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CPI – Aula 1.

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Princípio da Insignificância / Infração
Bagatelar Própria1

1) Introdução:
Este princípio não tem uma origem muito precisa segundo a doutrina.
Alguns remetem ao direito romano (minimis non curat praetor – o pretor não cuida
de coisas sem importância), outros remetem à idade média. Porém é
relativamente pacífico na doutrina que o resgate do princípio se deve a Claus
Roxin, que na década de 60 devolveu a insignificância como forma de excluir do
âmbito penal condutas de pouca afetação ao bem jurídico, entendendo ainda que
estariam agasalhadas pelo princípio as Ações Socialmente Adequadas (Não é
qualquer ofensa a bem jurídico que irá caracterizar necessariamente a aplicação
do direito penal).

Entende-se que é vedada a atuação estatal penal do Estado quando a


conduta não é capaz de lesar ou no mínimo de colocar em perigo o bem jurídico
tutelado pela norma penal. Assim, tal princípio destina-se a realizar uma
interpretação restritiva da lei penal, reduzindo a intervenção do Direito Penal,
não podendo em hipótese alguma ampliá-la.

Roxin, na década de 60, ao construir seu sistema funcionalista, tenta, de


um certo modo, desconstruir o que Welzel fez. Por isso a ideia dele de que a
insignificância seria uma fórmula maior, que iria conter a pouca afetação de bem
jurídico (pequeno arranhão, furto de bagatela), como também as ações
socialmente adequadas. Afirmava ele que as ações socialmente adequadas
não traduzem, no sentido jurídico, a afetação do bem jurídico. Então por
isso estariam acobertadas por esse enunciado maior que é a
Insignificância.

A jurisprudência brasileira admite o princípio da insignificância, mas não


como um princípio maior que englobe tudo. No Brasil, trabalhamos com
adequação social e insignificância em paralelo. Assim sendo, no Brasil
entende-se que existem casos em que, apesar de haver uma afetação de bem
jurídico que não é insignificante, não é considerado crime pela Adequação Social
(Brinco na Criança); e outros casos em que há uma conduta inadequada, mas que
pouco afeta o bem jurídico2.

Análise da Insignificância de acordo com o Conceito Analítico de Crime

O conceito analítico de crime é composto pelo fato típico, ilicitude e pela


culpabilidade. Para que se possa falar em fato típico é preciso, ainda que
reconheçamos a presença dos seguintes elementos:

a) Conduta (dolosa ou culposa – comissiva ou omissiva)

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Atinge a tipicidade material (bem jurídico), ou seja, trata-se de Causa Supralegal de Exclusão da Tipicidade
Material – art. 386, III, CPP.
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Furtar não é adequado socialmente (tipicidade formal), mas furtar 50 centavos é irrelevante penal (atipicidade
material).
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b) Resultado

c) Nexo de Causalidade (entre a conduta e o resultado)

d) Tipicidade (formal e conglobante)

Para que se analise a tipicidade da conduta é preciso que tenhamos ultrapassado


aquelas 3 etapas anteriores, isto é, verificar se o agente praticou uma conduta culposa
ou dolosa, e que houve nexo de causalidade entre a conduta e o resultado sofrido pela
vítima. Chegando-se a essa conclusão, partiremos para a verificação do último
elemento contido no fato típico, isto é, a tipicidade.

De acordo com Greco, a tipicidade penal biparte-se em:

a) Formal: Trata-se da adequação perfeita da conduta do agente ao modelo abstrato


(tipo) previsto na lei penal (subsunção).

b) Conglobante: Verifica-se a existência de 2 aspectos fundamentais: I) Se a


conduta é antinormativa; II) Se o fato é materialmente típico (se atinge o
bem jurídico protegido). O estudo do princípio da insignificância reside nesta
segunda vertente da tipicidade conglobante, ou seja, na chamada tipicidade
material.

Além da necessidade de existir um modelo abstrato que preveja com perfeição a


conduta praticada pelo agente, é preciso que, para que ocorra essa adequação, isto é,
para que a conduta do agente se amolde com perfeição ao tipo penal, seja levada em
consideração a relevância do bem que está sendo objeto de proteção.

Desse modo, ao se verificar se a conduta praticada pelo agente se enquadra em


algum crime descrito pela lei penal, deve-se seguir o seguinte roteiro:

 Se não se amoldar, o fato é formalmente atípico.

 Se houver essa correspondência, o fato é formalmente típico.

 Sendo formalmente típico, é analisado se a conduta produziu lesão ou perigo


de lesão ao bem jurídico que este tipo penal protege.

 Se houver lesão ou perigo de lesão, o fato é também materialmente típico.

 Se não houver lesão ou perigo de lesão, o fato é, então, materialmente atípico.

Assim sendo, a insignificância faz excluir a tipicidade material, excluindo-se,


dessa forma, a tipicidade conglobante e, por consequência, a tipicidade penal e o fato
típico, não havendo, portanto, crime. Portanto, o princípio da insignificância é uma
causa supralegal de exclusão da tipicidade material, ou seja, é um postulado
hermenêutico voltado à descriminalização de condutas formalmente típicas (STF – RHC
122.464/BA).

Entende-se, portanto, que se o fato for penalmente insignificante significa que não
lesou nem causou perigo de lesão ao bem jurídico. Logo, aplica-se o princípio da
insinsignificância e o réu é absolvido por atipicidade material, com fundamento no
art. 386, III do CPP.

Obs.: Como corolário da atipicidade do fato, nada impede a concessão de ofício de


habeas corpus pelo Poder Judiciário (STF – HC 97.836/RS), quando caracterizado o
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princípio da insignificância. De igual modo, o trânsito em julgado da condenação não
impede seu reconhecimento (STF – HC 95.570/SC).

Portanto, segundo o STF, o princípio da insignificância pode ser reconhecido


mesmo após o trânsito em julgado da sentença.

Fernando Capez (Conceito) afirma que, por tal princípio, o Direito Penal
não deve preocupar-se com bagatelas, do mesmo modo que não podem ser
admitidos tipos incriminadores que descrevam condutas incapazes de lesar o bem
jurídico. Para ele, a tipicidade penal exige um mínimo de lesividade ao bem
jurídico protegido, caso contrário, ficará afastada a adequação típica, pois,
sempre que a lesão for insignificante, a ponto de se tornar incapaz de lesar o
interesse protegido, deverá ser considerado um fato atípico (O tipo penal não
descreve condutas incapazes de ofender o bem tutelado).

Obs.: Para Araripe, a Insignificância não pode ser aplicada no Brasil,


por ausência de previsão legal. Trata-se de corrente mais radical, que
entende que todo e qualquer bem merece a proteção do Direito Penal, desde
que haja previsão legal para tanto, não se cogitando, em qualquer caso, do
seu real valor. Além disso, afirma o autor que para infrações de menor
potencial ofensivo, temos a lei do juizado criminal, e para os delitos
patrimoniais temos as figuras privilegiadas de crime (Ex: Furto privilegiado,
que também se aplica ao estelionato, etc.). Para Araripe, este é o tratamento
mais brando determinado pela lei.

Porém, prevalece o entendimento de que não se pode confundir


delito insignificante ou de bagatela com crimes de menor potencial
ofensivo, pois estes são definidos pelo art. 61 da Lei 9.099, e submetem-
se ao JECRIM, sendo que neles a ofensa não pode ser acoimada de
insignificante, pois possui gravidade ao menos perceptível socialmente,
ainda que haja menor potencial ofensivo, ainda assim em grau suficiente
de lesividade para justificar uma reação estatal punitiva (STF – HC
111.017/RS).

2) Requisitos para Aplicação:


O reconhecimento do princípio da insignificância depende de requisitos
objetivos, relacionados ao fato, e de Requisitos Subjetivos, vinculados ao
agente e à vítima. Por esta razão, seu cabimento deve ser analisado no caso
concreto, de acordo com as suas especificidades, e não no plano abstrato (STF
– HC 123.108/MG – INFO 793).

O STF (HC 84.412-0/SP e RHC 118.972/MG) idealizou 4


requisitos/vetores objetivos para a aplicação do princípio da insignificância,
sendo eles adotados pela jurisprudência do STF e do STJ:

1. Mínima ofensividade da conduta

2. Ausência de periculosidade social da ação → Para ser crime deve


necessariamente haver periculosidade social na conduta. Se não tiver
qualquer perigo ao bem jurídico, não há crime.
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3. Reduzido grau de reprovabilidade do comportamento → Isso é
culpabilidade, e não pode ser discutido dentro da tipicidade (âmbito de
análise da insignificância).

4. Inexpressividade da lesão jurídica causada → critério subjetivo.

Obs.: Araripe critica os critérios utilizados pelo STF, que


supostamente seriam objetivos, mas que preservam uma
subjetividade na aplicação do princípio. Os critérios do STF
ponderam, por exemplo, uma reprovabilidade da conduta, que seria
tema de culpabilidade, dentro da insignificância.

De igual modo, Paulo Queiroz afirma que esses requisitos são


claramente tautológicos e apenas dizem a mesma coisa com palavras
diferentes, argumentando em círculo.

Porém, pode-se argumentar que é necessário conferir ampla


flexibilidade ao operador do Direito para aplica-lo, ou para negá-lo,
sempre levando em conta as peculiaridades do caso concreto.

Assim, considera-se que não se deve levar em conta apenas e tão somente
o valor subtraído (ou pretendido à subtração) como parâmetro para aplicação
da insignificância, pois, do contrário, “deixaria de haver a modalidade tentada de
vários crimes”. Porém, destaque-se que tal análise deve ser feita com base
nas peculiaridades do caso concreto, e não no plano abstrato.

Neste sentido, Fernando Capez afirma que o princípio da insignificância não


deve ser aplicado no plano abstrato (Ex: Afirmar que toda contravenção é
insignificante), devendo tal princípio ser verificado em cada caso concreto, de
acordo com as suas especificidades.

Obs.: Os Tribunais Superiores têm entendido pela possibilidade de


sua aplicação nos delitos patrimoniais cometidos sem
violência. Nos crimes patrimoniais violentos existe resistência com
relação à aplicação do princípio, uma vez que, em se tratando de
delito complexo, em que há ofensa a bens jurídicos diversos
(patrimônio e integridade da pessoa), é inviável a afirmação do
desinteresse estatal à sua repressão.

Obs.2: O princípio da insignificância pode, em tese, ser aplicado para


delitos de menor, médio ou alto potencial ofensivo, a depender da
situação em concreto e do crime a que se refere, e não apenas para
as infrações de menor potencial ofensivo.

Obs.3: Na tentativa, o legislador incrimina o perigo para o bem


jurídico. Dessa forma, a aplicação do princípio da insignificância
se torna equivocada, pois a análise, nessa hipótese, diz respeito
ao perigo, e não à quantificação da lesão. Contudo, admite-se a
insignificância se houver prova concreta de que o delito consumado
seria alcançado pelo princípio.

Em relação aos Requisitos Subjetivos (que não dizem respeito ao fato,


mas ao agente e à vítima), deve-se destacar os seguintes elementos:

Obs.: Cabe destacar que o STF, em seus julgados, se limita a


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analisar os Requisitos Objetivos por ele criados. Porém, a 5ª Turma
do STJ construiu a tese de que, para a aplicação do princípio da
insignificância, além do aspecto objetivo, deve estar presente
também o Requisito Subjetivo.

 Condições Pessoais do Agente: Nessa seara, 3 situações merecem


análise:

o Reincidente: Existem 2 posições acerca da possibilidade de


aplicação do princípio da insignificância ao reincidente:

 1ª Posição (Ministério Público) – É vedada a incidência do


princípio da insignificância ao reincidente. Considera-se que não
há interesse da sociedade no deferimento do benefício àquele que
já foi definitivamente condenado pela prática de infração penal.
Apesar de o STF afirmar que não é possível fixar uma regra geral
sobre o assunto, de modo que a decisão sobre a incidência ou não
do princípio da insignificância deve ser feita caso a caso, são
dominantes as decisões do STF seguindo esta posição (HC
123.108/MG – INFO 793), por entender que representa elevado
grau de reprovabilidade, assim como a 5ª Turma do STJ (AgRg
no AREsp 332.960/PE).

Obs.: Igual entendimento é aplicado para os casos em que


o réu responda a outros inquéritos ou ações penais.

 2ª Posição (Defensoria) – Admite-se a insignificância em favor


do reincidente. Este postulado exclui a tipicidade do fato, e a
reincidência (agravante genérica) é utilizada somente na
dosimetria da pena. Assim, não há relevância penal tanto para o
primário como para o reincidente. Neste sentido é o entendimento
do 6ª Turma do STJ (AgRg no AREsp 490.599/RS – INFO 548),
que entende que nem a reincidência nem a reiteração criminosa,
tampouco a habitualidade delitiva, são suficientes, por si sós e
isoladamente, para afastar a aplicação do denominado princípio
da insignificância.
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o Criminoso Habitual: Trata-se daquele que faz da prática de delitos o


seu meio de vida. A este não se permite a incidência do princípio da
insignificância, pois a lei penal seria inócua se tolerada a reiteração do
mesmo crime, seguidas vezes, em frações que, isoladamente, não
superassem um determinado valor tido como irrelevante, mas o
excedesse em sua totalidade (Ex.: Pessoa que subtrai todo dia 10 reais
de um caixa).

Neste sentido, já decidiu o STF (RHC 118.014/ES) que, para se


afirmar que a insignificância pode conduzir à atipicidade, é indispensável
averiguar a adequação da conduta do agente em sentido social amplo,
que abrange o juízo sobre a contumácia da conduta do agente.

De igual modo, a Jurisprudência do STJ desenvolveu a ideia de


que a reiteração em delitos da mesma espécie poderia impedir a
aplicação do princípio da insignificância (os crimes devem ser analisados
em conjunto e afastada a insignificância).

Fernando Galvão não admite que se utilize do comportamento do


réu para afastar a aplicação do princípio da insignificância. Segundo o
autor, a insignificância diz respeito à afetação de bem jurídico, e se não
estiver presente, não haverá nem mesmo tipicidade. Para o autor, não
é possível se utilizar de uma ideia de continuidade delitiva, para cotejar
crimes autônomos, de uma maneira global, afastando a insignificância.

A solução nas hipóteses de reiteração pode estar naquilo que


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Zaffaroni denomina de “verdadeiro crime continuado” (art. 71 CP),
situação na qual o agente, através de um planejamento único, comete
vários delitos contra a mesma pessoa e o mesmo bem jurídico em que
os delitos isoladamente seriam insignificantes, mas no seu conjunto
traduzem uma lesão relevante (Ex: Furtar todo dia pouco dinheiro).

Delito de Acumulação e Insignificância

Na Alemanha, foi desenvolvida a figura do delito de acumulação, que


seriam delitos cujas lesões individualmente praticadas, a princípio, se
revelariam insignificantes. Contudo, tomadas em conjunto, essas lesões
promovem uma grave afetação do bem jurídico. Isso se dá especificamente em
crimes contra o meio ambiente, na sonegação fisal, e nos delitos que atingem
bens transindividuais.

Em que pese esta construção doutrinária, cujo não impede a


insignificância, fica, porém, restrita a fatos menores. Assim sendo, nos delitos
que afetam bens transindividuais, merece um olhar diferente, não no sentido de
se impedir a insignificância, mas no sentido de limitar a sua incidência nesses
casos.

Em que pese toda essa argumentação, há julgados do STF no sentido de


admitir a insignificância em relação a crimes contra o Meio Ambiente. De forma
contrária, defende o TRF que “a preservação ambiental deve ser feita de forma
preventiva e repressiva, em benefício de próximas gerações, sendo intolerável
a prática reiterada de pequenas ações contra o meio ambiente, que, se
consentida, pode resultar na sua inteira destruição e em danos irreversíveis”.

o Militares: É vedada a utilização do princípio da insignificância nos


crimes cometidos por militares, em face da elevada reprovabilidade da
conduta, da autoridade e da hierarquia que regulam a atuação
castrense. Neste sentido é o entendimento do STF (HC 114.194).

 Condições da Vítima: A configuração da insignificância também depende


das condições do ofendido. Há que se conjugar a importância do objeto
material para a vítima, levando-se em consideração a sua condição econômica,
o valor sentimental do bem, como também as circunstâncias e o resultado do
crime, de modo a determinar se houve relevante lesão (STJ – HC
247.349/MS – 6ª Turma). Segundo o STF (HC 111.017/RS), a irrelevância
penal depende do reduzido sentimento de perda por efeito da conduta do
agente.

Assim, deve-se analisar a importância do bem para a vítima, com base


em sua condição econômica e o valor do objeto material, ou seja, com base
nas condições econômicas da vítima (Ex.:Furto de bicicleta velha de uma
vítima muito pobre que a utilizava como único meio de transporte). Assim, a
análise da extensão do dano causado ao ofendido é imprescindível para
aquilatar a pertinência do princípio da insignificância (STJ – HC 241.713/DF –
INFO 534).
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De igual modo, o valor sentimental do bem para a vítima impede a
utilização da insignificância, ainda que o objeto material do crime não
apresente aspecto econômico, especialmente em se tratando de bem
infungível (STF – HC 107.615/MG – INFO 639).

Por fim, não há que se falar em insignificância quando a conduta do


agente atinge bem de grande relevância para a população (Ex.: Telefone
Público), pois as consequências do ato transcendem a esfera patrimonial da
concessionária de serviço público, em face da privação causada à coletividade
(STF – HC 115.383 – INFO 712).

Obs.1: Como visto o princípio da insignificância não é baseado apenas no


valor patrimonial do bem, pois, além deste, existem outros fatores que
devem ser analisados e que podem servir para IMPEDIR a aplicação do
princípio, dentre os quais: 1) Valor sentimental do bem; 2) Condição
econômica da vítima; 3) Condições pessoais do agente (Ex.: Conduta
praticada por militar possui maior reprovabilidade); 4) Circunstâncias do
delito; 5) Consequências do delito (STJ – Resp 1.218.765/MG – INFO
516).

3) Análise de Jurisprudência:
O princípio da insignificância é aplicável a qualquer delito que seja com
ele compatível, e não somente aos crimes patrimoniais.

Ademais, no âmbito dos crimes contra o patrimônio, não há um valor


máximo (teto) a limitar a incidência do princípio da insignificância. Sua análise há
de ser efetuada levando-se em conta o contexto em que se deu a prática da
conduta, especialmente a importância do objeto material, a condição econômica
da vítima, as circunstâncias do fato e o resultado produzido, bem como as
características pessoas do agente.

Porém, há delitos que são logicamente incompatíveis com a criminalidade


de bagatela, como os crimes hediondos e equiparados, racismo e ação de
grupos armados, pois tais crimes, que possuem o máximo potencial ofensivo,
receberam um tratamento mais rigoroso pela CRFB (art. 5º, XLII, XLIIII e XLIV).

Passando a analisar a Jurisprudência a respeito do tema, cabe fazer a


divisão da matéria da seguinte forma:

3.1) Crimes nos quais a Jurisprudência RECONHECE a


aplicação da Insignificância:
a) Crimes contra a Ordem Tributária (Lei 8.137/90)3: O princípio
da insignificância incide nos crimes de natureza tributária. Porém, a
Jurisprudência criou a tese de que, nos crimes tributários, para decidir se
incide ou não o princípio da insignificância, será necessário analisar, no caso

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Esta matéria é melhor explicada no item 5, da aula 3, do CP-V de Tributário.
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concreto, o valor dos tributos que deixaram de ser pagos.

Tradicionalmente, esse valor era de 10 mil reais, com base no art.


20, Lei 10.522/02, que determina o arquivamento das execuções fiscais
cujo valor consolidado for igual ou inferior a 10 mil reais, ou seja, até tal
valor os débitos inscritos em Dívida Ativa da União não serão executados.
Assim, entendia-se que não haveria sentido lógico em permitir que alguém
seja processado criminalmente pela falta de recolhimento de um tributo que
nem sequer será cobreado no âmbito administrativo-tributário. Nesse caso,
o direito penal deixaria de ser a ultima ratio.

Porém, há polêmica se esse valor de 10 mil reais permanece


ainda hoje, uma vez que foi publicada a Portaria MF nº75/2012, na qual o
Ministro da Fazenda determinou, em seu art. 1º, II, o “não ajuizamento de
execuções fiscais de débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor consolidado
seja igual ou inferior a 20 mil reais”. Entende-se, assim, que o Poder
executivo “atualizou” o valor previsto no art. 20, lei 10.522/02, e passou a
não mais executar dívidas de até 20 mil reais.

Diante desse aumento, temos divergência sobre a aplicação do


valor de 20 mil reais como parâmetro para a insignificância:

 STJ (AgRg no AREsp 331.852/PR): tem decidido que o valor de


20 mil reais, estabelecido pela Portaria MF 75/12 como limite mínimo
para a execução de débitos contra a União, NÃO pode ser considerado
para efeitos penais (não deve ser utilizado como novo patamar de
insignificância).

Argumenta-se que a opção da autoridade fazendária sobre o


que deve ou não ser objeto de execução fiscal não pode ter a força
de subordinar o exercício da jurisdição penal.

Ademais, não é possível majorar o parâmetro previsto no art.


20 da Lei 10.522/2002 por meio de uma portaria do Ministro da
Fazenda. A portaria emanada do Poder Executivo não possui força
normativa passível de revogar ou modificar lei em sentido estrito.

Em suma, para o STJ, o valor máximo para aplicação do


princípio da insignificância no caso de crimes contra a ordem
tributária (incluindo o descaminho) continua sendo de 10 mil reais.

 STF (HC 120617): Para o STF, o fato de as Portarias 75 e 130/2012


do Ministério da Fazenda terem aumentado o patamar de 10 mil reais
para 20 mil reais produz efeitos penais. Logo, o novo valor máximo
para fins de aplicação do princípio da insignificância nos crimes
tributários passou a ser de 20 mil reais.

Vale ressaltar que o limite imposto por essa portaria pode ser
aplicado de forma retroativa para fatos anteriores à sua edição
considerando que se trata de norma mais benéfica (STF – HC
122213).

Obs.: Cabe destacar que esse parâmetro vale, a princípio, apenas para os
crimes que se relacionam a Tributos Federais, pois trata do valor que a
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União considera insignificante.

Para fins de crimes que envolvam tributos estaduais ou municipais,


deve ser analisado se há lei regional ou local dispensando a execução fiscal
no caso de tributos abaixo de determinado valor (STJ – HC 165.003/SP).

Obs.2: Ao se levar em conta a insignificância, poderia considerar a


multa tributária? A execução fiscal vai incluir o tributo e a multa, ou seja,
o que define a insignificância, para efeitos fiscais, é o valor como um todo.
Já em relação à insignificância, para efeitos penais, devem ser considerados
os acréscimos?

Na doutrina estrangeira só se considera o tributo. O STF não analisou


isso. Porém, o STJ, recentemente, definiu que não se deve inserir, no
montante a ser considerado para a bagatela, os acréscimos decorrentes da
lei tributária (juros e multa), e que não se relacionam à conduta do sujeito
(REsp 1.226.719/RS).

Nesse sentido, segundo o STJ, para se verificar a insignificância da


conduta, deve-se levar em consideração o valor do crédito tributário
apurado originalmente no procedimento de lançamento. Assim, os juros, a
correção monetária e eventuais multas de ofício que incidem sobre o crédito
tributário quando ele é cobrado em execução fiscal não devem ser
considerados para fins de cálculo do princípio da insignificância (RHC
74.756/PR – 2016).

Obs.3: Para o STF, é possível aplicar o novo limite (de 20 mil reais)
mesmo que o fato tenha ocorrido antes da Portaria 75/2012, ou
seja, limite imposto por essa portaria (20 mil reais) pode ser aplicado de
forma retroativa para fatos anteriores à sua edição considerando que se
trata de norma mais benéfica (STF. 2ª Turma. HC 122213, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, Segunda Turma, julgado em 27/05/2014).

Obs.4: Na Apropriação Indébito Previdenciária (art. 168-A, CP),


apesar de ter indiscutível natureza tributária, há divergência a respeito da
aplicação da insignificância, conforme será analisado.

Resumindo
 STF, TRF3 e TRF4 (Majoritário): Adota, com base na Portaria 75/2012, e posteriormente
na Portaria 130/2012, ambas do Ministério da Fazenda, o patamar de 20 mil reais.

 STJ: Ainda segue firme no sentido de manter o patamar de 10 mil reais, com base no art. 20,
da Lei 10.522, sem, contudo, inserir, no montante a ser considerado para a bagatela, os
acréscimos decorrentes da lei tributária
MUDOU!!!

O STJ curvou-se ao entendimento do STF. O STJ, vendo que as suas decisões estavam
sendo reformadas pelo STF, decidiu alinhar-se à posição do Supremo e passou a também entender
que o limite para a aplicação do princípio da insignificância nos crimes tributários e no descaminho
subiu realmente para R$ 20 mil.
O tema foi decidido sob a sistemática do recurso repetitivo e fixou-se a seguinte tese:
Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de
descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$
20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com
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as atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério da
Fazenda. STJ. 3ª Seção. REsp 1.709.029/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
28/02/2018 (recurso repetitivo).

b) Descaminho (art. 334, CP): É também considerado um crime contra


a ordem tributária, apesar de estar previsto no CP e não na Lei 8.137/90.
Desse modo, aplica-se o princípio da insignificância ao crime de
descaminho, na forma do item acima, com a respectiva divergência em
relação ao valor que pode ser considerado insignificante.

Ademais, para o STJ, além do requisito objetivo (valor inferior a 10


mil ou 20 mil), deverá também cumprir um requisito subjetivo, qual seja,
o agente não pode ser criminoso habitual. Neste sentido, decidiu o STJ
(INFO 575) que a reiteração criminosa inviabiliza a aplicação do princípio
da insignificância nos crimes de descaminho, ressalvada a possibilidade de,
no caso concreto, as instâncias ordinárias verificarem que a medida é
socialmente recomendável.

c) Furto: Apesar de ser cabível a insignificância no furto, algumas


observações importantes devem ser feitas:

 No furto, o princípio da insignificância não pode ter como parâmetro


apenas o valor da res furtiva (coisa subtraída), devendo ser
analisadas as circunstâncias do fato e o reflexo da conduta do agente
no âmbito da sociedade, para então se decidir sobre seu efetivo
enquadramento na hipótese de crime de bagatela.

 Em casos de pequenos furtos, deve-se avaliar a incidência ou não do


princípio a partir não só do valor do bem subtraído, mas também de
outros aspectos relevantes da conduta imputada (STF – HC 120016).

 A 1ª Turma do STF já aplicou o princípio da insignificância em favor


de réu que tentou furtar um cartucho de tinta de impressora no
presídio onde cumpria pena (RHC 106731/DF).

 Não se aplica o princípio da insignificância se o crime de furto é


praticado mediante ingresso sub-reptício na residência da vítima,
com violação da privacidade e tranquilidade pessoal desta (STF – HC
106045).

 A circunstância de o crime de furto ter sido perpetrado durante o


repouso noturno denota maior reprovabilidade, o que afasta o
reconhecimento da atipicidade material da conduta pela aplicação do
princípio da insignificância (STJ – AgRg no AREsp 463.487/MT).

 Não se aplica o princípio no caso de furto de água potável mediante


ligação clandestina (REsp 984.723/RS).

 Em regra, a jurisprudência NÃO aplica o princípio da insignificância


no caso do agente que furta coisas para trocá-las por droga (STJ –
HC 211.177/SP).

 O fato de o réu ter restituído os bens furtados à vítima não serve


como justificativa, por si só, para aplicar o princípio da insignificância,
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especialmente se o valor do objeto tem expressividade econômica
(STJ – HC 213.943/MT).

Porém, em se tratando de furto qualificado (art. 155, §4º, CP), em


regra, não se aplica o princípio da insignificância, uma vez que o STJ é
firme no entendimento segundo o qual a prática do delito de furto
qualificado por escalada, destreza, rompimento de obstáculo ou concurso
de agentes indica a reprovabilidade do comportamento do réu, sendo
inaplicável o princípio da insignificância. (STJ – AgRg no REsp
1432283/MG).

 Art. 155, § 4º, I do CP (furto com rompimento de obstáculo):


Decidiu-se que, no caso de rompimento de obstáculo, há uma maior
reprovabilidade do comportamento do réu (STJ – HC 277.214/RS).

 Art. 155, § 4º, II do CP (furto com abuso de confiança): Em


determinado caso concreto, foi negada a aplicação do princípio para
o réu que tentou furtar 5 rolos de fio cobre da empresa na qual era
funcionário, avaliados em R$ 36,00, uma vez que a reprovabilidade
se mostrou acentuada já que ele era funcionário da loja, de forma
que traiu a confiança de seus empregadores (STJ – HC 216.826/RS).

 Art. 155, § 4º, II do CP (furto mediante escalada): O STJ


entende que há uma maior reprovabilidade do comportamento do réu
(STJ – AgRg no REsp 1438176/MG).

Em relação ao furto privilegiado (art. 155, §2º, CP), esta figura


não deve ser confundida com a insignificância (furto insignificante), pois
aquele trata de hipótese em que a coisa é de pequeno valor (inferior a 1
S.M.m segundo a Jurisprudência), o que acarretará uma causa de redução
de pena, enquanto este trata de hipótese em que o valor é irrelevante para
o Direito Penal, por não colocar em risco o bem jurídico penalmente
tutelado, o que acarretará a atipicidade material (STJ – HC 120.083/SC).

Este raciocínio é igualmente aplicável aos demais delitos contra o


patrimônio que admitem o privilêncio (Ex.: Apropriação indébita – art. 170;
Estelionato – art. 171, §1º; Receptação – art. 180, §5º)

d) Crimes Ambientais: Em uma primeira análise, o princípio da


insignificância soa como incompatível com os delitos ambientais, em face
da natureza difusa e da relevância do bem jurídico protegido, reservado
inclusive às futuras gerações. Neste sentido é o entendimento da Doutrina
de Direito Ambiental.
CPI – Aula 1.1 13
Porém, há precedentes em que o STF (HC 112.563/SC) e STJ (RHC
35.122/RS), excepcionalmente admite a criminalidade de bagatela. Porém,
exige-se uma análise rigorosa, considerado o bem jurídico de natureza
difusa protegido constitucionalmente, restringindo-se aos casos em que a
conduta do agente expressa pequena reprovabilidade e irrelevante
periculosidade social.

e) “Flanelinha” e Exercício sem Registro no Órgão Competente:


Segundo o art. 1º da Lei 6.242/75, o exercício da profissão de guardador e
lavador autônomo de veículos automotores (“flanelinha”) depende de
registro na Delegacia Regional do Trabalho competente.

Apesar disso, caso a pessoa exerça a profissão de “flanelinha” sem


estar registrado na Superintendência Regional do Trabalho, ela não poderá
ser denunciada pela prática da contravenção prevista no art. 47 da Lei de
Contravenções Penais, pois o STF entende que se aplica, à hipótese, o
princípio da insignificância, devendo ser reconhecida a atipicidade
material do comportamento do agente. Há mínima ofensividade e reduzida
reprovabilidade da conduta e a falta de registro no órgão competente não
atinge, de forma significativa, o bem jurídico penalmente protegido. Se há
algum ilícito, este não é penal, mas apenas de caráter administrativo (STF
– HC 115046/MG – INFO 699).

f) Atos Infracionais: Atos infracionais são os crimes e as contravenções


penais cometidos por crianças ou adolescentes (art. 103, ECA). De
acordo com o STJ e STF, dependendo na natureza do a o infracional (e
presentes os requisitos para a configuração do delito de bagatela), admite-
se a incidência da insignificância, já quese para um indivíduo maior de idade
é cabível o reconhecimento da criminalidade de bagatela, para um menor
de 18 anos também o será.

3.2) Crimes nos quais a Jurisprudência REJEITA a


aplicação da Insignificância:
a) Roubo e demais crimes cometidos com Grave Ameaça ou
Violência: Não há espaço para o princípio da insignificância, pois os
reflexos derivados destes crimes não podem ser considerados irrelevantes,
ainda que o objeto material apresente ínfimo valor econômico (STJ – HC
60.185/MG – INFO 439; STF – HC 97.190/GO – INFO 595).

Considera-se, no roubo, que, por se tratar de delito complexo (há


ofensa a bens jurídicos diversos – patrimônio e integridade da pessoa), é
inviável a afirmação de desinteresse estatal à sua repressão.

b) Tráfico de Drogas (Lei 11.343/06): Os crimes tipificados nesta lei


são de perigo abstrato (presumido) e tutelam a saúde pública. No Tráfico
de Drogas, delito constitucionalmente equiparado a hediondo, é
indiscutível a inadmissibilidade da insignificância, sendo, portanto,
irrelevante a quantidade de droga apreendida (STJ HC 240.258/SP).
Porém, conforme veremos, há divergência em relação à posse de droga
CPI – Aula 1.1 14
para consumo pessoal.

Obs.: Não é possível admitir a aplicação do princípio da


insignificância em se tratando de crimes de perigo. Nesta
hipótese, o legislador optou por criminalizar a mera probabilidade de
lesão, antecipando a barreira de proteção penal. Se não há lesão,
não há como quantificar o grau de perigo criado pelo agente. O que
se quantifica é a lesão.

c) Contrabando (art. 334-A, CP): É inaplicável o princípio da


insignificância ao crime de contrabando, uma vez que o bem juridicamente
tutelado vai além do mero valor pecuniário do imposto elidido, alcançando
também o interesse estatal de impedir a entrada e a comercialização de
produtos proibidos em território nacional (STJ – AgRg no AREsp
342.598/PR).

Afirma-se que, em face da natureza proibida da mercadoria


importada ou exportada, este não tem natureza tributária, pois os bens
jurídicos tutelados são outros (Saúdo, Moralidade administrativa, Ordem
pública, etc.).

Assim, não se pode confundir a posição adotada para o descaminho


com a adotada para o contrabando, uma vez que no delito de
contrabando, o objeto material sobre o qual recai a conduta criminosa é a
mercadoria PROIBIDA (proibição absoluta ou relativa). Em outras
palavras, o objetivo precípuo dessa tipificação legal é evitar o fomento de
transporte e comercialização de produtos proibidos por lei. No contrabando
não se cuida, tão somente, de sopesar o caráter pecuniário do imposto
sonegado, mas principalmente, de tutelar, entre outros bens jurídicos, a
saúde pública.

Em suma, no contrabando, o desvalor da conduta é maior, razão pela


qual se deve afastar a aplicação do princípio da insignificância (STF – HC
118.359 e HC 110.964/SC).

d) Lesão Corporal e Violência Doméstica ou Familiar contra a


Mulher (Súmula 589, STJ): O STJ (AgRg no AREsp 19.042/DF) nega
a aplicação da insignificância em caso envolvendo lesões corporais em
ambiente familiar. Afirma-se que a violência física é incompatível com os
vetores da insignificância.

De igual modo, não se aplica a insignificância em qualquer dos crimes


praticados com violência doméstica ou familiar contra a mulher (STF – RHC
133.043/MT – INFO 825).

Por fim, o STJ definiu que também não se aplica o princípio bagatelar
impróprio aos crimes e contravenções penais praticados contra a mulher no
âmbito das relações domésticas (ver no item 5 desta aula).
CPI – Aula 1.1 15

e) Moeda Falsa e Outros Crimes contra a Fé Pública: Nos crimes


contra a fé pública, o bem jurídico tutelado é a credibilidade/confiança
depositada nos documentos, sinais e símbolos empregados nas relações
indispensáveis à vida em sociedade. Por tal razão, não há espaço para o
princípio da insignificância (STF – HC 117.638/RJ).

Em relação à moeda falsa, ainda que seja apenas uma nota e de


pequeno valor, não é permitida a aplicação da insignificância, por haver
interesse estatal na sua repressão (STJ – AgRg no REsp 1.168.376/RS; STF
– HC 93.251/DF).

f) Posse/Porte de Arma ou Munição e Tráfico Internacional de


Arma de Fogo: Não é possível a aplicação do princípio da insignificância
à posse/porte ilegal de munições, independentemente do calibre da arma
de fogo e do número de projéteis apreendidos, por se tratar de crime de
perigo abstrato, que visa a proteger a segurança pública e a paz coletiva
(STJ – RHC 43.756/AL; STF – HC 131.771/RJ).

Porém, Panoeiro ressalta que, para que se caracteriza o crime,


contudo, é necessária a criação de um risco juridicamente relevante, sem
o qual o fato é atípico. Neste sentido, o STJ já absolveu militar que
guardava munições da época da ditadura, pois não havia a criação de um
risco. O STF (INFO 826) entendeu que é atípica a conduta daquele que
porta, na forma de pingente, munição desacompanhada de arma.

De igual modo, entende-se que o tráfico internacional de arma de


fogo (art. 18, Lei 10.826), não comporta o princípio da insignificância, por
se tratar de crime de perigo abstrato e atentatório à segurança pública (STF
– HC 97.777/MS).

g) Estelionato contr ao INSS (Estelionato Previdenciário) e


envolvendo FGTS: A jurisprudência NÃO aplica o princípio sob o
argumento de que esse tipo de conduta contribui negativamente com o
déficit da Previdência. Defende-se que, não obstante ser ínfimo o valor
obtido com o estelionato praticado, se a prática de tal crime se tornar
comum, sem qualquer repressão penal da conduta, certamente se agravará
a situação da Previdência, responsável pelos pagamentos das
aposentadorias e dos demais benefícios dos trabalhadores brasileiros. Daí
porque se conclui que é elevado o grau de reprovabilidade da conduta
praticada (STF – HC 111918).
CPI – Aula 1.1 16
De igual modo, o STF já decidiu que não deve ser aplicado o princípio
da insignificância em caso de estelionato envolvendo o FGTS porque a
conduta do agente é dotada de acentuado grau de reprovabilidade, “na
medida em que a fraude foi perpetrada contra programa social do governo
que beneficia inúmeros trabalhadores” (HC 110845).

h) Violação de Direito Autoral: Segundo o STJ, não se aplica ao art. 184,


§2º, CP, pois, em que pese a aceitação popular à pirataria, esta causa sérios
prejuízos à indústria fonográfica brasileira, aos comerciantes legalmente
instituídos e ao Fisco, mostrando-se formal e materialmente típica (AgRg
no Resp 1.380.149/RS).

i) Provedor Clandestino de Internet (Súmula 606 STJ): Segundo o


STJ (INFO 842), o réu que disponibiliza provedor de internet sem fio pratica
atividade clandestina de telecomunicação (art. 183 da Lei nº 9.472/97), de
modo que a tipicidade da conduta está presente, devendo ser afastada a
aplicação do princípio da insignificância mesmo que, no caso concreto, a
potência fosse inferior a 25 watts, o que é considerado baixa potência, nos
termos do art. 1º, § 1º, da Lei nº 9.612/98.

Ademais, o delito do art. 183 da Lei nº 9.427/97 é crime de perigo


abstrato. Isso significa que, para a sua consumação, basta que alguém
desenvolva de forma clandestina as atividades de telecomunicações, sem
necessidade de demonstrar prejuízo concreto para o sistema de
telecomunicações.

3.3) Crimes nos quais existe DIVERGÊNCIA na


Jurisprudência:
a) Crimes contra a Administração Pública (Súmula 599, STJ):
Tradicionalmente, a insignificância não era admitida nos crimes contra a
Administração Pública, pois, em tais delitos, ainda que a lesão econômica
seja irrisória, há ofensa à moralidade administrativa e à probidade dos
agentes públicos (STJ – Resp 1.062.533/RS) (INFO 615, STJ). Neste
sentido também é o entendimento da doutrina majoritária, por entender
que há múltiplos bens jurídicos tutelados.

Porém, o STF possui decisões em sentido contrário, admitindo em


hipóteses extremas (HC 107.370/SP – INFO 624). Assim, não haveria que
se falar em peculato (art. 312, CP) quando o funcionário público se apropria
de poucas folhas de papel ou de alguns clips pertencentes a determinado
órgão público. Eventuais ilícitos devem ser enfrentados na instância
administrativa.

Portanto, segundo o entendimento que prevalece no STF, a prática


de crime contra a Administração Pública, por si só, não inviabiliza a
aplicação do princípio da insignificância, devendo haver uma análise do caso
concreto para se examinar se incide ou não o referido postulado.

Neste sentido, também é a lição de Fernando Capez, segundo o qual


não existe razão para negar incidência quando for hipótese de lesão de
CPI – Aula 1.1 17
ínfima monta.

Portanto, há divergência na jurisprudência a respeito do tema, de


modo que, no STF há julgado mais antigos da 2ª Turma admitindo a
aplicação do princípio (HC 107.370).

Já o no STJ (AgRg no AREsp 342.908/DF) prevalece que não se


aplica, em regra, o princípio da insignificância aos crimes contra a
Administração Pública, ainda que o valor da lesão possa ser considerado
ínfimo, uma vez que a norma visa resguardar não apenas o aspecto
patrimonial, mas, principalmente, a moral administrativa.

Há, contudo, no STJ, uma exceção: admite-se o princípio da


insignificância ao crime de descaminho (art. 334 do CP), que,
topograficamente, está inserido no Título XI do Código Penal, que trata
sobre os crimes contra a administração pública. Segundo o STJ, “a
insignificância nos crimes de descaminho tem colorido próprio, diante das
disposições trazidas na Lei n. 10.522/2002”, o que não ocorre com outros
delitos, como o peculato etc. (AgRg no REsp 1346879/SC).

b) Porte de Droga para Consumo Pessoal (art. 28, Lei 11.343):


De acordo com o STJ (RHC 35.920 – INFO 541), não é possível afastar a
tipicidade material do porte para consumo próprio com base na
insignificância, ainda que ínfima a quantidade de droga apreendida, por se
tratar de crime de perigo abstrato / presumido, prescindindo da
comprovação da existência de situação que tenha colocado em risco o bem
jurídico tutelado. Assim, para a caracterização do art. 28, Lei 11.343, não
se faz necessária a ocorrência de efetiva lesão ao bem jurídico protegido,
bastando a realização da conduta proibida. Entende a Corte que tal crime
realimenta o comércio ilícito, contribuindo para difusão dos tóxicos, e, com
ele, todos os outros crimes relacionados ao narcotráfico. Assim, o objeto
jurídico tutelado é a saúde pública, e não apenas a saúde do usuário.
Ademais, a reduzida quantidade de drogas integra a própria essência do
crime de porte de drogas para uso próprio, pois, do contrário, caracterizar-
se-ia o tráfico de drogas (art. 33, Lei 11.343).

Porém, o STF possui precedentes isolados da 1ª Turma (HC


110.475/SC - 2012), aplicando o princípio no caso do crime do art. 28, Lei
11.343. Porém, tal precedente não traduz um entendimento pacífico no
STF.
CPI – Aula 1.1 18

Obs.: Segundo o STF, mesmo sem haver qualquer risco de o réu ser
preso por conta do art. 28, Lei 11.343/06, ele poderia sim impetrar
habeas corpus.

c) Rádio Pirata: A conduta de manter rádio comunitária clandestina pode


configurar, em tese, o delito previsto no art. 183 da Lei 9.472/97 ou o crime
do art. 70 da Lei 4.117/62. De acordo com o STF, o crime do art. 183 da
Lei 9.472/97 somente ocorre quando houver habitualidade. Se esta
estiver ausente, ou seja, quando o acusado vier a instalar ou se utilizar de
telecomunicações clandestinamente, mas apenas uma vez ou de modo não
rotineiro, a conduta fica subsumida no art. 70 da Lei 4.117/62, pois não
haverá aí um meio ou estilo de vida, um comportamento reiterado ao longo
do tempo, que seria punido de modo mais severo pelo art. 183 da Lei
9.472/97 (STF – HC 93870/SP).

Porém, o STJ possui precedentes adotando outro critério de


distinção:
CPI – Aula 1.1 19

Existem 2 posições acerca da aplicabilidade da insignificância ao


delito de rádio comunitária clandestina (art. 183, Lei 9.472/97 ou art. 70,
Lei 4.117/62).

 1ª Corrente (STF): É possível a incidência, desde que o serviço


de radiodifusão apresente finalidade social e objeto lícito, e também
não apresente capacidade para interferir nos demais meios de
comunicação e na segurança do tráfego aéreo (RHC 119.123/MG).

Cabe destacar que o STF, em regra, nega a aplicação do


princípio, e, apenas em casos excepcionais, reconhece o postulado
caso a rádio clandestina cumpra os requisitos acima descritos.

 2ª Corrente (STJ): Trata-se de crime incompatível com a


insignificância, pois se trata de crime formal, de perigo abstrato,
tendo como bem jurídico tutelado a segurança e o regular
funcionamento dos meios de comunicação. Além disso, a exploração
clandestina de sinal de internet, sem autorização do órgão regulador
(ANATEL), já é suficiente a comprometer a regularidade do sistema
de telecomunicações, razão pela qual, o princípio da insignificância
deve ser afastado. Assim, ainda que constatada a baixa potência do
equipamento, tal conduta não é um irrelevante penal (AgRg no AREsp
599.005/PR).

d) Crimes cometidos por Prefeitos: Há 2 entendimentos:

 STF: É possível a aplicação da insignificância. O STF (HC 104.286)


já decidiu que “Ex-prefeito condenado pela prática do crime previsto
no art. 1º, II, DL 201/67, por ter utilizado máquinas e caminhões de
propriedade da Prefeitura para efetuar terraplanagem no terreno de
sua residência. Aplicação do princípio da insignificância.
Possibilidade”.

 STJ: Entende não ser aplicável a insignificância a prefeito, em razão


mesmo da própria condição que ostenta, devendo pautar sua
conduta, à frente da municipalidade, pela ética e pela moral, não
havendo espaço para quaisquer desvios de conduta (HC
148.765/SP).

e) Apropriação Indébita Previdenciária:


CPI – Aula 1.1 20

4) Valoração da Insignificância pela Autoridade


Policial (Análise em Prisão em Flagrante):
Questiona-se se a autoridade policial pode deixar de efetuar a prisão em
flagrante, por reputar presente a criminalidade de bagatela. Assim, situação que
é muito comum na prática e que gera enorme polêmica, se trata de quando a
autoridade policial deixa de lavrar a prisão em flagrante sob o argumento de que
a conduta praticada é formalmente típica, mas se revela penalmente insignificante
(atipicidade material). Sobre o tema, temos 2 correntes:

 1ª Corrente: A autoridade policial pode valorar a incidência do


princípio da insignificância, pois esta afasta a tipicidade material.
Logo, se o fato é atípico, a autoridade policial pode deixar de lavrar
o flagrante.

 2ª Corrente (STJ, Doutrina Tradicional): A avaliação sobre a


presença ou não do princípio da insignificância, no caso concreto,
deve ser feita pelo Poder Judiciário (e não pela autoridade policial).

O STJ entende que somente o Poder Judiciário é dotado de


poderes para efetuar o reconhecimentod o princípio da
insignificância. Assim, a autoridade policial está obrigada a efetuar a
prisão em flagrante, cabendo-lhe submeter imediatamente a questão
à autoridade judiciária competente (HC 154.949/MG).

Porém, não existe, ainda, uma posição consolidada sobre o tema na


jurisprudência, razão pela qual, em concursos públicos, o tema somente deve ser
explorado em provas discursivas ou práticas, quando deverá ser explicada a
discussão acima.

Na prática, o Delegado de Polícia deverá ter extrema cautela ao aplicar o


CPI – Aula 1.1 21
princípio em caso de prisão em flagrante, somente decidindo não lavrar o auto em
situações nas quais esteja patente a insignificância. Mesmo assim, é recomendável
que seja instaurado um procedimento formal, certificando-se tudo o ocorreu,
sendo, então, encaminhando ao Ministério Público a documentação pertinente.

Em situações nas quais haja dúvida, uma providência salutar é acionar o


plantão do Ministério Público, colhendo a opinião do Parquet, devendo ser
certificado nos autos esse contato.

5) Infração Bagatelar Imprópria:


Não se pode confundir o princípio da insignificância (infração
bagatelar própria) com a chamada “infração bagatelar imprópria”.

Infração bagatelar imprópria é aquela que nasce relevante para o


Direito penal (apresenta desvalor da conduta e do resultado, fato é típico e ilícito,
agente é dotado de culpabilidade e o Estado possui o direito de punir –
punibilidade), mas depois, ao se analisar o caso concreto, verifica-se que a
aplicação de qualquer pena no caso concreto apresenta-se totalmente
desnecessária, pois diversos fatores recomendam seu afastamento, tais como:
sujeito com personalidade ajustada ao convívio social (primário e sem
antecedentes criminais), colaboração com a justiça, reparação do dano causado à
vítima, reduzida reprovabilidade do comportamento, reconhecimento da culpa,
etc. (LFG).

Em outras palavras, o fato é típico, tanto do ponto de vista formal


como material. No entanto, em um momento posterior à sua prática,
percebe-se que não é necessária a aplicação da pena. Logo, a reprimenda
não deve ser imposta, deve ser relevada (assim como ocorre nos casos de perdão
judicial).

Portanto, segundo tal princípio, que também não possui previsão legal no
Brasil, inexistira legitimidade na imposição de pena nas hipóstes em que, nada
obstante a infração penal esteja indiscutivelmente caracterizada (tipicidade formal
e material), a aplicação da reprimenda desponte como desnecessária e
inoportuna.

Obs.: Segundo LFG, a infração bagatelar imprópria possui um


fundamento legal no direito brasileiro. Trata-se do art. 59 do CP que
prevê que o juiz deverá aplicar a pena “conforme seja necessário e
suficiente para reprovação e prevenção do crime”.

Dessa forma, se a pena não for mais necessária, ela não


deverá ser imposta (princípio da desnecessidade da pena
conjugado com o princípio da irrelevância penal do fato).

Obs.2: Segundo LFG, o direito legislado já consta com exemplos de


infração bagatelar imprópria:

 No crime de peculato culposo (art. 312, §3º, CP), a reparação dos


danos antes da sentença irrecorrível extingue a punibilidade.
Assim, havendo a reparação, a infração torna-se bagatelar (em
sentido impróprio) e a pena desnecessária. No princípio havia
CPI – Aula 1.1 22
desvalor da ação e do resultado. Mas depois, em razão da
reparação dos danos (circunstância post-factum), torna-se
desnecessária a pena.

 Pagamento do tributo nos crimes tributários;

 Colaboradores da justiça (delator etc.) quando o juiz deixa de


aplicar a pena.

A análise da pertinência da bagatela imprópria há de ser realizada,


obrigatoriamente, na situação fática, e jamais no plano abstrato, para verificar a
necessidade da pena (art. 59, CP).

Ao contrário do que se verifica no princípio da insignificância própria, o


sujeito é regularmente processado, ou seja, a ação penal precisa ser iniciada, mas
a análise das circunstâncias do fato submetido ao crivo do Poder Judiciário
recomenda a exclusão da pena. Assim, a bagatela imprópria funciona como
Causa Supralegal de Extinção da Punibilidade (≠ bagatela própria – Causa
Suprealegal de Extinção da Tipicidade Material).

Ademais, a bagatela imprópria tem como pressuposto inafastável a não


incidência da bagatela própria, pois, se o fato não era merecedor da tutela penal,
em decorrência da sua atipicidade, descabe enveredar pela discussão acerca da
necessidade da pena.

Contudo, jurisprudência é bastante tímida na adoção desta tese.


Assim, o STJ, no AgInt no HC 369.673/MS e no AgRG no REsp 1463975/MS,
rechaçou a tese de que se o casal se reconciliasse durante o curso do processo
criminal, o juiz poderia absolver o réu acusado de violência doméstica com base
no chamado “princípio da bagatela imprópria”, em razão da relevância do bem
jurídico tutelado e da relevância penal da conduta, não implicando a reconciliação
do casal em desnecessidade da pena.

Obs.: Perdão Judicial não é a mesma coisa que Bagatela


Imprópria. Ambos os institutos possuem o mesmo fundamento
(desnecessidade da pena), mas são coisas distintas. Nos casos de
perdão judicial (CP, art. 121, § 5º, delação premiada etc.) é a lei
que define a situação concreta em que o juiz deve deixar de aplicar
a pena; o juiz, nessa hipótese, analisa e valora o caso concreto para
saber se presentes as exigências legais (intenso sofrimento do
agente, por exemplo, consoante o art. 121, § 5º, do CP); nos casos
de bagatela imprópria é o juiz que valora tanto o fato do agente
CPI – Aula 1.1 23
(desvalor da ação e do resultado) como o agente do fato (desvalor
da culpabilidade) para concluir que, naquele caso, a pena se tornou
desnecessária. E o juiz pode fazer isso por força do art. 59 do CP
(interpretado a contrario sensu). No perdão judicial não se exige
necessariamente um autor de pouca reprovabilidade. A essência da
bagatela imprópria é a baixa reprovabilidade do agente do fato. Tudo
isso se deve à vinculação necessária entre a culpabilidade e a pena
(aliás, aquela é fundamento e limite desta).

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