DEPARTAMENTO DE CIENCIAS JURIDICAS CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO
Disciplina: Mediação e Arbitragem
Professora: Ana Carolina
Alunas: Laís Arcanjo do Nascimento Teixeira Marques
Tathiana Amorim Moura Rezende – 11226222
Turma: 10º período diurno
Atividade referente à 3ª unidade da disciplina
O PROCEDIMENTO ARBITRAL
A arbitragem pode ser conceituada como a instituição pela qual pessoas
capazes podem confiar o julgamento de seus litígios relativos a direitos transigíveis a árbitros. O litígio somente será submetido a julgamento através de um árbitro, em caso de haver manifestação das partes escolhendo tal procedimento, sendo limitado o seu escopo de jurisdição. Os árbitros estarão submetidos às regras estipuladas pelas partes na cláusula ou compromisso arbitral, sendo nula a sentença arbitral proferida fora dos limites impostos pelas partes. É importante ressaltar que a sentença não está sujeita a recurso ou homologação judicial, no entanto, constitui título executivo extrajudicial, com a mesma força aplicável a qualquer sentença proferida pelo Poder Judiciário. A arbitragem surgiu pela primeira vez na Constituição Imperial de 1824, que disciplinava sobre a possibilidade de escolha de árbitros para resolução dos litígios. Contudo, deixou de ter previsão constitucional a partir da Constituição da República de 1891, quando passou a constar apenas em normas infraconstitucionais. Foi somente com a atual Constituição Federal de 1988 que o nosso ordenamento voltou a dar previsão específica ao instituto da arbitragem, e a Lei nº 9.307 de 1996 foi uma baliza essencial para a evolução do instituto com a reconhecida constitucionalidade do Supremo Tribunal Federal. Com a vigência da lei nº 9.307/96, se houver a propositura de uma ação relativa a contrato que contenha cláusula arbitral, o réu poderá alegar a existência de convenção de arbitragem, e o juiz deverá extinguir o processo sem a discussão do mérito. A Lei de Arbitragem prevê que poderá ser árbitro qualquer pessoa capaz e que tenha a confiança das partes, de acordo com o seu artigo 13 e exige que o árbitro proceda com imparcialidade, independência, competência e diligência e discrição. As partes podem incluir em contrato a possibilidade de levar em litígio a arbitragem, através da Cláusula Arbitral, ou se constarem no próprio Termo de Arbitragem o objeto submetido através do termo de compromisso arbitral, além de dever constar a qualificação tanto das partes como dos árbitros, a matéria submetida à arbitragem, bem como o local em que será proferida a sentença arbitral. O procedimento para a instauração da arbitragem dependerá do tipo de convenção escolhida pelas partes. Quando há o compromisso arbitral, já existe o litígio e as partes decidem submetê-lo ao juízo arbitral com a assinatura deste compromisso, será dada a iniciação do procedimento arbitral. Se as partes escolheram a cláusula de arbitragem em contrato sem que houvesse um acordo prévio a respeito de como se dará o procedimento, a parte interessada manifestará sua intenção de iniciar a arbitragem por via postal ou qualquer outro meio de comunicação, mediante comprovação de recebimento, convocando-a para que em dia, local e hora certos firmarem o compromisso arbitral, conforme o artigo 6º da Lei de Arbitragem. Caso estabeleçam na própria cláusula todas as regras de procedimento da arbitragem, as partes poderão optar pela arbitragem institucional ou pela arbitragem ad hoc. Na arbitragem ad hoc, não há intervenção de nenhuma instituição para organizar o procedimento arbitral. Já na arbitragem institucional, como o próprio nome sugere, há uma instituição responsável pela organização do procedimento. Não poderão atuar como árbitros aqueles que mantenham relações com as partes que configurem suspeição ou impedimento de juízes. Na hipótese de proibição quanto a substituição de árbitros já indicados, o compromisso arbitral será extinto. As partes podem estabelecer um procedimento próprio, criado por elas afim de solucionar o litígio. Já na convenção de arbitragem podem se reportar a uma determinada lei ou instituição especializada em arbitragem, ou podem designar aos árbitros a responsabilidade pela criação das regras que serão aplicadas. Havendo omissão a respeito do procedimento, caberá aos árbitros tal reponsabilidade de escolherem o que julgarem como adequado. Contudo, qualquer que seja a opção de procedimento adotada, deverão ser obedecidos o Princípio da Imparcialidade do Árbitro, o Princípio da Igualdade das Partes, e o Princípio do Contraditório e do Livre Convencimento do Árbitro. O artigo 22 da Lei de Arbitragem dispõe que o arbitro tem o poder de indicar quais são as provas necessárias, podendo determinar a produção de provas que não foram requeridas pelas partes. A sentença arbitral, por conseguinte, é o instrumento pelo qual o árbitro finaliza o procedimento de arbitragem. Esta deve ser sempre escrita e prolatada em prazo estipulado pelas partes, e na ausência de estipulação, em seis meses após a instauração da arbitragem. A sentença deve conter um relatório, de maneira obrigatória, os nomes das partes, um histórico sobre o litígio, os fundamentos da decisão, a parte dispositiva e a data e local em que foi proferida. Havendo a possibilidade de nulidade da sentença que não recair sobre todo o litígio. Muito embora os árbitros sejam equiparados a juízes estatais, eles não possuem o poder de coerção, e portanto quando este for necessário, por ser exclusivo do Estado, deve-se haver uma cooperação entre árbitro e juiz. Esta cooperação pode ser necessária até mesmo antes do início da arbitragem, mas também durante o procedimento, quando por exemplo uma testemunha se nega a comparecer perante o tribunal, e após finalizada a arbitragem. Nesses casos, é o poder judiciário quem auxilia o árbitro de forma que sem esse auxilio, a arbitragem não iria funcionar de maneira realmente efetiva. Quando acontece de o poder judiciário ser acionado antes de feita a arbitragem, mesmo diante de uma cláusula ou compromisso arbitral que derrogou a justiça estatal, é preciso que a existência dessa convenção seja arguida pela outra parte. Isso porque o Código de Processo Civil dispõe que o réu pode alegar na contestação a existência de uma Convenção de Arbitragem, antes de discutir o mérito. Há outras situações em que o judiciário pode ser acionado antes de instaurado o processo de arbitragem, isso porque não faz sentido que a parte não recorra ao judiciário em casos que seja preciso. É o exemplo de propor uma ação cautelar ao juízo estatal competente durante o processo de instauração da arbitragem, algo que tem sido muito comum e algumas instituições inclusive denominaram esse instrumento de cautelar pré arbitral. Esse instrumento ainda é pouco explorado, mas merece atenção porque com seu emprego, muitas críticas à arbitragem seriam evitadas. Há outra hipótese de acionamento do judiciário, só que durante o curso do processo de arbitragem, pois esse acionamento evitaria que acontecesse um dano irreparável à parte naquele processo arbitral. Esse caso ainda é pauta de muitas divergências: por um lado há doutrinadores que entendem que os árbitros não deveriam poder conceder medidas cautelares, funcionando como mero interlocutor do juiz togado e as partes; por outro, parte da doutrina entende que isso geraria situações insustentáveis e que o árbitro deveria poder conceder medidas cautelares caso achasse necessário. Outro caso de acionamento do poder judiciário durante o processo arbitral seria num caso em que a testemunha estivesse se recusando a comparecer sem justa causa. Aqui, também cabe ao árbitro acionar o poder estatal para que a testemunha seja conduzida obrigatoriamente. O mesmo acontecerá caso uma das partes se recuse a mostrar um documento relevante para o curso do processo, porque é o árbitro que deve entender que a falta disso vai gerar prejuízo para a resolução do processo. A Lei de Arbitragem considera que existem somente dois meios para que a parte possa requerer a nulidade da sentença arbitral, e essa foi uma discussão que teve muita valia depois do vigor da Lei 9.307/96: o primeiro meio é quando trata-se da propositura da ação de nulidade prevista no artigo 32 da Lei de Arbitragem; e o segundo é quando forem apresentados pelo credor embargos de devedor à execução da sentença arbitral. Mesmo diante de uma realidade de muita discussão, a doutrina majoritária entendeu que o disposto no artigo 32 da Lei de Arbitragem, só poderia ser arguido em embargos de devedor se esses fossem apresentados no prazo de no máximo 90 dias estabelecido para a ação de nulidade. Mas não é somente o disposto no artigo 32 da Lei de Arbitragem que é passível de nulidade. O §2º do artigo 20 da lei em questão também possui questões que podem ser reexaminadas por ação de nulidade. Em suma, a verdade é que qualquer questão que tiver sido decidida incidentalmente por árbitro, por não comportar impugnação imediata, pode ser reexaminada por ação de nulidade, e portanto ser nula. A Lei de Arbitragem trata diferencialmente as arbitragens domésticas (com sede em território nacional) e as arbitragens internacionais, pois aquelas tem força de título executivo judicial, enquanto que estas dependem da homologação pelo Superior Tribunal de Justiça para então ser homologada no Brasil. Isso prevaleceu mesmo depois de o Brasil ratificar em 2002 a Convenção de Nova Iorque, que estabelecia que os países signatários não deveriam impor ônus superiores à execução de sentenças arbitrais estrangeiras do que aos impostos às sentenças arbitrais domésticas. Depois dessa ratificação, alguns doutrinadores passaram a sustentar que as arbitragens internacionais não precisariam mais da homologação do Superior Tribunal de Justiça, mas essa Convenção de Nova Iorque não prevaleceu no nosso ordenamento nesse aspecto da arbitragem internacional, e a homologação pelo STJ continua sendo obrigatória.