os
Códigos baixados por decreto, resolução, portaria ou até mesmo, pura e simplesmente, por sua
publicação em órgão oficial (Diário Oficial), subsumindo competência e legalidade no poder geral
da Autoridade Pública para praticar ato administrativo de gestão com finalidade normativa.
O certo é que temos intensa atividade desportiva competitiva promovida por entidades e
órgãos públicos, cujos respectivos Códigos de Justiça Desportiva – além de observar as condições
gerais da CF/88 e LGSD - também deverão conter respeito aos princípios constitucionais que
vinculam a atividade da administração pública (CF/88, art. 37), assim como seus demais princípios
implícitos (de construção doutrinária).
Nesta direção podemos apontar como exemplo de entidades e órgãos: o Governo Federal
(através do Ministério do Esporte), os Governos Estaduais, Municipais e do Distrito Federal
(através das Secretarias, Diretorias, Departamentos, Divisões ou Seções de Esporte) e as Fundações
Públicas com finalidade desportiva.
Já como exemplo de codificação da Justiça Desportiva elaborados sob esta ótica, podemos
citar:
Código Nacional de Organização da Justiça e Disciplina Desportiva (CNOJDD): Trata-
se de um código elaborado para regular a organização da Justiça Desportiva, o Processo e
as medidas disciplinares relativas aos eventos sob a organização, coordenação e/ou
supervisão do Ministério do Esporte e Turismo (MET) / Secretaria Nacional de Esporte
(SNE), do Governo Federal, submetendo quem deles participe de forma direta ou indireta.
Obs. Dadas suas peculiaridades com o Setor Público, é recomendada – e inclusive sugerida
pelos seus autores – sua adoção por Governos Estaduais e Municipais. Para conhecer o
CNOJDD visite o site http://www.portaldodireitodesportivo.com.br.
Setor Privado:
De forma semelhante o Setor Privado, em especial as EADs lato sensu, instituem Códigos
de Justiça Desportiva por conta e iniciativa própria, seguindo seus Estatutos ou por meio de
Assembléias, Congressos Técnicos ou Conselhos Arbitrais, tendo como fundamento de legalidade a
autonomia de gestão e a liberdade da prática não-formal.
Integram este universo, além das EADs “lato sensu”, também as Federações e Ligas não
filiadas/vinculadas à respectiva EADs “stricto sensu” (também conhecidas como Federações e
Ligas independentes ou “amadoras”), além de Grêmios, Associações Estudantis, Atléticas,
Sindicatos de Clubes, Clubes Sociais, Esportivos e Recreativos etc.
O problema é que muitas vezes, tanto o setor público como o privado, ou não observam os
termos da CF/88 e LGSD para Justiça Desportiva – elaborando códigos ao arrepio destas – ou,
inversamente, entendem que estão completamente submetidos aos seus ditames, encontrando
dificuldades em elaborar um Código adequado à sua realidade organizacional.
Anote-se ainda que não se trata de matéria afeta à aprovação pelo Conselho Nacional do
Esporte (como no caso do CBJD), visto tratar-se de assunto de interesse local (setor público) e
matéria “interna corporis” (setor privado).
O que se quer dizer é que, nestas circunstâncias, levada a questão ao Poder Judiciário,
poderá o Juízo convencer-se pela validade dos atos praticados por configuração do costume
(mantendo seus efeitos) ou da sua ilegalidade em razão da insegurança na adoção do CBJD e/ou da
insubmissão aos seus preceitos (declarando nula eventuais penas aplicadas).
Anote-se que no primeiro caso, como existe uma crença ou convicção de que o CBJD é o
instrumento legal, válido e aplicável, suas normas haverão de ser rigorosamente obedecidas
(submissão total). Já no segundo caso, pelo conhecimento da destinação original do CBJD, podem
aqueles que por deliberação o elegerem - ou por adesão o aceitarem - como instrumento eficaz de
Justiça Desportiva, também decidir (na eleição) ou acatar (na adesão) pela mitigação de
determinados comandos (submissão parcial), em especial os incompatíveis com sua realidade (ex:
composição dos órgãos judicantes), registrando os ajustes em documento próprio (ata ou
regulamento).
CONCLUSÃO
É oportuno que nas discussões do Projeto de Lei que tramita pelo Congresso Nacional sobre
o Estatuto do Desporto (legislação que pretende substituir a em análise e consolidar a matéria)
sejam abordadas as questões levantadas, para que o texto da nova lei confira a clareza necessária
para que os responsáveis pela prática desportiva, seja ela formal ou não-formal, possam agir com
maior segurança e adotar procedimentos adequados para a Justiça Desportiva.
Urge estabelecer uma relação expressa entre a prática desportiva (formal e não-formal) e sua
natureza e finalidade, evitando interpretações equivocadas.
A conceituação de entidade de administração do desporto precisa ser melhor delineada,
detalhada, ainda que redundante, evitando incursões no Sistema Nacional do Desporto (SND) de
entidades que não lhe são afetas, o que certamente não ocorre por má-fé, mas pela interpretação que
se permite fazer da lei nos termos em que se encontra atualmente, ou que se estabeleça algum
mecanismo visando a correta identificação das entidades que realmente integram o SND
(certificação), afastando as indevidas e aproximando as originais, em especial as menos articuladas,
para que assim possam efetivamente adequar sua Justiça Desportiva, fortalecendo-a, dando-lhe a
necessária unicidade e padronização de procedimentos, consolidando os comandos da Lei e da
Constituição Federal, conferindo plena coesão e evitando a insubmissão ao CBJD.
É preciso que o Conselho Nacional do Esporte manifeste seu entendimento acerca da Justiça
Desportiva para a prática não formal, mesmo que seja para dizer o óbvio (arrimo na liberdade e
autonomia, com respeito a CF/88 e a LGSD no que couber), pois se trata de uma questão desportiva
de interesse nacional que tem suscitado dúvidas e incertezas, zelando assim pela correta aplicação
dos princípios e preceitos da Lei 9.615/98, visto que estas são atribuições que lhes cabem (LGSD,
art. 11, inc. I e III), pacificando a matéria e permitindo uma ação mais consistente, efetiva e
orientada àqueles que têm a missão de instituí-la no âmbito da Administração Pública e das EADs
“lato sensu”.
É um erro compreender o desporto de participação como sendo uma “pelada” de fim de
semana entre amigos ou qualquer outra manifestação simples e isolada de um grupo de pessoas.
Sendo o desporto de rendimento praticado em um sistema determinado (Sistema Nacional do
Desporto), todas as demais atividades hão de conformar-se como tal (à exceção das caracterizadas
como desporto educacional), e dentre elas existem competições de diferentes tipos, tamanhos e
formas, sendo a expressão máxima do esporte como um direito social de cada um, e que de certa
maneira constitui a base de lançamento de atletas para o desporto de rendimento e, por que não, de
reabsorção, quando do encerramento de suas atividades de rendimento, através da participação em
competições denominadas “amadoras”, especiais, abertas, para veteranos, quarentões, terceira
idade, dentre outras, e isto é uma realidade.
É plenamente adequada a conceituação do “desporto de participação”, pois é isto mesmo que
ele é: comum, compartilhado, genérico, abrangente, permissivo, livre e dirigido à coletividade.
Modificar sua conceituação para Desporto de Lazer, como se observam algumas proposições neste
sentido, constitui-se em um grande equívoco, pois remete a um entendimento de uma prática
desportiva desprovida de qualquer regulamentação, executada pura e simplesmente por deleite ou
recreação, situação que não corresponde com a realidade dos fatos. Até poderia se admitir o
desporto de lazer como uma quarta classificação de sua manifestação, natureza e finalidade,
constituindo um avanço, inclusive para melhor interpretação do desporto de participação.
Na esperança de ter contribuído, de alguma forma, no debate dos temas ligados à Justiça
Desportiva e à Prática Desportiva, finalizo minhas colocações.