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Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da Vara da Fazenda Pública da Comarca de

São Luís.

O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, por seu Representante legal infra-firmado,


titular da Promotoria de Justiça de Proteção ao Meio Ambiente Urbanismo e Patrimônio
Cultural de São Luís, situada no Fórum Universitário “Fernando Perdigão”, à rua do Sol,
n.º117, Centro, vem perante Vossa Excelência, nos termos preconizados no art.129, III da
Constituição da República, no art. 25, IV, a) da Lei Orgânica Nacional do Ministério
Público ( Lei federal n.º8.625/93) e nos arts.1º, III, 19 e 21 da Lei n.º7.347/85, e ainda com
supedâneo nos documentos anexos e na prova produzida na Ação Cautelar Antecipatória de
Prova constante no processo n.º001.96.017838-5, tramitado e homologado no digno Juízo
da 4ª Vara Cível, propor a vertente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE OBRIGAÇÃO DE FAZER, de responsabilidade civil por
danos causados ao Patrimônio Histórico e Cultural em face de:

FAUSTO FRANCISCO DA SILVA FARIAS, brasileiro, casado, industrial, residente e


domiciliado na Av. dos Holandeses, n.º215, Edifício Osvaldo Silva Sousa, aptº 1101, Praia
da Ponta d’areia, São Luís;
O ESTADO DO MARANHÃO, pessoa jurídica de direito público, representada por sua
Procuradora Geral do Estado, Dra. Ana Maria Dias Vieira, ex vi do art.103 da Constituição
do Estado do Maranhão e do art.215 do Código de Processo Civil, a ser citada no edifício
Nagib Haickel, sede da Procuradoria Geral do Estado, situado na Av. Euclides
Figueiredo,s/n, Calhau;
O MUNICÍPIO DE SÃO LUÍS, pessoa jurídica de direito público interno, representada por
seu Procurador Geral Dr. Ricardo Wagner de Carvalho Lago, ex vi do art.215 do Código de
Processo Civil, a ser citado na sede da Procuradoria Geral do Município situada na rua do
Sol s/n, centro, domiciliado no Palácio La Ravardiére, à av. Pedro II, Centro
pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos.

I - DOS FATOS

Consoante a documentação anexa e o processo de produção antecipada de prova supra


citado, cuja anexação a estes autos fica de logo requerida, o primeiro suplicado( Fausto
Farias) é proprietário do imóvel situado à rua dos Afogados n.º712, em esquina com a rua
de Santaninha, respectivamente as antigas ruas José Bonifácio e Salvador de Oliveira.

Tal fato, além de confessado pelo próprio suplicado consta do Registro Imobiliário
n.º22.827 do livro n.º2-dr do Cartório da 1ª Circunscrição do Registro Geral de Imóveis de
São Luís, efetuado em 18 de abril de 1986 quando foi registrada a compra e venda
celebrada pelo suplicado com a Sra. Zoé do Nascimento Moraes Soares em 15 de abril de
1986.
Portanto o suplicado detém a propriedade do imóvel desde o ano de 1986, sendo o
responsável pela sua conservação há mais de 12 ( doze anos).
Ocorre porém, que o casarão da rua dos Afogados, como hoje o chama a população, foi
tombado pelo Governo do Estado do Maranhão, através do Decreto n.º10.089, de 06 de
março de 1986, passando desde aquela época a integrar o Conjunto Histórico Arquitetônico
e Paisagístico do Centro Urbano da Cidade de São Luís, hajam vistas suas expressivas
características coloniais, hoje destruídas pela omissão e pela negligência do proprietário,
aliadas à inércia do Poder Público Estadual e Municipal.
Após a aquisição, o proprietário deixou que esse imóvel se deteriorasse pela ação dos
fatores naturais, contribuindo para esse fato com o descaso em não promover as reformas e
obras de conservação indispensáveis à sua preservação, e tampouco comunicar essa
necessidade ao Estado e ao Município.
Abandonado à sorte dos vândalos e do “senhor da razão” o belo casarão perdia pouco a
pouco seus elementos arquitetônicos, caiam as telhas, apodreciam as janelas, deterioravam-
se as paredes, despencavam seus azulejos do século XIX e suas cores amarela, branca, azul
e grega se desfaziam daquela aquarela colonial e saudosa para ceder lugar aos pedaços de
reboco que afloravam como chagas do esquecimento a que fora solenemente condenado.
Numa tarde do início do ano de 1996 o sobrado desabou parcialmente, levando consigo
pedaços da nossa história, estava exaurido seu abandono, pelo vão que se apresentava e
mostrava à população que nada mais restava do velho sobrado que na sua história mais
recente abrigou o Colégio Zoé Cerveira, e na mais antiga será praticamente impossível
resgatar.
Ao assumir esta Promotoria de Justiça, envidamos esforços para identificar o proprietário, e
com a colaboração de funcionários do Departamento de Patrimônio Histórico Artístico e
Paisagístico da Secretaria de Estado da Cultura, propusemos em 31 de outubro de 1996
ação cautelar antecipatória de prova consistente em vistoria ad perpetuam rei memoriam,
julgada pelo juízo da 4ª Vara Cível em 15 de maio do corrente 1998, após sofrermos a
longa demora causada pela desídia do primeiro perito nomeado, que não cumpriu seu
mister, embora estivesse devidamente intimado para tanto.
Homologada pela venerável sentença de 15 de maio de 1998, a perícia constante às
fls.65/66 dos referidos autos da já citada vistoria (cópia anexa), declara em síntese:
1 – Ter havido deterioração do imóvel em virtude de abandono;
2 – Existir iminente e concreto risco de vida para os transeuntes das ruas limítrofes pela
possibilidade de desabamento de algumas paredes, agravando-se tal perigo com a chegada
do inverno chuvoso;
3 – Ser possível a recuperação do imóvel através da reconstrução de suas fachadas e
paredes a partir de dados precisos, o que estima despenderia em torno de R$100.000,00
( cem mil reais) e demandaria dezoito meses.
Referida sentença foi publicada no Diário da Justiça do dia 26 de maio de 1998 ( cópia
anexa).
A verdadeira indenização a esse tão grave dano ao Patrimônio Histórico se constitui na
reconstrução do sobrado pelo proprietário, pelo Governo do Estado e pelo Município eis
que são solidariamente responsáveis.
Cumpre todavia adotar medida provisional que resguarde a integridade física dos
transeuntes das ruas onde localizado o imóvel posto que iminente é o risco de desabamento
das paredes restantes do sobrado, podendo comprometer não só a vida e o patrimônio de
pessoas físicas como dois dos prédios vizinhos, um dos quais geminado.
II - DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS.

Art.216 – Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens


de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou
em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à
memória dos diferentes grupos formadores da sociedade
brasileira, nos quais se incluem:
V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,
paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico,
ecológico e científico.
§ 1 – O Poder Público, com a colaboração da comunidade,
promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por
meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e
desapropriação, e de outras formas de acautelamento e
preservação.
§ 4 – Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão
punidos, na forma da lei.
Além dessa expressa previsão constitucional, a proteção aos
bens de valor histórico e cultural, encontra supedâneo no decreto-lei n.º25, de 30/11/37,
como norma federal, e na lei estadual n.º 5.082, de 20 de dezembro de 1990, ambas
harmonizadas com a competência prevista no art.24, VII, §1 e § 2ºda Constituição
Federal.

O comportamento omissivo dos suplicados colide diretamente


com a dicção do art. 17 do citado decreto-lei n.º25, o qual expressamente veda qualquer
tipo de demolição, verbis:
Art.17 – As coisas tombadas não poderão, em caso nenhum,
ser destruídas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço
de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ser reparadas, pintadas ou restauradas,
sob pena de multa de cinquenta por cento do dano causado.
In casu, o primeiro suplicado deixou que o bem se
deteriorasse pela ação do tempo ocasionando a sua demolição, ao deixar de efetuar as obras
necessárias à conservação, bem como ao não promover a comunicação prevista no art.19
do decreto-lei n.º25/37, de que não dispunha de condições financeiras para efetuar as obras
de conservação.
De idêntico conteúdo, o art.21 da lei estadual 5.089/90
determina que os bens tombados sejam mantidos em bom estado, e às expensas do
proprietário, cabendo-lhe comunicar ao Departamento de Patrimônio Histórico Artístico e
Paisagístico qualquer ameaça ou dano iminente sobre o bem, por ação ou omissão do
proprietário.
Tão omissos quanto o proprietário foram o Estado e o
Município, os quais, cientes da deterioração do bem, a ela assistiram inertes como se
nenhuma obrigação solidária de preservação tivessem.
Tal porém não é o que dispõe o decreto-lei n.º25/37, e
tampouco a lei estadual, n.º5.089/90 e a lei municipal n.º 3.392/95.
O Estado do Maranhão é responsável pela deterioração do
sobrado posto que o expressamente tombou através do decreto n.º 10.089/86, sendo a partir
daquela data solidariamente responsável pela sua preservação.
Além de ser fato público e notório, a paulatina deterioração
do sobrado era de conhecimento do Departamento de Patrimônio Histórico Artístico e
Paisagístico da Secretaria de Estado da Cultura, que tencionou notificar o proprietário em
08/05/96, não logrando êxito, como demonstra o documento de fls.08 da ação cautelar de
produção antecipada de prova, cuja reunião a estes autos por conexão fica mais uma vez
requerida.
Isso porém, não o isentaria da responsabilidade em promover
as obras emergenciais necessárias, visto o que diz o art.19, §3º do decreto-lei n.º25/37:
“Uma vez que verifique haver urgência na realização de obras
e conservação ou reparação em qualquer coisa tombada,
poderá o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
tomar a iniciativa de projetá-las e executá-las às expensas
da União, independentemente da comunicação a que alude
este artigo, por parte do proprietário”.
No mesmo diapasão, assim se expressa o art.26 da Lei
n.º5.089/90, que determina ao DPHAP a tomada de iniciativa para projetar e executar as
obras necessárias, ressarcindo-se posteriormente contra o proprietário.
Mesma providência era exigível do Município de São Luís,
que através da lei n.º3.253/92 criou a Zona de Preservação Histórica, limitando assim
administrativamente o uso da propriedade nessas áreas, e tombando esse conjunto
arquitetônico.
No artigo 66 da referida lei municipal a Zona de Preservação
Histórica é dividida em duas áreas, entre as quais a de Preservação Histórica formada pelas
áreas tombadas a nível Federal e Estadual, incluindo-se por óbvio o imóvel a que se refere
esta inicial.
No seu art.70 a lei municipal estipula as respectivas
limitações administrativas e condiciona qualquer intervenção à prévia anuência municipal,
assumindo conseguintemente a responsabilidade solidária pela conservação.

Além dessas limitações, o art.33 da lei municipal n.º3.392/95,


possui o mesmo conteúdo dos já citados artigos da lei federal e da lei estadual quanto às
obras de urgência, a serem adotadas em caso de dano iminente.
A doutrina acerca do instituto do tombamento é clara ao
afirmar que esse ato, mais do que instituir uma limitação ao direito de propriedade, importa
em abrigar o bem tombado sob a guarda e a tutela do Estado. Nesse sentido, assim expõe
Ivete Senise Ferreira:

“Mais utilizado para a proteção do patrimônio cultural, e


mais adequado, é o tombamento, outra forma de preservação
mencionada no referido dispositivo constitucional.
Tombamento, na definição de José Cretella Jr., “é o conjunto
legal de restrições parciais que o poder público faz a um bem
particular, móvel ou imóvel, por motivo de interesse público,
mencionado em lei. “Tombar significa registrar em livros
especiais ( Livros de Tombo) que determinado bem público
ou privado, móvel ou imóvel, foi declarado de interesse
social, estabelecendo-se então a sua sujeição a um regime
especial que o defenderá contra o abandono, a destruição ou
utilização inadequada.
Para Antonio Queiroz Telles, “tombamento equivale,
igualmente, a colocar sob o abrigo e a tutela pública os bens
que, pelas suas características históricas, artísticas, naturais
e arqueológicas, mereçam integrar o patrimônio cultural do
país”( FERREIRA, Ivete Senise. Tutela penal do patrimônio
cultural. 1995.RT. p.46)
Com efeito, esclarece a citada jurista que ao tombar um bem
móvel ou imóvel, o Poder Público chama para sí a responsabilidade pela conservação do
bem embora não suprima a propriedade particular.
No mesmo sentido, assim expõe Maria Coeli Simões Pires:
“O tombamento configura intervenção estatal na
propriedade, que transforma a natureza do bem atingido
condicionando o uso e o gozo da coisa. Não há que falar em
mera adequação do exercício do direito de propriedade ao
interesse público, já que, para a conservação do bem,
permite-se a co-gestão do Estado. Para ilustrar o raciocínio,
imaginem-se duas hipóteses: uma construção que não atenda
a padrões definidos em lei e uma edificação histórica
tombada.
No primeiro caso, o único direito que assiste ao Estado é o de
ver cumprida a lei. Para atingir tal escopo, o Poder Público
pode ordenar o embargo ou a demolição da obra, sanções
pela inobservância de normas gerais e limitativas do
exercício de direito individual. Na primeira hipótese, o
Estado é tão somente policial, não podendo jamais alçar-se à
condição de particular para, por exemplo, decidir que obra
deve ser feita no lugar da embargada, ou, ainda, para
construir, subrogando-se no papel de proprietário. Já na
segunda situação, o direito-dever que surge para o Estado é
o da proteção estatal, previsto no art.215 da Constituição
Federal, competindo ao Poder Público zelar pela cultura,
também praticando atos necessários ao alcance desse
objetivo. Aqui deparamos com o Estado-social, que intervém
não apenas para assegurar a legalidade mas para promover
o interesse público, ainda que com isso sacrifique o direito
individual. Não estamos, nesse caso, diante de normas
limitativas, de caráter negativo, mas sim de regras de
intervenção positiva na propriedade. Obviamente, o ônus
acarretado pelo tombamento é plenamente legítimo, já que
nossa ordem jurídica posiciona o Estado não apenas como
um fiscal da lei mas, ainda, como agente promotor do bem
social. Concluindo, o tombamento não é regulação do
direito de propriedade, mas intervenção que autoriza a
prática de atos administrativos determinados e a
consideração do bem como de interesse social. ( PIRES,
Maria Coeli Simões. Da proteção ao patrimônio cultural. Del
rey. 1994. P. 132.

Nem se argumente o fato de que o tombamento foi realizado


em conjunto e não individualmente, pois global ou individual, os efeitos são os mesmos.
Vale trazer à mostra novamente o pensamento de Maria Coeli Simões Pires, verbis:
“Com efeito, cumpre ainda registrar que não concordamos
com as colocações dos autores que definem como limitação
administrativa o tombamento global, como o que estabelece o
regime especial para toda uma cidade, cujo exemplo mais
citado é o de Ouro Preto. Conquanto o processo seja
diferente, os efeitos do tombamento geral são os mesmos do
tombamento individual. Ainda nesse caso, entendemos válido
o raciocínio desenvolvido anteriormente, segundo o qual os
bens tombados sofrem uma intervenção que poderá ser
individualmente considerada. Assim, ainda que decorrente de
imposição geral, o tombamento imprime igual regime aos
bens sobre os quais incide. A conformação dos efeitos é que
pode variar.(obra citada, p.131)
Em idêntica posição quanto à responsabilidade do Estado e
aqui também do Município quanto à preservação solidária do bem tombado, refere-se José
dos Santos Carvalho Filho ao comentar sobre os efeitos do tombamento, onde esclarece,
verbis:

“ Compete ao proprietário o dever de conservar o bem


tombado para mantê-lo dentro de suas características
culturais. Mas se não dispuser de recursos para proceder a
obras de conservação e reparação, deve necessariamente
comunicar o fato ao órgão que decretou o tombamento, o
qual mandará executá-las a suas expensas.
Independentemente dessa comunicação, no entanto, tem o
Estado, em caso de urgência, o poder de tomar a iniciativa de
providenciar as obras de conservação.”( CARVALHO, José
dos Santos Filho. Manual de Direito Administrativo. 1997,
Freitas Bastos, p. 440.
Cumpre ainda ressaltar, que embora não haja nos autos um
ato expresso de tombamento dos imóveis da Zona de Preservação Histórica, a sua criação
com todas limitações do art.70 da lei municipal n.º 3.253/92 (anexa), produz efeito prático
idêntico ao do tombamento. Nesse sentido vale mais uma vez observar-se a opinião da já
citada Ivete Senise Ferreira:
“Sonia Rabello de Castro destaca ainda uma outra espécie
de tutela dos bens culturais, que se assemelha ao tombamento
quanto aos efeitos, mas com ele não se identifica: a
preservação das áreas de interesse cultural e ambiental
através de instrumentos legais de planejamento urbano a
nível municipal.
Segundo a autora, trata-se de medidas de caráter
urbanístico, somente aplicáveis a imóveis urbanos, que
podem na prática produzir os efeitos do tombamento, uma
vez que a legislação urbana pode impor ao proprietário do
imóvel as restrições que julgar cabíveis tendo em vista a
proteção do meio ambiente urbano. Estas normalmente
consistem na imposição de condições para o uso e a
conservação do imóvel, tendo como consequência a limitação
da propriedade, como acontece com o tombamento.( obra
citada, p.48)
Se não bastassem as alegações de cunho doutrinário e legal
que acabamos de expender, reconhece a jurisprudência nacional o dever solidário de
preservação entre o Estado, o Município e o proprietário do imóvel que sofre tombamento
em razão de seu valor histórico, nesse sentido, veja-se:
AÇÃO CIVIL PÚBLICA – TOMBAMENTO –
"CASARÃO DOS VERONESE" –
RESPONSABILIDADE DO MUNICÍPIO DO ESTADO
PELAS OBRAS DE CONSERVAÇÃO E DE
RECUPERAÇÃO – Tombando o bem, designado
"Casarão dos Veronese", o Município e o Estado
respondem pelas obras de conservação de recuperação, a
teor dos artigos 30, IX, da CF/88 e 19 do Decreto-Lei nº
25/37. (TJRS – AC 595.04941-2 – 1ª C. Cível – Rel. Des.
Araken de Assis – J. 13.09.95)
“ Consoante dispõe a lei ( Decreto-lei n.º25/37), ocorrendo
o tombamento, o bem a este submetido adquire regime
jurídico sui generis, permanecendo o respectivo
proprietário na condição de administrador, incumbindo-
lhe o ônus da conservação da coisa tombada. O Estado só
assume esse encargo quando o proprietário por ausência
de meios não possa efetivar a conservação.
Não arcando, a entidade de Direito Público, a execução
das obras necessárias à conservação do bem, e não
ocorrendo desapropriação, cabe ao proprietário requerer
que seja cancelado o tombamento da coisa.( STJ- Rec.
Esp. n.º 25.371 – 1ª Turma. Rel. Min. Demócrito Reinaldo
– RDA 194/244)
Muito mais doutrina e jurisprudência poderia ser trazida à
colação para ratificar a responsabilidade solidária entre os três suplicados, o Proprietário
Fausto Farias, o Estado e o Município, tanto pela deterioração causada ao imóvel da Rua
dos Afogados n.º712 quanto agora sua indiscutível obrigação em efetuar as devidas obras
de contenção das paredes que ameaçam desabar e a reconstrução integral do imóvel
devolvendo-lhe seus elementos e fachada para que volte a postar-se imponente e majestoso
com dantes emoldurava a antiga Rua José Bonifácio.
A destruição paulatina dos imóveis do Centro Histórico
compromete indubitavelmente a identidade arquitetônica da Cidade de São Luís, declarada
inclusive patrimônio da humanidade.
O ato de tombamento e as leis municipais já transcritas, por si
só já asseguram a importância histórica desse bem, contudo vale trazer a lembrança das
páginas de Domingos Vieira Filho sobre a Rua José Bonifácio. De memorável recordação,
assim se refere o historiador maranhense:
“ É uma das mais extensas e antigas ruas da
cidade. No passado tinha mesmo a função de
caminho-grande , via de acesso da chamada colina
de Palácio à fonte construída em 1796 e que hoje
resiste soberana aos embates do tempo. Começa
na rua Tarquínio Lopes, tendo a seção inicial
aladeirada e termina num longo percurso, na rua do
Veado junto à fonte do Mamoim.
Antes de se chamar rua José Bonifácio teve quatro
nomes: Afogados até a rua da Cruz e das Violas e
Gomes de Sousa daí em diante. A tradição refere
que se chamou também de rua do Afogabugio.
(...)Num prédio da rua dos Afogados, canto com a
da Alegria, funcionou a primeira enfermaria da Real
Sociedade Humanitária 1º de Dezembro, que depois
construiria, na quinta do Monteiro, à Rua do
Passeio, o Hospital Português, ainda hoje
prestando bons serviços à comunidade
maranhense. Informa Jerônimo de Viveiros que
eram médicos dessa enfermaria César Marques e
Afonso Saulnier de Pierrelevé. A velha rua dos
Afogados teve seu nome primitivo mudado para o
de José Bonifácio em virtude da lei municipal
n.º402, de 26 de outubro de 1928, num preito de
gratidão à memória imperecível do grande estadista
brasileiro”( VIEIRA, Domingos Filho. Breve história
das ruas e praças de São Luís, 1971. P.119)
Por todas as razões expostas impõe-se a condenação do
proprietário, do Estado e do Município na obrigação de fazer consistente em restaurar o
imóvel e evitar que seu desabamento ocorra com risco para a vida e a saúde da população
que eventualmente alí transite numa fatídica hora.
Estes os fatos e os fundamentos jurídicos desta exordial.
III - Do pedido e suas especificações.
A vertente ação civil pública tem por objeto a condenação dos
suplicados em obrigações de fazer adiante especificadas, ex vi do art.2º da lei n.º7.347/85,
com o teor imposto pelos arts. 110 a 117 de demais dispositivos da lei n.º8.078/90.
Ante as razões de fato e de Direito exaustivamente delineadas
o Ministério Público Estadual requer a condenação dos suplicados nas obrigações de fazer
consistentes em :
1) Procederem à restauração
completa do imóvel com todas as suas características
internas e externas, conforme projeto que deverão para
tanto apresentar e executar no prazo fixado na sentença,
sob pena de incidir multa diária a cada um, que poderá ser
estabelecida conforme os parâmetros do art.14,II da lei
n.º6.938/81, ou do art.11 da lei n.º7.347, no valor de
R$50.000,00 ( cinquenta mil reais), corrigidos
monetariamente, nos termos do art.12§2º da Lei n.º
7.347/85;
2) Promoverem as obras
emergenciais de escoramento das paredes, limpeza e
isolamento da área circundante ao imóvel e outras
providências que evitem o desmoronamento total e
ponham a salvo a vida, o patrimônio e a integridade física
de transeuntes até que seja efetuada a restauração
completa do imóvel, a teor dos arts.19,§3º do Dec.lei
n.º25/37, art.26 da lei estadual n.º5.082/90 e do art.33 da
lei municipal n.º3.392/95, incidindo em multa diária a
cada um a ser fixada nos mesmos parâmetros e valores
indicados no pedido anterior, desde que suficientes para
inibir a continuidade da situação atual.
Nesta oportunidade requer-se também:
1) A citação dos suplicados
para querendo, responderem aos termos desta ação sob
pena de revelia e confissão e acompanhá-la até o final.
2) A citação das pessoas
jurídicas suplicadas na pessoa de seus representantes
legais já indicados a teor do art.215 do CPC e da pessoa
física ( primeiro suplicado) pessoalmente e ao seu
cônjuge;
3) A produção de toda e
qualquer modalidade de prova lícita e necessária, em
especial perícias, vistorias, inspeções judiciais, juntada de
documentos, depoimento pessoal do primeiro suplicado e
oitiva de testemunhas, cujo rol será oportunamente
ofertado;
4) A reunião a estes autos, do
processo n.º001.96.017838-5, Ação Cautelar
Antecipatória de Prova, que se encontra no Juízo da 4ª
Vara Cível desta Comarca.
IV – Tutela antecipada
Tendo em vista a prova pericial já realizada antecipadamente
e homologada cuja cópia autenticada se encontra nos autos e que informa sobre o iminente
perigo de desabamento das estruturas restantes do imóvel podendo causar graves danos,
inclusive mortes de transeuntes, e considerando a obrigação legal e inequívoca do Estado e
do Município quantos às obras emergenciais, o Ministério Público requer nesta
oportunidade a concessão de tutela antecipada quanto ao segundo pedido constante desta
exordial, e que se refere à interdição, escoramento e outras medidas que evitem o
desmoronamento final.
O vertente requerimento encontra supedâneo no art.273, I do
Código de Processo Civil, cujo deferimento é requerido inaudita altera pars.

Embora inestimável, dá-se à causa o valor de


R$100.000,00( cem mil reais) por similitude com o valor estimado na perícia como
suficiente para a realização da obra de restauração.
A adoção do rito comum ordinário do art.272 do Código de
Processo Civil.
Este feito é isento de custas e emolumentos a teor do art.18 da
Lei n.º7.347/85.
Termos em que espera deferimento.
São Luís, 26 de junho de 1998

Luís Fernando Cabral Barreto Júnior


Promotor de Justiça

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