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Universidade de Brasília

Instituto de Letras – Departamento de Teoria Literária e Literaturas – TEL


Literatura Brasileira – Barroco e Arcadismo – 2014/2
Professora Adriana de Fátima Barbosa Araújo
Aluno: Gustavo Alexandre de Paiva

Em Formação da literatura brasileira, momentos decisivos (1975), mais


especificamente na sua introdução, Antonio Candido nos apresenta algo aparentemente óbvio,
porém extremamente esclarecedor para que o leitor prossiga na leitura de sua visão polêmica
sobre o processo formativo de nossa literatura: seu ponto de vista. É sabido que todo
pesquisador deve assumir um ponto de vista para prosseguir no trabalho, sem que se perca em
meio aos variados ângulos possíveis oferecidos pelo seu objeto de estudo. Contudo, uma vez
que nós, leitores, nos deparamos com algumas contradições na pesquisa, por vezes inevitáveis,
é possível questionarmos a viabilidade da ótica escolhida pelo autor. É para as questões da ótica
de Candido em relação ao seu objeto e para as possíveis contradições acarretadas com ela que
quero atentar no presente trabalho.

É assim que Candido começa sua Formação da literatura brasileira: indicando e


esclarecendo para seu leitor qual foi o olhar empregado na realização de sua obra e mostrando
– senão provando – a legitimidade do seu. O autor afirma que a presente obra que seu leitor tem
nas mãos se trata de um livro de história, “mas sobretudo de literatura”, pois a partir do olhar
histórico é que ele vai desenvolver e delimitar os momentos considerados por ele como
decisivos na formação da literatura brasileira. Estudar literatura historicamente é possível – nas
palavras do autor, legítimo – pelo fato das obras se articularem no tempo, sendo possível assim
compreender melhor uma determinação na maneira como elas são realizadas e incorporadas ao
patrimônio da civilização.

Tantas justificativas para seu método de pesquisa se mostram extremamente necessárias


quando o autor introduz a grande polêmica de seu estudo, que é ao mesmo tempo a grande
ferramenta – e inovação – de sua argumentação: a distinção entre o que seriam manifestações
literárias e o que seria literatura propriamente dita. Ora, contrariando o que ensinam os livros
didáticos, Candido afirma que o processo de formação de uma literatura verdadeiramente
brasileira só se inicia no que conhecemos como Arcadismo, categorizando movimentos
anteriores à este como apenas manifestações de literatura. Para compreendermos melhor,
vejamos como o autor define estas duas categorias.

Para Antonio Candido, literatura propriamente dita deve ser considerada como “um
sistema de obras ligadas por denominadores comuns, que permitem reconhecer as notas
dominantes duma fase.” (p. 23) Assim, estes denominadores comuns são descritos por ele como
as características internas da obra, isto é, a língua, as imagens, o tema e também elementos
específicos de natureza social e psíquica que são organizados literariamente, se manifestando
historicamente e fazendo da literatura “aspecto orgânico da civilização”. No que diz respeito a
esses últimos elementos específicos, o autor cita a existência de um conjunto de produtores
mais ou menos conscientes de seu papel; receptores, ou seja, o público, “sem o qual a obra não
vive” e um veículo transmissor, isto é, “uma linguagem traduzida em estilos”. A inter-relação
desses denominadores comuns em determinadas obras faz com que elas adentrem o que
Candido chama de sistema literário. Uma vez parte do chamado sistema literário, ocorre o que
Antonio Candido denomina de continuidade literária: “espécie de transmissão da tocha entre
corredores, que assegura no tempo o movimento conjunto, definindo os lineamentos de um
todo.” (p. 24) E é com esta continuidade, transmissão e imposição de pensamentos que se cria
a tradição.

É nesta definição de sistema literário que Candido sustenta seu ponto de vista em relação
à história da formação da literatura brasileira, tanto no que compete a delimitação de seu início,
quanto no que compete ao método histórico de estudo da literatura. No que diz respeito ao
método histórico de estudar literatura, Candido aponta para o fato de as obras se articularem no
tempo, o que legitima o estudo histórico das mesmas. Quanto à polêmica da distinção entre o
que seriam as manifestações literárias e literatura propriamente dita, Antonio Candido alerta
para o fato de que antes do Arcadismo toda a produção literária era precária no que concerne à
formação de uma tradição. Não há a organização de um sistema orgânico e o autor atribui esta
então desorganização à imaturidade do meio, o que dificultava a formação de uma continuidade
entre os autores.

Desta maneira, Candido cita autores como Anchieta, Vieira e Gregório de Matos.
Embora esses autores tenham tido extrema importância na história da literatura, a partir dessa
divisão entre manifestações literárias e literatura, não podemos inseri-los no que Antonio
Candido chama de sistema literário. As obras dos autores citados sobreviviam isoladamente e
em níveis muito insignificativos de articulação com outros escritos da época. Gregório mesmo,
embora permanecesse como tradição local na Bahia, não “existiu” literariamente até que os
românticos o redescobrissem. Assim, delimitando o período dessas manifestações, o autor as
coloca entre os séculos XVI e XVIII, este último fazendo referência às suas Academias, e
quanto à formação da literatura, enquanto sistema, Candido afirma que o processo começa em
meados do século XVIII, ganhando plena força na primeira metade do século XIX.

É no processo de formação desse sistema literário que o autor chama de “uma literatura
empenhada” o desejo de missão dos autores de fazer literatura brasileira. Candido fala do anseio
por parte dos escritores de construir uma literatura como prova de que os brasileiros eram tão
capazes quanto os próprios europeus no que diz respeito à produção literária. Além disso,
Candido, aponta para o fato de que os escritores que mais se voltavam aos temas brasileiros
eram justamente os que moravam em Portugal, e mais: estes faziam questão de se qualificarem
como brasileiros. Após a Independência, essa autoafirmação se acentua e a atividade literária
passa a ser considerada como parte da construção do país livre. Através da literatura, os
escritores buscavam, então, a diferenciação e particularização dos temas e modos de exprimi-
los. É também nesse período que se dá, segundo Antonio Candido, a tomada de consciência dos
autores em relação ao seu papel, além também da intenção de escrever para a sua terra.

Apesar do desejo de se fazer literatura propriamente dita brasileira, é importante


ressaltar que em fases iniciais, mesmo que os autores tentassem tratar de temas brasileiros em
suas obras, os moldes para tal tarefa ainda eram estrangeiros. Dois exemplos disso são os
madrigais de Silva Alvarenga e os sonetos camonianos de Cláudio Manoel da Costa.

É claro que não se pode ignorar as dificuldades dessa nova forma de empenho na
literatura como parte fundamental da construção de um país. Esse desejo de missão dos
escritores ofuscava e até mesmo prejudicava a criação estética. É por isso que Candido muito
sabiamente não ignora certas desarmonias dentro do que ele chama de sistema literário. Esse
sistema não é formado – ele vai se formando até atingir sua quase unidade. É por isso que o
autor fala de momentos decisivos para a formação de nossa literatura: momentos, no plural. E
um desses momentos, o inicial, foi causador de certo desnorteio estético nas obras.

Na fase joanina e nos primeiros tempos da Independência é que se dá o auge desse


desejo “prejudicador” que tornava a leitura dos escritos dos autores dessa época extremamente
difícil se não houvesse certo embasamento histórico. A produção literária era absurdamente
documental, impossibilitando que os autores permitissem o que Candido chama de fuga ao real.
Como não há literatura sem fuga ao real e tentativas de transcendê-lo pela
imaginação, os escritores se sentiram frequentemente tolhidos no voo,
prejudicados no exercício da fantasia pelo peso do sentimento de missão, que
acarretava a obrigação tácita de descrever a realidade imediata, ou exprimir
determinados sentimentos de alcance geral. (p. 26)

Assim, o sentimento de nacionalismo prejudicava a imaginação, no que resultava muitas


vezes na coexistência em uma mesma obra de documento e devaneio, algo de jornalístico,
embora Candido afirme haver um lado positivo nesta questão, uma vez que isto “favoreceu a
expressão de um conteúdo humano, bem significativo dos estados de espírito de uma sociedade
que se estruturava em bases modernas.” (p. 27)

Outra observação de Antonio Candido quanto ao processo de sistematização da


literatura brasileira é em relação às condições positivas de seu início, que se dá na fase
neoclássica. O autor afirma que este período beneficia em muitos sentidos o estabelecimento
de uma organização na nossa produção literária, como o fato de o neoclassicismo valorizar a
concepção universal, o rigor de forma e a contensão emocional. Esse ambiente propiciou uma
maior consciência estética do que seria possível se esse processo se desse na indisciplina
romântica do Romantismo. O neoclassicismo consideravelmente ligado à Ilustração doséculo
XVIII acentuava a vocação aplicada dos escritores deste período.

Retornando à questão do olhar histórico no estudo de literatura, na sessão Pressupostos


Candido fala que seu método visa procurar estudar o autor na sua integridade estética, e não
somente no contexto cultural. Para que se atinja isso é preciso haver um diálogo constante entre
o geral e o particular, entre a síntese e a análise, entre a erudição e o gosto. Além disso, é preciso
integrar as inevitáveis contradições quando se fala em significado histórico do conjunto e
caráter singular dos escritores, pois “é preciso sentir, por vezes, que um autor e uma obra podem
ser e não ser alguma coisa, sendo duas coisas opostas simultaneamente, - porque as obras vivas
constituem uma tensão incessante entre os contrastes do espírito e da sensibilidade.” (p. 30)
Não se analisa uma obra única e exclusivamente com os fatores externos à sua produção muito
menos unicamente com o que sua estrutura linguística oferece. Em outro trabalho seu,
Literatura e Sociedade (1965), Candido aborda a posição da crítica diante da análise de uma
obra e o viés pelo qual se pretende discuti-la. Num estudo completo de todas as partes, internas
ou externas, há divergências e contradições inevitáveis entre o imaginário do autor e o real da
sociedade. Quanto à liberdade do autor, Candido afirma:

“... mesmo dentro da orientação documentária, [a liberdade do autor] é o quinhão da


fantasia, que às vezes precisa modificar a ordem do mundo justamente para torna-la mais
expressiva; de tal maneira que o sentimento da verdade se constitui no leitor graças a esta traição
metódica. Tal paradoxo está no cerne do trabalho literário e garante a sua eficácia como
representação do mundo. Achar, pois, que basta aferir a obra com a realidade exterior para
entende-la é correr o risco de uma perigosa simplificação causal.” (CANDIDO, 1965)

O foco de Candido em Formação da literatura brasileira, momentos decisivos é


claramente o processo de construção e ordenação desse sistema literário, que promove a
continuidade, a tradição, e que torna a literatura como um organismo e fenômeno de civilização,
mas é com muito requinte e estilo que o autor se dispõe a mostrar o que há por trás, ou melhor,
anterior a este sistema já formado, inserindo e justificando sua polêmica, e sobretudo não
ignorando as desarmonias inevitáveis de tal método. É por isso que afirma: “É preciso ver
simples onde é complexo, tentando mostrar que o contraditório é harmônico.” (p. 30)

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