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AVALIAÇÃO DAS
APRENDIZAGENS E FORMAÇÃO
DE PROFESSORES – EDUCAÇÃO
DE JOVENS E ADULTOS
Cláudia Lemos Vóvio
137
Diagnosticar o que sabem
○
○
○
os jovens e os adultos:
○
○
○
ponto de partida para a
○
○
○
aprendizagem*
○
○
○
○
○
Cláudia Lemos Vóvio
○
○
Ação Educativa/SP
○
○
○
○
○
O presente artigo tem como objetivo discu- buscando explicações e generalizações sobre as
○
○
tir a relevância e as diferentes dimensões do diferenças interculturais nos processos de pen-
○
○
aos usos que o educador pode fazer de indica- outro fator, promove transformações no pensa-
○
○
sistematização dessas informações para guiar frentar as tarefas propostas nas investigações
○
Nas sociedades ocidentais, urbanas e burocra- é a de como sujeitos pouco ou não escolarizados
○
○
tizadas, a escola tem como função a transmissão pertencentes a sociedades letradas operam
○
truída, preparando os indivíduos para o com- des letradas, com situações nas quais a lingua-
○
○
partilhamento de práticas sociais valorizadas. A gem escrita é central. Nesse convívio, esses su-
○
○
linguagem escrita, os conhecimentos científicos jeitos tomam a linguagem escrita como objeto,
○
e o modo como são produzidos são os conteúdos refletindo sobre suas características e funciona-
○
○
mais relevantes de que se ocupa a escola, promo- mento, criam representações sobre sua função
○
○
vendo, dessa forma, o acesso dos indivíduos à social e elaboram estratégias e respostas às de-
○
○
cultura da qual fazem parte. Pode-se afirmar que mandas que essas práticas propõem.
○
guagem escrita, além de serem elementos centrais 15 anos ou mais são considerados analfabetos
○
○
na socialização dos indivíduos, promovem a aqui- (IBGE, 1996), e 32,24% freqüentaram menos de
○
○
sição de um conjunto de conhecimentos, de ins- quatro anos de escola (IBGE, 1997). De modo
○
trumentos e de habilidades de pensamento que geral, pode-se afirmar que essa parcela substan-
○
○
condicionam a participação plena na sociedade cial da população não teve acesso aos modos
○
○
tudo comparativo entre sociedades letradas e edade da qual faz parte e, em conseqüência, de
○
○
* Relato de Experiência. Tema: Avaliação das aprendizagens dos alunos e a formação de professores.
○
○
1
Ver Luria (1990) que realizou, na década de 1930, uma pesquisa empírica com camponeses da Ásia Central. A constatação, originária
○
dessa e de outras investigações, de que a alfabetização e a escolarização são responsáveis pelo desenvolvimento de processos cognitivos
○
○
abriu um campo estimulante para o estudo da mente humana. Ver também os trabalhos de Goody e Watt (1968), Goody (1987), Ong (apud
○
Ribeiro, 1998), Olson (1995), Street (1984), Scribner e Cole (apud Werstch, 1988).
○
138
PAINEL 12
Avaliação das aprendizagens e formação de professores – EJA
○
das sociedades modernas. Como conseqüência,
○
jovens e adultos pouco ou não escolarizados, tabelecer formas do fazer docente adequadas
○
○
mesmo se encontrando imersos em situações às especificidades dessa modalidade de ensino
○
○
nas quais a linguagem escrita é central, esta- e público atendido.
○
riam alijados dessas práticas culturais, diferen- Os jovens e os adultos, antes mesmo de in-
○
○
temente daqueles que passaram pelo processo gressarem na escola, possuem uma série de co-
○
○
de escolarização. nhecimentos, pontos de vista, procedimentos,
○
crenças e valores, que se relacionam tanto di- 139
○
Pesquisas realizadas por Oliveira (1995 e
○
1998) têm trazido importantes insumos para a retamente como indiretamente ao que apren-
○
○
compreensão das diferenças no modo de ope- derão na escola. A consideração de que jovens
○
○
ração cognitiva de sujeitos não ou pouco e adultos são portadores de cultura e dominam
○
escolarizados, pertencentes a sociedades letra- uma série de conhecimentos, habilidades, pro-
○
○
das. A autora afirma que jovens e adultos ex- cedimentos e representações sobre a lingua-
○
○
cluídos do processo de escolarização, portanto gem escrita e outros domínios do conhecimen-
○
○
do compartilhamento de práticas culturais so- to não é nova para muitos professores e pes-
○
cialmente valorizadas, apresentariam diferen- quisadores, mas suas implicações para as prá-
○
○
ças na maneira como realizam operações ticas que se estabelecem em salas de aula são
○
○
cognitivas quando comparados aos modos ti- ainda pouco sistematizadas. A razão para co-
○
○
picamente letrados de pensamento. Oliveira nhecer o que eles já sabem se deve à consta-
○
(1995) aponta para a dificuldade de esses su- tação de que as pessoas quando deparam com
○
○
jeitos operarem com categorias genéricas e com determinada situação mobilizam aquilo que já
○
○
problemas cujas informações fogem ao contex- sabem para enfrentá-la. Quando uma pessoa
○
etapas envolvidas num processo. Indica tam- aproximação ao novo e condicionam, inicial-
○
○
bém que, para além da escola, outras ativida- mente, o que utilizar e como fazer para apren-
○
des desenvolvidas pelas pessoas poderiam con- der. Além de permitir esse contato inicial com
○
○
em movimentos sociais e sindicais ou, ainda, ção de novos significados e sentidos para o que
○
concreta das pessoas, que promovam a refle- Há muito por descobrir sobre como esses
○
○
pessoas não ou pouco escolarizadas operam aprender algo novo e como tomá-los como re-
○
○
municativas pode oferecer importantes infor- nos de ensino. Esforços devem ser empreendi-
○
○
mações para que se possa compreender e ex- dos no sentido de explicar como jovens e adul-
○
elas usam, distintos daqueles mecanismos uti- suas teorias e crenças em diferentes campos do
○
○
lizados por pessoas que passaram pelo proces- conhecimento. Para o professor, esse é um cam-
○
○
minam a escrita e dela fazem uso. No caso da fazer, referindo-se basicamente a uma etapa do
○
○
○
○
aprender, os instrumentos e as habilidades de
○
ou inicial: o que é e para
○
que dispõem e sua bagagem de conhecimentos
○
que serve?
○
prévios. Uma avaliação diagnóstica ou inicial é
○
essencial para que se tome conhecimento do
○
Durante muito tempo, a avaliação restringiu-
○
que os alunos já sabem, quais procedimentos
○
se ao levantamento de informações sobre os re-
○
dominam, que atitudes os predispõem ou in-
○
sultados de aprendizagem obtidos pelos alunos,
○
dispõem para realizar a aprendizagem do con-
que eram tidos como únicos responsáveis pelo
○
teúdo em pauta. Tendo essas informações, o
○
sucesso ou pelo fracasso escolar. Hoje, sabe-se
○
educador pode ajustar seu plano de interven-
○
que o ato de avaliar pode servir a outros fins que
○
ção pedagógica, adequando-o às condições em
○
não se restringem apenas a saber se o aluno al-
que seus alunos se encontram.
○
cançou ou não certos objetivos de aprendiza-
○
○
gem. A avaliação engloba diferentes sujeitos e
○
objetos e possui diversas funções, especialmen- ○
○
○
A disposição dos educandos
te quando é concebida como um elemento do
para aprender
○
dores. Assim, devemos considerar que a avalia- como abordam a situação de aprendizagem é,
○
○
ção tem de focalizar tanto o processo de apren- em muitos casos, previsível e pode ser explicada
○
○
dizagem quanto o tipo de ensino que se pro- por inúmeros fatores de tipo pessoal e social. A
○
competências (capacidades, habilidades e ati- safios, sua capacidade de pedir, receber e ofe-
○
ensino planejado e executado, de suas expec- temos fatores sociais, tão importantes de serem
○
adequação dos conteúdos e das estratégias di- as condições de vida e sociabilidade dos
○
○
dáticas. Nessa perspectiva, a avaliação se pres- educandos nos dá pistas para planejar situações
○
○
to e à verificação de sua adequação às necessi- lazer e a produção cultural, entre outros, são
○
○
do apenas no final de alguma etapa do proces- Além desses, outros elementos, como a re-
○
○
so de ensino e aprendizagem. Na realidade, a presentação inicial dos alunos sobre seu pro-
○
○
avaliação só terá um valor educativo para o alu- fessor e seus colegas, sobre o conteúdo e a ta-
○
no e para o educador se for encarada como pro- refa propostos (e seu interesse por ela) também
○
○
cessual, que integra a prática educativa do iní- influem diretamente no modo como se posicio-
○
○
cio ao fim. O ponto de partida para a aprendi- nam diante da aprendizagem e no sentido que
○
○
140
PAINEL 12
Avaliação das aprendizagens e formação de professores – EJA
Para levantar informações desse tipo, é pre- colarização, pode-se consultar documentos
○
○
ciso saber dialogar, ouvir e observar os educan- como:
○
○
dos – pressupõe uma postura investigativa por • os Referenciais Curriculares dos ciclos
○
○
parte do professor. É preciso se deixar levar pela anteriores, verificando quais competências
○
curiosidade de saber quem são, de ouvir suas estavam previstas para serem desenvolvidas
○
○
histórias de vida, de identificar os desafios que pelos alunos;
○
○
enfrentam cotidianamente, e prestar atenção ao • os planos de ensino e os registros de ativida-
○
que dizem, de observar como e por que se mo- 141
○
des dos professores que acompanharam seu
○
bilizam. Entrevistas individuais e em grupos, grupo numa série anterior;
○
○
dinâmicas de apresentação, fichas de apresen-
○
• os resultados de determinadas atividades ela-
○
tação feitas pelos alunos, produções de textos boradas pelos alunos, como relatórios de pes-
○
podem ser bons instrumentos para identificar
○
quisa, produções textuais, trabalhos de final
○
as condições de vida e a disposição para apren- de curso, provas finais, entre outros materiais;
○
○
der dos educandos.
○
• os dossiês de alunos, relatórios ou boletins,
○
nos quais se possa identificar seu desempe-
○
Os instrumentos, as
○
nho diante de situações de aprendizagem;
○
○
estratégias e as habilidades ○
○
• os livros didáticos utilizados em séries ante-
riores.
para aprender
○
○
○
○
habilidades gerais, que colocam em jogo dian- Os jovens e os adultos, antes mesmo de in-
○
○
des cognitivas são ferramentas do pensamen- nhecimentos, pontos de vista, crenças e valo-
○
to, como a capacidade de abstrair, generalizar, res, que se relacionam tanto direta como indi-
○
○
pensar sobre o próprio pensamento, planejar retamente ao que aprenderão na escola. Esses
○
○
etapas para desenvolver determinada ativida- conhecimentos são construídos nas experiên-
○
○
de, controlar e avaliar o próprio processo de cias de vida e de trabalho, sendo gerados como
○
Além dessas capacidades, contam ainda nam para o contexto em que foram desenvolvi-
○
○
com instrumentos, como a linguagem escrita e dos, mas não são generalizáveis e, muitas ve-
○
○
a representação numérica, e com habilidades, zes, não são representados segundo normas e
○
riências anteriores na escola, como tomar me- Além de permitir o contato inicial com um
○
○
didas, prever e planejar ações, tomar notas, su- novo conteúdo, esses conhecimentos prévios
○
○
blinhar, resumir, ter estratégias para pesquisar, são os fundamentos da construção de novos sig-
○
e habilidades possuem é também um fator de- to mais relações o aluno for capaz de estabele-
○
dizagem. Trata-se de saber se dispõem das fer- que lhe é apresentado como objeto de aprendi-
○
○
de planejada. Os próprios alunos são fontes fun- O ponto de partida para novas aprendiza-
○
dispõem e aqueles que o professor precisa de- alunos. Sempre que se inicia uma nova apren-
○
○
senvolver para que realizem determinada tare- dizagem, é preciso saber o que os alunos já sa-
○
○
fa. No caso de esses educandos terem passado bem e partir dessas constatações para regular
○
○
alfabetização na escola. In: KLEIMAN, A. B. (Org.). Os
○
diminuído, que recursos poderão colaborar significados do letramento: uma nova perspectiva so-
○
○
bre a prática social da escrita. Campinas: Mercado das
para a aprendizagem (textos, imagens, gráficos,
○
Letras, 1995. p. 7-61.
○
filmes etc.), entre outras ações.
OLIVEIRA, M. K. Processos cognitivos em situações da vida
○
O professor pode adotar dois critérios bási-
○
diária: um estudo etnográfico sobre migrantes urbanos.
○
cos para identificar os conhecimentos prévios Palo Alto – EUA: Universidade de Stanford, 1982.
○
○
dos educandos: . Letramento, cultura e modalidades de pen-
○
• as competências que se quer desenvolver e os samento. In: KLEIMAN, Angela B. (Org.). Os significa-
○
○
conteúdos a serem aprendidos, ou seja, o que dos do letramento: uma nova perspectiva sobre a práti-
○
ca social da escrita. Campinas: Mercado das Letras,
○
os alunos precisam para poder entrar em con-
○
1995. p. 147-160.
tato, desenvolver e atribuir significado inicial
○
. Escolarização e organização do pensamen-
○
ao que se pretende que eles aprendam;
○
to. Revista Brasileira de Educação , São Paulo, (3): 97-
○
• os objetivos da aprendizagem, isto é, o que se 102, set./dez. 1996.
○
○
quer que os alunos aprendam sobre esses con- . Organização conceitual em adultos pouco
teúdos. ○
○
○ escolarizados. In: OLIVEIRA, M. K.; OLIVEIRA, M. B.
(Orgs.). Investigações cognitivas : conceitos, linguagem
○
mentos, delinear estratégias e criar mecanismos Investigações cognitivas : conceitos, linguagem e cultu-
○
○
de registros mediante os quais se identifiquem ra. Porto Alegre: Artmed, 1999, p. 55-64.
○
a disposição dos educandos para aprender; as OLSON, D. R.; TORRANCE, N. et al. Educação e desenvol-
○
○
o que se passa dentro de suas cabeças, o que TULVISTE, P. The cultural-historical development of verbal
○
sabem, o que desejam, o que os motiva para thinking. New York: Nova Science, 1991.
○
○
p. 114-142.
○
Educativa/MEC, 1999.
○
○
COLL, C. et al. O construtivismo na sala de aula. São Pau- VÓVIO, C. L.; JOIA, O. Alfabetização de jovens e adultos :
○
the written and the oral. Cambridge: Cambr idge VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo:
○
○
IBGE. Pesquisa nacional por amostra de domicílio: 1995. VYGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Lingua-
○
○
142
PAINEL 12
Avaliação das aprendizagens e formação de professores – EJA
○
○
○
que garante mudanças na
○
○
○
prática educativa dos
○
○
○
professores e êxito nas
○
○
○
aprendizagens dos alunos 143
○
○
○
○
Maria Amábile Mansutti
○
○
PCN em Ação – SEF/MEC
○
○
○
○
○
Resumo
○
1. A perspectiva atual que tem orientado a cons-
○
trução dos currículos escolares. Nas últimas
○
○
Este texto pretende trazer alguma contribuição décadas, os currículos estão voltados para o
○
para os educadores que atuam na Educação de Jo- ○
○
desenvolvimento de capacidades e compe-
tências fundamentais para o exercício da ci-
○
so pessoal do aluno.
○
alunos serem informados sobre seus processos de Adultos. Essa clientela caracteriza-se pela he-
○
que os alunos participem efetivamente dos proces- alunos são questões-chave para quem ensina no
○
○
dos estabelecidos com o professor, nos quais se Se, por um lado, somos conscientes de que
○
rências pedagógicas.
○
○
As análises e as considerações sobre avalia- Por mais que compactuemos com as idéias
○
ção tratadas neste texto pressupõem que se to- inovadoras sobre currículo e afirmemos que
○
○
mem como eixo central dois aspectos a partir elas orientam nosso trabalho em sala de aula, a
○
○
dos quais elas foram construídas. forma como avaliamos os alunos é que mostra
○
o quanto nosso desejo está sendo concretiza- • Considerar a aprendizagem um amplo proces-
○
○
do. A avaliação põe a descoberto o chamado so em que o aluno vai reestruturando seu co-
○
○
currículo oculto dos professores, e é por ele que nhecimento por meio das atividades que lhes
○
são propostas.
○
se reconhecem facilmente os objetivos implí-
○
citos, que seguramente foram promovidos de
○
• Buscar estratégias e seqüências didáticas ade-
○
forma significativa e os alunos perceberam quadas às condições de aprendizagem dos
○
○
como mais importantes. alunos.
○
Portanto, a prática pedagógica efetivamente
○
• Ampliar os conhecimentos do professor so-
○
exercida e a avaliação praticada são atividades
○
bre os aspectos cognitivos dos alunos. Com-
○
inseparáveis, que se condicionam mutuamente. preender como o aluno aprende, identificar
○
○
Infelizmente, também sabemos que, de modo suas representações mentais e as estratégias
○
geral, a avaliação é o aspecto do trabalho docente
○
que utiliza para resolver uma situação de
○
que menos tem motivado o professor e talvez aprendizagem.
○
○
mais o aborreça, enquanto para os alunos é a
○
• Interpretar os erros não como deficiências
○
atividade mais temida e menos gratificante.
pessoais, mas como manifestação de um pro-
○
dos alunos, temos de começar a construir esse siderar os erros como objetos de estudo, uma
○
O caminho percorrido
○
ajudá-los a superá-las.
○
zagens.
○
Isso se deve à forte influência da perspecti- periências, modificar suas práticas de avalia-
○
gem como uma construção do sujeito, para a mentos iniciais dos alunos sem recorrer a pro-
○
○
qual concorrem, em igual nível de importância, vas e testes; buscam com mais freqüência
○
○
as idéias prévias sobre o que se está aprenden- adaptar as programações em função de resul-
○
No interior dessas novas idéias, surge uma gens. Enfim, procuram observar não só os re-
○
○
nova concepção de avaliação. Avaliação como sultados, mas também os processos de apren-
○
duzido em 1967 por M. Scriven para se referir Porém, essas experiências também têm co-
○
○
aos procedimentos utilizados pelos professores locado dificuldades de ordens diversas e bas-
○
○
com a finalidade de adequar seu trabalho aos tante complexas para os professores, como, por
○
Embora ainda não seja amplamente prati- venção adequada para superar determinadas
○
○
cada, a avaliação formativa não é uma novida- dificuldades dos alunos, realizar a avaliação
○
de para os professores, e podemos afirmar que, formativa em classes numerosas ou, quando o
○
○
no plano das representações, há um certo con- professor atua em várias turmas, dispor de tem-
○
○
144
PAINEL 12
Avaliação das aprendizagens e formação de professores – EJA
Para avançar, no sentido de encontrar res- tos de auto-avaliação que propiciem a cons-
○
○
postas para essas questões, é preciso inicial- trução de um sistema pessoal para regular
○
○
mente considerar que a avaliação não pode ser seus processos de aprendizagem.
○
○
um processo de responsabilidade única do pro- Esses novos aspectos imprimem um cará-
○
fessor, uma vez que ela implica uma grande
○
ter comunicativo e abrem novas perspectivas
○
quantidade de decisões a serem tomadas, em para a avaliação, uma vez que propõem a
○
○
distintas singularidades de cada situação didá- interação e a gestão social da aula e possibili-
○
tica que se avalia e em supor os contextos hete- 145
○
tam compartilhar responsabilidades sobre a
○
rogêneos em que ocorrem as aprendizagens. É aprendizagem. Eles direcionam o professor a
○
○
preciso, portanto, incorporar outros aspectos buscar estratégias didáticas alternativas que
○
○
que permitam ao professor compartilhar a ava- auxiliem o aluno a aprender a aprender.
○
liação e poder praticá-la com a função de regu-
○
○
lar o processo de ensino e aprendizagem. Isso
Estratégias propostas pelo professor
○
○
implica buscar informações para compreender
que podem promover o processo de
○
○
como cada aluno atua diante das tarefas pro-
auto-regulação da aprendizagem
○
postas e possibilitar os meios de formação que
○
○
respondam adequadamente às características
○
○
vação, experiências anteriores etc. – como pelo uma representação do produto final que se es-
○
○
contexto social em que ela se desenvolve. pera de cada atividade e dos resultados que se
○
pretende alcançar.
○
função de esquemas de conhecimentos diver- alunos. Certamente não basta enumerá-los tal
○
nos nem sempre percebem, da mesma manei- planejar atividades que facilitem, para os alu-
○
○
ra, as demandas do professor. Por isso, é neces- nos, o reconhecimento das intenções do pro-
○
○
sário promover processos de negociação que fessor. As atividades podem ser simples, mas
○
possibilitem aos alunos compartilhar as mesmas precisam estar voltadas para os interesses dos
○
○
idéias sobre os objetivos a serem atingidos. alunos, de modo que eles se sintam envolvidos
○
○
alunos se apropriarem progressivamente, Essa estratégia tem dupla função: situar para
○
dos instrumentos e dos critérios de avalia- os conteúdos pelos quais se inicia o estudo, e
○
○
• A autonomia dos alunos é promovida quan- ra representação do que se quer atingir com a
○
trole e a responsabilidade sobre suas apren- caráter unidimensional e estático dos objetivos,
○
○
dizagens, mediante estratégias e instrumen- que são formulados pelo professor, torna-se
○
○
multidimensional. Cada estudante percebe os Possibilitar aos alunos a apropriação dos
○
○
objetivos de maneira pessoal e evolutiva, uma critérios e dos instrumentos de avaliação
○
○
vez que suas percepções irão se modificando Não é comum que os professores explicitem
○
○
durante a aprendizagem e incorporando novos para os alunos os instrumentos e os critérios
○
elementos. Esse processo, que tem por base a
○
que utilizam para saber quem aprendeu deter-
○
comunicação, é conduzido por negociações
○
minado conteúdo. De modo geral, parece que
○
constantes entre professor e alunos e acordos os professores interiorizam esses critérios de
○
que visam ao aprimoramento da aprendizagem.
○
forma intuitiva e não sentem necessidade de
○
○
objetivá-los. Na prática, essa atitude pode fa-
○
Favorecer aos alunos o exercício da
○
zer que, numa situação de avaliação, se avaliem
○
antecipação e planificação das ações conteúdos que não são representativos das
○
○
A antecipação é uma espécie de predição aprendizagens promovidas em sala de aula ou
○
○
sobre resultados esperados em razão de ações que se modifiquem os critérios de correção di-
○
○
e caminhos previstos para chegar aos objetivos ante dos procedimentos utilizados pelos alunos.
○
plano de trabalho que poderá ser modificado os alunos os critérios que serão considerados
○
○
em função dos resultados que forem sendo ob- para decidir sobre o entendimento de um con-
○
○
os objetivos, ou finalidades, as ações e as con- ciso ensinar aos alunos como identificar as in-
○
○
o conhecimento disponível nos alunos e os co- de comunicá-las, o professor precisa prever si-
○
nhecimentos a serem construídos por eles. tuações que propiciem a legitimação dos crité-
○
○
O aluno que sabe antecipar e planificar é ca- rios e dos instrumentos de avaliação pelos alu-
○
○
paz de representar mentalmente as ações que vai nos, o que pode ser feito por meio de auto-ava-
○
○
realizar para ter êxito na resolução das tarefas. liação, da avaliação mútua e da avaliação com-
○
Na realidade das salas de aula, constata-se, partilhada pelo aluno e pelo professor.
○
○
com freqüência, que os alunos não têm o do- Para que os alunos aprendam a auto-regu-
○
○
mínio dessas capacidades, que são decisivas lar suas aprendizagens, é preciso criar disposi-
○
○
para se obter êxito nas aprendizagens. Eles pre- tivos pedagógicos facilitadores, como, por
○
Ao planejar essas situações, é preciso que o conteúdos envolvidos; construir uma represen-
○
○
professor esteja atento ao fato de que a lógica tação adequada dos objetivos e dos critérios de
○
de quem está aprendendo é diferente da lógica avaliação; realizar com segurança a antecipa-
○
○
da disciplina ou do especialista. Quem apren- ção e a planificação das ações. Isso supõe um
○
○
de precisa construir uma representação da ação planejamento prévio pelo professor, que depois
○
○
a ser executada, incluindo todas as ações inter- será apresentado e negociado com os alunos.
○
interiorizou as ações intermediárias e não pro- análise das representações dos alunos e seu
○
○
alunos atingirem os objetivos, uma vez que não tivos, completa-se o quadro que permite indicar
○
○
A capacidade de antecipar e planificar ajuda a • A dimensão social, que é a de fornecer aos alu-
○
146
PAINEL 12
Avaliação das aprendizagens e formação de professores – EJA
capacidades e das competências exigidas so- Mapas conceituais. Para realizar diagnósticos,
○
○
cialmente e auxiliar os professores a identifi- para explorar e aprofundar conteúdos, para
○
○
car os objetivos atingidos, com vistas a reco- orientar a sistematização de conhecimentos,
○
nhecer as capacidades e as competências dos para verificar aprendizagens.
○
○
alunos que favorecem a inserção deles no mer- Atividades que utilizam linguagem escrita ou
○
cado de trabalho e possibilita maior partici-
○
oral. Memórias, diários, redação de cartas,
○
pação na vida sociocultural.
○
poesias, crônicas, músicas e jogos, diálogos,
○
• A dimensão pedagógica, que é a de fornecer histórias em quadrinho. 147
○
○
aos professores e aos alunos informações so- Atividades de culminância de uma unidade
○
bre como está ocorrendo a aprendizagem, so-
○
didática. Projetos, campeonatos, olimpíadas,
○
bre os conhecimentos prévios e os conheci-
○
seminários, exposições, portfólios.
○
mentos adquiridos, sobre os raciocínios de-
○
senvolvidos e as representações construídas,
○
○
sobre valores e hábitos dos alunos. A partir
○
O portfólio como estratégia
○
dessas constatações, será negociada a realiza-
○
ção das revisões e das reelaborações de con-
○
de avaliação
○
ceitos e procedimentos ainda parcialmente
○
○
consolidados. ○
○
O portfólio pode ser visto como um recurso
para processar informações por meio da expres-
○
○
avaliar as aprendizagens
○
idéias etc.
○
rem atingidos, conteúdos a serem estudados, inicialmente, o professor precisa pensar em al-
○
bém pode conter acordos sobre organização, • Que atividades são importantes e necessárias
○
decorrer do trabalho?
○
fatos, acontecimentos, conversas, comentá- • Que oportunidades serão oferecidas para que
○
○
rios, e registros estruturados com pautas de os alunos possam fazer perguntas, revisar e
○
○
desafiadoras, abertas, elaboradas pelos alunos. mentários sobre trabalhos, reflexões pessoais e de
○
○
Atividades que exigem justificativas escritas grupo, expressões de sentimento, idéias sobre pro-
○
○
○
balhos de grupo, rascunhos e trabalhos revisados. uma nota, é conhecer a estratégia utilizada
○
○
A análise de portfólios pode ser um recur- pelo aluno na solução de uma tarefa e, des-
○
sa forma, identificar as causas de suas difi-
○
so de avaliação para o professor, na medida em
○
que permite observar como os alunos escre- culdades?
○
○
vem em diferentes condições e circunstâncias, ... deixar de crer que as provas com perguntas
○
○
para vários destinatários e com diferentes pro- de respostas fechadas são mais objetivas que
○
pósitos; obter informações sobre o processo e as de respostas abertas?
○
○
os produtos desenvolvidos pelo aluno no de- ... romper com a idéia de que as provas indi-
○
○
correr do trabalho. Para os alunos, sua cons- cam os alunos que fracassam e os que têm êxi-
○
○
trução possibilita realizar a planificação do to na aprendizagem? Em muitos casos, não
○
processo de aprendizagem, desenvolver a serão os próprios procedimentos de avaliação
○
○
criatividade, a auto-estima e o compromisso responsáveis pelo fracasso dos alunos?
○
○
da auto-avaliação. ... pensar que os próprios alunos podem ser ca-
○
○
○
pazes de reconhecer seus êxitos e dificulda-
des e deixar de crer que a avaliação é somente
Conclusão
○
○
de responsabilidade do professor?
○
○
Em torno da avaliação gira todo o trabalho ... acreditar que todos os alunos, ou a maioria
○
se ensina, e todos os ajustes que se devem in- significativas e mudar a idéia de que em toda
○
○
troduzir para atender à diversidade de necessi- classe sempre há um percentual de alunos for-
○
○
Bibliografia
○
como atividade secundária, não é habitual, po- dizaje. Barcelona: Graó, 2000.
○
○
rém é um dos caminhos que mais favorece mu- MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria de Educação Fun-
○
danças na prática educativa dos professores e damental. Educação de Jovens e Adultos: Ensino Fun-
○
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UFRJ, 1997.
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148
P A I N E L 13
Ralph Levinson
Luz Philippi
Nabiha Gebrim
149
O livro didático
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de ontem ao amanhã
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Jean Hebrard
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○
Ministério da Educação Nacional – EHESS – Paris/França
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Resumo do professor, que era lido por ele em voz alta
○
○
até ser aprendido de cor pelos alunos. Era o
○
O livro didático tem atravessado numerosas
○
evoluções desde que se transformou num dos ins-
caso do catecismo, que, durante muito tem-
○
po, só serviu de suporte para um ensino total-
○
trumentos obrigatórios da escolarização de massas.
○
mente oral. No século XVIII, quando, sob a in-
○
Ele permitiu assegurar uma real eficácia às políti-
○
cas educativas que, desde o século XIX, têm tenta- ○
○
fluência do Iluminismo, o ensino começa a se
do erradicar o analfabetismo com professores de abrir para conhecimentos mais enciclopédi-
○
1980, o nível de recrutamento e de formação dos mem os primeiros livros escolares especia-
○
○
professores cresceu fortemente (mesmo que de ma- lizados (História, Geografia, Ciências, Gramá-
○
○
neira desigual), os novos formadores (freqüen- tica), que passam a ser utilizados apenas nas
○
temente, universitários) têm contribuído para ten- escolas destinadas aos filhos das elites da bur-
○
○
tar fazer do livro didático um dos representantes guesia e da aristocracia urbana, ou por seus
○
preceptores.
○
ca e, portanto, na formação.
colas Confessionais), surgem os primeiros li-
○
As grandes etapas da
○
O livro didático da escola de nível funda- se abre para dois savoir-faire difíceis, que su-
○
trumento relativamente recente na história da (aqui entendida como a arte de calcular por
○
○
educação. Durante muito tempo, os livros utili- escrito) e a gramática (entendida como a arte
○
○
zados nas escolas tiveram outras funções. de ortografar corretamente um texto já não
○
Em outros tempos, o livro podia servir de copiado, mas escrito sob um ditado ou redi-
○
○
fazia, então, apenas via soletração). Nesse caso, Assim, durante todo o século XIX, pode-se
○
○
tratava-se de livros comuns e desarmônicos (li- encontrar dois livros para a gramática: um li-
○
teratura de cordel, livros de orações e, até mes- vro destinado a transmitir uma descrição da
○
○
mo, registros de cartórios), que os alunos trazi- língua, que é freqüentemente aprendido de cor
○
○
am com eles nas escolas e decifravam na frente (é o caso da gramática de Lhomond, por exem-
○
○
do professor. O livro também podia conter os plo, para a língua francesa), e um livro de exer-
○
conhecimentos que deviam ser memorizados, cícios, que permite conduzir o aluno pela difí-
○
○
e se transformava, assim, numa espécie de livro cil ortografia das concordâncias de gênero e
○
○
150
PAINEL 13
O livro escolar no contexto da política educacional
○
de número, bem como à ortografia léxica (es-
○
ses livros são normalmente chamados de resolução de problemas ou o sentido das opera-
○
○
“cacografias”, pois se apresentam como textos ções. É o caso da gramática, quando a lição que
○
○
cheios de erros que o aluno tem de corrigir). tem de ser aprendida de cor se encontra seguida
○
de exercícios, que permitem transformar o sa-
○
Em contrapartida, durante muito tempo,
○
não houve outro livro de aritmética senão as ber gramatical num savoir-faire ortográfico.
○
○
coletâneas de exercícios: com maior freqüên- A inventividade daqueles que elaboram os
○
manuais lhes permite criar diversas situações 151
○
cia, são extensas listas de operações colocadas
○
em linha junto com os seus resultados (o que de trabalho que são, assim, acrescentadas à li-
○
○
comprova que elas não eram trabalhadas pe- ção: exercícios de transformação (preencher
○
○
los alunos, mas utilizadas pelos professores com algumas palavras ou colocar uma frase no
○
plural, no singular, mudar o tempo dos verbos
○
para dar exercícios que seriam resolvidos no
○
quadro-negro. Pode-se notar que, na medida ou a pessoa etc.); exercícios de análise gramati-
○
○
em que o livro escolar é caro, as congregações cal (dizer, para cada palavra de uma frase, a que
○
○
que ensinam preferem utilizar cartazes a livros categoria do discurso ela pertence e qual é sua
○
para colocar à disposição dos alunos os conhe- função na frase); exercícios de definição (dar o
○
○
cimentos que eles devem aprender: o abece- sentido de uma palavra, dar um sinônimo, o
○
○
dário, o silabário, a coletânea de regras de gra- contrário etc.). No caso, ainda, do livro de
○
○
mática e até mesmo os preceitos da moral po- aprendizagem da leitura, ali já não se encon-
○
dem, assim, ser lidos coletivamente em voz tram separadas a aprendizagem da leitura e a
○
○
paredes da sala de aula, e mostrados pelo pro- A partir daí, palavras ou textos para serem
○
Desde então, o livro didático tornou-se um serem escritos, numa articulação acertadamen-
○
○
objeto complexo, como suporte para duas ati- te ritmada de exercícios de leitura e de exercí-
○
○
Livro de leitura, que permite a leitura em aula vro escolar se torna crescentemente complexo
○
○
de alguns textos portadores de conhecimen- com o decorrer dos anos e onde se organiza uma
○
○
tos (História, Geografia, Ciências, Religião) ou primeira metodologia integrada para o domí-
○
de valores (moral, literatura), que são primei- nio da língua. Ela concatena um texto para ser
○
○
ro lidos em voz alta (um aluno lê; os outros lido, algumas perguntas de compreensão do lé-
○
○
acompanham em silêncio) e depois explica- xico daquele texto, algumas perguntas de com-
○
colocadas ao final do texto conduzem o pro- servem para fixar as regras de vocabulário ou
○
terias de exercícios ordenados numa progres- lo, muito em voga nos anos 1920–1950, consti-
○
○
são que permite um treinamento para os dois tui com certeza a culminação de um longo tra-
○
didáticas.
○
○
De forma progressiva, essas atividades ins- Entretanto, esse modelo, muito aperfeiçoa-
○
○
critas em livros separados são reagrupadas num do, que se encontra na base da formação de pro-
○
po, em livro de leitura e livro de exercícios. É o 1970 sob o impacto da transformação dos pro-
○
○
○
○
da formação permaneça fora da universidade funcionar, no essencial, a memória. A partir daí,
○
○
(tanto na França quanto no Brasil), é esta últi- na opinião deles, nenhum outro manual pode-
○
○
ma que assume a responsabilidade pela pes- ria ser aceito.
○
quisa, pela inovação e pelo acervo intelectual O sucesso das múltiplas formas do cons-
○
○
de tudo aquilo que se refere à educação. Nesse trutivismo nos anos 1980-1990 é característi-
○
○
sentido, é interessante ressaltar como a tenta- co desse movimento. Além dos aspectos polí-
○
tiva de articulação entre Escolas Normais e ticos não desprezíveis que fazem dele o mo-
○
○
ensino universitário, no Brasil, nos anos 1920 delo educativo da democracia, reencontrada
○
○
e 1930, se revela, no final das contas, um fra- por diversos países da América Latina, o cons-
○
○
casso (a USP, apesar de Azevedo, considerará trutivismo (que, em suas versões mais popu-
○
sempre seu Instituto de Pedagogia como um lares ultrapassa largamente os modelos teóri-
○
○
enxerto ilegítimo). cos piagetianos utilizados por Emília Ferreiro
○
○
para fundamentá-lo) incorpora a idéia de que
○
○
○
o professor pode apenas ajudar a criança a
A crise do livro didático construir seus conhecimentos, num encami-
○
○
oria dos países, é o rápido descrédito de uma nunca foi a posição de Freinet, por exemplo,
○
○
pedagogia considerada como a arte de aplicar abrindo um espaço importante para a auto-
○
○
cujos livros escolares fornecem um modo de herdada das máquinas que ensinam, do beha-
○
○
dentes para essa atitude. Ela tem sido freqüen- Se examinarmos a produção didática des-
○
○
temente a dos inovadores: Célestin Freinet, na ses anos, particularmente rica em invenções
○
referir a instrumentos que considera como os cativa, a partir das disciplinas universitárias (te-
○
○
gógicos, mas cria, por sua vez, outros instru- de forma muito regular, capítulos inteiros de-
○
mentos que os substituem. O que acontece nos dicados à análise crítica dos manuais mais uti-
○
○
anos 1970 é certamente diferente, e resulta, tal- lizados. Isso é especialmente verdadeiro no do-
○
○
vez em primeiro lugar, da conquista do campo mínio da didática da leitura (apoiando-se seja
○
○
da formação por novos atores. Diante das Es- na fonologia, na gramática dos textos ou na crí-
○
colas Normais, nas quais existia, a partir de qua- tica literária), no da matemática (apoiando-se
○
○
se um século antes, uma forte articulação entre nas teorias dos conjuntos), na gramática (em
○
○
professores modelos (os professores das esco- que a lingüística se torna a disciplina de refe-
○
○
las de aplicação), formadores (os diretores e os rência). Mas podemos encontrar essa situação
○
professores das Escolas Normais) e diretores de também em ciências (em que o método experi-
○
○
coleções nas editoras escolares (geralmente os mental é reivindicado para denegrir a lição de
○
○
mesmos), os Departamentos de Educação das coisas), em história (na qual a Escola dos Anais
○
○
universidades não tinham outra saída senão serve de apoio para criticar toda história
○
adotar uma posição crítica. Inventando novos expositiva em benefício de uma crítica do do-
○
○
modelos de transmissão dos saberes e lançan- cumento) etc. Em cada um desses casos,
○
○
do mão de uma autonomia tão grande por par- transparece que a única maneira inovadora de
○
numa formação de alto nível, tais departamen- de situações-problema concretas (que, portan-
○
○
tos ridicularizavam todos os modelos que, des- to, não podem ser representadas nas páginas
○
○
de o início dos tempos, basearam a instrução dos livros), permitindo-lhe explicitar suas re-
○
152
PAINEL 13
O livro escolar no contexto da política educacional
○
○
podem ser previstas por um manual) e ajudan- exercícios.
○
○
do-a a construir uma representação mais ajus- Na realidade, esses manuais exemplificam
○
○
tada do conceito em questão ou, ainda, as su- um procedimento, orientam o mestre mostran-
○
cessivas etapas de um procedimento eficaz. do-lhe como ele pode instaurar na aula uma si-
○
○
Nem a lição tradicional (como momento de ex- tuação de descoberta, em seguida explorá-la e,
○
○
posição do saber), nem o exercício (como mo- por último, construir a noção em questão. Na
○
mento de automatização de um procedimen- medida em que a colocação por escrito de uma 153
○
○
to) terão espaço nessa nova concepção da ação “progressão didática”, isto é, do encadeamento
○
○
didática, que vem eliminar o direito de utiliza- de três ou quatro seqüências distribuídas numa
○
○
ção de um manual escolar. semana que visam construir um novo conceito
○
Porém, é fácil constatar que a atitude críti- ou um novo procedimento, tornou-se o exercí-
○
○
ca dos novos formadores dos anos 1970–1980 cio mais importante da formação inicial, o li-
○
○
evolui muito rapidamente. A resistência dos vro didático também se transformou numa co-
○
○
professores permanece intensa. Eles sabem, letânea de “progressões”. Por esse motivo,
○
pela experiência, que uma atitude constru- reintroduziu-se uma forte homogeneidade en-
○
○
tivista (qualquer que seja o nome assumido por tre formação inicial e produção de instrumen-
○
○
ela) não pode ser adotada ao longo de toda uma tos didáticos. Os formadores, assim, reconquis-
○
○
tre, tem necessidade de alternar momentos in- É interessante notar que assim que a for-
○
○
nos quais se continua a trabalhar, porém mais nalizada (por exemplo, pelo viés das funda-
○
para reforçar os saberes ou os savoir-faire já ções, no Brasil) ela produz o mesmo tipo de
○
○
encontrados do que para construir novos deles. evolução. Contudo, quando ela se torna mais
○
○
Assim sendo, as editoras, atingidas pela cri- ligada à vida associativa (com o constru-
○
○
se dos livros didáticos, encontrariam uma res- tivismo, por exemplo) ou ao funcionamento
○
posta. Elas inventaram os arquivos, que são co- ordinário da vida escolar (formação a distân-
○
○
letâneas de exercícios pré-impressas, nas quais cia ou formação dentro da própria escola), ela
○
○
os alunos fazem exercícios no meio de dois se situa mais demoradamente numa posição
○
○
momentos de descoberta (em alguns casos, ali- crítica radical (como acontece na França, no
○
ás, eles chegam a fazer só esses exercícios). Por caso das animações pedagógicas organizadas
○
○
sua vez, as editoras iriam recorrer a novos for- sob a direção dos inspetores, ou como acon-
○
○
madores suscetíveis de repensar os livros didá- tece no Brasil, no caso dos dispositivos de for-
○
○
que apareceriam como mais “modernos”. E nu- O uso desses novos manuais torna-se parti-
○
○
merosos universitários deixaram-se tentar (tan- cularmente delicado. Eles se encontram, mui-
○
○
to assim que, nas Faculdades de Educação, en- tas vezes, fora do alcance dos alunos, pois o dis-
○
○
contramos hoje professores que começaram sua curso didático tem tendência a eliminar a lição
○
carreira nas salas de aula ou em instituições de e o exercício. Na França, onde o movimento al-
○
○
formação não-universitária e, portanto, possu- cançou seu paroxismo, os livros didáticos trans-
○
○
Sua produção, que começa em meados dos professor dispõe de três ou quatro manuais di-
○
anos 1970, tanto na Europa quanto na América ferentes, nos quais ele seleciona uma seqüên-
○
○
Latina, atinge o apogeu nos anos 1990. Os no- cia por aqui, outra por ali), ou ainda em fichá-
○
○
vos livros didáticos que eles escrevem caracte- rios que são fotocopiados e distribuídos para os
○
○
rizam-se pelo fato de se dirigirem aos profes- alunos. Os manuais desaparecem, então, das
○
sores mais do que aos alunos, sendo, freqüen- pastas escolares e dão lugar aos classificadores/
○
○
temente, pequenos tratados didáticos que en- fichários, nos quais se amontoam, bem ou mal,
○
○
○
○
publicações, que na França são chamadas de
○
do manual escolar?
○
“para-escolares” e, a princípio, foram inventa-
○
○
Numerosas razões nos levam a pensar que das para a preparação para os grandes exames
○
a crise do livro didático não é nem legítima nem (baccalauréat, vestibular etc.), são constituídas
○
○
necessária. Se existe um objetivo importante de pequenos manuais previstos para um uso
○
○
nas lutas que continuam a confrontar as dife- autônomo, sem a presença do professor. São
○
rentes categorias de formadores, pela conquis- publicações que oferecem o que há de essen-
○
○
ta de sua posição no campo da formação, exis- cial, em termos de conhecimentos que devem
○
○
te também um produto editorial, cujo merca- ser aceitos, mais alguns modelos de exercícios,
○
○
do envolve grandes grupos financeiros, que acompanhados de suas correções, capazes de
○
consideram o livro didático como um produto reconstruir um savoir- faire que poderia ter sido
○
○
central de sua produção, não estando, portan- esquecido. Um autodidata pode utilizá-las sem
○
○
to, dispostos a concordar com seu desapareci- nenhuma dificuldade. Os modelos pedagógicos
○
○
mento. Enfim, começa a surgir, de forma cada ○
aos quais obedecem são estritamente tradicio-
vez mais clara, quais são os modelos pedagógi- nais: oferecem resumos a serem aprendidos, li-
○
○
cos (ou didáticos) sugeridos, e a escola não po- ções expositivas e exercícios de aplicação e ter-
○
○
deria deixar de funcionar sem instrumentos minam por um treinamento direto para os exa-
○
○
desse tipo. O professor polivalente da Escola mes. De fato, por trás de sua característica ar-
○
tudo o que se deve ensinar, e não é desejável, pais), escondem-se grandes qualidades, e são,
○
○
para os alunos mais jovens, que ele seja substi- muitas vezes, produzidos por excelentes espe-
○
tuído por uma equipe de professores especia- cialistas da didática atual. Atualmente, os livros
○
○
lizados. Portanto, sempre haverá necessidade “para-escolares” são pontos de referência im-
○
○
do apoio de instrumentos confiáveis. Se quiser- portantes para se repensar as funções dos ma-
○
○
quiste sua autonomia na aprendizagem, ele pre- Estes últimos devem ser, certamente, conce-
○
○
cisa ser confrontado tanto com as informações bidos de formas diferentes, segundo seu desti-
○
○
escritas como com as informações orais que o no: crianças na fase de alfabetização (1a e 2a sé-
○
○
professor lhe oferece. Finalmente, o status de ries no Brasil, 2o ciclo na França) ou crianças já
○
mente uma nova evolução, que faz do adulto o França). Para os primeiros, o manual não pode
○
○
mediador entre a criança e os conhecimentos, ser utilizado de maneira autônoma, pois os alu-
○
○
mais que o dispensador de saberes (pedagogia nos ainda não são leitores (ou bons leitores),
○
tradicional) ou mesmo o organizador da mise- portanto deve ser uma coletânea de materiais
○
○
sim, o manual pode (e deve) reencontrar suas pertence inteiramente ao professor, que deve ter
○
○
novas funções. Ele pode (e deve), ao mesmo aprendido, na sua formação, a dominar todas as
○
tempo, reencontrar seu lugar na formação. sutilezas. Para o ensino da leitura, por exemplo,
○
○
Em contrapartida, é interessante notar que seria prudente separar, claramente, o que resul-
○
○
essa evolução, inventando, nos anos 1980, nos tanto, segundo E. Ferreiro, um trabalho de es-
○
momentos mais agudos de queda de suas ven- critura próximo da resolução de problemas, da-
○
○
das, um novo produto que não destinaram às quilo que resulta da compreensão de textos, que,
○
○
escolas e aos professores, mas diretamente aos nessa etapa, se faz melhor oralmente (leitura de
○
○
pais dos alunos (quer dizer, aos mais susceptí- textos em voz alta, pelo professor, reformulação
○
veis, dentre eles, de fazer esses investimentos, pelo aluno, debate sobre a interpretação em gru-
○
○
que no Brasil sabemos que representam as fa- po etc.). Um manual não é necessário no primei-
○
○
mílias que confiam seus filhos mais às escolas ro caso. Álbuns de literatura de juventude são
○
154
PAINEL 13
O livro escolar no contexto da política educacional
○
○
manuais. Se, definitivamente, o manual ainda dade é a regra. Nenhuma ligação de hipertexto
○
○
pode ser útil, uma vez construído o princípio al- permite reconstituí-la. O livro escolar, pelo seu
○
○
fabético, é para fornecer baterias de exercícios didatismo, é insubstituível. Constatamos que
○
suscetíveis de conduzir o reconhecimento das são pouco numerosos os editores que aceitam
○
○
palavras e de automatizá-lo (sabemos que isso essa perspectiva.
○
○
supõe um material organizado em função da re- Um segundo aspecto do debate é o que se
○
gularidade da representação fônica, da freqüên- refere à seqüência didática. Ela deve se apoiar 155
○
○
cia das palavras etc.). Ainda não dispomos desse no livro didático ou deve refletir a arte e a habi-
○
○
tipo de material. lidade do professor? Por muito tempo, pensou-
○
○
Para os alunos maiores, que começam a sa- se que a qualidade de um professor estava di-
○
ber ler de maneira autônoma, a relação com a retamente ligada à sua capacidade de construir
○
○
escrita é diferente. Eles podem começar, util- seqüências didáticas particularmente sutis.
○
○
mente, a descobrir que a escrita pode guiar a Atualmente, sabemos que esse modelo foi her-
○
○
ação (numa seqüência de aprendizagem autô- dado da pedagogia expositiva utilizada no se-
○
noma feita sobre uma ficha) ou, ainda, contro- gundo grau e contribui para reforçar o ensino
○
○
lar a informação (seguida de uma seqüência de frontal: fazer encadear as etapas sucessivas do
○
○
descobertas). Não se pode esquecer que, assim procedimento dificulta, em grande parte, a di-
○
○
que estiverem na escola média, deverão, com ferenciação que seria capaz de recuperar o alu-
○
seus instrumentos de trabalho, e muitos deles esse tipo de pedagogia funciona sob a condi-
○
○
Isso certamente supõe uma dupla evolução turma (aqueles alunos que não construíram o
○
○
da engenharia pedagógica. De um lado, ela deve que o procedimento lhes teria permitido cons-
○
○
estruturada e organizada, suscetível de respon- zir bem o processo domina sempre a preocu-
○
der às questões que ele se coloca cada vez que pação de não deixar nenhum aluno na beira do
○
○
Nesse sentido, é urgente sair da ilusão de que a Desde então, são numerosos os pedagogos
○
○
criança inventa conhecimentos. Se ela os cons- que começam a pensar que a sutileza da pro-
○
trói, o que é diferente, é apoiando-se sobre os gressão permite, certamente, levar muito mais
○
○
saberes que nossas culturas constituíram. Em longe os melhores alunos, mas contribui para
○
○
síntese, a escola atualmente tem necessidade aprofundar o fosso entre estes e aqueles que
○
○
de livros didáticos que sejam pequenas enciclo- apresentam mais dificuldades. Na perspectiva
○
como no passado, para aprendê-los de cor, mas Vygotsky, se desejamos aumentar as interações
○
○
para verificar, cada vez que for necessário, o que de aprendizagem é importante liberar mais o
○
○
preciso, sobretudo, não acreditar que os recur- cia a fim de que conserve toda a liberdade ne-
○
○
sos da web poderão ser suficientes. É precisa- cessária para acompanhar individualmente, nas
○
○
mente sua dispersão que dificulta a consulta na tarefas em curso, os alunos que mais necessi-
○
○
perspectiva de uma verificação. Se, por exem- tam dele. Talvez seja conveniente substituir o
○
plo, em história, se deseja informações sobre a uso, sempre um pouco vergonhoso, do manual
○
○
Inconfidência, é importante que se possa en- pelo apoio decidido a tais alunos. Isso equivale
○
○
cos no âmbito dos quais esse acontecimento se de pela condução da seqüência e a reservar para
○
○
seqüências desses mesmos fenômenos sobre o a criança necessita. Assim sendo, podemos ver
○
aqui que, ao contrário da função enciclopédi-
○
O destaque concedido ao oral (e, portanto, ao
○
ca, a função propriamente didática do manual diálogo didático) talvez nada mais seja do que
○
○
poderia ser assumida pelas máquinas (tal como a tomada de consciência sobre essa questão.
○
○
ela já o fez em numerosas seqüências não esco- Todavia, restará ainda um problema delicado a
○
lares de aprendizagem que se apóiam na simu- ser solucionado: evitar a possível disjunção en-
○
○
lação de situações-problema): o texto escrito tre aqueles que elaboram as seqüências didáti-
○
○
em papel já não serve como o melhor apoio. cas (que poderiam vir a ser parte do pessoal que
○
A formação deveria rapidamente extrair das
○
trabalha em editoras de publicações impressas
○
colocações anteriores todas as conseqüências, ou on-line) e os especialistas em interação (os
○
○
desenvolvendo, muito mais do que ela o faz hoje próprios professores). Esse é certamente o de-
○
○
em dia, as capacidades de interação dos pro- safio ao qual as políticas educativas se arriscam
○
fessores (análise do erro, condução do diálogo a confrontar nos próximos anos. O livro didáti-
○
○
didático entre o adulto e a criança, construção co, ou seus substitutos numéricos, será certa-
○
○
dialogada das representações asseguradas etc.). mente um dos fatores em jogo em tal desafio.
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
ao livro didático?
○
○
○
○
Ralph Levinson
○
○
Resumo
○
associados ao livro didático de Ciências e a rela- texto e uma série de atividades; há fotografias
○
○
ção entre o livro didático e o conhecimento cien- coloridas modernas com jovens e breves le-
○
de ciência empírico-indutivo, contrário aos pro- os antigos livros didáticos mostravam homens
○
○
cedimentos que seriam adotados por uma abor- em casacos brancos por meio de um aparato
○
Desde que freqüentei a escola, há mais de tos; o livro didático moderno utiliza imagens
○
○
156
PAINEL 13
O livro escolar no contexto da política educacional
co antigo era muito mais abstrato; a linguagem falsas ilações que os desorientam e desinfor-
○
○
do livro didático moderno é muito mais ami- mam, além de entediá-los profundamente com
○
○
gável para o leitor mais jovem. textos áridos e inúteis (Tyson-Bernstein, 1988).
○
○
No entanto, os livros didáticos modernos
○
não são populares para George Nelson, dire- O professor moderno utiliza o livro didáti-
○
○
tor do projeto AAAS 2061. “Nossos alunos es- co como um mecanismo para a instrução em
○
sala de aula. Nos Estados Unidos e na Europa
○
tão arrastando para casa textos pesados reple-
○
tos de fatos desconexos, que não os educam Ocidental, entre 75% e 90% do tempo em sala 157
○
○
nem os motivam.” de aula envolvem algum tipo de atividade com
○
○
Os livros didáticos de Ciências para crian- livro didático (Woodward, Elliot e outros, 1988).
○
A forma pela qual os livros didáticos são uti-
○
ças das séries intermediárias foram conside-
○
rados inadequados e crivados de erros. Esse lizados bem como o grau de autonomia de es-
○
○
fato provocou furor na imprensa dos Estados colas e professores para escolhê-los variam de
○
um país para outro. Nos Países Baixos, por
○
Unidos, no que se refere à educação científica
○
exemplo, os livros didáticos de Matemática são
○
de gerações futuras. Além de conterem concei-
○
tos errôneos e imprecisões, os livros estavam produzidos comercialmente, e as escolas têm
○
○
cheios de estratégias diversivas, tais como uma liberdade para selecioná-los, enquanto nos pa-
○
que desviava a atenção das idéias centrais e era ção do Ministro da Educação. Na Suíça, os tex-
○
○
irrelevante. Os exercícios pediam às crianças tos oficiais devem ser empregados no primeiro
○
nham nenhuma ligação com o conteúdo da dentemente do grau de controle político que
○
○
matéria (Raloff, 2001). A fonte do problema orienta a produção e o emprego de livros didá-
○
○
está localizada no currículo e nos roteiros dele ticos, a tendência é a de que aumente o predo-
○
dáticos improvisavam para atender a esses fa- grau de colaboração entre as bancas examina-
○
○
tos, por meio de uma abordagem transmissiva, doras e as editoras para a produção de livros
○
Nelson encontram eco nas de outros educado- prescritos. Esses livros contêm mensagens im-
○
○
Os livros didáticos, de um jeito ou de outro, do- ( Jenkins, 1999). Nessas circunstâncias, o livro
○
○
minam o que os alunos aprendem. Eles definem didático orienta o que é ensinado e a forma de
○
○
res valem-se deles para organizar aulas e sua produção, como argumenta Yager, em Ci-
○
○
estruturar a matéria. Mas o sistema atual de ências o alto grau de utilização de livros didá-
○
mercado, os editores são praticamente compe- sobre o mundo é ativamente construído pela
○
○
lidos por políticas e práticas públicas a criar li- criança (Driver, 1983). Embora pesquisas te-
○
vros didáticos que confundem os alunos com nham caracterizado os livros didáticos de Ci-
○
○
ências em termos de concepções errôneas conhecimento podem ser tidas como aceitas,
○
○
(Cox, 1996), análises de gênero (Kearsey e como, por exemplo, a teoria da seleção natu-
○
○
Turner, 1999), apelo visual (Holliday, 1990), fa- ral, a primeira e a segunda leis da termodi-
○
○
cilidade de leitura (Chiang-Soong e Yager, nâmica ou a teoria atômica. Mas há discor-
○
1993) e representação de gênero (Bazler e dâncias entre cientistas sobre outros aspectos
○
○
Simonis, 1991), meu objetivo no presente ar- do conhecimento, a exemplo de debates entre
○
○
tigo é demonstrar que: biólogos sobre a primazia da genética e sobre
○
1. a utilização excessiva de livros didáticos qual tipo de conhecimento deve ser priorizado.
○
○
“desprofissionaliza” e desabilita o professor; Os livros didáticos são seletivos. A ciência
○
○
2. o trabalho com textos deve ser abordado na escolar não é um processo de simplificação do
○
○
teoria e na prática em treinamentos que an- conhecimento científico, mas, sim, como ar-
○
tecedem a profissionalização do professor gumentam Koulaidis e Tsatsaroni, uma “rees-
○
○
e em seu desenvolvimento profissional; truturação da área correspondente de conhe-
○
○
3. os livros didáticos devem ser criados de for- cimento científico por meio de processos de
○
○
conhecimento organizado
○
difuso e filtrante a partir da área dos especia- ria do livro didático, teremos problemas para
○
sam recebê-lo adequadamente. beram o que se alega haver sido percebido por
○
○
comunidade científica, a relação entre conhe- pela matemática, a filosofia e a história cons-
○
○
idéias dos alunos. A comunidade científica não que Galileu chegou naquele lugar e naquele
○
158
PAINEL 13
O livro escolar no contexto da política educacional
Uma análise de 31 livros didáticos univer- de conclusões” ( Yager, 1983) – na qual o aluno
○
○
sitários de Química sobre o experimento de tem pouco ou nenhum envolvimento intelec-
○
○
Millikan com a gota de óleo, na descoberta da tual, contrariamente a um entendimento do
○
○
unidade básica de carga elétrica, mostrou que desenvolvimento e da luta de idéias – e a na-
○
aqueles livros não abordavam os aspectos his- tureza complexa e tentativa da ciência.
○
○
tóricos e filosóficos do experimento (Niaz, Enquanto escrevo este artigo, numa sexta-
○
○
2000). Nenhum dos livros didáticos relata a feira, 13 de julho, o rádio noticia a descoberta
○
controvérsia entre Millikan e Ehrenhaft, na de um gene, o Apo-E, que aumenta o risco de 159
○
○
qual este levantou argumentos contra os da- doenças coronarianas em fumantes do sexo
○
○
dos de Millikan e sugeriu que a quantidade real masculino. Nesse caso, o risco implica uma
○
○
de carga seria bem menor. Millikan ganhou o interação entre genes e o meio ambiente. Você
○
dia. Mas um estudo das anotações de Millikan pode ser portador de genes que indicam uma
○
○
mostrou que ele era, de fato, seletivo em rela- suscetibilidade acima do normal a uma doen-
○
○
ção aos dados que empregava. A teoria de ça, mas isso não quer dizer que você contrairá
○
○
Millikan foi comprovada e forneceu uma base essa doença. Palavras como “risco” e “susce-
○
crucial para trabalhos posteriores nessa área. tibilidade” são cruciais, hoje, para o entendi-
○
○
A questão é que a teoria de Millikan se basea- mento de debates sobre saúde pública e polí-
○
○
va amplamente na tradição de pesquisa que o ticas científicas. Ainda assim, abra qualquer
○
○
cientista adotava, de modo que ele selecionou livro didático de Biologia e você verá diagra-
○
a evidência que melhor corroborava sua teo- mas e explicações que indicam uma relação
○
○
ria. A teoria direcionou os dados. Os livros di- direta entre os genes de uma doença, tal como
○
○
dáticos, entretanto, apresentam uma visão do fibrose cística, e a aquisição da doença. A re-
○
método científico segundo a qual a teoria sur- lação entre gene e doença não é direta e pode
○
○
ge naturalmente dos dados (Wilkinson, 1999). ser mediada por outros genes e por uma série
○
○
Outros estudos demonstram a forma pela de fatores ambientais. Até mesmo um consi-
○
○
qual os livros didáticos apresentam um relato derado livro didático do Reino Unido, que pre-
○
historicamente idealista da ciência e sua rela- tende “ampliar o entendimento dos alunos a
○
○
ção com a tecnologia. Quando há evidência fim de ajudá-los a desenvolver uma visão mais
○
○
considerável para mostrar que a tecnologia é harmoniosa e madura de […] importantes ex-
○
○
os livros didáticos assumem uma visão segun- essa relação direta entre gene e doença como
○
○
do a qual as teorias geradas por cientistas for- algo não-problemático (Hunt e Millar, 2000).
○
○
necem, de forma não problemática, uma base Se os currículos avaliarem os alunos em ter-
○
○
para os produtos tecnológicos (Gardner, 1999). mos de fatos facilmente marcados, as escolas
○
Os relatos de descobertas científicas não levam adquirirão aqueles livros didáticos que mais
○
○
em conta a heurística pessoal dos cientistas, facilmente apoiarem essa finalidade. Não cau-
○
○
suas suposições, e o contexto social, político e sa surpresa, portanto, o fato de que os livros
○
○
berta científica é um fardo muito pesado para Precisamos de mais evidências empíricas
○
○
as crianças. Não podemos recriar todas as des- sobre o efeito dos livros didáticos nas imagens
○
cobertas científicas em sala de aula e testar a que as crianças fazem de um determinado as-
○
○
prática e as teorias de cientistas altamente ex- sunto. Se os livros didáticos apresentarem uma
○
○
princípios básicos na ciência que agora são outras matérias, será necessário explorar o pa-
○
aceitos, e seria inútil considerá-los inconsis- pel do professor em relação ao livro didático. Em
○
○
tentes (Millar, 1997). Mas há uma diferença um primeiro momento, o papel do professor
○
○
entre apresentar a ciência como uma “retórica deve ser desacoplado daquele do livro didático,
○
e o aluno deverá ser reconceitualizado como um ponte – ou mesmo levantar problemas – entre
○
○
construtor ativo de conhecimento, em vez de um as concepções do aluno e as concepções da
○
○
receptor de informações transmitidas. ciência.
○
○
O livro didático torna-se um recurso para
○
que o professor contextualize – e não lidere –
○
Novas relações entre o
○
o tópico, e pode ser utilizado para apresentar
○
professor e o livro didático
○
uma versão condensada e oficial dos “fatos”,
○
mais ou menos nos moldes dos livros didáti-
○
○
Um começo seria transformar as aulas, par- cos tradicionais. O livro didático seria comple-
○
ticularmente as aulas de Ciências. O aluno pas-
○
mentado por material de fonte – como, por
○
saria a ser o intérprete de idéias e não o recep-
○
exemplo, breves relatos de cientistas como
○
tor de informações. Faraday, Millikan, Darwin; notícias de jornal;
○
○
trechos de vídeos; notícias de rádio; extratos
○
A solução é deixar de considerar as aulas de Ci-
○
de grupos de campanha; e até mesmo relató-
○
ências como o estudo da natureza. A ciência em ○
rios científicos – nos quais os alunos pudes-
si pode ser um estudo da natureza, mas as aulas
○
principal objeto da atividade interpretativa de- conclusão?” Recursos como o Satis (Reino Uni-
○
○
veria ser não o circuito em si, mas o que alguém do), o Plon (Países Baixos) e o Ciência e
○
ensaio apenas, mas a forma pela qual alguém fala elementos básicos.
○
○
sobre esses eventos… As aulas de Ciências deve- Os livros didáticos, obviamente, podem
○
res humanos (Sutton, 1992: 72). nos sejam encorajados a avaliar qualquer livro
○
○
Nesse cenário, os alunos interpretam e ava- tro material de fonte. Na realidade, os profes-
○
liam idéias, mas não se pode esperar que re- sores deveriam avaliar os livros didáticos da
○
○
Nuffield da década de 1960. Em vez de proces- mento que os livros didáticos não abordam: as
○
sar fatos para fins de avaliação, os alunos se pré-concepções dos alunos, a imagem con-
○
○
a narrativa independentemente da fonte – quer rentes conexões entre ciência, tecnologia e so-
○
○
comparam essa narrativa à sua própria versão papel para o livro didático, Stinner propõe uma
○
○
O trabalho prático poderá pedir aos alunos para professores em formação. Nesse modelo,
○
○
que testem as discrepâncias entre interpreta- o professor deve auxiliar o aluno a estabelecer
○
ções, tal como o relato original e interessante conexões entre três planos de atividade
○
○
e relacionar esse relato com as explicações dos da psicologia (LEP). O plano da lógica compõe-
○
○
próprios alunos sobre a compressão de uma se de leis, princípios, modelos, teorias e fatos;
○
1992). Um outro exercício poderá pedir aos cínio que apóia o plano da lógica; e, finalmen-
○
○
alunos que reescrevam uma brochura expli- te, temos o plano da psicologia, que implica a
○
mento com raios X para pacientes hospitaliza- nos, a apresentação do conceito de tal forma
○
○
160
PAINEL 13
O livro escolar no contexto da política educacional
Sugere-se que os livros didáticos corrobo- didáticos seria atribuir um papel de maior re-
○
○
rem o modelo LEP, no sentido de que a histó- levância aos cientistas na redação desses livros
○
○
ria do texto associe conceitos à evidência mos- (Raloff, 2001). O livro didático poderia, assim,
○
○
trada na história e na filosofia da ciência, de tornar-se uma fonte confiável de informações,
○
forma fluida e natural. O formato e o estilo do utilizado pelo professor para seus próprios ob-
○
○
livro didático tornam-se uma história em lu- jetivos pedagógicos. Cientistas e professores
○
○
gar da subdivisão em discretos capítulos poderiam trabalhar em conjunto na redação de
○
(Stinner, 1995). textos, combinando conhecimento científico 161
○
○
Outra abordagem, coerente com os dois contemporâneo e precisão com o discerni-
○
○
exemplos anteriores, seria fornecer um texto mento dos métodos de ensino atuais. Haveria
○
○
que auxiliasse as crianças a entender o mundo inevitavelmente tensões, mas ambas as partes
○
natural e material por meio de tarefas simples, poderiam começar a aprender uma com a ou-
○
○
porém envolventes, que as encorajem a asso- tra, fato que, por si só, poderia transformar a
○
○
ciar a evidência às explicações adjacentes. Os autoria de futuros livros didáticos e a nature-
○
○
critérios para esse tipo de texto incluem a ex- za do currículo escolar.
○
posição para o professor, em linguagem sim- Os dois primeiros modelos apresentados
○
○
ples e clara, das metas de cada unidade, das no presente artigo – os alunos como intérpre-
○
○
concepções errôneas que os alunos provavel- tes e o LEP – têm como objetivo aprimorar o
○
○
mente trarão para o tópico, da forma pela qual pensamento crítico do aluno, enquanto o ter-
○
essas concepções errôneas devem ser sistema- ceiro modelo assegura ao aluno, por meio de
○
○
de exemplos de fenômenos cotidianos que fa- ele necessita para extrair algum sentido dos
○
çam parte da vida das crianças – o que aconte- conceitos científicos dominantes. No primei-
○
○
ce com o ar que é bombeado no pneu de uma ro modelo, o papel do livro didático seria for-
○
○
bicicleta e para onde vai a água quando as rou- necer os antecedentes científicos, e é nesse
○
○
pas molhadas são colocadas para secar em um ponto que o insumo de cientistas profissionais
○
varal (Budiansky, 2001). O problema dos exem- poderia ser importante. O livro didático tor-
○
○
plos citados é que o professor, e não o livro na-se uma referência e não um guia. Meu pro-
○
○
didático, é imprescindível para expor as evi- blema em considerar o livro didático um com-
○
○
dências e orientar os alunos na conquista dos plemento do modelo LEP reside no fato de que
○
Até o momento, o que se viu foi um qua- ser interpretado como um guia do professor,
○
○
dro bastante pessimista do papel do livro di- uma fonte de idéias, e não algo para ser colo-
○
○
dático: impreciso, irrealista, transmissivo, au- cado na frente dos alunos como um texto ofi-
○
○
nunciar a ele e sugerir que esse quadro seja É interessante observar que o Projeto 2061
○
○
universal ou, ainda, que essas características não detectou tantos problemas no que se re-
○
○
sejam comuns a todos os livros didáticos. Pro- fere aos livros didáticos para alunos acima de
○
○
fessores e alunos ainda necessitam de uma 16 anos. A necessidade de volumes mais con-
○
fonte de informações prontamente disponível cisos nessa etapa, com informações mais
○
○
Se, por um lado, há excelentes livros didá- etária de 12 a 16 anos, entretanto, poderia ha-
○
○
ticos para alunos, por outro, o problema é a uti- ver mais ênfase sobre o pensamento científi-
○
lização excessiva desses livros pelos professo- co, o entendimento da natureza da ciência,
○
○
res. Uma solução para corrigir as concepções suas limitações, a formação da base para
○
○
errôneas e as imprecisões contidas nos livros decisores potenciais, bem como para aqueles
○
alunos que pretendem se especializar na área
○
Science Study (TIMSS). Slough: National Foundation for
○
científica. Um exemplo recente e excelente Educational Research, 1999.
○
○
GARDNER, P. The representation of science-technology
dessa abordagem é o livro “Ciência para enten-
○
relationships in Canadian physics textbooks. International
○
dimento pelo público” (Science for public
Journal of Science Education, 21 (3): 329-347, 1999.
○
understanding, de Hunt e Millar, 2000), uma
○
HOLLIDAY, W. Textbook illustrations; fact or filler? Science
○
vez que define as questões sociais e fornece a Teacher , 57 (9): 27-29, 1990.
○
○
ciência substantiva para informar os debates. H U N T, A . ; M I L L A R , R . ( E d s . ) . S c i e n c e fo r p u b l i c
○
O treinamento na fase de formação dos pro- understanding. Oxford: Heinemann, 2000.
○
○
fessores e o desenvolvimento profissional con- JENKINS, E. School textbooks – an official course?
○
Education in Chemistry 36 (5): 140, 1999.
○
tinuado devem corroborar uma relação de
○
KEARSEY, J.; TURNER, S. Evaluating textbooks: the role of
○
transformação entre o professor e o livro didá- genre analysis. Research in Science and Technological
○
tico, na qual o professor assumiria um papel
○
Education, 17 (1): 35-43, 1999.
○
mais autônomo. O professor, entretanto, ainda KOULAIDIS, V.; TSATSARONI, A. A pedagogical analysis
○
○
necessita de material de apoio e deve atender of science textbooks: how can we proceed?. Research
○
○ in Science Education , 26 (1): 55-71, 1996.
às exigências da escola, dos alunos e da comu- ○
1994.
○
M I L L A R , R . S c i e n c e e d u c a t i o n fo r d e m o c ra c y. I n :
○
produzir esse material para atender às necessi- LEVINSON, R.; THOMAS, J. Science today: Problem
○
○
dades locais e às preferências de aprendizagem. or crisis? London/New York: Routledge, 1997, p. 87-
○
101.
○
científico importante, e o conhecimento sobre NIAZ, M. The oil drop experiment: a rational reconstruction
○
○
o mesmo poderia ser integrado a novos textos. of the Millikan-Ehrenhaft controversy and its implications
○
Bibliografia
○
textbook . New York: Routledge, 1991. p. 1-21. TYSON-BERNSTEIN, H. A conspiracy of good intentions :
○
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BAZLER, J.; D. SIMONIS. Are high school chemistr y America’s textbook fiasco. Washington, D.C.: The
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textbooks gender fair?. Journal of Research in Science Council for Basic Education, 1988.
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CHIANG-SOONG, B.; YAGER, R.. Readability levels of the Education, 29 (3): 385-99, 1999.
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science textbooks most used in secondary schools. WOODWARD, A.; ELLIOTT, D. et al. Textbooks in school
○
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School of Science and Mathematics 93 (1): 24-7, 1993. and society: an annotated bibliography and guide to
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COX, R. Is it naive to expect school science books to be research. New York: Garland Publishing Inc., 1988.
○
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accurate? School Science Review , 78 (282): 23-31, YAGER, R. The importance of terminology in teaching K-
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DRIVER, R. The pupil as scientist? Milton Keynes: Open 20: 577-588, 1983.
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University Press, 1983. . Viewpoint: what we did not learn from the
○
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FOXMAN, D. Mathematics textbooks across the world: some 60’s about science curr iculum reform. Jour nal of
○
evidence from the Third International Mathematics and Research in Science Teaching , 29: 905-910, 1992.
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
162
PAINEL 13
O livro escolar no contexto da política educacional
○
○
○
○
○
Luz Philippi
○
○
Fundación Chile – Santiago – Chile
○
○
○
○
○
Um dispositivo de mudança nas práticas pe- crianças, jovens e adultos segundo a necessida- 163
○
○
dagógicas, um tradutor das propostas curricu- de ou o que precisava ser feito.
○
○
lares ( Johnsen, 1996).
○
Um transformador da relação pedagógica,
○
Idade Antiga
○
permitindo independência do estudante em
○
Na Idade Antiga, a educação continuou, por
○
relação ao professor. Uma perspectiva alterna-
○
um lado, ocorrendo como vinha ocorrendo ha-
○
tiva para se ter acesso aos conteúdos curricu-
○
via anos: por imitação, experiência e exercitação,
lares (uma interpretação e seleção dos autores)
○
até que se inventou a escrita. Qualquer forma de
○
(Apple, 1990; Bernstain, 1985).
○
escrita inventada reflete a necessidade de se re-
○
Um “[...] instrumento de poder. Orientados
○
○ gistrar a história oral. Para tanto, foram utiliza-
para espíritos jovens ainda manipuláveis e ne-
○
Biblioteca de Alexandria.
ramento da aprendizagem […]” (Unesco, 1995).
○
Boyer, 1998).
○
acesso à educação.
○
Idade Média
○
exercício ou pelo costume. Ela estava muito re- Na Idade Média, os mosteiros ficaram encar-
○
○
necessárias. Dela, provavelmente participavam mentos adquiridos pelos homens, até então, para
○
conservá-los e transmiti-los à humanidade. No tindo que se tomasse distância em relação ao es-
○
○
final desse período, os professores das emergen- critor (o escrito é mais duradouro que o oral).
○
○
tes universidades utilizavam esses textos como A exclusividade do latim cedeu espaço ao uso
○
○
base para seus cursos, e os estudantes tomavam de idiomas locais, permitindo a instalação de um
○
notas em pergaminhos que passavam a ser seus processo de ensino padronizado. Como não po-
○
○
“livros”. “Leitura, repetição e discussão” era o lema dia deixar de ser, as metodologias de ensino
○
○
das universidades desse período (Venegas, 1993). mudaram. O ensino para a elite versus o ensino
○
Nas associações, por sua vez, os professores para as massas. A multiplicação de exemplares
○
○
ensinavam ofícios a seus discípulos pela imita- de textos idênticos, ao alcance dos estudantes,
○
○
ção, pela exercitação e pela repetição, até que os foi uma verdadeira revolução.
○
○
orientandos desenvolvessem a experiência ne- O objetivo principal foi a alfabetização e o en-
○
cessária. As crianças só recebiam a educação que sino de conteúdos específicos. Não se premiava a
○
○
suas famílias lhes pudessem passar. Um filho de criatividade ou a iniciativa pessoal (como ainda
○
○
cavalheiro aprendia as artes da cavalaria, e um acontece hoje em dia em muitos casos), e sim a
○
○
filho de camponês aprendia a semear e a colher. ○
exatidão. Atividades próprias dos postos de traba-
lho de professores começaram a ser exercitadas.
○
○
balhos remunerados.
○
tinham acesso.
○
memorização.
○
A invenção da imprensa (1453) e seu rápido ções de algum tipo, ainda que isoladas, princi-
○
○
do impresso”. O acesso ao “conhecimento” demo- Até o século XIX, foram usadas lousas em vez
○
respeito e uma certa objetividade, dando mais relidos até que seu conteúdo fosse memoriza-
○
○
tempo para a reflexão e a interpretação, permi- do. O número de atividades era muito limitado.
○
164
PAINEL 13
O livro escolar no contexto da política educacional
○
Século XX
○
municação do século XXI apresentam-se como
○
○
“processos a serem desenvolvidos” (o usuário
Década de 1980
○
○
pode assumir o controle e produzir novos bens,
○
O fortalecimento da educação baseou-se na serviços educacionais e aplicativos) e não como
○
○
compreensão da leitura. O que, quem e quando “ferramentas para serem aplicadas”. Isso acon-
○
○
foram perguntas centrais no ensino. A memó- tece num contexto de globalização que reorga-
○
ria ainda era muito importante, mas existiam niza o espaço e acelera a circulação e a comu- 165
○
○
outras didáticas e meios que acompanhavam o nicação de bens e serviços, pessoas, investi-
○
○
ensino e a aprendizagem. Nos textos escolares, mentos, idéias, valores e tecnologias, o que
○
o desenho, o projeto gráfico, as ilustrações e as
○
pressupõe uma maior compenetração inter-
○
cores tornaram-se mais importantes. Seus edi- cultural e um mercado global e permanente de
○
○
tores procuravam torná-los atraentes e bonitos. mensagens apoiadas em meios audiovisuais
○
○
As ilustrações, o projeto gráfico e as fotografias (Brunner, 2000).
○
reproduziam ou apoiavam a informação escri-
○
O conhecimento existente atualmente é ili-
○
ta ou, em alguns casos, substituíam-na. Presu- mitado e instável – expande-se, renova-se e es-
○
○
mia-se que o estudante podia raciocinar e re- pecializa-se diariamente. São fluxos de infor-
○
○
fletir sobre seu próprio processo de pensamen- mações que aumentam a cada hora. É neces-
○
entendimento dos estudantes (Philippi e mações do que para obtê-las. Essas novas con-
○
○
pensamento superior. O por quê e o como cres- (Castells). Tanto a escola como os locais de tra-
○
○
ceram em importância e foram plasmados em balho precisam aprender e ensinar num ambi-
○
○
novos materiais didáticos, nos quais o “visual” ente caracterizado pelo fluxo constante,
○
a interação com o estudante e dele com os co- A escola perde sua primazia como único ca-
○
○
cognitivos. A metodologia de ensino e os textos mação. Essa primazia passa a ser compartilhada
○
mudaram. Eles deveriam refletir uma intera- com muitos outros meios. A informação e a
○
○
ço ao estudante e meios para ele exercitar o que onde encontrá-las se tornam mais importante do
○
○
aprendeu e, na maior medida possível, questio- que obtê-las. Os textos não são os únicos a man-
○
nar, para obrigá-lo a raciocinar por conta pró- ter o objetivo do ensino. Surgem novos suportes
○
○
cultural que pode ser aprendido a partir de dife- competitivamente na sociedade que lhes cabe-
○
rentes inteligências, o que incide no tipo de rá construir, eles deverão aprender a viver na
○
○
O livro didático, a biblioteca, o laboratório e, a usar seus próprios critérios em decisões rápi-
○
○
em menor medida, os meios tecnológicos pas- das, a desenvolver e a aplicar seus valores. Eles
○
○
sam a ser os pilares centrais da educação. estão imersos em mundos de códigos de inter-
○
câmbio de informações que diferem substanti- Como devem ser os textos
○
○
vamente dos da geração anterior. Grandes volu-
○
escolares hoje, pensando no
○
mes de mensagens são transmitidos por video-
○
amanhã?
○
clipes, grafites, Internet (hipertexto, chat, correio
○
eletrônico), tevê a cabo, telefonia móvel, video-
○
Apesar da informação assinalada na seção
○
conferências, pôsteres, histórias em quadrinhos
○
anterior, nossos países latino-americanos aca-
○
etc. Palavra e imagem combinam-se fortemen-
○
bam de lançar novas reformas educacionais,
te. O zapping (navegação rápida) é a forma mais
○
que levam em consideração as novas tec-
○
freqüente de leitura atualmente, em diferentes
○
nologias a serviço da Educação. No entanto,
○
suportes, e a formação de redes ou comunida-
○
esses meios repetem ou acentuam as diferen-
○
des virtuais, para os que têm acesso à tecnologia
○
ças econômicas e de estratos sociais, embora o
necessária, é uma forma cada vez mais comum
○
acesso às informações na Internet seja mais
○
de agrupamento.
○
barato e democrático quando se dispõe dos
○
Os indivíduos devem se preparar para um
○
○
equipamentos adequados!
mundo que lhes obriga a usar suas habilida- ○
Philippi, 2000).
○
Como se ensina nesse transição. (No que se refere aos textos escolares,
○
○
contexto?
○
A escola deve ensinar novas competências ção básica e no restante dos anos escolares. Os
○
nológico de nossos dias e às novas exigências lado esses quatro primeiros anos.)
○
○
do mundo do trabalho. Para tanto, e para for- Os textos ou os materiais didáticos para es-
○
○
mar estudantes que construam ativamente ses períodos de transição poderiam considerar,
○
são necessários grupos docentes que aceitem • Ter flexibilidade suficiente para serem úteis às
○
○
professores devem ser articuladores das habi- • Ater-se ao currículo nacional, mas tendo pre-
○
○
lidades e dos conhecimentos que os estudan- sente o currículo oculto da região destinatária.
○
○
tes têm de desenvolver. Devem suscitar a cu- • Apresentar, na maior medida possível, os con-
○
materiais didáticos impressos, digitais ou vir- • Servir de apoio para uma aprendizagem autô-
○
166
PAINEL 13
O livro escolar no contexto da política educacional
• Ser instrumento de trabalho e consulta, conside- tuação de trabalho. Dessa maneira, o docente te-
○
○
rando a falta de bibliotecas públicas atualizadas, ria a oportunidade de fazer uma seleção que não
○
○
laboratórios, textos nos lares, bibliotecas escola- esteja necessariamente correlacionada à ordem
○
res com suficiente número de exemplares etc.
○
escolhida pelo autor e possa ser facilmente
○
• Ter uma estrutura e uma proposta gráfica a ser- complementada por outros materiais elaborados
○
○
viço do pedagógico e referências para uma rá- ou escolhidos por ele, sejam materiais impressos
○
○
pida e adequada localização de trechos especí- ou digitais. Um texto não pode, por si só, satisfazer
○
ficos dentro do texto. a toda a demanda existente. 167
○
○
• Apresentar atividades diferenciadas por grau de
○
○
dificuldade e por trabalho individual ou grupal.
Como alcançar esses
○
○
• Oferecer diferentes tipos de auto-avaliação.
○
objetivos?
○
• Não ser fechados, e sim servir de plataforma para
○
○
a abertura de portas para outros conhecimen-
○
Políticas internacionais
○
tos ou para o aprofundamento dos conhecimen-
○
tos que apresentam (deveriam apresentar bibli- para livros didáticos
○
○
ografias impressas e digitais, por exemplo). Segundo Chopin, podemos distinguir pelo
○
○
• Velar pela qualidade e pela atualidade dos co- ○
○
menos quatro modalidades de políticas interna-
nhecimentos apresentados e pela profundida- cionais para a aquisição de livros didáticos:
○
de de seu tratamento, não pela quantidade. Edição do Estado: implica uma censura a priori
○
○
• Ter um texto, ou manual do professor, com da produção de livros didáticos, já que o único
○
○
material complementar, aprofundamento teó- livro permitido para uso por docentes é o livro
○
realidades de cada turma etc. Ainda não se pode normas mínimas. A possibilidade de comer-
○
○
pensar em textos absolutamente auto-suficientes cialização depende dessas avaliações e, por essa
○
pelo menos de vez em quando, do docente. canismo exige docentes com graus de forma-
○
○
Talvez uma das formas mais adequadas para ção e atualização adequados para a aplicação
○
○
mente seja pensarmos em textos “modulares”, tex- ção, sem reproduzir velhos esquemas.
○
○
tos que tenham uma coluna vertebral sólida e mais Sistemas híbridos de produção: o mercado e o
○
○
tradicional nos conhecimentos apresentados (que Estado produzem livros didáticos que oferecem
○
○
até podem ser capítulos separados), e vários “fas- aos docentes. No entanto, todos passam por
○
cículos” que abordem diversos temas a partir de determinada avaliação estatal que os classifica
○
○
metodológicas, de maneira que o docente possa pela escolha conhecem a qualidade e o nível
○
○
BAMBERGER, R. Review of the International Research
○
pela eqüidade da educação, principalmente Results on Evaluation and Development of Textbooks.
○
○
em nossos países. Seu dever, então, é velar Research Project of The Institute of Textbook Research
○
pela qualidade, pela adequação e pelo uso and Advancement of Learning. Wien, Áustria, 1999.
○
(Org.). Zur Gestaltung und Verwendung von
○
do que chega às mãos de docentes e estu-
○
Schulbüchern. Alemanha: OBV, Pädagogischer, 1998.
dantes, sobretudo, como já mencionado, se
○
BALLANCA, J.; CHAPMAN, C.; SWARTZ, E. Multiple
○
o livro em questão for o único material de
○
intelligences for multiple assessments. Palatine, IL: IRI/
○
apoio que o docente, o estudante e as famí- Skylight Publishing, 1994.
○
lias de ambos terão em suas mãos (ainda que
○
BERNSTEIN, B. Poder, educación y conciencia. Barcelona:
○
por um período de transição). Para conse- El Roure Ediciones, 1985.
○
○
guir que isso seja feito adequadamente e por BUZAN, T. Use both sides of your brain. New York: E. P. Dutton,
○
se tratar de um tema sensível e importante, 1983.
○
○
propomos a continuação de uma série de CAINE, R. N.; CAINE, G. Making connections: teaching and
○
perguntas que o Estado se deveria fazer, uma the human brain. Alexandr ia, VA: Association for
○
○
vez que decida adquirir livros didáticos. As Supervision and Curriculum Development, 1991.
○
○ CAMPBELL, L.; DICKINDON, L. Teaching and learning trough
respostas para essas perguntas serão anali- ○
Congresso.
○
Madrid, 1999.
○
ARANCIBIA, V.; ALVAREZ, M. Características de los HOCHULI, J. Bücher machen. Alemanha: Agfa Compugraphic,
○
○
rendimiento escolar y autoconcepto académico. Psykhe, HOJMAN, R.; PHILIPPI, L. (Org.) Nuevos textos de estudio
○
○
AMSTRONG, T. 7 kinds of smart: identifying and developing Ministerio de Educación de Chile, 2002.
○
○
your many intelligences. New York: Plume Pemguin Group, . Reflexiones para elaborar una política sobre
○
1993.
○
AVILA, A. Los usos reconocidos de los textos de matemáti- cumento para circulação, 1999.
○
ANDRADE, S. J.; SCHEDIN, M. G.; BONILLA, E. Métodos OCHOA, J. Textos escolares: un saber recortado. Centro de
○
cualitativos para la evaluación de programas. Watertown: Investigaciones y Desarrollo de la Educación. Cide, San-
○
○
168
PAINEL 13
O livro escolar no contexto da política educacional
○
PAREL. National helpdesk for intercultural learning materials. Educativas . México: Centro de Investigaciones y Estudios
○
A Guidline. (ed.) Lies Sercu: Holanda, 1999. Avanzados, 1991.
○
○
PEÑA BORRERO, L. La calidad del libro de texto. Santa Fé ROBITAILLE, D.; SCHMIDT, W. (Org.). Curriculum frameworks
○
de Bogotá, Colômbia: Cerlalc: Coedición Latinoamericana for Mathematics and Science . A Cross-National
○
○
de Libros para la Promoción de la Lectura, 1991. Investigation of Curricular Intentions in School Science.
○
PEÑA BORRERO, L.; MEJÍA BOTERO, W. Manual para la Boston: TIMSS Monograph. 1994. v. 1 e 2.
○
planeación, el diseño y la producción de libros de texto. SÜNKEL, W. Theorie der erziehung, abriss der allgemeinen
○
○
Santa Fé de Bogotá, Colômbia: Secab, 1995. Pädagogik. Alemanha: Universität Erlangen Nürenberg,
○
PHILIPPI, L.; MUÑOZ, B. (Org.). Seguimiento y evaluación Institut für Pädagogik. Alemanha, 1990. 169
○
○
del uso y apropiación de los textos de estudio de 1999. UNESCO. Instituto de Planeamiento de la Educación.
○
Ministério da Educação, Santiago do Chile. Documento Planificación del desarrollo de textos escolares. (Versão
○
○
de pesquisa, 2000. espanhola de curso mundial multilingüe a distância), 1995.
○
ROCKELL, E. El libro de texto en la sala de clases: palabra VENEGAS, M. C. El texto escolar: como aprovecharlo. Co-
○
○
escrita, interpretación oral. Cuadernos de Investigaciones lômbia: Cerlac, Ministério Nacional da Educação, 1993.
○
○
○
○
○
○
○
○
O Programa Nacional ○
○
○
Nabiha Gebrim
○
○
SEF/MEC
○
○
○
○
○
Educação vem se desenvolvendo de forma contí- democrático, foi criado o Programa Nacional do
○
○
nua, desde 1938, quando foi institucionalizada. Livro Didático (PNLD), que estabelecia parte de
○
Consolidando-se, ao longo do tempo, a partir de suas bases atuais e adotava como principais di-
○
○
mudanças na concepção, na gestão dos programas retrizes: a escolha do livro pela escola, com a
○
○
e na forma de sua execução, a política do livro di- participação dos professores do ensino de pri-
○
○
dático estabeleceu-se como uma política de Esta- meiro grau mediante análise, seleção e indica-
○
do. Este texto tem por objetivo situar o desenvol- ção dos títulos; a universalização do atendimen-
○
○
vimento da política do livro didático no Brasil, ex- to a todos os alunos do Ensino Fundamental; e a
○
○
plorando, nos seus aspectos históricos, políticos e adoção de livros reutilizáveis. Apesar desses
○
○
operacionais, os principais avanços e limitações. avanços alcançados pelo PNLD, cerca de uma
○
Já o primeiro programa ministerial de livros década após sua criação o programa ainda en-
○
○
didáticos deliberava sobre a liberdade de escolha frentava algumas dificuldades, seja no campo da
○
○
por parte dos diretores das escolas primárias dos distribuição do livro didático, seja, sobretudo, no
○
ou particulares, desde que constassem da “rela- ao conteúdo das obras. No que se refere à avalia-
○
○
ção oficial das obras de uso autorizado”. Nesse ção dessa qualidade, em 1993, foi instituído um
○
○
momento, a política do livro didático não se refe- Grupo de Trabalho encarregado de analisar os
○
te do governo federal, como se concebe hoje essa adequados para as séries iniciais do Ensino Fun-
○
○
política. Foi apenas a partir da década de 1960 damental. Por esse grupo foram analisados os
○
○
que, progressivamente, a política passou a con- títulos mais solicitados pelos professores no ano
○
não universalizada – de livros para os alunos. Estudos Sociais e Ciências, livros esses que
○
○
correspondiam a 94% das aquisições do gover- Os critérios estabelecidos para a avaliação
○
○
no federal naquele ano. têm por objetivo oferecer, para escolha dos pro-
○
○
O resultado das análises constituiu um mar- fessores, obras isentas de erros conceituais, in-
○
○
co na política do livro didático, já que a partir consistência metodológica e de abordagens pre-
○
daí a questão passou a ter uma relevância social judiciais ao exercício da cidadania. Além desses
○
○
suficiente para demandar uma atuação mais efe- critérios gerais, cada uma das áreas, de acordo
○
○
tiva do Estado, não mais apenas sobre sua aces- com suas particularidades, possui critérios es-
○
sibilidade e disponibilidade, mas também sobre pecíficos. Atendendo ainda a uma antiga reivin-
○
○
sua qualidade material, de conteúdo conceitual dicação dos professores, o MEC estabeleceu a
○
○
e pertinência social. Com base nesse trabalho, obrigatoriedade da inscrição de coleções com-
○
○
foi possível sistematizar os indicadores qualita- pletas para cada uma das áreas. Esse critério visa
○
tivos para subsidiar o início do intenso proces- manter uma coerência teórica e metodológica no
○
○
so de avaliação do livro didático, que se realiza- desenvolvimento dos conteúdos, evitando rup-
○
○
ria nessa gestão, a partir de 1995. turas e descontinuidades. Também a inscrição
○
○
No que diz respeito a essa gestão e à evolu- do Manual do Professor, como parte integrante
○
ção mais recente do PNLD, há que se destacar a da coleção, passou a ser obrigatória, devendo
○
○
entrega dos livros no início do ano escolar e a in- aula, sugerindo ao docente atividades comple-
○
○
corporação de outras duas etapas, de caráter pe- mentares, indicando leituras suplementares e
○
dos livros e, mais recentemente, a orientação dos conteúdo ministrado. A seguir, são apresentados,
○
○
professores para sua escolha e uso. É importante em linhas gerais, os critérios adotados pelo Mi-
○
âmbito federal, se limitava a duas etapas: a com- Tendo em vista o constante aperfeiçoamen-
○
○
Nosso modelo de avaliação teve início com liação, os critérios estabelecidos em edital são
○
disciplinava a inscrição das obras. Os livros di- assim, a aquisição de obras desatualizadas ou
○
○
Informações desatualizadas
○
Aspectos gráfico-editoriais
○
da cidadania
○
Ilustrações
○
Doutrinação religiosa
○
identificá-los.
○
170
PAINEL 13
O livro escolar no contexto da política educacional
○
Quadro comparativo das obras avaliadas,
○
no das disciplinas. O Ministério da Edu-
por menção, em cada PNLD – 1 a a 4 a série
○
○
cação, ao aprimorar, refinar e tornar mais
○
Total Não-recomendados
○
rigorosos os critérios a cada nova avalia-
PNLD Recomendados
○
ção, busca também permitir e encorajar Livros inscritos Excluídos
○
○
editores e autores na reformulação e na
○
PNLD/1997 466 105 (22,53%) 361 (77,47%)
○
reapresentação de obras já avaliadas,
○
além da inscrição de novas obras. Uma PNLD/1998 454 167 (38,46%) 287 (61,54%) 171
○
○
vez avaliados os livros, a escolha dos pro-
○
PNLD/2001 569 321 (54,41%) 248 (43,59%)
○
fessores somente terá vigência até a rea-
○
PNLD/2004 Avaliação em curso
○
lização de um novo processo avaliativo,
○
disciplinado por novos critérios publica- Fonte: Comdipe/SEF/MEC
○
○
dos em edital, que deverão orientar nova
○
○
avaliação, escolha e distribuição.
○
Quadro comparativo das obras avaliadas,
○
Uma vez realizada a avaliação, é elabo-
○
rado o Guia da Escolha dos Livros. Esse por menção, em cada PNLD – 5 a a 8 a série
○
○
Guia é disponibilizado não apenas para as Total Não-recomendados
○
PNLD
Livros inscritos Recomendados
○
professores, o MEC oferece, por meio des- 438 218 (49,77%) 220 (50,23%)
○
○
se Guia, uma vasta lista de títulos para es- PNLD/2002 414 260 (62,50%) 154 (37,50%)
○
○
Fonte: Comdipe/SEF/MEC
RD (Recomendadas com Distinção), REC
○
○
(Recomendadas) e RR (Recomendadas com Res- Nota-se, ainda, pelos gráficos a seguir, uma
○
○
salvas). São consideradas obras REC aquelas que, diminuição das obras excluídas e o conseqüen-
○
○
quais se percebe um caráter inovador em Distribuição das obras avaliadas em cada PNLD –1 a a 4 a série
○
○
361
○
350 321
○
287
○
250 248
○
167
○
105
○
100
○
50
○
0
○
○
desenvolvido de forma articulada com o
○
○
PNLD, visando ampliar a oferta de materi-
○
300
○
260 ais de leitura aos alunos do Ensino Funda-
○
mental.
○
250
220
○
218 Em razão dos avanços constatados, en-
○
200
○
quanto perspectiva política, um dos desa-
○
154
○
150 fios do PNLD é consolidar a avaliação dos
○
livros, o que constitui uma incontestável
○
○
100 conquista no campo da qualidade da edu-
○
○
cação. Para isso, é fundamental a aprova-
50
○
ção, no Congresso Nacional, do projeto de
○
○
0 lei em tramitação, que estabelece as novas
○
PNLD/1999 PNLD/2002
○
bases da política do livro escolar.
○
○
○
Uma outra vertente de atuação, tendo
Recomendados
em vista o aprimoramento do programa,
○
○
Fonte: Comdipe/SEF/MEC
○
Pode-se, por um lado, concluir que, como tes para a melhoria dos livros e da própria
○
○
resultado dessa política do MEC, o país conta política do livro didático. Atualmente, en-
○
○
hoje com uma nova geração de livros didáti- contra-se em fase de execução uma pesqui-
○
liação. Pelos quadros apresentados, é possível com cujos resultados se espera poder conhe-
○
○
verificar a melhoria progressiva das obras ins- cer melhor os mecanismos que pautam as
○
uma vez que as informações contidas no Guia mum do que seja o livro didático de quali-
○
○
do Livro Didático favoreceram a discussão so- dade, tanto para o Ministério quanto para os
○
○
resenha elaborada por especialistas e nas ne- Outra perspectiva relevante dessa política
○
cessidades reais dos alunos e dos docentes. O que não pode ser desconsiderada é o fortale-
○
○
Guia, como instrumento de auxílio ao profes- cimento das ações permanentes de formação
○
○
sor, propiciou a reflexão e a discussão sobre o docente, tendo por eixo a escolha e o uso dos
○
○
sobre o material didático a ser utilizado em novos padrões para a relação com o mercado
○
○
sala de aula. Visando estimular ainda mais essa editorial, como forma de neutralizar o assédio,
○
○
discussão, foram ainda desenvolvidas ações de por vezes intenso, do setor a escolas e profes-
○
○
formação docente voltadas para a orientação sores, o que induz muitas vezes à escolha de
○
didático, em uma ação conjunta entre o Minis- Sem dúvida, a política adotada em relação
○
○
tério e as Secretarias de Estaduais e Munici- ao livro didático, nos últimos anos, tem con-
○
○
mente para os livros didáticos, um outro pro- ção da ética e da cidadania necessárias ao con-
○
○
172
P A I N E L 14
O REFLEXO DA AÇÃO
FORMADORA NO PROJETO
PEDAGÓGICO DA INSTITUIÇÃO –
EDUCAÇÃO INFANTIL
Sueli A. Campos Silva e Valéria P. Cortez Corrêa
173
Incorporação de estratégias formativas
○
○
○
na prática da Educação Infantil
○
○
○
○
Valéria P. Cortez Corrêa e Sueli A. Campos Silva*
○
○
Creche – Associação Obra do Berço/SP
○
○
○
○
○
○
○
○
Associação Obra do Berço
○
Quanto à aprendizagem das crianças, as mu-
○
○
Fundada em dezembro de 1938, a Associação danças foram desde concepções de criança, até
○
○
Obra do Berço tinha a finalidade de confeccionar as ligadas ao desenvolvimento, ao ensino e à
○
aprendizagem. Temos como base para a atuação
○
enxovais e distribuí-los a recém-nascidos caren- ○
tes. Em março de 1981, recebeu da Prefeitura do com as crianças o Referencial Curricular Nacio-
○
○
foram criados os clubes de mães, de gestantes, tematização da prática apoiada por conhecimen-
○
○
têm sido:
○
Escola, que se transformou em creche em 1992. capazes de elaborar seus próprios planejamen-
○
tos de trabalho;
○
Introdução
○
Esse relato tem como objetivo compartilhar relação às crianças, acreditando que todas po-
○
○
com outros profissionais o percurso e o processo dem ser bem-sucedidas, e transmitir essa con-
○
ches nas quais atuamos passaram por um pro- laboração e entusiasmo na equipe de trabalho.
○
○
Estratégias de formação
○
tanto às aprendizagens das crianças como à for- São muitas e diversificadas as ações que de-
○
174
PAINEL 14
O reflexo da ação formadora no projeto pedagógico – Educação Infantil
○
○
as principais estratégias utilizadas: des dos projetos ou seqüências didáticas.
○
○
Observação em sala. Trata-se de instrumen-
○
○
to de exercício permanente para o aprendi-
Autoformação dos coordenadores
○
zado significativo, em que o coordenador
○
○
Reunião de supervisão com consultores. Tem observa o educador e também o grupo de
○
○
como objetivo ampliar o conhecimento dos crianças, para uma atuação mais direta na
○
coordenadores dentro de sua prática, orien- prática. São realizadas reuniões posteriores 174
○
○
tando-os e assessorando-os nas interven- para que os educadores troquem informa-
○
○
ções com a equipe de educadores. ções sobre a observação.
○
○
Reunião de gerenciamento. Seu objetivo é a tro- Colaboração nos registros. O registro é uma
○
ca de experiências entre os profissionais de forma de trabalhar a memória e a história in-
○
○
gerenciamento e coordenação. Nessas reuniões, dividual da atuação pedagógica. Nele trans-
○
parecem as prioridades, os observáveis, as
○
elaboramos estratégias de atuação com a equi-
○
pe, buscando a estruturação e a reestruturação dúvidas e as angústias do educador. É uma
○
○
do trabalho de forma integrada. forma de comunicação, em que se podem do-
○
cumentar as informações e, assim, possibili-
○
Reunião de coordenadores. Visa ao inter-
○
○
tar sua divulgação e troca entre as pessoas. O
câmbio entre as coordenadoras das três uni-
○
pos.
○
que a organização dos conteúdos das reuni- ter outras referências: como desenvolver di-
○
e relatos sobre estratégias formativas, levar partilhar perspectivas quanto à melhor qua-
○
○
com os educadores
○
Reunião de planejamento. Seu objetivo con- estágios, os educadores se tornam mais ca-
○
mento, ou seja, os conteúdos que serão de- podem colaborar com seus pares, tornando-
○
○
turas. É uma forma de alimentação da prática
○
em diferentes espaços de formação pedagógica, que extrapola os muros da creche.
○
○
Reunião de estudos. Esse tipo de reunião cons-
○
Projeto. Quintal da integração. Esse projeto
○
consiste em encontros de estudos planejados titui espaço garantido para os diferentes pro-
○
○
pela equipe de coordenadoras e gerentes de ins- fissionais da creche trabalharem temas especí-
○
ficos ligados à sua profissão. Teoria e prática
○
tituições de educação: creche, Emei e Emef,
○
com propostas do interesse da equipe de pro- devem permear suas atuações vinculadas às
○
○
fissionais, fundamentando a prática, buscan- trocas de experiências da equipe, ampliando e
○
do, por meio da reflexão e avaliação dos temas aprofundando o conhecimento de todos.
○
○
específicos, estratégias comuns para as diferen- Participação em seminários, mostras de traba-
○
○
tes organizações. lho, cursos. As oportunidades de exposição dos
○
○
Passeios culturais. Os passeios culturais possibi- trabalhos efetuados são muito importantes. São
○
litam a ampliação do universo cultural e o conhe- momentos de sistematização da prática de ex-
○
○
cimento do patrimônio da nossa e de outras cul- plicar aos pares o que, como e por que fizeram.
○
○
○
○
○
○
○
○
Ribeirão Preto/SP
○
○
○
○
○
de São Paulo (USP) iniciou-se em 1965, sem e está vinculada a uma coordenadoria da uni-
○
○
muita repercussão. Em 1974, foi inaugurada a versidade, a Coseas, com outras três creches da
○
○
primeira creche da USP, em Piracicaba. Só em capital de São Paulo. Em Ribeirão Preto, há ape-
○
reorganizou a reivindicação por creches em ou- lhamos em conjunto com docentes da Facul-
○
○
tros campi. Marcada pela famosa “passeata dos dade de Filosofia, Ciências e Letras e do Depar-
○
○
universidade.
○
O ápice das discussões tanto no campus de para o cuidado e a educação dos pequenos, co-
○
○
São Paulo, como nos campi de São Carlos e Ri- laborando em pesquisas e assessorando outras
○
○
beirão Preto, data de 1979/1980. Várias comis- redes públicas de creches e pré-escolas, de for-
○
sões foram montadas com representantes das ma a responder, pelo menos em parte, a esse tipo
○
○
nizaram projetos, com análise de custos, pla- A Creche Carochinha atende 150 crianças de
○
○
nilhas de recursos, como também reflexões so- 4 meses a 7 anos, filhas de funcionários, docen-
○
176
PAINEL 14
O reflexo da ação formadora no projeto pedagógico – Educação Infantil
○
as famílias estão inseridas em mercado de tra-
○
balho estável. Setenta por cento vivem em casa cadores e pesquisadores no Cindedi, em
○
○
própria, nos conjuntos habitacionais da zona que todos têm oportunidade de apresen-
○
tar painéis e comunicações. Desde 1995,
○
periférica da cidade. O restante – docentes e alu-
○
nos – vive em áreas centrais da cidade. também a Divisão de Creches da USP –
○
Coseas organiza seminários das quatro cre-
○
Quanto à formação de educadores que tra-
○
ches ligadas a ela.
○
balham na creche, há diferentes níveis de forma-
○
6. Trinta por cento dos funcionários já ministram 176
○
ção prévia, como também há diferentes módulos
○
de formação continuada. Depois de 1989, a USP cursos e organizam oficinas para diversas re-
○
des públicas. Quarenta por cento participa-
○
organizou a carreira desses educadores, exigin-
○
ram, nos últimos quatro anos, de reuniões da
○
do o 2o Grau completo e definindo piso salarial e
○
SPB e Copedi. Em 1995, organizou-se um Cen-
carga horária. Após a edição da Lei de Diretrizes
○
tro de Referência de Criação do Educador
○
e Bases, em 1996, a universidade não traçou ne-
○
(Crece), cuja função principal é catalogar to-
○
nhuma política para aqueles funcionários sem a
○
das as idéias dos educadores para servir de re-
○
qualificação exigida pela lei. No caso de Ribei- ferência. O Crece funciona em uma sala da
○
rão Preto, dos 26 educadores, 14 têm Magistério
○
Creche Carochinha.
○
e/ou Pedagogia e 12 têm o 2o Grau completo.
○
○
Esse programa é desenvolvido predominan-
Recentemente, em parceria com a Secretaria de
○
3 anos; e de 3 anos a 7 anos, e um trabalho – pelo Cindedi, por meio de projetos financiados
○
Batata Quente ou em folhetos educativos. Visitas das terças. Semanalmente, a creche re-
○
3. Supervisão: exercida pela equipe técnica da retrizes do trabalho, ao conteúdo dos proje-
○
○
fermagem e nutrição), quinzenalmente, para pessoal etc. A Creche Carochinha, desde 1995,
○
○
4. Grupos de estudos: reúnem-se uma vez por Orientações a técnicos e/ou coordenadores.
○
○
mês. Por semestre, foram organizados três Dada a inexistência de um currículo sistemá-
○
grupos de estudos com temas referentes aos tico e de curso específico para a formação de
○
○
○
○
sido freqüentemente procurada por profissio- ção da formação dos educadores da creche,
○
○
nais da área, no sentido de responder a essa como também dos estudantes de graduação e
○
demanda. Assim, as orientações realizadas
○
pós-graduação ligados ao Cindedi – FFCL/RP.
○
têm sido no sentido de compartilhar as expe- O vídeo Fazendo arte na creche é a nossa pro-
○
riências, no que se refere tanto ao trabalho de-
○
dução mais recente e ilustra a participação dos
○
senvolvido diretamente com as crianças, como
○
educadores e técnicos como protagonistas e co-
○
também ao trabalho de formação dos funcio-
autores do processo de construção de conheci-
○
nários. Os temas trabalhados envolvem as di-
○
mento na creche. Esse trabalho apresenta a pro-
○
versas áreas de atuação das creches e pré-es-
○
dução dos educadores na organização dos ambi-
○
colas, em relação tanto ao cuidado quanto à
○
educação das crianças. entes. Destaca a cultura da infância. Os arranjos
○
espaciais e o seu uso pelas crianças são apresen-
○
Palestras, cursos e assessorias. Os membros
○
tados por um jornalista excêntrico, que utiliza a
○
da equipe técnica, como alguns educadores,
○
narrativa para contar histórias desse projeto.
○
têm cumprido o importante papel de divul- ○
No livro Os fazeres na Educação Infantil
gar conhecimentos técnicos-práticos por
○
com crianças de 0 a 7 anos. Alguns técnicos trução da proposta pedagógica fez parte da for-
○
○
também têm participado, como assessores, mação dos educadores dessa creche. A proposta
○
de discussões sobre políticas para a Educa- pedagógica é apresentada por nós como algo que
○
○
Folhetos:
○
jamento.
a. Série Carochinha: Mordidas: agressividade
○
Vamos pra caminha: sono nas creches; Se- e estratégias. Essa estrutura é necessária para
○
○
fundado em 1992.
○
Editora Cortez.
○
Letramento na creche; O fazer do bebê; O con- mundo, dos seus parceiros de interação e de si
○
– práticas educativas alimentares na creche; tórica e cultural e, daí, tanto os pensamentos como
○
○
178
PAINEL 14
O reflexo da ação formadora no projeto pedagógico – Educação Infantil
origem social. Assim, as questões relacionadas ao construímos nosso “jeitinho de fazer”, que sem-
○
○
humano, à sua constituição, ao seu desenvolvi- pre teve, tem e terá falhas, faltas, buracos, con-
○
○
mento e à sua profissionalização devem ser lidas forme descreve Adriano Gosuen, em seu artigo
○
em relação às vivências do indivíduo e ao seu mo-
○
bem humorado “Só que…”, o qual conclui nosso
○
mento de vida, dentro da realidade concreta em livro Os fazeres na Educação Infantil (1998: 187).
○
○
que está inserido.
○
○
Assim, ao organizarmos programas durante
○
178
○
esses dezesseis anos na Creche Carochinha, ou-
Bibliografia
○
vimos, discutimos diferenças, enfrentamos di-
○
○
vergências e oposições e, muitas vezes, altera- BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). Diá-
○
rio Oficial. Poder Executivo, Brasília/DF, 23 dez. 1996.
○
mos percursos que acreditávamos construídos.
○
OLIVEIRA, M.R. Zilma et al. Creche: crianças, faz de conta e
Assim, vivemos intensamente nossas frustra-
○
cia. Petrópolis: Vozes, 1993.
○
ções, diante de dilemas muitas vezes não solu-
○
ROSSETTI-FERREIRA et al. (Orgs.). Os fazeres na Educa-
○
cionados naquele “dia de formação”. Enfim, ção Infantil. São Paulo: Cortez, 1998.
○
○
○
○
○
○
○
Relato de experiência:
○
○
○
no projeto pedagógico
○
○
○
da instituição
○
○
○
de Educação Infantil
○
○
○
○
○
Sendo uma professora que está, no dia-a-dia, siderei fundamental trazer aqui a voz da profes-
○
○
em uma sala de aula com 20 crianças e sentindo sora. Não das milhares deste Brasil, porque não
○
o peso da responsabilidade de cuidar da forma- poderia. Cada uma é uma, com uma história
○
○
ção delas, inicio dizendo da minha alegria em muito singular, e esse é mais um princípio a ser
○
○
participar deste congresso. Alegria por entendê- pensado nas políticas de formação: não somos
○
○
lo como oportunidade de diálogo sobre um gran- uma massa homogênea. Como elemento desse
○
de desafio da educação deste país – a formação coletivo, dessa categoria, fiz a opção por perso-
○
○
dos professores –, que nos toca tão direta e pro- nificar ao máximo, contando uma experiência
○
○
fundamente. Assim, estar aqui, sendo considera- muito particular, mesmo correndo todos os ris-
○
da minha formação, parece óbvio, mas sabemos, Tentarei desenhar, na cabeça de vocês, uma
○
○
Nesse sentido, pensei muito sobre o que pri- por onde passam o meu sonho e as minhas ne-
○
petir aqui as discussões mais atuais sobre forma- inúmeras as marcas e os aspectos que precisa-
○
○
ção. Isso seria importante para minha defesa de vam ser trazidos à tona para desenhar a pessoa/
○
○
que também temos um saber que precisa ser con- professora que sou, mas tive de fazer opções e
○
○
manente de fazer opções, escolhendo, num con-
○
junto de importâncias, o que, no momento, é o seja, em tudo há um ar de “vocação”.
○
○
mais importante é o maior desafio da profissão. A professora mais próxima do nosso tempo,
○
○
Pretendo dividir minha abordagem em três minhas irmãs viveram: Dona Yara, Dona Sara,
○
aspectos: Dona Iraci. Penso que tinham um pouco mistu-
○
○
1. A percepção que tenho da trajetória da minha radas as características dos dois professores an-
○
○
profissão e quais traços dessa trajetória iden- teriores. Elas ainda contaram com status e reco-
○
tifico como constituindo a professora que sou. nhecimento social e foram a “segunda mãe” de
○
○
2. O meu ponto de vista sobre a articulação en- muitas crianças. Esse tempo, mesmo com seus
○
○
tre a velha discussão – compromisso político limites e equívocos, marcou, na minha opinião,
○
○
versus competência técnica – e a nova discus- um período em que o nosso papel era carregado
○
são – o professor como sujeito sociocultural, de respeito, que nos dava orgulho e compromis-
○
○
responsável por seu processo de formação, e so. Penso ser fundamental resgatar esse respeito,
○
○
a formação como direito. esse orgulho e esse compromisso pela profissão.
○
○
os limites e as necessidades de um processo Eu também visitava suas salas de aula e, nas duas
○
○
em políticas de formação que nos considere eram levadas muito a sério, mas o mais visível era
○
○
como sujeitos concretos, temporais. No entan- o orgulho que se tinha da turma e da profissão.
○
ferente, o outro idealizado, o outro que a con- atenção para o fato de que minhas irmãs, duran-
○
○
venção aconselha, o outro com o qual convivo, te o exercício da profissão, não tiveram treina-
○
indivíduo habitado por um conjunto de outros. para 25 anos de serviço. No entanto, minhas ir-
○
○
Nesse primeiro ponto, quero remontar à tra- mãs, pelo menos, que eram três na mesma casa,
○
car o que penso permanecer em mim desses da, o que certamente devia possibilitar reflexões
○
○
outros distantes no tempo. Do professor dos pri- e trocas entre elas. Quero destacar também que,
○
pouco sei e não poderia identificar traços de nal iniciou-se aos 8 ou 9 anos de idade.
○
○
ção mais coletiva, relacionado com a Igreja, dan- Somos “as tias”, com todo o desprestígio social
○
○
do à nossa profissão características de dom, vo- desse título, aquela boazinha que faz as vonta-
○
○
cação, sacerdócio, penso que trago uma certa des, que pode ser útil para várias tarefas, mas é a
○
muita culpa. Culpa pela criança não atingir os Aquela que, não sendo a dona, a grande respon-
○
○
tais padrões desejados, culpa por uma interven- sável pela formação/educação da criança, não
○
○
ção desajeitada, culpa pelo tempo não render, define nada, mas ganha a recompensa da “flexi-
○
mãos, culpa por fazer greve, culpa pela criança cisa ser muito competente e ganha um título que
○
○
sair da escola. Com todo esse sofrimento, há uma carrega doses de afetividade. As “tias” são boazi-
○
180
PAINEL 14
O reflexo da ação formadora no projeto pedagógico – Educação Infantil
nhas, como se o título desse, a priori e de graça, ca carregava significados diferenciados, em di-
○
○
uma relação afetiva que deveria ser construída ferentes concepções de cultura e, nesse sentido,
○
○
no dia-a-dia. Mas, junto com essa realidade, exis- o compromisso político é que deveria ser o
○
○
te outra. Mãe é uma só e “tias” podem ser mui- detonador de uma determinada competência
○
tas, e passamos a ser entendidas no plural. técnica e o seu horizonte. Depois veio o Der-
○
○
Talvez, como instinto de sobrevivência, hoje meval Saviani, elegendo-se para fazer a síntese
○
○
somos plural, tias ou mercenárias; somos plu- desse debate. Talvez não fosse bem isso o que os
○
ral, somos categoria, organizamo-nos em sindi- autores diziam, e com certeza eles diziam mui- 180
○
○
catos e tentamos fazer ouvir a nossa voz, os nos- tas outras coisas, mas não é meu objetivo deter-
○
○
sos direitos. Somos também objeto de pesquisa me nesse debate. Só pretendo chamar a atenção
○
○
e estudos de nós mesmas e de outros, preocu- para o fato de que, naquele momento, tomei a
○
pados com nossa identidade, e nos percebendo primeira posição com relação à minha profissão
○
○
como sujeitos sociais políticos. Um sujeito cons- e defendia, apaixonadamente, que primeiro vi-
○
○
tituído na relação com outros, fazendo e se fa- nha o compromisso político e, em nome dele, do
○
○
zendo na cultura. resto a gente corria atrás.
○
Neste tempo em que vivo, a professora que sou Hoje, revisitando esse momento, à luz das
○
○
tenta negar o papel de tia nas ações e atitudes in- discussões atuais sobre formação, principalmen-
○
○
dividuais, mas sei que a carrego comigo, principal- te as de autoria do professor António Nóvoa,
○
○
mente no olhar do outro sobre minha profissão. percebo que nem era um posicionamento bem
○
Com relação ao sujeito sociopolítico pertencente fundamentado, era quase visceral. Vivendo todo
○
○
a uma categoria, tento me colocar a serviço da aquele fervilhamento das greves de professores
○
○
construção dessa identidade numa constante e nas ruas, tive de jogar fora a imagem cor-de-rosa
○
doída articulação entre o individual e o coletivo. construída sobre o Magistério, perdida no jogo
○
○
Mas, com toda a certeza, participar da aber- das diferentes imagens que nos eram impostas:
○
○
tura política de nosso país em 1979, ir para as missão sublime; professora como um ser delica-
○
○
ruas abrindo a caixa-preta da educação e presen- do, frágil; espera-marido; opção segura para
○
ciar o surgimento de uma nova concepção de moça de família por ser tarefa fácil, de meio pe-
○
○
sindicato, mesmo ainda sendo uma aluna do ríodo, possibilitando a dedicação ao lar. Nas ruas,
○
○
Normal, foi e é uma marca determinante na pro- eu via companheiras fortes, determinadas, que
○
○
fessora que sou. Penso que nos anos de 1980, corriam por três turnos de trabalho, em sala de
○
escorregamos por uma etapa da história, e as aula. Eu não estava achando nada fácil ser pro-
○
○
mudanças ocorreram a mercê das ideologias e fessora. Alguma coisa estava errada comigo?
○
○
sujeitos da história e das mudanças, negando za de que a minha formação inicial era insufici-
○
Vou passar rapidamente pelo segundo aspec- imagem que tinha da profissão era irreal, não me
○
○
to só para pontuar que toda aquela discussão da senti sem chão debaixo dos pés, porque, junto
○
○
década de 1980, sobre competência técnica e com esse movimento de desconstrução, havia
○
compromisso político, também influenciou mi- também a construção de uma visão de mundo e,
○
○
nha formação. Penso que a importância maior aí, de um compromisso político que me faria
○
○
foi o fato de, pela primeira vez na minha vida, eu correr atrás do que me faltava.
○
○
estar diante de um debate, diante de pontos de Assim, a posição de que o compromisso po-
○
vista diferentes, e me sentir tentada a fazer, pela lítico era impulsionador para a competência téc-
○
○
primeira vez, a pergunta que não me abandonou nica foi a verdade do meu percurso pessoal. Era
○
○
mais: “E você, Stefânia, o que pensa sobre isso? uma identificação, mais que uma posição. Hoje,
○
○
Qual a sua opinião/posição?”. Lembro que poderia citar uma colega que, na minha opinião,
○
Guiomar Namo Mello defendia que a competên- percorreu um caminho inverso ao meu, mas a
○
○
cia técnica levaria ao compromisso político e conclusão é a mesma da década de 1980: o fun-
○
○
Paolo Nosella defendia que competência técni- damental é que compromisso político e compe-
○
tência técnica estejam presentes em cada ação Mas vocês já imaginaram o quanto o nosso
○
○
do professor. É nesse sentido que hoje me iden- corpo fica exposto, nessa profissão? Sabem o que
○
○
tifico, me posiciono em defesa e me transformo significa pegar piolho, custar a acabar com eles
○
○
com as contribuições de António Nóvoa e Inês e, no outro dia, aceitar aquele abraço, agarrado,
○
Teixeira: grudado no pescoço, da Aninha e até sentir a
○
○
“transfusão” de piolhos? Qual formação, ainda
○
○
Os professores exercem sua atividade e se mais a distância, daria conta do controle que
○
constituem, como tal, em contextos sociais e his- devo ter quando ganho aquele pisão na unha?
○
○
tóricos, dimensionados em estruturas, institui- Nas minhas reflexões, é dilema, é sofrimento
○
○
ções e processos resultantes das escolhas e con- pensar: “Efetivamente, eu os estou formando
○
tingências da ação humana [...]
○
para a iniciativa, para a independência, para a
○
Sujeitos socioculturais são, finalmente, seres
autonomia, quando organizo com eles todo o
○
de ação, realizando-se como seres livres e de vida
○
espaço da sala e a dinâmica do trabalho? Ou
○
ativa, inseridos no mundo por suas palavras e
○
quando, ao reorganizar as mesas para uma ati-
○
atos que são comunicação e revelação (Inês ○
vidade, uma criança cheia de iniciativa, queren-
Teixeira, 1996).
○
sua complexidade humana e científica. É que ser Por isso, vira e mexe, nas reflexões coletivas
○
a nossa maneira de ser com a nossa maneira de en- de nós entende como autonomia e como postu-
○
○
sinar, e que desvendam na nossa maneira de ensi- ras coerentes com tais concepções. Já, nas refle-
○
Aceitei, entusiasmada, esse convite do Nóvoa ficando competentes em muitas coisas, mas a
○
○
e passo para o terceiro ponto da minha aborda- tolerância, com certeza, vai diminuindo. Até que
○
gem, descrevendo algumas características mi- resolvi que nada é dado e acabado, e estou
○
○
nhas que têm influência na minha atuação, o que priorizando e policiando o meu grau de tolerân-
○
○
tento fazer num exercício de articulação com a cia, na relação com as crianças, e a meta é per-
○
○
Começo com a opção por uma profissão que tolerância, existe um outro aspecto: como forta-
○
○
se pauta na relação de gente com gente. Tarefa lecer uma relação de encantamento com o dife-
○
○
complicadíssima! Basta pensar nas relações ma- rente, com o novo, se o que é padrão e o que não
○
○
rido/esposa e nas relações pais/filhos. Só que para traz estranhamento é tão cômodo e, aí, sedutor?
○
essa relação familiar ninguém estudou, ou apos- Como construir e manter uma postura de
○
○
tou num retorno. Nosso caso é ainda mais com- alteridade? Outra grande contribuição do cole-
○
○
plicado, porque essa relação se dá num lugar com tivo de uma escola pública é que é preciso sem-
○
○
uma função específica: educar/formar, e temos pre conviver e negociar nossas diferenças.
○
uma “formação” que presumiria uma aposta e, O tempo passa e envelhecemos. Vamos para
○
○
daí, uma responsabilidade em “acertar mais”. Essa a idade. Tenho 40 anos e minha relação é com
○
○
questão já nos coloca, nesse lugar, com o descon- crianças de 5 anos. Talvez, aqui, o Papai do Céu
○
○
Então, vamos dizer desse corpo que carrega nosso ser criança e a experiência vivida não con-
○
○
essa responsabilidade. O meu corpo e a minha segue nos ajudar na relação com as crianças. Ali-
○
○
estatura são facilitadores da tarefa de professora ás, acho que elas são muito mais compreensi-
○
○
de Educação Infantil (talvez fosse complicado na vas, que têm uma fase que ainda não viveram,
○
relação com os “grandões”). Meu tamanho me do que nós, que já fomos crianças. Na Educação
○
○
aproxima das crianças e elas adoram dizer que Infantil, é fundamental perceber a perspectiva da
○
○
estão quase me pegando. criança, para ajudá-la no seu processo. Então, nas
○
182
PAINEL 14
O reflexo da ação formadora no projeto pedagógico – Educação Infantil
reflexões do coletivo da escola, também é uma implica constantes trocas, negociações e cons-
○
○
luta definir até onde a interminável “contação” trução de acordos possíveis. Assim, o projeto
○
○
de caso das crianças nos ajuda a entendê-las, político-pedagógico vai se constituindo e o seu
○
○
como lidar com o tempo, sempre insuficiente registro vai tendo o lugar do vivido, e também
○
para tantas prioridades, e onde buscar os funda- das metas desejadas, dos acordos vislumbrados.
○
○
mentos teóricos que ajudariam a entender aque- Como podem perceber, são muitos os fato-
○
○
la atitude, tão específica da minha aluna. res que constituem o meu fazer, o fazer político-
○
Outro conflito que vivo é que a minha pes- pedagógico de cada escola. A tarefa de auto- 182
○
○
soa é autoritária, mas sofro ao pensar que a pro- conhecimento, ao construir identidades, reco-
○
○
fessora o seja. Convenhamos, posso não ser au- nhecer e desafiar limites, é muito complexa, mas
○
○
toritária como professora se a pessoa que sou é?! cada professor é quem deve assumi-la. Para pen-
○
Fico me enganando, pensando que, com as cri- sar qualquer processo de formação que consi-
○
○
anças, construo uma relação mais democrática derasse a professora que sou, de início precisa-
○
○
ou, pelo menos, autêntica. ria entender o significado do sacrifício dos meus
○
○
Ser mulher também marca muito minha re- pais, para garantir o diploma de professora para
○
lação com as crianças, é claro, mas tenho uma todas as suas oito filhas, e como esse fato e a ex-
○
○
colega cuja imparcialidade é flagrante demais celência do trabalho dessas minhas irmãs deter-
○
○
para com as meninas, e isso acaba por me aju- minam o valor que dou à minha profissão. As-
○
○
dar nas reflexões internas. sim, por maior que seja o compromisso político
○
porque é bastante frágil a minha própria forma- políticas de formação, acho impossível alcançar
○
○
ção, tenho defasagens grandes em várias áreas todas as nuances colocadas no fazer político-
○
ro atrás o tempo todo e penso que acabo cum- Nesse sentido, depois de aceitar o convite de
○
○
prindo o papel de sistematizadora do conheci- Nóvoa, também faço o meu convite, principal-
○
○
mento universal. Nisso também sou ajudada mente aos senhores, que têm o poder e a respon-
○
pelo coletivo da escola, pois essa questão é sem- sabilidade de elaborar políticas de formação,
○
○
analfabeta, mas a consciência disso me fez orga- Os professores têm de ser protagonistas ati-
○
artística. Na escola, também têm sido muito pau- Toda ação encerra um projeto de ação. E de
○
tadas as dimensões estética e ecológica no nosso transformação. E não há projetos sem opções. As
○
○
trabalho, o que tem sido importante para mim. minhas passam pela valorização das pessoas e
○
○
E, só para não ficar um perfil muito ruim, dos grupos que têm lutado pela inovação no in-
○
ferenciadas, que são interessantes. Isso faz com Minha identificação é tão grande, e penso
○
○
que a minha auto-estima como professora seja que nada mais precisa ser dito. É hora de ações
○
positiva – o que é fundamental para eu me aven- que concretizem a formação dentro dessa con-
○
○
turar, como dona do meu percurso, tanto ao fa- cepção, que pressuponham o professor como
○
○
zer como ao refletir e transformar esse fazer. sujeito de seu processo de formação e a escola
○
○
No coletivo da escola, cada uma de minhas como espaço privilegiado dessa formação.
○
colegas, ao se colocarem, também trazem a mar- Nesse ponto, é importante contar do meu
○
○
ca de suas histórias de vida, seus percursos pro- processo de formação continuada. Nos movi-
○
○
fissionais, suas características pessoais, o que mentos sociais e nas campanhas da minha cate-
○
goria, aprendi muito, mas vou dizer do meu pro- formação do professor e da escola. Houve muita
○
○
cesso de formação como ação da Secretaria Mu- angústia e muito choro nesse processo e faltou
○
○
nicipal de Educação de Belo Horizonte. uma leitura mais precisa dos diversos choros, e
○
○
Com certeza, a minha experiência tem sido os rótulos resistência e desejo de receita pronta
○
muito positiva. Foram muitas as oportunidades de não contribuíram em nada. O sentimento que
○
○
cursos, palestras, e seminários, promovidos pelo acabou se instaurando foi o da solidão.
○
○
Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Nesse processo, a formação precisava ganhar
○
Educação (Cape), que se constituíram em momen- a centralidade, mas não qualquer formação, e, sim,
○
○
tos ricos de aprofundamento ou de desequilíbrio. a defendida por António Nóvoa e Inês Teixeira. Se
○
○
No entanto, considero muito mais efetivas as dis- os esforços foram muitos, infelizmente ainda fo-
○
○
cussões realizadas na escola. Considero um privi- ram insuficientes. Apesar dessa constatação, escla-
○
légio a oportunidade de contar com a contribui- reço que também fui responsável pela formação
○
○
ção de vários profissionais, como Vitória Faria, Fá- dos professores, já que estava no Departamento
○
○
tima Sales, Inês Teixeira e outros, na discussão con- de Educação na época da implantação. Também
○
○
creta, palpável, de nossas dificuldades e descober- ○
destaco que fui e sou defensora dos princípios da
tas. Digo privilégio porque, contar com essas con- Escola Plural, mas continuo precisando de ajuda
○
○
e não de uma política da SMED, apesar de já ter Por fim, para terminar o que pretendia ser uma
○
○
conhecimento de algumas iniciativas, lá, nesse sen- contribuição, insisto: não podemos mais partici-
○
tido, o que é fundamental, porque, se é verdade par das discussões ou ações de formação como
○
○
que a escola é o espaço privilegiado de formação, pobre em festa de rico nem como um penduricalho
○
○
também é preciso reconhecer o quanto podem ser para compor um modismo politicamente correto.
○
“deformadores” o cotidiano e a estrutura de uma É no nosso hábitat que as discussões têm contex-
○
○
escola. Não porque somos bruxas malvadas, mal- to, cheiro, cor, sabor e até dor. Fora de lá é sempre
○
○
vontade de acertar não garante o acerto. Nesse sen- ocorrer constrangimentos, mal-entendidos, super-
○
tido, nossas reflexões devem ser acompanhadas, ficialidade, além de sentirmos nossa contribuição
○
○
saber do outro, compartilhando a responsabilida- Gostaria muito que essa questão do menor
○
○
de e a alegria de construir práticas mais significati- valor não fosse entendida como queixa, ou como
○
Aqui sou obrigada a abrir um parêntese para de dizer é que seria desnecessária a nossa presen-
○
○
falar do Projeto Político-Pedagógico Escola Plu- ça nesta mesa, neste congresso, se todas as ou-
○
○
ral. Digo obrigada, porque inegavelmente tem tras falas já fossem impregnadas das angústias,
○
sido uma experiência doída. Muitos discordam, dos desafios e da caminhada das Stefânias, das
○
○
mas, de fato, na minha opinião, esse projeto tem Marias. Relatos não supostamente imaginados,
○
○
sido, claro que aliado a várias outras questões das nem pesquisados pontualmente, esporadicamen-
○
○
nossas condições de trabalho, motivo de adoeci- te e por amostragens. Ou seja, para mim, hoje, o
○
Por quê? Esse projeto é ruim? Não, muito pelo nuada de professores, é a caminhada da profes-
○
○
contrário. Lendo suas diretrizes, a adesão e mes- sora Ana e de seus companheiros, naquela esco-
○
○
mo o entusiasmo são imediatos. Ele é todo bem la, lá nos cafundós do Amazonas. Como estão
○
construído e articulado, mas dar conta de toda a construindo suas identidades de professores de
○
○
sua aposta, na prática, é muito difícil. Talvez esse Educação Infantil do Amazonas? Como vem se
○
○
seja o motivo do adoecimento: “Quero tanto, por constituindo, no dia-a-dia, sua relação com seu
○
○
que não dou conta?” Por maiores que tenham sido aluno, ao cuidar de sua formação? E aí, mais que
○
os investimentos na capacitação do professor, fal- grandes banquetes esporádicos, haverá uma per-
○
○
tou, na minha opinião, o principal: uma relação, manente refeição de qualidade, com as delícias e
○
○
184
PAINEL 14
O reflexo da ação formadora no projeto pedagógico – Educação Infantil
○
○
que trouxe, pois não gostaria, de maneira algu-
○
Se me fosse permitido, gostaria de transgredir
○
ma, de parecer deselegante, mas reforço a mi-
○
nesta bibliografia. Peço licença, primeiro, porque nada
○
nha alegria de ser considerada nesse diálogo, e, do que está dito no texto é originariamente meu. São
○
justamente, querendo legitimar esse convite,
○
muitos “outros” dizendo por intermédio de mim. Se-
○
considerei ser minha contribuição dizer que, se gundo, porque as contribuições dos teóricos nesse
○
○
é consenso uma nova visão de formação conti- meu pensar são frutos de palestras e/ou apostilas,
○
nuada, é preciso alterar a ordem das coisas. Es- dificultando a maneira convencional de se registrar 184
○
○
uma referência bibliográfica. Assim, só informo que o
pero estar dizendo com respeito e com cuidado,
○
texto é habitado por Guiomar Namo Mello, Paolo
○
mas é preciso dizer: chega de conversa, meus
○
Nosella, Der meval Saviani, Paulo Freire, Miguel
○
Senhores. É urgente que haja uma inversão real Arroyo, Sônia Kramer, Vitória Líbia Faria, Fátima
○
nas ações formadoras, considerando o nosso ser
○
Sales, Inês Teixeira, António Nóvoa et al. Também é
○
e o nosso saber, justamente para que ele não seja, habitado por muitos “outros” ilustres desconhecidos,
○
○
eternamente, um saber frágil, menor. que foram igualmente importantes.
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
○
O programa de formação
○
○
○
Parâmetros em Ação
○
○
○
○
○
tros em Ação de Educação Infantil, o programa sua relevância, uma vez que possibilita a refle-
○
○
tiva de uma educação para a cidadania. Essa grama Parâmetros em Ação não se constitui em
○
○
profissional dos professores no âmbito das Se- implica a questão da vontade política de cada
○
referência a ser utilizada como apoio às discus- papel da escola e do professor, na perspectiva
○
○
sões do fazer pedagógico, dentro das institui- do desenvolvimento de uma prática de trans-
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dar e trocar experiências, e o trabalho coletivo mobilização do pensamento acerca da prática
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nas escolas; reflexiva e da busca de autoformação.
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• identificar as idéias nucleares presentes nos A realização do trabalho citado, com a par-
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referenciais curriculares e fazer as adaptações ticipação das professoras de Educação Infantil,
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locais necessárias, atendendo às demandas teve início em 2000, cujo processo de imple-
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identificadas no âmbito do estado/município mentação deu-se após a espera da contratação
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ou da própria escola. das novas professoras concursadas para atuar
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nesse segmento, pois de nada adiantaria dar
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As finalidades anteriormente citadas com-
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plementaram e/ou sedimentaram as ações início a um processo de formação continuada
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formativas, que já vinham, de certa forma, sen- sem quadro permanente de professores.
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Dessa forma, o início do Parâmetros em
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do desenvolvidas no âmbito da Escola Munici-
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pal Professora Emília Ramos. Ação ocorreu no momento da Semana Pedagó-
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Antes de nos determos na descrição do “Re- gica, ao iniciar o ano letivo (fevereiro de 2000),
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o contexto em que se deu a realização do Pro- car. Desde o princípio, o programa conseguiu
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grama de Formação Continuada para os profes- conquistar e envolver as professoras, pois a sis-
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da formação
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as Secretarias de Educação Municipais, o Sesi e que qualifica o professor para atuar nas fun-
○
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Cristina Leandro.
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por módulos de estudo dos temas abordados, como objeto específico a qualificação para a
○
○
pecialista local e, nos dois últimos, com a parti- mos iniciando, encaminhamos com êxito os
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cipação de formadores da rede nacional do MEC. objetivos propostos pelo Parâmetros em Ação,
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especialistas/formadores, que suscitavam a dis- sua própria formação, uma vez que conse-
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cussão teórica, colocando em evidência os co- guimos conquistar o grupo e ganhar a confi-
○
balhado, de modo que, quando as formadoras mos um vínculo recíproco a partir do mo-
○
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da rede nacional assumiam a coordenação dos mento em que elas se sentiram valorizadas
○
186
PAINEL 14
O reflexo da ação formadora no projeto pedagógico – Educação Infantil
e, tendo respeitado os seus saberes profis- A escola, fundada em outubro de 1988, ini-
○
○
sionais, buscaram a ampliação desse repertó- cialmente recebeu o nome de Centro Munici-
○
○
rio de saberes (Gauthier, 1998), que poderia pal de Educação Infantil Professora Emília Ra-
○
torná-las profissionais mais competentes.
○
mos (Cemeiper) por atender, exclusivamente,
○
a Pré-Escola (termo usado na época). Sua pro-
○
2. A valorização e a necessidade de um traba-
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lho coletivo entre as professoras e demais posta pedagógica foi construída com a partici-
○
○
segmentos no espaço escolar, mais nota- pação de pais, professores e técnicos da Secre-
○
taria Municipal de Educação, e seguiu a uma 186
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damente nas situações de planejamento para
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o desenvolvimento de uma proposta peda- orientação teórica baseada nas idéias constru-
○
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gógica que contemplasse as especificidades tivistas de Emília Ferreiro e Teberosky.
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da Educação Infantil e da criança pequena No início da década de 1990, o Cemeiper
○
em sua cultura local. passou a atender as séries iniciais do 1º Grau,
○
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3. A tematização da prática, que se iniciou a par- uma vez que os pais, acostumados com a parti-
○
○
tir das atividades desenvolvidas e das trocas cipação efetiva nas decisões escolares, começa-
○
○
de experiências favorecidas pelos relatos que ram a reivindicar a continuidade dos estudos
○
surgiam no grupo. A partir desses relatos e dis- de seus filhos numa escola que acreditava no
○
○
cussões, as professoras externavam suas con- potencial deles, respeitava o ritmo e a constru-
○
○
cepções, conceitos, práticas etc. e, assim, con- ção do conhecimento do alunado, de acordo
○
posto nas atividades (a cada encontro os pro- da nos seguintes princípios norteadores da prá-
○
○
de modo positivo).
○
Educação Infantil vem atendendo a, aproxima- festas, passeios, recreações, enfim outras for-
○
○
damente, 130 professoras de 40 escolas muni- mas de expressão e linguagem – não só a es-
○
posta pedagógica.
○
encontros periódicos de estudos e no próprio 2. Que a Pré-Escola seja entendida como ambi-
○
○
pulares.
○
O Parâmetros em Ação
○
na Escola Municipal
○
promovida pelo Parâmetros em Ação, a histó- 4. Que o eixo da proposta pedagógica propicie
○
mos, situada na Avenida Central, S/N, no bair- leituras funcionais, que possibilite o enten-
○
○
ro Cidade Nova, Zona Oeste da cidade de Na- dimento da linguagem escrita, por meio de
○
tal/RN.
○
O bairro ao qual nos referimos é formado tos; leituras e escritas de nomes; estímulo à
○
○
por pessoas de poder aquisitivo baixo. Uma boa consciência dos sons e desenhos livres.
○
○
parte delas sobrevive de biscates, serviços do- 5. Que a avaliação seja entendida como um ele-
○
○
como violento, pelas próprias condições exis- 6. Que a avaliação não seja apenas uma instân-
○
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endida como um conjunto de atuações que alunos e professores, e a promover a integra-
○
○
têm função de alimentar, sustentar, orientar ção entre poder público, comunidade, esco-
○
e ajustar a intervenção pedagógica e verifi- la e família.
○
○
car o grau de aprendizagem que foi atingido
○
pelo aluno, isto é, o quanto este se aproxima
○
Ao longo dos anos, a escola absorveu, entre
○
ou não da expectativa da aprendizagem que
○
suas ações, a prática do planejamento e do es-
○
se tem em determinados momentos da es-
○
tudo sistemático. Esse estudo propicia a ampli-
colaridade.
○
ação do conhecimento dos educadores, bem
○
7. Que o professor e a equipe técnica que fa-
○
como permite a troca de saberes, fator prepon-
○
zem a mediação entre o não-domínio das
○
derante para uma prática que visa à formação
○
ferramentas culturais e o processo do seu
de sujeitos autônomos e conscientes de sua ci-
○
domínio pelos alunos não possam prescin-
○
dadania.
○
dir da competência técnica (aqui entendi-
○
A premissa básica dos estudos do grupo es-
○
da em seu sentido amplo, tanto na sua di- ○
feita, pois deve estar constantemente de- zadas, que levou o grupo a repensar suas ações
○
○
safiada pela prática do ensino e pela ne- referentes aos temas educar e cuidar, brincar,
○
dos relativos a cada área do conhecimen- to, o grande salto qualitativo ocorreu nas formas
○
9. Que a valorização dos educadores passe pela potencializar os avanços na aprendizagem dos
○
○
busca da competência e que se dê conteúdo alunos com relação à leitura e à escrita (antes os
○
○
melhores condições de trabalho e pelo apri- temente, classificar as crianças por níveis de re-
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10. Que o estabelecimento de “vínculos afeti- Percebemos, ainda, que outro ponto pre-
○
○
vos” positivos entre professor/aluno possibi- cisava ser tratado como dinamizador do pro-
○
lite o exercício da auto-estima, como aspec- cesso de rever a prática, tematizando-a de for-
○
○
11. Que a gestão democrática seja uma luta bre o registro, o qual era visto na escola ape-
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○
constante e compartilhada por todos os nas como documento que favorecia a avalia-
○
segmentos da escola, por meio da eleição ção dos alunos, portanto não contemplava a
○
○
direta dos dirigentes escolares, da dina- devida reflexão do professor sobre o seu fa-
○
○
ativa dos pais e das comunidades nos des- de aula, para atender às necessidades de
○
○
12. Que o Conselho da escola constitua-se em Os aspectos citados passaram a ter uma
○
○
berações das questões pedagógicas, adminis- seja, o registro atualmente apresenta-se como
○
○
trativas e financeiras da escola, de forma a excelente recurso didático tanto para avaliar,
○
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188
PAINEL 14
O reflexo da ação formadora no projeto pedagógico – Educação Infantil
○
○
“escritor”.
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○
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
Atualmente, o grupo de professores procu-
○
Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a
○
ra consolidar o hábito de estudo a partir da
○
Educação Infantil. Brasília, 1998.
tematização da sua prática e toma as suas fra-
○
. Programa de desenvolvimento profissional
○
gilidades como instrumentos para minimização
○
continuado: Educação Infantil. Brasília, 1999.
○
de suas necessidades educativas. GAUTHIER, Clermont. Por uma teoria da Pedagogia: pes-
○
Pelo exposto, consideramos relevante o Pro- 188
○
quisas contemporâneas sobre o saber docente. Ijuí:
○
grama Parâmetros em Ação para a melhoria da Unijuí, 1998.
○
PERRENOUD, Philippe. Construir as competências desde
○
qualidade do ensino, pelo fato de que ele vem
○
a escola. Porto Alegre: Artmed, 1999.
○
possibilitando a revisão dos conhecimentos per-
. 10 novas competências para ensinar. Porto
○
tinentes ao trabalho docente e potencializando
○
Alegre: Artmed, 2000.
○
o desenvolvimento de competências necessárias . Pedagogia diferenciada: das intenções à
○
○
ao ensino (Perrenoud, 1999, 2000a, 2000b). ação. Porto Alegre: Artmed, 2000.
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P A I N E L 15
EXPERIÊNCIA DE FORMAÇÃO
NA AMAZÔNIA LEGAL
Francisca Bezerra da Silva
191
Programa de Desenvolvimento
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Profissional Continuado –
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Parâmetros em Ação
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Francisca Bezerra da Silva
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SEE/AC
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Resumo Avaliação da SEE sobre
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o programa
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A apresentação do Programa de Desenvolvi-
○
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mento Profissional Continuado – Parâmetros em
○
de Estado de Educação do Acre (SEE) faz do referi- • Havia cerca de 15 anos que a rede de ensino
○
buições para o sistema público de ensino; os nú- se uma proposta clara e definida, exceto ações
○
prioridades de continuidade referentes à forma- de grande alcance, que atinge até os municí-
○
se aos demais municípios: Brasiléia, Assis Bra- exemplo, citamos o momento em que assisti-
○
○
sil, Epitaciolândia, Xapuri, Sena Madureira, mos ao filme O auto da compadecida, de Guel
○
Mâncio Lima, Rodrigues Alves, Tarauacá, Feijó constituiu em objeto de reflexão, entreteni-
○
○
Contribuições do programa
○
192
PAINEL 15
Experiência de formação na Amazônia Legal
○
○
o prazer de estudar e de refletir sobre a prática com os volumes I e II, próprios do programa.
○
○
pedagógica cotidiana;
○
○
• amplia a visão e o compromisso dos professores; Módulos multidisciplinares:
○
○
• ajuda a vencer resistências quanto à postura peda- I Módulo. Escola, adolescência e juventude: o
○
○
gógica e à concepção de mundo e da Educação; estabelecimento de uma relação mais har-
○
moniosa e significativa – 12 horas (conforme
○
• questiona a falta de coerência entre discurso 193
○
e prática; proposto nos Parâmetros em Ação).
○
○
II Módulo. Ética: raiz e fruto da vida social – 16 horas
○
• permite a constituição de um grupo de pro-
○
fessores, coordenadores pedagógicos e direto- (conforme proposto nos Parâmetros em Ação).
○
○
res, formadores compromissados com a for- III Módulo. Novos desafios para ensinar e
○
mação continuada e com a gestão escolar; aprender cada área nas séries finais do Ensi-
○
○
no Fundamental – 16 horas (o III e o V
○
• estimula o uso das novas tecnologias para as
○
práticas educativas; módulos transformaram-se em um curso de
○
40 horas por área).
○
• possibilita a ressignificação do planejamento
○
IV Módulo. Tratando de questões sociais em
○
e da avaliação da aprendizagem;
○
○
cada área, abordando conteúdo de forma sig-
• favorece o órgão gestor do sistema, a Secreta-
○
tato com os professores, levantando questões, V Módulo. O que, por que e como ensinamos e
○
dúvidas e demandas.
○
Segmento Total
○
1ª a 8ª série do Ensino Fundamental 3.761 área nas séries finais do Ensino Fundamen-
○
multidisciplinar).
○
○
Educação de Jovens e Adultos (EJA) 214 VII Módulo. Passou a ser contemplado nos de-
○
○
damental:
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○
de da capital, Rio Branco, e do município de IX Módulo. Projetos de trabalho: dando vida aos
○
○
Cruzeiro do Sul. Nos municípios menores, o conteúdos das áreas finais do Ensino Funda-
○
ficiência de professores para a formação de tur- X Módulo. Enfim: escola para quê e quais ca-
○
○
○
○
de que se justifica em função das especificidades
○
o que fazer após os módulos
○
da região. É comum as escolas promoverem
○
do PCN em Ação? ações de prevenção ao desmatamento, às quei-
○
○
madas, levantar questões a respeito do uso da
○
Durante o desenvolvimento dos módulos do
○
água, da poluição ambiental, do destino do lixo,
○
PCN em Ação, ficaram ressaltadas as principais entre outros. É o momento para subsidiar as re-
○
○
dificuldades e resistências da maioria dos pro- feridas ações. Também, esse programa está sen-
○
fessores. A partir de então, definiu-se a conti- do inserido nas licenciaturas que fazem parte
○
○
nuidade da formação continuada com as se- do convênio: Matemática, Letras, Geografia,
○
○
guintes ações: História, Biologia e Educação Física, no total de
○
1.854 participantes.
○
• Potencialização do espaço da formação ini-
○
cial. A SEE, em convênio com a Universidade • Aprofundamento da reflexão de avaliação.
○
○
Federal do Acre e em parceria com municípios,
○
• Aprofundamento dos estudos de Língua Por-
está promovendo cursos superiores para 4.658
○
○ tuguesa, Matemática e temas transversais.
professores. As reflexões pedagógicas, como
○
Nacionais, deverão se fazer presentes no inte- Convívio Escolar. A SEE entende que é a oca-
○
○
rior desses cursos. sião oportuna para a escola refletir sobre a co-
○
e mediar conflitos.
○
194