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Lang
Niterói/RJ 2010
Estudos
Sobre o Cancioneiro da Ajuda .............................................................................. 383
Relações da antiga escola lírica portuguesa com os trovadores
e troveiros ............................................................................................................ 455
O descordo na antiga poesia portuguesa e espanhola....................................... 483
Antigos cantares portugueses ................................................................................ 509
Acerca de caçafaton no Dicionário de Rima de Pero Guillén ............................ 529
Português chegar ........................................................................................................ 539
Rims equivocs e derivatius em português arcaico ................................................... 541
Português arcaico brou ............................................................................................ 547
Lições no Códice da Ajuda de antigos poemas portugueses ........................... 551
Marinhas em português arcaico ............................................................................ 557
O texto de um poema do rei D. Denis ................................................................ 569
A PRESENTAÇÃO
I NTRODUÇÃO
1
M. Rodrigues Lapa, necrológio a “Henry R. Lang”, Boletim de Filologia, Lisboa, 1936, t. IV,
pp. 217-218 [reproduzido também em Cancioneiro Gallego-Castellano (1350-1450), collected
and edited by Henry R. Lang, text, notes and glossary, com notícias de Jakob Jud, M. Rodrigues
Lapa e J. Leite de Vasconcelos, e resenha crítica de C. Michaëlis de Vasconcelos, Rio de Janeiro,
Lucerna, 1991, p. 7]
2
Na “Resenha Bibliographica” que abre o vol. II da edição do Cancioneiro da Ajuda (reimpressão
da edição de Halle [1904], acrescentada de um prefácio de Ivo Castro e do glossário das cantigas
[Revista Lusitana, XXIII], Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1990, p. 1), Carolina
Michaëlis de Vasconcelos fala da “fecunda revisão das litteraturas romanicas, iniciada no 1o
quartel” do século XIX, na qual inclui a primeira edição do CA, feita por Lord Stuart (Paris, No
Paço de Sua Majestade Britânica, 1823).
3
Vid. Pascale Hummel, Histoire de l’histoire de la philologie. Étude d’un genre épistémologique
et bibliographique, Paris, Droz, 2000.
4
Agnes M. Brady, “Henry Roseman Lang”, Modern Language Journal, vol. 19, nº. 1, Oct. 1934, p. 43.
5
Informação dada por Rodrigues Lapa, no texto citado acima, nota 1. A ele devemos também a
notícia – não fornecida por qualquer outro dos biógrafos consultados – de que, uma vez na Amé-
rica, Lang foi “ajudante de farmácia, estudante de Direito e finalmente advogado em New Haven”.
Op. cit., p. 6.
6
Thomas G. Bergin, “Lang at Yale: fact and fable”, Romance Philology, vol. XXXV, nº. 1, August
1981, p. 27.
7
Ministrando também cursos de francês, italiano, latim vulgar, provençal e francês arcaico, embo-
ra seu interesse principal fossem as língua e literaturas ibéricas. Ibid., p. 30.
10
com Alice Hubbard Derby, mulher culta e sensível; nos 27 anos em que
estiveram casados, não tiveram filhos, levaram vida de certa forma discreta
e cercados de poucos porém fiéis amigos. Alice morreu em 1928 e Lang
registrou com zelo as saudades da falecida no seu “diário”, onde se leem
também suas impressões acerca do cotidiano em New Haven – entre os
colegas de Departamento, com os alunos, na rua, oferecendo de si mesmo
um perfil em nada destoante da imagem externa de severidade e intolerân-
cia, temperada pela ironia8. Manteve-se em vigorosa atividade até suas
últimas semanas, falecendo em New Haven a 25 de julho de 1934, aos 81
anos de idade.
Se esse retrato biográfico não colabora a favor de uma memória
pessoal simpática nem de um convívio prazeroso, a unanimidade é irrestri-
ta quando se trata da competência intelectual de Henry Lang, reconhecido
como scholar de elevado mérito e ampla erudição no âmbito dos estudos
literários e filológicos, principalmente de geografia ibérica. Dizem-no as
honrarias que recebeu e as agremiações que o acolheram entre seus associ-
ados: em 1908, foi como delegado americano a Saragoça, por ocasião das
comemorações do centenário da Guerra de Independência da Espanha; foi
membro da prestigiosa Hispanic Society of America9, da Academia de Ciên-
cias de Lisboa, da American Academy of Arts and Sciences, da Real
Academia Española (Madri), da Rèial Académia de Bones Lletres (Barce-
lona) e Cavaleiro da Ordem Portuguesa de Santiago10; dizem-no também
as ideias que compartilhou – em diálogos nem sempre pacíficos – com os
principais filólogos de seu tempo, quer peninsulares como F. Adolfo Coelho,
Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Teófilo Braga, José Joaquim Nunes,
José Leite de Vasconcelos, Gonçalves Viana, Manuel Rodrigues Lapa,
Menéndez Pidal, quer de outros países europeus como Ernesto Monaci e
Cesare de Lollis na Itália, Alfred Jeanroy na França, Wilhelm Meyer-Lübke
e Jules Cornu, companheiros de língua alemã11.
8
Além do Diário, onde Lang escreveu em 1927 que “os membros escolhidos no Departamento de
Línguas Românicas” eram “tão pobres quanto obscuros”, Thomas G. Bergin também recolheu
testemunhos orais em New Haven, como o de um ex-aluno que, referindo-se ao autoritarismo do
professor, disse jamais ter tido problemas com Lang, por “ter feito exatamente o que ele dizia
para fazer”; ou de outro, reprovado em um exame oral apenas por ter pronunciado erroneamente
o nome de Friedrich Diez. Op. cit., pp. 34-35
9
Para o histórico de sua passagem pela Instituição, vid. Charles B. Faulhaber, “Henry R. Lang and
the Hispanic Society of America”, Romance Philology, vol. XXXV, nº. 1, August 1981, pp. 183-
192.
10
J.D.M. Ford, “In Memoriam Henry Roseman Lang”, Hispanic Review, III, 1935, p. 70.
11
Convidamos o leitor a visitar as cartas trocadas com alguns desses colegas de geração, aqui
reunidas no Apêndice, menos pelo inegável atrativo da exposição de farpas de ambos os lados
(vid., por exemplo, a resposta de Ernesto Monaci, datada de Roma, 22.04.1899, ou a de Leite de
11
Vasconcelos, datada de Lisboa, 25.01.1910) e mais para conhecimento das concretas dificulda-
des de pesquisa na época, intensificadas no pré e no pós Primeira Guerra, quando se racionavam
recursos de toda ordem e livros circulavam com escassez, obrigando a empréstimos mútuos.
Tanto maiores os empecilhos, tanto maior a persistência com que procuravam contorná-los e
manter-se atualizados.
12
Cf. Benjamin M. Woodbridge, Jr., “An analytical bibliography of the writings of Henry Roseman
Lang”, Romance Philology, vol. XXXV, nº. 1, August, 1981, pp. 1-13.
13
Cf. a p. 62 de sua Introdução ao Cancioneiro.
14
Cf. principalmente “Notes on the Metre of the Poem of the Cid”, Romanic Review, V, 1914, pp.
1-30, 295-349; VIII (1917), 241-278, 401-433; IX (1918), 48-95; “Contributions to the Restoration
of the Poema del Cid”, Revue Hispanique, LXVI, 1926, pp. 1-510.
15
“Las formas estróficas y términos métricos del Cancionero de Baena”, em Estudios eruditos in
memoriam de Adolfo Bonilla y San Martín (1875-1926), I, Madrid, Imprenta Viuda e Hijos de
Jaime Ratés, 1927, pp. 485-523; “Observações às Rimas do Cancionero de Baena”, em Miscelâ-
nea de Estudos em honra de D. Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Coimbra, 1933, pp. 476-492.
16
Halle, Max Niemeyer, 1910.
17
F. Jensen, verbete “Lang, Henry R.”, em G. Lanciani e G. Tavani, Dicionário da literatura medi-
eval galega e portuguesa, Lisboa, Caminho, 1993, pp. 379-380.
12
18
Observe-se, neste artigo, como Lang alfineta o Sr. Oiva Joh. Tallgren, cujo tratado “acerca do z
e ç del antiguo castellano” ele comenta, pelo fato de aquele pesquisador ter consultado o Dicio-
nário da Academia de 1899 – “único lugar que lhe pareceu necessário para buscar informação a
respeito de uma palavra do século XV!” (Vid. p. 529)
19
Os estudos de ambos estão indicados no rodapé ao artigo citado.
20
Um bom indício deste senso de ocasião revelado por Lang é a publicação, em 1902, do Cancio-
neiro Gallego-Castellano, versando poemas datados entre 1350-1450, período intervalar após a
morte de Dom Dinis geralmente tido como poeticamente estéril, instante de lacuna a anteceder o
Humanismo.
13
21
Martín de Riquer, “Los Cancioneros”, em Los trovadores. Historia literaria y textos, Barcelona,
Ariel, 2001, vol. I, pp. 11-19.
22
Cancioneiro d’el Rei Dom Denis zum ersten Mal vollständig herausgegeben. Dissertation zur
Erlangung der Doctorwürde eingereicht bei der philosophischen Fakultät der Kaiser-Williams-
Universität. Strassburg. Von Henry R. Lang. Halle a.S.: Druck von Ehrhardt Karras, 1892. Ao
referir esta edição, Carolina Michaëlis comenta que Lang nela “offerecia apenas o texto restaura-
do do CV, seguido das variantes do CB, proporcionadas por E. Monaci, e de Notas completas.
Nellas trata de interpretar passagens difficeis. Aponta concordancias de pensamento e de
phraseologia entre D. Denis, os mais poetas gallaïco-portugueses e a lyrica dos troveiros do
Norte da França, e a dos trovadores provençaes. E resolve muitos problemas de syntaxe, estylo e
lingüistica”. E continua, agora sobre a segunda edição: “... addicionou um glossario conciso, mas
completo; e como Introducção um estudo precioso sobre a lyrica gallaïco-portuguesa”. Cancio-
neiro da Ajuda, op. cit., vol. II, p. 76. Assinale-se que esta cuidadosa revisão foi feita em apenas
dois anos, entre 1892 e 1894.
23
Aí se encontram custodiados os “Henry Roseman Lang Papers”; o referido exemplar tem a cota
BEIN Hea27 5a.
24
Vid. suas observações na Introdução ao Cancioneiro, p. 60.
25
Sem contar a dificuldade de acesso dos investigadores aos manuscritos, como atesta a beligeran-
te resposta de Monaci, na citada carta de 1899.
26
Cancioneiro d’el Rei D. Diniz, pela primeira vez impresso sobre o Manuscripto da Vaticana, com
algumas notas ilustrativas, e uma prefação historico-litteraria pelo Dr. Caetano Lopes de Moura,
Pariz, em casa de J. P. Aillaud, 1847. (Entre as pp. XXI e XXXIII de sua Introdução, Lopes de
Moura noticia fontes contendo poemas dionisinos).
14
não ser completo, foi duramente criticado por suas impropriedades e tibie-
za científica27.
Mas o Liederbuch caiu nas boas graças de todos e as recensões à
obra se sucederam, tão profícuas quanto a que o próprio Lang dedicou, em
1908, ao Cancioneiro da Ajuda editado por Carolina Michaëlis, trabalho aqui
incluído, após a eminente romanista ter examinado, em 1895, o Cancioneiro
d’el Rei Dom Denis de Portugal28. Em 1903 foi a vez de Oskar Nobiling, que
depois, em 1907, também se debruça sobre o Cancioneiro da Ajuda29; em
1934, Rodrigues Lapa, embora tratando de um único poema, teve os olhos
voltados para o Cancioneiro dionisino30, bem como J. J. Nunes31. Se em coro
os encômios enaltecem a edição, também são numerosas as sugestões de
correção e de aditamentos a ela (basta ver a extensão das recensões), pois,
como pondera Nunes, errare humanum est e, de seu ponto de vista, a condi-
ção de “estrangeiro” de Lang pode ter sido um empecilho para algumas das
emendas propostas ao Cancioneiro32. Nem sempre o irascível suíço acata
pacificamente estas intervenções, como se pode ver na carta a Dona Caroli-
na, datada de junho de 1920, em que, referindo-se à benevolência dela para
com as Lições de Philologia Portuguesa de Leite de Vasconcelos, diz que
este colega – ou amigo – “como um estudioso de gramática histórica do
Português, não mostrou até agora nem ciência nem consciência”, assim como
J. J. Nunes, que “tem feito algum bom trabalho, mas é evidentemente pouco
familiarizado com o alemão para usar com independência e com proveito as
publicações alemãs”. Sequer a reivindicada “familiaridade com o alemão” o
impede de partir para a revanche contra sua colega germanófona – tratada
sempre, porém, com afetuosa reverência – na recensão ao Cancioneiro da
Ajuda, cujas circunstâncias parecem ter magoado a editora, a julgar por sua
carta a Lang, datada de 15 março de 190833: Carolina intuiu que este se
27
J. J. Nunes denuncia a “incompetência” de Lopes de Moura: “Cancioneiro de D. Dinis”, em
Miscelânea de Estudos em honra de D. Carolina Michaëlis de Vasconcellos, op. cit.,
pp. 200-206.
28
Vid. “Zum Liederbuch des Königs Denis von Portugal”, em Zeitschrift für romanische Philologie,
XIX, 1895, pp. 513-541; “Henry R. Lang: Das Liederbuch des Königs Denis von Portugal...”,
ibid., pp. 578-615.
29
Ambas as recensões estão publicadas em Oskar Nobiling, As cantigas de D. Joan Garcia de
Guilhade e estudos dispersos, ed. organizada por Yara Frateschi Vieira, Niterói, Eduff, 2007,
pp. 165-161 e 173-256, respectivamente.
30
M. Rodrigues Lapa, “Henry R. Lang, The text of a poem by King Denis of Portugal”, Boletim de
Filologia, II, 1934, pp. 181-184. [Repr. em Miscelânea de Língua e Literatura Portuguesa Me-
dieval, Coimbra, Universidade de Coimbra, 1982, pp. 197-203]
31
Artigo citado acima, nota 27.
32
Ibid.
33
Vid. Apêndice. Cf. também “Explicação Previa” ao Glossário, p. VII. (Vol. I do Cancioneiro da
Ajuda, ed. 1990)
15
ofendera com suas críticas à edição do Cancioneiro d’el Rei Dom Denis34.
Tal suspeita é compartilhada por Leite de Vasconcelos, na já mencionada
carta de 25 de janeiro de 191035.
Assentada a poeira, o Cancioneiro d’el Rei Dom Denis de Portugal
permanece como modelo de investigação paciente, incrivelmente detalhista,
rigorosa e muito técnica, mobilizando, ao mesmo tempo, um vasto cabedal
de referências e conhecimentos relativos ao seu contexto não só peninsular
como europeu. Além do usual aparato às cantigas, complementam-no as Notas
e o Glossário, apoiados ambos no mesmo critério de verificação do maior
número de ocorrências36 de um fenômeno linguístico ou métrico em docu-
mentação a mais variada possível, em verso e em prosa. Quanto à longa e
substanciosa Introdução, de feição histórico-literária, procurando enquadrar
os trovadores no seu meio, no seu tempo e nas fronteiras culturais e geográ-
ficas afins, se ela se distingue pela análise do panorama temático dos três
gêneros das cantigas (cantiga de amor, cantiga de amigo, cantiga de escár-
nio e maldizer) e, principalmente, dos seus recursos formais, mais instigante
se mostra ao abordar com paixão – às vezes excessiva37 – dois assuntos trazi-
dos à baila pelo Romantismo oitocentista e tornados centrais, no tocante à
poesia medieval, pelos críticos do fim do século: a questão das origens do
lirismo trovadoresco38 e sua natureza mais íntima, em tantos casos “híbrida”,
limítrofe entre o erudito e o popular. A intelectualidade francesa mergulhava
com afinco no enigma, e teses como a de Alfred Jeanroy, de 188939, refutada
por muitos40 e acatada por outros tantos, mobilizava eruditos como Gaston
34
Vid. nota 28.
35
Vid. Apêndice.
36
São “apenas seis ocorrências de cada palavra e cada acepção dela”, como Lang previne o leitor
na abertura do Glossário, parecendo-lhe ainda insatisfatória a escassez de testemunhos.
37
Com a argúcia nunca desmentida, Carolina Michaëlis, comentando o Cancioneiro, diz que Lang
“pondera repetidas vezes os prós e contras com escrupulo tal que chega a desconcertar o leitor
leigo, deixando-o a princípio em duvida sobre a sua verdadeira opinião”. Cancioneiro da Ajuda,
op. cit., vol. II, p. 76. Antes, em sua recensão de 1895, a filóloga já criticara, a propósito do
mesmo quesito estilístico: “Em suma, a argumentação move-se em perturbadoras linhas ondula-
das, que frequentemente se tornam um zigzag, para trás e para a frente; e na conclusão, algo soa
substancialmente distinto do que no começo”. (Vid. “Henry R. Lang: Das Liederbuch ..., op. cit.,
p. 579).
38
Cf. M. Rodrigues Lapa, Das origens da poesia lírica em Portugal na Idade Média, Lisboa, ed.
do autor, 1929; para uma boa síntese do tema, cf., do mesmo autor, Lições de Literatura Portu-
guesa. Época medieval, Coimbra, Coimbra Editora, 1934 (vid. cap. II, “O problema das origens
líricas”).
39
Alfred Jeanroy, Les origines de la Poésie Lyrique en France au Moyen Age, 3ème édition, Paris,
Honoré Champion, 1925.
40
Na recensão ao Cancioneiro dionisino, e fustigando Lang, Carolina Michaëlis lembra “as idéias
ousadas, sedutoras e não baseadas em argumentos sólidos de Jeanroy” (op. cit., p. 579). O pró-
prio Lang, em carta a Leite de Vasconcelos, datada de 22.2.1927, mostra-se perplexo: “Vejo que
16
TRADUÇÃO
Dos textos aqui constantes, alguns foram escritos em alemão, ou-
tros em inglês; apenas “A repetição de palavras rimantes na fiinda dos
trovadores galaico-portugueses”, contribuição de Lang para a Miscelânea
Scientífica e Literária Dedicada ao Doutor J. Leite de Vasconcellos, foi
escrita em português.
a 3a ed. das Origines de la poesie lyrique en France au moyen-âge de Jeanroy contem o idéntico,
literalmente identico capitulo sobre Portugal que a primeira edição de 1889, citando ainda,
por ex., o verbo cuorecer (em vez de guorecer ou guarecer) e derivando-o de coeur.” (Vid. Apên-
dice).
17
41
Carolina Michaëlis critica o emprego do termo balada para as cantigas de refrão com estrofes de
3 ou 4 versos. Segundo a filóloga, seria melhor utilizar para elas o termo geral “cantigas de
refrão”; “bailada”, apenas para dísticos, com ou sem refrão, e “bailadas paralelísticas” ou
“encadeadas”, para as estrofes encadeadas. Cf. “Henry R. Lang: Das Liederbuch des Königs
Denis von Portugal. (...) Zeitschrift für romanische Philologie, op. cit., p. 611.
18
GRAFIA
Os nomes dos trovadores galego-portugueses e outros grafam-se
segundo a forma adotada por Lang. Nos demais casos de nomes próprios
ou topônimos, atualizou-se a grafia.
CORREÇÕES E ADITAMENTOS
Ao fim da edição de 1894, encontra-se, como era usual, um con-
junto de “Correções e Aditamentos”, isto é, emendas ou acréscimos
42
Cf. também M. R. Lapa: “Lang designou o primeiro tipo destas cantigas pelo nome de baladas,
inspirado em Jeanroy, e ao segundo chamou serranas”. Lições de Literatura Portuguesa. Época
Medieval. 6ª. ed. revista. Coimbra: Coimbra Editora, 1966, p. 152.
43
Carolina Michaëlis criticou essa discrepância no seu comentário: cf. “Zum Liederbuch des Königs
Denis von Portugal”, op. cit., p. 520. Al3iás, no original, há vários momentos em que se nota
confusão na chamada a determinados versos, usando-se não a numeração da página impressa,
mas provavelmente uma numeração anterior por cantiga, como seria natural.
19
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Como era usual na época, Lang indica as fontes de citações e re-
missões quase sempre abreviando ora nome de autor, título de obra, ora
omitindo a imprenta ou fornecendo apenas local ou data da edição. Na
medida do possível, procuramos recuperar esses dados, juntando-os todos
ao final, na “Referências bibliográficas”.
Agradecimentos
Este trabalho só pôde chegar a termo por ter contado com o apoio
de instituições e pessoas.
Devemos especial agradecimento aos Diretores da coleção “Es-
tante Medieval”, Maria do Amparo Tavares Maleval e Fernando Ozório
Rodrigues, que nos estimularam a empreendê-lo e foram sempre recepti-
vos às necessidades surgidas ao longo do caminho. Ao setor “Manuscripts
and Archives” da Biblioteca da Universidade de Yale, e especialmente à
Diretora de Serviços Públicos, Ms. Diane E. Kaplan, agradecemos que nos
tenham permitido a consulta a materiais constantes do acervo “Henry
Roseman Lang Papers”, bem como a reprodução da correspondência aqui
incluída; da mesma forma, ao nosso hospedeiro em New Haven, Prof. K.
David Jackson, que generosamente nos acompanhou e intermediou os es-
forços no sentido de conseguir reproduções e acesso a documentos e obras.
À Dra. Isabel João Ramires, do Serviço de Manuscritos e de Leitura de
Manuscritos e Reservados da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra,
devemos a gentileza com que pôs novamente à nossa disposição o acervo
20
21
1
As três cartas (de Monaci, Carolina Michaëlis e José Leite de Vasconcelos) encontram-se nos
Henry Roseman Lang Papers. Manuscripts and Archives. Yale University Library. A retranscrição
de todas as cartas respeita a forma e a grafia do original.
* Considerando que as cartas neste Apêndice são inéditas, transcreve-se o original nas respectivas
notas.
2
My dear Sir. / I thought that my last answer would have been enough for your letter of the 7th.
inst. Now I will tell you pleinly. I do not permit anyone to study the Code Colocci-Brancuti. The
code is my absolute property. I have bought it for my own use. Once I have send you all the
collation of the Canz. d’el rey Don Diniz, and I do not see that, that gives you the right to insist
more. So I do not understand the closing words of your letter, which make appeal my “senso di
giustizia”. Yours sincerely, Ernesto Monaci.
3
O próprio Lang registrara o generoso gesto, no Prefácio ao Cancioneiro d’el rei Dom Denis:
“Devo enorme gratidão ao Professor Ernesto Monaci, em Roma, pela colação do códice Colocci-
Brancuti”. O fato de ter estado o códice em mãos de particulares até 1924, quando foi adquirido
pelo Estado Português, provocou sempre um certo desconforto entre os intelectuais. Carolina
Michaëlis, por exemplo, afirmava no volume II do Cancioneiro da Ajuda: “Infelizmente, até
hoje [Monaci] não pôde cumprir a promessa [o exame crítico das partes comuns a V e a B].
Auctoriza-nos porém a alentar a esperança que brevemente a realizará, o facto de haver adquiri-
do ha annos o precioso thesouro, e de não o facultar mais aos que desejariam vê-lo”. E em nota
acrescenta: “Em 1894 Monaci ainda extrahiu manu propria as variantes do CD, em favor de um
joven professor americano [= Lang]. Depois facultou-o a Cesare de Lollis”. (Canc. da Ajuda,
vol. II, p. 50 e nota 1)
4
Porto, 15 März 1908. / Hochverehrter Herr und Freund, / was für ein schönes Geburtstags-geschenk
haben Sie mir gemacht! – dem alternden Großmütterchen, dem soeben zwei kleine stürmische
Enkelknaben, Manuel und Ernesto, ihre Glückwünsche dargebracht haben! Ein Stein fällt mir
vom Herzen. Langezeit hatte ich – seit Gröber mir mitgeteilt, Sie würden den Cancioneiro
besprechen – jedes Heft erwartungsvoll geöffnet, um es enttäuscht wieder hinzulegen. – Als
gestern früh der Postbote XXXII/2 brachte, ließ ich es liegen, bis ich in der Abenddämmerung
die Feder aus der Hand legte – und am der Fenstertür meiner grünumlaubten Veranda den
Bindfaden löste, um Ordnung auf meinem Schreibtisch zu schaffen.// Da fiel mein Blick auf die
erste Seite u. dann aufs Titelblatt. Noch habe ich nichts gelesen, nur Seite eins überblickt (Abends
ging ich nach einem mühevollen Tagewerk zu Freunden, einer Verabredung gemäß, da ich bei
künstlichem Lichte Lesen u. Schreiben nach Möglichkeit unterlassen soll). Ich weiß, wie vielerlei
sich an meiner Arbeit aussetzen läßt – würde mich selber wahrscheinlich schärfer kritisieren, als
sonst irgend Jemand – u. hätte es längst öffentlich in der Selbstkritik getan, die dem 3 Bande
vorausgehen muß – als Übergangsstadium – da ich naturgemäß nach Vollendung von Band I-II
über vielerlei anders denke, als beim Beginn des Werkes – wenn mich daran nicht die Rücksicht
auf Ihre erwartete Besprechung u. die mir gleichfalls im Voraus gemeldete von Oskar Nobiling
gehindert hatte. Aber was tut das? Jeder der “strebend sich bemüht” muß mit jedem Schritte
vorwärts über sich selbst, wie er vordem war,// hinauskommen. Und so sehr ich jeden Fehler,
jeden Irrtum, jede Sorglosigkeit beklage – sowie die Widersprüche zwischen alten u.
vorgeschrittenen Ansichten – ich freue mich, wenn durch mich angeregt, Andre die Sache fördern.
Und zuckt auch mein allzuheißes, allzuempfindliches Herz leicht schmerzhaft zusammen, ich
habe Selbsterkenntniß u. Ehrlichkeit genug – um nicht zu zürnen, wenn mir meine Unzulänglichkeit
nach gewiesen wird. Dank, warmen Dank empfinde ich Ihnen gegenüber – u. daran wird sich
nichts ändern, was ich auch zu lesen bekommen werde. – Nun, (sobald ich den letzten Teil der
Romanzenstudien der Cultura Española eingehändigt haben werde) kann u. darf ich zu den so
lange unterbrochnen Cancioneiro-Studien (nebst Randglossen) zurückkehren – u. sie hoffentlich
zu Ende führen. Als Genugtuung für Sie – weil ich Ihnen durch mein kurzsichtiges Scharfsehen
von Einzelnheiten in Ihren kostbaren Studien wehe getan hatte, dem Anschein// nach, die Person
über der Sache vergessend – hatte ich mir völliges Schweigen u. Nicht-veröffentlichung meiner
Selbstkritik auferlegt, um Ihnen den Vorrang u. die Freude zu lassen, die altportugiesischen Studien
weit über den Punkt hinaus zu führen, an dem ich sie 1904 unterbrach. / Versöhnt Sie, und entsühnt
mich, dies Selbst bekenntniß einer 57 jährigen? Können Sie mir gegenüber wieder herzlich werden?
Sind die Wunden, die ich Ihnen, in Torheit, nicht aus Bosheit geschlagen, vernarbt? Tun sie nicht
mehr weh, wenn sie – wie von mir, mit dem sanften Finger wahrer Freundschaft u. Werschätzung
berührt werden? – Glauben Sie mir, ich habe mehr darunter gelitten als Sie selbst./ Nun aber Ihr
Aufsatz da ist, – da ich ihn als Beweis dafür auffassen daß Sie meine Hochachtung und
24
25
Lxa., B.Nal
25.I.910 Exmo. Sr. Lang:
Foi com grande atraso que li a Zr. 33-3, porque estive 4 meses fóra
de Lxa. Por outro lado, escrevo a V. E. só agora, porque tenho a vida muito
occupada.
8
Trata-se, naturalmente, dos dois volumes do Cancioneiro da Ajuda. Halle: Max Niemeyer, 1904.
9
As quinze Randglossen zum altportugiesischen Liederbuch (Glosas Marginais ao Cancioneiro
Medieval Português) foram publicadas na Zeitschrift für romanische Philologie, números XX,
XXV, XXVI, XXVII, XXVIII e XXIX, entre 1896 e 1905. (Vid. Y.F. Vieira et al., Glosas Margi-
nais ao Cancioneiro Medieval Português de Carolina Michaëlis de Vasconcelos. Coimbra, San-
tiago de Compostela, Campinas, 2004.)
10
Carolina Michaëlis refere-se à sua crítica à edição do Liederbuch des Königs Denis von Portugal
(Cancioneiro d’el rei Dom Denis), publicada na Zeitschrift für romanische Philologie, XIX (1895),
pp. 513-541 e 578-615.
11
No Epistolário de Leite de Vasconcelos, Museu Nacional de Arqueologia, consta o rascunho
dessa carta (MNA 10952 A); o texto é basicamente o mesmo, com pequenas variações de estilo e
dois períodos riscados que não foram incluídos na carta enviada.
26
12
Refere-se à resenha do número VIII da Revista Lusitana (1903-1905), publicada por Lang na
Zeitschrift für romanische Philologie, XXXIII:3 (1909) pp. 365-368.
13
José Leite publicara no mencionado número VIII da Revista Lusitana, pp. 223-225, o artigo
“Observações aos Old Portuguese Songs de H. Lang”, no qual propõe emendas a três cantigas ali
editadas. Lang com efeito critica na sua resenha especialmente os textos de Leite de Vasconce-
los, mas passa por alto as observações que este fizera ao seu artigo.
14
Trata-se do parecer favorável à candidatura de Lang a sócio da Academia Real das Ciências de
Lisboa, publicado entre os “Pareceres acerca da candidatura dos srs. drs. Hugo Schuchardt,
Henrique Lang e Julio Cornu a socios da Academia Real das Sciencias de Lisboa” na Revista
Lusitana IV (1896), pp. 280-281, assinados entre outros por Leite de Vasconcelos. Ali, a propó-
sito do Cancioneiro d’el Rei Dom Denis, diz o parecer: “O último trabalho, sobretudo, (...) mere-
ce em especial os nossos applausos, porque, sejão quaes forem as criticas miudas, susceptiveis
de se lhe fazerem, ministra, a par do texto critico, que ainda não tinhamos, das canções do nosso
rei-trovador, valiosos elementos para o conhecimento da litteratura portuguesa da Idade-média”.
Leite também não deixara de lançar uma farpazinha...
15
“No número 3 L.[eite] propõe três modificações”.
16
Entre “refutasse” e “costumando”, havia no rascunho o seguinte parágrafo riscado: “Quem é tão
melindroso como V. Exa. não deve estranhar que para o futuro eu evite o mais possível citá-lo,
pois não desejo expor-me a julgamentos que não são o que parecem”. [Vid. nota 52]
27
20
The Gloria d’Amor di Fra Rocaberti. A Catalan Vision-Poem of the 15th century. Edited, with
Introduction, Notes and Glossary by H. C. Heaton. New York: Columbia University Press, 1916.
21
(...) preussisches bürgerrecht aufgegeben, weil er nicht mehr daran denken konnte, sein leben in
seiner heimat zu beschliessen. Sein tod ist ein schwerer verlust für mich. / Eben erhalte ich ein
zeitung aus Turin mit dem berichte, dass man Farinelli zu ehren einen sammelband einiger seiner
eigenen (nicht anderer) schriften veranstalten wird. Das freut mich besonders darum, weil Farinelli
in den lezten jahren sehr unglücklich gewesen ist, und etwas schwermütig. Der verlust seines
vermögens in Oesterreich (in Gmunden bei Salzburg), seine politischen und literarischen fehden
in Italien haben ihm dazu veranlasst, sogar hier drüben anstellung zu suchen. Sehr gerne gäbe ich
Ihm meine Stelle, da ich jetzt mit pension in den ruhestand treten kann: aber meine stelle wird
wohl nicht mehr besetzt werden, oder bloss teilweise, weil die universität sparen muss, wie alle
andern. Sogar wenn ich für ihn zurückträte, bekäme er die stelle doch nicht. Die zukunft ist so
ungewiss, so unsicher, die lebenskosten so hoch, und die notwendigkeit die saläre immer und
immer zu erhöhen, so gross, dass die universitäten sich gezwungen sehen, die zahl der professuren
so viel als möglich zu vermindern. / Ehe ich schliesse, nur noch die frage, ob Sie das exemplar
von H. C. Heaton’s ausgabe von Fra Rocaberti’s Gloria d’Amor (N.Y. 1916), welches ich Ihnen
vor etwa zwei Jahren schickte, ja erhalten haben. / Mit herzlichen Grüssen in vorzüglicher
Hochachtung, / Ihre sehr ergebener, / Henry R. Lang
22
Refere-se provavelmente ao volume L’opera di un Maestro. Quindici lezioni inedite e bibliogra-
fia degli scritti a stampa. Per il cinquantesimo corso di lezioni di Arturo Farinelli. Turim: Bocca,
1920. Se assim for, esta carta deve datar de 1919, uma vez que Lang consta entre os subscritores
do volume.
29
América. De muito bom grado eu lhe daria minha posição, pois agora pos-
so jubilar-me com pensão: mas minha posição não será mais ocupada, ou
apenas parcialmente, pois a universidade precisa economizar, como todas
as outras. Mesmo se eu renunciasse em prol dele, ele não receberia o posto.
O futuro é tão incerto, tão inseguro, o custo de vida tão alto, e tão grande a
necessidade de sempre se elevarem os salários23, que as universidades se
veem obrigadas a diminuir tanto quanto possível o número de professores.
Antes que finalize, apenas uma pergunta: recebeu V. Exa. o exem-
plar da edição de H.C. Heaton de Gloria d’Amor, de Fra Rocaberti (N.Y.
1916), que lhe enviei há cerca de dois anos?
Com cordiais saudações e elevado respeito,
Seu admirador afectuoso e obrigado,
Henry R. Lang
23
Essa circunstância é confirmada por Bergin, ao descrever a situação em Yale nos anos seguintes
à Primeira Guerra: “A new generation began to question the old conservative pattern; at the same
time financial problems assumed vexing proportions. ([o Reitor] Hadley in his last years was all
but obsessed by the need to raise faculty salaries.)” Cf. Bergin, op. cit., p. 34.
24
New Haven, Conn. June 2d, 1920. / Dear Madame: / I have just read your article in the 21st.
volume of de Revista Lusitana entitled: “Introdução a lições de Filologia Portuguesa”, and write
to congratulate you not only on the excellence of the article itself, which indeed was to be expected,
but on the fact, implied in such lectures, that the University of Coimbra, and Portugal, have
young men taking sufficient interest in such subjects as Philology to attend such lectures on
them. I hope your audience is large. If not, you may take some comfort in the fact, if this be a
comfort, that in the oldest and largest universities of this country, with its more than 100,000.000
inhabitants, only about 12 students, men and women, attend a course in Anglo-Saxon or any
philological course in English, yearly, and even that unwillingly. In Romance philology, the
number of students is usually about six, and most of these abandon their candidacy for the doctor’s
degree, or fail in it, because of their unwillingness to do thorough philological work. Conversation
in Spanish and Portuguese, // especially in what is supposed to be South American Spanish and
Portuguese, is all that is really wanted now. Still, I have kept on offering courses in the older
periods of Spanish and Portuguese language and literature. / In your Introdução I notice that you
recommend Leite’s Lições de Philologia Portuguesa. I have no doubt that it is “politic” to do so,
but few will agree with the statement itself. Leite de Vasconcellos has unquestionably done good
work in the collection of dialectological data, and in the foundation of a national collection of
Lusitanian archaelogy, but as a student of Portuguese historical grammar has not so far shown
either science or conscience. I myself have long since ceased to trust his statements, and there is
much the same feeling elsewhere. Mr. J. J. Nunes has done some good work, but he is evidently
too little familiar with German to use German publications independently and with profit. / I am
reading all kinds of books and articles written in Portuguese so as to retain my command of the
30
language – what little I ever had! to some extent. It is no easy task, nor are all the books attractive.
I wish I could spend a half a year or more in Portugal to renew my interest in the country. When
I read a Portuguese novel, it still seems to me here and there as though I actually heard the people
speak. And when I go over an old Portuguese// parallelistic song, as Ai ondas, ai ondas do mar de
Vigo, Se sabedes novas do meu amigo: I remember with particular pleasure a short visit to Vigo
in 1905. During the latter part of the war, a former pupil of mine was naval attaché of our legation
at Lisbon, and sent me many interesting reports from old Lusitania. At my suggestion, he took
lessons in Portuguese, but now he allows his attainments in that subject to fall into oblivion. /But
I must close. With best wishes for your health, and for the continued enjoyment and success of
your teaching at Coimbra, I am / with best regards /Sincerely yours / Henry R. Lang
25
Lições de Philologia Portuguesa. Lisboa: 1911. (2ª. ed. Lisboa: Officinas graficas da Biblioteca
Nacional, 1926. 3ª ed., comemorativa do centenário do nascimento do autor, enriquecida com
notas do autor, prefaciada e anotada por Serafim da Silva Neto. Rio de Janeiro: Livros de Portu-
gal, 1959.)
26
Na carta original, C. M. sublinhou “politic” e “collection of dialectological data”, e sublinhou e
colocou entre parênteses “but ... conscience”.
31
mo sentimento em outras partes. O Sr. J.J. Nunes tem feito algum bom
trabalho, mas é evidentemente pouco familiarizado com o alemão para usar
com independência e com proveito as publicações alemãs.
Estou lendo todo tipo de livros e artigos em português, de forma a
reter, até certo ponto, o meu domínio da língua – o pouco que jamais tive!
Não é uma tarefa fácil, nem são todos os livros atraentes. Gostaria de poder
passar meio ano ou mais em Portugal, para renovar o meu interesse pelo
país. Quando leio um romance português, ainda me parece realmente ouvir
aqui e ali as pessoas falando. E quando leio alguma //cantiga paralelística
em português arcaico, como Ai ondas, ai ondas do mar de Vigo, Se sabedes
novas do meu amigo? lembra-me com especial prazer uma curta visita a
Vigo em 1905. Durante a última parte da guerra, um antigo aluno meu era
attaché naval da nossa legação em Lisboa e mandou-me vários relatos in-
teressantes da velha Lusitânia. Por minha sugestão, ele tomou lições de
português, porém agora deixa os seus conhecimentos nesse campo cairem
em esquecimento.
Mas, devo concluir. Com os melhores votos para a sua saúde e o
contínuo desfrute e sucesso do seu ensino em Coimbra, fico
seu admirador
muito afectuoso e obrigado
Henry R. Lang
27
Highly esteemed Madam: / I find that the last number of the Romania just arrived contains my
little article on the estribote etc. sent to that journal more than four years ago. It is a restatement
of the article in the Renier-volume, with the addition of the texts involved, and a few notes
written in great haste in compliance with a request from Jeanroy to contribute a short article to
the Romania, of which he had charge during the war, in order to fill up space. It is therefore
simply a stop-gap, put together very reluctantly, all the more so as I had no idea when it would
ever be published, if at all. I had to leave out several notes, as one on the trobadores d’Orzelhon,
which I hope to use at some future occasion. I should feel greatly indebted to you for any criticism
of my views or my treatment of the texts, especially of my note on paragogic e. I have no reprints
of my article as yet, and do not know even whether I am to have any or not, though I asked for
twenty-five, offering to pay if necessary. If I receive some, I shall of course not fail to send you
one. / Does the University of Coimbra publish any programmes of its courses, and of its regulations,
and may these be otained by purchase? / Your contribution to Gröber’s Grundriss on Portugiesische
Literatur, impresses me as one of the best treatments of such a subject as often as I consult it. It is
admirable in every respect. But I must close as one of my students // is coming to consult with me
about points in the Siete Partidas, of which he is preparing a complete lexicon. / Believe me,
with high regard, / Very sincerely yours, / Henry R. Lang.
32
Excelentíssima Senhora:
Vejo que o último número da Romania, recém-chegado, contém o
meu artiguinho sobre o estribote etc., enviado à revista há mais de quatro
anos28. É uma nova versão do artigo que saiu no volume de Renier29, com
acréscimo dos textos envolvidos e algumas poucas notas escritas às pres-
sas, aquiescendo a um pedido de Jeanroy para enviar um artigo curto à
Romania, da qual se encarregara durante a guerra, a fim de preencher espa-
ço. É, portanto, apenas algo improvisado, reunido com grande relutância,
ainda mais que eu não tinha ideia de quando seria publicado, se é que o
seria. Tive de omitir várias notas, como uma sobre os trovadores d’Orzelhon,
que espero usar em alguma ocasião futura. Ficar-lhe-ia muito agradecido
por qualquer crítica das minhas opiniões ou do meu tratamento dos textos,
especialmente da minha nota sobre o e paragógico30. Não tenho ainda sepa-
ratas do artigo, e não sei nem mesmo se vou tê-las, embora tenha solicitado
vinte e cinco, oferecendo-me para pagar, se necessário. Se receber alguma,
naturalmente não deixarei de enviar uma a V.Exa.
A Universidade de Coimbra publica programas dos seus cursos e
dos seus regulamentos, e podem eles ser comprados?
A sua contribuição ao Grundriss de Gröber31, sobre a Literatura Por-
tuguesa, impressiona-me como um dos melhores tratamentos desse assunto,
sempre que o consulto. É admirável em todos os aspectos. Mas devo con-
cluir, pois um dos meus alunos // está vindo para consultar-me sobre questões
nas Siete Partidas32, das quais está preparando um léxico completo.
Creia-me, com a maior consideração,
De Va. Exa. admirador afectuoso e obrigado,
Henry R. Lang
28
“The Spanish estribote, estrambote and Related Poetic Forms”, em Romania XIV (1918-1919),
pp. 397-421.
29
“The Original Meaning of the Metrical Terms estribot, strambotto, estribote, estrambote”, em
Scritti varii di erudizione e di critica in onore di Rodolfo Renier. Turim: Fratelli Bocca Editori,
1912, pp. 613-621.
30
Sublinhado por C.M.V.
31
“Geschichte der portugiesischen Literatur” von Carolina Michaëlis de Vasconcellos und Th. Braga,
em G. Gröber (ed.), Grundriss der romanischen Philologie. Estrasburgo, 1892-1893. Vol. IIb,
pp. 129-382.
32
Las Siete Partidas del Rey don Alfonso el Sabio. Madrid: Imprenta Real, 1807. Não conseguimos
encontrar referência a um léxico das Siete Partidas que pudesse ser de autoria de um aluno de
Lang.
33
25 de agosto de 192233
Excelentíssima Senhora Doutora,
Acabo de receber aqui, para onde me foram enviadas a partir de
New Haven, as separatas dos seus trabalhos, com cujo envio teve V.Exa. a
bondade de me considerar. Receba o meu mais cordial agradecimento não
apenas pela amabilidade, mas também pela honra que eles me trazem. Dois
deles, Uriel da Costa34 e A Intercultura de Ricardo Jorge35, eu talvez jamais
chegasse a ver, se alguma vez os viesse a conhecer pelo nome, sem a sua
gentil atenção. Não é fácil receber livros portugueses. Também a Revista
lusitana é dificilmente acessível. Tenho de lutar por todo tomo, embora o
meu livreiro aqui em Nova York, uma conceituada casa alemã, faça o me-
lhor que pode. Dá-me grande alegria saber que o seu glossario36 foi
publicado; logo após o meu retorno a New Haven, vou lê-lo cuidadosa-
mente. Espero que em breve saia a prometida gramática37. Aqui se começa,
33
Hochverehrte Frau Doctor: / Soeben erhalte ich hir, wohin sie mir von New Haven nachgeschickt
wurden, die sonderabzüge Ihrer schriften, mit deren Zusendung Sie die güte hatten mich zu bedenken.
Empfangen Sie meinen herzlichsten dank nicht nur für Ihre liebenswünschigkeit, sondern auch für
die beehrung welche diese Schriften mir bringen. Zwei davon, Uriel da Costa und Ricardo Jorge’s
A Intercultura hätte ich vielleicht nie zu sehen bekommen, wenn ürberhaupt dem namen nach
kennengelernt, ohne Ihre Gütige aufmerksamkeit. Es ist nicht leicht portugiesische bücher zu
bekommen. Auch die Revista lusitana ist schwer erreichbar. Um jeden band muss ich kämpfen
obgleich meine buchhändler hier in New York, ein bewährtes deutsches haus, ihr bester tun. Dass
Ihr glossario erschienen ist, bereitet mir grosse freude; nach meiner rückkehr nach New Haven
wurde ich es sogleich sorgfältig durchgehen. Hoffentlich wird die versprochene grammatik bald
erscheinen. Hier fängt man allmählich an etwas interesse am Portugiesischen zu nehmen, aber
mehr aus industriellen denn aus literarischen gründen, und man denkt deshalb eher aus Brasilianische.
Wenn ich das sprechen höre, so ist mir fast als ob ich Portugiesische rede überhaupt nie gehört hatte
und ich habe wenig lust mich im mündlichen ausdruck zu versuchen. / Ich bin jetzt pensioniert, und
sehe froh nicht mehr im getriebe unserer universitäten zu sein, an denen das literarische studium
mehr und mehr hintengesetzt und als etwas unnützes verschmäht wird. Nur selten finden sich jetzt
noch studenten die Lateinisch getrieben haben, vom Griechischen gar nicht zu sprechen. Unsere
ganze gesittung scheint ins rückgang begriffen zu sein; die unwissenden massen geben den ton an,
und die gebildeten sind die verschwindende und versteckende mindesheit – apparent rari nautes in
gurgite vasto3. Unsere sogennante zivilization hat die werkzeuge zu ihrer eigenen zerstörung
geschmiedet, und das nennt sich nun “fortschritt”. / Doch Sie werden sagen: Cur me querelis exanimas
tuis?4, und ich will schliessen mit nochmaligem herzlichen dank für Ihr gaben, und mit den besten
wünschen für Ihre gesundheit und schaffenskraft. / Mit bewunderung und vorzügliches hochachtung
/ Ihr ergebenster / Henry R. Lang
34
Uriel da Costa, notas relativas à sua vida e às suas obras. Coimbra: Imprensa da Universidade,
1922. (Publicado pelo) Instituto de Estudos históricos e filosóficos.
35
Ricardo Jorge. A Intercultura de Portugal e Espanha ..., com um prefácio (pp. XIII-XXIV) da
Professora D. Carolina Michaëlis de Vasconcellos. Porto: (Araujo e Sobrinhos, 1921).
36
O “Glossário do Cancioneiro da Ajuda” saiu na Revista Lusitana XXIII (1920), pp. 1-95.
37
Refere-se à declaração de C.M., na “Adverténcia Preliminar” ao volume I do CA, de que contava
publicar um terceiro volume, contendo, além do Glossário, uma gramática e investigações sobre
as poesias (conteúdo e forma, metrificação e linguagem). Cf. CA, vol. I, p. VII. Como se sabe,
apenas o Glossário foi publicado.
34
38
Lang aposentou-se na Universidade de Yale em 1922, tornando-se em seguida “Professor
Emeritus”. Cf. T. G. Bergin, “Lang at Yale: Fact and Fable”, op. cit., p. 28, e J.D.M. Ford,
“In Memoriam Henry R. Lang (1853-1934)”, op. cit., p. 70.
39
Virgílio, Eneida, I. 118: “Veem-se poucos que sobrenadam no vasto pélago”.
40
Horácio, Ode 2, XVII, Ad Maecenatem. “Por que me afliges com os teus lamentos?”
41
Estas cartas encontram-se no Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa, e estão arroladas no
Epistolário de José Leite de Vasconcelos. Suplemento no. 1, O Arqueólogo Português. Lisboa,
1999, no item 1700, nº. 10937 a 10952 + A. A transcrição reproduz a forma e a grafia do original.
42
Leite de Vasconcelos reproduziu, na Revista Lusitana I:4, pp. 378-9, a parte desta carta que se
refere aos elementos ingleses apontados por Henry Lang.
35
bordar = hospedar
bordo (bordar) = hospede
bins = feijões
chape (shop) = loja. Ouve-se já nos Açores por influencia dos ingleses.
carpete = tapete
chulipe = dormindo; p. ex. o bêbê (es)tá chulipe.
espalhagrace (sparrow-grass) = asparagus.
estima = vapor; navio; estimas = steamers.
frio = constipação; ter um frio = estar constipado;
tomar um frio = constipar-se.
gairete (garret) = airiques
misa = meeting (reunião)
nevere minde = não importa
dar notas (give notice) = dar parte
offas (office) = escritório
olhar = parecer: Diz-se, p. ex.: Esta gravata olha bem = this neck-tie looks
well.
papel = jornal
salreis (celery) = aipo
V. Exa. terá já observado que nos casos taes como os de frio, dar
notas, olhar ha o que Hermann Paul, Principien der Sprachgeschichte, cha-
ma alteração “der innern Sprachform”. Da-se tambem o caso, embora seja
muito mais raro, de o ingles ser alterado na boca dos açorianos por influen-
36
cia portuguesa. Assim, p. ex., ouví a uma velha dizer: I had cabbages (cou-
ves) for dinner.
Desejando a Revista lusitana uma longa vida cheia de pros-
peridade, tenho a honra de assinar-me
De V. Exa.
muito respeitoso servidor
Henry R. Lang
New Bedford, Mass. U.S.A.
aos 22 de novembro 1888
43
“Tradições populares açorianas” foi com efeito publicado na RL II (1890-2) pp. 46-55.
37
bro do anno passado, nem de responder as repetidas perguntas que lhes fui
dirigindo acerca do mesmo assumpto. Nem uma palavra! O que estes se-
nhores tencionam fazer? É o que não sei dizer! Observando um silencio
rhetorico, preferem, ao que parece, ficar-se com a revista mais o dinheiro!
Nunca na minha vida tenho sido tratado de similhante maneira.
Penhora-me muito e muito a amabilidade com que V. Exa. me
offerece o uso d’um gabinete na Bibliotheca Nacional. Seria talvez possivel
usar eu, durante a minha estada em Lisboa, dos Cancioneiros da Vaticana,
Colocci-Brancuti e da Ajuda (edição de C. Michaëlis44)? Interessa-me sa-
ber isso porque estou trabalhando n’uma edição das poesias de D. Dinis45,
edição que me importa terminar antes de regressar para os Estados Unidos
da America em septembro. Desejava muito que houvesse em Lisboa quem
me ensinasse a phonetica, de maneira que eu pudesse passar lá a maior
parte do tempo que ainda me resta em Europa. O snr. R. Gonçalves Vianna,
que é tão excellente glottologo e phoneticista, não ensina a phonetica em
Lisboa? Espero que V. Exa. me disculpará se lhe rogo o obsequio de me dar
algumas informações sobre estas cousas que muito me interessam.
Desejando que V. Exa. fique exempto da influenza, de que são raras
aqui as familias não affligidas,
tenho a honra de me subscrever
de V. Exa.
mto. atto. vendor.
Henry R. Lang.
44
Lang julgava que já tivesse sido publicada a edição do CA, pois vinha anunciada em vários
catálogos. Vid. abaixo bilhete-postal MNA 10941, de 7.2.1890.
45
Lang optou, na tese e na publicação de 1894, pela grafia “Denis”, que C. Michaëlis comentou na
recensão ao livro. Cf. “Henry Lang: Das Liederbuch des Königs Denis von Portugal”, op. cit.,
p. 578, nota 1.
38
39
40
saber o que se publica, d’anno para anno, n’outros paizes, fóra da peninsula
hispanica!
Não sei se já lhe disse que no dezembro passado fui elegido no
conselho d’inspecção do ensino da philologia romanica na Universidade
de Harvard, eleição que por aqui se considera como bastante honrosa. Terei
que examinar o estudo do referido ensino e fazer um relatorio ao conselho
administrativo da universidade. Tratarei de introduzir no curso de linguas
romanicas o estudo do portugues, que agora não é ensinado, que eu saiba,
senão na nossa instituição (The Swain Free School).
Recebi, ha pouco, uma amabilissima carta do nosso amigo o Snr.
Adolpho Coelho que tambem me enviou algums escritos seus. Vou respon-
der em breve.
No numero XV 3-4 da Zeitschrift de Gröber (que vae sahir á luz
em Julho d’este anno) vou publicar algumas contribuições para a crítica e a
restituição do texto da Demanda do Santo Graall (edição do ms. de Vienna
por Reinhardstöttner).
Em breve vamos ter aqui a representação, pelo elenco social lusi-
tano, d’uma comedia portugueza, intitulada “O padre”, e estou preparando
uma leitura para os nossos colonos açorianos em que tratarei de lhes inspi-
rar e fortalecer o amor e o culto da sua bella lingua que muitos começam a
desprezar e tratam de esquecer. // Basta porem.
Com muitas saudades para os nossos amigos, e para “o patrio Tejo”,
peço-lhe me creia sempre
o seu collega e amo. dedicado
Henry R. Lang
41
46
Publicado em Nova York: Charles Scribner’s Sons; London: Edward Arnold, 1902.
42
ciona na obra do poeta ingles Milton47. Não tendo até hoje recebido respos-
ta á minha carta, espero que o meu amigo me perdoe a repetição das
perguntas que n’ella lhe dirigi: 1) Qual é a primeira vez que Namancos
apparece nos mapas e qual a data do mappa de Galicia de Ojea? D’onde se
publicou este mappa antes de sua incorporação no mappa de Ortelius, e
qual é a data do primeiro mappa de Ortelius que continha o de Ojea?
2) qual é a mais antiga menção de Namancos na historia? Existem todavia
ruinas do lugar, e figura este talvez na historia militar? 3) Qual a posição de
Namancos na historia ecclesiastica? Haverá todavia igrejas ou outros
edificios ecclesiasticos? 4) Quaes são, se as ha, as publicações accessiveis
que contenham informações sobre Namancos? Madoz, Dicc. geog. VIII,
101 (s.v. Finisterra) diz que: “La iglesia parr. (Sta. Maria) es única,
y pertenece al arciprestazco de Namancos”. Sei que o lugar se encontra em
varios mappas antigos (e.g. Mercator 1613, Blaew 1635 etc., Jansson
1657-8, DeWit 1746 e outros). A historia de Galicia por Murguia, que te-
nho tratado de obter repetidas vezes, não é accesivel, etc. Muito lhe
agradecerei portanto qualquer informação sobre o assumpto que tenha a
bondade de me procurar.//
Envio-lhe com este correio o programma de estudos universitarios
para o anno que vem e em breve espero poder enviar-lhe o programma da
escola para o serviço consular que estamos estabelecendo aqui e no qual o
ensino da lingua portuguesa ocupará um posto permanente.
No decurso do estio o meu amigo verá em Lisboa um jovem erudi-
to americano, o Dr. Baur, que deseja fazer estudos de archeologia e que lhe
apresentará lembranças da minha parte.
Como está o nosso amigo Snr. Gonçalves Vianna? Já ha muito
tempo, creio que desde o estio passado, que não tenho noticias suas. Espe-
ro que esté melhor e que haja ja sahido o livro que trazia entre mãos.
Sempre ás suas ordens,
H. R. Lang
47
John Milton, Lycidas: “Where the great Vision of the guarded Mount / Looks towards Namancos
and Bayona’s hold”. Paradise Lost. Chiswick: Whittingham, 1829, p. 148.
43
correcções que o meu amigo fez no texto das Albas. Não se pode dudar que
auelo48 represente a voz aumento49 no sentido que o Snor Leite propõe ...
Em quanto a Namancos, vou escrever ao Snr. Andrés Martinez Salazar a
Coruña... O Snr. Leite tem demasiada bondade em felicitar-me pelo meu
portugues. Não tendo pessoa com que falar portugues aqui, torna-se-me
dificillimo de mais a mais expressar-me neste idioma, tanto mais que até
agora não tenho tido nem siquer a opportunidade de ensinar a lingua mo-
derna. Enviar-lhe-ei com este correio o Bulletin universitario annunciando
a escola para o serviço consular.
Esperando que o meu amigo goze de uma boa saude, peço-lhe me
creia
Sempre ás suas ordens
H.R. Lang
New Haven, Conn. 7 de Junho de 1906.
48
Sic. Leite grifou a palavra e corrigiu-a para “aueto”.
49
Grifada, provavelmente por Leite.
44
45
50
Escrita em inglês: New Haven, Conn. November 1st. 1926./ Mr. José Leite de Vasconcellos/
Lisbon. / Dear Mr. Leite de Vasconcellos: / With reference to your postal card just received,
which is a source of great surprise and chagrin to me, let me say at once that I have never received
from any bookseller or any other person in Portugal the 23d. and 24th. volumes of the Revista
lusitana nor the 3d. edition of the Textos arcaicos, nor yet any announcement or bill for these
volumes. Nor have I ever received any reply from you to my letter of last March. I have therefore
had no reason to think that any such books were sent to me. I should have been glad to get them
and to pay for them at once, as I do with all books and other publications received from abroad.
If the books in question were ever sent to me, it must have been with an incorrect or incomplete
address, as so often happens with Peninsular booksellers. It is quite as probable, however, that
they were never sent. Neither the University Library of Yale nor that of Harvard has the last
numbers of the Revista lusitana, // though both institutions have long been subscribers for this
Review. Neither the Lusitania nor the Anais de Arqueologia, though ordered repeatedly, have
ever been received nor have the orders been favored with any sort of notice. That is the kind of
booksellers for which Portugal is known. It is their fault entirely, and nobody else’s, if they have
no business abroad./ You are no doubt justified in saying : “a mim falta-me tempo para me ocupar
dos assuntos destes”, but you are not the only one to be otherwise occupied, and there was a time
when you, like others, said that you would be glad to assist in obtaining books from Portugal.
Evidently those are “tempos que já lá vão”./ Trusting that you are well, and with best regards to
our colleagues Drs. Nunes and Rodrigues, I remain/ Sincerely yours / H.R. Lang / P.S. I should
have been very glad to send you a copy of my study on the Poem of the Cid if you had found time
for a few words in reply to my letter of last Spring.
46
51
Escrita em inglês: New Haven, Conn. Dec. 3d. 1926 / Dear Mr. Leite de Vasconcellos: / Let me
thank you sincerely for your postal card of the 21st. of last month and its explanations. The only
reason why I appealed to you for those books is that my efforts to get them from Lisbon booksellers
have, as usual, been in vain. When I was in Lisbon, I obtained the repeated promise of a bookseller
on the Rua do Alecrim to furnish me certain books of which I then gave the titles. I told them how
I would pay, I gave them my business card and exact address, and all seemed satisfactory. But –
nothing has been heard of them since. They are all content, it seems, “comendo sardinhas e olhando
para o ceu”. I understand perfectly well that you are very busy and have demands upon your time
from all sides. So have many others, and so have I. I am asked, for instance, just now, to find a
purchaser, or the money for the purchase of the private library of the late Dr. Bonilla y San Martin
of Madrid, and the other day I was asked // by some of our Portuguese fellow-citizens here to
intercede in behalf of a Portuguese from Braga who is in jail. My former student and good friend
Dr. Joseph Dunn of the Catholic University of Washington wishes me to read the proof of his
grammar of the Portuguese language, some 500 pages for him, and so it goes on. / Yes, I should like
to return to Lisbon, but I do not see when I can, as my wife is very ill. I feel, however, very much
like that Italian opera singer who bade adieu to a Lisbon audience with the verses: / Em vista de
tanto agrado / Vou aprender português, / Para saber cantar o fado / Quando vier outra vez. / I am
sorry I can’t promise a contribution to the Revista, because I have promised to much to other
reviews, and to memorial volumes. I hope to publish in the near future an article on points of
contact or correspondences of thought beween Old Portuguese and Provençal troubadours, I have
many notes on the subject. / I shall send you a copy of my contr. on the Cid-text after Christmas. –
I am going to ask our Portuguese consul, Dr. Rendeiro, to get vols. XXIII, XXIV, XXV of the
Revista lusitana for me. / With best wishes for the New Year / Sincerely Yours, H.R. Lang.
47
certos livros, cujos títulos lhes dei então. Disse-lhes como iria pagar, dei-lhes
o meu cartão de visita e endereço completo, e tudo parecia satisfatório. Mas
– nenhuma palavra deles desde então. Estão todos contentes, assim parece,
“comendo sardinhas e olhando para o céu”. Entendo perfeitamente que
V. Exa. esteja muito ocupado e que tem solicitações ao seu tempo de todos os
lados. Assim também o têm muitos outros; assim também eu. Pedem-me
justamente agora, por exemplo, para encontrar um comprador, ou o dinheiro
para a compra, da biblioteca particular do falecido Dr. Bonilla y San Martin
de Madrid e no outro dia fui solicitado // pelos nossos colegas cidadãos por-
tugueses a interceder a favor de um português de Braga que está na prisão.
Meu ex-aluno e bom amigo, Dr. Joseph Dunn, da Universidade Católica de
Washington, quer que eu lhe leia as provas da sua gramática da língua portu-
guesa, mais ou menos 500 páginas, e assim por diante.
Sim, eu gostaria de voltar a Lisboa, mas não sei quando poderei,
pois a minha mulher está bastante doente. Sinto-me, porém, como aquele
cantor de ópera italiano que se despediu de uma audiência lisboeta com os
versos:
Em vista de tanto agrado
Vou aprender português,
Para saber cantar o fado
Quando vier outra vez.
Sinto não poder prometer uma contribuição à Revista lusitana,
porque prometi muito a outras revistas e volumes in memoriam. Espero
publicar no futuro próximo um artigo sobre pontos de contacto ou corres-
pondências de pensamento entre os antigos trovadores portugueses e
provençais; tenho muitas notas sobre o assunto.
Enviar-lhe-ei uma cópia da minha contribuição acerca do texto do
Cid depois do Natal. – Vou pedir ao nosso cônsul português, Dr. Rendeiro,
que me consiga os vols. XXIII, XXIV, XXV da Revista lusitana.
Com os melhores votos para o Ano Novo,
Sempre às suas ordens,
H. R. Lang
52
Junto a esse bilhete postal, estão anexadas, sob o número 10952 A, duas folhas contendo o rascu-
nho da carta enviada por Leite de Vasconcelos a Henry Lang em 25.1.1910, aqui reproduzida em
A, nº. 3.
48
* [Na margem vertical direita está]: Gente que prefere a reputação à qualidade. É o triumpho da
notoriedade.
49
Halle A. S.
Max Niemeyer
1894
56
I NTRODUÇÃO
I. MODELOS* E EDIÇÕES
O texto de nossa coletânea baseia-se nas seguintes edições diplo-
máticas do Cancioneiro da Vaticana (ms. nº. 4803 da Biblioteca Vaticana)
e do Cancioneiro Colocci-Brancuti, publicadas por E. Monaci:
1. Il canzoniere portoghese della biblioteca vaticana, messo a
stampa da Ernesto Monaci. Con una prefazione, con facsimili e con altre
illustrazioni. Halle a S. Max Niemeyer editore. 1875 (= vol. I das
Communicazioni dalle biblioteche di Roma e da altre biblioteche, per lo
studio delle lingue e delle letterature romanze, a cura di Ernesto Monaci).
Este Cancioneiro, onde se acha a maior parte das cantigas de nossa coletâ-
nea, nº. I – CXXIII (= V. 80 – 208, pela contagem de Monaci), está contido
no códice 4803 da Biblioteca Vaticana, cuja redação, de acordo com Monaci,
prefazione, p. VII, é do final do século XV ou início do século XVI e deriva
de duas mãos, das quais a primeira copiou os poemas e anotações a eles
subsequentes, e a outra, a maioria dos nomes dos autores, as numerações e
várias glosas marginais. A edição diplomática de Monaci é enriquecida de
um prefácio valioso, no qual se dá informação sobre o próprio códice, suas
particularidades, a bibliografia e o processo seguido na impressão, com um
índice dos numerosos erros ortográficos, das abreviaturas e, finalmente, a
indicação das lições, notas críticas etc.
2. Il canzoniere portoghese Colocci-Brancuti, pubblicato nelle parti
che completano il codice vaticano 4803 da Enrico Molteni. Halle a. S. Max
Niemeyer editore. 1880 (= vol. II das Communicazioni etc.). Este códice,
que se encontra em poder do conde Brancuti em Roma, é um grande volu-
* Aqui, como em diversas passagens, o termo corresponde a vorlage. Considerando que Lang
utiliza este último vocábulo para se referir tanto aos textos manuscritos como às edições diplo-
máticas que serviram de base a uma edição crítica, sua ou de outrem, optamos pela tradução
“modelo”, em vez de outras possíveis (“original”, “manuscrito”, “antecedente”), por julgarmos
que daria conta dos usos apontados, sem criar desnecessária ambiguidade. (N.E.)
57
58
59
1
Il trattato di poetica portoghese, esistente nel canzoniere Colocci-Brancuti in Miscellanea di
Filol. e Ling., pp. 417-423.
60
2
Que a referida cantiga de vilão V. 1043 não deve ser considerada cantiga popular, como quer
Monaci, Canz. Vat., p. 439, ensina-nos precisamente o tratado métrico (CB. p. 3, 3. 50-51), em
que se diz: “Outrossy outras cantigas fazen os Trobadores...A que chaman de vilaas”. Cf. Jeanroy,
Origines, pp. 329-330.
61
3
Cf. Wolf, Studien, pp. 210-211. [Como C.M. de Vasconcelos (Grundriss II, p. 196) observou, a
forma espanhola mansobre provavelmente nada mais é do que uma leitura equivocada de mordobre.
(C. e A.)]
62
4
Bartsch, Jahrb. 2, 287.
5
Origine et établissement des jeux floraux, par Ch. Chabaneau. Toulouse: Privat, 1885.
6
Cf. Diez, KuHp., pp. 51-4; C. Michaëlis de V., Sá de Miranda, p. CXVIII.
7
CB. eles.
8
As únicas cantigas deste tipo são T. e C. 279; V. 30-31, 40; CB. 7, 314, 317.
63
9
Cf. P. Meyer, Romania XV, p. 461.
10
Obras, p. 12. “Acuérdome, Señor muy manifico, seyendo yo em edat non provecta, mas assaz
pequeño moço en poder de mi abuela doña Mençia de Çisneros, entre otros libros aver visto un
grand volumen de cantigas, serranas é deçires portugueses é gallegos, de los quales la mayor
parte eran del rey don Donis de Portugal (creo, Señor, fué vuestro bisabuelo); cuyas obras aquellos
que las leían, loavan de invençiones sotiles, é de graçiosas é dulces palavras”.
64
65
11
Vid., para esta passagem, Wolf, Studien, p. 151.
12
Ibid.
66
13
De outro tipo é a cantiga aqui numerada XCVII, em Diez, KuHp p. 44.
14
Cf. C. Michaëlis de V., p. CVIII, CXIII e 864-865.
15
Cf. Wolf, Studien, pp. 82, 190, 696-697.
16
A esses pertencem, além do próprio Afonso X, Pero da Ponte, Gil Perez Conde, D. Gomez Garcia,
abade de Valladolid, Pero Garcia Burgalez e Pedramigo de Sevilha.
17
Cf. Wolf, Studien, pp. 210-211.
18
Cf. C. Michaëlis de V., Revista lusit. II 221: “São quatro coplas soltas, ligadas unicamente pelo
artifício do leixaprem, o qual é tão frequente nos desafios do nosso povo que a sua origem popu-
lar me parece incontestavel”. – A propósito, esse tipo de ligação estrófica é conhecido da antiga
poesia dos troubadours (Diez, PT. p. 99) e da Flors del gay saber (Wolf, Studien, p. 261).
67
19
Cf. os trechos acima citados (nota 10) e Obras, p. 13: En este reyno de Castilla dixo bien el rey
don Alfonsso el sabio, é yo vi quien vió deçires suyos.
20
Cf. G. Paris, Journal des Savants, 1889, p. 542.
68
21
Dozy, Recherches I, pp. 129-132.
22
Zurita, Anales de la corona de Aragon, l. I, c. 2.
23
Dozy, ibid., p. 109.
24
Helfferich, p. 38.
25
V. 278, cf. Puimaigre, La cour litt. I, p. 35.
69
26
Hist. litt. XXI, 293.
27
Cf. Schack, Geschichte der dram. Kunst in Spanien I, p. 110.
28
Schack, ibid.; Rivad[eneyra]., 57, pp. 137-8.
29
V. 336, 858, 889.
30
Durán, Rom. gen.2 I, p. LXIII ss.; Amador de los Rios, Jahrb. III, pp. 289-290.
31
Helfferich, p. 42.
32
Ibid., p. 43; PMH. LC. I, pp. 350-1.
33
Mon. lusit. III, p. 237.
34
PMH. LC. I, pp. 447-450.
35
Helfferich, p. 67.
36
Mon. lusit. III, p. 236.
70
37
PMH. LC., pp. 450-452; Script. I, p. 380.
38
Hercul. II, pp. 88-89.
39
Ibid., pp.89-90.
40
Ibid., pp. 92-95.
41
Hercul. II, p. 11.
42
Assim, por exemplo, em 1158 Afonso Henriques cedeu Atouguia em feudo ao já mencionado
Guilherme de Cornibus. Ainda no século seguinte, um sucessor desse vassalo se dizia alcaide
pela graça de Deus. Hercul. IV, p. 450.
43
Isso se depreende, por exemplo, de uma carta de doação do rei Afonso Henriques, em que se recor-
dam expressamente as leges Francorum e seu vigor legislativo. Vid. Helfferich, p. 43, 48, 55.
44
Hercul. I, p. 104.
45
Lafuente, Hist. gen. de España V, pp. 308-9.
71
2. OS TROVADORES NA ESPANHA
Na virada do século XI, a lírica limosina chegara à plena floração.
Pode-se supor, por isso, que já com Henrique de Borgonha e os cavaleiros
que o acompanharam na luta contra os mouros, cantores do sul da França
deslocaram-se através dos Pirineus e executaram49 suas cantigas nas es-
plêndidas festas, torneios e outros jogos cavaleirescos, dos quais
encontramos frequentes referências a partir de 110750. Porém, só a partir do
segundo quartel do século XII temos notícias certas sobre a permanência
de poetas provençais na Espanha. A cantiga de Marcabrun Emperaire per
vostre pretz deve ter sido composta antes de 1135, pois nela Afonso VII de
Leão51 ainda é tratado como rei. Um outro poema, Pax in nomine Domini,
parece ter surgido não muito tempo após 1137, sem dúvida na Espanha52, e
da mesma forma Emperaire per mi mezeis, entre 1137 e 1147, na corte de
Afonso VII de Leão53. Pelo fato de Marcabrun, na última cantiga mencio-
nada, conclamar os cavaleiros a derramarem54 seu sangue também por
46
Hercul. I, pp. 338-348, 516-525.
47
Cf. Helfferich, p. 55.
48
Isso é indicado na circunstância, entre outras, de que Portugal é o único país de língua românica
em que pôde penetrar a substituição, ordenada pelo papa Silvestre, dos nomes pagãos da semana
por feria, como por exemplo lunes (Vat. 1132, 5) por segunda feira. Cf. Coelho, Questões,
p. 141.
49
Sobre o surgimento de jograis e jogralesas na Catalunha no século XII, vid. Milá y Font., Trob.,
pp. 257-8; Wolf, Proben, pp. 35-6.
50
Cf. Schack, ibid. I, p.110.
51
Não Afonso VIII, como está em P. Meyer, Rom. VI, p. 123 e 129.
52
Cf. P. Meyer, ibid., pp. 123-4.
53
Ibid., p. 124.
54
Choix IV, p. 120: “Ab lavador de Portugal E del rei navar atretal Ab sol que Barselona i se vir,
Ves Toleta l’emperial Segur poirem cridar reial E paiana gen desconfir”.
72
55
Rom. VI, p. 123: En Castella et en Portugal Non trametrai autras salutz Mas Dieus vos sal.
56
Milá y Font., pp. 135-152.
57
Ibid., pp. 116-133.
58
Ibid., pp. 153-4.
59
Jeanroy, De Nostrat., p. 10.
60
Hercul, I, p. 454.
73
tempo antes do início da primitiva poesia culta, uma lírica popular enraizada
na tradição autóctone, cujo desenvolvimento pode ter sido multiplamente
estimulado pelos peregrinos que afluíam em massa a Santiago. A esta tradi-
ção popular anterior dever-se-ia portanto atribuir a existência de alguns
traços arcaicos na lírica palaciana portuguesa, como por exemplo a pura
forma monológica das albas61, ao lado de formas artísticas desenvolvidas
mais tarde, de preferência a imputá-la a uma consciente e muito tardia imi-
tação pelos poetas, como o quer Jeanroy em sua tão erudita quanto engenhosa
obra sobre a origem da lírica francesa na Idade Média62.
Quando a poesia dos trovadores provençais, no decorrer do século
XII, se tornou conhecida e estimulou a imitação também na parte ocidental
da Península, sob diversos aspectos desnacionalizada pelo domínio e pela
cultura estrangeiros, somente o florescimento dessa lírica popular galega e
o consequente desenvolvimento precoce do dialeto galego para a expres-
são lírica possibilitaram que os poetas criassem suas cantigas não no idioma
provençal, como na Catalunha e no norte da Itália, mas em seu próprio
idioma, o galego-português. Além disso, apenas assim se esclarece o fato,
muitas vezes discutido e importante para a história da literatura espanhola,
de que também os poetas castelhanos dos séculos XIII e XIV que se ensai-
aram na lírica culta, inclusive o trovador genovês Bonifaci Calvo, então na
corte de Afonso, o Sábio, se servissem do galego-português, enquanto a
poesia épica de Castela, florescente no início do século XIII, empregava o
dialeto castelhano e o leonês, e Afonso X, que escreveu suas lendas marianas
e cantigas de amor em dialeto galego63, cultivava o castelhano na sua prosa.
61
V. 242, 771, 772, 782.
62
Jeanroy, Origines, p. 338: “Une imitation réfléchie et assez tardive de thèmes qui avaient continué
jusque-là à vivre en France”.
63
O manuscrito CB (nº. 363), contudo, transmitiu-nos uma estrofe sua em língua castelhana e está
igualmente em castelhano a cantiga defeituosamente conservada V. 209, de Afonso XI –
Cf., para o mencionado acima, Wolf, Studien, pp. 82-3 e Milá y Font., pp. 493-4.
64
Entre outros, não nos foi possível, apesar de repetidas tentativas, obter o trabalho de Braga sobre
os Trovadores galecio-portuguezes. A introdução de Braga à sua edição do Canc. Vat. infeliz-
mente não é confiável.
74
A mais antiga cantiga datável em estilo culto que nos foi transmi-
tida (V. 937), um sirventês sobre Sancho VI de Navarra, parece ter sido
composta um pouco depois de 121465. Como sabemos, porém, que seu autor,
Joam Soarez de Pavha, nasceu não muito depois da batalha de Ourique
(1139), portanto à volta de 114066; como, além disso, ele não pode ter devi-
do sua fama de trobador67 à única cantiga que nos foi transmitida e composta
em sua velhice; e como uma poesia de forma alguma começa somente com
o mais antigo documento que chegou até nós, então podemos muito bem
situar a origem da lírica galego-portuguesa ainda no último quartel do sé-
culo XII, portanto após 1175. A Joam Soarez de Pavha segue Don Gil
Sanches, falecido em 1236, filho natural de Sancho I e irmão de Rodrigo
Sanches, morto em 1245 na conhecida lide do Porto68. Dele possuímos
uma cantiga de amor, CB. 22, marcada por tom animado e realista. Nos
reinados de Afonso II (1211 – 1223)69 e Sancho II (1223 a 1245), já encon-
tramos uma grande quantidade de poetas, dos quais alguns ainda podem
remontar à época de Sancho I. Ali temos Vaasco Gil70, Abril Perez († 1245)71,
por diversas vezes mordomo-mor no tempo de Sancho II, de quem nos foi
transmitido, em V. 663, um jocs enamoratz com Bernaldo de Bonaval; o
65
Cf. Lollis, p. 37.
66
PMH. Script. I 336: “E esta D. Orraca Meendez ..., quando soube que seu marido fora morto na
batalha que ellrey D. Affonso o primeyro rey de Portugal, ouue com os mouros no campo
d’Ourique, nom leixou porem de casar com D. Soeiro Mouro. Este D. Soeiro Mouro ... fez em
ella Johan Soarez o trobador”. Cf. ibid., p. 297: “E dona Maria Annes, neta de D. Soeiro Meendez
o gordo de gaamça, foi casada com Joam Soarez de Panha o trobador”. – [Como C. M. de
Vasconcelos (Grundriss II, 187, nº. 4) observa, deve-se ler Pavha, i. e., Pávia, em vez de Joham
Soares de Panha. Quando porém a ilustre romanista afirma que não se lê nunca Panha nem Pauha,
está totalmente equivocada. Pauha era, como também diz o Prof. Coelho, uma grafia comum para
Pavia, e encontra-se por exemplo em PMH. Scrip. I, 201, 297, 371. Compare-se V. 17, 16 ouuha
para oùvi a; 370, 11 seruha para sérvia etc.; a forma errônea Panha ocorre, por exemplo, em PMH.
Script. 297 e Mon. Lusit. IV, 336 d, onde se lê: Payva ou Panha (da mesma forma no Índice), e
onde, em outra passagem, se declaram ambas as formas como de igual uso. (C. e A.)]
67
Cf. ibid.
68
Mon. lusit. IV, p. 63; Hercul., II, p. 378.
69
Em consequência da política egoísta de Afonso II, seus irmãos D. Pedro e D. Fernando e também
vários magnatas do reino abrigaram-se em cortes estrangeiras. D. Pedro e Gonçalo Mendes de
Sousa, chefe da mais poderosa família de Portugal naquele tempo, refugiaram-se, em 1211, na
corte de Afonso IX de Leão, de onde D. Pedro, por volta de 1230, foi para a corte de Aragão
(Hercul., II, p. 365). No ano de 1217, Martim Sanches, filho natural de Sancho I, entra como
rico-homem a serviço do rei de Leão (Hercul., ibid., p. 215). Aqui, esses portugueses devem ter-
se encontrado com trovadores provençais. Gonçalo Mendes regressou a Portugal em 1219 (Hercul,
ibid., p. 141, 153-4). Do seu irmão D. Garcia Mendes (Hercul, ibid., pp. 212-6) procede a cantiga
CB. 347 [sic, por 346], em que se faz referência à casa ancestral da família Sousa. – D. Fernando
fugiu para sua tia, a Condessa Matilde (Teresa) de Flandres e casou-se com Joana de Flandres,
filha de Balduíno IX. (Hercul., ibid., pp. 142-3).
70
Mon. lusit. IV, p. 335; Hercul. II, p. 342, 473.
71
Hercul. II, p. 264, 275, 370.
75
72
Cf. V. 1086, 1175 e Lollis, p. 41. A leitura de Braga da rubrica de V. 653, pela qual B. de B. seria
denominado o primeiro trovador, não é segura.
73
Este tinha recebido, ainda antes de 1230, o condado de Trastâmara de Martim Sanches, o rico-
homem do rei de Leão (Afonso IX). Mon. Lusit. IV, p. 149.
74
Mon. Lusit. IV, pp. 289-290. Porém, ele pertenceu especialrmente à corte de Afonso III (vid. ibid.,
p. 352) e alcançou ainda a época do rei Denis (PMH. Script., I, p. 358).
75
PMH. Script I, p. 170; Mon. lusit. IV, p. 430.
76
CM. 316, 3-4: “En aquesta vila de Alanquer ouue Un crerigo trobador Que sas cantigas fazia
D’escarno mais ca d’amor .... Et demais, sen tod’ aquesto, Mui privad’ era del rei Don Sancho en
aquel tempo”.
77
Cf. V. 1117, 1170, 1179, 1184. Segundo Lollis (p. 59), ele ainda vivia em 1269. [A suposição de que
Sueir’Eanes ainda vivia em 1269 é injustificada, pois como observa C. M. de Vasconcelos (Grundriss
II, p. 194, nº. 1), nem todas as cantigas de Ultramar se referem a essa data. Pelo mesmo motivo,
deve retificar-se a nota 87, referente a Martim Soares. (C. e A.)]
78
Um irmão de D. Gonçalo (Mon. lusit. IV, p. 351). Ele aparece como testemunha em um documento
de 1239 (Hercul., II, p. 472). [O trovador, chamado aqui e na p. 81 Joam Garcia, é talvez (com
exceção do autor de V. 431-2, que traz a alcunha sobrinho), de acordo com V. 354, 358, 1022, 1024,
o mesmo que D. Joham de Guylhade. Cf. C. M. de Vasconcelos, Grundriss II, p. 159 e 192, nº. 1.
(C. e A.)]
79
Affonso Gomez, V. 470, caçoa de sua idade avançada.
80
Sua cantiga de censura (V. 471) à devassidão de sua época coaduna-se muito bem com as condições
anárquicas de Portugal nos últimos anos do reinado de Sancho II. Cf. Hercul, II, pp. 333-4 e
474-8.
81
Em V. 68, Afonso X declara desejar vingar o poeta Affons’ Eanes de Cotom, morto há muito tempo,
pelo furto literário que Pero da Ponte teria cometido contra ele. – V. 573 é um planh de Pero da
Ponte por Beatriz da Suábia († 1236), e em V. 574 esse poeta refere-se à morte de Fernando e à
ascensão ao trono de Afonso X (1252). Cf. Lollis, pp. 41-43. Se D. Garcia Martins, que compõe
com Pero da Ponte V. 1186, é o mesmo comendador de Leça vivendo em tempo de Afonso III
(Mon. lusit. IV, pp. 428-9), então Pero da Ponte deveria estar poeticamente ativo ainda após 1252.
76
confirmado por seu filho Afonso X82, bem como por uma passagem do
provençal Elias Cairel83, se Schultz (GZ. VII, p. 210) a relaciona correta-
mente a ele. Em contrapartida, como se sabe, Sordel, que deve ter
permanecido em sua corte entre 1237 e 1241 (cf. Schultz, ibid., 207-210),
manifesta-se com bastante amargura acerca dele em sua famosa cantiga
sobre Blacatz84. – Finalmente, pertencem ainda à época de Sancho II Stevam
Reymondo85 e o expressamente exaltado como melhor trobador Martim
Soares86, que também alcança ainda o período seguinte87.
Já nesse período, que compreende a primeira metade do século
XIII, encontramos cultivados todos os principais gêneros líricos, a cantiga
de amor propriamente dita, as variadas formas da cantiga d’amigo, o poe-
ma de escárnio e de maldizer, a tenção, a cantiga de louvor e o pranto.
Porém, tratamento muito mais fervoroso recebe a poesia portu-
guesa durante o reinado de Afonso III (1247-1279), irmão e sucessor de
Sancho.
Mesmo que Afonso não tenha ido à França já no ano de 1229,
quando criança, por ocasião do casamento de sua irmã Leonora com
Waldemar da Dinamarca, mas apenas em 1238, ano em que se casou com
Matilde, condessa de Bolonha88, com certeza uma permanência de sete anos
na esplêndida corte de sua tia, a rainha-mãe Blanca de Castela, foi mais que
suficiente para dar ao seu espírito e às suas tendências uma direção decidi-
damente francesa. O contato com a vida intelectual e social dos círculos
cortesãos franceses deve ter tido poderosa influência também sobre os
82
Memorias de San Fernando. Madrid 1800. Fol. p. 220, do Setenario (citado apud Wolf, Studien,
p. 188): “Pagábase de omes de corte que sabian bien de trobar et cantar, et de juglares que sopiesen
bien tocar estrumentos ...”
83
MG. nº. 186: “Al rey prezan de Leon suy uiatz Quar ioys e chan e cortezial platz Ni anc no fetz
contra valor trauersa”.
84
MW. II, p. 249.
85
Caso ele seja idêntico ao referido em um documento por Hercul. II, p. 475.
86
Sobre ele, a rubrica a CB. 116 traz-nos a seguinte informação valiosa: “Este Martim Soarez foy
de Riba de Limha em Portugal e trobou melhor ca todolos que trobaram et assy foy julgado
antr’os outros trobadores”. – A cantiga que se segue é uma tenzone com o Paay Soarez acima
citado. – CB. 147 (cf. 146) refere-se ao rapto de Elvira, filha de Joam Peres da Maia, praticado
por Roy Gomez de Briteyros, partidário de Afonso III. Deve ter acontecido, portanto, anos antes
de 1244, pois Roy Gomez juntara-se, nessa época, a Afonso, o conde de Bolonha, na França. Vid.
Hercul. II, p. 370.
87
Em CB. 115, ele zombava de Sueir’ Eanes devido à malograda cruzada de 1269. Cf. Lollis,
pp. 54-5. Por conseguinte, sua atividade poética deve ter-se prolongado pelo menos até 1270.
Portanto, dificilmente poderia ser o mesmo Martinus Sueriz que muitas vezes aparece como
testemunha em documentos da época de Afonso II. Cf. PMH. Inquis. (Af. II 1220), p. 46: “De
Terra de Aguiar de Ripa de Limia: Suerius Petri Abbas, Petrus Arias ..... Martinus Sueriz .... jurati
dixerunt”; cf. ibid., p. 48, 192, 193.
88
Hercul. II, p. 367.
77
89
Ibid., II, pp. 387-8.
90
PMH. LC. I, p. 199: “El Rey aia trez jograres em sa casa e nom mais, e o jogral que veher de
cavalo d’outra terra ou segrel, delhe el Rey ataa cem [marauedis?] .... ao que chus der, e nom
mais se lho dar quiser”.
91
Em V. 1105, por exemplo, o jogral Lourenço queixa-se de Joham Garcia pelos escassos recursos
que dele recebe.
92
Como Guiraut de Borneil envia ao rei Pedro II de Aragão seu jogral Perrin (Milá y Font., p. 135),
assim Sordel manda ao trovador Joam Soares Coelho o jogral Picandon, que ficou famoso por
sua arte de cantar e pelo conhecimento de muitas cantigas. V. 1021, 26–28: “Ca eu sey canções
muytas e canto bem, E guardome de todo falimen, E cantarey cada que me mandardes”.
93
Vid. V. 971, 1010, 1117.
94
Vid., por exemplo, V. 971, 1106.
78
95
CM. 8 epígrafe: “Esta é como Sancta Maria fez en Rocamador decender hua candea na uiola
d’un jograr que cantaua ant’ela; 2ª estrofe: Un jograr, de que seu nome Era Pedro de Sigrar, Que
mui ben cantar sabia, E mellor uiolar, Et en todalas eigreias Da Uirgen que non a par Un seu lais
sempre dizia”. – 238, 2: “E d’esto vos direy ora Una vingança que fez Jhesu Christo en Guima-
rães D’un jograr mao rafez” etc. Cf. ibid., 194, 1 e 259. Cf., sobre a movimentação dos jograis
nos séculos XIII e XIV, Rom. VIII, pp. 352-3.
96
Cf. P. Meyer, Les derniers troub., pp. 68-71.
97
Cf. vv. 15–23: “Senhor, por Sancta Maria, Mandad’ ante vos chamar Ela e mim algun dia, Mandade
nos razoar. Se s’ela de min queixar De nulha ren que dissesse En sa prison quer’ entrar. Se me
justiça non val Ante rey tan justiceyro, Ir-m’ey ao de Portugal”. Cf. V. 1186.
98
Cf. ainda V. 1184, 9-11.
99
Em sua edição do Canc. Vat., p. LX.
100
Crescini, Per gli studi romanzi, pp. 81-120, defende a probabilidade das cortes de amor.
101
Cf. P. Meyer, Les derniers troub., pp. 33-5.
79
(cf. V. 68), Gil Perez Conde (CB. 405), Gonçal’ Eanes do Vinhal (V. 1008),
Joam Vaasquez (CB. 423), Pero Gomes Barroso (V. 1057), Pay Gomes
Charinho (V. 1159), Joham Ayras de Santiago (V. 553), Pero da Ponte
(V. 68, 70 e outros), Pedramigo de Sevilha (CB. 423), Joham Baveca
(V. 827) e Pero Mafaldo102; entre os últimos, Bertran de Lamanon, Folquet
de Lunel, Arnault Plagues, Bertran Carbonel, Guiraut Riquier e o genovês
Bonifaci Calvo103.
Os portugueses devem ter conhecido também a lírica italiana da
época. Bonifaci Calvo fez incursões na cantiga de amor galego-portuguesa
(CB. 341, 342). Pode-se deduzir daí que ele tenha permanecido por mais
tempo na corte de Afonso, o Sábio, talvez até mesmo em Portugal104. Além
disso, já no tempo de Afonso Henriques este país encontrava-se em ativa
relação com a cúria romana, e a juventude ambiciosa frequentava escolas
estrangeiras, como a Universidade de Bolonha105. Mas, principalmente os
conflitos de Sancho II e Afonso III com o clero provocaram idas e vindas
de legados papais, agentes portugueses eclesiásticos e régios entre Portu-
gal e Itália106. Se se considera que os clérigos também participavam da
poesia culta, então se pode supor que igualmente por essa via teriam che-
gado a Portugal formas da lírica italiana107.
Além da corte castelhana, também a de Aragão ofereceu mais um
asilo aos últimos trovadores. Com Jaime I (1213 a 1276) permaneceram,
entre outros, Bertran de Born (o mais jovem), Aimeric de Belenoi, Peire
Cardinal, Nat de Mons, Arnaut Plagues, Elias Cairel e Guiraut Riquier, este
último por volta de 1270, provavelmente, portanto, a caminho de Castela108.
102
Em uma cantiga satírica desse poeta sobre Pero d’Ambroa, CB. 387, apontam-se, como também
pensa Lollis p. 55, as medidas que Afonso X deve ter tomado em consequência da conhecida
súplica de Guiraut Riquier (1274) contra o uso indevido do título trobador. Cf. ainda Joam Soarez
Coelho, V. 1024.
103
Cf. Encyclop. Britannica9, art. Provençal, p. 874.
104
Segundo O. Schultz (GZ. VII 225-6), ele veio à Espanha provavelmente com Nicolò Calvo, o
enviado de Gênova a Fernando de Castela em 1251. De qualquer forma, por volta de meados de
1253 ele estava na corte castelhana. Em 1261, Nicolò Calvo foi enviado pela sua cidade natal a
Afonso X.
105
Assim Julião, chanceler de Sancho I, obteve em Bolonha o título de mestre. Hercul., II, p. 124.
106
Assim Pedro Julião, antes arcediago de Vermuim, retorna à pátria em 1275 como arcebispo de
Braga, após permanência de longos anos na Itália, onde, com o nome de Pedro Hispano, gozou
fama de grande erudição. (Hercul. III, p. 124). Outros exemplos ibid. 121, 140, 145, 148.
107
A graciosa cantiga do clérigo Roy Fernandiz, em V. 488: “Quand’eu ueio las ondas E las muy altas
ribas, Logo me ueen ondas Al cor pola uelyda. Maldicto se al mare Que mi faz tanto male ...”
lembra, com seu refrão, naturalmente, as palavras: “L’onda del mare mi fa gran male”, que
Boccaccio, Decam., Giorn. V cita como início de uma canção popular italiana, de que não conhe-
cemos o resto.
108
Cf. Milá y Font., pp. 169-196.
80
109
Ibid., pp. 241-244.
110
Cf. P. Meyer, Les derniers troub., pp. 33-5.
111
Alguns deles já foram mencionados acima, pp. 67 78 e 80, e não serão repetidos aqui.
112
Mon. lusit. IV, pp. 352, 455-6, 469 etc.
113
Ibid., p. 335.
114
Ibid., 353, 499. Em V. 1014-5, ele satiriza Estevam da Guarda; em 1023, Ayras Perez Buyturom;
portanto, ele compunha ainda no tempo de Denis. Cf. Lollis, p. 39.
115
Mon. lusit. IV, p. 496, 499; ainda no tempo de Denis, ibid. V, p. 104.
116
Ibid., pp. 351-2. Cf. acima p. 76.
117
Cf. acima p. 76 e Mon. lusit. IV, p. 330, 350.
118
Mon. lusit. IV, pp. 306, 346, 350 ss. – PMH. Script. I, p. 192: “D. Garcia Meendez fez o conde
D. Gonçalo Garcia e D. Meen Garcia e D. Joam Garcia o Pinto e D. Fernam Garcia Esgaravunha
o que trobou bem”. Cf. ibid., p. 290.
119
Segundo Mon. lusit. IV, p. 492, ele morreu na batalha de Chinchela, ocorrida em torno de 1280.
Seu irmão Nuno F. C. era almirante no tempo de Denis.
120
Se Braga, em sua edição, p. LVI, o identifica corretamente com D. Ayres, bispo de Lisboa, morto
em 1259. Mon. lusit. IV, p. 348.
121
Cf. Lollis, p. 57.
122
Em CB. 431, satirizou o mesmo D. Joham, que em V. 69 serve de alvo a Afonso, o Sábio, e em
V. 1055, a Pero Barroso.
123
Em CB. 377, refere-se a Maria Perez, como Pero da Ponte em V. 1176 e Joam Vasques em CB. 419.
124
Em CB. 434, ataca Fernam Dias como traidor de Sancho II, também em V. 1088, 1090, 1183.
Cf. Lollis, p. 39.
125
Satirizou, em V. 1026, Fernand’ Escalho, como o fazem Pero d’Ambroa, em V. 1135, e Pero
Garcia Burgalez, em V. 984-6.
126
Em CB. 249, ele refere, ao já muitas vezes acima mencionado D. Joam Garcia, sua amada Dona
Guyomar Affonso Gata, que, segundo PMH. Script. I, pp. 162 e 323, viveu no tempo de Afonso
III. – Conforme V. 996-7, ele ainda alcançou o reinado de D. Denis.
127
Em CB. 374, dirige-se a Lourenço e é satirizado, com este e com Joam Garcia, em V. 1022, por
Joam Soares Coelho.
81
128
Em V. 1124, refere-se à traição dos castelos a favor de Afonso III.
129
Em V. 1035, tencionou com Joham Vasquez. Cf. nota 127.
130
Satirizado, em V. 1101-2, por Joham de Guylhade.
131
A alusão a serviços de campo em Sevilha, em uma cantiga do clérigo Ruy Fernandes (V. 520),
ainda não prova, como crê Braga, p. LXXVI, que esse poeta pertença à época de Afonso IV, pois
tal alusão pode referir-se também ao cerco da mesma cidade em 1247-8, no qual tomaram parte
muitos portugueses. Mon. lusit. IV, pp. 326-336.
132
Cf. Schaefer, Geschichte von Portugal I, p. 299. Conforme Moura, p. XV, seu pai era Guillaume
d’Ebrard, senhor de S. Sulpice em Quercy. Aimeric morreu ali no ano de 1295 (Mon. lusit. V,
p. 235).
133
Cf. P. Meyer, Flamenca, p. XXVII.
134
Mon. lusit. V, pp. 83, 144.
135
Ibid., 209. Cf. a rubrica a V. 1043.
136
Moura, p. XV.
82
137
Mon. lusit. V, pp. 163-166. – Porém, já em 1284 Domingos Jardo tinha criado cátedras de juris-
prudência, teologia, gramática, lógica e medicina, além de seis bolsas de estudos para estudantes
pobres, no hospital Santo Elói, fundado por ele em Lisboa. Ibid., pp. 96-7.
138
Crônica d’El Rei D. Diniz (Lisboa, 1600, fol. 133-134): “.... (el Rey) grande trovador ...... segun-
do vimos per hum cancioneiro seu, que em Roma se achou, em tempo del rei Dom João III, et per
outro que sta na Torre do tombo, de louuores da Virgem nossa senhora”. (Citado apud Wolf,
Studien, p. 699). [Quando C. M. de Vasconcelos (Grundriss, p. 178) diz acerca de Denis: “Em
sua visita à corte do avô (1269), que o sagrou cavaleiro, o jovem certamente não deixou de ouvir
os provençais presentes, Bonifacio Calvo, Bertolomé Zorgi e Guiraut Riquier, e de obter os ma-
nuscritos de suas cantigas e de outras mais antigas”, tal hipótese é falsa. Em primeiro lugar,
Denis, pelo que se sabe (cf. Mon. Lusit. IV, p. 421; Schäfer I, p. 298), nasceu em 9 de outubro de
1261, não 1259, como declara a autora um pouco antes. Em segundo lugar, a mencionada visita
a seu avô, como claramente decorre do tratado entre este último e Afonso III de Portugal, ocorreu
no ano de 1267, ao invés de 1269 (cf. Mon. Lusit. IV, pp. 443-6; Schäfer I, pp. 215-6). Denis
tinha, na época, no máximo 7 anos de idade. Em terceiro lugar, tanto quanto se sabe, nenhum dos
trovadores evocados esteve na corte em 1267 ou 1269. Em uma cantiga datada de 1269 (MW. IV,
nº. XVI), Guiraut Riquier enuncia a intenção de ir ter com Afonso X, mas ainda se encontra na
Catalunha em 1270 (cf. MW. IV, nº. LIV; Milá y Fontanals, Trobad. p. 187, 221-2). Não se aceita
que Bonifacio Calvo tenha estado em Castela em 1266 ou mais tarde, e a Senhora Vasconcelos
não aporta qualquer prova para tanto; o seu sirventês contra os genoveses (Choix IV, 226) teste-
munha, ao contrário, que ele estava de volta a Gênova pelo menos desde 1266 (cf. Diez, PT2,
p. 397, 400; Schulz, GZ. VII, pp. 225-6). – Finalmente, no que concerne a Bertolomeu Zorgi,
como é sabido, enlanguescia na prisão, em Gênova, nos anos 1266 a 1272 (cf. Schultz, ibid.,
pp. 227-8), e até agora ninguém comprovou que jamais tenha estado em Castela. (C. e A.)]
139
CM. Prólogo, p. XXXV: ....................... e ar
querrei me leixar de trobar des i
por outra dona, e cuid’ a cobrar
por esta quant’ en as outras perdi.
Casos semelhantes de arrependimento e conversão eram, como se sabe, comuns na Idade Média.
É conhecida a mudança de rumo ocorrida na atividade poética de Guittone d’Arezzo (cf. Gaspary,
Storia della letteratura ital. I, pp. 76-7). Também aos trovadores galego-portugueses não parece
ter sido estranha essa manifestação do culto mariano. Assim temos por exemplo, em CM. 316,
do já mencionado trovador Martin Alvitez, prior de Alenquer no tempo de Sancho II:
Et diss’ el: Sennor, eu fol
Fui de que trobei por outra
Donna, ca nihua prol
Non ouu’ y a mia coita;
..................
Mais por ti direi de grado
83
84
144
Mon. lusit. V, p. 261 ss.
145
“Esta cantiga foi feita a Dom Pedro d’Aragom per hu caualeiro seu moordomo que feriu endoado...”
Sobre o autor dessa cantiga, Fernam Rodrigues Redondo, vid. abaixo. – A identificação, por
Braga, desse D. Pedro d’Aragão (em sua edição, p. LIII e LXXIII) com o irmão de Afonso II,
D. Pedro (neto de Afonso II de Aragão), já é refutada pela aposição, à rubrica, d’Aragon, que não
se aplicaria a um filho de rei português, além de estar em total contradição aos fatos históricos.
Cf. acima nota 69, bem como Mon. lusit. IV, pp. 61, 146, 334-5 e Hercul. II, pp. 355, 365-6.
146
Esse verso parece ter sido um refrão corrente na tradição poética. Ele é encontrado novamente
em uma cantiga d’amigo de Rodrigu’ Eanes de Vasconcellos, CB. 313: D’eu por uassal’ e uos por
senhor, De nos qual sofrer mays coyta d’amor.
147
Segundo Braga (ibid., p. XLIII), poderia ser incluído aqui também Joam Martins, referido no
reinado de Sancho II. Porém, não pudemos encontrar os trechos citados por Braga em Mon. lusit.
V, pp. 185, 372, pelos quais Joam Martins, ainda em 1288, seria denominado trovadore. De
qualquer forma, ele não deve mais ter poetado em época tão tardia. [Um João Martins trovador
é mencionado, na Mon. Lusit. V, p. 125, como testemunha, em um documento do ano de 1287 e,
ibid., p. 229, em uma doação do ano de 1295. (C. e A.)]
148
† 1287. Mon. lusit. V, p.124.
85
149
Em V. 1015, ele dirige-se a Estevam da Guarda e, em 1023, a Ayras Perez Veiturom. Cf. Lollis,
p. 43.
150
Alcança, com V. 999, 1289. Cf. Lollis, p. 36.
151
Em V. 1194, dirige-se a Estevam da Guarda. Cf. Lollis, p. 38.
152
Em V. 1078, ele satiriza D. Pero Nunez, que poderia ser identificado com o abade de Alcobaça
daquela época. Cf. Mon. lusit. VI, p. 42.
153
Conforme V. 995, onde ele alude à cegueira de Estevam da Guarda.
154
Mon. lusit. V, p. 104, VI, pp. 139-140.
155
Se esse é o Joam Velho que, segundo Mon. lusit. V, pp. 35, 58, no ano de 1280 é encarregado de
uma embaixada para Aragão.
156
Em V. 1085, dirige-se a Estevam da Guarda.
157
PMH. Script. I, p. 383.
158
Parece satirizar Pero Annes Marinho em 1155-6.
159
Aparece como testemunha em uma compra de 1289. Mon. lusit. V, p. 144.
160
Meirinho de Portugal; em 1283, morreu num encontro em Córdova. Mon. lusit. V, p. 85.
161
Testemunha em documentos de 1289 e 1295. Mon. lusit. V, pp. 144, 229.
162
Conselheiro do rei e desde 1309 vassalo do infante D. Afonso. Mon. lusit. VI, p. 137.
163
Irmão de Joam Annes Redondo, que em 1278 entrou como vassalo na corte do infante D. Denis.
Mon. lusit. V, p. 35.
164
Desde 1316, sucessor de Joam Simhon como meirinho-mor de Portugal. Ibid., VI, p. 235. Vid.
acima p. 85.
165
Em V. 1144, alerta um cavaleiro sobre Fernam Dade, um rico-homem de Santarém, que aparece
como testemunha em 1295. Mon. lusit. V, p. 229.
166
Mon. lusit. V, pp.174-5.
167
Ibid., pp. 176-184. – Não nos chegaram quaisquer cantigas de Afonso IV.
168
Em V. 27, tenciona com D. Affonso Sanchez e parece ter sido, de acordo com alusões deste, um
poeta já mais idoso. Um Vasco Martins, Comendador do Crato (1279) e lugar-tenente do grão
Comendador (1297), é mencionado em Mon. lusit. V, pp. 46-7.
169
Mon. lusit. VI, pp. 430-1. Com V. 927, ele entra bastante pela época de Afonso IV adentro.
170
Conforme V. 917. – PMH. Script. I, p. 272: “Este Johane Anes da Gaya foy casado com dona ...
e fez em ella Estevam Anes que foy creligo: este Esteuam Anes ouue huum filho que ouue nome
Joham da Gaya que foy muy boo trobador e mui saboroso”.
171
Mencionado em V. 917.
172
Em V. 1083-4, satiriza Estevam da Guarda. Provavelmente o castelhano do mesmo nome, que
em 1360 foi extraditado por Pedro I, em cuja corte buscou refúgio, para a de Pedro, o Cruel, com
outros dois fugitivos. Schäfer, ibid. I, p. 407.
173
Seu poema, V. 933, parece referir-se à fuga de um dos assassinos de Inês de Castro. Cf. Braga,
p. LXXVIII.
86
174
Segundo V. 929, 931, 1042.
175
Em V. 14, tenciona com Mem Rodriguez Tenoyro.
176
V. 708. Com 707, chega até os últimos anos de Afonso IV.
177
Sobre o desenvolvimento do amor cortês e a influência da mulher sobre ele cf. Diez, PT.2; Wolf,
Kleinere Schriften, em Stengel, Ausgaben LXXXVII, pp. 35-39; principalmente, porém, G. Pa-
ris, Rom. XII, pp. 518-524; Jeanroy, De Nostrat., pp.46-51; e Langlois, Origines et sources du
Roman de la Rose, pp. 1-5.
87
178
Origines, pp. 12-15, 48-59; cf. também Jeanroy, Origines, p. 389 ss. Remeta-se a esses trabalhos,
bem como a Langlois, loc. cit., pp. 7-10, para informação da bibliografia relevante.
179
Coelho, Revista d’ethnologia, pp. 63-4. – Cf. também Caro, Dias geniales (conforme Rom. XIII,
p. 462).
180
A isso se refere uma vez o refrão de V. 1055 (cf. V. 79): “Por non chegar endoado Damos lhi nos
unha maya Das que fezemos no mayo”; além disso, mencionem-se a Cantiga das Maias de
Afonso, o Sábio, em CM. p. 599, caso não seja inspirada em G. de Coinci (cf. Bartsch, Altfrz.
Romanzen, p. XIII), e a linda descrição da primavera no Livro de Alexandre de Berceo, copl.
1788-1792, onde se mencionam as danças femininas. Sobre o costume das expedições militares
em maio, cf. Hercul. IV, p. 327 e C. Michaëlis, em Revista lusit. II, p. 227, nota.
181
Mas encontra-se pelo menos uma cantiga, V. 456, que se dedica à festa da primavera. Cf., ainda,
B. de Ventad., MG, p. 123.
182
Cf. G. Paris, Origines, p. 59 e Jeanroy, Origines, p. 390.
183
Exemplos provençais em Diez, PT.2, p. 135. Cf., ainda, Mätzner XX, Thibaut de Ch., Tarbé 30,
20; Gace Brulé, Archiv XLIII, p. 266 e em Fath, p. 86.
88
184
Cf. Settegast, Joi in der Sprache der Troubadours, pp. 126, 136 (em Berichten der Königl. sächs.
Gesellsch. der Wissensch., Philol.-Hist. Classe 1888, pp. 99-154); G. Paris, Origines, p. 59.
185
Settegast, ibid., p. 136; G. Paris, ibid.
186
Ibid., pp. 51-2, 58.
187
Os poetas portugueses chamam frequentemente de donzela a senhora do seu coração, como por
exemplo em V. 17, ou falam do receio de que ela quisesse casar-se com outro, como um refrão de
V. 47. Cf., ainda, V. 535. Ao contrário, duas cantigas d’amigo, CIX e V. 618.
188
Não raramente, mulheres nobres são mencionadas pelo nome como amadas dos poetas, como
T. e C. (g) p. 305, a filha de Paay Moniz (vid. PMH. Script. I, pp. 354-5), e CB. 249 (refrão)
D. Guyomar Affonso Gata (vid. PMH. Script. I, pp. 146, 162, 323).
189
Die Ehre in den Liedern der Troubadours. Leipzig 1887, p. 21.
190
Cf., ainda, A. de Sarlat (Choix III, p. 386) e Blacasset (ibid., p. 460).
191
Jeanroy diz, Origines, p. 312: ... “les Portugais n’ont jamais cultivé la chanson métaphysique”.
192
Cf. A. Thomas, Francesco da Barberino, pp. 53-54; Jeanroy, De Nostrat., 78.
89
90
do mesmo pensamento, que, como afirma Diez (KuHp., p. 74), “se estende
não apenas através de séries inteiras de cantigas, mas também ocorre em
uma única e mesma cantiga, de modo que um conceito expresso na primei-
ra estrofe retorna, nas seguintes, pela repetição do significado ou até das
mesmas palavras.” Essa característica não se restringe, então, às obras de
certos poetas, como por exemplo as do nosso rei, ou, principalmente, ape-
nas à pedante cantiga de amor com refrão, afastada da realidade, mas é um
traço distintivo de quase todas as formas dessa poesia, das cantigas de
maestria como das de refram, mesmo do diálogo e da espécie mais lúdica
da cantiga satírica197. Em uma palavra, esta é a norma da poesia em portu-
guês arcaico, da qual fogem mais ou menos apenas uns poucos gêneros,
como por exemplo, a cantiga de louvor e o pranto, a tenção e o sirventês,
cujo objeto pressupõe certo avanço do pensamento198.
Ora, por conveniente que esse estilo possa ter sido para a maioria
dos nossos poetas, cuja diversa aptidão intelectual e individualidade se dá
a conhecer, aliás, modestamente, ainda assim ele certamente não se pode
explicar pela falta de versatilidade e zelo artístico199. É um traço que nitida-
mente distingue essa lírica da provençal, da francesa e da italiana e que,
como tentaremos mostrar adiante, tem sua razão na forma.
Como se sabe, a tradução propriamente dita era alheia aos poetas
medievais. Porém, mesmo uma reprodução apenas aproximada da sequência
de ideias de um original estrangeiro possivelmente não teria sido fácil aos
portugueses, por causa da mencionada estrutura de seus poemas. Geral-
mente, eles se contentavam em rechear sua estrofe com um ou vários
lugares-comuns e, muitas vezes, em aproveitá-la somente como introdução
ao refrão, que em muitos casos é o suporte do pensamento.
Até que ponto Denis se apropriou e fez uso das ideias e dos tor-
neios da lírica estrangeira, ou até onde ele ao menos com ela coincidiu, será
indicado a seguir200.
morreu com amor En seus cantares, par Sancta Maria, Por hunha dona que gram ben queria. E
por se meter por mays trobador, Por que lh’ ela non quis ben fazer, Feze s’el en seus cantares
morrer; Mais resurgiu depoys ao tercer dia”. – Joham de Guylhade, em V. 359, com sua ironia
própria, faz uma de suas heroínas perguntar: a que bem os amantes se referiam, quando pediam
mais do que uma cinta?
197
Cf., por exemplo, XCVII, XCVIII, C, CI, V. 606, 988, 1022.
198
Constituem exceção relativamente poucos poemas redigidos em versos longos, como por exem-
plo, LXXVI, V. 541, T. e C. 286, em que há mais possibilidade de desenvolver o pensamento.
199
Também o poeta provençal Bonifaci Calvo, de Gênova, em suas cantigas galego-portugueses,
CB. 341-2, não discrepa desse sistema.
200
Com isso não se quer dizer, naturalmente, que em cada ocasião as passagens aqui mencionadas
tenham servido de modelo ao poeta. – Jeanroy, Origines, pp. 316-320, chamou a atenção para
numerosas imitações por parte dos poetas portugueses.
91
201
Cf. B. de Ventad., MW. I, 33 e R. de Berbezill, Archiv XXXV, p. 434. – O mesmo início de
cantiga, como em Denis, encontra-se ainda em V. 1060, 1131 e CB. 42.
202
Cf. V. 457, CB. 62.
203
Cf. Gace Brulé, Mätzner II; Duc de Braibant, ibid., VI; Gillebert de Berneville, Scheler I, pp. 64,
100. Q. de Bethune, ibid. 17, ao contrário, confessa que compõe sem amor.
92
O poeta queixa-se de que Amor lhe infundiu amor por uma dama
que dele não se quer compadecer (LXVII)204 e amaldiçoa esse poder (LXIII).
B. de Ventad., MW I, 38:
O mesmo diz o poeta também de sua amada (X, XXVII, XLI, XLIV,
LIV, LXVIII, LXXI).
204
Cf. Jakes de Cison, Mätzner IX, 21-6.
205
Cf. A. de Pegulh., MG., 740; um exemplo ital. em Propugnatore XI, p. 228.
206
Cf. Mätzner XXI e p. 211.
207
Cf. Uc Brunet, Choix III, p. 315; A. de Pegulh., MG., 737. – Martim Soares chega mais perto,
CB. 124.
93
Ensenhamen e beutatz
plazers ab gen parlar;
gent acoillir et honrar,
cortez’ ab gaia semblansa.
208
Cf. A. de Marv., Choix III, p. 201; Folquet de Romans, Lex. Rom. I, p. 490; Raous de Soissons,
Mätzner X. – É conhecido o provérbio grego: ™k tou g¦r eˆsoran g…gnet’ ¢nqrèpoij ™rvn.
[O amor nasce da contemplação com admiração. (N.E.)]
209
Vide Mätzner, 169 e 177.
210
Em T. e C. 222, diz-nos um poeta que ele ama todas as mulheres por amor de sua senhora.
94
E si lauzar la volria,
Ges tan dire no poiria
De ben que mais no sia ver.211
211
Cf. Conde de Poitou, Choix III, 3; A. de Marv., ibid., 200, 212.
212
Comp. a segunda estrofe desta cantiga com a segunda de T. e C. 16.
213
Totalmente sozinho fica o judeu Vidal (V. 1138): “Moyr’eu e fazo dereyto Por hu a dona
d’Elvas...Des que lh’eu ui o peyto Branco, dix’aas seruas A mha coita non a par”. – As mulheres
de Elvas eram famosas por sua beleza (Hercul. II, p. 273).
214
CB. 114 e 293.
215
Vid. nota a esta cantiga e cf., ainda, CB. 121.
95
216
Assim, diz R. de Berbezill, Archiv. XXXV, p. 434: “Lai on beutatz e jovens e valors Es, que noi
falh mas un pauc de merce, Que noi sion assemblat tuich li be”. Cf. G. Faidit, MG., 125.
217
Cf., por exemplo, P. de Capd., Choix III, p. 173, e Settegast, Ehre, pp. 25-7. – Em CB. 48, um
poeta diz-se abandonado por sua dama.
218
Para este significado de conhocer, vid. nota à passagem. – Em XXXI, admira-se o rei de que
tanto mal lhe venha da mulher em quem Deus nada de mal colocou. Cf. CB. 318.
219
Cf. A. de Marv., Choix III, 213; P. de Capd., MW. I, 346; Peyrol, Choix III, 276; A. de Sescas,
Milá y Font., 424.
220
Cf. G. Faidit, MG., 125. – O mesmo tema trata CB. 334; V. 577, 14-15 diz: “Prazmada vos en
veeredes Se moyro em vossa prizom”.
96
Sobretudo, ele deve ser fiel (III, XXXII, LXVI, LXVIII, LXIX).
P. Vidal, MG., 44:
221
Cf. ainda ibid., pp. 108-9.
222
Cf. Beatrice de Dia, MW. I, 86; Peyrol, ibid. II, 27; A. de Marv., Bartsch, Chrest.4 95; G. Faidit,
MG., 31; Quvelier, Mätzner XXXII.
97
Cui am e amarai
Tan quan vivrai.225
223
Cf., para o refrão da cantiga V 900, citada na nota a XIX, a seguinte passagem em A. de Marv.,
Choix III, 201: “Per que sai be qu’es falhimen Lo repropchiers c’om dire sol, Que huelhs no vezo
cors ne dol”.
224
Cf. ainda Raynaud, Motets II, 87 e Mätzner 132.
225
Cf. Guilhem de la Tor, MG., 652.
226
Cf. V. 279, CB. 332, 337 e, para esta última, Uc Brunet, Choix III, 317, e principalmente Thibaut,
Tarbé 45.
98
O poeta não ousa confessar-lhe seu amor (V, VIII, XXI, XXX,
LIX).
A. Daniel, MW. II, 75:
Apenas quando a beleza dela lhe rouba os sentidos, ele revela sua
paixão (XXXVII).
A perda da razão (XXV, XXVII, XXXVI, LXI; perder o sen,
ensandecer) é um efeito do amor que em nenhuma das poesias irmãs teve
expressão tão típica como entre nossos portugueses. É um traço caracterís-
tico deles229.
227
Cf. Flamenca, 4105.
228
Cf. CB. 282; A. de Marv., Choix III, 199; G. Faidit, Bartsch, Chrest.4 144; Thibaut, Tarbé 80, 54.
229
Aqui não procede o que diz P. Raimon de Tol., Choix III, 128: “Que lai on amors s’enten val
foudatz en luec de sen”. Cf. Flamenca, 5265 e a nota do editor. – Binet, em Le style de la lyrique
courtoise, pp. 102-3, não cita a manifestação da paixão acima mencionada.
99
230
Cf. CB. 66.
231
Cf. G. de Cabest., Choix III, 110; A. de Marv., ibid., 203 e Mätzner 164.
232
Brincando, assim começa uma cantiga de P. Cardenal, Choix III, 438: “Ar mi puesc ieu lauzar
d’amor Que no me tolh manjar ni dormir”. Encontramos o primeiro desses versos como início da
cantiga de Martim Moxa, V. 476, que também imitou o poeta provençal, no conteúdo e na forma,
em V. 481. Cf. Choix IV, 350.
100
Às vezes ele deseja que Deus queira impor à amada uma parcela
do sofrimento amoroso que suporta por causa dela, para que saiba o que
padece e dele finalmente se apiade (LXII).
Peyrol, MW. II, 19:
233
Cf., acerca do tratamento poético que os franceses deram a esse estado d’alma designado bestourné:
P. Meyer, Rom. XIX, pp. 7-11.
234
Cf. A. de Pegulh., MG., 83; A. de Marv., MW. I 174; Hist. Litt. XXIX 489 (refrão): “Dame, je
muir, merci demant, Allegiez les maux que je pour vous sent”.
101
Se ela não lhe quer bem, então pede-lhe que lhe permita amá-la ou,
ao menos, vê-la (XII, LVIII, LXXXVI).
A. de Marv., MW. I 175:
235
O tratamento mais detalhado desta ideia, em Flamenca 4614-4632, não deve ter sido desconhe-
cido de nosso rei. Cf., ainda, um exemplo italiano em Val. I, 464.
236
Cf. Folquet de Marselha, Choix III, 149; Affonso Fernandez, V. 15.
237
Cf. A. de Sescas, Milá y Font., 423: “Un repropchier ai auzir dir: Piegiers es sofrir que morirs”.
– Outra opinião têm Joham Soayrez Somesso, CB. 86, Pay Gomes Charinho, V. 393 e Joham de
Guylhade, V. 36; a este último, compare-se Thibaut, Tarbé 23, 15.
102
Val. II, 7:
238
Cf. B. de Vent., MG., 144; G. Faidit, MG., 125; F. de Romans, Lex. Rom. I, 491; Val. II, 152.
239
Cf. CB. 97; Jakes de Cison, Mätzner IX.
240
Cf., para a expressão da segunda estrofe, V. 499: “Ca de vos nom atend’eu al que mi façades se
nom mal”.
103
E si per mi no us venz
Merces e chausimenz,
Tem que m’er a morir.
Por vezes, no entanto, ele crê não esperar em vão por clemência e
fala de sua alegria por isso (LVIII).
Algo semelhante encontra-se em Jehans Li Petis, Mätzner XVII,
25-32:
241
Para o que indica LXV, a antítese entre beleza e compaixão, tão frequentemente enunciada por
provençais e franceses, cf. ainda G. Faidit, Choix III, 209; J. de Grieviler, Mätzner XXVII;
Carasaus, ibid. XXXV e pp. 252-3.
242
Não nos foi possível encontrar essa passagem.
243
Gaspary, Die sizil. Dichterschule 53-4, cita, porém, trechos provençais e italianos em que se fala
de uma graça realmente concedida.
* No texto, por engano, está XXXII, que não corresponde nem à paráfrase nem ao que se afirma
no parágrafo seguinte. (N.E.)
104
explica que não sabe como deve desculpar-se perante sua senhora, por ain-
da não ter obedecido à ordem de visitá-la.
Tanto o conteúdo como a linguagem deste último poema são bem
do tipo da cantiga d’ amigo.
Em ligação ao conjunto precedente, ainda podem ser citadas as
principais formas de expressão, retiradas do feudalismo, encontradas em
nosso poeta.
O poeta considera-se vassalo (homem), servo (servidor) de sua
amada (I, LIV, LXIII, LXXVI).
Uc. de S. Circ, MW. II, 155:
La meillour
Ki onques fust amee ne servie.245
244
Cf. a nota ao v. 28 desta cantiga; Jeanroy, De Nostrat. 110; Settegast, Ehre, pp. 42-43.
245
A usual relação entre servir et honrar dos provençais (cf. Settegast, ibid., p. 27), que também se
encontra entre os franceses (por exemplo em Thibaut, Tarbé 66, 45), não ocorre nos portugueses.
105
Moi et ma vie
Tient en sa baillie
La meillour qui soit.249
246
Cf. B. de Vent, Choix III, 46. Nada se encontra em nossa lírica correspondente a franc, que os
provençais tantas vezes associam a humil. Cf. G. de Dargies, Mätzner I: “Humilites et franchise”.
247
Cf. CB. 88, 294 en seu poder entrar = servi-la, ama-la.
248
Não conseguimos encontrar esta passagem em G. de Borneil.
249
Cf. Augier, Choix III, 105.
106
250
Aqui ainda se poderia pensar em algumas expressões correntes da lírica medieval que não se
encontram entre os portugueses. A elas pertencem o conort d’el selvatge (por exemplo, em R. de
Beljoc, Choix V, 500), a fórmula apreciada ni cors pensar ni boca dir (por exemplo, Flamenca
5960; vid. nota do editor à passagem), além disso a relação aliterativa beltatz e bontatz
(cf. Mätzner 216), a igualmente assonante cor e cors (ibid., 141-2), cuja restituição por beldade
e bondade, cor e corpo se encontraria facilmente etc.
251
Cf. Diez, ibid., 80.
252
Além das comparações referidas na nota a esta passagem e na nota 214, apenas mais uma é
conhecida da cantiga de amor portuguesa. O doente de amor é comparado a um cervo ferido.
V. 1138: A por que ey mort’ a prender Come cervo lançado; V. 741: “Tal vay o meu amigo Com
amor que lh’eu dey Come cervo ferido”. Cf., ainda, ibid., 447. – De modo similar, G. d’ Espinau,
Archiv. XLIII, 368, aplica a si a imagem de um cervo que definha de sede.
253
Cf., por exemplo, em cantiga popular de hoje: “Coitadinho do meu bem que anda por terras
alheias”. Revista lusit. II, p. 9.
107
254
Vid. nota aos referidos poemas.
255
Cf., acima, p. 90.
256
Origines, pp. 128-175; 308-338; 401-426.
257
Ibid., por exemplo, pp. 125, 334, 338.
* Vid. p. 18. (N.E.)
258
Quanto ao uso destas expressões para estas cantigas, baseamo-nos na autoridade do Marquês de
Santillana, que diz, em Obras 12: “Acuerdo-me...aver visto un grand volumen de cantigas, serra-
nas, é deçires portugueses é gallegos” etc., bem como no testemunho de Gil Vicente (II 443) que
faz anteceder a duas de tais cantigas a orientação: “Canta Lopo e baila, arremedando os da Serra”
– Quando Jeanroy (310) diz que a serrana é um tipo poético espanhol realmente não popular,
imitado diretamente da poesia francesa, trata-se de afirmação para a qual ele não trouxe uma
108
única prova, nem pode trazer. Pois o fato por ele mencionado, de que o Arcipreste de Hita seguiu
modelo francês em suas serranilhas, não prova em absoluto que esse gênero, com seu nome
completamente nacional, seja de origem francesa!
259
Ibid., p. 312 – Mais tarde falaremos do parentesco próximo da cantiga de amor com a cantiga
d’ amigo.
260
Joham de Guylhade nomeia-se quatro vezes (V. 343, 346, 369, 371), B. de Bonaval, uma vez, em
uma balada (V. 730) e em duas serranas (V. 731-2), Martin Codax, em uma balada (V. 882).
Cf. Jeanroy, p. 317.
261
É o caso, ao menos, de V. 252-6 (baladas), 859-860, 878-9 (serranas) e 890 (balada). Cf. Jeanroy,
p. 315. – Muitos poetas têm temas determinados, nos quais realmente se comprazem, tratados
quase com exclusividade, como, por exemplo, Joham de Zorro a partida do amigo com a frota
régia (V. 753-760), Martin Codax a fala da moça às ondas do mar (V. 884, 886, 888, 890), Pero
Meogo o motivo do cervo (V. 789-797).
262
Cf. V. 830.
263
Assim, por exemplo, LXXXV, V. 409, 597, 779, 821, 840, 866-8.
264
Vid. Jeanroy, pp. 151-8; G. Paris, Origines, 18.
109
e ibid. 89:
265
Cf. Jeanroy, ibid.
266
Exceções são, por exemplo, as albas a serem mencionadas mais tarde, V. 242, 771-2, 782.
267
Vid. nota a essa cantiga.
110
268
Assim, por exemplo, V. 344. – Cf. Jeanroy, pp. 158-9.
269
Ibid. – Cf. V. 814.
270
Cf., por exemplo, ainda V. 40 e 815, em que o amor da donzela nos é descrito como maior que o
do amigo.
271
Assim também os italianos, por exemplo, em Val. I, 196.
272
Muito semelhante é CB. 313.
111
Val. I, 118:
273
Em que consiste esse saber ensina-nos a própria heroína de uma cantiga d’ amigo (V. 836): “E
quen molher de coraçon quer ben A meu cuydar punha de s’encobrir E cata temp’ e sazon pera hir
Hu ela est e a uos non auen” etc.
274
Igualmente em V. 335.
275
Em V. 790 (serrana), a dama zanga-se com seu cortejador, porque ele lhe pediu uma entrevista.
276
Cf., para tanto, a nota e a seguinte passagem do Clef d’amour (editado por Doutrepont) 2773-6:
“Fai lui joie et paour ensemble, Si que son cuer fremisse et tremble Et que ne sache par ton dit Se
c’est pramesse ou escondit”.
277
Cf., ainda, V. 231, em que a donzela explica que não quer ser amada; 244 (serrana), em que ela se
gaba de ter sempre causado sofrimento a seu amigo, 337 e outras.
112
Não estaria, por outro lado, em total desacordo com o espírito po-
pular, como acredita Jeanroy (314), quando a donzela se irrita pelo fato de
alguém por toda parte se vangloriar de seu amor (LXXXV, CXXV)280. No
mínimo isso ocorre também na lírica popular atual, como na seguinte qua-
dra açoriana, GZ. XVI, 429, nº. 111:
278
Em V. 600, diz-nos uma bela que seu amigo, por medo, não ousa confessar-lhe seu amor.
279
Cf. A. de Pegulh., MG., 1002.
280
Ainda, igualmente, V. 354, 616, 778.
281
Para outros exemplos, vid. nota a esta cantiga.
282
Cf. V. 464, 796.
283
V. 848. – Este motivo deu ensejo a uma espécie muito numerosa entre as cantigas d’ amigo, que
se poderiam denominar cantigas de peregrino. Para outros exemplos, vid. Jeanroy 163 ss.
284
Talvez com acerto, Jeanroy (p. 162) relaciona a este motivo o refrão de uma cantiga francesa do
século XVII, em Weckerlin, L’ancienne chanson populaire en France, 187: “J’ai vu le cerf du
bois sailly E boire á la fontaine”. – Em uma cantiga popular provençal, em D. Arbaud, II, 111,
diz-se: “M’en vois à l’eau; la fontaine est troublée, Le rossignol lui a sa queue baignée”.
113
285
Na primeira cantiga, esse motivo está pelo menos suposto.
286
Cf. ibid., p. 188.
287
Cf. V. 417, 464, e ainda para outros papéis da mãe, vid. Jeanroy, pp. 314-15.
288
Cf. V. 858 e Jeanroy, pp. 160, 183-5.
289
O tema da separação dos amantes é a base de uma subespécie fundamental de cantiga de mulher,
muito representada, a cantiga da separação, a que se alia também a alba, na forma arcaica de
monólogo já cultivada pelos portugueses. Vid. G. Paris, Origines, p. 34 ss.
290
V. 6, V. 765-766.
291
Assim em V. 401, 420, 876.
292
Não se compreende como Jeanroy, de uma característica tão singela e natural, possa dizer: “ce
trait y est sans doute emprunté à la réalité ou à la poésie française où il se retrouve souvent”.
114
Se o amado demora muito tempo, então ela receia que esteja morto
(LXXVIII), ou isso desperta dúvidas sobre sua fidelidade (LXXXI, XCVIII).
Um traço realmente popular da cantiga d’ amigo, temos de reco-
nhecê-lo, é que aqui a infidelidade do amado é em geral imputada à sua
longa ausência297.
O amigo não cumpre o prazo prometido, e a moça abandonada
sente-se próxima da morte por causa da dor (XC, XCI)298. A expressão do
293
Exemplos franceses em Jeanroy, De Nostrat., p. 22.
294
Jeanroy oferece numerosos exemplos, p. 169.
295
Cantigas franceses e italianas de conteúdo semelhante em Jeanroy, p. 208.
296
Ou às ondas do mar, V. 884, 890. Muito semelhante na atual cantiga popular italiana, por exem-
plo em Tigri I, 134:
O fiumi che all’ingiù forte correte,
Perchè all’insu una volta non tornate?
Ibid. II, 175:
O acqua, che ne vai per la corrente,
Fammi rifar la pace col mi amante:
Chè quando mi lassò, gli ero innocente.
297
Cf. Jeanroy, pp. 173-4, 211.
298
Vid. Jeanroy, pp. 174-5.
115
Ibid. 172:
Igualmente V. 843.
299
De Coussemaker, Oeuvres complètes du trouvère Adam de la Halle. Paris, 1872, p. 258.
300
Vid. nota a XCI e Jeanroy, Origines, pp. 316-7.
116
Não está muito claro o motivo básico de uma outra cantiga de nosso
rei (LXXXVII), na qual a moça desculpa uma não especificada ofensa de seu
amigo com a suposição de que ele agiu por cautela (per encoberta).
Ao lado do amigo e da mãe, que também aparecem falando na cantiga
de mulher francesa, na cantiga d’ amigo, ainda a amiga-confidente da donzela
é uma figura estereotipada. Como mensageira da amada (CXXI) ou do amigo
(XCIX), ela ora o defende da acusação de infidelidade (XCVIII), ora apresenta
à amada o seu anseio, o sofrimento que lhe oprime o coração (LXXXIII*,
CXXII), ou alerta esta acerca de uma rival (LXXXVIII), que lhe roubaria o
coração do amigo (CXVIII)302.
Em relação ao papel desempenhado nessas cantigas pela confidente,
além da mãe, bem como à ausência do amigo, que na maioria das vezes é
apenas apostrofado e referido, e raramente toma parte no diálogo, pode-se di-
zer que a cantiga d’ amigo descreve, quase exclusivamente, cenas de mulheres,
em cujo centro está sempre a donzela enamorada. Também nisso os portugue-
ses mantiveram o caráter arcaico deste gênero.
Já vimos acima que nossos poetas se permitiram toda sorte de liberda-
de com o tema tradicional desse tipo de poesia.
301
Cf. ainda V. 276 e 418.
* LXXXVIII? (N.E.)
302
Jeanroy, p. 167, refere outros papeis a ela atribuídos pelos poetas, como por exemplo o de rival
secreta (V. 375, 407).
117
303
A rigor, ocorre a situação inversa na maioria dos casos.
304
Diálogos como esse, XCVII e outros, pertencem, aliás, a um e outro gênero, e constituem, de
certa forma, o elo entre a cantiga d’amor e sua irmã mais velha, a cantiga d’amigo. – Também
nas cantigas femininas servir vale como sinônimo de amar, como por exemplo CXXI, V. 355,
401 (serrana).
305
Cf. Jeanroy, pp. 96-100. – Em John Gower (Stengel, Ausgaben LXV, 14-15) encontramos, por
exemplo, nos números XLI e XLII, cantigas de mulher nas quais se lamenta o falso amante. –
Esse tema era conhecidamente um lugar-comum da lírica cortês. Cf. B. de Ventad., Bartsch,
Chrest.4, 61; G. Faidit, Choix III, p. 297; D. de Pradas, P. O. 86; Quenes de Bethune, Scheler I,
19; G. de Berneville, Mätzner XXXI; Mathieu de Gand, Scheler I, 131; Archiv XXXIV, 357;
Joham Baveca V. 699.
306
É notável o poeta ter-se servido, mesmo aqui, da forma de maestria, ao invés da forma de refram.
307
Cf. V. 344.
308
Vid. Diez, P.T.2, pp. 55-8. – Cf. G. de Borneil, MW. I, 206: “Planhion en un tropel Tres tozas en
chantan, La desmezur’ e’l dan Qu’an pres joys e solatz”; Quenes de Bethune, Scheler I, 18.
118
309
Outros exemplos em Jeanroy, pp. 394-5 e G. Paris, Origines, p. 55.
310
Vid. G. Paris, Origines, p. 17.
311
Cf. Jeanroy, pp. 129-134.
312
A sequência de pensamento, bem como o desfecho dessa cantiga, mostram grande semelhança
com uma pastorela em Bartsch, Altfrz. Rom., 166-7, só que esta é mais circunstanciada.
313
Cf., para o começo de V. 278 e 867, a passagem em G. de Borneil citada na nota 308.
314
É semelhante V. 866, em que o refrão contém também o monólogo.
119
315
O estorninho aparece no refrão de uma pastora de Ayras Nunes, V. 454; o rouxinol, por exemplo
no Romance del Prisionero (Duran, Rom. esp.2 II, 449), em que também outros pássaros são
referidos. Cf. ainda C. Baena II, 259. – Outros numerosos comprovantes do assunto encontram-
se em Jeanroy, Origines, p. 133, G. Paris, Origines, pp. 13-14, Grimm, Kl. Schriften IV, p. 432.
316
Bartsch, Chrest.4, 253-260.
317
Similar encontra-se, por exemplo, em canção popular sérvia. Vid. Grimm, loc. cit.
318
Para os versos 1439-1445, compare-se ainda Bartsch, Altfrz Rom. 127, v. 30-44.
120
cantigas: “Tali canti, sia pure in una forma più rude ed agreste, dovettero
necessariamente preesistere a quel periodo in cui dominò la scuola dei
trovatori; e una conferma di ciò l’abbiamo nei frequenti arcaismi che vi
s’incontrano, arcaismi le cui vestigia scompaiono nelle poesie portoghesi
del secolo XIII foggiate alla provenzale. Essi, como già osservò il Diez, ci
attestano che i portoghesi, accanto alla poesia artistica d’imitazione straniera,
una altra n’ebbero del tutto indigena e veramente originale. I trovatori del
ciclo dionisiaco la conobbero dalla bocca del popolo, dal popolo la
raccolsero, ritoccandola coi magisteri dell’ arte, e fors’ anche seppero
finamente imitarla come opina T. Braga. Cosi è pervenuta fino a noi, e
letteraria per certo è la forma che ce la conservò”.
Uma vez que, neste caso, não se faz diferença entre os poemas de
caráter inteiramente palaciano, como por exemplo a pastourelle acima ci-
tada de Pedramigo de Sevilha (= nº. XII de CAP.), e as pastorelas mais
arcaicas, como V. 866 (= nº. IX), V. 278 (nº. X), nem entre as cantigas
d’amigo em forma de balada, como V. 462 (nº. III), V. 488 (nº. IV), as
quais, conforme vimos, muitas vezes tratam de imagens da lírica convenci-
onal, e aquelas com paralelismo típico, como XCII e XCIV de nossa
coletânea (nº. I, II), V. 759 (nº. VIII) etc., temos de concluir que o erudito
italiano queria ver sua tese, acima exposta, aplicada a todas essas distintas
formas. Nessa generalização, parece-nos totalmente inconsistente a supo-
sição de que essas cantigas se distinguiriam das autênticas cantigas populares
somente pelo fato de que estas últimas se apresentariam in uma forma più
rude ed agreste319; mas, mesmo com referência às serranas, essa interpreta-
ção da relação de nossas cantigas cultas com a lírica popular antiga
aplicar-se-ia apenas à menor parte dos casos. Elas seriam com maior ou
menor liberdade imitadas daquelas, mas dificilmente teriam sido ouvidas
da própria boca do povo.
Como se explica, então, que a cantiga de mulher galego-portugue-
sa, ao lado de uma série de formas mais tarde desenvolvidas da lírica culta,
como por exemplo as pastorelas LXX de Denis e V. 689, mostre, no fundo,
um caráter muito mais antigo, muito mais puro de concepções palacianas
do que as formas poéticas similares dos franceses e italianos320?
319
Compare-se ao refrão de V. 462 e 761 (= nº. III de CAP.): “E quen for velida come nos, velidas,
Se amigo amar . . . . Verrá baylar” e a V. 888 (serrana) “Quantas sabedes amar amigo, Treydes
comig’ a lo mar de Vigo” etc., refrões franceses como Motets I, 151: “Tuit cil qui sunt enamourat
Vignent dançar, li autre non”; Ch de St.-Gilles: “Espringuiez et balez liement Vos qui ames par
amors léaument”. Cf. Jeanroy, pp. 394-5; G. Paris, Origines, p. 51.
320
Esse importante traço da lírica culta portuguesa é admitido com frequência por Jeanroy. Cf., em
particular, pp. 156-7, 173, 334-5, 417, 444.
121
321
Esses e outros equívocos do criterioso e perspicaz professor de Toulouse são com certeza atribuí-
dos, na maior parte, à lamentável circunstância de que ele se serviu da edição de Braga do Can-
cioneiro da Vaticana, nada confiável em todos os aspectos. Assim, Jeanroy encontra no texto de
Braga (V. 312) o verbo couorecer, erro ortográfico do copista por guarecer ou gorecer (vid. GZ.
XVI, pp. 219-220), e erroneamente deriva esta palavra, totalmente sem sentido, do francês
cuer – coração.
122
322
Rom. II, p. 265.
323
Vid. a passagem acima referida e p. XV, 125, 338.
123
único modelo digno de ser imitado. Assim, pois, também os magnatas por-
tugueses na corte da rainha-mãe Blanca de Castela ter-se-ão empenhado
em apropriar-se não dos ultrapassados gêneros de cantigas, mas do mais
recente gosto que ali imperava.
Quem, portanto, quiser atribuir à cantiga de mulher galego-portu-
guesa uma origem inteiramente estrangeira, apesar de seu distinto caráter
arcaico, deve supor que da França ela se tenha infiltrado na Galiza e em
Portugal com os dois condes borgonheses Raimundo e Henrique, se não já
antes, e aqui, talvez por meio de jograis estrangeiros e galegos, tenha expe-
rimentado desenvolvimento próprio e conservado certos traços locais,
enquanto o tipo de pastorela palaciana e outras formas mais novas devem
naturalmente ser atribuídas às posteriores relações literárias da lírica culta.
De fato, conforme já foi observado na primeira parte desta Introdu-
ção, seria um milagre se a poderosa influência da França sobre a vida
intelectual portuguesa, causada pelas peregrinações a Santiago e pela dinas-
tia borgonhesa, não tivesse atuado também, estimulando-o e enriquecendo-o,
sobre o desenvolvimento da poesia popular local, à qual o próprio Jeanroy
parece conceder uma certa existência, ainda que anêmica e sem força324. Des-
se modo, poder-se-ia esclarecer, por exemplo, o aparecimento das albas
monológicas325 e das pastorelas antigas, também próximas do monólogo326,
no Cancioneiro da Vaticana. Na verdade, não seria nada improvável que, no
essencial, a lírica culta a nós transmitida se baseasse inteiramente em um
remoto empréstimo do país vizinho, rico em cultura e em cantigas.
Todavia, esta última hipótese não nos parece a correta.
Apesar de algumas surpreendentes coincidências entre a cantiga
feminina galego-portuguesa e a francesa, em primeiro lugar não se tem o
direito, sem motivos irrefutáveis, de explicar aquela como uma simples
imitação desta327; e tais motivos ainda não foram apresentados por nin-
guém. Mas em seguida se pergunta se essa semelhança, a um exame mais
preciso, se mostra tão grande, de forma a demonstrar a substancial igualda-
de do caráter e da origem da cantiga d’amigo e das formas da cantiga de
mulher em francês antigo que nos foram conservadas ou conhecidas a par-
tir dos refrões.
324
Vid. pp. 326-7.
325
V. 244, 771-2, 782. – Contudo, a alba em Portugal devia ser tão antiga como na Itália. Cf., a
propósito, Crescini, Per gli studi romanzi, pp. 163-8.
326
G. Paris parece ser de outra opinião, quando diz (Origines, p. 27): “Je suis bien d’avis, avec
M. Jeanroy, qu’il faut leur chercher un point de départ unique, car on n’invente pas deux fois une
forme aussi spéciale (qui, sauf quelques vagues imitations italiennes et les productions allemandes,
postérieures et bien transformées, de l’école de Nithard, ne se retrouve pas à l’étranger)”.
327
Jeanroy, 230, 231 (nota), 327, 338 e passim.
124
328
Vid. G. Paris, Origines 3, 12-15, 41-49. – Da mesma forma na cantiga feminina italiana, por
exemplo, Nannucci I, 198, e na alemã. Cf. Zeitschrift für deutsches Altert. XXIX, p. 193 etc.
329
Nas duas cantigas V. 462 e 761 (atribuídas a autores distintos, mas quase literalmente idênticas),
que parecem constituir uma exceção, pode-se supor, conforme foi mostrado na nota 319 acima,
uma imitação direta de modelos franceses. – Como único exemplo adicional, poder-se-ia consi-
derar a referência ao tempo da primavera em uma pastorela de nosso rei (LVII).
330
Como testemunho antigo disso, a seguinte resolução de um concílio em Braga, no primeiro de
maio de 958, é citada por J. Leite de Vasconcelos, em Tradições pop. de Portugal, p. 104: “Non
liceat iniquas observationes agere kalendarum, et otiis vacare gentilibus; neque lauro, aut viriditate
cingere domos. Omnis haec observatio paganismi est” (Collect. Concil. Hispan. Madrid 1603,
cap. 73). Conforme Milá y Fontanals, La poesia popular gallega (em Rom. VI, pp. 47-75), a festa
das maias ainda se manteve na Galiza. O nº. 131 da mesma obra é uma espécie de cantiga religi-
osa de maio que, com sua referência à Santa Virgem, lembra de modo significativo a cantiga de
maio anteriormente referida de Afonso, o Sábio, CM., p. 599.
331
G. Paris diz o seguinte da alba, Origines, p. 34: “Ce n’est, à vrai dire, qu’une variante d’un genre
plus étendu et plus réprésenté, qu’on peut appeler la ‘chanson de séparation’, qui exprime la
douleur de deux amants obligés de se quitter. On voit tout de suite que ces chansons, par leur
charactère même, ne peuvent guère avoir, comme les autres, leur origine dans des fêtes publiques
et des réunions joyeuses. Elles sont, en outre, beaucoup plus personnelles”.
332
Jeanroy, pp. 151-8; G. Paris, pp. 51-56.
333
Isso é admitido também por Jeanroy, quando diz, aliás em total desacordo com suas outras decla-
rações sobre a relação de dependência da lírica culta portuguesa com a poesia popular (p. 153):
“Dans les pays où la poésie populaire s’est trouvée plus à l’abri des influences littéraires, les
chansons de mal mariées sont rares . . .” Não vale isso kat’ ™xoch/n [em especial] para Portugal,
125
de cuja lírica se diz mais adiante, p. 158: “Dans la poésie portugaise . . . nous ne trouvons plus
aucune trace de l’amour illégitime; toutes les femmes mises en scène sont des jeunes filles”.
334
Torna-se pouco provável, especialmente considerando as cantigas d’escarnho e de maldizer que
nos foram transmitidas, que os portugueses tivessem tomado emprestado ou imitado dos france-
ses esse tema, como pensa Jeanroy, por especial interesse em sua antiguidade, de preferência ao
então muito mais apreciado tema da mulher infiel ao marido.
335
Os portugueses nada têm de semelhante que se equipare às chansons de toile. Contudo, uma
graciosa cantiga de Estevam Coelho (V. 321) lembra-as, pelo menos na medida em que nela uma
jovem está sentada junto à roca e, cantando, entrega-se ao trabalho.
336
G. Paris, Origines, p. 8 ss.
337
O refrão de V. 227: “E mha soberbha mho tolheu, que fiz o que m’el defendeu, . . .” lembra
bastante, como Jeanroy (320) já destacou, um verso do nº. XXII: “Lasse, com mar fui ains de
mere nee! Par mon orguel ai mon ami perdu!”
338
Vid. pp. 216, 282, 321, 335.
126
339
Vid., em particular, pp. 321-2.
340
Ibid.
341
Assim, por exemplo, V. 796, onde, aliás, a conexão entre o refrão e o tema principal não está bem
clara: “Fostes, filha, e-no baylar, E ronpestes hi o brial Poys o namorado y uen Esta fonte seguide a
ben Poys o namorado y uen”. – Jeanroy, que (p. 205) oferece quadros semelhantes na moderna canção
popular da França, traduz brial incorretamente como manto, ao invés de saia, pois naquela época
brial significava, como ainda hoje, uma saia feminina de seda. Cf. V. 947: “Que lhi no ianeyro talhou
Brial e lho manto leuou”. – Também no francês antigo blialt já refere, entre outros, uma roupa interior
de seda, como, por exemplo, na Rolandslied 303: “E est remes en sun blialt de palie”.
127
342
GZ XVI, 431. – Ali se esclarece ainda o jogo de palavras existente em botas. – Cf. uma cantiga
similar em J. Leite de Vasconcelos, Poesia amorosa. Lisboa, 1890, p. 51.
343
Vid. p. 322.
344
pp. 216, 322.
345
O próprio Jeanroy admite, nas seguintes palavras (p. 282), que a cantiga d’amigo não é culpada
da nebulosidade de traços que, realmente, deveria existir como indício de imitação de modelos
estrangeiros: “Que l’on compare, à ce point de vue, la poésie allemande et la poésie portugaise,
par exemple, on sera frappé de la différence. Ici tout est déterminé; ce sont deux amants qui
échangent leurs vœux, un jeune homme qui part pour l’armée, une fille qui gémit d’être abandonnée
ou jure de se venger; une situation suffit à une pièce; les contours sont nets, les lignes arrêtées. Là
au contraire, si, à l’origine, les thèmes ont quelque précision, ils la perdent de plus en plus; nous
ne savons, par exemple, si la femme qui parle est réellement abandonnée pour une autre ou si elle
craint seulement de l’être . . . Ailleurs, comme si un seul thème ne fournissait pas assez de
matière, plusieurs sont confondus dans la même pièce”.
128
346
Não se fala aqui, obviamente, das variações do tema tradicional pelos poetas cultos.
347
Jeanroy, p. 407.
348
O documento mais antigo de que temos conhecimento nesse dialeto data do ano de 1207, prove-
niente de Lugo (España Sagr. XLI, p.356); um pouco mais antigos são dois documentos portu-
gueses anteriores que nos chegaram, do tempo de Sancho I, um deles de 1192. Vid. Coelho,
Língua portug., pp. 128-131.
129
349
Obras posthumas Del Rmo. P. M. Fr. Martin Sarmiento, vol. I. Memorias para la historia de la
poesia. Madrid, MDCCLXXV, pp. 148-252.
350
Studien, p. 690 ss.; Proben, p. 24 ss.
351
Trovadores, pp. 521-536; Poesia popular gallega, em Rom. VI, pp. 47-75.
352
CAP, pp. IX–XII.
353
Cancioneiro da Vaticana; Poesia popular da Galliza em Rivista di filol. rom. II (1875),
pp. 129-143.
354
Antiga poesia pop. portug. em Annuario I, Porto, 1882, pp. 19-24.
355
Romanc. Gen.2 I, p. LXVI.
356
Die Romanzen Asturiens em Jahrbuch 3, pp. 268-296.
357
Schack, Geschichte der dram. Lit. in Spanien I, pp. 74-5.
358
Schack, ibid. – Concil. Tolet. a. d. 589: Exterminanda omnino est irreligiosa consuetudo quam
vulgus per sanctorum solemnitates agere consuevit; ut populi, qui debent officia divina attendere,
saltationibus et turpibus invigilent canticis. Sacrorum Conciliorum Collectio. Ed. P. J. D. Mansi.
Florentiae 1759-1798. vol. IX, p. 999.
359
Schack, loc. cit., p. 110.
360
Vid. Ptolemaei Geogr. I. II, 6; Strabonis Geogr. I. III, 3, 3 e 7; Plinii Hist. Nat. I. IV, 21-22;
Hercul. III, 189.
361
Sacr. Concil. collectionis vol. IX, p. 778.
130
362
Ibid., p. 857.
363
Ibid., p. 855.
364
Ibid., p. 995.
365
España Sagrada, vol. XX, p.112; cf. ibid., p. 121.
366
Loc. cit., p. 121.
367
Loc. cit., p. 224.
368
Loc. cit., p. 330 et passim.
369
Loc. cit., p. 211. Cf., ainda, ibid., pp. 112, 121 e XXI, p. 377.
131
370
Schack, loc. cit., pp. 112-116.
371
Cf. Braga, Revista lusit. I, pp. 22-23.
372
Cf. Sarmiento, loc. cit., p. 273; CM vol. I, Introducción, p. 17.
373
Wolf, Studien, pp. 436-7.
132
374
Em uma das suas cantigas (CM. 377), Afonso refere elogiosamente um de seus pintores, Pedro
Lorenzo, preferido a todos os outros. – Sobre essa arte espanhola, diz P. Meyer, loc. cit.,
Introducción, p. 47: “Les miniatures des Cantigas attestent l’influence de l’art français, mais on
ne peut aller plus loin. Les figures orientales, qui sont très bien traitées (cantiga CLXIX), indiquent
que l’artiste était capable d’une conception originale, car assurément ces figures ne sont pas
imitées d’un modèle français”.
375
Citado por J. Leite de Vasconcelos, Annuario, p. 19.
376
Logo em seguida canta o mesmo Lopo, exortado a cantar à maneira de Sandoal (localidade
pertencente ao bispado da Guarda), uma cantiga de construção bem semelhante à balada do
português arcaico. Cf. J. Leite de V., Revista lusit. I, p. 242.
133
377
Complementada conforme CXVI de nossa coletânea.
378
Também o admite Jeanroy, que considerou aqui, igualmente, todas as formas líricas como em-
prestadas da poesia francesa (pp. 330-334).
379
Cf. Afonso X, CM. 216, 4; 277, 4; 325, 9.
134
Na ribeirinha, ribeira
naquella ribeira,
(idem)
Anda lá um peixinho vivo,
naquella ribeira.
(repetir os dois primeiros versos)
Anda lá um peixinho bravo
naquella ribeira.
(idem)
Vamo-lo caçar, meu amigo,
Or’ lá na ribeira.
(idem)
Vamo-lo caçar, meu amado,
Or’ lá na ribeira.
(idem)
Comeremo-lo cosido,
or’ lá na ribeira.
(idem)
Comeremo-lo assado,
or’ lá na ribeira.
Etc...
380
Annuario das tradições populares portuguezas, 1883, pp. 19-24.
381
Durán, Romanc. Gen.2 I, p. LXVI; Wolf, Studien, p. 740.
135
382
Cf. Durán, loc .cit.; A. de los Rios, Jahrb. 3, p. 274: “Cantados en efecto al compás de la danza
prima, cuya antigüedad se remonta à los más lejanos siglos, y cuya índole guerrera revelan toda-
via las enhiestas pértigas de que aparecen armados lon danzadores, y el belicoso grito de Ijujú...”
383
Cf. ibid., p. 289.
136
384
Os últimos quatro versos segundo a versão de A. de los Rios, loc.cit.
385
Cf. J. Leite de V., Revista lusit. I, 241-2.
386
Vid. nota a XXXVI.
387
J. Leite de V., Annuario, p. 21; Dialect. algarv., p. 15.
137
típicas, como nas cantigas d’amigo do século XIII388. Ainda nele, tanto
quanto na canção popular atual, reencontramos os mesmos antigos usos e
concepções que se nos deparam nas cantigas femininas galego-portugue-
sas e que nos são conhecidos, através de outros documentos, como
testemunho da tradição portuguesa. Poucos exemplos devem aqui bastar.
Em V. 505, queixa-se uma donzela abandonada:
388
No que respeita a fallar, de que aqui tantas vezes se trata, deve-se observar que esta palavra,
inclusive na linguagem popular de hoje, significa “ter relação amorosa” (cf. Revista lusit. II,
p. 257), sentido que também lhe era próprio em tempo mais recuado. Assim está, por exemplo,
no romance de Sylvana (Hardung, Romanc. I, p. 139): “Eu não sou D. Sylvana, Sou a mãi que a
paria; Emquanto fallei comtigo, Oh D. Pedro de Castilla, Eu era mulher honrada, Não era mulher
vadia”. – Cf. ibid., p. 135; Braga, Cantos pop. açorian., pp. 194, 198. – V. 782: “Aquestas noytes
tan longas...Porque as [Deus] non fazia No tempo que meu amigo Soya falar comigo”
(cf. V. 415). No Minho e no Douro, os enamorados chamam-se conversados e a relação amorosa,
conversa (J. Leite de V., Trad. popul. de Portugal, pp. 211-212). Entre as mulheres açorianas,
conhecer tem o conceito próximo de “ter relação ilícita” (Revista lusit. II, p. 53).
389
Cf. ainda V. 794, 981.
390
Grimm, Deutsche Rechtsaltertümer, p. 443.
391
Cf., ainda, Braga, Cancioneiro pop., p. 86; Revista lusit. II, 6, nº. 3. – Exemplos do cancioneiro
popular alemão, por exemplo, em Tobler, Schweiz. Volkslieder I, p. 143.
138
392
J. Leite de V., Trad. pop., pp. 215-7.
393
Lang, Trad. pop. açorian., em GZ. XIII, p. 417.
394
Cf., a respeito do culto às árvores e outros, em Portugal, F. A. Coelho, em Ethnol., pp. 74-82;
J. Leite de V., Trad. pop., pp. 66-8, 111-112.
395
Cf., por exemplo, V. 341-2, 336, 734-750, 857-860.
396
Por exemplo, V. 429, 806, 880.
397
Não sabemos onde se encontra o nome cantos de ledino, que, segundo Braga (Rivista di Filol.
romanza, 1873, p. 143), deve ter-se atribuído a cantigas semelhantes no século XVI e com o qual
Monaci editou uma coletânea (Halle 1875). A correção desse nome não parece isenta de qualquer
dúvida, e poder-se-ia ser tentado a considerá-lo, conforme também disse o senhor J. Leite de
Vasconcelos, como mera leitura equivocada de cantos dele dino (= d’ele digno). [Nas obras de
Cristóvão Falcão, recentemente publicadas por Epifânio Dias, onde se encontram estas palavras,
139
El mozo y la moza
Van en romaria:
Tómales la noche
Naquella montina:
Cuitado
Quien me ahora ca mi sayo.
Tomales la noche
Naquella montina,
La moza cantaba,
El mozo decia:
Cuitado etc.
trata-se, de fato, de acordo com duas variantes (A e C), de: Cantar cantou d’elle dino, o que
também corresponde, totalmente, ao sentido da passagem. Com isso, o nome canto de ledino é
posto de lado de uma vez por todas. Cf. o editor sobra esta passagem, ibid., p. 102. (C. e A.)]
398
Novamente, é digno de nota, nessas cantigas, que cada poeta tenha tratado de um determinado
local de peregrinação, talvez aquele de sua terra natal: S. Cecília V. 876-881, S. Clemenço 806-
808, S. Fagundo 1090-91, S. Leuter 857-860, S. Maria das Leiras 341-2, de Leça 891-2, do Lago
893 (Fernam do Lago), S. Momede 873-5, S. Servando 734-750 (Joham Servando). Cf, porém,
Santiago 265, 429, S. Simon 336, 438, de diferentes autores.
399
Annuario 26-7: “O caracter mais interessante do santo, segundo a voz do povo, é, porém, outro;
consiste nas suas relações evidentes com os vestigios de antigos cultos phallicos, como succede
tambem com as tradições de São João e de São Gonsalo. Santo Antonio quebra as bilhas ás
raparigas e, depois de as ralar muito, concerta-as”. – Cf. Braga, Cancion. pop., pp. 158-160.
140
V. 807: Ca se el m’adussesse
O que me faz penad’andar,
Nunca tantos estadaes403
arderam ant’o seu altar.
Nem mh’aduz meu amigo,
pero lho rogu’e lho digo.
.........................................
Porend’ arderá, vos digo,
ant’el lume de bogia.
400
Annuario, p. 23. – Cf. as coplas galegas em Rom. VI, pp. 62-4. Um entrelaçamento bastante
parecido do refrão na estrofe já se encontra em Afonso X, por exemplo, CM. 143, 279, 308.
401
Cf. ibid.: “Elle é advogado dos casamentos das raparigas, e quando não se digna protege-las,
mettem-no num poço ou partem-no em pedaços” (Lisboa). Vê-se o mesmo costume no Algarve
etc. – J. Leite de Vasconcelos, Trad. Pop. 67, introduz passagens das Constituições dos bispados,
como por exemplo: “Nem levem as Imagens dalguns santos acerca d’agoa, fingindo que os que-
rem lançar em ella: e tomando fiadores: que se até certo tempo ho dicto santo lhes nom der agoa
ou outra cousa que pedem que lançaram a dicta imagem na agoa”.
402
Annuario 27, onde há ainda mais exemplos.
403
Não estandal, como Monaci quer ler em Canc. Vat. 437. A palavra estadal = cirio, hacha, lumbrera
encontra-se amiúde nos poetas do século XIII. Cf., por exemplo, Afonso X, CM. 8, 114, 229 e,
outras vezes, Berceo, S. Dom. de Silos, p. 353, S. Millan, p. 361.
141
404
Figurada, por exemplo, é a expressão para as perigosas consequências de um baile, V. 796: “Fostes,
filha, e-no baylar E ronpestes hy o brial”. Cf. em Jeanroy (p. 205) exemplos das modernas canti-
gas populares francesas.
405
La poesia popular gallega, em Rom. VI, p. 56.
406
Ibid., pp. 51, 56.
407
CAP., p. X.
142
408
CB. cap. V-VI. – Em determinada passagem das Siete Partidas, mencionada por Milá y Fontanals,
Trob., p. 542, temos: “… Cantigas ó rimos ó deytados malos de los que han sabor de infamar.
Esto fazen á las vegadas paladinamente ó á las vegadas encubiertamente, echando aquellos escri-
tos malos en las casas de los grandes señores, ó en las eglesias ó en las plaças comunales de las
villas, porque cada uno los pueda leer ... non sea osado de cantar cantigas ni decir rimas ni
dictados que fuesen fechos por deshonra”. Aqui, contudo, as palavras paladinamente e
encubiertamente referem-se provavelmente apenas ao uso secreto ou aberto que se fazia destas
cantigas, não ao seu conteúdo.
409
Deve-se talvez ler d’arteiro. Cf. Elucidário s. v. arteiro.
410
Nada de melhor temos a oferecer em lugar dessa leitura nitidamente errônea de Monaci para a
risaoelha do texto.
411
Cf. PMH. LC. I, p. 214.
412
Cf. ibid., pp. 284 e 341: “matoua por maldizer”.
143
Todo vizinho ou vizinha que dixer mal a seu vizinho, ou a sa vizinha, falsso,
ou aleyvoso, ou o nome castellao, ou puta, ou cegoonha, ou mulher boa...
peyte ao ome 5 m ...
Os galegos e portugueses tinham um olhar aguçado para peculiari-
dades pessoais, que se dão a conhecer, como nos romanos antigos413, dentre
outras coisas, nos numerosos sobrenomes encontrados nos documentos.
Assim, por exemplo, PMH. Script I, 165: Fernão Rodrigues Cabeça de
vaca; Dona Gontinha Soares Carnesmás; 211: Ayras Perez que chamarom
por sobrenome Ferpas de Burel; 287: D. Affonso Ramires Gramdeamor;
333: Affonso Rodrigues o escaldado porque tinha poucas barbas, e muitos
outros. Também ainda hoje o povo prefere usar alcunhas precisas em vez
do nome de família414.
A sobrevivência dessa veia satírica entre os atuais habitantes da
Galiza e de Portugal expressa-se nos gêneros líricos dos desafios e arrufos
e é reconhecida por M. Milá y Fontanals, quando diz sobre o caráter gale-
go: “Algo muelle, pero apacible y bondadoso, sin que deje de ofrecer, acaso
más de lo que se creyera, propensiones satíricas”415. As estrofes de caráter
satírico são denominadas pelos galegos tiradillas para escarnir ou sim-
plesmente tiradillas416.
Pode-se aplicar com total exatidão às cantigas d’escarnho e de
maldizer de nossos cancioneiros a excelente caracterização que Wolf
(Studien, p. 201) deu do gênero de poesia análogo da lírica culta castelhana
do século XV: “É de supor que entre os cortesãos não faltasse médisance,
sob o vatum irritabile genus, nem a inveja e os atritos pessoais, e por isso a
rubrica cantiga insultuosa não é a menos adequada. Todavia, é igualmente
natural que neste gênero, que faz da revelação de deficiências pessoais, do
flagelo da realidade ordinária o alvo de sua zombaria rancorosa e deleite
maldoso, e que somente numa cultura muitíssimo avançada não desce ao
pasquim e à obscenidade, se mostrem a rudeza e a brutalidade daquela
época no mais intenso contraste com o idealismo convencional”.
Entre os poetas galego-portugueses destacam-se principalmente
Afonso o Sábio, Martin Soarez, Joham Soarez Coelho, Gil Perez Conde,
Affons’Eanes do Cotom, Joham Vasquez e Estevam da Guarda, pelo nú-
mero e relevância de suas cantigas de maldizer e escárnio, nas quais se nos
413
Cf. Teuffel, Geschichte der lat. Litt., p.3.
414
Cf. J. Leite de V., Revista lusit. I, p. 147; Lang, GZ. XIII, pp. 427-8.
415
Rom. VI, p. 56. Cf. J. Leite de V., Trad. pop., p. 248; Revista lusit. I, pp. 176-7; Braga, Canc.
pop., p. 34.
416
Rom. VI, p. 48.
144
revela um quadro tão vivo das relações sociais e dos costumes no oeste da
Península Hispânica.
As cantigas do rei Denis diferenciam-se das desses poetas em mais
de um aspecto. Enquanto, por exemplo, o erudito soberano castelhano ora
se dirige com malicioso escárnio contra um companheiro de arte (por exem-
plo, V.70), ora descarrega sua cólera sobre um vassalo infiel, como na
ricamente colorida e vigorosa cantiga V.79, ou, segundo o costume da épo-
ca, também traz o escandaloso para ser censurado, no trono de Portugal o
seu neto parece ter julgado abaixo da sua dignidade colocar sua musa a
serviço de contendas apaixonadas e difamatórias ou de reflexões licencio-
sas. Denis absolutamente não se ocupa de assuntos mais sérios, de
acontecimentos mais importantes ou de circunstâncias de sua época e de
seu país. Em seus poemas ele zomba, de forma inocente e às vezes polida,
de defeitos pessoais alheios e outros males. Das pessoas que nos apresenta,
conhecemos apenas uma, seu fiel meirinho-mor e favorito Joham Simhom.
Por causa de suas expressões ambíguas, ambas as cantigas CXXXVI e
CXXXVII devem ser designadas como cantigas d’escarnho.
O prenome Melion, que aparece em dois poemas (CXXIX e
CXXX), o rei deve tê-lo retirado de saga bretã417. Considerando-se que as
frequentes alusões (mencionadas na nota a XXXVI) dos trovadores à ma-
téria bretã, especialmente os cinco lais 418 que abrem o códice
Colocci-Brancuti, com suas rubricas explicativas, e a cantiga Leonoreta
Fin Roseta de Joham Lobeira, CB. 230419, que se encontra também no
Amadis de Gaula, pressupõem uma significativa familiaridade da socieda-
de portuguesa do século XIII com as antigas adaptações francesas de sagas
bretãs, não é de admirar que, já naquela época, aflorasse o costume de se
utilizarem nomes bretões como nomes de batismo, um costume que gozou
de grande popularidade em Portugal no século XV420 e que pode ser visto
na Itália já no século XII421.
O pouco que, além disso, conseguimos averiguar sobre o conteúdo
dessas cantigas está indicado nas notas. Por causa da total escassez de rela-
ções mais minuciosas que caracteriza as cantigas satíricas de nosso rei,
417
Cf. o lai épico de Melion, GZ. VI, p. 94.
418
Digna de nota é a concordância dos versos iniciais do primeiro lai (CB. 1): “Amor, des que m’a
vos cheguey Bem me posso de vos loar” e de V. 476 “Amor, de vos bem me posso loar De qual
senhor mi fazedes amar ...” com o início de uma cantiga de P. Cardinal (Choix III, p. 438): “Ar mi
puesc eu lauzar d’amor”.
419
Vid. C Michaëlis de V., GZ. IV, pp. 347-351.
420
Cf. Braga, Curso de Historia da Litt. port., p. 145.
421
Rajna, Rom. XVII, pp. 161-185.
145
pode-se determinar a data da sua composição com tão pouca precisão como
a das cantigas de amor. Conforme indicado na nota a CXXXIV, pode-se
supor, considerando-se as palavras en cas d’el rei, que esta, bem como a
cantiga seguinte, tenham surgido nos anos 1277-1279, quando o infante
Denis mantinha corte própria422. CXXXVIII não pode ser posterior a 1316,
uma vez que Joham Simhom morreu nesse ano423.
B. A FORMA
No início desta introdução (pp. 62-64), já se tratou da importância e
da provável data da poética portuguesa antiga, que abre o cancioneiro Colocci-
Brancuti. Como fonte mais substancial e mais confiável para nosso
conhecimento da terminologia, mas principalmente da doutrina do verso, da
estrofe e da rima da lírica galego-portuguesa, devem ser consideradas, na
verdade, as obras dessa mesma escola. Em alguns casos, também fornecem
preciosa informação as rubricas e as explicações acrescidas a certos poemas
e, sobre a música, especialmente as vinhetas do manuscrito da Ajuda424.
Aqui salientamos, na medida em que não o fizemos antes, genera-
lidades, e reservamos para as respectivas secções a referência a detalhes
específicos.
Aquele que, nobre ou não, era um poeta culto bem formado, isto é,
que sabia poetar e compor cantigas com perfeição e, por isso, vivia como
poeta independente, chamava-se trobador425. O escudeiro que perambulava
a cavalo426, que compunha cantigas do tipo artístico como o trovador427 ou
que também se ocupava da profissão de menestrel (jograria)428, mas que
exercia sua arte como profissão e aceitava presentes429, era denominado se-
grel430. Segundo a resposta, atribuída a Afonso o Sábio, à conhecida súplica
de Guiraut Riquier sobre o fato de os poetas cultos na Espanha portarem o
nome segriers431, é evidente que essa expressão, apenas por efeito da influência
422
Mon. lusit. V, p. 25.
423
Ibid., VI, p. 235.
424
Compare-se a isto o que diz Carolina Michaëlis de Vasconcelos, em seu admirável trabalho re-
centemente publicado (Grundriss II, 129 ss.) sobre a literatura portuguesa.
425
Cf. V. 68, 70, 965, 1010-16, 1020-22, 1024, 1032, 1034, 1092, 1104, 1184.
426
V. 556 e nota 90.
427
V. 1021: “Como segrel que diga mui ben ues En canções e cobras e serventes”.
428
CB. 116 23, 387, 388.
429
Cf. nota 3 e CB. 387.
430
Cf. ainda V. 663, 1086, 1175.
431
Na assim denominada Declaratio de Afonso o Sábio para G. Riquier (Diez. PT.2 p. 303), temos:
“E ditz als trobadors Segriers per totas cortz”.
146
provençal perdeu seu conceito nobre, sendo suplantada pelo termo trobador.
Quem fazia da arte poética uma profissão, principalmente declamando as
cantigas dos trovadores, ou na comitiva destes ou na corte dos fidalgos, em
troca de recompensa, era um jograr432. O segrel e o jograr coincidiam433 pelo
fato de ambos serem poetas profissionais assalariados. Compor ou encon-
trar uma cantiga chama-se trobar (por exemplo, V. 1022, T. e C. 240); compor
a melodia, fazer o som ou ensoar (por exemplo, V. 1160, 1170); fazer ten-
ções, entençar (V. 1010, 1104); compor uma cantiga à maneira de uma
outra, seguir (V. 1007, 1033, CB. p. 5, c. 9); cantar, cantar e dizer (por
exemplo, V. 321, CB. 13, 116). A canção é cantiga434 ou, como no proven-
çal, cantar; uma vez cada, encontramos canção (V. 1021), troba (V. 387,
rubrica) e trobar (V. 917); a melodia chama-se som (por exemplo, 949,
965, 971, 1007). Sobre a divisão das cantigas em cantigas de maestria e
cantigas de refram (CB. p. 3, c. 5), fala-se mais adiante. Ao lado das can-
tigas d’amor e das cantigas d’amigo, bem como das cantigas de escárnio e
das cantigas de maldizer, de que já falamos anteriormente, figuram ainda,
como tipos especiais de poesia, a cantiga de vilão (V. 1043, CB. p. 3, c. 8);
o seguir (CB. p. 4, c. 9); a tenção, tençom (CB. p. 3, c. 7) ou entençom
(V. 1021-2); o serventes (V.1021); o descordo435; o lais (V.1147, CB.1-5);
uma gesta de maldizer (V.1080) e muitos outros, para os quais não se trans-
mitiu nenhum nome. A estrofe é denominada cobra (por exemplo, V. 1170)
ou talho (CB. p. 4, c. 9); o verso, palavra (ibid.), uma vez também ves
(V. 1021) e vesso (V. 1088)436. O estribilho chama-se refram (CB. p. 3,
c. 5); a coda, fiinda (ibid., p. 4, c. 3). A lírica culta portuguesa não conhece
o envoi dos trovadores provençais. O caderno de cantigas denominava-se
caderno (V. 1116). O principal instrumento de que os cantores se serviam
432
Cf. V. 691-700, 1021, 1105-7, 1117, 1179, CB. 387-8. – As Siete Partidas (VII. Part. tit. 6, lei 4)
distinguem entre juglares, como bufões vulgares, e honrados menestréis, dizendo-se destes últi-
mos: Mas los que tañeren estrumentos ó cantaren por facer solaz á si mesmos, ó dar solaz á los
reyes ó á los otros señores, no serian por ende enfamados.
433
Esses nomes também aparecem frequentemente como sinônimos, por exemplo, CB. 116, 387-8.
– Em Gonçalo de Berceo, joglar é ainda sinônimo de trobador; cf. San. Dom. 318, 775; Loores
de Berceo 23; Libro de Alex. 1.
434
Milá y Fontanals (Romania VI, p. 57) já apontou que cantiga, como vocábulo autóctone, tem no
galego a tônica na penúltima sílaba. Em nossos cancioneiros, não dispomos de nenhuma passa-
gem em que esta acentuação seja comprovada pela rima, mas sim nas obras de Gil Vicente (por
exemplo II, 52, III, 240) e no Canc. Res. (por exemplo I, 22, 54), em que a palavra rima com
fadiga, diga. – Cf. C. M. de Vasconcelos, loc. cit., p. 195.
435
V. 481, 963, CB. 109, 362. – C. M. de Vasconcelos cita reiteradamente descort como expressão
portuguesa e refere, para isso, CB. 109. Entretanto, o que realmente se diz ali é: “e meu descor da
cabarei”. Deve-se ler, portanto, descordo, conforme já haviam dito os italianos (assim, por exem-
plo, Gaspary, Storia della Lett. ital. I, 58); descort não seria, aliás, uma forma portuguesa.
436
Em Afonso X, CM. 284, 288, ao contrário, vesso significa uma cantiga, como em provençal.
Cf. Diez, PT.2 89-94.
147
era a giga [Geige], citola ou citolom (V. 971-3, 1104-7), tocar a giga era
citolar (ibid.). Além disso, menciona-se ainda em nossos cancioneiros
somente uma espécie de tamborim, o adufe (V. 883 o adufe tanger, so-
nar)437.
Trataremos primeiramente do verso.
O trocaico de cinco sílabas ou verso redondilho menor, como já ob-
servou Diez (KuHp. 38), apenas raramente se acha utilizado na cantiga culta.
Denis vale-se dele no refrão de um poema em estilo culto, LVI;
nas Trovas, ele comparece à página 393, ligado a decassílabos jâmbicos; e
também Afonso o Sábio, em suas cantigas marianas, mistura-o a versos
mais longos, como por exemplo em CM. 9, ao decassílabo trocaico. Além
disso, Denis usa-o apenas em CXVI, uma cantiga de caráter popular.
Ao contrário, o verso de sete sílabas ou redondilho maior é geralmente
o metro preferido da poesia hispânica, também da cantiga culta. Ele aparece
frequentemente inclusive na lírica francesa do norte e do sul. Denis utiliza-o
em 19 poemas, dos quais três com terminação exclusivamente masculina.
Não raro, ocorre nos cancioneiros um verso feminino de dez síla-
bas, com o acento na nona, o qual se mistura facilmente com decassílabos
jâmbicos de terminação masculina438. O acento interno está geralmente so-
bre a quarta sílaba, mas recai muitas vezes sobre a terceira ou a quinta.
Nosso rei empregou esse verso em sete cantigas (XXVI, LVI,
LXXXV, CIII, CIX, CXIX, CXXXVIII). Diez tratou-o (KuHp., pp. 47-49),
embora com reservas, como decassílabo trocaico. Todavia, ele deve ser
considerado antes como eneassílabo trocaico, pelas seguintes razões:
Ao lado do verso com terminação feminina, encontramos nos can-
cioneiros também um com rima masculina, como por exemplo V. 229:
ou V. 317:
437
Com relação a outros instrumentos desenhados nas vinhetas do manuscrito da Ajuda, vid. C. M.
de Vasconcelos, loc. cit., p. 202.
438
T. e C. 77, 78, 119, 120, 180, 184, 219; CB. 319, 389, 391; V. 262, 264, 269, 323, 325, 354, 363,
377, 402, 407, 416, 429, 435, 452, 489 etc.
148
ou femininos:
439
Cf. ainda CM. 109, 120, 255.
149
440
Cf. Bartsch. loc. cit., p. 380.
441
Cf. Bartsch, loc. cit.
442
Ibid., p. 50, Milá y Fontanals refere-se a um artigo na Revista historica latina II, 182, onde ele
atesta a existência de um hendecassílabo e de um decassílabo (respectivamente, decassílabo e
150
De acordo com isso, pode-se talvez aceitar que a lírica culta portu-
guesa derivou seu eneassílabo da cantiga popular.
Não tão frequente em nossos cancioneiros, mas igualmente apre-
ciado, é o decassílabo com a quinta sílaba acentuada, o assim denominado
verso de arte mayor, cujos hemistíquios, conforme sejam masculinos ou
femininos, têm cinco ou seis sílabas.
Bom exemplo disso oferece V. 321, uma cantiga de tom popular:
eneassílado) de movimento anapéstico na lírica popular galega. Sobre isso, cf. Romania IV,
p. 508.
443
Da mesma forma são construídos V. 722, 741, 742, 902.
444
Por exemplo, CM. 9, 65, 79, 82, 114, 145 etc.
151
445
Na lírica francesa também ocorre tal alternância de ambos os tipos de versos. Cf. Bartsch, Altfrz.
Rom. II, p. 62 e GZ. III, p. 371.
446
Cf. Bartsch, GZ. II, p.196, III, pp. 368-377; Stengel, Grundriss II, p. 36.
152
447
Cf. Jeanroy, Origines, pp. 343-9; Stengel, loc. cit.
448
Cf. ainda CM. 21, 63, 86, 123, 131, 132, 138, 186, 209, 267 etc.
449
Stengel, loc. cit., p. 47.
450
Cf. CB. 51; CM. 139, 180, 255.
451
Stengel, loc. cit., pp. 33-4.
153
154
452
Sobre isso, cf. também Stengel, loc. cit.
453
Cf. Diez, Altrom. Sprachdenkmale, p. 103 e KuHp., p. 40.
454
CM. 22, 52, 58, 61 etc.
155
455
Um dos poetas mais antigos, Rodrigu’ Eanes de Vasconcellos, emprega-o uma vez com cesura
masculina (CB. 278), outra vez com cesura feminina, mas rima masculina (CB. 314). Cf. V. 692.
456
Cf., por exemplo, a cantiga de Sordel sobre Blacatz, MW. II, 248.
457
Cf. Stengel, loc. cit., p. 31.
458
Cf. Diez, KuHp., p. 42.
156
ou 110,1:
459
Cf. ainda ibid., pp. 93, 141.
460
Romania XV, pp. 423-430.
157
461
Cf. Jeanroy, Origines, pp. 357-8.
* Trata-se de uma estrofe antiga, utilizada principalmente para poesia religiosa, de forma aabccb,
rimando versos menores colocados em seguida a versos longos. (N.E.)
462
Cf. ibid., pp. 369-376; Du Méril, Poésies pop. lat., pp. 131-3; Stengel, loc. cit., p. 72.
463
Cf. C. Michaëlis de Vasconcelos, Sá de Mir., p. CXXI.
158
treiçom; éo: créo, feo, veo; ia: enviaria; ía: dia, bailia, avia, averiades, guisar-
lh’ia; iá: criar, fiar, tosquiar (cf. trosquïar, CM. 147); ié: liero; ií: riir, viir,
tiinha 1556; ió: Melion; oa: perdoará 75; óa: doa, boa; oá: doado, Joam,
loar; oe: proençaes; óe: soen; oé: doer, doente, poer; oi: soidade; ói: doi
1747; oí: oi, oir, oide; óo: doo; oó: loor, coor (V.1161); õo: sõo, boom; úa:
crua, duas, mua, rua, ua; uá: muacha; uí: juiz, juízo.
464
Assim em toda parte: cf. por exemplo V. 266, 343, 751, 878, 886, 888, 891, 1062; CM. 279 e trei 325.
465
CM. 158.
466
Assim, por exemplo, vedes em vez de veedes 354, 1644, 2282. Vid., a propósito, o glossário.
467
Mesmo na pausa, como por exemplo V. 2000.
468
Cf. por exemplo V. 825 comha = come a; 1117: xha errou = xi a errou. [É mais correto considerar
o h de mha, mho por mi a, mi o etc., como sinal de e, i semiconsonantal, como em cambhar,
dormho, sabha, etc., correspondendo a mia, mio no manuscrito da Ajuda. (C. e A.)]
159
36 que a; 70 o er; 351 porque a; 380 dê o; 481 e o; 530 soia aver; 630
pudi o; 680 se aos; 706 amo, esto; 718 muito a; 905 ja em; 941 quiji a;
1102 (refrão) nem ifante469; 1140 e a; 1152 olho e veelo- edes; 1308
no ano; 1343 que el; 1418 Oi oj’eu; 1470 pero em; 1493 sempre a; 1523
tiro eu; 1550 d’ela, e; 1553 que a; 1562 servio, o; 1580 amigo, acá; 1607
visse os; 1637 que alá; 1691 ca o; 1705 E assi; 1708 que a; 1725 que eu;
1771 que a; 1834 si é; 1837 mentio a; 1870 (1873, 5, 8) que é; 1948
se encobra; 1975 (refrão) E avede; 1991 u os; 2054 ca assi; 2081 (refrão)
amigo, u; 2129 d’esta, u; 2139 que end’o; 2151 amigo, e; 2158 ele é;
2172 posso a; 2178 posso u; 2247 ledo e; 2281 ia, amigo; 2282, 2288
se eu; 2290 que end’a; 2358 (2361, 3, 6) que eu; 2420 que o; 2448 lo ei;
2456 lhi assi; 2495 e assaz; 2504 (refrão) e o; 2511 e o; 2607
ome infernal; 2613 muito é; 2627 da era; 2640 se ouver; 2651 ora aqui;
2672 d’ela encavalgado; 2692 disse unha; 2677 migo o; 2711
trobára ali; 2722 disse: Ir-me; 2729 ventura ajades; 2740 e o; 2741
come era.
469
Sobre a queda, em voga em português, de uma nasal final antes de uma vogal seguinte, cf. C. M.
de Vasconcelos, Sá de Mir., p. CXXI. – Em nossos textos encontram-se lado a lado ome e omem,
mi e mim, entre outros.
160
470
Cf. Stengel, loc. cit., pp. 54-6.
471
Cf. Tobler, Vom franz. Versbau, p. 20.
161
472
Cf. Stengel, loc. cit., pp. 59-60.
473
Cf. Stengel, loc. cit., p. 62.
474
A rima é utilizada em LXXXIX, XC e CXIII, com exceção de 2303. Da linguagem jurídica
também foram conservadas fórmulas assonantes e rimantes, como por exemplo “ollo ou geollo
ou nembro alguu” (Foros de Gravão, em Ineditos V, p. 391).
475
Por exemplo, V. 33, 566, 827; CB. 22, 130, 177.
476
Como casos raros podem constar ainda senhor – nostro senhor, XIV e XVI.
162
477
Cf. Bartsch, Jahrb. I, 190 s.; Stengel, loc. cit., p. 70.
478
V. 567, CB. 185, 208; T. e C., p. 299; em CB. 10, o jogo só acontece na primeira estrofe; na
segunda, encontra-se apenas o dobre “sabor – sabor”.
479
CB. 231: Nom pode deus pero pod’ en poder. – Cf. Stengel, loc. cit., p. 71.
480
Cf. P. Meyer, Romania XIX, p. 20 e Stengel , loc. cit., p. 67.
481
Cf. Diez, KuHp., p. 55; Stengel, loc. cit., p. 68.
482
Cf. Stengel, loc. cit., p. 67. – Ao contrário, esse tipo de rima aparece sabidamente mais tarde na
lírica castelhana, que também já havia caído em outras artificialidades rebuscadas, como por
exemplo na linguagem obscura. Cf. Wolf, Studien, p. 210 s.
483
V. 280 sanhuda : perdud’a; 395 vi-a : averria; T. e C. 119 vi-as : dias. Mais frequentemente em
Afonso X, por exemplo CM. 21, 100, 115, 139.
484
T. e C. 95, 133, 179, 206. – Delas fez uso muito mais livre Afonso X, que às vezes até passou por
alto o acento, como por exemplo CM. 139: “d’esta que seia Por nos et ueia – Mola a faz”. Cf.
ibid., 44, 51.
485
Cf. Jeanroy, Origines, p. 357 s.; Stengel, loc. cit., p. 68.
486
V. 33, 921; CB. 130, T. e C. 175, 225.
163
menos do que 11 fogem à regra (XII, XXVI, LIV, LXXV, LXXVI, LXXXIII,
LXXXIV, LXXXVI, CI, CXXXIII, CXXXVIII)487.
Entre as diferentes formas de distribuição das rimas de que se ser-
viu Denis, mencione-se primeiramente a rima variada.
Ela pode consistir na mudança de rima em cada estrofe, correspon-
dendo às rims singulars dos provençais. De 138 poemas do rei, 104, portanto
a grande maioria, pertencem a este caso. Dentre eles, em compensação, ape-
nas três ocorrem (XVIII, XX, XLVI) nos quais cada estrofe tem só uma
única rima (como na cobla continuada das Leys d’amors)488; no restante,
cada estrofe tem mais de uma rima. Uma forma preferida de rimas variadas
entre os provençais era aquela em que a cada duas estrofes entravam novas
rimas (coblas doblas). Isso não se encontra em nosso poeta, cujas cantigas
muito raramente têm mais do que três estrofes, com frequência apenas duas.
Num poema, LXXV, a sequência de rimas da segunda estrofe difere daquela
da primeira, mas esta retorna na terceira. Mais frequentemente, como na líri-
ca provençal489, uma rima percorre mais de uma ou todas as estrofes, enquanto
as restantes rimas variam. Em XXXV, a rima permanece no segundo e tercei-
ro versos de cada estrofe (cf. T. e C. 8). Em CV é mantida a rima do primeiro
e do quarto versos também na segunda estrofe; em CVI, aparece a rima do
segundo e do terceiro versos da primeira estrofe no primeiro e no quarto
versos da segunda; em CXXVII, permanece a rima do terceiro e do quinto
versos. Em CIX, CXIX, CXXVIII, CXXXIII, CXXXVI e CXXXVII, uma
rima ligada ao refrão percorre todas as estrofes.
Oposta às rimas variadas está a disposição em que todas as estro-
fes de um poema têm as mesmas rimas, de modo semelhante às coblas
unissonans dos provençais. Esta forma foi totalmente utilizada por Denis
apenas em 19 cantigas (I-V, XXX, XXXII, XXXVIII, XL, XLIII-V, XLVII,
L, LI, LVI, LXII, LXVIII, XCV, XCVIII). Em outros poemas, há desvios.
Em XXXVII, só os três primeiros versos têm a mesma rima em todas as
estrofes; em LIV, a rima do quinto e do sexto versos é substituída por uma
nova nas estrofes seguintes; em CXII, a rima do terceiro, do quarto e do
quinto versos é nova; em CXIV, em todas as três estrofes, o primeiro, o
terceiro e o sexto versos têm uma rima comum, os outros divergem; em
CXXXII, aparecem rimas novas no quarto e no quinto versos de cada es-
trofe; finalmente, em LX a rima do quarto, do quinto e do sexto versos
(ccc) é completamente abandonada na terceira estrofe e substituída por bbb.
– Na lírica provençal, a disposição das rimas introduzida na primeira estro-
487
Cf. Diez, KuHp., pp. 56-7.
488
Cf. T. e C., p. 48, CB. 177.
489
Cf. Bartsch, Jahrb. I, p. 173.
164
490
Cf. Diez, KuHp., p. 59.
491
Cf. Bartsch, Jahrb. I, pp. 172 e 174.
492
Vid. Diez, KuHp., p. 60.
493
Com Monaci (Miscell. p. 421), assim se poderia interpretar a seguinte passagem: “Ou er pode
meter senhas palavras en cada cobra que rrimem huas outras”.
165
494
Cf. Bartsch, Jahrb. I, 175-6. [A referida citação diz: “... as chamadas ‘körner’, isto é, palavras
rimantes que se ligam não na mesma estrofe, mas apenas na seguinte; uma expressão que, pela
conveniência e brevidade, tomo aqui da terminologia dos Mestres Cantores”. ( N.E.)]
495
Vid. acima, p. 63.
496
Cf. V. 53, 654, CB. 100, 136, T. e C. 68, 72, 75, 100, 178.
497
Cf. Stengel, loc. cit., p. 83. – O verso 1569 de nossa coletânea é único, verso final de tipo refrânico;
1519 é provavelmente defeituoso e talvez se deva emendar para: e poi-lo assi passei.
498
Por exemplo, V. 695, 699, CB. 164, 170, T. e C. 149, 181.
* No artigo “A repetição de palavras rimantes...” [neste volume, pp. 593-607], essa é a forma
portuguesa utilizada por Lang, correspondendo a Reimwort ou rhyme-word. (N.E.)
499
O exemplo que Diez (loc. cit., p. 61) cita de T. e C. (114 = V. 568) encaixa-se melhor nas coblas
capfinidas.
500
Vid. Bartsch, loc. cit., pp. 178-180.
501
Cf. ainda CB. 42, V. 568, 1176, T. e C. 257.
502
Cf. Bartsch, loc. cit., p. 181.
503
Assim, por exemplo, V. 568, 1182, 1198. Às vezes, o fraseado altera-se um pouco, como V. 430
7-8 “Poy-lo meu coraçom migo nom levar – Poi-lo meu coraçom vosco ficar”; 546 7-8 “Ca o
nom posso comigo poer – Ca se eu migo podesse poer”, dentre outros. Para exemplos franceses,
cf. Mätzner, IX e pp. 159-160.
504
Especialmente nos muito apreciados e muito antigos cantos de repto, desafios e despiques.
Cf. Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Grundriss II, p. 147.
166
mos acima (p. 67), com o nome de lexa-pren, “deixa-prende”, foi transferida
da lírica culta galego-portuguesa para a castelhana.
A redonda (canso redonda) não foi cultivada por Denis, e também
por outros portugueses, somente se por ela se entenderem as estrofes inici-
adas e terminadas com o mesmo verso505; mas não as estrofes encadeadas
de tipo mais artístico e raro, das quais se valeram, por exemplo, Folquet de
Marseilla (Archiv. XXXV, 386) e Guiraut Riquier (MW. IV, no. 35) – neste
último com o nome canso redonda et encadenada – nas quais as rimas de
tal modo variam de estrofe para estrofe, que periodicamente se repete a
ordem da primeira estrofe506.
Por último, refira-se um tipo de encadeamento de estrofe total-
mente distinto dos mencionados até aqui, aquele que não se realizava por
meio da rima, mas sim por meio da ligação de orações. Constituía um
gênero de cantiga próprio da lírica galego-portuguesa e recebeu o nome
específico de atafiinda, cultivada com evidente fervor. De acordo com a
regra dada na Poética (CB. p. 4, c. 3), denominavam-se esses poemas
atafiindas, porque não é a última palavra de uma estrofe, mas a primeira
(ou as primeiras) da seguinte que conclui o sentido e conduz a cantiga,
desse modo, até sua fiinda, onde, finalmente, a ideia do todo encontra sua
total completude. Em nossos cancioneiros, atafiindas são, em primeiro
lugar, aqueles poemas em que o verso final de uma estrofe ou do refrão
não termina sintaticamente aí, mas apenas no início da estrofe seguinte e
na fiinda, como em IX, X, XXXIX, CV, CVIII507. Exemplos desse tipo
são frequentes também em outros trovadores508. Em segundo lugar, per-
tencem a essa espécie as numerosas cantigas cujas estrofes são encadeadas
umas às outras por meio de conjunções iniciais, como ca (XXXVIII, XLIII,
L etc.), e (I, V, XI etc.), ou (VI), pois (LVIII, CXXIV), quando (LXXI),
que (LXVI), dentre outras509. Um tipo poético semelhante não é conhecido
da lírica provençal e francesa, na qual a extensão sintática de uma estrofe
no início da seguinte só aparece em poucos poemas, na maioria das vezes
apresentados sem música510. Portanto, nisso os portugueses seguiram seus
próprios caminhos, como o nome aliás já indica. Caso as atafiindas se
destinassem ao canto, provavelmente a melodia, tanto quanto o texto,
encontraria sua conclusão apenas no fim do poema.
505
Por exemplo, V. 650, 852, 1182, 1198.
506
Cf. Bartsch, loc. cit., p. 186; P. Meyer, Rom. XIX, p. 19.
507
Cf. nota a I, 3-4.
508
V. 2, 12, 50, 52, 393; CB. 23, 24, 91, 95 etc.
509
V. 3, 5, 16, 18, 30 etc. – Cf. C. Michaëlis de Vasconcelos, Grundriss II, p. 195.
510
Cf. Appel, GZ. XI, p. 219; Stengel, loc. cit., pp. 86-7.
167
511
Por exemplo, V. 370. Cf. C. M. de Vasconcelos, loc. cit.
512
A Poética (CB. p. 4, c. 1) fala, em verdade, de 4, 5 ou 6 estrofes, mas estas cifras procedem
apenas em relação às cantigas populares. Em Pero da Ponte, V. 1170, encontra-se, contudo: “E no
mundo non sey eu trobador De que s’ome mays dev’ a se temer De x’el mui maas tres cobras
fazer Ou quatro a quem lhi maa barva fôr”.
513
Cf. P Meyer, Rom. XIX, 13.
514
Para comparação, foram consultados poemas de alguns dos mais importantes poetas mais anti-
gos, como Paay Soares de Taveroos, Joam Soares Somesso, Martim Soares, Affons’ Eannes de
Cotom, Pero da Ponte e Pero Garcia Burgales.
168
515
Cf. Jeanroy, Origines, p. 399 s., Stengel, loc. cit., § 188. – V. 74.
516
V. 472, 475, 502, 572, 661, 971-3, 1165; CB. 90, 118, 128, 145 etc.
517
V. 504, 663, 970, 975, 976, 1113, 1167; CB. 82, 85, 86, 88-9, 92, 94, 116, 129, 132, 137 etc.
518
V. 567, 1163.
519
V. 558, 574, 576, 907, 978, 1111, 1117, 1120, 1164, 1170, 1172, 1174, 1175, 1183, 1187;
CB. 124-6, 137-8, 146; 13 de 24 cantigas de Joam Soares Somesso, 11 de 36 de Pero Garcia.
520
CB. 127, 136; 7 cantigas de Joam Soares Somesso e 2 de Pero Garcia.
521
V. 1119, 1160; CB. 121, 134, 262.
522
Cf. a esse respeito Diez, KuHp., pp. 63-4 e C. M. de Vasconcelos, loc. cit., p. 196.
523
Cf. G. Paris, La littérature française, § 125.
169
sificação entre os portugueses, embora não se possa negar que Denis, ape-
sar da concisão e simplicidade de suas estrofes, tenha trazido para elas uma
variedade não desprezível. Aqui, a influência de trovadores e trouvères
pode ser comprovada com escassa certeza, por incontestável que seja a
frequente concordância mais ou menos exata com as formas estróficas de-
les. Como Diez assinalou (KuHp., p. 67), era mais fácil inventar tais
modificações da forma do que procurá-las.
As cantigas de refram constituem dois terços do conjunto das can-
tigas e compreendem principalmente as cantigas femininas e as mais jocosas
cantigas satíricas, mas também uma parte considerável das cantigas de
amor – em Denis, por exemplo, 44 de 75 cantigas d’amor. As cantigas de
refrão dividem-se em baladas e poemas encadeados com estrofes de dois ver-
sos.
A balada consiste em uma cantiga geralmente de três, às vezes
também de quatro ou de duas estrofes, às quais segue sempre um refrão.
Como mostra o rol dos sistemas de rima disposto mais adiante, um grande
número dessas estrofes revela o traço arcaico da rima única, especialmente
as de três versos. Em muitas, entretanto, buscou-se uma variedade mais
elaborada das formas de rima. Nas estrofes de 5 e 7 versos, um verso, em
geral o último, serve comumente para rimar com o refrão.
Via de regra, o refrão é constituído de um ou dois versos, mas
também, com frequência, de três ou quatro, apenas raramente de uma única
interjeição ou um vocativo (XVIII, XXIII). Em consonância com sua fina-
lidade original, a repetição do texto da estrofe pelo coro524, o refrão fornece,
na maioria das vezes, a ideia fundamental da cantiga – também nesse as-
pecto um traço do arcaísmo da lírica galego-portuguesa. Por isso, não
raramente os refrões são orações independentes ou introduzidos como
pequeninas cantigas autônomas, como por exemplo XCVII, XCIX, dentre
outros. Conforme veremos adiante, na maioria das cantigas o refrão tem
suas próprias rimas, como na forma francesa mais antiga da balada525, e
frequentemente ele se diferencia da estrofe também no metro, na medida
em que nessa poesia, em geral, são misturados metros diferentes em um
poema (XX, XXVIII, LVI526, LXXVII, LXXXVI, XC, XCI, XCII, CI, CXIII,
CXXXVI). Contudo, às vezes o refrão perde sua autonomia, ou porque
rima com a estrofe e, consequentemente, é alterado no seu fraseado, como
por exemplo XXV, LIX, CXXXVII, ou mesmo, em certo sentido, funde-se
à estrofe, como é provavelmente o caso de CIX, CXIX.
524
Cf. Stengel, loc. cit., § 174.
525
Cf. Jeanroy, Origines, p. 403.
526
Cf. Martim Soares, CB. 149.
170
527
V. 419, 577, 974, 1112, 1161, 1190; CB. 207, 248.
528
V. 657, 659, 660, 719, dentre outros.
529
V. 420-422, 474, 477, 569, 656, 662, 727; CB. 122, 253, 255, 256, 258, 260 etc.
171
Com isso, portanto, a tornada dos provençais foi imitada apenas na for-
ma530, como também o envoi dos líricos franceses raramente era mais do
que mera forma531. Como está prescrito na Poética, a fiinda rima, desde que
os poetas dela se utilizem, com a última estrofe da cantiga de maestria ou
com o refrão da balada. Em Denis, ela aparece apenas em 48 poemas, e só
quatro vezes na cantiga de maestria532. Nestas, em CXIV e em CXXXII ela
repete as duas últimas rimas da última estrofe, e em XLIV, as três últimas,
enquanto em LXXVI a primeira fiinda de três versos possui duas rimas
próprias e uma palavra rimante retirada da estrofe anterior (b)533, e a últi-
ma, de um verso, tem de novo sua própria rima. Portanto, o sistema de
rimas de ambas é: ddbe. – Nas baladas, a fiinda rima, geralmente, com o
refrão. São exceções, em Denis, apenas IX, X, onde o primeiro verso das
fiindas de dois ou três versos rima com a da última estrofe, os outros versos
com o refrão, e CXXXIV, em que a fiinda é constituída por uma quadra de
caráter popular com rimas próprias (ddee)534. Não raro, o poeta repete a
palavra rimante na fiinda, até mesmo o fraseado dos versos do refrão. De
um verso são X, XI, XII, XIX, XXXI, LII, CV; de dois, XXIV, XXVI,
XLVIII, LXXXV, CIII, CIV, CXXI535.
Conforme assinalou Diez (loc. cit., p. 67), da grande simplicidade
de nossa poesia dá mostras o fato de que aqui não se misturam muito as
espécies de versos, principalmente curtos com longos, diferentemente da
lírica francesa do norte e do sul. Decassílabos jâmbicos e eneassílabos tro-
caicos mesclam-se em XXVI, CIII, CIX, CXXXIII, CXXXV, CXXXVIII;
octossílabos jâmbicos e versos redondilhos maiores em LXII, LXXV, LX-
XIX, LXXX, LXXXIV, LXXXVII; hexassílabos, octossílabos e decassíla-
bos jâmbicos em LIV.
O segundo tipo de cantigas de refrão são (vid. acima, p. 108 ss.)
imitações artísticas de cantigas populares autóctones, executadas por dois
530
Cf. Diez, KuHp., p. 71 s.
531
Cf. Jeanroy, De Nostrat., p. 7.
532
Nos poetas mais antigos, a fiinda é bastante rara. Dentre as 200 primeiras cantigas do cancionei-
ro CB de Molteni, ela aparece apenas 14 vezes.
533
Cf. a nota referente a LXXVI, 1560. Nesta repetição, à maneira de refrão, de uma palavra rimante
da última estrofe na fiinda, Denis seguiria exatamente um uso da lírica provençal, já predomi-
nante nos tempos mais antigos. Cf. Stengel, loc. cit., § 186. Casos semelhantes podem ser encon-
trados em V. 537, 541, 545, 556, 598, 605; CB. 244. Porém, em CB. 242, 243, V. 622, isto ocorre
juntamente com o dobre.
534
Na verdade, ela coincide quase literalmente com a última estrofe de uma balada de Estevam
Travanca (V. 324), com quem Denis tem em comum também o refrão da cantiga.
535
Este é muito frequentemente o caso em relação a Joham Ayres de Santiago, um antecessor do rei,
com quem este também em outros lugares está em consonância. (Comp. as notas e ainda, por
exemplo, CXV com V. 614.) Assim também, por exemplo, V. 530, 533, 535, 594-7, 607, 614,
616, 617, 621-4 etc.
172
536
Em uma cantiga mariana construída neste estilo (I, 183), Gil Vicente faz cantar dois coros, e da
mesma forma se executavam os romances danzaprima asturianos, como já mencionado antes
(pp. 136-137).
537
Cf. C. M. de Vasconcelos, Grundriss II, pp. 150-154. – Contra a escolha do termo serrana para
designar as cantigas de estrofes paralelísticas, a ilustre romanista fez valer, com razão, a
ambiguidade deste nome.
538
Origines, p. 415 s.
539
Cf. Stengel, loc. cit., p. 78. Realmente, consiste de apenas um verso o tema cantado no romance
danza-prima das Astúrias, referido na nota 536, bem como na bailada [Tanzlied] asturiana citada
à p. 135-136; finalmente, em uma quantidade de reminiscências dos paralelismos típicos encon-
trados nos romances peninsulares, como por exemplo o Romanceiro português (edit. por J. Leite
de Vasconcelos, Porto 1886) III, pp. 5-8:
Por sua bocca dizia,
por sua bocca falava;
esta agua benta fica,
esta agua fica sagrada.
Cf.Revista lusit. II, p. 215.
Braga, CAA. p. 188:
Caçador que ia a caça,
caçador que a caça ia.
173
541
Cf. C. M. de Vasconcelos, loc. cit., 151. Não está claro como a douta autora distingue na cantiga
V. 507 um tema de três versos. Apenas se acrescentássemos o refrão E chor’ eu bela poderíamos
falar aqui de três versos; neste caso, de modo algum haveria, aliás, temas de dois versos, o que,
contudo, é estabelecido como regra pela própria Senhora Vasconcelos.
542
Jeanroy, Origines 416.
174
543
Assim V. 657, 659, 660; CB. 50, 51, 106, 113, 249, 250; T. e C. 36, 122, 125, 138.
544
Cf. V. 488, 825, 866-7, 949, 950, dentre outros.
545
Dão exemplos A. Stickney, Rom. VIII, pp. 73-92 e G. Paris, Chansons du XV siècle; por exem-
plo, nºs. VIII, LXXVIII, LXXXI. Cf., além disso, Carducci, Cantilene e Ballate, nº. XLVI.
546
Cf. P. Meyer, Rom. II, p. 265.
547
Cf. C. M. de Vasconcelos, loc. cit., p. 180.
548
Já por isso não parece certo que a Senhora Vasconcelos (loc. cit., p. 195) considere as cantigas de
maestria como as mais antigas cantigas artísticas. Além disso, justamente alguns dos mais anti-
gos poetas corteses por nós conhecidos, como Paay Soares de Taveroos e seu irmão Pero Velho,
D. Gil Sanchez, Bernaldo de Bonaval, Rodrigu’ Eanes de Vasconcellos, entre outros, compuse-
ram suas cantigas de amor em forma de balada. Vid. CB. 22, 112, 113, 120, 312; V. 657, 659, 660
dentre outros. – Tampouco nos parece haver uma razão suficiente para a reiterada afirmação
(ibid., pp. 152 e 180) de que os tipos populares, apenas com Denis e através dele, se tenham
tornado dignos da corte. Em primeiro lugar, parece pouco provável que justamente a espécie de
poesia popular que deu a toda a poesia culta sua marca singular tenha sido cultivada na corte
175
5. CONCLUSÃO
Da análise anterior resulta indubitável, como nos parece, que a
lírica palaciana galego-portuguesa dos séculos XIII e XIV deve o impulso
e o modelo para seu desenvolvimento literário principalmente aos provençais
e, em parte, também aos franceses. Provam-no os diferentes gêneros poéti-
176
551
Esperamos publicar em breve, em um artigo especial, algumas dessas concordâncias, além da-
quelas já mencionadas na introdução.
552
Cf. P. Meyer, Les derniers troubadours, p. 5.
553
Cf. C. M de Vasconcelos, loc. cit., p. 172; especialmente na nota 5, documento citado de 1193,
segundo o qual já Sancho I gratificara jograis franceses.
554
Cf. acima, nota 69, e C.M. de Vasconcelos, loc. cit.
555
Cf. mesma autora, ibid., p.176.
177
556
Do poeta Pero Rodriguez de Palmeira, cujas cantigas não possuímos, diz-se em PMH. Script. I,
355: “D. Maria Paaez, filha de Paay Soares de Valladares, a por que morreu Pero Rodriguez de
Palmeira d´amor”. – Segundo o Marquês de Santillana (Obras, p.12), Joam Soares de Pavha tam-
bém teria morrido por tormento de amor. O galego Macias tinha sabidamente a alcunha el namora-
do. – Referências espanholas a esse traço do caráter português encontram-se, por exemplo, em
Lope de Veja, Dorotea (Rivad. 34, 43 c): “Tengo los ojos niños y portuguesa el alma”;
V. Espinel, Obregon (Rivad. 18, 428a): “Comencé á ... enamorar cuantas encontraba: de manera
que no habia portugues más azucarado que yo”; Alcalá, Donado Hablador (ibid. 557b): “Mostréme
el rato que con mi viuda estuve más eloquente que el griego Demóstenes, más amoroso que Macias,
y más derretido que un portugues”. – Cf. ainda C. M. de Vasconcelos, GZ. XVI, p. 397 s.
557
Cf. P. Meyer, Rom. I, p. 121.
178
558
Vid. GZ. XVI, p. 219.
179
559
Cf. C. M. de Vasconcelos, Sá de Mir., p. CV.
560
Cf. E. Dias, GZ. XI, p. 42.
561
Cf. Revista lusit. I, p. 179.
* Quanto às “correções e aditamentos”, vid. o que se diz dos critérios adotados nesta edição,
pp. 19-20. (N.E.)
180
181
184
185
186
Archiv = Archiv für das Studium der neuern Sprachen und Literaturen. Editado
por L. Herrig. Braunschweig.
Cantos de ledino = Cantos de ledino, tratti dal grande canzoniere portoghese della
Biblioteca Vaticana, per Ernesto Monaci. Halle, 1875.
CAP. = Canti antichi portoghesi tratti dal codice vaticano 4803 con traduzione e
note a cura di Ernesto Monaci. Imola, Galeati, 1873.
187
Choix = Choix des Poésies originaires des Troubadours. Par M. Raynouard. Paris,
1818.
De nostrat. = De nostratibus medii aevi poetis qui primum lyrica Aquitaniae carmina
imitati sint. Thesim...proponebat A. Jeanroy. Paris, Librairie Hachette, 1889.
Gil Vic. = Obras de Gil Vicente. Nova edição por J. V. Barreto Feio e T. G. Monteiro.
Hamburgo, 1834.
188
Jahrbuch = Jahrbuch für romanische und englische Literatur. Editado por A. Ebert.
Leipzig.
KuHp. = Ueber die erste portugiesische Kunst- und Hofpoesie. Por Friedrich Diez.
Bonn, 1863.
MG. = Gedichte der Troubadours... Editados por C.A.F. Mahn. Berlin, 1856-1873.
189
MW. = Die Werke der Troubadours. Edição de C.A.F. Mahn. Berlin, 1846-1885.
Primavera = Primavera y Flor de Romances ... publicada por D.F.J. Wolf y D.C,
Hofmann. Berlin, 1856.
RG.4 = Grammatik der romanischen Sprachen. Por Friedrich Diez. Quarta Edição.
Bonn, 1876.
Rom. = Romania. Recueil trimestriel ... publié par P. Meyer et G. Paris. Paris.
Sold. Pínd. = Fortuna varia del Soldado Píndaro, por D. Gonzalo de Céspedes y
Meneses, em: Rivadeneyra, Biblioteca de autores españoles. Vol. XVIII.
St. = Hundert altportugiesische Lieder. Zum ersten Male deutsch von W. Storck.
Paderborn und Münster, 1885.
190
Tigri = Canti popolari toscani raccolti e annotati da Giuseppe Tigri. 2ª ediz. Firenze,
1860.
Val. = Valeriani e Lampredi, Poeti del Primo Secolo della Lingua italiana. Firenze,
1816.
Verm. Beitr. = Vermischte Beiträge zur fränzösischen Grammatik ... por Adolf
Tobler. Leipzig, 1886.
WA. = Archiv für lateinische Lexicographie und Grammatik ... editado por E.
Wölfflin. Leipzig.
191
I (80)
cf. M. p. 1.
Praz-mh a mi, senhor, de moirer,
e praz-m’ ende por vosso mal,
ca sei que sentiredes qual
mingua vos pois ei-de fazer;
ca nom perde pouco senhor 5
quando perde tal servidor
qual perdedes em me perder.
I* (80) 8 pzer 10 ql fezome 17 me chal 18 pr qntouos qro diz 23 sso
28 deuassala.
II (81)
cf. M. p. 3.
O mais quer’ eu ja leixá-lo trobar
e quero-me desemparar d’amor, 30
e quer’ ir algunha terra buscar
u nunca possa seer sabedor
5 ela de mi nem eu de mha senhor,
pois que lh’e d’eu viver aqui pesar.
* No original, Lang coloca o aparato crítico no fim da página, abrangendo às vezes mais de uma
cantiga; aqui, preferimos pô-lo depois de cada cantiga, adaptando para tanto a numeração das
chamadas. Quando há dúvida quanto à exatidão da referência de Lang, fez-se uma tentativa de
correção, seguida de interrogação e entre colchetes, p. ex. [22?]. Nos casos de óbvio equívoco,
corrigiu-se simplesmente a numeração na chamada. Para as correções e aditamentos da edição de
1894, vid. pp. 19-20. (N.E.)
194
III (82)
cf. M. p. 5.
Se oj’ em vós a nenhum mal, senhor,
mal mi venha d’ aquel que pód’ e val,
se nom que matades mi, pecador,
que vos servi sempr’ e vos fui leal 50
5 e serei ja sempr’ em quant’ eu viver;
e, senhor, nom vos venh’ esto dizer
polo meu, mais porqu’ a vós está mal.
III (82) 1 oienuos 2 da quel que podeual 7 qa 8 ðs 10 que heu m’ecedor
12 ðs 13 ðs. [ 2 que ] V che 9 leia-se des i em lugar de desi 12 quis ]
V. qis (C. e A.)]
IV (83)
cf. M. p. 6.
Que razom cuidades vós, mha senhor,
dar a Deus, quand’ ant’ el fordes, por mi
que matades, que vos nom mereci
outro mal se nom que vos ei amor,
5 aquel maior que vo-l’ eu poss’ aver; 65
ou que salva lhi cuidades fazer
da mha morte, pois per vós morto fôr?
195
V (84)
cf. M. p. 80.
Quant’ eu, fremosa mha senhor,
de vós receei aveer,
muit’ er sei que nom ei poder
de m’agora guardar que nom 85
5 vos veja: mais tal confort’ ei
que aquel dia morrerei
e perderei coitas d’amor.
196
VI (85)
cf. M. p. 9.
Vós mi defendestes, senhor,
que nunca vos dissesse rem
de quanto mal mi por vós vem; 105
mais fazede-me sabedor,
5 por Deus, senhor, a quem direi
quam muito mal eu ja levei
por vós, se nom a vós, senhor.
VII (86)
cf. M. p. 11.
Como me Deus aguisou que vivesse
em gram coita, senhor, desque vos vi! 125
ca logo m’el guisou que vos oi
falar, desi quis que er conhocesse
5 o vosso bem a que el nom fez par;
e tod’ aquesto m’el foi aguisar
ental que eu nunca coita perdesse. 130
197
VIII (87)
cf. M. p. 12.
Nunca Deus fez tal coita qual eu ei 145
com a rem do mundo que mais amei,
des que a vi, e am’ e amarei.
N’outro dia, quando a fui veer,
5 o demo lev’ a rem que lh’eu falei
de quanto lh’ante cuidára dizer. 150
198
IX (88)
cf. M. p. 13.
Da mha senhor que eu servi
sempr’ e que mais ca mi amei,
veed’, amigos, que tort’ ei
que nunca tam gram torto vi; 160
5 ca pero a sempre servi
grand’ é o mal que mha senhor
mi quer, mais quero-lh’eu maior
IX (88) 6 prande omal 9 esse aqste qrer 10 este oq 13 Grande omal falta
o restante do refrão. 18 parar 19 servir Grande falta o restante.
199
X (89)
cf. M. p. 15.
Em gram coita, senhor,
que peior que mort’ é,
vivo per bõa fe,
e polo voss’ amor
5 esta coita sofr’ eu 185
por vós, senhor, que eu
XI (90)
cf. M. p. 16.
Senhor, pois que m’agora Deus guisou
que vos vejo e vos posso falar,
quero-vo-la mha fazenda mostrar
que vejades como de vós estou:
5 Vem mi gram mal de vós, ai mha senhor, 205
em que nunca pos mal nostro senhor.
200
XII (91)
cf. M. p. 18.
Pois mha ventura tal é ja
que sodes tam poderosa
de mim, mha senhor fremosa,
por mesura que em vós a,
5 e por bem que vos estará, 225
pois de vós nom ei nenhum bem,
de vós amar nom vos pes em,
senhor.
201
XIII (92)
cf. M. p. 19, Diez p. 75.
Senhor, dizem vos por meu mal
que nom trobo com voss’ amor,
mais ca m’ei de trobar sabor; 250
e nom mi valha Deus nem al
5 se eu trobo por m’em pagar,
mais faz-me voss’ amor trobar.
202
XIV (93)
cf. M. p. 20.
Tam muito mal mi fazedes, senhor,
e tanta coita e afam levar
e tanto me vejo coitad’ andar,
que nunca mi valha nostro senhor
5 se ant’ eu ja nom queria morrer 270
e se mi nom fosse maior prazer.
203
XV (94)
cf. M. p. 22.
Grave vos é de que vos ei amor,
e par Deus aquesto vej’ eu mui bem,
mais empero direi vos ua rem,
per boa fe, fremosa mha senhor:
5 se vos grav’ é de vos eu bem querer 290
grav’ est a mi, mais nom poss’ al fazer.
XVI (95)
cf. M. p. 24; Diez pp. 86-7.
Pois que vos Deus fez, mha senhor,
fazer do bem sempr’ o melhor,
e vós em fez tam sabedor,
unha verdade vos direi,
5 se mi valha nostro senhor: 310
erades bõa pera rei.
204
XVII (96)
cf. M. p. 25.
Senhor, desquando vos vi
e que fui vosco falar, 325
sabed’ agora per mi
que tanto fui desejar
5 vosso bem; e pois é si,
que pouco posso durar,
e moiro-m’ assi de chão, 330
porque mi fazedes mal
e de vós nom ar ei al,
10 mha morte tenho na mão.
205
XVIII (97)
cf. M. p. 27.
Um tal ome sei eu, ai bem talhada,
que por vós tem a sa morte chegada; 355
veedes quem é, seed’ em nembrada:
eu, mha dona.
XVIII (97) 2 tena che gada 3 uedes queme e seeden etc., emendado
conforme 7 e 11, em que falta e. Comp. E. Dias, GZ. XI, 47. 5 sey q pco
sente; em virtude da métrica, deve-se acrescentar eu, de acordo com 1.
6 dessy morte certamente, fica com três sílabas a menos. 7 uededes 9 sey
206
XIX (98)
cf. M. p. 28; Diez p. 90.
Pero que eu mui long’ estou
da mha senhor e do seu bem,
nunca me dê Deus o seu bem,
pero que m’eu tam long’ estou,
5 se nom é o coraçom meu 370
mais preto d’ela que o seu.
XIX (98) 3 me deos Comp. 15. 4 pero meu la long estou lo mhe stou Em
virtude da métrica, deve-se acrescentar que, comp. 1. 6 predo 11 falta
meu 12 falta 13, 16 logr 14 esto 15 ðs 18 falta 19 ca
207
XX (99)
cf. M. p. 30.
Sempr’ eu, mha senhor, desejei,
mais que al, e desejarei
vosso bem que mui servid’ ei,
mais nom com asperança
5 d’aver de vós bem; ca bem sei 390
que nunca de vós averei
se nom mal e viltança.
XXI (100)
cf. M. p. 31.
Se eu podess’ ora meu coraçom,
senhor, forçar a poder-vos dizer
quanta coita mi fazedes sofrer
por vós, cuid’ eu, assi Deus mi perdom, 410
5 que averiades doo de mi.
208
XXII (101)
cf. M. p. 33; Diez p. 137.
Quant’ a, senhor, que m’ eu de vós parti,
atam muit’ a que nunca vi prazer
nem pesar, e quero-vos eu dizer 425
como prazer nem pesar nom er vi:
5 perdi o sem, e nom poss’ estremar
o bem do mal nem prazer do pesar.
209
XXIII (102)
cf. M. p. 34; St. nº. 90.
Unha pastor se queixava
muit’ estando noutro dia,
e sigo medes falava,
e chorava e dizia,
5 com amor que a forçava: 445
par Deus, vi t’ em grave dia,
ai amor!
XXIII (102) 1 quei uana 6 uiten – Ay amor 8 se staua qirando 9 come (r)
13 raha coyta 16 lhera 17 edeytoussan cru–has 19 malti venga –pu.
[ 2 Vírgula depois de muit’ (C. e A.)]
210
XXIV (103)
cf. M. p. 35.
Ora vejo bem, mha senhor,
que mi nom tem nenhunha prol
d’ e-no coraçom cuidar sol
de vós, se nom que o peior 465
5 que mi vós poderdes fazer
faredes a vosso poder.
XXV (104)
cf. M. p. 37.
Quem vos mui bem visse, senhor,
com quaes olhos vos eu vi,
mui pequena sazom a i,
guisar-lh’ ia nostro senhor 485
5 que vivess’ em mui gram pesar,
guisando-lh’ o nostro senhor
como mh a mi o foi guisar.
211
XXVI (105)
cf. M. p. 38.
Nostro senhor, ajades bom grado
por quanto m’ oje mha senhor falou;
e tod’ esto foi porque se cuidou 505
que andava d’ outra namorado;
5 ca sei eu bem que mi nom falára
se de qual bem lh’ eu quero cuidára.
212
XXVII (106)
cf. M. p. 40.
A mha senhor que eu por mal de mi
vi, e por mal d’ aquestes olhos meus
e por que muitas vezes maldezi 525
mi e o mund’ e muitas vezes Deus,
5 des que a nom vi, nom er vi pesar
d’ al, ca nunca me d’ al pudi nembrar.
213
XXVIII (107)
cf. M. p. 41.
Pois que vos Deus, amigo, quer guisar
d’ irdes a terra d’ u é mha senhor,
rogo-vos ora que por qual amor
vos ei, lhi queirades tanto rogar
5 que se doia ja do meu mal. 545
XXIX (108)
cf. M. p. 42.
A tal estado mh adusse, senhor,
o vosso bem e vosso parecer
que nom vejo de mi nem d’ al prazer,
nem veerei ja, em quant’ eu vivo fôr,
5 u nom vir vós que eu por meu mal vi. 560
214
XXIX (108) 7 ta manhe 12 qiria – morte poys 15 vir falta. [14 vírgula
depois de ja (C. e A.)]
XXX (109)
cf. M. p. 44.
O que vos nunca cuidei a dizer,
com gram coita, senhor, vo-lo direi,
porque me vejo ja por vós morrer;
ca sabedes que nunca vos falei 575
5 de como me matava voss’ amor:
ca sabedes bem que d’ outra senhor
que eu nom avia pavor nem ei.
215
XXX (109) 4 labedes 6 sabe deos 7 miuos chamey, não tem sentido;
para a correção, comp. v. 12. 8 todaqsto, não satisfaz à métrica. 13 de soy
15 creedes qauey 16 uiue 21 uolo terrey, não satisfaz à medida das sílabas.
XXXI (110)
cf. M. p. 45.
Que mui gram prazer que eu ei, senhor,
quand’ em vós cuid’, e nom cuid’ e-no mal
que mi fazedes! mais direi-vos qual 595
tenh’ eu por gram maravilha, senhor,
5 de mi viir de vós mal, u Deus nom
pos mal, de quantas e-no mundo som.
216
XXXII (111)
cf. M. p. 47.
Senhor fremosa, nom poss’ eu osmar
que est aquel em que vos mereci
tam muito mal quam muito vós a mi 615
fazedes; e venho vos perguntar
5 o por que é, ca nom poss’ entender,
se Deus me leixe de vós bem achar,
em que vo-l’ eu podesse merecer.
XXXIII (112)
cf. M. p. 48.
Nom sei como me salv’ a mha senhor,
se me Deus ant’ os seus olhos levar, 635
ca par Deus, nom ei como m’a salvar
que me nom julgue por seu traedor,
5 pois camanho temp’ a que guareci,
seu mandado oi e a nom vi.
217
XXXIII (112) 1 salua mha 4 iulge 6 hir e a non uyr, é contrário à rima
e ao sentido. 12 falta. 15 o verso tem uma sílaba a menos. 17 tamanho.
guareci e falta o restante do refrão. 19 Falta ao verso uma sílaba; para
a correção, comp. o início da fiinda em V. 167, 182, 185, 190 etc.
20 catiue q – mj. [ 15 leia-se se me a sa g. m. n. v. (C. e A.)]
XXXIV (113)
cf. M. p. 49.
Quix bem, amigos, e quer’ e querrei
ua molher que me quis e quer mal 655
e querrá; mais nom vos direi eu qual
est a molher; mais tanto vos direi:
5 quix bem e quer’ e querrei tal molher
que me quis mal sempr’ e querrá e quer.
218
XXXV (114)
cf. M. p. 50.
Senhor, nom vos pes se me guisar Deus
algunha vez de vos poder veer,
ca bem creede que outro prazer
nunca d’al verám estes olhos meus, 675
5 se nom se mi vós fezessedes bem,
o que nunca será per nulha rem.
219
XXXVI (115)
cf. M. p. 52.
Senhor fremosa e de mui loução
coraçom, e querede vos doer
de mi, pecador, que vos sei querer
melhor ca mi; pero sõo certão 695
5 que mi queredes peior d’ outra rem,
pero, senhor, quero-vos eu tal bem
XXXVI (115) 1 do; louçao 3 sey que rei 8 possessey de bracha frol
9 flores 10 certao, não rima com encoberto. 12, 18 faltam 14 trista
19 Qal – todaqstaue. [ 8 tem uma sílaba a menos. Talvez: posso; e sei etc.
(C. e A.)]
220
XXXVII (117)
cf. M. p. 55.
Ora, senhor, nom poss’ eu ja
por nenhuma guisa sofrer
que me nom ajam d’ entender
o que eu muito receei; 715
5 ca m’entenderám que vos sei,
Senhor, melhor ca mi querer.
XXXVIII (118)
cf. M. p. 56.
Senhor, oj’ ouvess’ eu vagar 730
e Deus me dess’ end’ o poder,
que vos eu podesse contar
o gram mal que mi faz sofrer
5 esse vosso bom parecer,
Senhor, a que el nom fez par. 735
221
XXXIX (119)
cf. M. p. 58.
Que soidade de mha senhor ei
quando me nembra d’ ela qual a vi,
e que me nembra que bem a oi 750
falar; e por quanto bem d’ ela sei,
5 rogu’ eu a Deus que end’ a o poder,
que mh a leixe, se lhi prouguer, veer
222
XL (120)
cf. M. p. 59.
Pero eu dizer quizesse,
creo que nom saberia
dizer, nem er poderia, 770
per poder que eu ouvesse,
5 a coita que o coitado
sofre que é namorado;
nem er sei quem m’ o crevesse.
XL (120) 8 a ql aq 10 ql 16 diua 18 ðs. [ 8 leia-se que em lugar de quem
21 leia-se posesse em lugar de pozesse (C. e A.)]
223
XLI (121)
cf. M. p. 61.
Ai senhor fremosa, por Deus,
e por quam boa vos el fez, 790
doede-vos algunha vez
de mim e d’ estes olhos meus
5 que vos virom por mal de si,
quando vos virom, e por mi.
XLII (122)
cf. M. p. 62.
Senhor fremosa, por qual vos Deus fez
e por quanto bem em vós quis poer,
se m’ agora quizessedes dizer
o que vos ja perguntei outra vez, 810
5 tenho que mi fariades gram bem
de mi dizerdes quanto mal mi vem
por vós, se vos est’ é loor ou prez.
224
XLIII (123)
cf. M. p. 64; Diez p. 88.
Quer’ eu em maneira de proençal
fazer agora um cantar d’amor,
e querrei muit’ i loar mha senhor 830
a que prez nem fremosura nom fal,
5 nem bondade; e mais vos direi em:
tanto a fez Deus comprida de bem
que mais que todas las do mundo val.
225
XLIV (124)
cf. M. p. 65.
Mesura seria, senhor,
de vós amercear de mi, 850
que vós em grave dia vi,
e em mui grave voss’ amor,
5 tam grave, que nom ei poder
d’ aquesta coita mais sofrer
de que, muit’ a, fui sofredor. 855
226
XLV (125)
cf. M. p. 67.
Que estranho que mh é, senhor,
e que gram coita d’ endurar,
quando cuid’em mi, de nembrar 875
de quanto mal fui sofredor
5 des aquel dia que vos vi;
e tod’ este mal eu sofri
por vós e polo voss’ amor.
XLVI (126)
cf. M. p. 68.
Senhor’, cuitad’ é o meu coraçom
por vós, e moiro, se Deus mi perdom, 895
por que sabede que des que entom
vos vi, desi
5 nunca coita perdi.
227
XLVI (126) 3 entou 6 tarix. Cf. E. Dias, loc. cit.; 9 Vuos mi. falta o
restante. 11-12 Ca de me matr amor || no me geu etanto mal sofro ia
enpoder seu; 12 para atanto, em lugar de etanto, comp. E. Dias, loc. cit.
13-14: vos uj. desi nuca. [ 1 Eliminar apóstrofo depois de senhor 4-5 etc.
devem ser lidos como um verso 9 Vos vi ] V. vos ui (C. e A.)]
XLVII (127)
cf. M. p. 70; Diez, pp. 83-4.
Proençaes soen mui bem trobar
e dizem eles que é com amor; 910
mais os que trobam no tempo da frol
e nom em outro, sei eu bem que nom
5 am tam gram coita no seu coraçom
qual m’ eu por mha senhor vejo levar.
228
XLVIII (128)
cf. M. p. 71.
Preguntar-vos quero por Deus,
senhor fremosa, que vos fez
mesurada e de bom prez,
que pecados forom os meus 930
5 que nunca tevestes por bem
de nunca mi fazerdes bem.
XLIX (129)
cf. M. p. 73.
De muitas coitas, senhor, que levei
des que vos soubi mui gram bem querer,
par Deus, nom poss’ oj’ eu mi escolher
end’ a maior; mais per quant’ eu passei 950
5 de mal em mal, e peior de peior,
nom sei qual é maior coita, senhor.
229
230
L (130) 1 guydado 3-4 quemi nunca fez prazer || ne hun ede que nuca
cuydauer || ne bo grado 3 falta uma sílaba 7 dividido em lhera tan graue
|| deos fossen loado 10 podescae cer 11 ql eu ui; o sentido, bem como a
métrica, requerem a; ðs 12 desenco 14 demã per te 20 peca ðs
21 perdey, corrigido por Moura.
LI (131)
cf. M. p. 76.
Senhor, pois me nom queredes
fazer bem, nem o teedes
por guisado,
Deus seja porem loado;
231
De me matardes faredes
meu bem, pois m’ assi tragedes
estranhado
do bem que ei desejado.
LII (132)
cf. M. p. 78.
Que grave coita, senhor, é
a quen a sempr’ e desejar 1015
o vosso bem, que nom a par,
com’ eu faç’; e per bõa fe,
5 se eu a Deus mal mereci,
bem se vinga per vós em mi.
232
LIII (133)
cf. M. p. 79.
De mi fazerdes vós, senhor,
bem ou mal, tod’ est’ em vós é, 1035
e sofrer m’ é, per bõa fe,
o mal; ca o bem, sabedor
5 sõo, que o nom ei d’ aver;
mais que gram coit’ a de sofrer
quem é coitado pecador! 1040
233
LIV (134)
cf. M. p. 81.
Assi me trax coitado 1055
e aficad’ amor,
e tam atormentado,
que se nostro senhor
5 a ma senhor nom met’ em cor
que se de mi doa d’amor, 1060
nunca averei prazer e sabor.
LV (135)
cf. M. p. 83.
O gram viç’ e o gram sabor
e o gram comforto que ei,
é porque bem entender sei
que o gram bem da mha senhor
5 nom querrá Deus que err’ em mi, 1080
que a sempr’ amei e servi
e lhi quero ca mim melhor.
234
LVI (136)
cf. M. p. 84.
Senhor, que de grad’ oj’ eu querria,
se a Deus e a vós aprouguesse,
que u vós estades, estevesse
com vós, que por esto me terria 1100
5 por tam bem andante
que por rei nem ifante
des ali adeante
nom me cambharia.
235
LVI (136) 1 grado ieu 2 prouguesse. Falta uma sílaba ao verso. 9 sapendo
14-16 faltam. 20 terrya me r. f. emendado por E. Dias, loc. cit., p. 48
22-24 faltam.
LVII (137)
cf. M. p. 86; CAP. nº. X.
Unha pastor bem talhada
cuidava em seu amigo,
e estava, bem vos digo,
per quant’ eu vi, mui coitada;
5 e diss’: oi mais nom é nada 1125
de fiar per namorado
nunca molher namorada,
pois que mh o meu a errado.
236
E o papagai dizia:
“Bem, por quant’ eu sei, senhora”.
LVIII (138)
cf. M. p. 88.
Senhor fremosa, pois no coraçom
nunca pozestes de mi fazer bem,
nem mi dar grado do mal que mi vem 1155
por vós, siquer teede por razom,
5 senhor fremosa, de vos nom pesar
de vós veer, se mh o Deus aguisar.
237
LIX (139)
cf. M. p. 89.
Nunca vos ousei a dizer
o gram bem que vos sei querer,
senhor d’ este meu coraçom; 1175
mais áque m’em vossa prizom,
5 de que vos praz de mi fazer.
LIX (139) 4 aquemen. 9 aqme ... p’son 11 acotar [ 4 (9, 14) leia-se
prisom em lugar de prizom (C. e A.)]
LX (140)
cf. M. p. 90.
Nom me podedes vós, senhor, 1190
partir d’ este meu coraçom
graves coitas; mas sei que nom
mi poderiades tolher,
238
LXI (141)
cf. M. p. 92.
Pois ante vós estou aqui,
senhor d’ este meu coraçom,
por Deus, teede por razom,
por quanto mal por vós sofri,
5 de vos querer de mi doer 1215
ou de me leixardes morrer.
239
LXII (142)
cf. M. p. 94.
Senhor, que mal vos nembrades
de quanto mal por vós levei 1230
e levo, bem o creades
que par Deus ja poder nom ei
5 de tam grave coita sofrer;
mais Deus vos leixe part’ aver
da mui gram coita que mi dades. 1235
240
LXIII (143)
cf. M. p. 95.
Amor, em que grave dia vos vi, 1250
pois a que tam muit’ a que eu servi,
ja mais nunca se quis doer de mi;
e pois me tod’ este mal por vós vem,
5 mha senhor aja bem, pois est assi,
e vós ajades mal e nunca bem. 1255
LXIV (144)
cf. M. p. 97.
Que prazer avedes, senhor,
de mi fazerdes mal por bem,
que vos quij’ e quer’? e porem 1270
peç’ eu tant’ a nostro senhor,
5 que vos mud’ esse coraçom
que mh avedes tam sem razom.
241
LXV (145)
cf. M. p. 98.
Senhor, que bem parecedes!
se mi contra vós valvesse
Deus que vos fez, e quizesse 1290
do mal que mi fazedes
5 mi fezessedes enmenda;
e vedes, senhor, quejenda
que vos viss’, e vos prouguesse.
242
LXVI (146)
cf. M. p. 100; Diez p. 76.
Senhor fremosa, vejo-vos queixar
por que vos am’, e no meu coraçom 1310
ei mui gram pesar, se Deus mi perdom,
porque vej’ end’ a vós aver pesar,
5 e queria-m’ em de grado quitar,
mais nom posso forçar o coraçom,
LXVI (146) 2-3 meu || coraçom etc. 4 uei en da uos 5 queriamen 10 par
ðs. 13 forçon 14 demã 17 eqria 18 camã.
243
LXVII (147)
cf. M. p. 101.
Amor fez a mim amar,
gram temp’ a, unha molher
que meu mal quis sempr’ e quer,
e me quis e quer matar; 1330
5 e bem o pód’ acabar
pois end’ o poder ouver.
Mais Deus que sab’ a sobeja
coita que m’ ela dá, veja
como vivo tam coitado; 1335
10 el mi ponha i recado.
244
LXVIII (148)
cf. M. p. 104.
Punh’ eu, senhor, quanto poss’ em quitar
d’ em vós cuidar este meu coraçom
que cuida sempr’ em qual vos vi; mais nom
poss’ eu per rem nem mi nem el forçar 1370
5 que nom cuide sempr’ em qual vos eu vi;
e por esto nom sei oj’ eu de mi
que faça, nem me sei conselh’ i dar.
245
LXIX (149)
cf. M. p. 106.
De mi valerdes seria, senhor,
mesura por quant’ a que vós servi;
mais pois vos praz de nom seer assi, 1390
e do mal ei de vós sempr’ o peior,
5 veed’ ora se seria melhor,
como vos praz de me leixar morrer
de vós prazer de mi querer valer.
246
LXX (150)
cf. M. p. 108; Canc. I.
Oi oj’ eu cantar d’amor
em um fremoso virgeu,
unha fremosa pastor 1420
que ao parecer seu
5 jamais nunca lhi par vi;
e porem dixi-lh’ assi:
“Senhor, por vosso vou eu”.
247
LXX (150) 1 Vy. Canc. oy 3-4 em uma linha. 6 epor endrei llassy
10 edissideuos uaro 14 quem fez 25 an tey noie pesar en 27 fe (se)
28 se no no qro ben; Canc. se non do que quer’ eu ben 30 –p1tira 33 semp
hu. [ 22 leia-se Dix’ em lugar de Diz’ (C. e A.)]
LXXI (151)
cf. M. p. 110.
Quand’ eu bem meto femença
em qual vos vej’ e vos vi,
des que vos eu conhoci,
Deus que nom mente, mi mença, 1455
5 senhor, se oj’ eu sei bem
que semelh’ o voss’ em rem.
LXXII (152)
cf. M. p. 111.
Senhor, aquel que sempre sofre mal,
mentre mal a nom sabe que é bem,
e o que sofre bem sempr’, outro tal
do mal nom póde saber nulha rem;
5 pero em querede, pois que eu, senhor, 1470
248
LXXII (152) 12 uel por ðs senhor ia 14 O sentido, bem como a métrica, requerem
a complementação de o; 17 O primeiro hemistíquio tem uma sílaba a menos;
talvez se deva acrescentar er antes de tenh’ eu. 19 ðs.
LXXIII (153)
cf. M. p. 113.
Senhor, em tam grave dia
vos vi que nom poderia
mais; e por Santa Maria,
que vos fex tam mesurada, 1490
5 doede-vos algum dia
de mi, senhor bem talhada.
249
LXXIV (154)
cf. M. p. 114.
Por Deus, senhor, pois per vós nom ficou 1505
de mi fazer bem, e ficou per mi,
teede por bem, pois assi passou,
em galardom de quanto vós servi,
5 de mi teer puridade, senhor,
e eu a vós, ca est’ é o melhor. 1510
250
LXXV (155)
cf. M. p. 115.
Senhor, eu vivo coitada 1525
vida des quando vós nom vi;
mais pois vós queredes assi,
por Deus, senhor bem talhada,
5 querede-vos de mim doer
ou ar leixade m’ ir morrer. 1530
LXXVI (208)
Pero muito amo, muito nom desejo 1545
aver da que amo e quero gram bem,
porque eu conheço mui entom e vejo
que de aver muito a mim nom me vem
5 tam grande folgança que maior nom seja
o seu dano d’ ela; e quem tal bem deseja, 1550
o bem de sa dama em mui pouco tem.
251
LXXVI (208) 1... no desi auer da q amo 2 e quero ... conheco 3 muy eto
et ueios que de auer mui to 4 amy no me uera a tam g nde folga ça
5 que mayo’ no seya o seu dano dela 6 qm ... dama 7 em muy pouco te
8 Mas oq nom he 9 et seer podria se fosse al sy 10 que aella deesse bem
do meu bem 11 eu desesaria auer o mayor q 12 auer ..., ambos 13 hi
bisuha proueico tall bem deseiado 14 ffarya deseyto et sandeu seria
15 qm o nom fezesse 16 E qm doutra guisa 17 tall ... namorado 18 mas
he from q semp trahalli 19 por eedo cobrar 20 doq no suiyo amoor
21 gallar da hi et de tall amor 22 amo mays de cento 23 et no amo hua de
que me atento 24 de ... coraço 25 et soo 26 seruidor gram treito’ sia
27 se in susa senhor por meu ben 28 ouuesse ... rraazo.
252
CANTIGAS D’ AMIGO
Em esta folha adeante se começam as cantigas d’amigo que o mui respeitabre
Dom Denis, rei de Portugal, fez.
LXXVII (156)
cf. M. p. 118.
Bem entendi, meu amigo, 1570
que mui gram pesar ouvestes
quando falar nom podestes
vós noutro dia comigo;
5 mais certo seed’, amigo,
que nom fui o vosso pesar 1575
que s’ao meu podess’ iguar.
253
LXXVIII (157)
cf. M. p. 120.
Amiga, muit’ a gram sazom
que se foi d’ aqui com el rei
meu amigo; mais ja cuidei 1595
mil vezes no meu coraçom
5 que algur morreu com pesar,
pois nom tornou migo falar.
LXXIX (158)
cf. M. p. 121.
Que trist’ oj’ é meu amigo,
amiga, no seu coraçom!
ca nom póde falar migo
nem veer-me. Faz gram razom
5 meu amigo de trist’ andar, 1615
pois m’ el nom vir, e lh’eu nembrar.
254
LXXX (159)
cf. M. p. 122; St. nº. 36.
Dos que ora som na oste,
amiga, querria saber
se se verrám tard’ ou toste;
por quanto vos quero dizer:
5 porque é lá meu amigo. 1635
255
LXXXI (160)
cf. M. p. 124.
Que muit’ a ja que nom vejo
mandado do meu amigo;
pero, amiga, pos migo
bem aqui u mh ora sejo 1650
5 que logo m’ enviaria
mandad’ ou s’ar tornaria.
256
LXXXII (161)
cf. M. p. 125.
Chegou-m’ or’ aqui recado,
amiga, do voss’ amigo;
e aquel que falou migo
diz-mi que é tam cuitado 1670
5 que per quanta poss’ avedes
ja o guarir nom podedes.
LXXXIII (162)
cf. M. p. 127.
O meu amig’, amiga, non quer’ eu
que aja gram pesar nem gram plazer,
e quer’ eu este preit’ assi trager
cama ereuo tado no feyto seu 1690
5 ca o nom quero guarir nen o matar,
nem o quero de mi desasperar
257
LXXXIV (163)
cf. M. p. 128.
Amiga, bom grad’ aja Deus
do meu amigo que a mi vem;
mais podedes creer mui bem
quando o vir dos olhos meus 1710
5 que poss’ aquel dia veer
que nunca vi maior prazer.
258
LXXXV (164)
cf. M. p. 129.
Vós que vos em vossos cantares meu
amigo chamades, creede bem 1720
que nom dou eu por tal enfinta rem;
e por aquesto, senhor, vós mand’ eu,
5 que bem quanto quizerdes des aqui
fazer, façades enfinta de mi.
LXXXVI (165)
cf. M. p. 131.
Roga-m’ oje, filha, o voss’ amigo
muit’ aficado que vos rogasse 1740
que de vos amar nom vos pesasse;
e porem vos rogu’ e vos castigo
259
LXXXVII (166)
cf. M. p. 132.
Pesar mi fez meu amigo,
amiga, mais sei eu que nom
cuidou el no seu coraçom
de mi pesar; ca vos digo 1760
5 que ant’ el querria morrer
c’a mi sol um pesar fazer.
260
LXXXVIII (167)
cf. M. p. 134.
Amiga, sei eu bem d’ unha molher
que se trabalha de vosco buscar
mal a voss’ amigo polo matar;
mais tod’ aquest’, amiga, ela quer 1780
5 porque nunca com el poude poer
que o podesse por amig’ aver.
261
LXXXIX (168)
cf. M. p. 135; St. nº. 86.
Bom dia vi, amigo,
pois seu mandad’ ei migo,
louçana.
262
XC (169)
cf. M. p. 136; St. nº. 89.
Nom chegou, madr’, o meu amigo,
e oj’ est o prazo saido,
Ai madre, moiro d’amor!
XCI (170)
cf. M. p. 138; Diez p. 98-99; St. nº. 88.
De que morredes, filha, a do corpo velido?
Madre, moiro d’amores que mi deu meu amigo. 1840
Alva e vai liero.
263
XCI (170) 3 alua euay liero. 6 alua. Da mesma forma 9, 12, 15, 18
4 Do que etc. 5 damores quemi etc. 8 quando ueesta çinta etc.
11, 13 çinta. q 14 fremosa como.
XCII (171)
cf. M. p. 139; St. nº. 6.
Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
Ai Deus, e u é?
264
XCII (171) 1 flores. do etc. 6 ay des; da mesma forma 12, 18, 21, 24.
8 está trocado com 11 no manuscrito 13-15 acrescentado por St., loc. cit.
16 (= 12 no manuscrito) vos me dá uma sílaba a mais. 20 uos co anto etc.
23 uos canto. [ 13, 16 leia-se Vos me preguntades (C. e A.)]
XCIII (172)
cf. M. p. 142; St. nº. 5.
Levantou-s’ a velida,
levantou-s’ alva,
e vai lavar camisas
e-no alto.
5 Vai-las lavar alva. 1885
Levantou-s’ a louçana,
levantou-s’ alva,
e vai lavar delgadas
e-no alto.
10 Vai-las lavar alva. 1890
265
e-no alto.
20 Vai-las lavar alva. 1900
XCIII (172) 8 delgadis eno alto 10, 20, 25, 30, falta alua 11 e 12 estão em
uma linha: Voy lauar camisas leuatoussalua Em 11, e foi acrescentado, de
acordo com 3, 8, 16. 22 leuanto ussalua 23 mete ussalua en hira.
XCIV (173)
cf. M. p. 144; St. nº. 28; CAP. II.
266
Selad’ o baiosinho,
valha Deus!
treide-vos, ai amigo,
20 e guisade d’andar. 1930
XCIV (173) 1 amigue meu amigo ualha deos; o refrão ualha deos sempre
no final da primeira linha de cada estrofe. 6 ualha de; 10, 14, 18 ðs.
11 selado hayo rinho (vid. Coelho, em Monaci, p. 431) 12, 16 falta dandar
13 de 17 salado bayorão 21-24 acrescentado por St., loc. cit.
XCV (174)
A mesma V. 116; cf. M. p. 146.
O voss’ amigo tam de coraçom 1935
pom el em vós seus olhos e tam bem,
par Deus, amiga, que nom sei eu quem
o verá que nom entenda que nom
5 pód’ el poder aver d’aver prazer
de nulha rem, se nom de vós veer. 1940
267
XCV (174) V. 116 O uos q migo 2 de era 3 V. 116 r miqa 4 V. 116 ueia
q nom en teda q no podel 5 podel ... dauer] V. 116 poder ... prazer
6 prazer ... ueer Em V. 116, a terceira estrofe encontra-se antes da segunda.
7 V. 116 E que le uiuer como el etc. 8 V. 116 arae uos ue 9 se no for co
muy qm meng desem 10 poder del mui be] V. 116 podel pode’ au; falta o
restante. 12 falta. 13 V. 116 quando el ... sodes (neos) 14 qr el catã
q sencobra eten] V. 116 qr el catar q sencobra ere 15 V. 116 ual po 16 co
uos seos olhos entender q no) V. 116 tanos fros olhos entede q no podel
poder 17-18 V. 116 10 Após poder, falta o restante do refrão.
XCVI (175)
cf. M. p. 147.
Com’ ousará parecer ante mi
o meu amig’, ai amiga, por Deus,
e com’ ousará catar estes meus 1955
olhos se o Deus trouxer per aqui?
5 pois tam muit’ a que nom veo veer
mi e meus olhos e meu parecer.
268
XCVII (176)
cf. M. p. 148; Diez p. 44.
Em grave dia, senhor, que vos oi
falar, e vos virom estes olhos meus! –
– Dized’, amigo, que poss’ eu fazer i
em aqueste feito, se vos valha Deus? –
5 E avede mesura contra mi, senhor! – 1975
– Farei, amigo, fazend’ eu o melhor.
XCVIII (177)
cf. M. p. 150.
Amiga, faço-me maravilhada
como póde meu amigo viver 1990
u os meus olhos nom o pódem veer,
ou como pód’ alá fazer tardada;
5 ca nunca tam gram maravilha vi,
poder meu amigo viver sem mi,
e par Deus, é cousa mui desguisada. – 1995
269
XCIX (178)
cf. M. p. 152.
O voss’ amig’, amiga, vi andar
tam coitado que nunca lhi vi par,
que adur mi podia ja falar;
pero quando me viu, disse-mh assi: 2020
5 Ai senhor! id a mha senhor rogar,
por Deus, que aja mercee de mi.
270
C (179)
cf. M. p. 153.
Amigo, queredes vos ir? – 2035
– Si, mha senhor, ca nom poss’ al
fazer, ca seria meu mal
e vosso; por end’ a partir
5 mi convem d’aqueste logar;
mais que gram coita d’endurar 2040
me será, pois me sem vós vir!
271
CI (180)
cf. M. p. 155.
Dizede, por Deus, amigo:
tamanho bem me queredes 2060
como vós a mi dizedes? –
Si, senhor, e mais vos digo:
5 nom cuido que oj’ ome quer
tam gram bem no mund’ a molher. –
CII (181)
cf. M. p. 156.
Nom poss’ eu, meu amigo,
com vossa soidade
viver, bem vo-lo digo;
e por esto morade, 2080
272
5 amigo, u mi possades
falar, e me vejades.
CIII (182)
cf. M. p. 158.
Por Deus, amigo, quem cuidaria
que vos nunca ouvessedes poder
de tam longo tempo sem mi viver!
E des oi mais, par Santa Maria, 2100
5 nunca molher deve, bem vos digo,
muit’ a creer perjuras d’ amigo.
273
CIII (182) 11 falta uos digo 12 falta 18 falta 20 pr quato uos possastes
comigo – A correção é de E. Dias, loc. cit.
CIV (183)
cf. M. p. 159.
O meu amigo a de mal assaz,
tant’, amiga, que muito mal per é,
que no mal nom a mais, per bõa fe;
e tod’ aquesto vedes que lh’o faz: 2120
5 porque nom cuida de mi bem aver,
viv’ em coita, coitado por morrer.
CIV (183) 6 uyuer coita 7 sofro 9 dessa fazenda. 12, 18 faltam 19 falta
ben aver
274
CV (184)
cf. M. p. 161.
Meu amigo, nom poss’ eu guarecer
sem vós, nem vós sem mi; e que será
de vós? Mais al Deus que end’ o poder a
lhi rogu’ eu que el querrá escolher 2140
5 por vós, amigo, e desi por mi
que nom moirades vós, nem eu assi
* Provável equívoco na indicação do verso a ser alterado, uma vez que a variante “mã” só aparece
em CV no v. 2162 (= 26), com aliás consta no aparato à cantiga. (N.E.)
275
CVI (185)
cf. M. p. 163.
Que coita ouvestes, madr’ e senhor,
de me guardar que nom possa veer
meu amigu’ e meu bem e meu prazer! 2165
Mais se eu posso, par nostro senhor,
5 que o veja e lhi possa falar,
guisar-lh’ o-ei, e pes a quem pesar.
CVII (186)
cf. M. p. 165.
Amigo fals’ e desleal!
que prol a de vos trabalhar
d’em a mha mercee cobrar? 2185
ca tanto o trouxestes mal
5 que nom ei de vos bem fazer
pero m’ eu quizesse poder.
276
CVIII (187)
cf. M. p. 166.
Meu amigo vem oj’ aqui
e diz que quer migo falar,
e sab’ el que mi faz pesar,
madre, pois que lh’eu defendi
5 que nom fosse per nulha rem 2205
per u eu foss’; e ora vem
277
CIX (188)
cf. M. p. 168.
Quisera vosco falar de grado,
ai meu amigu’ e meu namorado,
mais nom ous’ oj’ eu comvosc’ a falar,
ca ei mui gram medo do irado;
5 irad’ aja Deus quem me lhi foi dar. 2225
CIX (188) 3, 8 ouso ieu con uos cafalar 4 medodo hirado 5 hiradaia
7 o co q maguo 10 brauaia ðs 17 sodes emeu etc. 19 esqiuo 20 esqiua
ia ðs.
278
CX (189)
cf. M. p. 169.
Vi-vos, madre, com meu amig’ aqui
oje falar, e ouv’ em gram prazer,
porque o vi de cabo vós erger
led’, e tenho que mi faz Deus bem i;
5 ca pois que s’el ledo partiu d’aquem, 2245
nom póde seer se nom por meu bem.
CX (189) 5 daqueu. 7 rijo ia que 8 o q mui qm etc. 10 fiqndeu ... ðs
12, 18 faltam 14 qxiuos 15 torno 20 pazer. [ 13 leia-se os meus* olhos
em lugar de os olhos (C. e A.)]
CXI (190)
cf. M. p. 171.
Gram temp’ a, meu amigo, que nom quis Deus
que vós veer podesse dos olhos meus,
e nom pom com tod’ esto em mi os seus
olhos mha madr’, amigu’; e pois est assi,
279
CXI (190) 1 qs 5 dauos humos 8 madra q; o verso tem uma sílaba a
menos 9 da qste pyte 11 guisade. 12 falta 15 madre fez etc. O verso tem
uma sílaba a menos. 17 ðs 18 falta. 19 A métrica e a construção
requerem aqui o 20 mã. [ 8 leia-se que em lugar de quem 9 leia-se mim
em lugar de mi (C. e A.)]
CXII (191)
cf. M. p. 173.
Valer-vos-ia, amigo, se oj’
eu ousasse, mais vedes quem
mh o tolhe d’aquest’, e nom al,
mha madr’ é que vos a mortal
5 desamor; e com este mal 2285
de morrer nom mi pesaria.
280
CXII (191) 1 Valeruos hya amigo se oieu ousasse 2 mays uedes que mho
tolhe da queste no al; 6 pesa; comp. 12 querria 7 ðs 10 que endo poder
12 qria.
CXIII (192)
cf. M. p. 173; St. nº. 87.
Pera veer meu amigo
que talhou preito comigo,
alá vou, madre. 2295
CXIII (192) 5 qmiga pyto talhado 6 Segue-se a este verso: (que miga pyto
talhado) 7 pito 8-9 estão em uma linha.
CXIV (193)
cf. M. p. 175.
Chegou-mh’, amiga, recado 2305
d’aquel que quero gram bem;
que pois que viu meu mandado,
quanto póde viir, vem;
5 e and’ eu leda porem,
e faço muit’ aguisado. 2310
281
CXIV (193) 2 da ql che 4 uur uen 6 fazo 7 El ne 9 et anda etc. 10 dau’
praz’ 11 en for 15 en dalgu 16 ne comolheu. [ 18 Eliminar o ponto
depois de cobrado (C. e A.)]
CXV (194)
De morrerdes por mi gram dereit’ é, 2325
amigo, ca tanto paresqu’ eu bem,
que d’esto mal grad’ ajades vos em,
e Deus bom grado; ca per bõa fe,
5 nom é sem guisa de por mi morrer
quem mui bem vir este meu parecer. 2330
282
CXVI (195)
cf. M. p. 178; St. nº. 81.
Mha madre velida! 2345
Vou-m’ a la bailia
do amor.
Vou-m’ a la bailia
que fazem em vila
do amor.
10 Vou-m’ a la bailada
que fazem em casa 2355
do amor.
283
CXVI (195) 1 ma madre etc. 10-12 acrescentado por St., loc. cit.
17 muytaua 19 queu 20 chamarma 22 muyca (uai) maua 23 chamar ma
periurada; per é contrário ao sentido e à métrica.
CXVII (196)
cf. M. p. 179.
Coitada viv’, amigo, por que vós nom vejo,
e vós vivedes coitad’ e com gram desejo 2370
de me veer e me falar; e porem sejo
sempr’ em coita tam forte
5 que nom m’ é se nom morte,
come quem viv’, amigo, em tam gram desejo.
CXVII (196) 1 por que uos no ueio está, no manuscrito, em uma segunda
linha. 2 gra deseyo 4 se pren coyta etc. 6 come queu uy uamigo. Na
linha seguinte está en tam gram deseio 10 e 11 estão em uma linha: soo de
como uiuo sofrendo ta(l)esqiuo 12 ualiria 13 q soffresse; o uso linguístico
requer quen 16 e 17 estão em uma linha.
CXVIII (197)
cf. M. p. 181.
O voss’ amig’, ai amiga,
de que vos muito fiades,
tanto quer’ eu que sabhades
284
CXIX (198)
cf. M. p. 182.
Ai fals’ amigu’ e sem lealdade!
ora vej’ eu a gram falsidade,
com que mi vós a gram temp’ andastes;
ca d’ outra sei eu ja por verdade, 2410
5 a que vós a tal pedra lançastes.
285
CXIX (198) 2 ue ieu 10 aq uos tal etc. comp. 5 15 a q uos tal etc. falta
lançastes
CXX (199)
cf. M. p. 184.
Meu amig’, u eu sejo
nunca perço desejo 2425
se nom quando vos vejo;
e porem vivo coitada
5 com este mal sobejo
que sofr’ eu, bem talhada.
286
CXXI (200)
cf. M. p. 185.
Por Deus, punhade de veerdes meu
amig’, amiga, que aqui chegou,
e dizede-lhi, pero me foi greu
o que m’el ja muitas vezes rogou, 2445
5 que lhi faria end’ eu o prazer,
mais tolhe-m’ ende mha madr’ o poder.
De o veerdes gradecer-vo-lo-ei,
ca sabedes quant’ a que me serviu;
e dizede-lhi, pero lh’ estranhei 2450
10 o que m’el rogou cada que me viu,
que lhi faria end’ eu o prazer,
mais tolhe-m’ ende mha madr’ o poder.
CXXII (201)
cf. M. p. 186.
Amiga, quem vos ama
e por vós é coitado,
e se por vosso chama
des que foi namorado, 2465
5 nom viu prazer, sei o eu;
porem ja morrerá
e por aquesto m’ é greu.
287
CXXII (201) 1 queu; ... ama é emenda de Moura. 2 Vos e coytado não
satisfaz nem à métrica nem ao sentido; vid. nota. 5 sayo eu; 14 e é
requerido tanto pelo contexto como pela métrica.
CXXIII (202)
cf. M. p. 188.
Amigo, pois vós nom vi,
nunca folguei nem dormi;
mais ora ja des aqui
que vos vejo, folgarei
5 e veerei prazer de mi, 2480
pois vejo quanto bem ei.
288
CXXIII (202) 5 e ueerey 6 poys ueyo 9 e huuos ðs no qis trager; cf. E.
Dias, loc. cit. 11 e ueerey 12 poys ue 17 eueerey 18 poys ueio qua
21 ðs 23 eu’ey 24 A rima, bem como o sentido, requerem ei.
CXXIV (203)
cf. M. p. 189; St. nº. 97.
Pois que diz meu amigo 2500
que se quer ir commigo,
pois qu’ a el praz,
praz a mi, bem vos digo,
5 e est’ é o meu solaz.
CXXV (204)
cf. M. p. 191.
Por Deus, amiga, pes-vos do gram mal 2515
que dizend’ and’ aquel meu desleal,
ca diz de mi e de vós outro tal,
289
CXXVI (205)
cf. M. p. 192.
Falou-m’ oj’ o meu amigo
mui bem e muit’ omildoso
no meu parecer fremoso, 2535
amiga, que eu ei migo;
5 mais pero tanto vos digo:
que lhi nom tornei recado
ond’ el ficasse pagado.
290
CXXVII (206)
cf. M. p. 194; Diez p. 45.
Vai-s’ o meu amig’ alhur sem mi morar,
e par Deus, amiga, ei end’ eu pesar,
porque s’ora vai, e-no meu coraçom
tamanho que esto nom é de falar;
5 ca lh’ o defendi, e faço gram razom. 2560
CXXVII (206) 5 fazo 6 q seno fosse daqi está em uma segunda linha.
7 –pderra 9 edes oy mays q seia de mj 10 Dividido em duas linhas. Nen
uegy amiga || se morte non. [ 9 mi ] V. mj (C. e A.)]
CXXVIII (207)
cf. M. p. 195.
Nom sei oj’, amigo, quem padecesse
coita cual padesco, que nom morresse,
se nom eu, coitada, que nom nacesse,
291
292
CXXIX (CB. 406) 1 melyon g’çia qixoso 10 Falta uma sílaba ao primeiro
hemistíquio. 13 Falta a sílaba tônica ao primeiro hemistíquio. 21 ca
demo leua prol qxilhen ata. [ 17 nem ] CB. ue Em lugar de a leia-se
am (= a) (C. e A.)]
293
CXXX (407)
Tant’ é Melion pecador, 2605
e tant’ é fazedor de mal,
e tant’ é ome infernal
que eu sõo bem sabedor,
5 quanto o mais posso seer,
que nunca poderá veer 2610
a face de nostro senhor.
CXXXI (408)
Joam Bolo jouv’ em unha pousada
bem des ogano que da era passou,
com medo do meirinho que lh’ achou
unha mua que trajia negada.
5 Pero diz el que, se lhi fôr mester, 2630
que provará ante qual juiz quer,
que a trouxe sempre des que foi nada.
294
CXXXI (408) 1 Joham bolo Jouuen hunha pousada 8 por sua encontra-se
no início do verso 9 9 podo me dele 10 d’eyto 12 P’ q 15 Nona
16 –p enqisas poer 18 madru o verso tem uma sílaba a menos. 20 qlha
guardou be dez meses 21 O. be do(u)ze daql çerro q traginchado.
CXXXII (409)
De Joam Bol’ and’ eu maravilhado,
u foi sem siso d’ ome tam pastor
e led’ e ligeiro cavalgador,
que tragia rocim bel e louçano. 2650
5 E disse-m’ ora aqui um seu vilano
que o avia por mua cambhado.
295
CXXXIII (410)
Joam Bol’ anda mal desbaratado
e anda trist’ e faz muit’ aguisado,
ca perdeu quant’ avia guaanhado 2675
e o que lhi deixou a madre sua.
5 Um rapaz que era seu criado,
levou-lh’ o rocim e leixou-lh’ a mua.
296
CXXXIV (411)
U n’outro dia Dom Joam
disse uma cousa que eu sei,
andand’ aqui em cas d’ el-Rei,
bõa razom mi deu de pram,
5 per que lhi trobasse; nom quis, 2695
e fiz mal porque o nom fiz.
297
CXXXV (412)
U n’outro dia seve Dom Joam,
a mi começou gram noj’ a crecer
de muitas cousas que lh’oi dizer. 2715
Diss’ el: “Ir-m’ ei, ca ja se deitaram;”
5 e dix’ eu: “Boa ventura ajades
porque vos ides e me leixades.”
CXXXV (412) 1 do foa 4 iasse 6 por quos hides está no fim do v. 5.
7 muyteffadado de seu parllar 8 vala ds 9 tosqiaua 11 boa uent’a
13 par fiou 14 noie 15 sexera 18 Pr.
CXXXVI (413)
Disse-m’ oj’ um cavalheiro
que jazia feramente
um seu amigo doente,
e buscava-lhi lorbaga.
5 E dixi-lh’ eu: “seguramente 2735
comeu praga por praga”,
298
CXXXVII (414)
Mui melhor ca m’eu governo,
o que revolv’ o caderno 2750
governa, e d’ inverno
o vestem bem de brou.
5 E jaz e-no inferno
o que o guaanhou.
299
CXXXVIII (415)
Deus, com’ ora perdeu Joam Simhom!
Tres bestas nom vi de maior cajom,
nem perdudas nunca tam sem razom;
ca teendo-as sãas e vivas 2770
5 e bem sangradas com sazom,
moirerom-lhi todas com olivas.
300
VARIANTES DO C ÓDICE
COLOCCI-BRANCUTI (nº. 497-606)
V.
301
302
303
304
186 15 pardon
187 4 lhi eu 18 –pça
189 5 daque 8 qm] gura 12 n9] v9 14 tornou 18 gura
190 5 hirm9 12 muyto 14 Cao 16 hirm9
191 5 moirer
192 7 falta.
193 2 q 4 uiir 6 faço 7 ue 11 eu 16 ue
194 1, 7 moirerdes 5, 11 moirer 5 guysa 14 eu] en 17 ds
195 14 muytamaua 16 q eu 17 gairida 19 muytamaua
196 3 gura 5 se 7 quen 14 15 moiresse 18 moiresse
197 5 longue 17 faco
198 4 eu] e 5, 10 lancastes 6 toberto
199 2 –pco
200 5 f’ ia andeu 7 gradecer 9 lestranhei 15 rogou 18 ami
201 1 que Também aqui + , mas no verso, não acima dele. 5 uyo
6, 13 moirera 11 sancta
202 5 uerey 23 E au’ ey
203 3 a el 4 digue 7 N9
305
306
N OTAS
307
III. 48. (cf. 415) A frase que aqui descreve Deus, “aquel que pod’ e val”, em
Afonso X define a Virgem Maria, enquanto Villasandino utiliza a mes-
ma expressão para sua amada (segundo Diez, loc .cit., p. 105). Cf.
CB. 373, 24, e ibid., 231, 15: E pero Deus he o que pod’ e val.
Outras perífrases para Deus são 499: quem vos tal fez; 2625: o
que nos comprou; V. 545, 20: el que os dias en poder tem, V. 632, 10: onde
vem o ben.
53. Complete-se polo meu com o substantivo mal, a partir do advérbio
seguinte, mal.
55. Des i (= de ex hic) encontra-se ainda no Canc. Res. III, p. 176:
Mando a alma ao parayso, Des y (não de sy) o corpo aa terra.
57. O emprego de foi = fui não é raro na língua arcaica. Cf. v. 1257 e
V. 451, 16; 1126, 8; 1163, 1; CB. 11, 7-8; 33, 9, 12; 43, 18; 151, 2, 18;
199, 11. Ainda hoje ocorre esse fenômeno dialetal; cf. J. Leite de V.,
Dialect. interamn. IV, p. 7; VIII, p. 16. Inversamente, temos também fui
= foi, por exemplo em 1575, 1582 e V. 300, 4, 5; CB. 149, 2; 213, 1.
308
IV. 73. Casos de aliteração como em feito fazer eram muito mais recorren-
tes na língua arcaica do que agora. Além de vida viver, em 1497 e 1520,
poderiam ser aqui citados os seguintes exemplos desse tipo: Chagas
chagar, na Demanda do Santo Graal, p. 31; El dado que derem andores,
Ineditos de H. P. V, p. 421; Dyuyda que devedes, ibid. IV, p. 581: Erro
errar, S. Graal, p. 126; ferir ferida, Ineditos de H. P. V, p.390, S. Graal,
p. 67; fugir a bom fugir, Hercul., Monge de Cister, p. 233; lidar lide,
Ineditos de H.P. V, p. 408; Perjurado es d’aquella jura que jurasti, ibid.,
p. 417; morrer morte, CB. 73, 25; S. Graal, p. 92; a poder que podesse,
ibid., p. 31, 46; rir a bom rir, Monge de Cister, p. 10; rogo rogar, S.
Graal, p. 31; saber sabedoria, V. 1100, 4; saeta saar, Santo Graal, p. 69.
75. A expressão adverbial de pram é muito frequente nos cancioneiros
e significa, como mostra o exame de uma grande quantidade de passa-
gens, “sem mais”, “com prazer”, “prontamente”; o mais próximo a ela,
em alemão, talvez seja schlechthin [simplesmente, chãmente]. Comp.,
por exemplo, V. 5, 3; 18, 9; 457, 19; 803, 10; CB. 77, 14; 300, 8. Além
dela, também frequentemente ocorre a pram com o mesmo significado,
por exemplo em V. 1140, 6: a pram sserá a besta ladrador; CB. 110, 29: a
pram per vos me perderei; Af. X, CM. 162, 6; 255, 7 etc. – Cf., sobre
isso, o equivalente de chão em 330.
77. O sen, “juízo”, evidentemente emprestado do provençal, encontra-
se também na língua dos documentos, por exemplo Ineditos de H. P. V,
378: O que nom jaz na carta, iuigeno os juizes con os homees boos segundo
seu sen; ibid., 402: Outras entenções juyguem segundo seu bom sen assi
como melhor poderem. A palavra terá sido transmitida aos portugueses
pelos primeiros povoadores provençais. – A fórmula aliterante saber e
sem é tão usual para os trovadores portugueses quanto para os provençais
(Vid., para o francês antigo, Gröber, em Zs. für rom. Philol. VI, p. 469).
Dos genuinos casos portugueses de aliteração, ainda podem ser aqui
mencionados os seguintes: Cativ’ e coitado, V. 570, 12; falss’ e felon, Af.
X, CM. 15, 1; a ferro e a fogo, Hercul., Hist. de P. IV, p. 391; led’ e
ligeiro, 2649; led’ e loução, V. 456, 6; lã nen lynno, Af. X, CM. 23, 5
etc.; lum’ e luz, ibid., 15, 1 etc.; sem pudor nem piedade, Hercul., H. de
P. III, p. 391; nom vay nem vem, V. 1174, 28; Afonso X , CM. 277, 5
etc. Aos exemplos de aliteração em nossa coletânea, acrescentem-se
também tard’ ou toste, em 1631, e levou e leixou, em 2678.
309
310
hua voz que me disse, mays sey que foy demo que me quis enganar;
besta, Santo Graal, p. 131, 8: Mays besta que as come, logo morre. 3)
Nomes de festas, dias da semana e períodos de tempo que, por causa de
sua repetição regular, são pensados como seres existentes apenas uma
vez (vid. Tobler loc. cit.). Inedit. de H.P. V., p. 429: Des dia de Ramos atá
dia terça feira de Pasqua; Af. X, CM. 393, 3: E chegarom ao Porto
Mércores, primeiro dia d’Abril; oje tercer dia, em 1673 (para mais am-
pla comprovação, vid. nota à passagem); Santo Graal, p. 7, 1: Vespera
de pinticoste; ibid., 6: ora de noa, 21: ora de comer; V. 358, 10: Mays
tempo de jogadores Ja çafou.
VI. Sobre o assunto, cf. XXXVII, XXXVIII e LIX. O pedido para confes-
sar seu estado de espírito à amada lembra uma passagem em Amanieu
des Escás (Milà y F., Trob., p. 422): Per merci-us velh preiar euos prec
Que vulhatz entendre mon prec, E que vulhatz saber mon sen E mon cor
e mon estamen. – Que jes non podés devinar Jeu com vos am, si no-us o
dic.122. Esta denominação da amada é comum a todos os trovadores.
Cf. V. 94, 16; 478, 7; CB. 165, 6; 173, 7.
VII. (cf. LII) Esta cantiga lembra bastante, tanto na expressão quanto na
temática, um poema de Martin Soares, CB. 125.
130. Para o significado da conjunção en tal que = para que, a fim que, cf.
V. 285, 7-8: Por baralhar com el e por al nom Faley com’ outr’ ental que o
prouasse; Santo Graal, p. 142, 10: O caualeiro aduseo (isto é, o caualo) a hua
aruor e liou o, em tal que Persiual o achasse quando quizesse caualgar.
311
XIII. É bastante provável que tal censura tenha sido verdadeiramente fei-
ta ao rei, pois suas relações amorosas eram muito mais reais do que
aquelas que constituem o assunto de suas cantigas de amor. Gaucelm
Faidit expressa a ideia de que o amor pela senhora faz poetar (Diez,
P.T., p. 141): Mon cor e mi e mas bonas cansos E tot can sai d’avinen
dir ni far Conosc’ qu’eu tenc, bona dona, de vos.
249. Em voss’ amor, o pronome possessivo tem valor de objeto, de
modo que o sentido é: amor por vos. Assim, em nosso texto, ainda em
576, 852, 879, 1020, 1436, 2078, bem como meu em 2106, seu em 979.
Cf. V. 789, 2: Con vosso medo; em 8, con vosso pavor; CB. 133, 21;
230, 2: uoss’ amor; também em Amanieu des Escás (Milá y F., p. 425):
Que si-m fossetz lial amia, Ja per vostr’ amor no moria. PMH. Script. I,
p. 276: Rrey Ramiro, que te adusse aqui? E elle respondeu: “O vosso
amor”; Canc. Res. II, p. 416, 26-30: Nom he a primeira vez Esta que
por teu respeyto (= respeyto a ti) Amor bravo com despeyto jaa outra
chagua lhe fez. Igualmente em espanhol, por exemplo em Calderon,
312
XVI. O dito de que a amada seria digna de um rei (cf. ainda LVI) encontra-
se também entre os provençais, por exemplo em Bertran de Born (Choix
III, p. 138).
308. Sobre o uso dos derivados verbais em -ador, -edor, -idor para ambos
os gêneros, vid. Cornu, Grundriss I, p. 790. Em nosso texto, ocorrem
ainda os seguintes casos desse tipo: em 2655, muacha revelador; em
2665, m. remusgador. Cf. V. 1140, 6: besta ladrador.
313
XVIII. 355. Para a expressão, cf. V. 644, 12-13: Esta coita que mha morte
tem Tam chegada que nom lh’ey de guarir; CB. 301, 22-3: E esta coita
tem me chegado A morte e non guarirey por neum sen.
363. No segundo hemistíquio, a métrica já exige uma correção, mas o
sentido também não é satisfatório sem o pronome adverbial em, que se
refere a que por vós morre. O sentido do verso é: “Morre por vossa
culpa. Livrai-o disso!”. É comum em nossos poetas a frase partir alg.
de morte, salvar alguém da morte. Cf. por exemplo 510, 16: (Deus)
dev’ os vassalos de mort’ a partir; 803, 6: Mais quero m’eu esta morte
partir.
364. Sobre o uso de xe e xi, cf. Diez, KuHp., pp. 112-3, e Cornu,
Grundriss I, p. 794. Em nosso texto, este pronome aparece como dativo
ético em 1776, 1949, 2658 e 2727; como acusativo ligado a pronomes
pessoais, temo-lo em nossa passagem, além de 2254 e 2604. Cf. Gil
314
XIX. Para o conceito, cf. 900, 3-5: E pero muy longe de vos vivi, Nunca
aqueste verv’ antig’ achei: Quam longe d’olhos, tam longe de coraçom.
371. Preto, que se formou por metátese de perto, é muito frequente na
língua arcaica, e de uso exclusivo em Afonso X, CM.
380. Para o significado do substantivo bemfazer, benefício, favor, cf.
708, 22: E mays vos quero dizer deste rey E dos que del aviam bemfazer;
926, 7, 9; CB. 178, 31: Seu parays’ e outro bemfazer.
384. Para a vezes, diz-se agora às vezes. Cf. 1139-1140: a vezes – a
vezes, ora-ora; em Sá de Miranda 165, 293-4: A revezes – a revezes.
XXII. 429. O e de fe ainda tem aqui, como mostra a rima com que, seu
primitivo som fechado, enquanto na maioria dos casos já é aberto e rima,
por exemplo, com é.
315
316
Para a expressão que me pes, cf. Af. X, CM. 53, 5: Se non quiserde-
lo fogo, sei eu, verrá a mi, Et que vos pes m’aueredes E-no col a soportar;
G. V. III, p. 73: Não hei de comer, que me pes; Canc. Res. III, p. 174:
Mandai-no-la, que lhes pes; ibid., p. 287.
536. Para a expressão, cf. V. 849, 3: E sal m’este coraçon E estes olhos
chorando.
XXVIII. Com esta cantiga de mensageiro, o rei D. Denis tem lugar único
entre os trovadores portugueses. Uma indicação de tal mensageiro do
amor encontra-se ainda na cantiga d’amigo XCIX.
551. Na língua arcaica, o infinitivo impessoal aparece não raro também
com diferenciação do sujeito, mas ao lado da forma flexionada, enquan-
to o português atual pode escolher entre ambas as formas apenas com
sujeitos idênticos. Cf. PMH. Script. I, p. 187: Os IIII mogotes dos IIII
mil caualeiros que estauam folgados pera prender os cristaãos.
553. Para a lição manuscrita sabeddo, Monaci observa que o segundo d
parece estar riscado. Provavelmente o copista quis fazer um traço no
primeiro d, assim ð = de, através do que obteríamos sabede-lo (d, erro
por l). Diez, KuHp., p. 137, e Monaci, p. 430, leem sabedes lo.
317
ouujra, ujo que aquel que lhe todo contara que era sumjdo, deceo de seu
rocim; ibid., 44, 9; 84, 3 etc.; Afonso X, CM. 65, 44: E por razon tive que em
esta terra dos meos que soffresse desonrra et guerra etc.; PMH. Script. I,
p. 283: E os mouros disserom que esta morte que lhe veera pello pecado
que fez em sa filha.
581-3. Para esta ideia e expressão, cf. Martin Soares CB. 133, 26-8:
Vedes como lhis mentirei: D’outra senhor me lhis farei Ond’ aia mays
pouco pavor.
XXXI. 593. Para este que após exclamações, cf. 873 e CB. 8, 1-2: Deus
que pouco que Eu en aquel uiço vivia; 43, 1-2: Senhor Deus, que coyta
que ey No coraçon e que pesar. Vid. nota a 1257.
XXXII. 618. Uma fórmula fixa; cf, por exemplo, CB. 62, 16: E nunca me
dês leixe bem achar.
621. A comparação é proverbial; cf. amar mais que as meninas dos
olhos e Terent. Ad. 702: Ni magis te quam oculos nunc ego amo meos.
318
XXXVII. Uma cantiga de Nuno Eanes Cerzeo, CB. 110, tem linha de pen-
samento semelhante.
XLI. Uma estrofe de Affonso Meendez de Besteyros, CB. 327, tem conteú-
do e expressão parecidos: Senhor fremosa, mays de quantas son Donas
319
320
321
XLIX. Para a ideia deste poema, cf. a fiinda de V. 479, 28-30: E destas
coitas que sofri A mayor escolher nom sey Pero sey ca mui graves som.
322
LIV. O poema consiste de três estrofes de sete versos cada, cuja primeira
tem o seguinte esquema de rima: ababbbb. No verso 7, o texto transmi-
tido assim como o sentido falam a favor de nunca ar averei p.e.s., de que
resulta um decassílabo. A este corresponde também o último verso, igual-
mente decassílabo, da terceira estrofe, que, em relação ao número de
sílabas dos respectivos versos, tem a mesma construção da primeira es-
trofe, apenas com outra sequência de rima. Esta é ababccb, se se
estabelecer o verso 19 com as duas sílabas faltantes e, ao mesmo tempo,
a rima com se nom por meio do acréscimo de entom. Na segunda estrofe,
para o último verso deve-se esperar também um decassílabo, e sem dú-
vida adicionar, ao primeiro hemistíquio, uma expressão dissílaba como
contraponto a nenhum, talvez muito ou mui gram. Para a expressão, cf.
por exemplo CB. 181, 2: E de mha mort’ ei eu mui gram sabor; ibid., 28:
E de que moiro, gram prazer end’ ei. Note-se, ainda, que às rimas mas-
culinas 5-6 da primeira estrofe e 18-19 da terceira correspondem rimas
femininas na segunda estrofe, uma irregularidade que não raras vezes os
trovadores portugueses se permitiam. Poemas de versos mistos como
este não são incomuns em nossos cancioneiros; em nossa coletânea, ci-
tem-se ainda: LI, CXVII e CXXXVIII.
1059. Na língua arcaica, cor ainda tem frequentemente o significado de
“coração”. Cf., por exemplo, 2431 e V. 356, 2: E crece m’end’ unha coita
tam fera Que nom ei o cor comigo; CB. 20, 22: E nunca mais do meu Cor
perderei mui gram coita. Mas, além disso, como menciona Viterbo em
Elucid. s.v., a palavra também significa vontade, sentido que ainda hoje
encontramos dialetalmente; vid. J. Leite de V., Dial. interamn. VIII, p. 13.
323
LVI. Joam Coelho expressa uma ideia bastante similar em CB. 266, 16-19:
E se m’ela fazer Quizesse ben, non queria seer Rey nem seu filho nem
emperador Se por hi seu ben ouvess’ a perder.
1102. Nos textos antigos, encontra-se com frequência ifante em vez de
infante, como em V. 707, 9; 1145, 4 ; Canc. Res. II, p. 72; Gil Vicente II,
p. 358, III, p. 347, 348, 356; Sá de Miranda 150, 357, 479; contudo, em
território português não é conhecida a queda de n no grupo nf.
324
LXII. Para este pensamento, cf. CB. 305, especialmente o refrão: Mays
Deus que tolh’ as coitas e as dá, El dê gram coit’ a quem coita nom a.
1258. Compreenda-se conhocer, aqui, como substantivo com o senti-
do de mesura, que a palavra tem frequentemente na língua dos antigos
cancioneiros, ao lado do de saber. No primeiro significado, encontra-se,
por exemplo, em V. 622, 7: Vós nom seredes tam sem conhocer;
CB. 318, 11: En perder vosso conhocer En mjm e non guaanhardes ren;
ibid., 403, 19. No sentido de saber, aparece em V. 370, 1-2: Ay amigas,
perdud’ am conhocer Quantos trobadores no reyno som; ibid., 440, 8-9:
Pero quero o começar E forçar hi meu conhocer; ibid., 549, 18: Quant’ é
meu conhocer; cf. ibid., 532, 7; 643, 22; 1174, 20; 1194, 14; CB. 66, 3.
PMH. Script I, p. 230: E os homens que nom som de boo conhocer, nom
fazem conta do linhagem. Também conhocença ocorre com sentido de
saber, CB. 36, 28: Se ali cousimento val ou hi conhocença nom fal.
325
a nom matamos nos; ibid., 135, 16: “Beento seja Deos que vos aqui adusse
a esta sazom! Certas ca muyto me era mester, como vos eu contarey; Canc.
Res., p. 89: Que se bõoas as levou, A osadas que nam menos t’as pegou;
Gil Vicente III, 158: Bofá que me praz, molher; Ulisippo, p. 15: Certamen-
te que os homens parece que não estudais senão em cuidar etc.; Queiroz,
Os Maias II, p. 214: Claramente que sabia, por isso chorava – dizia Melanie.
2) Afirmação. O Positivismo III, p. 232: Aqui, sim, que ha um puro senti-
mento. 3) Determinação temporal, com desde. E. Rebello, Notas açor. II,
p. 25: Desde 1744 que havia fome no archipelago açoriano; J. Leite de V.,
Endovellico, p. 1: Desde o século XVI que são conhecidas inscripções em
honra do deus lusitano Endovellico. Assim, também em espanhol, por
exemplo Primavera I, p. 201: Desde el miercoles corvillo Hasta el jueves
de la Cena que el rey no hizo la barba. 4) Espécie e modo. Afonso X,
CM. 317, 8: E quando as portas sarradas achou, Per poucas que de sanna
sandeu tornou; O Positivismo II, p. 453: Em compensação quasi que pode-
mos affirmar que em Portugal se encontram variantes dos principaes cyclos
conhecidos; Revista lus. I, p. 155. A diversidade de meios, gostos e
circumstancias, em que se ellas cantão, por força que hade influir nellas.
5) Exclamação. H. Rom. II, p. 39: Eis que aos pés da Virgem Santa D’agua
uma fonte se abria; Coelho, Cont. pop., p. 26: Eis que de repente lhe
appareceu Brancaflor.
LXV. 1293. Aqui, a forma quejanda não é admissível por causa da rima,
mas parece ter sido, ao tempo, a mais recorrente; cf. CB. 60, 6-7:
quejandas.
1301. Para o significado de ja quanto, “um pouco”, “algo”, “um instan-
te”, cf. V. 978, 14: Ca muitas vezes ficades entos E faz-vos peyor talhado
ja quanto; 1127, 6: E esta dona puta é ja quanto; Santo Graal, p. 8: El rei
que entendeu que (Lançarot) auya ja quanto de pessar, disse...; Gil Vicente
III, p. 131: Mais gado tenho eu ja quanto. Cf. o emprego semelhante de ja
que em V. 1197, 1-3, Af. X, CM. 718, Santo Graal, p. 74, 20; 117, 18.
326
mi; CB. 219, 10-14: E muit’ amada pero que nom sei Quem a tam muit’
ame come mi; Af. X, CM. 15, 4: Que mui mais sei eu ca ti assaz; Livro
de Linh., tit. XXI: Porque mataste aquelle mouro que era melhor que ti;
Ineditos dos sec. 14-15, I: De quantos matára per obra e per vontade,
quem sabe o conto tambem come ti? Santo Graal, p. 14, 12: Ca tu vees
que milhor cavalleiro ca ti a guanhou; ibid., p. 141, 23: Sodes milhor
caualeiro e mais ardido ca mjm; Gil Vicente III, p. 391: Porque tal fui
coma ti. Cf. J. Leite de V., Dial. beir. I, p. 7: “Na Beira é vulgar coma
mim equivalente a como eu (coma é uma forma paralela, arcaica e diale-
tal, de como)”. Também como predicativo aparece o pronome na forma
objetiva; assim consta em Gil Vic. I, p. 318: Se eu a ti fosse, leixaria o
gado; ibid., III, p. 328: Que tu és e ella he ti; modernamente, por exemplo
Queiroz, Os Maias, II, p. 150: Eu, se fosse a ti, ia-me ao Damaso... Mas
também a forma objetiva surge no lugar da subjetiva, como por exemplo
em V. 358, 16-17: Os grandes nossos amores que mi e vós sempr’
ouvemos; Gil Vic. I, p. 167: Ora vamos eu e ti Ó longe d’esta ribeira...
onde atuam lado a lado nominativo e acusativo. Vockeradt, em Lehrbuch
§ 185, dá exemplos italianos deste fenômeno.
327
LXX. 1421. que ao parecer seu = a cujo parecer. A mais precisa relação,
em que está pastor para o predicado da oração relativa, é aqui dada não
tanto pelo que quanto pelo pronome possessivo, referente a outra parte
da oração relativa. Na seguinte passagem, um pronome pessoal auxilia a
marcar mais de perto essa relação: Canc. Res. II, p. 509: Outros sey que
vão chamar Suas mays “minha senhora” Que (= aos quaes) muyto milhor
lhe fora Tal cousa nunca falar. Acerca deste e de outros modos de utiliza-
ção desse advérbio relativo que nas línguas românicas, vid. Diez, Gramm.
III4, pp. 379-381, e Tobler, Verm. Beit., pp. 102-111.
1429. destorvar, o mesmo que o provençal destorbar, ocorre também
nos documentos portugueses, junto do hoje corriqueiro estorvar, por
exemplo em PMH. Leges et Cost., pp. 869, 871, 881 etc.
328
1477. vel, “contudo”, “ao menos” (cf. Diez, loc. cit., p. 134, e EW4,
p. 696) encontra-se com frequência nos antigos cancioneiros; por exem-
plo, em V. 1116, 7-8: E nom est ua velha nem som duas, Mais som vel
centas; ibid., 1124, 7; CB. 281, 15; T. e C., p. 9.
LXXIV. 1505. Para o significado de ficar por alg. de fazer alg. c. cf. Santo
Graal, p. 81, 12: Por mjm nom ficará (= “a mim não há de faltar”); ibid.,
p. 131, 25: “Ja nom me ajude deos”, disse Lionel, “Se uos eu mercee
ouuer, se mais posso ca vós; ca nom ficou por vós de eu morrer”. Cf.
ainda V. 221, 14.
329
330
LXXXVI. 1740. (cf. 2109) Para o uso adverbial de aficado, cf. Af. X,
CM. 11, 8: Mas un angeo corria A alma prender Led’ aficado (muito
contente); ibid., 224, 3: Logar mui sant’ aficado U muitos miragres fez.
LXXXVII. 1761. Para o refrão, cf. Flamenca 6302-3: Avans volria el morir
Ques eu soffris anta ni dan.
1769. Também Afonso X usa a forma feze, por exemplo em CM. 25, 14.
LXXXIX. 1797. Para a expressão, cf. V. 781, 7: Bon dia ueio pois vos vej’
aqui. Da mesma forma mal dia significa “má sorte”, como em 2009 e
331
V. 799, 2: Aquel que eu por meu mal dia vi. (cf. o ital. malanno). Daí bon
dia como forma de saudação e felicitação, por exemplo em V. 726, I:
Fremosas, a Deos grado, Tan bon dia comigo! Cf. Ulysippo, p. 24: Assi
que estes são os remedios que se dão pera guardar tão perigoso gado, e
tão bon dia se bastam.
Vi remar o navio
i vai o meu amigo,
e sabor ei da ribeira.
332
333
XCVII. Para a forma dialógica, cf. C, CI, CII; nesta última cantiga aparece,
na fiinda, a resposta da amada. Há um diálogo construído de modo mui-
334
CIII. Para a ideia do refrão, cf. 1125-1128 e V. 278, 9-10: Nunca molher
crea per amigo Poys s’o meu foy e nom falou migo.
335
2110. Uma repetição semelhante a logo logo, que serve para intensifi-
car o sentido, é chos chos (-plus), em Santo Graal, p. 134, 4: E elle deu
vozes chos chos (cada vez mais). – Outro não deve ser tomado aqui tanto
em seu sentido literal de “outro”, “mais um”, mas antes como servindo à
ênfase, como por exemplo em Af. X, CM. 128, 7: Logo sen outra tardada
(onde tampouco se fala de um atraso anterior), mas especialmente em
ibid., 65, 160: E pois que os (madudinnos) ouueron todos ben ditos De
coraçon, ca non per outros escritos (onde só a ideia de leitura deve ser
enfaticamente recusada). Como no verso acima citado, temos nas pala-
vras sem outro tardar de nosso texto um exemplo daquela tendência
própria da linguagem popular de fortalecer um pensamento enunciado
por meio da expressa negação de um significado a ele contrário. Assim
diz nosso poeta em 2407: O fals’ amigu’ e sem lealdade (cf. também
1786), e este modo de falar é muito apreciado por Afonso X. Cf.
CM. 347, 1: De que fiz cantiga nova Con son meu, ca non alleo; 369, 9:
Et pediron-ll’ a sortella D’ouro fin, ca non d’argente; 394, 5: Logo o
fezeron, sen tardar de ren; FNS. 1, 12: Ben uennas, Maio, manss’ e non
sannudo. PMH Script. I, p. 266: E esto, sennores, foi por cajam, ca nom
por voomtade. Também o espanhol oferece exemplos; assim [PC. 3549:
Por querer derecho, e non consentir el tuerto. Cf. ibid., 3576. G. de Berceo,
Milagros, 734: Con çiriales en manos e con çirios ardientes, Con su rey
en medio, feos, ca non luçientes; ibid., 569: Ca era verdat pura, ca non
vallitania. Loores de Berceo, 40: Van por camino errado, errado ca non
cierto. (C. e A.)] Primavera I, p. 169: Villanos te matan, Alonso, Villanos,
que no hidalgos etc.; ibid., p. 183: Trinta dias da de plazo, Trinta dias,
que mas no; ibid., p. 341: Mandé hacer unas andas De plata, que non de
al. Grimm (RA., pp. 27-31) oferece numerosas provas deste fenômeno
em germânico.
CVI. 2163. madr’e senhor é uma expressão muito recorrente nas canções
populares, assim por exemplo V. 293, 9: Nostro senhor lh’o gradesca
por mi, E ora é mha madre e mha senhor; ibid., Sempre lh’eu madr’e
senhor chamarei; cf. 302, 1; 800, 9 e 40, 6 amigu’e senhor. A mãe tam-
bém é designada apenas por senhor, em V. 340, 15-16: Ca sse assy nom
é, senhor, nom vejades de mi prazer.
CVII. 2185. Em, “em relação a isso”, refere-se aqui a um substantivo, fal-
sidade ou deslealdade, suposto por um dos adjetivos fals’ e desleal, que
poderia estar no espírito do poeta. Casos como este, em que um prono-
me demonstrativo ou possessivo se refere a um conceito contido numa
336
palavra anterior, mas não expresso, não são exatamente raros. Assim se
lê no Poema del Cid, 2950: Tienes (el Cid) por desondrado, mas la vuestra
(i.e., desonra) es mayor; em Don Juan de Castro, de Lope de Vega (Riv.
52, 379a): Cuando relincha (el caballo) parece que habla, y por maravilla
Los (i.e., relinchos) tira de trece en trece; no Decam., de Boccaccio (In-
troduz.): E come che questi cosi variamente opinanti non morissero tutti,
non perciò tutti campavano, anzi infermandone di ciascuna (i.e., opinione)
molti, e in ogni luogo, avendo essi stessi, quando sani erano, esemplo
dato a coloro che sani rimanevano, quasi abbandonati per tutto languieno.
2190. Para sabedor d’amor, cf. Diez, P. T., p. 138: “Daí amar, como
poetar, foi descrito como uma arte e submetido a regras. A isso refere-se
a expressão ‘entender de amor’ (saber d’amor ou de drudaria)”. Cf.
V. 699, 1: Os que nom amam nem sabem d’amor.
CXII. 2281. Não consigo estabelecer este verso. Como rima para quem e
inclusive por causa do sentido, bem caberia melhor depois de amigo, e se
viria no início do segundo verso, como na segunda estrofe. [A lição pro-
posta para esta passagem, tendo bem depois de amigo e se como começo
do próximo verso, com omissão de oi, é também aprovada pelo Prof. Coelho
(segundo comunicação por carta de 10 de agosto de 1893). (C. e A.)]
337
CXIV. 2322. Guarid’ e cobrado parece ter sido expressão fixa; cf. V. 1126,
21: Logu’ eu seeria guarid’ e cobrado; do mesmo modo em CB. 128, 13.
CXVI. 2345. Que se deva tomar mha madre velida como alocução e não
ler madr’ é velida, segundo Moura, Diez loc.cit., p. 38 e Storck,
depreende-se de V. 259, 1; 264, 2; 739, 2.
2367. Para o significado de jurada, cf. o antigo francês jurée, por exem-
plo em Alisc. 55: Sire, dist ele, je suis vostre juree,... e o que sobre isso
observa Tobler, em Verm. Beit., p. 27.
CXIX. 2409. Para a expressão, cf. Af. X, CM. 345, 9: Quand’ el Rey oya
aquesto, Connoceu as maestrias Con que ll’ andaua. Nesta passagem,
aparece também maestria no sentido de “astúcia”, “malícia”, que é o de
sabedoria em 2418; esta encontra-se, ainda, em Af. X, CM. 47, 1: Uirgen
Santa Maria, Guarda-nos, se te praz, Da gran sabedoria Que e-no demo
jaz; cf. ibid. 8,6: sabedor, “charlatão”, “embusteiro”.
2411. O poeta aqui pensou no provérbio: lançar a pedra e esconder a mão.
Cf. Marques de Santillana, Obras, p. 511: Echa la piedra e absconde la mano.
2413. Não consegui documentar mais nada da expressão mal deserto.
Pelo contexto, deve significar “traição” ou “ingratidão”. No último caso,
poder-se-ia estabelecer uma relação com o antigo francês desert(e), “gan-
ho”, “recompensa”, sobre que me alertou amavelmente o Professor
Gröber. Acerca disso indica-se a seguinte passagem, citada de Godefroy
s.v: Cum male deserte a rendue A saint evesque sun parein!
2418. O significado de “astúcia”, “perfídia”, que sabedoria claramente
tem nesta passagem, ainda pode ser algumas vezes encontrado; por exem-
plo, em V. 923, 1-2: Do que eu quiji per sabedoria D’Alvar Rodriguez
seer sabedor, Ja end’eu sei quanto saber queria; – Foros de S. Martinho
de Mouros (Inedit. de H.P. IV., p. 603): E mandou que os tabeliões nom
façam cartas nem stromentos das ditas cousas, nem d’outras..., salvo per
foro de herdades que seiam feitas chaamente, e sem maa sabedoria, e
sem engano.-
2422-3: Estas palavras apontam para o provérbio: Cada um colhe se-
gundo semeia. Cf. Peire Cardenal (MW. II, p. 201): Car qui fai delial obra
Segon c’a servit, o cobra.
338
CXXII. 2463. Para correção da passagem, cf. V. 260, 2: E foi coitado por
mi; 384, 5: O que por vos coitad’ andava; CB. 331, 3 etc.
CXXIV. 2510. Storck lê aqui d’ i levar vejo, o que é uma correção forçada,
pois e não se confunde com i. Pelo contrário, o e poderia facilmente
perder seu til, como era frequentemente o caso, por exemplo em 756,
dessandecer = dessandecer; 1343, aiude = aiude etc., e chega-se, pois,
com esta hipótese naturalmente à expressão corrente ende levar, que tam-
bém satisfaz totalmente o sentido aqui.
CXXV. 2524. Para cada u, cf. V. 427, 12-13: Non sey, amiga, el cada hu é
Aprende novas com que morr’ assy; 475, 20-21: Ca mha faz sempr’ ant’
os meos olhos ir Cada hu vou etc.
CXXVII. 2564. O complemento das duas sílabas faltantes nom sei, no ver-
so 9 desta cantiga, composta em versos de arte mayor, é justificado pela
métrica, mas ainda mais pelo subjuntivo seja e por nem vej’i do verso
seguinte, o que pressupõe um verbo anterior negativo. Assim estabelecida,
a expressão é muito frequente na linguagem de nosso poeta, como se
pode concluir das seguintes passagens: V. 301, 8: Nom sei que de mi
seja; 498, 18: Nom sei eu que seja de mi; cf. ibid., 525, 13 etc. O fato de
o copista ter omitido as palavras nom sei explica-se por se lhe ter anteci-
pado a frase também usual que será de mi.
Não consegui determinar as pessoas e os motivos a que se podem
referir, agora, as seguintes cantigas de maldizer e d’escarneo.
339
340
CXXXII. 2662. Para mua mal manhada, confira a expressão atual besta,
animal de manha, cuja última palavra é agora tomada quase exclusiva-
mente em sentido ruim.
2672. A lição do manuscrito, de peça delencavalgado, não oferece qual-
quer sentido. A correção resulta da expressão em parte paralela, no verso
2664: nem andar d’ela embargado.
2678. A ligação aliterante de levar e leixar, que se encontra no refrão deste
poema, parece ter sido uma constante; ao menos, ela ocorre também em
outras ocasiões, como por exemplo no Santo Graal, p. 142, 22: Ay Deos, e
hu o poderey achar? Nom sey, disse el a si meesmo, mal sem he o que
demandades; ca el vos levou toda honrra e leixou uos toda grande honta.
CXXXIV. Das palavras andand’ aqui en cas d’el-rei, talvez se deva con-
cluir que D. Denis compôs esta e a seguinte cantiga alusivas à mesma
pessoa, ainda como infante, portanto, algo em torno de 1277-1279. Não
pude descobrir quem era este D. Joam, que recebe o escárnio do poeta
régio. Provavelmente seja o 4mesmo que Estevam da Guarda, o conhe-
cido chanceler do rei D. Denis, nomeia nas cantigas de maldizer, em
V. 918 e 926. Além disso, um D. Joam ainda é mencionado em V. 904,
908, 920, 1055, 1153, 1154; CB. 373 e 375.
2695-2697: O mesmo refrão encontra-se em uma cantiga d’ amigo de
Estevam Travanca, V. 324, 5-6: Que lhi perdoasse; nom quix, E fiz mal
porque o nom fiz.
2704. Ao casamento de um D. Joam refere-se também a já mencionada
cantiga de Estevam da Guarda, V. 926, 2, 9, 15, 18.
CXXXVI. O sentido desta bastante rude cantiga, cuja expressão deve ser
evidentemente ambígua, não está claro em todas as partes. Uma cantiga
satírica de Vaasco Perez Pardal, CB. 378, e uma de D. Fernam Garcia
Esgaravunha, CB. 383, tratam de assunto semelhante.
341
CXXXVIII. João Simhon, a quem esta cantiga se refere, era meirinho môr
e favorito do rei D. Denis, que, no ano de 1299, o enviou, em seu lugar,
em peregrinação à Terra Santa (cf. Mon. Lusit. IV, f. 276 a b). O conde
D. Pedro (cf. ibid.) dispensou-lhe o seguinte elogio: Dom João Simon
foi mui bõo homem e muito honrado. E foi homem que nunca buscou
mal a nenhun com el Rey D. Dinis cujo privado era; antes lhes ganhava
a muitos d’el muito bem, e muita mercee. E isto deu el Rey D. Dinis de
Portugal em testemunha del a sa morte...
Um poema de conteúdo muito parecido, de Affonso de Cotom,
encontra-se em V. 1122, onde o refrão, em 5-6, lembra os versos 2778-9 de
nossa cantiga: E dom Fagundo quer-s’ ora matar Porque matou sa vaca o
cajom.
2776. Para o sentido de sair do mez, “sobreviver ao mês”, cf. V. 673,
12-15: Ouv’ em tal coita Que se cuydei d’esse dia sayr Deus mi tolha
este corp’e quant’ ey.
342
G LOSSÁRIO
Por razões de brevidade, as referências são citadas pelos versos e não pelo
número dos poemas individuais em que ocorrem. Em regra, são indicadas
apenas seis ocorrências de cada palavra e cada acepção dela.
a pron. demonstr. fem. sg. nom. 42, 529, 535, 967, 1066, 1251 etc.; nom.
pl. las 834. Com prep. da 1071, 1546 etc. aquela, aquelas.
a pron. pes. 3 sg. acus. fem. 147, 148, 161, 175, 527 etc., la 547, 743 etc.;
acus. pl. as 1893, 1901, 1906, 2588, 2602; las 1885, 1890, 1005, 1910
etc. Com prep. pola (por-la) 154, 973 a.
a art. fem. sg. nom. 44, 523, 648, 923, 1146 etc.; acus. 14, 16, 76, 149,
355, 359 etc.; la 203, 1917, 1919; a; com prep. a la 762, 2346, da 39,
67 etc.; dela 959, 1375, na 68, 333 etc.; pola 1754; pl das 962 das.
a prep. Para indicação do dativo 1, 12, 21, 26, 36, 41 etc.; 467, 473, 479,
941, 2172 para, de acordo com, conforme; para indicação de finalidade
28 para; com infin. 155, 581, para, para que; para direção 542, 556,
1005 a, para; 634 ante, em frente a.
acá adv. 1580 para cá.
acabar v. tr. 1331, 2181 realizar; reflex. 46 finalizar, encontrar um fim.
achar v. tr. 37, 74, 618, 2029, 2628 encontrar, conseguir; reflex. 2709
encontrar-se.
acordar v. intr. 1139 despertar, vir a si.
adeante adv. em des ali adeante 1103, 1111, 1119 daí em diante.
adur adv. 2019 dificilmente, com esforço.
aduzir v. tr. pret. perf. 3 sing. adusse 556; trazer, conduzir.
afam subst. m. 231, 267, 279, 1027; 1204, 1210 angústia, aflição.
aficado, a adj. 786 violento; 979, 1056, 1064 importunado; adv. muit’
aficado 1740, 2109 muito veemente.
agora adv. 43, 60, 85, 201, 326, 373 etc.; agora, então.
agravar v. reflex. (com) 2227 reclamar, queixar-se.
343
344
amigo subst. m. 159, 530, 541, 548, 654, 2615 amigo; 1121, 1135, 1570,
1574, 1580, 1595 etc., amado.
amor subst. m. 19, 30, 64, 88, 249, 286 etc., amor; pl. amores 455, 1134,
1840, 1843, 1845, 1848 sofrimento amoroso; polo amor de Deus 241
pelo amor de Deus; personif. 447, 454, 461, 1250, 1256, 1267, 1327,
1348, 1357 (como Deus do amor); 2347, 2350, 2353, 2356, 2359, 2362
amado.
andante adj. na expressão bem andante 1101, 1109, 1117 afortunado.
andar v. intr. 1914, 1918, 2518, 2622, 2688 etc., ir, partir; andar com alg. c.
a alg., 2409, 2414, 2419, tramar algo contra alguém; 200, 260, 506,
679, 972, 1084, 1615, 2594, 2647, 2673, 2693, 2763 estar, encontrar-
se, permanecer; andar por vosso 1435, o vosso, ser vosso amado; aux.
com gerun. 2516, 2522, 2693, 2755.
ano subst. m. 1308 ano.
antano adv. em des antano 2588 desde o ano passado.
ante prep. 62, 69, 81, 151, 635, 642, 1211 etc., ante; adv. 150, 152, 153,
918, 2775 antes, mais cedo; 140, 270, 276; 282, 285, 521, 1442 etc.,
antes, de preferência, pelo contrário; ante que conj. 2776 antes de que,
antes que.
antre prep. 457, 1136 entre, dentre.
ao vid. o.
aprazer v. intr. imperf. subj. 3. sg. aprouguesse 1098 agradar.
áque interj. 1176, 1181, 1185 eis!
aquel pron. demonstr. m. e neutro. 48, 65, 87, 94, 97, 614, 2469 etc.; aquela
f. 435, 1086, 2636, 2638 aquele, aquela, aquilo; aquel que pod’ e val o
Todo-poderoso (Deus).
aquem adv. em d’aquem 2245, 2251 2257 daqui.
aqueste pron. demonstr. m. 977, 1430, 1524, 1974, 2039 este; pl aquestes
524, 1281, 2615 estes; f. aquesta 44, 349, 854, 1242, 2044; pl. aquestas
2383 estas; ntr. aquesto 129, 166, 275, 287, 362, 432 isto; por aquesto
1722, 1728, 2460, 2468 por isto, portanto.
aqui adv. 214, 1428, 1606, 1650, 1656, 1667 etc., aqui, para cá; d’aqui
1594, 2271, 2561 daqui.
ar, er adv. 39, 70, 78, 84, 113, 127 etc., ainda, também.
arder v. intr. 2759 queimar, abrasar.
as vid. a.
345
346
ca conj. 3, 5, 19, 37, 54, 60 etc., pois; depois de compar. 158, 165, 172,
195, 285, 293 etc., do que; após expressões introdutoras de fala etc.
77, 1776, 2531 que; 232, 250 pois, porque.
cabo prep. em de cabo 2243 perto de, junto a.
347
cada pron. indef. 1263 cada; cada que conj. 2451 tão frequentemente quanto;
cada u adv. 2529 onde quer que seja.
caderno subst. m. 2750 caderno, folheto, livro.
caer v. intr. pret. perf. 3 sg. caeu 1136; 2. pl. caestes 2195 cair.
caga subst. f. 2746 excremento.
cajom subst. m. 2195, 2670, 2768, 2782, acaso infeliz, desgraça.
calado, a adj. 1991 quieto, silencioso.
calar v. reflex. 112 silenciar.
caler v. arc. impes. non m’en cal 17 não me preocupo.
camanho, a adj. 638, 644, 650, 1385, 2067, quão grande, quão longo.
cambhar v. tr. com prep. por 2652 trocar por ...; reflex. 1104, 1112, 1120
trocar-se por, trocar com alguém.
cambho subst. m. 2653 troca, câmbio.
camisa subst. f. 1883, 1891 camisa.
cantar v. intr. 1131, 1418 cantar.
cantar subst. m. 829, 1430, 1719 cantiga.
caridade subst. f. 1152 misericórdia; por caridade por amor de Deus.
casa subst. f. 2355, 2360 casa, lar.
casamento subst. m. 2703 matrimônio.
castigar v. tr. 1742 admoestar.
catar v. tr. 497, 498, 1501, 1955, 1960 ver, contemplar; 1948 procurar;
2587 (contra), 2595, 2598, ter consideração por, levar em consideração.
cativo, a adj. 653, 2236 desafortunado.
cavalgador subst. m. 2649 cavaleiro.
cavalheiro subst. m. 2731 cavalheiro, nobre.
cedo adv. 40, 754, 760, 766, 1606, 2279 logo.
cento num. 2636 cem.
cerro subst. m. 2646 dorso, barriga (?).
certamente adv. 359 com certeza.
certão, a adj. 695 certo.
certo, a adj. 476, 701, 1243, 1574, 1584, 1588 etc.; certo adv. 587, 706,
1998 certamente.
chamar v. tr. 1967, 2364, 2367 denominar, chamar; reflex. 1566, 1720,
2659 chamar-se.
348
349
* Lang apresenta duas palavras alemãs para as significações incluídas no vocábulo português “cor-
po”: Leib (corpo animado, em relação à alma) e Körper (corpo físico, mecânico). (N.E.)
350
um infin. 404, 968, com prep. a 737, com de 474, 2121, 2127, 2133,
2135 pensar, considerar, crer; a meu cuidar 173, 320, 2681, quant’é
meu cuidar 1089 segundo minha opinião; com prep. de 508, 514, 520,
com en 594, 600, 607, 875, 1044, 1122 etc., pensar em algo; reflex.
505 estar preocupado, aflito.
cuitado vid. coitado.
cujo pron. relat. 45, 1438, 1448 do qual, da qual.
culpa subst. f. 626 culpa; culpa poer atribuir culpa.
culpado, a adj. 2001, 2002 faltoso.
curar v. intr. com prep. de 1451 preocupar-se com algo.
351
352
353
* Provável equívoco, uma vez que o mesmo verso está referido acima, entre os casos de em +
infinito flexionado. (N.E.)
354
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356
357
galardom subst. m. 398, 407, 969, 1052, 1096, 1512 etc., recompensa,
agradecimento.
garrido, a adj. 2364 namorado [verliebt]
governar v. tr. 2750 dominar, reger; reflex. 2749 governar-se, dominar-se.
358
gradecer v. tr. pres. indic. 1. sg. gradesco 207; fut. imperf. 1. sg. gradecer-
vo-lo-ei 2448; 2344, 2446 agradecer, dever*.
grado subst. m. 230, 239, 503, 516, 968, 1001, 1071 etc., agradecimento,
pagamento; aver grado 230, 1012 aver bom grado 503 ter gratidão;
dar bom grado 2338, poer b. g. 2332 agradecer, retribuir; aver mal
grado 2327 ter ingratidão; aver por grado 1300 estar disposto; de grado
adv. 629, 1097, 1313, 1638, 1807, 1812 etc., de bom grado, de livre
vontade; a seu grado 1837 de livre vontade.
gram, grande ad. 13, 96, 125, 136, 1549, 2741 grande, longo, completo;
compar. maior 26, 89, 271, 698, 883, 952, 1065 etc., maior; maior = o
maior 163, 170, 177; superl. o maior 65, 471, 939, 955, 1382, 1555
etc., o maior; gram adv. 1347, 1358 muito.
grande vid. gram.
grave adj. 35, 97, 286, 291, 297 etc., pesado, preocupante, sério; en grave
dia 446, 851, 852, 997, 1051 etc., em um dia infeliz.
greu adj. na expressão m’é greu 721, 904, 2444, 2468 custa-me muito.
guaanhar v. tr. 1753, 2675, 2754, 2760, 2766 ganhar, obter.
guardar v. tr. 1171, 2764 reter, manter; 2057, 2645 proteger, salvaguardar;
guardar alg. de ou com que e subj. 2164, 2170, 2779 proteger alguém
de alguma coisa; 2667 guardar (rebanho), vigiar; reflex. 85, 755, 1700,
2131, 2269 proteger-se de algo.
guarecer v. intr. 638, 644, 650 viver (Cf. V. 556, CB. 109 e guarir B. 556,
1185, CB. 109) 2137 restabelecer-se, curar-se.
guarida subst. f. 1145, 1365, 2600, cura, salvação.
guarir v. tr. fut. imperf. 1. sg. guarrei 2095; 1187, 1672, 1678, 1684, 1691,
1697, 2322 curar, salvar; 2092, 2095 morar, viver.
guisa subst. f. 133, 713, 1321, 1559, 2226 etc., maneira, modo; d’outra
guisa 1559 de outra maneira; sem guisa 2329 2335, 2341 desarrazoado,
impróprio; em guisa que 2198 de tal forma que.
guisado, a adj. 988 adequado, justo; fazer guisado 1069, 1623 agir
corretamente; andar em guisado 2763 agir sabiamente, com prudência.
* No original alemão, parece haver um engano. Em vez de danken, verdanken, cujo sentido se
ajusta aos versos 2344 e 2448, consta denken, verdenken [pensar, censurar]. Na verdade, an e en
confundem-se facilmente nos textos manuscritos de Lang. Quanto a 2446, ali não ocorre o verbo
“gradecer”. (N.E.)
359
guisar v. tr. 126, 201, 322, 485, 487, 492 etc., dispor, ordenar; 1914, 1918,
1926, 2265, 2271 preparar-se, estar pronto; reflex. 980, 2267 resignar-
se, conformar-se.
i adv. 24, 115, 246, 484, 546, 552 etc., lá, ali, por lá; com isso, nisso; por i
2562 deste modo.
ifante subst. m. 1102, 1110, 1118 filho de rei, príncipe.
igual adj. 841 mesmo, igual.
iguar v. reflex. 1576, 1583, 1590 igualar-se, comparar-se.
inchado, a adj. 2646 tumefato, inflado.
infernal adj. 2607 infernal; maligno.
inferno subst. m. 2753 inferno.
inverno subst. m. 2751 inverno.
ir v. tr. pres. indic. 1. sg. vou 1424, 1437; 3. sg. vai 254, 865; 2. pl. ides
2037, 2718 etc.; 3. pl. vam 922; imperat. 2. sg. vai 1841, 1844 etc.; 2.
pl. ide, 1427, 2021 etc.; pret. perf. 1. sg. fui 148, 175 etc.; 3. sg. foi*
129, 316 etc.; pret. mais que perf. 3. sg. fôra 1770; subj. pret. imperf.
3. sg. fosse 2205, 2211; subj. fut. 3 sg. fôr 119, 642; infin. pes. 1. pl.
irmos 2265, 2271 etc.; 2. pl. irdes 542, 546 etc.; infin. ir 31, 551 etc.;
865, 1189, 1377, 1428, 1450, 1530, 1536 ir, comportar-se; 36, 923,
1427, 1432, 1594, 2035, 2346 etc., partir, passar, fluir; acontecer; ir
por vosso 1424, 1437 ser vosso amante; aux. com infin. 254, com ger.
2673.
ira subst. f. 1903 raiva, cólera.
irado, a adj. 975, 2224 encolerizado, furioso; irad’aja deus quem... 2224
possa sentir a ira de Deus aquele que...
Iseu n. p. 705 Isolda.
ja adv. 24, 29, 78, 189, 221 etc., já; ja sempre 51 continuamente; jamais
1160, 1263, jamais nunca 1252, 1422, jamais nom 2483 nunca; ja quanto
1301, 2668 um pouco, um momento.
* Falta no verbete a forma “foi”, registrada contudo nos versos indicados. (N.E.)
360
jazer v. intr. pres. indic. 3. sg. jaz 2744 etc.; pret. imperf. 3. sg. jazia 1676,
2732; pret. perf. jouve 1138, 2626, jazer, prostrar-se.
Joam Bolo n. p. 2626, 2657, 2673.
Joam, Dom n.p. 2691, 2713 Don Joam.
Joam Simhom n. p. 2767, 2783.
juiz subst. m. 2631 juiz.
juizo subst. m. 652 julgamento.
julgar v. tr. fut. imperf. 3. sg. julgar-mha 642, 649; 637 etc., condenar.
jurado, a adj. 2367 prometido, comprometido.
jurar v. tr. 1655, 1661, 1680, 1867, 2109 fazer juramento.
361
m’ vid. me.
ma vid. meu.
madre subst. f. 1821, 1823 etc., mãe.
maestre subst. m. 2644 médico.
maior vid. gram.
mais vid. muito.
mais conj. 35, 39, 53, 86, 106, 137, 250 etc., mas, porém.
mal subst. m. 2, 48, 101, 105, 132, 187 etc., sofrimento, infortúnio, dano;
47, 58, 598, 604, 2606 etc., mal, maldade, injustiça.
mal adj. 422, 951, 963, 2219, 2413, 2613 ruim, insignificante; mal pecado
adv. 2761 para o infortúnio; mal adv. 53, 54, 60, 529, 899, 2597, 2756
mal, ruim; 2229, 2230 muito; compar. peior 20, 102, 144, 182, 952,
957, 963; adv. 696, 1258 pior, mais mal; superl. o peior 102, 465, 1340,
1391 o pior, o menor.
362
maldizer v. tr. subj. pres. 3. sg. maldiga 2390; pret. perf. 1. sg. maldezi 525,
maldisse 2580; amaldiçoar, execrar.
mandado subst. m. 639, 645, 651, 978, 1625, 1648 etc., mensagem, notícia.
mandar v. intr. 1434, 1746, 1756, 2096, 2210 ordenar, mandar; 1722, 1728,
1734 informar, fazer saber.
maneira subst. f. 828 modo, maneira.
manhado, a adj. 2662 dotado de determinada condição*.
mao, maa adj. 712, 2589 ruim, mau.
mão subst. f. 333, 343, 353, 1129 mão; teer na mão alg. c., 334-353, ter
diante de si, estar iminente a alguém.
maravilha subst. f. 596, 602, 608, 1993 prodígio.
maravilhado, a adj. 1989, 2377, 2647 admirado, assombrado; fazer-se
maravilhado 1984 admirar-se, estar espantado.
Maria n.p. Santa Maria! 1141; por S. M. 1498, 2100, 2472 a Virgem Maria.
matar v. tr. 49, 63, 576, 1697, 1703 etc., matar; reflex. 521 matar-se.
me, mi, mh, m’ pron. pes. 1. sg. conjuntivo; dat. 1, 2, 17, 40, 43, 48, 85,
438 etc., para mim; acus. 106, 142, 529, 576, 585, 587 etc., me; com
reflex. 25, 30, 36, 43, 112, 151, 252 etc., para mim, me.
medes pron. demonst. 443, 529 mesmo, próprio.
medo subst. m. 580, 2224, 2628 temor.
meirinho subst. m. 2628 funcionário da justiça.
melhor vid. bom.
Melion n. p. 2605 Melion.
Melion Garcia n. p. 2584 Melion Garcia.
mengua vid. mingua.
meninha subst. f. 2586 jovenzinha, órfã.
mente subst. f. viir em mente a alg. 360 vir à mente de alguém; pl. mentes
na frase meter mentes em alg. c. 1002 fixar a mente em algo, atentar
para algo.
mentir v. intr. subj. pres. 3. sg. mença 1455; 256, 263, 1665, 1725 etc.,
mentir; 1455 ser infiel, negar, abandonar alguém.
* No contexto do v. citado, “de má condição”. Cf. M.R.Lapa, Cantigas de escarnho e de mal dizer
dos cancioneiros medievais galego-portugueses. Lisboa: Sá da Costa, 1995, p. 76, nota ao v. 16:
“manhosa, de má condição”. (N.E.)
363
364
na vid. a.
nacer v. intr. pret. perf. 1. sg. naci 1051, 2014, etc.; pret. mais q. perf. 3. sg.
nacera 456; subj. pret. imperf. 1 sg. nacesse 2373; p.p. nado, nada 780,
2009 etc., nascer.
nada subst. m. como determinação mais detalhada da negação 1125, 1202,
2016, 2376 nada.
nado, a pron. indef. 1496 qualquer um.
namorado, a adj. 506, 704, 773, 1127, 1560, 2465 amante, enamorado;
namorado subst. m. 1126, 1715, 1818, 2227, 2324 amado.
negado, a adj. 2629, escondido, ilegítimo.
negar v. tr. 1592 encobrir, ocultar.
nem conj. 33, 136, 139, 165, 251, 274 etc., e não, também não.
nembrado, a adj. Seer nembrado de alg. c. 356 lembrar-se de algo.
365
nembrar v. tr. 875 lembrar-se de algo; intr. nembrar a alg. 1616, 1622, 1628
vir à mente de alguém; reflex. (com de) 152, 528, 749, 750, 1229, 1852
etc., lembrar-se de algo; nembrar-se alg., 2576 lembrar-se de alguém.
nenhum pron. indef. m. 47, 226, 234, 242, 589, 818, 968 etc.; f. nenhua 38,
nenhunha 463, 713 nenhum, nenhuma.
no vid. o.
noite subst. f. 777, 2596 noite; noit’e dia 778, 2596 dia e noite.
noja subst. f. 1442, 2714, 2726 desgosto, fastio, aflição.
nojoso, a adj. 2745 mal-humorado, cansado.
nom adv. 5, 17, 24, 25, 40, 46 etc., não.
nostro, a pron. pos. 1. p. pl. apenas em nostro senhor 27, 95, 206, 212, 218,
269 Nosso Senhor (Deus).
novas subst. f. pl. 1644, 1858, 1861, 1863, 1866 notícia, informação.
nozir v. intr. 178 prejudicar.
nulho, a pron. indef. 153, 568, 1042; nulha rem 677, 1178, 1395, 1469,
1946, 2181 nada; per nulha rem 677, 683, 689 de nenhum modo.
nunca adv. 32, 37, 57, 58, 72, 95 etc., nunca; 2098 em algum tempo.
o pron. demonstr. 3. p. sg. m. e ntr.; nom. 167, 677, 1151, 1468, 1552, 2750
etc., aquele, aquilo; acus. 216, 394, 572, 617, 641, 715, 1980 etc.,
aquele, aquilo; pl. os nom. 911, 918, 921; com prep. do 152, 1455, dos
1382, 1631 etc., ao 1733.
o, lo, l’ pron. pes. 3. p. sg. acus. m. e ntr.; m. 65, 70, 111, 113, 119, 139;
ntr. 155, 156, 322, 344, 438, 481 etc., o.
o, lo art. m. sg. 11, 23, 29, 110, 123, 128 etc.; pl. os 518, 621, 635, 930,
935, 1607 etc.; com prep. ao 1350, 1421 etc., al 2139, do 101, 146 etc.,
no (em-lo) 99, 180 etc., polo (por-lo) 53, 184 etc., aos 680, dos 686,
804 etc.
obridar v. reflex. a alg. ser esquecido por alguém.
ocajom subst. m. 347 infortúnio.
ogano subst. m. 2627 este ano.
oimais adv. 27, 29, 584, 1125, 2100, 2215, 2376 de agora em diante.
oir v. tr. imperat. 2. pl. oide 362; pret. perf. 1. sg. oi 126, 639 etc.; 3. sg. oiu
1426, 1625; inf. 1441; ouvir, ouvir dizer.
366
oje adv. 47, 328, 504, 515, 730, 739 hoje; oj’este dia 509 no dia de hoje.
olho subst. m. 237, 483, 490, 497 etc., olho.
olivas subst. f. pl. 2772, 2778, 2784 doença de garganta do animal.
omem, ome subst. m. 10, 356, 358, 362, 780, 788 etc., homem; 2012, 2607,
2648 pessoa; pron. indef. 662, 1296, 2634, 2656, 2667, 2739 alguém,
sujeito indeterminado.
omildoso, a 2534 humilde.
onde pron. adv. 38, 1013, 1303, 1358, 2539 de onde, do que, em que, com que.
ora adv. 407, 462, 543, 712, 1238, 1392 etc., agora.
osmar v. tr. 613, 744, 954, 961, 1591 conceber, imaginar; estimar.
oste subst. f. 1631 hoste, exército.
ou conj. 66, 110, 117, 813, 1182, 1188 etc., ou; ou...ou 2584 ou...ou.
ousado, a adj. 2658 atrevido, audacioso, temerário.
ousar v. intr. Com infin. puro 1953, 1955, 1967, 2287, 2293; com prep. a
1173, 1183, 2228, 2233, 2238, 2243 atrever-se.
outro, a pron. indef. 64, 393, 577, 674, 681, 2110 etc., outro, mais; n’outro
dia 148, 442, 2691, 2712 recentemente; outra vez 810, anteriormente;
outro tal 1363, 2517 do mesmo modo, da mesma maneira.
padecer v. tr. pres. indic. 1. sg. padesco 2570; 131, 953, 1241, 2566, 2567
sofrer.
pagar v. tr. 1013, 2539, 2546, 2553, 2740 pagar, contentar; reflex. 252,
255, 258, 264, 2399 ter prazer em alguma coisa.
pano subst. m. 2589 tecido, fazenda.
papagai subst. m. 1136, 1143, 1147 papagaio.
par subst. m. 41, 128, 318, 625, 735, 741 etc., algo similar, igual; aver par
741, 747, 1016, 1086, 1380, 1586 ter o seu equivalente; fazer par 41,
128, 318, 625, 735, 762 etc., criar semelhante; poer par 788 colocar
igual ao lado; seer par de morte 1028, 1344 ser equivalente à morte,
ser mortal; sem par 889, 920, 955 sem igual; nom veer par a alg. c.,
1442, 2018 não ver nada semelhante a alguma coisa.
par adv. 2700 (= per) muito; prep. par deus 54, 415, 446 etc., por; 2782
(= por) por meio de.
para vid. pera.
367
368
369
1 sg. poderia 770, 1488; 3. sg. poderia 299; 2. pl. poderiades 1193;
subj. fut. 3. sg. poder 2182, 2264; 2. pl. poderdes 466, 471 etc.; infin.
408; poder; 2166, 2172, 2178 ser capaz, realizar; auxiliar 1461 poder;
que pód’ e val 48, 415 o poderoso e defensor (atributos de Deus).
poder subst. m. 84, 156, 480, 731, 752, 905, 1232 poder, força, capacidade;
a vosso poder 467, 473, 479 segundo vossa capacidade; a todo meu
poder 941, 2172 no melhor de minhas forças.
poderoso, a adj. 222, 1532, 1681 poderoso, abastado.
poer, põer, poner v. tr. pres. indic. 3. sg. poen* 1936, 1941 etc.; subj. pres.
3. sg. ponha 1336, 2161; pret. perf. 3. sg. pos 206, 212 etc.; 2 pl.
posestes 1154; subj. pret. imperf. 3 sg. posesse 788; fut. imperf. 3 sg.
porrá 1962, 1968 etc.; infin. 58, 626, 2208 etc.; pôr, colocar; dispor,
atribuir; poer conselho vid. conselho; poer no coraçom 1154, 1962,
1968, 2213 propor-se, decidir-se; poer com alg.; 1649, 1864 combinar,
arranjar com alguém; 2641 expor, demonstrar judicialmente.
poi-la vid. pois e a.
pois adv. 4, 926 então; conj. 12, 67, 112, 114, 190, 196 etc., pois que 34,
57, 201, 306, 541 etc., pois, porque.
polo vid. por e o.
poner vid. poer.
ponto subst. m. 1067, 1977, 2089 momento, hora.
por prep. 2, 14, 80, 132, 186, 189 etc., por causa de, em razão de; para
designação de causa, do meio 93, 105, 278, 349, 415, 535 etc., através
de, de; de finalidade 187, 193, 196, 199, 405, 728 etc., para, como; de
direção, movimento 891, 2688 por meio de; em fórmulas de afirmação
por Deus 59, 107 etc., por quam boa vos el fez 790, 807 etc., por;
julgar por 637, filhar por 969, andar por 1424, teer por 229, 592, 931,
1448 etc., por, como; com infin. 140, 581, 2122, 2128, 2375, 2376 etc.,
para, a fim de que; por quanto 321 por mais que; 338, 498 de acordo
com tudo que...; 18, 1634, 1639 pelo que, portanto; 504, porque, pois.
porem, porende adv. 73, 80, 121, 214, 378, 452, 633 etc., por causa disso,
portanto, por isso.
porfiar v. intr. 2725 ser obstinado, não desistir de algo.
porque conj. 9, 26, 53, 93, 100, 135 etc., porque.
posse subst. f. 1671, 1677, 1683 poder, capacidade.
370
pouco, a adj. 5, 588, 850, 1551, 1961, 1997 pouco; pouco adv. 329 pouco.
pousada subst. f. 2626 albergue, casa.
praga subst. f. 2736, 2742, 2748 maldição, imprecação; praga por praga
maldição por maldição.
pram adj. em de pram adv. 75, 280, 1028, 2614, 2694 sem mais,
simplesmente; de bom grado.
prazer v. intr. pres. indic. 3 sg. praz 1, 2 etc.; subj. pres. praza 1307; subj.
pret. imperf. 1 sg. prouguesse 1294; subj. fut. 3 sg. prouguer 753, 1205
etc.; fut. condic. 3 sg. prazeria 1105 agradar.
prazer subst. m. 8, 90, 271, 277, 283, 424 etc., alegria, deleite; gosto; veer
prazer de si 2480, 2486 ter alegria, estar contente; fazer o prazer a alg.
2446, 2452, 2458 fazer o favor a alguém; nom veja prazer 257 nunca
eu possa ser feliz; s’i veja prazer 1601 tão certo como eu possa ser
feliz; personif. meu prazer 2165 meu amado.
prazo subst. m. 1822, 1825, 1827, 1830, 1876, 1879 prazo, tempo aprazado.
preda subst. f. 1685 perda.
preito subst. m. 1524, 1689, 2189, 2294, 2297 etc., acordo, compromisso.
prender v. tr. 28, 347 tomar; experimentar, sofrer.
preto adj. 371, 377, 383; adv. 358 perto.
prez subst. m. 813, 814, 818, 831, 843, 872, 929 etc., preço, valor; de prez
2043 valioso.
prizom subst. f. 1176, 1181, 1186 cativeiro, poder.
proënçal n. p. 828 Provençal; pl. proënçaes 908.
prol subst. f. 394, 2184, 2604, vantagem; ter prol 394, 463, 1439, aver prol
2184 aproveitar, trazer vantagem.
provar v. tr. 2631, 2633, 2637, 2644 demonstrar, expor; 2657 tentar.
proveito subst. m. 1556, 2411 vantagem, benefício.
punhar v. intr. com en e infin. 553, 1367, com de e infin. 2442 esforçar-se,
aplicar-se.
puridade, poridade subst. f. 1509, 1515, 1521 segredo, silêncio.
qual pron. rel. 3, 95, 98, 274, 508, 514 etc., que tipo de; qual quer 2631
cada qual, qualquer um.
quam adv. 71, 108, 615, 790, 2542 como.
371
quando conj. 6, 43, 62, 81, 148, 2426 etc., quando; quando ... quando 1706
ora ... ora.
quanto, a pron. indef. 105, 220, 231, 321, 409, 419 etc., quanto, quão grande;
per quanto 1124, 1144, 2669 tanto quanto; por quant’ a que...1389 por
causa do longo tempo que...; quant’a 2449 há quanto tempo, há longo
tempo; quanto adv. 82, 305, 706, 1089, 1367, 1682, 2308 etc., tanto
quanto, tão grande quanto.
que pron. interrog. 35, 61, 66, 210, 327, 593 etc., qual, o que; pron. relat.
36, 42, 48, 63, 94, 101 etc., o, a qual, que, o que; após prep. (pes. =
hoje quem) 206, 212, 218, 525, 535, 536 etc., a quem, quem, de quem;
relativo sem relação [Beziehungsloses Relativum] 164, 171, 177 qual,
quanto; advérbio relativo 436, 877, 881, 934, 960, 1138, 1421, 1594,
2471 (= em que, com que, da qual).
que conj. após expressões de fala etc. 3, 9, 22, 25, 37, 74 etc., que, tal que;
de intenção, de finalidade 141, 204, 210, 346, 1659, 1816 etc., para
que; de motivo 56, 239, 1495 pois, porque; de comparação 11, 21, 27,
180, 182, 387, 621 que; 325 substituindo desquando, 750 quando,
1050 pois que; adv. 593, 750, 873, 1097, 1250, 1288, 1647 como; após
expressões adverbiais de invocação etc. 1257*, 1754, 1971.
quebranto subst. m. 1297, 2438, 2543 tristeza, mágoa.
queixar v. reflex. 441, 448, 1150, 1309, 2687, 2688 lamentar-se, queixar-se.
queixoso subst. m. 2584 demandante.
quejendo, a adj. 1293 qual, de que natureza.
quem pron. relat. 73, 206, 212, 260, 482, 489 etc., quem; qual, aquele que;
quen vos tal fez 499, 501 Vosso criador; come quen ele é 2158 como
aquele que ele é; pron. interrog. 107, 110, 116, 117, 123, 356 quem, a
quem?
quem quer pron. indef. 727, 2332 quem quer que, todo aquele que.
querer v. tr. pres. indic. 1 sg. quero 18, 25 etc.; 3 sg. quer 89, 143 etc.; 2 pl.
queredes 694, 702 etc.; imperat. 2 pl. querede* 693, 803 etc.; subj.
pres. 3 sg. queira 864; 2 pl. queirades 59, 549; pret. imperf. 1 sg. queria
270, 276 etc.; 2 pl. queriades 2111; pret. perf. 1 sg. quis 154, 654 etc.,
quiji 941, 1270; 3 sg. quis 58, 127, quiso 766, 835; 2 pl. quisestes 413,
1682; pret. mais q. perf. quisera 2221; subj. pret. imperf. 1 sg quisesse
* Parece haver erro na indicação deste verso, e não nos foi possível encontrar a referência correta.
(N.E.)
* Falta no texto, por óbvio engano. (N.E.)
372
768; 3 sg. quisesse 322, 1290; 2 pl. quisessedes 809; fut.imperf. 1 sg.
querrei 654, 658 etc.; 3 sg. querrá 656, 659 etc.; fut. condic. 1 sg. querria
567; subj. fut. 2 pl. quiserdes 591, 1544 etc.; infin. pes. 2 pl. quererdes
1228; infin. querer 40, 165 etc.; ger. querendo 1072; 1215, 1228, 1330,
1351, 1365 etc., querer, estar disposto; 660, 697, 948, 1174, 1696,
2060 etc., desejar; 530, 655, 1270, 1347, 1431, 2358 etc., amar.
quitar v. tr. 1367 afastar, dissuadir; reflex. 151, 627, 1313, 2103 separar-
se, afastar-se de, libertar-se de algo.
373
sa vid. seu.
sabedor adj. masc. 106, 590, 917, 1037, 2191, 2608; fem. 13, 32, 308, 817,
836, 890, 900, 1218 etc., conhecedor, informado.
sabedoria subst. f. 2418 artimanha, perfídia.
saber v. tr. pres. indic. 1 sg. sei 3, 9, etc; 3 sg. sabe 71, 78 etc.; 2 pl. sabedes
312, 553 (sabede-lo); 3 pl. sabem 821; imperat. 2 pl. sabede 326, 896;
subj. pres. 1 sg. sabha 1472, 1479 etc.; 2 pl. sabhades 2389; pret. imperf.
1 sg. sabia 2541; 3 sg. sabia 2420; pret. perf. 1 sg. soubi 825, 933; 1 pl.
soubemos 2520, 2526 etc.; 2 pl. soubestes 2519, 2525 etc.; subj. pret.
imperf. 3 sg. soubesse, 782, 970; 2 pl. soubessedes 414, 418 etc.; fut.
imperf. 3 sg. saberá 662; 2 pl. saberedes 116; fut, condic. 1 sg. saberia
769; subj. fut. 1 sg. souber 1480; infin. 22; ger. sabendo 1105;
p.p. sabudo 1524; saber, poder, entender, conhecer, inteirar-se.
saber subst. m. 77, 1315 o saber, a habilidade; saber e sen ibid.
sabor subst. m. 39, 250, 262, 1061, 1076, 2023, 2314, 2662 gosto, prazer;
prazer e sabor 1061, 2314.
saboroso adv. 1131 agradavelmente, amavelmente.
sair v. intr. pres. indic. 3 sg. sal 23; fut. imperf. 1 sg. sairei 100; infin. sair
536; p.p. saido 1822, 1825 etc.; 23, 1822, 1827, 1876 expirar (do tempo);
sair de alg. c., 100 escapar de alguma coisa, livrar-se dela; 536 saltar;
sair do mez 2776 sobreviver ao mês.
salva subst. f. 66 justificativa.
salvar verbo reflex. 634, 636 justificar-se.
sandeu adj. 1558 tolo.
sangrar v. tr. 2771, 2775 verter sangue.
sanha subst. f. 1908 cólera, raiva.
sanhudo, a adj. 1425, 2234, 2235 irado; sanhud’aja deus quem ... que possa
experimentar a ira de Deus aquele que...
sano, a adj. 1870, 1873, 1875, 1878 saudável.
santo, a adj. 1141, 1489, 2100 santo.
são, sãa adj. 340 curado, saudável; f. pl. sãas 2770.
sazom subst. f. 272, 484, 1375 espaço de tempo, período; 918 florescência;
algua sazom 1480 alguma vez; a gram sazom 272, 549, 1026, 1593 desde
muito tempo; com sazom 2770 no tempo certo; nulha sazom 568 nunca.
se conj. 47, 92, 111, 115, 119, 121 etc., se; em fórmulas afirmativas 310,
337, 618, 1601, 1617, 1642, 1656, 2250 etc., tão certo quanto, tão
374
verdadeiro quanto; se nom 39, 109, 220, 370, 376, 382 etc., se não, ou
seja... exceto.
se pron. reflex. 3 p. 23, 46, 133, 441, 448, 457 etc., se.
seer v. intr. pres. indic. 1 sg. sõo 476, 490 etc., sejo 1650, 1662 etc.; 2 sg. es
453, 460; 3 sg. é 34, 55 etc.; est (antes de vogal) 44, 291 etc,; 2 pl.
sodes 222, 890; 3 pl. som 45, 402; imperat. 2 pl. seede 356, 817; subj.
pres. 1 sg. seja 1013; 3 sg. seja 989, 2384 etc.; 2 pl. sejades 1243,
2013; pret. imperf. 3 sg. era 135, 971 etc., 2 pl. erades 311, 317 etc.; 3
pl. eram 456, 518; pret. perf. 1 sg. fui 50, 877 etc., foi 57, 1257, sevi
2720; 3 sg. foi 77, 1589 etc.; fui 1575, 1582, seve 1660, 1661; 2 pl.
fostes 13, 1682; 3 pl. forom 930; pret. mais q. perf. 3 sg. fôra 451, 516;
subj. pret. imperf. 3 sg. fosse 271, 277; subj. fut. 2 sg. fôres 459; 3 sg.
fôr 12, 36 etc.; 1 pl. formos 81; 2 pl. fordes 62, 2051; fut. imper. 1 sg.
serei 42, 51; 3 sg. será 20, 36 etc.; 2 pl. seeredes 998; fut. condic. 3 sg.
seria 422, 815, infin. 11, 32; ser, acontecer; seer a alg. (bem ou mal)
81, 2727 fazer, ir (bem ou mal) a alguém; seer a alg. com infin. 1036
ter de; seer de com infin. 2011 ter de; nom seer de com infin. 2559 ser
impossível de...; seer de alg. 653, 1142, 2042, 2138, 2564 ; ser feito de
alguém; seer en alg., 1035 estar junto a alguém, depender de alguém;
reflex. 1650, 1662 ser, encontrar-se.
seguramente adv. 2735 decididamente, certamente.
selar v. tr. 1921, 1925, 1927 selar um animal.
sem subst. m. 77, 245, 319, 427, 433, 449 etc.; entendimento; bom sem
839, 1087, 1094 juízo são; fazer mal sem 2219 agir insensatamente.
sem prep. 871, 889, 920, 955, 1305, 1355 etc., sem.
semear v. tr. 2423 semear.
semelhar v. intr. 611, 2682 parecer, aparecer; 1457, 1463 semelhar,
equivaler.
sempre adv. 50, 77, 158, 161, 215, 261 etc., sempre.
semrazom subst. f. 1568 injustiça.
senhor subst. m. 868, 1722, 1728, 1734, 2236, senhor, amo; bom senhor
2152 atributo de Deus; 27, 95, 206, 212, 218, 219, 2166 etc., senhor,
Deus; subst. f. 2163, 2170 na expressão madr’e senhor senhora, dona;
1, 5, 28, 33, 47, 52 etc.; pl. senhores 916 senhoras, amadas.
senhora subst. f. 1144, 1149 senhora, dona.
sentir v. tr. pres. indic. 1 sg. senço 2579; 3, 358, 2578, 2579 sentir.
serviço subst. m. 19 serviço.
375
tal pron. indef. 14, 73, 79, 86, 133, 176 etc., tal, um tal; tal...qual 6, 7, 9, 10,
145, 146, 697, 703 etc., tal ... como.
talam subst. m. 2613 disposição, inclinação.
talhado, a adj. na expressão bem talhada 354, 1121, 1492, 1498, 1504,
1528, 2434 bem moldado, belo.
talhar v. tr. cortar; compor; talhar preito 2294, 2297, 2299, 2302 fechar um
acordo.
376
tam adv. 40, 41, 96, 136, 139, 160 etc., tão; tam...quam 615 tanto...como.
tamanho, a adj. 561, 646, 2060, 2065, 2130, 2559, tão grande, tanto.
tanto, a pron. indef. 114, 267, 273, 279, 280, 549 etc., tanto, tão grande;
tanto adv. 268, 327, 742, 833, 1356, 1411 etc., tanto; tanto que conj.
151, 923 tão logo que.
tardada subst. f. 1992 demora, atraso.
tardar v. intr. 1599, 1753, 2001 demorar, atrasar-se, ausentar-se longamente;
subst. m. 2110, relutância, demora.
tarde adv. tarde 1631 tard’ou toste cedo ou tarde.
teer v. tr. pres. indic. 1 sg. tenho 333, 343 etc.; 3 sg. tem 355, 384; 2 pl.
teedes 229, 986; imperat. 2 pl. teede 1156; pret. imperf. 3 sg. tiinha
1558; pret. perf. 3 sg. teve 2639; 2 pl. tevestes 931, 937 etc.; subj. pret.
imperf. 3 sg. tevesse 778; fut. imperf. 1 sg. terrei 592; 3 sg. terrá 1965;
fut. condic. 1 sg. terria 1100, 1108 etc.; ger. teendo 2770; reter, ter,
possuir; 546, 552, 596, 602, 778, 811, 1942 etc., julgar, crer, ser de
opinião que; teer por bem 1167, 1224, 1230, 1512 julgar como correto,
como justo; teer em pouco 1521* menosprezar; 1509, 1515, 1521
conservar, guardar; teer torto a alg., 1354 fazer injustiça a alguém;
reflex. teer-se por...ver-se como...
temer v. tr. 1344 ter medo; reflex. 2417 ter medo de algo.
tempo subst. m. 638, 644, 650, 880, 911, 1705 etc., tempo; 23, período de
vida; gram temp’a 633, 972, 1328, 2161, 2253, 2266 etc., há muito
tempo; algun tempo 1472 alguma vez.
tercero, a num. 1673 terceiro; tercer dia no terceiro dia.
terra subst. f. 31, 44, 542 terra.
ti, t’ pron. pes. 2 p. sg. conjuntivo; dat. 459; acus. 446; ti, te.
tirar v. tr. 1384 arrancar, libertar; 1523 remover, ganhar, colher; 2656 mover,
afastar, puxar.
todavia adv. 776, 1108, 2505 sempre, ainda.
todo, a pron. indef. 137, 505, 532, 837, 1494, 2315 etc., cada, todo, tudo.
tolheito, a adj. 2391, 2397, 2403 entorpecido.
tolher v. tr. 746, 1193, 1201, 1208, 1320, 2283 retirar, impedir; nom mi
tolhe rem nem mi dá 1731 para mim é indiferente.
* Parece haver engano na remissão ao v. 1521, que, aliás, é repetido corretamente na próxima
acepção. (N.E.)
377
tomar v. tr. 1323, 1324, 1499, 1503, 1504, 2008, 2555 etc., experimentar,
sentir; tomar prazer em si 2004 sentir alegria.
tornada subst. f. retorno; de tornada adv. 2006 de volta.
tornar v. intr. 154, 1580, 1598, 1600, 1604, 1606 etc., retornar, voltar; 1425
tornar-se, tornar-se novamente; 2255 virar-se; tornar recado 2538,
2545, 2552 dar réplica, resposta; reflex. 1652, 1658, 1664 retornar.
torto subst. m. 159, 160, 647, 991, 1354 injustiça, sofrimento, dano.
tosquiar v. tr.. 2721 esfregar.
toste adv. 1633 logo.
trabalhar v. reflex. com prep. de 2184 esforçar-se por...
traëdor subst. m. 637, 643, 649 traidor.
trager v. tr. pres. indic. 1 sg. trago 977, 1849 etc.; 3 sg. trax 899, 1055, trage
2586, 2602 etc.; 2 pl. tragedes 1007; imperat. 2 sg. traz (em tra-lo)
848; 2 pl. treide 1929, 1933; pret. imperf. 3 sg. tragia 1129, 2629 etc.;
pret. perf. 3 sg. trouxe 2632; 2 pl. trouxestes 2186, 2189 etc.; subj. fut.
3 sg. trouxer 1956; infin. 1428, 1689 etc.; 977, 1129, 1428, 1956, 2484,
2586, 2602 portar, trazer, conduzir, conduzir consigo; trager mal alg.,
899 maltratar, atormentar; 1007, 1055, 2597, 2629, 2642, 2650 manter,
possuir; trager um preito 1689, 2189 manter, observar um acordo;
trage-lo 2186 comportar-se, portar-se em relação a algo, portar-se;
tra-lo 848 exceto; reflex. treide-vos 1929, 1933 apressai-vos.
traïçom subst. f. 2522, 2563 traição.
tra-lo vid. trager.
travar v. intr. en alg. c. 2226 combater, lutar com algo.
treïçom subst. f. 1567 traição.
treide vid. trager.
tres num. 2768, 2778, 2780 três.
Tristam n. p. 705 Tristão.
triste adj. 1611, 1615, 1617, 1621, 1623, 1627 etc., aflito, melancólico.
trobar v. intr. 250, 251, 253 etc., poetar; subst. m. 30, 924 o poetar.
tu pron. pes. 2 sg. nom; absol. 453 tu.
u adv. 32, 44, 142, 373, 560, 565, 570 etc., onde; pron. adv. 597, 603, 609,
612 no qual; conj. 975, 1686 que, sempre que; 1381, 2483, 2496, 2524,
378
2648 pois, porque; d’u 373, 542 onde; 36, 612, 1430, de onde, donde;
per u 459, 2206, 2212, 2218 onde quer que.
ua vid. um.
um art. indef. m. sg. 354, 358, 362, 829, 1130, 1308; ua 288, 476, 655, 663,
1348, 2390 etc.; unha 309, 441, 1121, 1137, 1328, 1420 etc., um, uma;
f. pl. uas 457, unhas 1136 algumas.
379
xe, xi pron. pes. dat. e acus.; como dativo ético 1776, 1943, 2658, 2668,
2727; reflex. como acus. (em ligação com pron. pes.) 364, 2254,
2604 se.
380
E STUDOS
381
* “Zum Cancioneiro da Ajuda”, em Zeitschrift für romanische Philologie XXXII (1908), pp. 129-
160; 291-311; 385-399; 640. [As correções indicadas à p. 640 do original forma incorporadas à
tradução (N.E.)]
1
A propósito da seguinte obra: Cancioneiro da Ajuda. Edição crítica e commentada por Carolina
Michaëlis de Vasconcellos. Volume I: Texto, com resumos em alemão, notas e eschemas metricos.
Volume II. Investigações bibliographicas, biographicas e historico-litterarias. Halle a. S., Max Niemeyer,
1904. Originalmente, ela deveria ser apenas objeto de uma resenha na Zeitschr., mas despertou tantas
questões, que julgamos dever nos ocupar dela aqui de forma mais livre e minuciosa.
2
Vid. Denis, p. XXV ss.[Cancioneiro d’el Rei Dom Denis, neste volume, p. 73 ss.]. Aponte-se
novamente, como já o fizemos em Modern Language Notes 10, p. 209 ss. [neste volume,
pp. 456-457], o importante fato de que Rambaut de Vaqueiras deve ter sido estimulado a exerci-
tar-se poeticamente em língua galego-portuguesa já antes de 1194, na corte de Afonso VIII de
Castela (1158-1214).
3
Trovas e Cantares. Madri 1849. – Cancioneirinho das Trovas antigas etc.Viena, 1870. – Novas
Paginas etc.Viena, 1870 (?). Não tive acesso a esta última publicação.
4
Não são desejáveis, porém, trabalhos como o que Gassner publicou no último número de
Romanische Forschungen, 20, 560 ss., acerca da “linguagem do rei D. Denis de Portugal”. O
conhecimento e a consciência que guiaram essa investigação ficam patentes a partir do seguinte
Uma vez que esta obra teve a sua preparação iniciada já em 1877,
segundo o prefácio (Advertencia Preliminar), e portanto deve ser vista como
fruto de mais de vinte anos de trabalho sobre o assunto, vale a pena subme-
ter os resultados do método ali aplicado a uma observação minuciosa.
No início da coletânea, estão as 310 cantigas conservadas no Códice
da Ajuda, na ordem ali existente, acompanhadas de indicação das lacunas e
do seu conteúdo provável. Essas lacunas são preenchidas com base na com-
paração crítica com os dois manuscritos italianos (CV. = Cancioneiro da
Vaticana e CCB. = Cancioneiro Colocci Brancuti), em 18 secções do Apên-
dice, contendo as cantigas de nº. 311-467; igualmente se acrescentam os
nomes dos autores, que, como se sabe, faltam completamente no Códice da
Ajuda (CA.). Os manuscritos italianos, portanto, contribuíram com nada
menos que 157 poemas para a coletânea em causa5. A maior parte dessas
exemplo (p. 577, § 29): “Para au, há apenas alguns exemplos, infelizmente. Cornu, Pg. Gram.
§ 33, diz que esse ditongo é tratado de igual modo em posições tônicas e átonas. Mas Denis
emprega, do verbo laudare, apenas formas com o pretônico: loar (v. 830, 915), loado (v. 971,
989, 2648), ao lado dos quais, porém, está louva (v. 2524). Lang, distorcendo totalmente os
dados, apresenta, no seu Glossário, loar e louvar realmente como verbos diferentes. A verdade
dos fatos permite concluir que au tornou-se ou em posição tônica; em pretônica, porém, original-
mente o, como o comprovam os substantivos loor e, caso a suposição apresentada no § 8 esteja
correta, também lorbaga e o infinitivo oir < audire”. Se Gassner tivesse, como era sua obriga-
ção, estendido os seus estudos do cancioneiro do rei D. Denis, que contém apenas 138 poemas,
para, ao menos, as outras 1067 peças do Códice da Vaticana (e ele esteve em Roma por mais
tempo, nas suas próprias palavras), as 438 do Colocci-Brancuti e as 418 Cantigas de Santa Maria
de Afonso X, para não falar de outros documentos importantes, então os seguintes exemplos tê-
lo-iam informado sobre a verdade dos fatos:
I. o em sílaba tônica. CA. 6897 loo (= laudo); 3156 lóe; CM. 160 (refrão): Quen bõa dona querrá
loar, lo’ (= loe) a que par non á.
II. o em sílaba átona. CA. 3159, 3163, etc. loar; CM. 384, 13 etc. loade; CV. 293, 962, 1030,
1118, etc.; CCB. 439, CM. 373 loado.
III. ou em sílaba tônica. Braga, Contos pop. II, 42, louva-la; CCB. 318, 14 ouuen = öen;
CV. 995, 19 ouue = audit.
IV. ou em sílaba átona. CCB. 374, 6 louvar; do mesmo modo, Graal 25, 37 e passim
(cf. o recorrente outorgar, por exemplo, Graal 24, 17); Braga, Contos II, 44 louvou-a; CV. 962
louvado; Graal 2, 28; 3, 20 etc. louvor ; Braga, loc. cit., 34, 49 etc. louvores; CV. 822 12 ouui
(= audivi); Graal 23, 16 ouuide, ouuiron, frequentemente; 5, 20 etc. ouuir.
O trabalho exibe ainda, além disso, as características que marcam o seu livro, publicado há 11
anos, sobre o verbo do antigo espanhol.
* Dante, Divina Comédia, Inferno, XI, vv. 62-63 (N.E.)
5
É uma questão muito importante, que não se pode tratar satisfatoriamente de forma breve, saber se
os poemas assim incorporados a CA. pertencem ao acervo primitivo do mesmo e se outros, não
acolhidos, lhe faltam legitimamente. A emérita pesquisadora, que procurou, com grande acuidade,
resolver o espinhoso problema de reproduzir o conteúdo original de CA., diz em CA. II, 210:
“Quanto às tentativas de preencher lacunas, estou persuadida que também quasi todas merecem
384
approvação”. Contudo, aquelas cantigas, que ela mesma em parte mencionou (ibid., 215 ss.) e
que admitiu no Códice por ela considerado como de cantigas de amor em sentido provençal, mas
que pertencem propriamente à classe dos planhs, sirventeses e cantigas de amigo, suscitam dúvi-
das acerca da correção da sua opinião, ainda mais que a omissão de outras cantigas igualmente
antigas ainda precisa ser explicada. A existência de cantigas populares paralelísticas em CA., e o
ponto de vista, defendido em Zeitschrift 28, 385, de que a cantiga de amigo em estilo popular CCB.
348 (= 456) tenha sido composta entre 1194-1199 por Sancho I, não se coadunam bem com a
opinião exposta em Grundriss II, 2, 195, e, mais tarde, em Zeitschrift 19 (1895), p. 591 ss, contra a
minha objeção (Denis, p. CXLI [neste volume, p. 175]), de que as cantigas de maestria foram as
cantigas corteses mais antigas, ao passo que os tipos populares nacionais apenas com o rei Denis
(1279-1325) se tornaram de fato “palacianas”. Depois que as duas cópias italianas do cancioneiro
geral se tornaram conhecidas, a opinião acima mencionada já não era mais sustentável.
6
Nºs. 151, 152, 154, 156-8, 180-182, 211, 214, 235-239, 247, 249, 254, 269, 272, 273, 299,
304-307.
7
Veja-se o que a própria Carolina Michaëlis de Vasconcelos diz a tal respeito, vol. II, p. 170 ss.
Quando se fala, no vol. I, p. X, da edição baralhada de Varnhagen, este juízo parece muito
385
severo. Na grande maioria dos casos, onde, em nossa edição, se apontam as lições do manuscrito,
encontram-se as mesmas também em Varnhagen (na sequência, citado abreviadamente, Vg.).
Comparem-se, por exemplo, para mencionar só alguns casos, as variantes aos vv. 239, 347, 596,
598, 665, 774-5, 888, 1741, 2231 etc., com o seu texto.
8
Vejam-se, por exemplo, apenas vv. 1636, 3701, 3724, 4031.
9
Assim, coincidem com Vg. grafias como òuvi (v. 5733), prol’ (v. 5521), rogá’-lh’ei (v. 5884),
sábia (v. 1212), sabiádes (v. 1328), á (= habet) , bem como a substituição da forma transmitida
em v. 95, tivi, por tive.
10
Não é de aceitar que esta circunstância se deva à falta de espaço, pois em alguns casos, poder-se-
iam ter omitido ou então abreviado as informações fornecidas nas variantes. Assim, por exem-
plo, para os vv. 193, 404, 566, 665, 1336, 1374, 1426, 1582, 2301, 2382, 2572, 2617, 2494, 2896,
3375, 3499, 5408, 5673, 5683, 5698, 5990, 6364 etc.
11
Serviram como exemplo do uso e correta indicação das variantes de CCB. os números 1-10, 116-
149, 163-164; para os de CV., os números 222-234 e 359 (CV. 943, com a rubrica que falta nos
outros modelos, foi totalmente negligenciado).
12
Comparem-se, por exemplo, vv. 20, 29, 32, 35, 41, 71, 130, 210, 863, 2243, 2819, 2821, 2824,
3087, 3103, 3126, 3154, 3160, 3197, 3238, 3246, 3373, 3422, 5187, 5654, 5729, 5863.
386
13
Ao contrário do que se diz exatamente, no mesmo ano, em Zeitschrift 19, p. 519, admite-se, à
p. XXVII, nota 3, que teria sido melhor escrever também mha, sabha, Pavha, ao invés de mia,
sábia, Pávia, como ocorre realmente na edição.
14
Não porque não ocorresse este uso do j, como se diz em Zeitschrift 19, pp. 514 e 520, nota 1, contra
o testemunho dos documentos, mas porque era muito menos frequente do que i e g. Vid., por
exemplo, Graal, em Romania 30, pp. 511 (amerjendo, jemer), 512 (oje, deseje), 513 (jente) etc.
15
Não é necessário citar todos os casos. Também no v. 7224, em que o modelo tem desegey, encon-
tramos desejei. Vejam-se, por exemplo, vv. 364, 370, 374, 427, 571, 716, 1078, 2541, 3704,
3872, 5143-4, 5255, 7081, 7224, 7393, 8113, 8263, 8300, 9432, 9525, 9725, 9752, 9923, 10007,
10069 etc.
16
Zeitschrift 25, 145, 150, 560 (vej’ ende, oje, etc.), vol. 29, 702, 703, 704, 710 (desej’e, vej’est;
oje etc.).
17
Vid. Denis, p. CXLVII. [neste volume, p. 180]
387
18
Nos textos editados nos volumes 20-29 da Zeitschrift, encontra-se esta escrita também no lugar
em que CA. tem que’-no. Um exemplo instrutivo é, por exemplo, CA. 5682, que’-no, em cujo
lugar encontramos, na Zeitschrift 27, 166, que[n]-no.
19
No Prefácio, p. XVI, nota 5, diz-se que nõ-no, be-no etc. teria sido então, como hoje, a escrita
mais correta.
20
Vide Denis, loc. cit.
21
Também à p. XIX, lemos oùvi, soùbi; na nota 2, p. XXV, porém, òuvi [no texto, por óbvia gralha,
oùvi. (N.E.)]; do mesmo modo no vol. II, 61.
388
bém ouvi sem acento22. Do mesmo modo, lemos dìxi nos vv. 7866, 7872,
7878, 9581 etc., díxi no v. 7884; dixi, sem acento, por exemplo, nos
vv. 3801, 3966, 4019, 4030 etc.23. Ou pùdi vv. 4127, 7271, 7842, 9150,
9537, a par de pudi v. 299524.
Quando um e ou o tônico era seguido na sílaba posterior por um i
átono em hiato, recebia um som fechado. De acordo com o Prefácio,
p. XXII, ele é assinalado pela douta pesquisadora por meio de um acento
circunflexo, por exemplo, nos vv. 6383, 6480 dôrmio e, em Zeitschrift 29,
p. 700 sêrvio, 25, 162 cômia. Com a mesma frequência, contudo, emprega-
se o acento grave, como, por exemplo, em 25, 303 còmian, ou o agudo,
como, no mesmo lugar, 307 e, na presente edição, v. 10130 sérvio, ou 7733
sérvia. Não se observa aqui, portanto, uma regra.
Pode-se duvidar de que sejam realmente necessárias grafias como:
vv. 3290 teê’-lh’o, 4929 devinhá’-lo, 8432 rogá’-lh’ei, que, com a colabo-
ração de Leite de Vasconcelos, quase se tornam norma a partir do v. 2316.
Quem realmente lê português não precisa de um hífen, um acento ou um
apóstrofo para entender que tem um infinito diante dos olhos; se não o faz,
porém, de pouca ajuda lhe serão esses sinais eruditos.
Quanto à pontuação, a emérita pesquisadora fez uso abundante dela,
por concessão ao gosto português, como nos explica no Prefácio, p. XXIV.
Com isso, o entendimento das cantigas, usualmente difíceis, foi significati-
vamente facilitado. O esmero e conhecimento com que foram escolhidos e
introduzidos os sinais de pontuação estão entre as melhores coisas que a
presente edição do Cancioneiro da Ajuda oferece. Pode ficar em suspenso
se era necessário introduzir o duplo emprego, comum apenas na Espanha,
do sinal de interrogação e exclamação.
Examinemos, então, o tratamento linguístico do nosso cancioneiro.
A linguagem do nosso cantar cavaleiresco é, como corretamente
nos diz o Prefácio, p. XVIII ss., arcaica e homogênea, e isso já era conheci-
do, de modo geral. A elegância com que surge já nas primeiras cantigas que
nos foram conservadas, no limiar do século XIII, autoriza-nos a aceitar que
a cantiga popular galego-portuguesa, da qual a poesia palaciana hauriu tan-
tos tons cálidos, devia ter sido cultivada, já há muito tempo, de forma cada
vez mais consciente25. Embora ainda não esteja comprovado, é bastante
22
Por exemplo, òuvi 25, 306; 678; oùvi, ibid. 162, 166, 307; 29, 702, 703 etc.; ouvi 20, 159; 29,
700 etc.
23
Em Zeitschrift, ou dixi (por exemplo em 20, 152; 25, 558, 674; 29,708) ou díxi (por exemplo,
25, 166).
24
Em Zeitschrift, ou pudi (25, 559) ou púdi (25, 677). – Nas erratas ao vol.I, pudi está corrigido no
v. 1285, 3175.
25
Vid. as provas mencionadas acima, nota 2.
389
* Cf. Y. F. Vieira et al., Glosas Marginais ao Cancioneiro Medieval Português de Carolina Michaëlis
de Vasconcelos, p. 433, nota 9. (N.E.)
26
Fique provisoriamente em suspenso saber se essas formas devem ser realmente interpretadas
sempre como hispanismos ou se devem, ao invés de ao poeta, ser atribuídas aos copistas, como
parece provável na maioria dos casos.
27
Os algarismos em negrito indicam as formas desconsideradas.
28
Vid. comentário ao v. 927.
390
239; le 3407 (refrão); lexades 5123, 10057; o 47, 1117, 2986, 3889, 7595;
otri 3989, 4089; penso 53; plazer 8326, 853929; plazerá 5623, 7102, 7356;
primero 2065, 2503; quexume 3147, 10065; seso 5952; siquer 917830; sir-
vo 6762, 6786; trae 2382; traicion 549631.
Dessas formas, 11 pertencem aos seguintes poetas, que, de acordo
com as biografias contidas no segundo volume, eram galegos: Fernan Fi-
gueira de Lemos, 7356; Fernan Rodriguez de Calheiros (?), 7595; Joan de
Guilhade, 5123, 10065; Mem Rodriguez Tenoiro, 10057; Pay Gomes
Charinho, 5496, 5623; Vasco Praga de Sandim, 239, 47, 53, 8326; enquan-
to 6 se devem a um espanhol, Pero Garcia, Burgales: 2107, 2065, 2503,
2173, 9178, 2382.
Todas as demais encontram-se em poetas vistos como portugue-
ses: Desconhecido (Roy Fernandez de Briteiros?), 6762, 6786, 5952; Diego
Moniz, 7102; Fernan Garcia Esgaravunha, 2986: Fernan Velho, 5863; João
Coelho, 3889, 3989, 4089; João Soares Somesso, 635; Martin Soarez, 1528,
1117, 1002; Nuneannes Cerzeo, 8539; Pay Soares Taveiroos, 927, 968;
Roy Queimado, 3370, 3147; Vasco Gil, 3407.
Portanto, dos assim chamados hispanismos, 17 correspondem a 7
galegos e espanhóis, e 19, a 11 portugueses.
Na medida em que estes casos, dos quais alguns deveriam ter sido
interpretados de maneira diversa32, outros, atribuídos aos copistas, ao invés
de aos poetas, têm alguma importância, eles comprovam que formas hispâ-
nicas se encontram entre os portugueses tanto quanto entre os seus coetâ-
neos galegos e castelhanos33.
O método observável na presente edição, segundo o qual, por exem-
plo, a forma alhi (v. 1528), transmitida pelo português Martin Soares, não
é substituída por ali, ao passo que foram eliminadas formas abonadas por
documentos coevos, bem como por dialetos atuais, como, por exemplo,
dire-lhes (v. 927), acorde-m’ enton (v.3370), que encontramos do mesmo
modo em um português, conduz a uma outra questão, cujo tratamento coe-
rente e bem circunscrito aos fatos é tão essencial, para a edição de um texto
antigo, como a questão das variantes, da ortografia ou da métrica. Trata-se de
29
Vid. também Denis, v. 1688, e Zeitschrift 19, p. 528, onde esta forma é vista como mero erro de
cópia.
30
Do mesmo modo, por exemplo, CV. 498, 13.
31
A editora emendou todas essas formas, exceto alhi, siquer, sirvo e traicion.
32
Veja-se, por exemplo, o que abaixo se diz para vv. 47, 927, 4089, 5623.
33
[O texto correspondente a essa nota foi eliminado, seguindo as retificações apostas por Lang ao
presente artigo, à p. 640 do original. (N.E.)]
391
34
No mesmo sentido manifesta-se Herzog, no terceiro número desta Zeitschrift 31, p. 372, que
agora me chegou às mãos.
35
Vid., a esse respeito, v. 7733.
36
Aqui, como em outros lugares neste artigo, não se trata tanto de casos isolados, que se
possam explicar como equívoco ou por meio de uma outra interpretação do assunto, mas princi-
palmente de saber segundo qual princípio foi tratada, de forma consequente, uma série de casos
semelhantes.
392
lebrado justamente por seu caráter de unidade. Exemplos desse tipo encon-
tram-se nas notas aos vv. 95, 105, 1505, 2184, 3506, 5240, 6914, 7317,
7658, 8849, 9121, 9765.
No que se refere à apresentação da forma métrica dos poemas,
contida na categoria II, a própria editora nos comunica, no Prefácio, p. XII,
que não mais manteria muito do que lá dissera, e salienta como incorretas
as denominações octonários jâmbicos e nonários trocaicos, em lugar de
versos de 8, 9 e 10 sílabas contadas aritmeticamente, assim como rimas
longas, breves em vez de agudas, graves. Algumas dessas declarações equi-
vocadas, bem como a denominação incomum de uma medida de verso,
estão emendadas nas erratas; as outras devem ser corrigidas nas Investiga-
ções Linguísticas do prometido terceiro volume. A determinação das medi-
das de verso presentes no nosso cancioneiro, bem como das formas estróficas
e dos sistemas de rima, foi conduzida no geral de modo admirável. Aí e na
esmerada contagem de sílabas, deve-se ver uma das partes mais bem suce-
didas de toda a obra. Não resultou tão bem, contudo, o tratamento da rima
e de outros artifícios que se tornaram conhecidos, por meio dos provençais,
com o nome de rims equivocs, derivatius, replicació etc.
Encontram-se, em nossa coletânea, 42 poemas nos quais uma de-
terminada palavra é repetida, a cada estrofe, duas ou mais vezes na mesma
posição de rima (nºs. 45, 87, 88, 94, 95, 102, 103, 110, 116, 118, 131, 132,
135, 136, 141, 155, 186, 201, 224, 225, 258, 259, 264, 288, 292, 309,
314, 328, 329, 387, 391, 403, 407, 416, 417, 423, 433, 434, 436, 437, 447,
453, 454)37.
Aqui temos, portanto, exemplos regulares das rims equivocs da
poesia provençal. Na minha edição de Denis, p. CXXV [neste volume,
p. 62], tais casos são designados com o nome em português arcaico dobre,
em primeiro lugar, porque no conhecido fragmento de uma Poética, que se
nos tornou acessível, desde 1880, pela publicação do CCB. (vid. ibid., p. 5,
linhas 146-154), esse nome não está, é verdade, expressamente referido à
rima, mas segue-se imediatamente ao capítulo que trata da rima e aplica-se
apenas às palavras que se repetem nas mesmas posições do verso; também
porque o gênero de repetição38, denominado replicació pelos provençais,
nos poemas portugueses em que ocorre encontra-se vinculado apenas ex-
cepcionalmente a alguma posição determinada, portanto, muito provavel-
mente, não foi cogitado nas secções da Poética referentes ao dobre e
37
Os negritos assinalam os casos desconsiderados.
38
Vid. Leys d’Amors I, p. 248; III, 58-62; Diez, Poesie2, p. 88; Meyer, Dern. Troub. § 22; Gaspary,
Sicil. Dichterschule, p. 134; Canc. Gallego-Cast., p. 182.
393
39
Em Grundriss II, 2, p. 195, notas 8 e 9, Carolina Michaëlis associa os nomes dobre e mordobre,
expressamente, a casos da assim chamada replicació; do mesmo modo na nota à cantiga nº. 231,
em que se deve reconhecer, com Diez, uma verdadeira rima interna. Ao contrário, fala-se, nas
notas aos nºs. 289 e 304, da aplicação dessas expressões a casos de rims equivocs e derivatius,
como se fosse algo óbvio.
40
A expressão usualmente empregada é rimas idênticas, mas ainda encontramos palavras idênti-
cas (nº. 417) e consonantes idênticas (nº. 45).
41
Apenas casos que ocorrem em todas as estrofes são aqui mencionados, portanto não, por exem-
plo, os nºs. 165, 262, 359 etc.
42
Não se deve confundir com a expressão homônima no provençal, que caracteriza a alternância de
rima conseguida a partir da mudança de gênero, conhecida, na Península Hispânica, pelo nome
de macho e fêmea (portanto, o-a). Vid., abaixo, a nota 45 e, além disso, por exemplo, Leys d’Amors
I, 184, e P. Meyer, Romania 19, 20.
43
Para ambos os poemas, é mencionado o correspondente trecho da Poética em português arcaico,
sem que se manifeste qualquer dúvida de que com estas expressões se trate realmente do tipo de
rima mencionado, e não da replicació. Não se compreende, portanto, por que não se chamam tais
casos, do nº. 289 em diante, de uma vez por todas, dobre e mordobre. Vid. ainda, acima, nota 39.
44
Esta expressão ocorre ora na definição que a Poética dá de mordobre, ora em outros contextos.
394
45
Não é necessário comprovação de que a rima macho e fêmea é algo essencialmente diverso.
Exemplos em português arcaico e galego-castelhano são discutidos no Cancioneiro Gallego-
Castelhano, pp. 215-6. – Em Grundriss, loc. cit., trata-se corretamente desse tipo de rima.
46
Ocorre um exemplo semelhante com cuidar no Canc.de Baena, nº. 135 (= Canc. Gall.-Cast.,
nº. XLIX), aplicado, porém, também à rima, e é designado, na rubrica, como consonantes doblados.
Não se pode, infelizmente, determinar com segurança, por nenhuma passagem até agora conhe-
cida, se e como a estranha expressão mansobre, masobre ou mazobre foi compreendida.
47
Vid. nota 39.
48
Aqui chamada de dobra.
49
Em negrito, assinalam-se os exemplos não considerados.
50
Vid. Diez, Poesie, p. 102; Wolf, Studien, p. 261; P. Meyer, Romania 19, p. 19; Anglade, Guiraut
Riquier, p. 215. Nesta última obra, que não revela nenhum conhecimento preciso da antiga poe-
sia portuguesa, são mencionadas, na nota nº. 4, três cantigas em português arcaico, CV. 650, 658,
852, como exemplos regulares da cobla redonda, pois nelas o último verso de uma estrofe retorna
como primeiro verso na seguinte. Na primeira e terceira das cantigas mencionadas, as estrofes se
iniciam e finalizam com o mesmo verso, portanto, não pertencem, de qualquer forma, ao tipo
descrito; a terceira é uma cantiga de refrão e nada tem a ver com o nosso assunto. Estrofes que se
iniciam e finalizam com o mesmo verso encontram-se, por exemplo, ainda em CV. 1182 e 1198,
sendo que no último poema o mesmo verso ocorre na primeira, na quarta e na sétima linhas de
todas as estrofes.
395
51
Assinale-se aqui que até agora não me foi possível adquirir a obra de Ayres de Sá acerca de Frey
Gonçalo Velho (Lisboa, 1899 e 1903), nem os Subsídios para um Diccionario, de Cortesão,
embora o tenha repetidamente tentado.
396
exemplo, v. 1016; 6674 Merece Que a possa merecer; Denis, vv. 70, 755,
1171, 1782, 1991; Graal, em Revista lus. 6, 335: Como a possa matar etc.
Será melhor, então, que se leia: j’a (= ja a ) possa p. Cf., para a contração,
por exemplo CA. v. 9195, ca esta = c’a esta; 9760, cao = c’ao; 9959, j’agura;
C. Resende, I, 12, 9: j’assy; 18, 19 j’aliuando, e o que Epiphanio Dias obser-
vou, acerca dessas duas passagens, em Zeitschrift 17, p. 114. Vid. também,
abaixo, v. 105, e para a colocação regular do pronome objeto, v. 6914.
V. 11 enquant’ eu; CCB. eu teu falta nas variantes.
V. 25 A forma este, que aparece ao lado de é e est, deveria ser
separada do subjuntivo estê (por exemplo, v. 2527); poderíamos colocá-la
também no v. 9235; aliás, ela ocorre igualmente com frequência, como por
exemplo CM. 31, 1; 48, 2; 98, 8, e em documentos antigos, como por
exemplo Rev. lus. 8, 43 (ano 1276).
V. 19 semelha; CCB. semela, falta nas variantes.
V. 20 a quen á esta c.t. CCB. a te esta c.t., lição que nos é
comunicada da seguinte maneira: a [quen] ten e.c.t.
V. 29 de min; CCB. dmy, do qual, nas variantes, consta apenas mi.
V. 32 nulh’ enveja; CCB. nulla e., em vez do qual as variantes nos
dão nulha e., o que é inadequado, pois justamente nos dois manuscritos
italianos a palatal l, ao contrário do Códice da Ajuda, é de regra representada
por lh, em vez de ll52. Agora, se nulla provém do copista italiano ou não,
está no modelo e, por conseguinte, não deve ser tocado. O mesmo vale nos
vv. 33, 35, 41, 211, 218, 254 etc., cujos nullo, nulla transmitidos nem sequer
estão indicados53. Uma vez que já no primeiro período da lírica aparece ll
no lugar de l (vid., infra, v. 5863), então não se pode, sem mais, substituí-lo
por lh.
V. 37 se non; CCB. falta so n.
V. 47 o[u]. Do mesmo modo, vv. 1117, 2986, 3889, 7595. O fato
de o, ao invés de ou (aut), estar comprovado nesta posição pelos dois
modelos e de se encontrar cinco vezes nesta coletânea, deveria suscitar
dúvida quanto ao seu afastamento por erro ou, como acontece aqui, por
hespanholismo. Tanto mais que o presente cancioneiro nos oferece também
formas como direlhes no v. 927, otri nos vv. 3989, 4089 etc., que a editora
rejeita como hispanismos, mas que podem ser considerados, com
pertinência, casos da condensação de ou, ei, em ô, ê, que aparecem amiúde
52
Se tal transcrição das variantes estivesse no projeto da edição, então poderia ter ocorrido tam-
bém, por exemplo, nos vv. 3110, 5760 e centenas de vezes.
53
CCB. traz nulha, por exemplo, nos vv. 2765, 3033, 3237, e nullha (não mencionada nas varian-
tes), em v. 2825.
397
54
Que aqui não se pensa realmente em sinalefa, mas em eliminação ou elisão efetiva da vogal
assim assinalada, está fora de qualquer dúvida, pelo seguinte: a) a vogal transmitida é amiúde
literalmente suprimida, como por exemplo v. 8796, sab’ a ao invés de sab(e)a, vv. 7124, 7981
etc.; v. 8974 xestaria etc. b) Nas variantes, solicita-se, expressamente, que ela não se pronuncie,
como por exemplo v. 8820, vergonha i á. c) Ou, finalmente, explica-se, na lista de emendas
colocadas pelo revisor nas próprias margens do Códice da Ajuda, que as vogais finais providas
de um ponto foram assim marcadas para serem suprimidas, pois seriam excessivas ou incômodas
para o número de sílabas. Veja-se CA. II, 172 ss., por exemplo as notas aos nºs 167, 6; 172, 10;
203, 8; 245, 4; 250, 21; 252, 17. Mais claramente ainda se lê em CA. I, p. XXIV: “As (i.e. letras)
que na minha opinião podiam ser suprimidas, para que o verso tivesse maior correcção prosódica,
vão entre parénteses curvilíneos. (Ex. v. 2399: coid(o) escrever)”. Não nos é explicado por que o
revisor deixou que nos chegassem, sem correção, não menos de 100 dessas vogais em 2800
versos, em média. Vid., ainda, o que diz a douta investigadora na nota 1 e, sobre o mesmo assun-
to, na sua edição de Sá de Miranda (1885), p. CXXI ss.
398
55
Para o francês, o provençal e o italiano, veja-se, por exemplo, Stengel, Grundriss II, pp. 42-44;
para o espanhol, por exemplo, a obra de Berceo, cuja arte versificatória foi, há pouco, cuidadosa-
mente apresentada por Fitzgerald (Versification of the Cuaderna Via).
56
Nos primeiros duzentos versos da presente coletânea, ocorrem os seguintes casos de elisão ou
apostrofação: e. Mentr’eu 4; og’eu 6, d’amor 7, d’ela 14, grand’enveja 22, d’aquesta 42, m’ende
44, m’end’ouvess(e)a 68, m’end’ia 70, m’alongar 71, d’outra 78, m’algun 79, end’a 84, d’amor
88, d’el 89, lh’a 92, creed’ora 93, d’outra 101, trist’andar 112, lh’ela 113, lh’á 114, pod’aver
115, om’, a 118, dev’esto se scient’ouver 121, dev’a 123, s’én 132, end’o 136, m’ar 141, punhass’en
159, m’eu 169, x’é 176, veer-m’edes 179, m’end’eu 180, d’ela 184, soub’ende 185, cuita’n 187,
m’ides 191. – a. poss’a (3) 10, nulh’enveja 32, guis’andar 180. – o. enquant’eu 11, 62, 76, 99,
142, 148, tod’ome 23, 125, segund’ora 24, enquant’est’é 25, tod’est’ora 31, nulh’ome 33, 35,
faç’eu 34, quant’ora 37, com’eu 40, serviç’enquant’eu 76, mund’ [a] 86, dereit’a 112, log’a 120,
muit’amar 127, log’á 137, quit’eu 141, 151, tenh’eu 147, quant’eu 153, quer’eu 165, 177, com’eu
183, est’é 193, l’eu 194.
57
O fato de Denis ter cerca de 20 casos a menos que CA. deve-se, provavelmente, ao maior número
de cantigas paralelísticas, cuja repetição formal deixa pouca margem de jogo ao poeta.
58
Os exemplos são citados exatamente da maneira adotada na edição.
399
59
Veja-se o excelente trabalho de Cornu, em Romania 12, 243 ss.
60
Vid., a este respeito, o belo trabalho de Gonçalves Viana, em Romania 12, 68; e Cornu, Grundriss
I, 1006 ss.
61
Se se escrevesse, de acordo com xi-a = xha (por exemplo, CV. 1117, 14; CCB. 6, 19), dixi-ali em
vez de dixe ali, então a terceira pessoa do singular, dixe, não poderia diferenciar-se da primeira,
dixi. Também o hífen seria ambíguo, pois, nesta edição como em outras, liga vogais que estão em
hiato, como por exemplo v. 2487, leve-as; v. 9675, feze-a. Esta objeção refere-se também à
escrita de de-o, v. 2260, desde que não se trate aqui de mero engano.
62
Vid. Romania 12, 286. – Portanto, a emenda da medida do verso, tentada no v. 2260 por meio da
ligação de-o, dificilmente pode estar correta. Cf. nota 61.
63
Vid. Romania, loc. cit., p. 287.
400
ao v. 9499, que os pronomes átonos me, te, se, lhe, que em regra surgem ou
com a vogal eliminada ou em sinalefa, já eram por vezes empregados na
nossa escola, em posição de hiato, como posteriormente ocorreu no Canc.
Resende64. Aqui não é o lugar para investigar até que ponto se pode observar
alguma diferença no uso da sinalefa pelos nossos mestres cantores, mas
pode-se recordar, nesta ocasião, que Afonso X parece ter feito apenas uso
bastante restrito dessa prerrogativa dos poetas românicos. Era mister
demonstrar aqui que o tratamento dado pela douta romanista à situação
métrica aludida não revela com clareza os fatos linguísticos em que se baseia,
ainda que, por qualquer motivo, as vogais mencionadas não tenham sido
literalmente eliminadas65.
V. 129 enos d., CCB. eu9 d. (= euus d.) falta.
V. 130 pode ja; CCB. pode ra, em lugar do qual a editora nos
comunica poderá, aqui também contrariamente ao modelo.
V. 140. Não se depreende do contexto por que ser quite de alg. c. e,
na linha seguinte, quitar-se, deve expressar “estar seguro” em lugar de “estar
desobrigado”, ‘livre”, como nos vv. 147, 151, 161, 163, 169, 173, 174 etc.
V. 142 enquanteu; CCB. enquantei, falta.
V. 143 ua; CCB. hunha, falta.
V. 145 prazer; CCB. prazeir, falta.
V. 185 nen me soub’ende soo trameter; Vg. Nen me soub’en deso
entrameter. Modelo? CCB. ne me soubende soo tmeter, em lugar do qual a
editora oferece, simplesmente, nen m’en. Uma vez que entrameter é uma
forma tão frequente deste verbo como trameter, e a lição de Vg. faz bom
sentido, então pergunta-se se esta não estará, de fato, no modelo, tendo a
editora tomado o seu texto de CCB., em lugar de CA. O leitor procura em
vão por uma tradução alemã desta passagem. Como o provençal se
entremetre (vid. Levy, SW, s.v.), o português arcaico trameter-se ou
entrameter-se significa (por exemplo, CM. 16, 7) “esforçar-se por algo”, e
a linha em questão diz, portanto: nem mesmo o tentei (isto é: falar-vos
64
Ibid., 282 ss. – Já por esta razão não se devia representar, no v. 9874, etc. (refrão), s(e)a.
65
À p. XXI da mesma Advertencia preliminar (volume I da edição), de onde se tirou a passagem
citada acima, na nota 54, acerca das vogais colocadas entre parênteses redondos, diz-se o seguin-
te: “O hiato de vocábulo a vocábulo também era usadíssimo, muito embora os poetas utilizassem
as diferentes sinalefas – mais vezes elisão do que sinérese e crase”, e nas notas a essa passagem:
1. “As regras serão estabelecidas nas Investigações Lingüísticas” (do prometido terceiro volu-
me); 2: “Vogaes, que o poeta quis elidir na economia do verso, eram suprimidas na escrita”.
Como exemplo, menciona-se aqui, simplesmente, a junção de me a etc., resultando em mi-a. Do
mesmo modo, p. XVII, nota 5. Nas prometidas Investigações, saberemos provavelmente como
isso se pode reconciliar com a passagem acima citada, da p. XXIV, e com os diferentes procedi-
mentos observados nesta edição.
401
66
Editado por J. Leite de V., Lisboa, 1906. No Glossário, o pronome reflexivo foi desconsiderado.
67
A única ocorrência que conheço, por ora, está no Testamento de Afonso II (1214), na Rev.
Lus. 8, 82.
402
403
404
69
O verbo reflexivo afrontar-se ocorre com o sentido de “atacar”, por exemplo em Cronica Troyana
1, 235: Et afrontaronsse moy brauament porlos desbaratar, et tan brauament os aficaron etc.
Comp. o antigo espanhol afrontarse, em Lanchetas, s.v.
70
Vid. Lexique roman e Levy, SW, s.v.
71
Cf. Elucidario, s.v.
405
Já que desde, em nossos textos, é muito menos usual que des, parece
melhor preservar este último e obter a sílaba que falta pela anteposição do
advérbio ben 75, bastante comum em galego-português, ou do subs-
tantivo ora, antes de aquelha. Quem for contrário a aceitar as palavras
[ben]-des aquelha, no sentido da expressão, hoje comum na Galiza,
72
Nos Textos archaicos (Rev. Lus. 8, 191 ss.), elaborados algo rapidamente que, em separata, po-
dem servir como Crestomatia do português arcaico, Leite de Vasconcelos simplesmente copiou a
referida cantiga da edição de CA., sem dizer uma palavra acerca da sua forma deteriorada, nem
ousar uma tentativa de emenda própria.
* Cf. Y.F. Vieira et al., Glosas Marginais …, op. cit., p. 433, nota 9. (N.E.)
73
Rev. Lus., 8, 82 ss.
74
Tanto menos quando se vê que, por exemplo no v. 5496, se admite traicion, embora a rima não
a exija. Observe-se, a propósito, que na linguagem de Miranda ll tem reconhecidamente som de
palatal, e que encontramos mesmo, por exemplo, aqueilha, alhi. Vid. Leite de V., Estud. de
Philol. Mirand., pp. 1, 279 e 447.
75
Comparem-se, por exemplo, expressões frequentes como ben de-la sazon (CA. vv. 57, 3470,
etc.), ben des aquela ora (por exemplo, CM. 57, 7), e muitas similares (ibid., 67, 1; 75, 33; 78, 9,
etc.), assim como as formas regulares, que ocorrem nos dialetos contemporâneos, bentèqui,
abentèqui (= ben até aqui), por exemplo, Rev. lus. 2, p. 28 ss.; bemté (= ben até) ibid., 8, p. 299.
406
76
Comp. a aquella em Visão de Tundalo (Rev. Lus. 3, p. 108) = enton; do mesmo modo, naquelo,
Graal (Rev. Lus. 6, p. 335) = naquel momento etc.
77
Se se pudessem considerar, na versão sugerida pela editora, ambos os versos como metades de
um verso longo, não seria necessária a eliminação da palavra muyn. Vid. Mussafia, Antica metrica
portoghese, 16 ss. e comp., por exemplo, CA. nº. 314.
78
Deve parecer estranho que nem na edição de CA., nem na mencionada passagem na Zeitschrift,
se aponte para a concepção e tratamento distintos de uma mesma cantiga, cuja edição já há muito
se achava em preparação. A mesma discrepância é perceptível, ainda, nos nºs 166, 408, 455.
407
79
Como ainda ocorre na linguagem de hoje, fui etc., em português arcaico, poderia servir, com o
infinitivo, para expressar a ação realizada em vez da apenas intencional, portanto, para a paráfra-
se do pretérito. Comp., por exemplo, CM. 127, 4; 133, 7; 143, 1 etc. e o que diz Leite de Vascon-
celos, na Rev. Lus 8, 224, acerca de uma passagem dos “Antigos cantares portugueses” [neste
volume, pp. 509-528], por mim editados no volume dedicado a Mussafia. Com esta ocorrência,
deve-se comparar o emprego, em antigo provençal e catalão, do presente de anar com o infinitivo,
para a expressão do pretérito, mencionado por Meyer-Lübke, Grammmaire des l.r., § 324, e por
Levy, SW. nº. 7.
408
mester, o a deve representar, de igual modo, habet e ad, uma vez que as
formas tônicas mi, min também são empregadas sem preposição a, como
dativo, por exemplo v. 652 (pela própria editora!), 817, 1310, 1314 (m’ é
min muy grave) etc.
V. 1454 quen vus ben quiser’, como CCB.; Vg. tem quen no b. q.,
o que dá um bom sentido. Modelo?
V. 1475 vos vo-l’ entendedes, como CCB.; Vg., v. non l’e. Modelo?
V. 1483 nos ambos: Vg. e CCB., vos a. Já que esta lição resulta no
mesmo sentido, é-se tentado a supô-la também como a manuscrita em
CA. Modelo?
V. 1505 E come me non doerei. Vg. e CCB. têm como, em lugar de
come, uma convergência tanto mais significativa porquanto, em nossos
cancioneiros, como é geralmente empregado apenas para introduzir orações
dependentes, e come apenas na comparação abreviada, como o mostrou
Vising, no seu elucidativo ensaio sobre quomodo nas línguas românicas
(volume Tobler, 1895), demonstração a que se remete aqui, em definitivo.
Em vista dessas relações, pode-se perguntar se Vg. não restituiu fielmente,
também aqui, o modelo. No v. 7586, a editora tomou de CCB. como meu
ben, em que se pode seguir facilmente a regra por meio da separação com’o
m. b.; no v. 9121, converteu-se o belo exemplo arcaico da bem conhecida
forma coma (CCB. coma amj ), contra o uso linguístico, em com(o) a mi
(vid. abaixo a nota a esse verso), e também no v. 9765 adota-se como
incorretamente. De todo modo, Vising observou igualmente que já aparecem
desvios da regra neste período e também nos nossos cancioneiros. Nos
vv. 8497, 8989, encontramos come ao invés de como; no v. 3647,
encontramos como quen, ao contrário do regular come quen, vv. 3908, 6030
etc.80. Tanto em Afonso X (por exemplo, CM. 32), como também nas
hagiografias publicadas por Cornu, em Romania 11 (por exemplo, p. 375),
ocorre, com frequência, come ao invés de como, enquanto no Testamento
de Afonso II (1214), é empregado exclusivamente como. – O como
eliminado deve, pois, ser restituído.
V. 1566 a min ‘n outro dia. A colocação do apóstrofo antes, ao
invés de após o n (= lat. in), é provavelmente um erro de impressão.
V. 1636 Amo qual d. Vg. C’amo (= ca amo), uma lição preferível,
não arrolada pela editora, mas reproduzida na tradução. Modelo?
80
Onde ocorre come em lugar de como, nos apógrafos italianos, por exemplo, CCB. 302, 5, 11,
pode-se ficar tentado a atribuí-lo ao costume do copista. – Em CV. 68, 22, encontramos, correta-
mente transmitido, com (= come). Mas Monaci, incorretamente, dá-o equivalente a como, na lista
de abreviaturas (p. 443), o que é bastante estranho, pois em nenhum dos demais 18 casos por ele
arrolados m substitui mo.
409
410
que se refere à origem, até agora continua obscura para mim, e a editora
não se manifesta a esse respeito, nem sobre as propostas feitas por Diez,
125. A palavra é traduzida por “punido” [bestraft]. Uma expressão com
esse significado, mesmo se realmente transmitida no manuscrito, não é
correta em nossa passagem, pois, no poema em pauta, não se fala de forma
alguma de uma punição do poeta que enlanguesce por amor ou algo desse
tipo. Vid., ainda, v. 3097. Observe-se a estrofe em questão:
81
Diez recusa desmigado, “esmigalhado”, por não corresponder bem ao sentido.
82
Vid. Rev. Lus. 3, p. 174 e Grundriss I2, p. 962.
83
Para a questão do significado, compare-se o latim minuere, diminuere, cupere, discupere e no
românico, por exemplo, ainda no provençal, trigar, destrigar, casos que Diez já havia apontado,
EW. 327. Adicionem-se ainda a esses, por exemplo, trahere, distrahere e dissipare, que vem de
supare, portanto, de qualquer modo, de um verbo de afastamento (cf. Walde, EW des Lat., s.v.).
Para des = di, veja-se, por exemplo, Cohn, Zeitschrift 18, p. 204 e comp. desmenuir ao invés de
diminuir no dialeto do Porto (segundo Leite de Vasconcelos, Dialectos Interamn. IX, Porto,
1891, p. 32).
411
84
No manuscrito, deve ter constado originariamente, portanto, desmyugado.
85
A editora não observou, embora isso deva tê-la influenciado, é verdade, que a forma queixen, em
virtude da sua terminação paroxítona, não resulta em rima perfeita com ben. Sabe-se, contudo,
que os poetas de todos os tempos se permitiram essas e até maiores liberdades, e os nossos
heréticos portugueses não terão sido muito inocentes nesse quesito. (Vid., por exemplo, v. 813
outren: ten, e, abaixo, o que se refere ao v. 9243). Assim como encontramos rimando, por exem-
plo, CM. 35, Colistanus, Brutus, chus; Festa V, 2; IX, 5, aue, fe, também no Canc. Baena vemos
ligações como (lo) que es, leyes (nº. 227, 1); em Dante (Inferno 7) urli, pur li etc.
412
413
414
415
II.
V. 3003 e pois que el n. D. etc.; CCB. e poys q(s) n. D. etc.; falta.
Tais variantes são tão dignas de observação, quanto ao menos, por exemplo,
CCB. cuidaua ao invés de coidaua no v. 3016, (enquanto novamente, no
próximo verso, se ignora hunha no lugar de ua). Comp., por exemplo, ainda
v. 3030.
V. 3019 eno m.; CCB. no m., falta.
V. 3028 E u eu vi; Vg., E eu vi; CCB. E cu ui. Modelo? Falta a
lição de CCB.
V. 3029 Vírgula entre disse dizer! Em CCB. dixer, lição que
igualmente falta.
V. 3038, 3044 u vus; CCB. huus falta.
V. 3043 coita; CCB. oita, falta.
V. 3056, 3059. Aqui, como é muito frequente, as formas transmitidas
nas variantes são apresentadas com os sinais de acentuação e os outros, adotados
para a edição do texto, portanto òuvi ao invés de ouvi etc. Mas também aqui
sem consistência, pois para o v. 3071 dixi é citado sem acento etc.
V. 3064 levei, com CCB.; Vg., levo, o que dá bom sentido. Modelo?
V. 3076. M. eu cativo, e que receei; CCB., M. eu catiue q (reche.)
recehey; falta nas variantes.
416
417
V. 3107 tod est’ ainda; CCB. todestamda, o que falta nas variantes.
Após tod, coloque-se um apóstrofo.
V. 3108 m’estranhar; CCB. me straªar, que falta.
V. 3120 CCB. falta que, o que não é indicado nas variantes.
V. 3126 CCB. e se qui sesse des, o que é restituído, nas variantes,
da seguinte forma: e ses quisessedes, como se se soubesse desde o início
que aqui não se pensava, como frequentemente, no sentido de “e se Deus
(dês) quisesse”! (Vid. v. 4851).
V. 3137-9 e se o fazer – senhor, com o verbo desenganar, ficou
sem traduzir. No v. 2214, esta palavra foi interpretada como “confessar”
[bekennen], no v. 2282, como “proclamar a verdade” [die Wahrheit
verkünden]; em nossa passagem significa, como ainda hoje, “livrar-se do
erro”, “esclarecer”.
V. 3142 ca, mia senhor; CCB. Camj. s., lição que falta.
V. 3157 lhes. Segundo as variantes, o antecedente, ao qual Vg.
também aqui permaneceu fiel, tem les. Leia-se, pois, l[h]es. A propósito,
vid. acima, v. 596.
V. 3160 em CCB. pr q ximassanhar, que se torna por que xi
m’ assanhar, nas variantes.
V. 3161 quen-nas; Vg. e CCB. quen as. No v. 3156, a mesma grafia
foi tomada, inalterada, do modelo (quen-as).
V. 3165 de fazer a. m. b. niun sabor; CCB. de faz a. m. b. nehuu s.;
ao invés disso, encontramos apenas nenhun registrado nas variantes.
V. 3167 ja quequer m’én fezera e. CCB. ia q qmenf z’a e., de que
nada consta nas variantes. Comp. Vg.: ja que quem eu f. e.
V. 3168 des quand’á. Ambos os modelos trazem des quant’á = “há
quanto tempo” [so lange her als es ist]. Assim igualmente em Denis,
v. 628, e consultem-se também, no Glossário, as expressões citadas s.v.
quanto. Com relação a isso, compare-se a conjunção en quanto, “no tempo
que”, “enquanto”, que ocorre com muita frequência, por exemplo, em
CA. vv. 11, 62, 76, 99, 5021, 5119 etc., e o espanhol atual en cuanto, “tão
logo que”. Ver ainda Bluteau, s.v. quanto. Havia, portanto, todo motivo
para conservar a lição transmitida, tanto mais que a mesma forma ocorre
em outros lugares da presente coletânea, como, por exemplo, no v. 9660.
Não se entende, a propósito, por que des quando não é escrito em uma só
palavra pela editora, como, por exemplo, no v. 3256, enquanto (mas separado
no v. 3361), aquanto vv. 3041, 3900, ou provido de um hífen, como tantas
outras palavras. Compare-se, para tanto, o que estabelece a Sra. M. V.,
Zeitschrift 19, 518 ss.
418
V. 3175 no’-me; Vg., no me; CCB. no mj. Até aqui, os grupos
nasais como non me, nen me etc. foram reproduzidos no presente texto por
meio de non me, nen me, não importando como estejam representados no
modelo. Daí em diante, encontramos ora a anterior ora a nova grafia,
incomum nos velhos textos. Comparem-se, por exemplo, ainda vv. 3283,
3519, 3531, 3892, 3909, 3988, e ver-se-á que os modelos não são sempre
responsáveis pela respectiva grafia. Vid. Denis, p. CXLVII [neste volume,
p. 180], CA. I, p. XVI e ibid., nota 5, onde nada se diz acerca de grafias
como no’-me, que’-na. No v. 5868, o modelo tem, assim como Vg., que
me, para o qual encontramos, no texto, que[n]-me. Por que não, também
aqui, que’-me, como no v. 3175?
V. 3187 eu m. n. m.; CCB. ea m. etc., falta.
V. 3190 querria; CCB. queria, falta.
V. 3193 perderia; Vg., poderia; CCB. –p (o)deria, falta.
V. 3194. Se não se quiser ler coraçon com duas sílabas, como
ocorreu mais tarde, por exemplo, em Canc. de Res. (vid. Romania 12, 295),
então aqui se deve escrever, conforme o método observado, cuidand(o)em.
Comp. v. 8818 e vid., infra, o comentário ao v. 4592.
V. 3196 e en como lh’ousaria d.; CCB. e en comolhouiaria d.,
falta.
V. 3199 mais veê’-la-ei pouco, e irei én; Vg., mais veel-a-ei pouc’,
e irei en; CCB. m. veela mui pouq e hirmey en. A lição presente no texto
tem uma sílaba a mais; as variantes, ao contrário, estão ambas metricamente
corretas, e Vg., portanto, está provavelmente de acordo com o modelo.
Neste caso, deveria ter-nos sido comunicado o desvio, e o o intercalado,
colocado entre colchetes. Mas se pouco realmente consta do modelo, deveria
ter sido escrito, no texto, pouc(o), pelo menos de conformidade com o
procedimento observado nesta edição.
V. 3202 non mi-an; Vg., n. mi á; CCB. no m–ha. Não registrado.
V. 3213 qu’én; CCB. (= quen), não simplesmente q, como está
nas variantes. A verdadeira lição do CCB. acaba por ser, portanto,
exatamente a mesma que a de CA. e não necessitava, por isso, ser dada.
V. 3214 A lição de CCB. é a mesma que a do texto (e de Vg.) e a
sua indicação era, assim, tão desnecessária como o sinal de interrogação
subsequente.
V. 3215 E veo outre, por quen me non ten; Vg., E veo outre por
quem mi o. n. t.; CCB., Eu eno outm por que mho n. t. Tanto Vg. como
CCB. têm mi o. Como teria o primeiro chegado a essa lição, senão através
do modelo? Se ela está lá, então deveria ter sido arrolada.
419
V. 3216 por seu; CCB. tem por sen, não p. seu, como está nas
variantes.
V. 3223 faça; CCB. faca, falta.
V. 3226 bon; CCB. boo, falta.
V. 3232 A lição de CCB. era preferível, pois oferece o predicado
que falta na oração principal.
V. 3233-4 non / na veer. Um interessante exemplo de assimilação
do l de um pronome iniciador do verso seguinte à nasal precedente.
V. 3236 poss’ og’ osmar; Vg. poss’ y osmar; CCB., posso iosmar,
lição não arrolada. O modelo tem g aqui como sinal da palatal fricativa
antes de o? Vid., acima, v. 2941.
V. 3238 veg’, e coid’ e. etc.; CCB. ueie cuyden etc., escrito nas
variantes: vej’ e c. etc. Vid. observação ao v. 3087.
V. 3246 nunc’ averei ren; CCB. nuca uerey ben, em cujo lugar
está, nas variantes, uerey-ben, como se faltasse o a de averei, e ainda
houvesse algo entre este tempo verbal e ben!
V. 3249 servir; CCB. seuir, falta.
V. 3250 ua; CCB. hunha, falta.
V. 3272 ua; CCB., unha, falta.
V. 3279 m’enfadar; CCB. me fadar, falta.
V. 3280 que me faz; CCB. q mala faz, o que é reproduzido, nas
variantes, por que m’ela faz.
V. 3288 quer’! e estou; CCB. qrestou; falta.
V. 3307 vus falta em CCB., o que não é indicado nas variantes.
V. 3314 e por én ; CCB. epreu; falta.
V. 3317 que mi-aven; CCB. qmauen; falta.
V. 3336 querria; CCB., qrya; falta.
V. 3338 cuid’ eu; Vg., cuido; CCB. cuyden. Modelo?
V. 3339 ua; CCB. hunha; falta.
V. 3343 Tan mansa; CCB. Taa m.; falta. Deve-se colocar vírgula
antes e depois de Senhor.
V. 3350 pero que; CCB, falta o, o que não é dito.
V. 3352 tant esforç’. ei; CCB. tate forçey, não t. esforcei, como
está nas variantes. – Falta apóstrofo após tant.
V. 3358 e morrera; CCB. emoirer; falta.
V. 3362 e en muy b. f.; CCB. falta en, o que não se menciona.
V. 3364 que vus quero. CCB. qimu9, o que é reproduzido, nas
variantes, por que mi vus.
420
421
422
falo”, enquanto por quen me dizia deveria significar algo como: “por qual
(admirador) eu me faço passar”. A lição de Vg. é melhor. Modelo?
V. 3725 rogo s. M.; Vg. rog’ a S. M. Modelo?
V. 3736 Ja est’eu o.; Vg. ja eu est’o. Modelo?
V. 3739 por Deus; Vg. par D. Modelo?
Nº. 161 Nenhuma variante informada, com exceção de narnas para
nen ar as.
V. 3761 contra que; Vg. contra quen. Modelo? A editora, com
bastante frequência, corrige que para quen. Vid. supra, comentário ao
v. 898.
V. 3768 mi-ora; Vg. me ora. Do mesmo modo, v. 3788. Modelo?
Vid. comentário ao v. 3666.
V. 3771 moir’ e p.; Vg. moiro e p. Modelo?
V. 3829 soub’ eu; CCB. souben; falta.
V. 3831 que mal que os matei. Na tradução, não aparece mal. Mas
sim: “quanto os sacrifiquei (os meus olhos)” [wie sehr ich sie (meine Augen)
matt setzte]. Veja-se, a respeito, Canc. Gallego-Castelh. v. 596 e p. 191.
V. 3837 lhes ar; CCB. lhar; falta.
V. 3841 E na sazon; CCB. Eira; falta.
V. 3842 avian de a v.; CCB. amandea v; falta.
Nº. 166. v. 3872, ama chamada: CBB. amadia mada; falta.
V. 3879 ama dev’ a seer; CCB. amada a seer; falta.
V. 3881 pola eu muit’ amar; CCB. pola muyt’eu a; falta.
V. 3883 poi’-la eu vi; CCB. poila uj; falta.
V. 3887 eu sei; CCB. en soy; falta.
V. 3889 do mund’ é; CCB. domuda, falta. Com relação a o[u] nesta
linha, ao invés do o transmitido, que também foi corrigido nos vv. 2986,
4089, 7595, veja-se o que se disse acima para os vv. 47 e 927.
O nº. 166 também foi impresso na Zeitschrift 20, pp. 148-9 (nº. I)*,
mas com tratamento distinto do mesmo texto. Não apenas se encontra aqui
m, no lugar de n final, e ao invés de poi’-la, simplesmente poi-la, mas, de
muitas maneiras, o texto é outro, como se depreenderá do que se segue:
Linha 4: d’estas duas] I d’estas cousas (de onde veio essa lição?);
Linha 6: est amada] I é amada (de onde?)
* Cf. Y. F. Vieira et al., Glosas Marginais ..., p. 33. Corrija-se ali, a propósito, no v. 4, “se paor” por
“se por”. (N.E.)
423
424
interpretação, então pode-se perguntar por que não foram vertidos para o
português, por exemplo, alhi no v. 1328, traicion, no v. 5496 (vid. comentário
ao v. 3889). Por outro lado, veja-se, acima, o que se diz para o v. 927.
V. 4117 e non ous’ a dizer; Vg. e non o ouso d.; CCB. e nono
ousa d. Na lista de erros, CA. II, 172, o o não é mencionado, e Vg. poderia,
portanto, ter lido de modo correto, tanto mais que concorda com
CCB. Esta lição deveria ter sido, então, arrolada nas variantes, já que pareceu
à editora perturbar o sentido.
V. 4242 min em rima com vi. Nas passagens correspondentes das
três estrofes anteriores, o texto tem mi ao invés de min, que está em CA., de
acordo com as variantes. Uma vez que, por conseguinte, o modelo oferece
mi para o v. 4242, não se compreende por que a editora colocou min. Vg.
não transcreveu aqui, infelizmente, o refrão.
V. 4301 ouvesse; Vg. ovesse. Modelo? No v. 7134, CCB. tem ouer,
para o qual a editora escreve ou[v]er’. Formas como essa, contudo, eram
comuns na língua, conforme mostram oer vv. 7175, 7417; 7569, 7781, 8677;
oera v. 7910; oesse v. 7398, formas que a editora não altera; ou então, oue,
ouera em Afonso X, CM. 76, 2; 85, 12 etc.; além disso, ovir, oço para
ouvir, ouço nos dialetos, ocorrências já apontadas acima, em relação ao
v. 927.
V. 4428 que a’ n p. t.; Vg. quan p. t. Modelo? No v. 4464, Vg. tem,
igualmente, que a en p. t.
Nº. 197. A propósito desta cantiga, a menção de Diez, KuHp.,
p. 57, que remete o leitor ao poema de Aimeric de Peguilhan: Domna per
vos estanc en gran tormen (Rayn., Choix, III, 425), poderia levar-nos a
concluir que se trata aqui tanto do conteúdo como da forma das duas peças.
Diez, porém, simplesmente fala do uso da chamada rim continuat.
V. 4501 é[n] que sempr’ eu punhei de a servir. A interpretação e a
emenda da lição, aliás incompreensível, e que etc., deveria ser a correta,
embora en que (= ainda que), que eu saiba, não se comprove em nenhum
texto coetâneo. Esta conjunção é tratada pela própria erudita romanista na
Zeitschrift 7, 109 ss., e na Miscellanea Caix-Canella 130-131. Às abonações
lá referidas, acrescento as ainda mais antigas do Canc. de Resende II, 524,
10 e III, 484, 23.
V. 4512 prougo. Vg. prugo. Modelo?
V. 4542. A lição de CCB., que me fez este ben, parece ser
definitivamente a melhor, já que a oração optativa me fezess(e) este ben
não coaduna com a estrutura da oração.
V. 4592 podera. Vg. e CCB. poderia. Se medirmos esta forma
como pod’ria, então a métrica não exigiria qualquer alteração da lição
425
86
Vid. minha nota a esta passagem, p. 118 [neste volume, p. 313]. A editora provavelmente não a
havia notado, ao escrever, na Zeitschrift 19, p. 522: “Seria melhor podia ao invés de poderia,
pois esta forma tetrassílaba atenta contra a métrica”.
87
Zeitschrift 28, p. 225.
88
Romania 12, p. 299 ss.
426
89
Ali mesmo se esclarece que esta forma dificilmente representava a pronúncia do português do
sul. É possível. Mas se não é isso, o que é então? Deve-se pensar nesta questão, sobretudo por-
que, como se indica em Denis, p. CXLVI [neste volume, p. 179], esta forma ocorre exatamente
nos dialetos portugueses meridionais.
427
428
V. 5146 porque non vej’ a quen me deu; CV. por que negaq mi de,
falta.
V. 5149 o p. s.; CV. e p. s., falta.
V. 5154 ajudar; CV. quidar, falta.
V. 5163 (nº. 232), bon falta em CV., o que não sabemos pelas
variantes.
V. 5170 e dereit’ é de sempre’ andar assi; CV. edeyte d. s. adar a.,
falta.
V. 5173 pero por c.; CV., –po q. c., falta.
V. 5175 sempr(e) i; CV. sempry, falta.
V. 5178 (nº. 233). O artigo a falta em CV., o que as variantes não
nos dizem.
V. 5179 ua; CV. hunha.
V. 5187 CV. tem senp ssy, não sempre ‘ssi, como dizem as variantes.
Em primeiro lugar, ocorre si (= sic), frequentemente ao lado de assi (vid.
acima, observação ao v. 2171); em segundo lugar, porém, senp ssy pode
também estar por sempr’ assi.
V. 5215 quantos d’amor coitados son; CV. ta damos cuycad9 s.,
falta. Cuytados, citado nas variantes, não está em CV.
V. 5240 me ei a morrer; o mesmo em Vg. Por que não se corrige
para mi ei, já que me, de acordo com o que se disse acima para o v. 652, não
costuma estar em hiato? Vid. adiante, a propósito, o comentário ao v. 9499,
e, para a questão integral, v. 105.
V. 5245 veer ia; Vg. veeria. Por que esta separação, que se encontra
ainda, por exemplo, nos vv. 5448 (viver ia), e 5986 (achar edes)?
V. 5409 querri’ agora; CV. queriagora, que falta nas variantes.
V. 5428 soub’ eu; Vg. sob’ eu. Modelo?
V. 5446-7 Que mui de grad’eu querria fazer
ua tal cantiga por mia senhor;
Vg. Que eu m. de grado q.f.
En ùa c. p. m. s. Comp. CA., II, 172. Modelo?
429
tem, de acordo com Vg. e a indicação da própria editora, plazer etc., pois pl
aparece ao lado de pr com muita frequência nos documentos linguísticos
coevos, e portanto deve considerar-se legitima. Além dos exemplos dos
cancioneiros e outros documentos, mencionados em Denis, p. 132 ss. [neste
volume, p. 331 ss.], para o v. 1688, que a erudita pesquisadora não considerou
ao proferir sua mencionada crítica em Zeitschrift 19, p. 528, os seguintes
documentos podem ainda falar a favor da recorrência de tais formas no
português arcaico: Visão de Tundalo (Rev. Lus. III), 107 plazer, 114 plaza,
117 plaz, 112 plantado, 116 regla etc.; Orto do Esposo, fol. 63 vo. segle etc.;
Rev. Lus. 5, p. 134 ss. plazer, emplazamento; ibid., 8, p. 109 (doc. do tempo
de Sancho I) plazo; no Testamento do ano 1193 (editado por Leite de V.,
Esquisse 14) eygleyga. Não é necessário referir mais, para mostrar que tais
formas devem ser reconhecidas como boa linguagem, e não rejeitadas. Veja-
se, a propósito, ainda as Cantigas de Santa Maria, de Afonso X.
V. 5669 gaan’eu. O verbo, corrente no português arcaico, é
g(u)aanhar; vid., por exemplo, Denis s. v.; CM., Glossário s. v., Cron.
Troy. I, 176, 178, 182, 190, 205 etc. Por conseguinte, dever-se-ia esperar
aqui gaan[h]’eu, já que a editora escreve adevin[h]ar, por exemplo, no
v. 4924. Veja-se, a propósito, o comentário ao v. 596. A escrita gaanar
encontra-se, por exemplo, em Cron. Troy. I, 258, 276, 285.
V. 5728 ave er. Só se pode explicar esta forma como erro de
impressão, uma vez tampouco consta da errata. Leia-se, então, a veer, como
facilmente se deduz de Vg. (aveer)90, e entenda-se em concordância com a
primeira estrofe, a única traduzida, como se segue: “E sempre, minha
Senhora, temi viver, por causa de vós, o que agora me dizem (ou seja: que
vos vão casar)”. Veer ocorre, com bastante frequência, com o sentido de
“experimentar”, “vivenciar”; por exemplo, nos vv. 838, 875, 893, 902, 4438
etc.; em Denis, v. 83 (vid., a respeito, Zeitschrift 19, p. 521).
V. 5748 e que sei no meu coraçon; Vg., com o modelo: o que sei
etc., que se ajusta muito bem tanto em relação à construção da frase como
ao sentido, e não deveria ser alterado.
V. 5750 A complementação deste verso está bem, mas a proposta
por Braga: e ir alhur sen vos enton, é muito melhor, pois oferece o paralelo
exigido para o verso correspondente na primeira estrofe, onde temos,
igualmente, um infinitivo em lugar da forma verbal no modo finito,
considerada necessária, sem motivo, pela editora.
90
CV. tem au’ = auer, e não = a veer, como nos é dito nas variantes. Aver ocorre no sentido de
a veer, “para ver”, “para perceber”, na primeira estrofe do mesmo poema.
430
V. 5823 be’-no; conforme CV. ben o; Vg. tem, contudo, ben vos, o
que dá um muito bom sentido, apesar de se referir à Senhora, ao invés de a
Deus. Modelo?
V. 5833 mui [bon grad’] a poer. Como as variantes nos comunicam,
ambos os modelos (CV. e CA., sendo Vg., também aqui, fiel a este último)
têm mui grand’a põer. Já que CA. oferece ainda, à margem, bon, então não
restou absolutamente nada para complementar, e as palavras bon grad, da
mesma forma que mui e a, não deveriam ser colocadas entre colchetes.
V. 5840 O erro na lição de CV. não está, obviamente, no infinitivo
pessoal defenderdes, o que dificilmente teria fluído da pena de um copista
italiano, mas sim na muito natural omissão do traço sobre o e (para e = en).
V. 5858 Ca muit’i a que vivi a pavor; CV. Ca muyta que etc., falta.
Vg. que avia pavor. Modelo?
V. 5863 d’aquela; Vg. d’aquella. Nas variantes, indica-se, como
lição de CA., d’aquelha. Já que, contudo, não ocorre lh em CA., como se
sabe e como a própria editora repetidamente explica (por exemplo, Zeitschrift
19, 514 ss. e CA., I, p. XV), então aquelha não apresenta a lição do modelo,
e temos aqui, novamente, um exemplo da falta de uniformidade com que a
transmissão manuscrita é tratada nesta edição. É provável que a forma
transmitida aquella contenha a pronúncia molhada do l (vid., acima,
v. 968); mas, obviamente, não é isso. Temos, por exemplo, no v. 28, a
grafia falla91, ao invés de fala, onde o sentido bem distinto faz parecer a
interpretação dessa palavra como falha92 bastante improvável93. O uso
posteriormente corrente de ll com o valor de l já aparece, aliás, no período de
que nos ocupamos, como, por exemplo, nas variantes de Denis, v. 1553 (aella),
1557 (tall); 1562 (gallardon); CV. 387, 769 (mall); ibid. 458 (ell), 404 (all),
991 (esmolla) (comp. Rev. Lus. I, 64 ss.), e é usual no século XIV, como, por
exemplo, mostram os textos publicados por Cornu em Romania X, p. 357 ss.
(esmollas etc.).
V. 5872 nun [ca per outr(e) amparado serei]. Como nos comunica
a editora, ela emendou a lição de CV., outrem emparado, da qual tomou o
complemento do texto, para outr(e) (isto é, outr’) emparado, a fim de
91
Nas variantes, consta, porém, um pouco menos desfigurado: “O CA. tem falla (i.e. falha)”. Vid.
ainda, a esse respeito, o comentário ao v. 32.
92
Sen falha, por exemplo, em Graal, p. 26, 95, 114 etc.
93
No v. 6635, há no manuscrito, de acordo com CA., II, p. 173, igualmente fallar ao invés de falar,
porém o segundo l está assinalado pelo revisor com um ponto, para ser eliminado. O mesmo caso
encontra-se no v. 1084, com fallei (uma variante para falei, que não está arrolada). Tais casos
devem ser considerados como indício do costume do copista de apresentar o l chamado
guturalizado por meio de ll.
431
94
Diz-se ali ainda (portanto no ano de 1885), literalmente: “Esta absorpção da nazal ... nasceu
espontaneamente em Portugal, como se conhece pela litteratura trobadoresca e pela poesia po-
pular portugueza” etc. Ao lado da forma utilizada pelo poeta, citada ali e na p. CXXXI, co
(de com o), devem colocar-se exemplos dos documentos dos séculos XIII e XIV, como, por
exemplo, em Galicia Historica (1901), coha, p. 171, coel ibid., coas à p. 172, 173 etc.
95
V. 1691, mencionado em Zeitschrift 19, p. 521, não contém nenhum exemplo.
432
“sim”: CM. 17, 9: O Emperador lhe disse: – Moller / bõa, de responder uos
é mester. – O ben (diss’ela), se prazo ouuer / en que eu possa seer consellada;
32, 2: Et en preguntado Foy se era ren O que oya D’el. Respos’: O ben;
238, 9: El respondeu escarnindo: – Crérigo, qué torp’ estás! O ben, de Deus
e da Virgen Renegu’, e aqui me dou etc.
V. 6138 direi-ch’, amigo; Vg. direi comigo. Modelo?
V. 6233 (e 6239) Antr’as amenas, “entre as ameias”. Por que não,
então, “nas ameias”? Compare-se, por exemplo, Graal, 54, 12 e, para o
emprego de entre no românico em geral, veja-se Meyer-Lübke, Grammaire
III, § 448.
V. 6483 que todo sabe ben; Vg. e CV. que sabe todo ben. Modelo?
Nas variantes, esta lição rejeitada é assinalada como a que merece
preferência.
V. 6536 (e 6542) polo; Vg. pelo. Modelo?
V. 6553 Veed’ a coita; Vg. veede a. c. Modelo?
V. 6576 com’ eu vivo; Vg. como eu v. Modelo?
V. 6589 De acordo com as variantes, o modelo parece ter coitad a
se etc.; mas de acordo com Vg., coitado se etc., que é o correto.
V. 6650 Melhor, talvez, pesára no lugar de pesará, como acentua
Vg.
V. 6657 ca pois omen ben serv’ a b. s. Vg. ca pois o meu ben servi
a b. s. Modelo?96
V. 6663 A forma proe, ao invés de prol, em que o e final se comporta
como l, como em doe, soe, sae, ao invés de dol, sol, sal, etc., encontra-se, não
raras vezes, nos documentos linguísticos do período; assim, por exemplo, no
Testamento de Afonso II (Rev. Lus. 8, p. 82), no Livro de Esopo, p. 118 (proes).
Deve-se ler pro e em lugar de proll, no Canc. Resende I, 65, 30-31, na fórmula
proll contra (comp. Epiphanio Dias, Zeitschrift 17, p. 116).
V. 6698 te emos; Vg. tenemos. Comp. vv. 6023, 6273 te edes;
Vg. tenedes. Modelo?
V. 6799 Deus falta em CV., o que não se informa nas variantes.
V. 6803 i falta em CV., o que as variantes igualmente calam.
V. 6822 sempr’ aj(a) a d. CV. sempre ia d., uma lição tampouco
arrolada. É lamentável que as lições de um modelo importante também
aqui tenham sido desconsideradas, uma vez que a transmissão incompleta
96
Saliente-se, uma vez mais, que, com a citação da lição desviante de Varnhagen, não se deve
afirmar que ela seja a melhor, mas apenas que ela permite supor que Vg. apresente, nesses casos,
a lição do manuscrito.
433
desta cantiga em CA. torna imperativa uma visão mais rigorosa do outro
único modelo.
V. 6914 E se non m’est(o) ides fazer. CCB. (única transmissão) E
se m’esto no faz des. Já que ides é acrescentado, deveria estar entre colchetes.
Mas isso é o mínimo. Se se adota ides fazer – e, apesar de muito quebrar a
cabeça, ainda não encontrei uma outra complementação que satisfizesse
tanto a métrica como o sentido – então faça-se, certamente para melhor, em
estreita conexão com a transmissão, um esforço para ler: E se m’esto non
ides fazer. A erudita romanista afastou-se desta leitura mais próxima, na
verdade, porque ela se opôs, como vimos no v. 5872, ao emprego, neste
caso inevitável, da regra por ela própria reconhecida97, segundo a qual uma
sílaba terminada em nasal pode fundir-se em uma sílaba com uma vogal
seguinte. Então nada mais restou senão “emendar” a lição transmitida, pelo
rearranjo das palavras m’esto non e, por meio disto, violar um segundo uso
não menos próprio ao português arcaico – refiro-me à ênclise do pronome
objeto átono na oração subordinada. Esta colocação do pronome objeto
átono, que existe em medida muito mais reduzida no português moderno, é
tão preponderante na linguagem do período mais antigo, e tão distinta do
ulterior uso espanhol, que sua prevalência na primeira parte do Amadis,
como já indicou Meyer-Lübke, dá grande peso à tese da sua composição
portuguesa originária98. Por mais que possamos pensar sobre a melhor
maneira de reproduzir o verso 6914 em causa, é certo que o pronome objeto
átono não pode ser acomodado à vontade99.
V. 7003 pode entender; CCB. podentender, lição que falta. Dever-
se-ia, pois, escrever pod[e].
V. 7007 mundo deveria ser escrito mund[o]; comp., por exemplo,
v. 7085, comprid[o].
97
A mesma regra, como se sabe, é significativa também na prosódia do Canc. Resende, como se
pode depreender do trabalho de Cornu, em Romania 12, p. 278 ss. e 285 ss., bem como do artigo
de E. Dias, em Zeitschrift 17, p. 116 ss.
98
Para uma exposição abrangente desta lei, remete-se a Meyer-Lübke, Grammaire III, §§ 715-716,
e a Chenery, Object-Pronouns in Dependent Clauses: A Study in Old Spanish Word-Order (The
Modern Language Association, 1905). O rei Denis diz também, em regra: mais tanto que me
d’ant’ela quitei, v. 151; e tem apenas excepcionalmente colocações como: que nunca vos disses-
se rem, v. 104 ... Um exame dos primeiros 1280 versos de CA. mostrou que o pronome objeto
átono é enclítico em 61 casos ou, com outras palavras, separado do verbo pela negação non (19)
ou demais palavras tônicas, como vos, ben, etc. (44), ao passo que em apenas 12 casos se encon-
tra em colocação proclítica antes do verbo. Tais exceções ocorrem, compreensivelmente, de pre-
ferência em fórmulas de invocação, como por exemplo em v. 188, se Deus me valha.
99
A erudita senhora comete a mesma infração contra o uso linguístico do português arcaico, por
exemplo, ainda em CA. v. 7317 (vide infra), e Zeitschrift 25, p. 297, onde CV. 1054, 10 é assim
complementado: se ben [o] faz.
434
100
Já que, como se sabe, e e i átonos no hiato têm o mesmo valor fonético nas línguas românicas, então
encontramos, ao lado de sabia, sabha etc., naturalmente, também a grafia sabea. Assim, por exemplo,
sabea, sabeam em Galicia Historica 1901, p. 146, 149 ss.; sabea, sabeas, sabean em Cron. Troy. I,
pp. 126, 129, 176, 274; sabeades ibid., pp. 2, 25, 54 etc. Da mesma forma, comeas (= cómias,
comhas), ibid. I, pp. 212, 274; coomear (= coomiar, de calumniare) ibid., p. 269 etc.
101
Veja-se, por exemplo, E. Dias na Zeitschrift 11, p. 14, bem como o que por mim foi dito em
Denis, na p. CXXII e corrigido na p. 172 [neste volume, p. 159 e nota 468.].
102
Em lugar disso, dever-se-ia esperar como á (vid. acima, v. 1505), e a lição de CA., com’a, parece
ser definitivamente a melhor.
435
por oùvi-a l. a., em Zeitschrift 29, p. 702103. CV. 1117, 14, xha errou = xi-
a e. Compare-se, ainda, o que se observou ao v. 3666.
V. 7202 e[u] cuidei. A emenda pode estar correta, mas e no lugar
de eu pode ser visto como um caso de condensação, de que já encontramos
mais exemplos nesta coletânea (vid. acima vv. 47, 927, 4089, 4750, 4851).
Já que este fenômeno aparece também antes de vogais (por exemplo,
v. 4750 vô-a), então podem pertencer a esta categoria v. 4960, e[u]o sei e
v. 5857, também e o sei, para o qual CV. tem eu o sei. A partir dos dialetos
modernos, esta ocorrência foi documentada por Leite de Vasconcelos, por
exemplo, em Dialect. beirões, p. 14; Dial. extrem., p. 9; Dial. algarv., p. 9;
Subdial. alemt., p. 5. Comp., a respeito, a Revista lus. II, pp. 26-27.
V. 7224 ver amor; CCB. ouir amor. É difícil compreender como
se chega a ver a partir de ouir, e desta palavra sequer documentada, ao
significado de “retribuído” (o amor). Como provençalismo, ver poderia
apenas significar “verdadeiro”104. Após o precedente sabiádes (“saibais”),
espera-se a conjunção ausente que, e esta coloca-se no lugar de ouir.
V. 7240 e andar i come nembrado é traduzido: “e agir como se lhes
prestasse atenção”. A interpretação não é conveniente nem para as palavras
nem para o contexto, de acordo com o qual se diz algo muito mais simples:
“e precisa ser, por assim dizer, sempre atento (cuidadoso)”. Do mesmo modo,
não tem fundamento a tradução de senhor nembrada (v. 7770) por “senhora
digna de louvor”. Também aqui se trata da senhora circunspecta e prudente,
que sabe manter o poeta afastado. O mesmo vale para a tradução da referida
palavra por “excelente”, no v. 7797, onde, exatamente como no antigo
espanhol (por exemplo, em Berceo, S. Millan, 310; S. Lor. 13) e em provençal
(vid., por exemplo, Lexique Roman e Levy, SW. s. v. nembrat), o sentido à
mão é “atento, sensível”. Com este significado de nembrado, na linguagem
arcaica, coincide, no geral, também o atual lembrado.
V. 7264 A valer é tomado como advérbio e traduzido para o alemão
como nachdrücklich (“enfaticamente”). Mas é um infinitivo pertencente a
deveria (v. 7267) e, por conseguinte, deve ser traduzido por “(vosso amor)
deveria me socorrer”. Antes de amparar (v. 7267), verbo que a douta
pesquisadora acrescentou com muita habilidade, juntamente com todo o
verso precedente, seria necessária, porém, a conjunção e para conexão dos
dois infinitivos. Se se admite isso – e parece-me ser inteiramente correto –
então leia-se v. 7267 como segue: [e’mparar]-me deveria.
103
Aqui, como é frequente em CA., bem como na Zeitschrift, a editora escreve oùvi etc., ao invés do
alternativo òuvi etc.
104
Neste sentido, encontramos uero em Afonso X, por exemplo, CM. 346, I, Deus uero, e no antigo
espanhol, como em Berceo (vid. Lanchetas s. v.).
436
105
Der Infin. bei Camões, em Rom Forsch. 6, p. 318.
437
Dittes106 arrolam um tal caso – não seria avisado recorrer a este meio para
completar o número de sílabas. O mais habitual deveria ser aqui também o
mais correto: que [o] eu soubi fazer: “(Eu vos servi sempre com prazer),
tão bem quanto o pude fazer”.
V. 7692 nen á no mundo; CCB. no a n. m., falta.
V. 7717 (nº. 346) Tal como os provençais, tambem os poetas
lusitanos eram proibidos por suas senhoras de celebrá-las em cantigas.
Comp., por exemplo, Raimbaut d’Aurenga, em Revue des langues romanes
1897, 409 ss.
V. 7733 sérvia; CCB. –ua (= serva). Nas variantes esclarece-se, a
favor da alteração textual introduzida, que sèrvia ( por que não assim no
texto?) era a forma corrente nos séculos XIII e XIV. Em geral, isto é verdade;
mas por que não podem ter existido, ao lado de servio, servia (servho,
servha) etc., igualmente as formas servo, serva107 – e elas de fato existem
na transmissão – exatamente como, no período linguístico em questão,
menço e mento, senço e sento estavam em uso umas ao lado das outras?108
106
Der Infin. im Altprov., ibid., pp. 15, 10 ss.
107
Também por Cornu é reconhecida a existência das formas servo, serva, ao lado de servho etc.,
em Grundriss I2, p. 1029 – Além disso, encontramos em uma cantiga de CA. (nº. 307, vv. 6762,
6786), já duas vezes transmitida, a forma sirvo, que a editora inclui, sem hesitar, no seu texto e
só depois do tratamento dos mil versos seguintes chegou à conclusão de que sèrvio, sèrvia eram
as únicas formas admissíveis para aquele tempo.
108
Não temos tanta certeza de que as belas formas perço, perça dominavam realmente sozinhas neste
período e de que em toda a parte onde encontramos as formas perco, perca, também nos nossos
mais antigos cancioneiros e outros monumentos linguisticos dos séculos XIII e XIV (como, por
exemplo, CA. vv. 1320, 4459, 6190, 7320, 8113; CV. 470, 1; Denis, v. 2220 e nota etc.), se trate
de meros erros de grafia, porque elas se estabeleceram apenas a partir de 1450, isto é, cem anos
depois de se encerrar a primeira fase do lirismo amoroso, sendo já de uso exclusivo no Canc. de
Resende. No Livro de Esopo, p. 34, deparamo-nos com percades, forma em que Leite de V. nada
encontrou para objetar; e em documentos galegos deste tempo, são por demais frequentes as
formas pergo, perga etc., para poderem ser vistas como erros. Assim, por exemplo, pergo, Cron.
Troy., pp. 2, 78, 80 etc.; pergamos, ibid., p. 25 etc.; pergan, Galicia Hist.1901, p. 58. Sem levar
em consideração essas formas, que se encontram também sabidamente em provençal, não se
pode avaliar corretamente o desenvolvimento do português perco, e disso resulta, entre outras
coisas, que o exposto por Carolina Michaëlis, em Zeitschrift 28, p. 222, contra a colocação de pergo
no meu Canc. Gallego-Castelh. é, pelo menos, incorreto. A nota da erudita pesquisadora ao v. 2220
do meu Denis (vid. Zeitschrift 19, pp. 530-531) mostra que ela não conhecia as formas galegas, no
entanto tão frequentes, pergo etc. – Portanto, é bem provável que perco, perca ladeassem, já nos
séculos XIII e XIV, as formas ainda prediletas em termos literários perço, perça (e pergo, perga), e
que não podemos, sem mais, eliminá-las. Então, como se formaram? A emérita pesquisadora expressa,
em Zeitschrift 19, p. 530, a engenhosa suposição de terem sido causadas pela forma contrária parca,
em fórmulas como se Deus me parca (por exemplo, CM. 145), mas desconsidera nisso, como já
se disse, as formas galego-portuguesas pergo, perga. Sem pensar nessa sugestão nem nas formas
pergo, perga, Leite de V., nos seus eruditos Estudos de Philol. Mirandesa I, p. 378, com base em
uma forma perca, por ele coligida a partir do fragmento da Chanson d’Antioche (Archives de
l’Orient latin II, pp. 467-509) provençal, tenta sair-se dessa situação com a adoção de um derivado
*perdico (de *perdicare), mas depara-se, com os seguintes óbices, entre outros:
438
Enquanto não se tenham motivos mais convincentes que aqueles até agora
mencionados, deixe-se incólume o serva transmitido. O mesmo vale,
evidentemente, com relação a servo, V. 10130, e CCB. 1524 (=397), v. 7
(impresso em Zeitschrift, 25, p. 306), que foi substituído, igualmente, por
sérv[i]o.
V. 7853 queixar con mi; CCB. q. com mj (isto é, come mi), “queixar-
se como eu (me queixo)”. Esta lição manuscrita, que não está registrada, é
melhor que a colocada no seu lugar. Se a deixarmos ficar, deveremos ler,
no início do verso, e vejo eu ou e veg’eu, ao invés de e vejo / eu.
V. 7870 bon calar perdi u falei. Perder bon calar, “perder a
oportunidade de calar-se”, parece ter sido uma expressão idiomática.
Encontra-se também na Cron. Troy. II, 63: El (isto é, don Menelau) perdeu
bon calar et doulle por conselho que leixe falar os outros etc. Para o emprego
de perder, neste sentido, comp. ainda perder conhocer nas passagens
mencionadas para o v. 9723.
V. 7911 E ¿ que lhi direi? A conjunção e não está no modelo e
deveria, assim, estar entre colchetes, especialmente porque não se indica a
lição manuscrita.
V. 7955 desquand(o)eu. Já que em CCB., único modelo, o verso
inteiro falta, não se compreende por que foi inserido o o colocado entre
parênteses como supérfluo, ao invés de se dar espaço à elisão em sentido
próprio, de longe predominante. Vid. observação ao v. 105.
V. 7988 (e 7989) quen; CCB. q (= que), uma lição bastante correta,
que permaneceu não arrolada. Vid. acima, observação ao v. 898.
1) na Chanson, não há perca, mas apenas perga, p. 477, l.120; 2) novamente não se explicaria
perco concomitantemente a pergo, mas apenas o último, portanto a forma não respeitada pelo
erudito português, já que *perdico, *perdicat etc., em português, resultaria, com regularidade,
pergo, *perga, e, em provençal, perje, perja, mas não a presumível perca. Abstraindo da hipótese
de Gassner (Rom. Forsch. 20, p. 598), pode-se indagar por que esta questão, em português,
deveria ser respondida de modo diverso do provençal, onde as formas perc, perga, usadas ao
lado de pert, perda, explicam-se mediante a analogia com diversas primeiras pessoas do presente
do indicativo, que terminam em gutural, como o perfeito auЋic etc. (por exemplo, Appel, Chrest.
XXIII etc.), por meio da influência de ac, dec etc. Em galego-português, temos uma série
(aproximadamente 30) de verbos terminados em -er, -ir, que têm no presente do indicativo e do
subjuntivo às vezes -go, -ga, às vezes, ço, ça, ou -sco, -sca. Já que a maior parte deles é referida
em Grundriss I 2, pp. 1020-1029, mencione-se aqui, brevemente, apenas o mais relevante:
1. Verbos em -ger, -nger, -rger. Por exemplo, trager, trago, traga; finger, fingo, finga; aduzer,
adugo, aduga. Compare-se, aqui, ainda a forma fugo, fuga, que, por exemplo, ocorre também na
Chanson d’Antioche, l. 98. Dessas formas terão saído pergo, perga, ao lado das quais já aparecem,
na linguagem dos séculos XIII e XIV, também perdo, perda (por exemplo, Port. Mon. Hist. I
Leg. et Cost., pp. 849 (a. 1209), 856, 873, 884, 887, 889 etc.). 2. Verbos em -rcer, -rcir, -scer. Por
exemplo, conhoscer, conhosco, conhoço, conheço; jazer, jasco e jaço; parecer, paresco e pareço
(por exemplo, em P. M. H. ibid., pp. 289, 308 iasca, cresca, parescam). Tais formas duplicadas
podiam ter motivado perco, perca para perço, perça.
439
III.
v. 7994 quisesse; CV. quisse, falta.
V. 7997 m[e] eu despaguei; CV. milheu d., também uma lição não
arrolada, que torna desnecessária a muito duvidosa emenda do texto. Veja-
se ainda o v. 7880 e, especialmente, o 9499.
V. 7998 cambiei; CV. canbey, uma forma frequente no português
arcaico; veja-se, por exemplo, Graal, 52, 28; 88, 5; 95, 37; 131, 12; canbar,
C. Troy. I, 215; cambear, cambeo 275. Também se encontram formas com
e sem o hiato em -e ou -i, uma ao lado da outra, como por exemplo limpho
e limpo, Cron. Troy. I, p. 280; soberuja ibid., p. 172; soberua, 171; Graal,
com frequência.
V. 8001 e mi aquel a. f.; CV. emhaql a. f. Esta lição é mais correta
do que a de CCB. e do que a que se acolheu no texto de acordo com ela,
pois a métrica exige mi-aquel.
V. 8004 tan muito; CV. ca m.
V. 8005 pois la; CV. poyla.
V. 8007 seu ben; CV. sen ben.
V. 8008 se a per atal tevesse; CV. sen p. a. tenesse.
V. 8012 quitei; CV. q’rey.
V. 8013 per estivesse; CV. –p. ei amessey, o que coincide quase
exatamente com CCB. per ei amesse, e faz parecer algo duvidosa a solidez
da aliás bastante atrativa emenda apresentada no texto.
V. 8014 con melhor senhor e sei; CV. comelhor s. a sey. Também
CCB. tem comelhor. Vid. supra, p. 386.
V. 8046-8047 As vírgulas no interior destes dois versos perturbam
o sentido.
V. 8057 A alteração de esten para esta parece desnecessária.
V. 8233 Ben i mi-o ei logo d’aver. O sentido deste verso, que
simplesmente satisfaz a versificação e com a qual a editora afirma não ser
capaz de fazer nada, torna-se claro desde que se leia nen ao invés de ben.
“Eu bem creio que jamais terei o poder de vos amar mais do que já o faço,
nem o (isto é, este poder) terei logo.”
V. 8265 á[d’] entender; CCB. auer a e. Se se quiser substituir,
como contrário à métrica, auera pelo presente á, pode-se fazê-lo sem o
complemento da preposição a (vid. v. 1426). Se se medir o futuro auerá,
440
441
109
Nas variantes a este verso (sabha sobeja coita, para as quais se informa sabia), coloca-se a
editora a seguinte questão: “Talvez sábi-a, graphia phonetica por sabe-a?” Já antes se ofereceu,
nos 417 poemas precedentes, com muita frequência, a oportunidade de converter o mh de CV. e
CCB., de acordo com o sentido, em mi-a (illam), por exemplo nos vv. 8, 103, mi-á (habet), por
exemplo, vv. 9, 3293, 6824, ou em mi-a (ad) , como no v. 202 etc. No prólogo ao volume I de
CA., p. XXI, diz-se, em contradição com os métodos observados e com a mencionada questão:
“Note-se a eufónica junção do pronome proclítico me, com o, a, os, as, ou com outros vocábulos
que principiam com o, a, de onde resultou uma espécie de ditongo secundário, crescente, mi-o,
mi-a.” – Acerca do idêntico tratamento do hiato átono em -e e -i no românico, veja-se ainda o
que se observa para o v. 7124.
442
443
110
Em CA. II, 413, onde se menciona esta passagem, o exemplo do antigo coma foi, é verdade,
também omitido, mas desta vez come é colocado no seu lugar. Uma prova de que, em tais casos,
não se trata de desatenção, mas de desconhecimento do uso linguístico.
444
CV. 270, 11: non sabera coma mh agradecer. Esta forma é referendada
também no Canc. Resende, mas permaneceu até agora desconhecida, tanto
quanto posso ver. Embora Cornu 111, bem como E. Dias 112, tenham
reconhecido a origem de ou a partir de ao (ad illum), em casos como
chegou = chega o I, 32, 12-13, e parou = para o III, 412, 14-15, ambos
resolveram a forma comou (II, 548, 26 e III, 424, 21) em como o, enquanto
aqui também, sem dúvida, estamos diante do resultado de coma o. Está
claro que não se pode tratar de uma mera forma gráfica. Vid. infra, a
propósito, o que se diz em relação ao v. 10272. Não é necessário examinar
aqui a utilização da forma coma usual no português tardio, suficientemente
comprovado por Vising, loc. cit. (a propósito, já em Denis, p. 129 [neste
volume, p. 324]... [neste volume, p. 326], apontado no v. 1326), no provençal
e no italiano, nem a explicação que lhe deu há anos Schuchardt. É suficiente
ter demonstrado que não se devia alterar coma na passagem acima113.
V. 9172 Deve-se escrever est[e].
V. 9191 eno; CCB. eno. Dever-se-ia colocar, portanto, en-no.
O mesmo vale também, por exemplo, para o v. 9430.
V. 9192 pode aver. O verso é longo demais, se não se ler pod(e) a.,
como ocorre frequentemente na presente edição, ou, ainda melhor, pode-
aver, como escreve a própria editora, por exemplo, pudi-acabar, no v. 2995.
V. 9195 mengua[va]. Já que CCB. apresenta meng — ua, não é neces-
sária aqui uma complementação, mas simplesmente um desenvolvimento.
V. 9206 nunca veja, de quant’ama, prazer; CCB. nuca ueia de
quato a. p., lição não indicada. Dever-se-ia escrever, então, quant(o), de
acordo com o método frequentemente empregado.
V. 9212 (nº. 408) Por que se foi a Rainha Franca. A editora pergunta
se se deveria conservar este refrão na forma assim transmitida e entender
franca no duplo sentido de “generosa” e “francesa”, ou se se deveria ler:
Rainh’a França (portanto: “pois a rainha foi-se para a França”). A resolução
desta questão não é fácil, pois franca, tanto quanto França, não resulta em
rima, mas apenas em assonância com a sílaba -anta, recorrente em cada
estrofe. Este fato está em contradição com a seguinte afirmação da erudita
romanista, em Zeitschrift 20 (1896), p. 185, nota 7: “franca (em rima com
111
Romania 12, p. 256.
112
Zeitschrift 17, pp. 130 e 133.
113
No que concerne ao encontro de ambos os a em coma a min, poder-se-á aqui adotar, como em
outros lugares (vid. observação ao v. 105), a contração em um som, que é própria não apenas do
português moderno, mas também o foi e é de outras línguas. Para o espanhol, vid., por exemplo,
Fitzgerald, Versification of Berceo’s S. Dom., p. 49 ss.; para o francês, Tobler, Verm. Beitr., I,
p. 187.
445
114
Na linha 10 desta cantiga, o manuscrito traz, contudo, q br—
aca. No momento em que a mencionada
passagem foi escrita para a Zeitschrift, a cantiga, relevante mas não difícil, deveria ter sido lida
ao menos uma vez, e uma primeira visão geral da mesma já deveria bastar para mostrar que
quebranta, como corretamente traz a edição, seria a única leitura a contemplar tanto o sentido
como a terminação –anta das demais estrofes, e que, portanto, não se deveria pensar em uma
rima com franca.
115
Este uso de cousa e ren, no português arcaico, assim como nas línguas irmãs, é tão frequente que
dispensa comprovação.
116
Tanto mais que justamente nesta cantiga ocorrem também irregularidades (desigualdades).
117
Não é necessário citar todos os casos. – Nas variantes relativas à cantiga em causa, a editora
remete à rima conquis: fiz (= feci), v. 10369. Mas lá não está feci, porém fidus, como se observa
abaixo, para esse verso.
446
poetas do primeiro período não eram muito mais meticulosos, nessas coisas,
que seus colegas de outros tempos e países118:
1. Rimas imperfeitas119:
quis-fiz em Denis, vv. 2695-6 (refrão); CM. nº. 124, 135, 265; é-dê-fé,
CM. 177; fé-palafrê CM. 121; candeas-noveas-cadeas, ibid. 357; noveas-
candeas-teas, ibid. 385.
2. Assonâncias120
anta-França, CA. vv. 9210-9212 (refrão); ar-al, CB. 373; CV. 946, 949,
1106; pague-vãydade, CV. 1134; engano-mercado, CCB. 379; Elvas-
hervas-servas-ela, CV. 1138; sesta-meestra, preste-meestre, CV. 1039;
medo-Pedro, CV. 707; esforço-alboroço-moço, CV. 922; priol-melhor,
CV. 1020; enfinga-cinta, CV. 347; longe-oi, CV. 764121; segrel-mester,
CV. 1175; iogral-cantar, CV. 974122.
V. 9394 desengando é desprovido de sentido e não documentado.
No texto, convém a lição transmitida: sempre seredes en bando, que se
supõe a melhor nas variantes. Ela dá o sentido exigido: “Sereis sempre
aliados, em harmonia”. Para esta expressão, vejam-se, por exemplo, Bluteau
s.v. bando e Lanchetas s.v. vando.
Nº. 422. Em nota a esta de fato muito difícil cantiga, a editora
explica que procurou em vão, para a terceira estrofe, em vez da rima
transmitida em -i, rimas em -ir, que correspondessem às da primeira e
segunda estrofes. Esforço baldado, na medida em que estão inteiramente
corretas as rimas transmitidas em -i na terceira e última estrofe, que
frequentemente mostra um desvio de uma ou mais rimas. Veja-se, por
exemplo, o primeiro dos poemas da presente coletânea e, ainda, os nºs. 8,
31, 36, 84, 93, 103, 108, 109, 117 (?), 165, 176, 339, 408, 422: em todos
existe o caso em questão.
118
Vid., por exemplo, E. Dias, com relação ao Canc.Res., Zeitschrift 17, p. 117; A. Tobler, Vom
franz. Versbau, 2ª. ed., p. 131 e ss.
119
Atente-se para o fato de que os não raros casos nos quais min aparece ligado a i e que se remove-
ram, na edição de CA., por meio de correção, não foram aqui considerados (Vid. CA. I,
p. XVIII e nota 3).
120
Aqui não estão incluídos, naturalmente, os casos bem numerosos que ocorrem nas quase cinquenta
cantigas paralelísticas de caráter popular. Veja-se, a esse respeito, Denis, p. XCIV e CXXV.
[neste volume, pp. 134 e 162]
121
Fica claro, a partir desses exemplos, que não é correta a afirmação da Sra. Michaëlis de
Vasconcelos, Zeitschrift 19, p. 524, relativa à ocorrência da assonância em nossos poetas.
122
Os dois casos aludidos por último podem ser removidos pela adoção das formas segrer e iograr.
447
123
Nos vv. 949 e 2706, mi está tomado como forma tônica.
* Cf. Y. F. Vieira, Glosas Marginais..., op. cit., p. 45. (N.E.)
* Ibid., p. 272. (N.E.)
* Ibid., p. 97. (N.E.)
124
Esta passagem, contudo, não me está clara.
125
No hiato, e também antes de consoantes, escreve-se, em regra, me, lle, mas também mi, lli antes
de consoante, como por exemplo, 4, 7; 5, 7; 311, 3; p. 601, 3 etc. Quando me não forma sílaba
diante de vogal, então o e é apostrofado ou se torna um i à maneira de iode, como no Códice da
Ajuda. Se lle não forma sílaba, então perde, em regra, a sua vogal (uma exceção realmente rara é,
por exemplo, um caso como pareceu-lle en 79, 3). Ao lado de te, ocorre igualmente ti antes de
consoante, por exemplo 23, 5; 54, 13. Antes de vogal, perde o e ou torna-se ch, conforme o uso
448
galego, ou, não muito frequentemente, o seu e torna-se um i à maneira de iode, como, por
exemplo, 15, 7 ti o. (São exceções te escomungou 65, 34; te escaecemos 125, 20). – Se permanece
graficamente inalterado antes de consoante; antes de vogal, em regra perde o e, quando não
forma uma sílaba. Casos como se espertou 68, 8; 87, 10; se escaeceu 103, 5; meteu-sse en 67, 4,
são, efetivamente, exceção.
126
Não se podem examinar, aqui, casos de sinalefa, como, por exemplo, ouue este 71, 12; ouue en
78, 2, que não são tão frequentes em Afonso X quanto na lírica profana.
127
Vid. Grundriss I2, p. 1025. Comp., a esse respeito, o que diz Nunes na Rev. Lus 7, p. 37, acerca da
mudança de vais para vas.
128
Esta forma encontra-se, ao menos uma vez, em CM. 125, 7, mas o Manuscrito de Toledo tem ali
vai.
129
Vid., por exemplo, Leite de V., Dial. interamn. (Porto, 1886), 15: era endoyto = era costume.
130
Lanchetas, s.v.; Pidal, Gram. Hist.2, § 122, 2 ducho (lat. ductus). Comp., para a etimologia,
também Zeitschrift 19, p. 535, nota 5.
449
131
Levy, SW. s.v.
132
Comp., ainda, Valladares, Dicc. Gallego-Cast., s.v. adoitar e adoito.
450
133
Nos apógrafos italianos do antigo cancioneiro português, muitas vezes, o duplo ll encontra-se,
em lugar de duplo ss, como, por exemplo, CV. 95, 5 (lli= ЀЀi); ibid. 211, 18 (pallou = paЀЀou).
Vid., ibid., Appendice II, p. XXVII. Portanto llor = ЀЀo[fre]r.
451
V. 10062 se m’eu respons’ (?) dar. CV. so meu tpos dar, ou, como
supõe Monaci em uma nota, rpos d. Tal como se depreende do sinal de
interrogação, a própria erudita editora duvidava da correção da sua
interpretação, ao estabelecer habilmente e de forma legível, embora
incompleta, a cantiga conservada em ambos os manuscritos italianos, mas
até então disponível apenas na versão bastante corrompida de CV. De fato,
respons dar não é aceitável, pois a imediata continuidade entre duas sílabas
tão fortemente acentuadas como spons dar prejudicaria o ritmo, mas
principalmente porque, ao invés de respons 134, esperamos e de fato
encontramos, em português, da mesma forma que em espanhol, responso135.
Em lugar de respons ou responso, as letras do modelo oferecem-nos uma
forma começada não com resp, mas com rep, que nos leva até uma outra
pista, oxalá a correta. Gostaria de ver esta pista no substantivo reposta,
“resposta”, que encontramos, por exemplo, em Graal 78, 3; Canc. Resende
I, 38, 3; 46, 22 etc., Cristóvão Falcão136, Sá de Miranda137 e Bluteau s.v., e
que ainda é corrente na fala popular. Se se pudesse admitir que um verbo
deduzido desta forma participial, *repostar “responder”, tenha existido, do
mesmo modo como se encontra, por exemplo, para pinsitum, pinsitare,
uma forma em espanhol pistar, ou pestar, em italiano e provençal, teríamos
em nossa passagem a palavra mais apropriada138. Apesar de toda a busca,
não posso ainda comprovar tal *repostar.
V. 10089 mandaria por én [a] queimar. Já que é regra nos nossos
poetas, bem como na linguagem jurídica do período, mandar com o infinitivo
puro (vejam-se, por exemplo, vv. 575, 1826, 1827 etc.; Denis, v. 1756)139,
deveria ser melhor ler, neste caso, por en[de], em vez de por én[a] etc.
V. 10093 come outras. CV. comouts (= com’ out˜ras). Esta lição
manuscrita, que não se encontra indicada, é a única aceitável, já que o verso,
na forma “emendada”, tem uma sílaba a mais. Além disso, o e adicionado
deveria ter sido colocado entre colchetes.
134
Essa forma poderia valer-nos apenas como empréstimo provençal, o que aliás não nos devia
surpreender. Vid. Lexique Roman s.v. respos far.
135
No Canc. Baena, nº. 512, encontramos dat me responso (: Alfonso). No galego-português, responso
parece ter sido, preponderantemente, um termo eclesiástico. Vid., por exemplo, Galicia Hist.
1901, p. 171 ss.
136
Edição de E. Dias, p. 62, onde se aponta, corretamente, para o latim reposita, de reponere.
137
Edição de C. M. de Vasconcelos, Glossário s. v. Aí mesmo está arrolado reponder, ao lado de
responder, uma forma que, de acordo com Valladares, o galego igualmente conhece. Veja-se
também aí reposta, comprovada, no dialeto alentejano (Rev. Lus. 4, p. 232).
138
Em Bluteau, encontra-se a derivação repostada, “resposta descortês”.
139
Mandar com a e o infinitivo encontra-se mais tarde ao lado da outra construção, por exemplo,
em Camões. Vid. Otto, Rom. Forsch. 6, §§ 12 e 31.
452
140
Não está claro por que este verso, que termina em alguen, como o anterior, é considerado sem
rima. Pode-se aqui esperar outra palavra rimante, mas apenas uma terminada em -en. Não apenas
a rima existe, como se trata, de fato, de um dobre. [Cf. Y. F. Vieira et al., Glosas Marginais..., op.
cit., pp. 126-127. (N.E.)]
141
Em CA., ao final do parágrafo métrico para esta cantiga, diz-se: “a não ser que os dois versos
finaes estejam viciados”. Portanto, a editora considera aqui dois versos como deteriorados, ao
passo que ela, na passagem mencionada da Zeitschrift, fala apenas de um, nomeadamente o
último, como necessitado de emenda, isto é, substituição.
142
A respeito do significado de outras nesta passagem, veja-se o Canc. Gallego-Castelhano, p. 182,
e a bibliografia sobre o assunto lá referida.
453
143
Vid., por exemplo, Levy s.v.
144
No CA. II, 390, nota 1, onde se cita este refrão, encontramos, claro, o transmitido ou, apesar de
sua tripla repetição, substituído por ao. Isto mostra que também na nossa passagem não se trata
de um mero erro de impressão ou equívoco similar.
145
Romania 12, p. 256. Vid. acima observação ao v. 9121, no que se refere a para o, parou, coma o,
comou.
146
Vid., por exemplo, Rev. Lus. 7, p. 39 e Grundriss I2, p. 936 ss.
147
Vid., por exemplo, Rev. Lus. 7, pp. 60 e 73 ss., fecerõ ou dito Pedro Martiz; ou dauandito moesteyro
etc.; ibid. 8, pp. 40 e 43 ss.
454
* “The Relations of the Earliest Portuguese Lyric School with the Troubadours and Trouvères”, em
Modern Language Notes, vol. X, nº. 4 (April 1895) pp. 104-116 (col. 207-231).
1
Trovas e Cantares de um codice do xiv seculo ... publicados por F. A. de Varnhagen. Madrid,
1849.
2
Paris, 1847.
3
Il Canzoniere portoghese della Biblioteca Vaticana, messo a stampa da Ernesto Monaci ... Halle,
1875.
Il Canzoniere portoghese Colocci-Brancuti, pubblicato nelle parti che completano il codice
Vaticano 4803, da Enrico Molteni. Halle, 1880.
455
4
A. Herculano, História de Portugal, I, p. 454.
5
Vasconcelos, em Grundriss der roman. Philologie II, p. 172.
6
Herculano, loc. cit., II, pp. 70-1.
7
Excetuando-se Marcabrun e Gavaudan. Cf. Vasconcelos, ibid. e Lang, Das Liederbuch des Königs
Denis, p. XXIV. [Cancioneiro d’el Rei Dom Denis, neste volume, p. 72.]
8
Cf. P. Meyer, em Romania VI, p. 123 ss., onde se deve corrigir Afonso VII, em vez de Afonso
VIII. Milá y Fontanals, Los trobadores en España2, p. 83.
9
Cf. Milá y Fontanals, ibid., p. 81. – A Sra. Vasconcelos (loc. cit., p. 174) apresenta Aimeric de
Pegulhan como tendo estado na corte de Afonso VII, mas não dá prova da sua afirmação. Nem
existe alguma. A. de Pegulhan esteve ativo entre 1205-1270 (cf. Diez, Leben und Werke der
Troubadours2, p. 342 ss.; Milá y Font., loc. cit., p. 226) e participou da batalha de Las Navas em
1212. Que tenha composto canções em honra de Afonso VII (†1157) é, portanto, bastante impro-
vável.
10
Cf. Milá y Mont., ibid., pp. 122-131.
456
11
O. Schultz, Die Briefe des Trobadors Raimbaut de Vaqueiras, pp. 119-120.
12
Cf. Milá y Font., loc. cit., p. 542; Vasconcelos, loc. cit., p. 173, nota 1.
13
Cf. Milá y Font., loc. cit.; Vasconcelos, loc. cit.
14
Das Liederbuch des Königs Denis, pp. XXV-XXVII. [neste volume, pp. 73-74]
15
Cf. Milá y Font., loc. cit., p. 126.
16
Cf. Milá y Font., loc. cit., pp. 153-5. – A Sra. Vasconcelos (loc. cit., p. 174, nº. 5) acrescenta a
esses Aimeric de Pegulhan e Sordel, sem dar nenhuma razão para o fazer. Nem Diez (Leben und
Werke, 2, p. 343) nem Milá y Font., loc. cit., nem P. Meyer (Encycl. Brit., 9, p. 874) falam que
Aimeric tenha visitado a corte de Afonso IX ou dedicado poemas a esse rei. Quanto a Sordel, não
consta como tendo estado na Espanha antes de 1230 e nenhuma das suas alusões aos reis de Leão
se refere, tanto quanto sei, a Afonso IX. (Cf. Schultz, Zeitschrift für rom. Philol. VII, pp. 207-210.)
17
Cf. Herculano, Hist. de Port., II, p. 212 ss.; 435 etc.; Portugaliae Monumenta Historica,
Scriptores, I, p. 202.
457
Or sachiez veroyamen
Que je soy votr’ ome lige.
18
Cf. Vasconcelos, loc. cit., p. 176, nota 3.
19
Cf. Milá y Font., loc. cit., pp. 153, 540.
20
Cf. Milá y Font., loc. cit., pp. 154-5; Diez, Leben und Werke, p. 113; O. Schultz, Zeitschrift für
rom. Philol. VII, p. 210.
21
Cf. Schultz, loc. cit., pp. 207-210.
22
Segundo um poema de Afonso X (Canz. Vat., 68), Pero da Ponte apropriara-se indevidamente do
seu legado literário.
23
Canz. Vat., 573 e 574.
24
A Sra. Vasconcelos (loc. cit., p. 199) diz que o genovês Bonifaci Calvo foi sagrado cavaleiro por
Fernando III e que as suas duas cantigas portuguesas foram inspiradas pelo amor de Berenguela,
a sobrinha do rei. A única autoridade para isso são as não fidedignas declarações de Nostradamus.
Cf., em relação a Bonifaci Calvo, as investigações de Schultz, loc. cit., pp. 225-6.
458
25
A Sra. Vasconcelos (loc. cit., p. 173, nota 3) menciona mais dez trovadores que teriam visitado
Afonso X ou lhe dedicado poemas; em relação à maior parte deles, contudo, a ilustre estudiosa
portuguesa está equivocada. Nem mais velho nem mais jovem, Bertran de Born poderia ter sido
contemporâneo de Afonso X (cf. Diez, Leben und Werke 2 , pp. 148 e 425; Milá y Font., loc. cit.,
p. 117). Do último, temos um sirventes relativo a João Sem Terra (Rayn., Choix, IV, p. 199) e
uma tensó com Dalfi d’Alvergne (Bartsch, Grundriss, p. 119, 7). Peire Vidal esteve ativo entre
1170-1215 (cf. Diez, Leben und Werke2, op. cit., p. 125) e nenhum dos seus poemas se refere a
Afonso X (cf. Bartsch, na sua edição de Peire Vidal, p. 15.). Uc de Escaura foi um contemporâ-
neo de Vidal, a quem se dirige no único poema que dele possuímos (Rayn., Choix, op. cit.,
V, p. 220). Paulet de Marselha, tanto quanto se sabe (cf. Diez, Leben und Werke2, op. cit., p. 473;
Milá y Font., loc. cit., p. 241), não visitou a corte castelhana e, entre os seus sete poemas conser-
vados, nenhum é dedicado a Afonso, apenas um (“Ab merrimen”) mencionando-o, em conexão
com a prisão do Príncipe Henrique. Bartolomé Zorgi, finalmente, que a Sra. Vasconcelos (loc.
cit., p. 178) apresenta como tendo estado na corte castelhana em 1269, estava cativo em Gênova
de 1266 a 1272. Não há, até onde se sabe, nenhuma evidência de que tenha estado em Castela, e
em nenhum dos seus poemas há mais do que uma passagem onde se dirige ao rei Afonso, em
nome do seu cativo irmão D. Henrique (cf. Schultz, Zeitschr. VII, pp. 227-8).
26
Na minha edição da poesia lírica de D. Denis, Joam Ayras de Santiago é várias vezes (pp. XXXIII,
LXII, CXXXVIII nota 6 [neste volume, pp. 80, 108, 172 nota 535]) erroneamente mencionado
como um predecessor de D. Denis (vid., contudo, ibid., p. XL [neste volume, p. 86]). Em um dos
seus poemas (Canz. Vat., 553), parece aludir a Pedro o Cruel de Castela (1350-1369) e ao rei
português do mesmo nome.
27
Herculano, Hist. de Port., II, pp. 142-3.
28
Cf. Moura, p. XV do seu Cancioneiro d’ElRei D. Diniz.
29
Alude-se frequentemente à escola de medicina de Montpellier na poesia portuguesa da época:
por exemplo, Canz. Vat., 1116.
30
Herculano, loc. cit., p. 367.
459
31
Herculano, loc. cit., pp. 387-8.
32
Cf. Vasconcelos, loc. cit., p. 180.
33
Cf. ibid., pp. 153, 195; Lang, Das Liederbuch des Königs Denis, op. cit., pp. XLVI ss. e
CXXXV ss. [neste volume, pp. 90 ss. e 170 ss.]
460
34
Romania XIX , pp. 14 ss.
35
De Nostratibus medii aevi poetis qui primum lyrica Aquitaniae carmina imitati sint. Paris, 1889.
36
Algumas dessas correspondências estão indicadas em minha edição das cantigas de D. Denis.
37
O verso falta em CB.
461
* Por óbvia gralha, o texto impresso traz “que farcei ieu”. (N.E.)
38
Cf. a rubrica acima de CB., 116; e Lang, loc. cit., p. XXX [neste volume, p. 77, nota 86]
39
Cf. também Raimbaut d’Aurenga, Rayn., Choix, V, p. 401.
40
O seu nome é assim regularmente transcrito no Índice de Colocci (Canz. Vat., p. XXI), bem
como à testa das suas composições. Sem nos dar suas razões, a Sra. Vasconcelos (loc. cit., p. 190)
chama-o M. de Moxa e atribui-lhe a data 1330. Numa cantiga de escarnho de Joam de Gaya
(Canz. Vat., 1062), lemos: Comede migu’ e dar-vos-ey cantares de Martin Moxa. A inserção do
de violaria o metro. Numa de suas composições (Canz. Vat., 503), M. Moxa censura um certo
Maestr’ Açenso, que por razões egoístas se unira à facção do rei e estava interessado na entrega
de um castelo. Isso parece aludir à luta entre Sancho II e seu irmão Afonso e à entrega, por
traição, de alguns lugares fortificados ao último, o que constitui o assunto de um certo número de
composições satíricas (por exemplo, Canz. Vat., 1088, 1090, 1183; CB., 434). Na ausência de
qualquer prova em contrário, pareceria portanto mais seguro colocar Martin Moxa no segundo
quartel do século XIII.
462
Vej’ avoleza
maleza
per sa soteleza
o mundo tornar.
Ja de verdade
nem de lealdade
nom ouço falar;
ca falsidade
mentira e maldade
nom lhis dan logar.
...........................
Vej’ achegados
loados
de muitos amados
os de mal dizer.
Tant es viratz
Lo mons en desmezura
Que falsedatz
Es en luec de drechura,
E cobeitatz
Creys ades e melhura,
E malvestatz
Es en luec de valor
E pietatz
At d’ hoste sofrachura,
E caritatz
Fai del segle clamor,
E es lauzatz
Qui de dieu non a cura,
E pauc prezatz
Qui vol aver s’ amor41.
Falsedatz e desmezura
An batalha empreza
Ab vertat et ab dreytura,
41
Canz. Vat., 481; Rayn., Choix, IV, 350.
463
E vens la falseza;
E deslialtatz si jura
Contra lialeza;
E avaretatz s’ atura
Escontra largueza42.
Ne sai ke je die,
Tant voi vilonnie
Et orgueil et felonnie
Monter en haut pris.
Toute cort (r) esie
S’ en est si fuie
K’ en tout cest siecle n’a mie
De bons dis, etc.
42
Rayn., Choix, IV, 338.
43
Rayn., Choix, III, 438.
44
Cf. Jeanroy, Origines de la poésie lyrique en France, p. 316.
45
O sentido redegewandter, witziger kopf [pessoa eloquente, espirituosa (N.E.)], que a Sra. Vas-
concelos (loc. cit., p. 195) atribui a essa palavra, não se justifica pelo contexto do poema por ela
citado. Dizedor é claramente usado no sentido de maldizente.
464
e Gaucelm Faidit48:
46
Scheler, Trouvères belges... Bruxelas, 1876, p. 131.
47
Cf. também Quenes de Bethune, Scheler, loc. cit., p. 19; Gilebert de Berneville, Mätzner, Altfrz.
Lieder, nº. XXXI.
48
Rayn., Choix, III, 296.
465
49
Cf. Bern. de Ventador, Choix, III, 85. Daude de Pradas, [Rochegude] Parnasse occit., p. 86.
50
hi bisuha ] Canz. Vat.; viinha], CB.
51
l. s. from ] Canz. Vat., + ] CB. [sic., CV., na verdade, traz: he from. (N.E.)]
52
da hi ] Canz. Vat., dam ] CB.
466
467
53
Sentimentos semelhantes são expressos por Aimeric de Sarlat (Choix, III, 386), Jehans le Fontaine
de Tournai (Mätzner, Altfrz. Lieder, nº. XXVIII), Gilebert de Berneville (ibid., nº. XXXI), e por
poetas italianos, como Ranieri di Palermo (Nannucci, Manuale, I, pp. 51-2 etc.)
54
Canz. Vat., 36.
55
Cf. Pae Gomes Charinho, Canz. Vat., 393.
56
Cf. Aubouin de Sezanne, Wackernagel, Altfrz. Lieder u. Leiche, nº. 12. – Cf. Jeanroy, Origines
etc., pp. 318-319.
468
57
Origines de la poésie lyrique, p. 189.
58
Cf. Jeanroy, loc. cit., p. 191.
59
Loc. cit., pp. 337 ss.
60
Uma alusão ao mesmo assunto é feita, contudo, por D. Joam de Guylhade, Canz. Vat., 37.
469
61
Cf. Jeanroy, Origines, pp. 129-134 etc.
62
Demandi = demandei. Vid. Cornu, Grundriss der rom. Philologie, I, p. 802, nota 2.
63
Nos ] Canz. Vat.
* Por óbvia gralha, os dois primeiros versos dessa estrofe seguem, no original, imediatamente
depois do último da estrofe anterior. (N.E.)
470
64
Canz. Vat., 689.
471
“Guiot, se je le cuidoie,
mon chapelet de fouchiere –
par fine amour te donroie.”
“Marot, je t’ ain par Saint Piere
plus ke tot celles d’Artois.”
“he, Guiot, se tu m’ an crois,
dont moinrons nos bone vie:
ne me mocke mie.”
e um do Châtelain de Saint-Gilles:
65
Bartsch, Romances et pastourelles, pp. 166-7.
66
Origines, p. 329.
472
67
Cf. Jeanroy, loc. cit.
473
68
Semelhantes variações literárias do tipo tradicional de cantiga de mulher encontram-se nas bala-
das de John Gower (Stengel, Ausgaben und Abhandlungen, LXV, pp. 14-5).
474
69
Refrães semelhantes encontram-se em Jeanroy, Origines etc., p. 395; e G. Paris, Origines de la
poésie lyrique en France au moyen âge, p. 55.
70
Cf. Jeanroy, ibid., p. 133.
71
Canz. Vat. ] sua.
475
72
Queor pela] CB., quo pesa] CV.
476
73
O mesmo começo e desenvolvimento geral da ideia encontram-se numa composição de Pero
d’ Armea (Canz. Vat., 677).
477
74
Canz. Vat. ] mui cerrada.
75
Canz. Vat. ] se ora se ora.
76
Canz. Vat. ] m’cera.
77
Canz. Vat. ] est.
478
78
Canz. Vat. ] estome.
79
Observe-se que nesse poema o tetrâmetro catalético trocaico quebra-se em dois versos curtos,
uma forma que ocorre cerca de trinta vezes nos nossos cancioneiros e, como é bem sabido, nas
Cantigas de Santa Maria, de Afonso X.
80
Publicada por Jeanroy, Origines etc., p. 501, nº. XXI.
479
Sabedor
soo d’atanto, par Nostro Senhor,
que s’ ela uir e o seu bem pareçer,
coita nen mal outro non poss’ auer
e-no inferno se con ela for;
desy sey que os que jazem alá,
nenhu[u] delles ia mal non sentirá,
tant’ aueram de a catar sabor.
81
Bartsch, Romances et pastourelles, III, 33.
480
481
* “The Descort in Old Portuguese and Spanish Poetry”, in Beiträge zur romanischen Philologie:
Festgabe für Gustav Gröber. Halle: Max Niemeyer, 1899, pp. 484-506. (Reimpressão: Genebra:
Slaktine Reprints, 1975)
1
Vid. C. Michaëlis de Vasconcelos, em Grundriss der roman. Philol., II 2, p.193, e Das Liederbuch
des Königs Don Denis, p. CIX [Cancioneiro d’el Rei Dom Denis, neste volume, p. 147].
2
Cf. C. Michaëlis de Vasconcelos, em Zeitschr f. rom. Phil. XIX, p. 597.
4 4 4 8 4 4 4 8
I a a a b a a a b
4 4 4 8 4 4 4 8
II c c c b c c c b
O do segundo grupo:
2 2 2 2 8 2 2 2 2 8
I b b b b c d d d d c
* Nº. 389 no Cancioneiro da Ajuda. Ed. de Carolina Michaëlis de Vasconcelos. Vol. I. Reimpressão
da edição de Halle (1904), acrescentada de um prefácio de Ivo Castro e do glossário das Cantigas
(Revista Lusitana XXIII). Lisboa: Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 1990. (N.E.)
3
A Sra. Vasconcelos considera d um decassílabo e, dessa forma, lê em 1.19 pois, em lugar do pois
que do manuscrito. Mas isso deixa sem explicação 1.13, onde claramente temos um endecassílabo,
a menos que se demonstre que soidade é uma palavra de apenas três sílabas, em vez de quatro.
Mas oi em soidade é regularmente dissilábico no uso da época, como se pode ver em Das
Liederbuch ..., p. CXXI [neste volume, p. 159], e nas Cantigas de Santa Maria, de Afonso X,
nº. 48, 67, 379 (cf. ibid. sãidade, vãidade), e é predominantemente assim medido no Cancioneiro
de Resende (vid. J. Cornu, em Romania XII, p. 305). Não há, portanto, razão suficiente para
tratar 1.13 como um decassílabo e alterar, de acordo com isso, 1.19. Além do mais, o nosso poeta
usa o endecassílabo em outras ocasiões, por exemplo CB. 130 e 136 [CA. 384 e 390 – (N.E.)], e
o emprego de diferentes metros num descordo deve surpreender-nos menos do que em qualquer
outro lugar.
484
2 2 2 2 8 2 2 2 2 8
II e e e e c e e e e c
4 2 2 8 8
c b e c c
4 4 5 4 4 5 4 4 6 5
1) a a b a a b x a b B
4
Vid. Appel, loc. cit., p. 213.
5
Cf. C. M. de V., CA., I, p. 765.
6
Esse motivo é um lugar-comum na lírica cortês. Vid. Jeanroy, De nostratibus, pp. 22-3.
485
4 4 6 4 4 6 4 4 5 5
2) c c b c c b c c b B
4 4 6 4 4 6 5 4 6 5
3) d d b d d b x d b B
*
* No texto, falta a indicação de que a rima b do v. 6 é feminina. Como se trata de um óbvio engano,
acrescentamos o sinal abaixo da letra b. (N.E.)
* Por facilidade de composição gráfica, utilizamos aqui a forma hoje mais usual de representar o
número de sílabas e a qualidade da rima (grave ou aguda), em vez da que Lang utiliza e que
conservamos no esquema das estrofes. (N.E.)
* Trata-se de um engano: a rima da 3ª. estrofe é –i, em vez de –er. (N.E.)
7
Bartsch, Grundriss, 392, 16 até agora continua inédito. [Refere-se a “Engles, un novel descort”,
de Raimbaut de Vaqueiras. (N.E.)]
486
8
Grundriss der roman. Philol., II 2, 189.
9
CV. 947, 948, 962.
10
Vid. España Sagrada, XIX, 242 & 272; XX, 123 & 329.
11
Quanto às inferências a tirar da atribuição de tais qualidades, convém lembrar, contudo, que se
tornara um traço convencional do planh na Provença.
12
Cf. De Lollis, Studi di filol. romanza II, 34.
13
Livro de Linhagem p. 259 ss. [cf. Portugaliae Monumenta Historica, Nova Série, Volume II/1,
Livro de Linhagens do Conde D. Pedro, p. 143 (N.E.)]; Argote de Molina, Nobleza de Andaluzía
(ed. 1588), cap. 82-3.
14
Crónica de Alfonso X, c. 18; Argote de Molina, loc. cit. A Sra. Vasconcelos, a quem devo muito
material valioso em relação a D. Lopo Díaz, promete publicar proximamente um artigo intitulado
“Wolf-Dietrich”, acerca do assunto deste descordo. [O referido artigo foi publicado em Zeitschrift
für romanische Philologie XXVI (1902) pp. 61-71; cf. a tradução portuguesa, “Lopo Dias”, em
Y. F.Vieira et al., Glosas Marginais ao Cancioneiro Medieval Português de Carolina Michaëlis
de Vasconcelos, pp. 281-291. (N.E.)]
487
terem transmitido o seu legado literário entre o de dois dos mais antigos
trovadores, Fernam Paez, de Tamalancos, e Martin Soares15, e ainda o fato
de ele falar de si mesmo, em duas das suas cantigas (CV. 947 e 948), como
se fosse o protetor dos trobadores d’Orzelhon, depõem muito fortemente a
favor do Cabeça Brava16.
A sua cantiga d’escarnho en son d’un discordo é constituída por
quatro estrofes que diferem na ordem e na classe de rimas, bem como na
estrutura métrica; o seu esquema, se o entendo corretamente17, é o seguinte:
4 5 5 6 4 6 2 5 5
I a a a b a a a a b
4 5 2 5 5 4 5 2 5 5
II c c c c d c c c c d
6 4 4 6 4 6 4 6
III e f e f e f e f
4 5 5 5 5 6 5 5
IV g g g h g g g h
*
15
Vid. Vasconcelos, Grundriss, loc. cit., e Liederbuch, op. cit., p. XXX. [neste volume, p. 77]
16
A menção de um D. Lopo Dias em CV. 1145 não lança nenhuma luz sobre a questão.
17
Os meus esforços para obter as lições do ms. CB. para esse poema e CV. 481 não foram, infeliz-
mente, bem sucedidos.
* Falta no original o sinal de rima feminina no verso 5 dessa estrofe. (N.E.)
488
X, CV. 79, ecoa numa cantiga do seu contemporâneo, o conde [sic] Gil
Peres (CB. 1520 = 393)18, e a forma estrófica de uma cantiga d’escarnho
de Joham Soares Coelho, cujas cinquenta cantigas foram compostas entre
1230 e 126019, encontra-se novamente num sirventesc de Martin Moxa,
posterior em quase um século, e que examinaremos agora.
É a última das quatro composições que têm sido até agora
mencionadas como espécimes do descordo em antigo português (CV. 481
= nº. IV do nosso texto).
Segundo a Sra. Vasconcelos 20, Martin Moxa era aragonês e
contemporâneo do Bispo de Vizeu, Miguel Vivas, para quem os seus poemas
eram cantados. Se isso for correto, sua atividade poética pertence ao segundo
quartel do século XIV, durante o reinado de Afonso IV de Portugal. Temos
dele quinze cantigas, das quais sete são cantigas de amor e o resto, poemas
morais ou sirventeses. Como já se disse, a nossa cantiga é desse último tipo.
Uma vez que não há rubrica ou razon, nem qualquer outra anotação
que a qualifique como composição feita sobre a música de um descordo, a
reivindicação desse termo deve basear-se inteiramente na evidência da sua
forma. O esquema é o seguinte:
4 5 5 4 5 5 4 2 5 5 4 2 5 5
I a a b a a b c c c b c c c b
4 5 5 4 5 5 4 3 5 5 4 2 4 5
II d d b d d b e e e b e e e b
*
4 5 5 4 5 5 4 2 5 5 4 2 5 5
III f f g h h g i i i g i i i g
4 5 5 4 5 5 4 2 5 5 4 3 3 5
IV j j g j j g j j j g j j j g
18
Cf. De Lollis, loc. cit., p. 52.
19
Vid. Liederbuch, p. XXXV [neste volume, p. 81] e Vasconcelos, Zeitschrift f. rom. Philol. XX,
p. 162. [Refere-se à Glosa Marginal I, “O Processo da Ama”. Vid. Y. F. Vieira et al., Glosas
Marginais ..., op. cit., especialmente pp. 66-71. (N.E.)]
20
Zeitschrift für rom. Philol. XIX, pp. 584 e 590.
* No texto original, as duas primeiras rimas d não estão marcadas como femininas, por óbvio
engano. (N.E.)
489
Fiinda:
4 2 2 2 5
j j k j g
4 5 5 4 5 5 4 3 5 5 4 2 5 5
I a a b a a b c c c b d d d b
21
Vid. Appel, loc. cit., p. 214.
22
Esse não parece ter sido o caso em provençal. Vid. Appel, loc. cit., p. 218.
23
Vid. Liederbuch, p. LV [neste volume, p. 100] e Modern Lang. Notes X, col. 216-7 [neste volu-
me, pp. 463-464]
490
4 5 5 4 5 5 4 3 5 5 4 2 5 5
II e e f e e f g g g f h h h f
4 5 5 4 5 5 4 3 5 5 4 2 5 5
III i i f i i f g g g f i i i f
24
Há uma cantiga de amor de Afonso X (CB. 468, v. 9-34), que mostra irregularidade nos últimos
versos de cada estrofe e cujo sentimento está em harmonia com o de um descort. Colocci pode
não o ter notado, porque os oito primeiros versos do número (468), sob o qual está colocado, são
parte de uma cantiga em honra da Virgem.
25
Vid. Vasconcelos, Grundriss II 2, p. 181, e Liederbuch, p. CXLV [neste volume, p. 178] A primi-
tiva escola lírica italiana tem apenas um descordo genuíno, que é atribuído a Dante. Vid. Appel,
loc. cit., p. 223.
491
discort et omi stanza fa sel dissi. Com sel dissi o humanista Colocci queria
dizer, como apontou a Sra. Vasconcelos26, aqueles poemas que lhe pareci-
am concordar em estrutura aproximadamente com a canzone nº. XIX de
Petrarca27.
Resta-nos agora ver se há exemplos de descordo na escola lírica
galego-castelhana dos séculos XIV e XV que, como o Marquês de Santillana
nos informa na sua conhecida carta de 1449 ao Condestável de Portugal, e
se comprova por abundante evidência, continuou as tradições literárias dos
trovadores galego-portugueses não apenas na forma e sentimento, mas em
parte mesmo no uso da língua portuguesa28. Mas, ao ser transplantada para
o solo castelhano, a poesia lírica portuguesa, e especialmente os seus poe-
mas amorosos, não puderam evitar a influência do espírito escolástico do
seu novo ambiente e perderam muito da simplicidade e do ardor do senti-
mento do seu lugar de origem.
Entre os termos poéticos que ocorrem nos textos coligidos no
Cancionero de Baena29, a palavra discor, que encontramos empregada por
Colocci como nota marginal aos dois descordos em português arcaico con-
tidos no CB.30, é uma das mais frequentes e é usada em mais de um sentido31.
Em primeiro lugar, significa uma canção ou poema em geral, como
se pode ver na seguinte passagem, também importante porque mostra que
o discor pertencia à maestria mayor (C. Baena I, 253):
26
Grundriss II 2, 197, nota 2.
27
Ed. Mestica, p. 290. – Muitos dos poemas assim marcados por Colocci não podem ser considera-
dos bons exemplos de tal semelhança.
28
Vid. Vasconcelos, Grundriss, loc. cit., pp. 230-242; Liederbuch, pp. XIV a XIX [neste volume,
pp. 64-69] e Baist, Grundriss, pp. 424-427.
29
As referências são extraídas da edição de Leipzig de 1860.
30
Mas a forma empregada na razon aposta a CV. 963 é descor ou mais provavelmente descor[do].
Cf. CB. 135.
31
A Sra. Vasconcelos teve a grande gentileza de colocar à minha disposição as suas notas sobre o
uso de discor na poesia espanhola.
32
Leia-se mordobre. Cf. Grundriss II 2, p. 196 e 235.
492
Poderoso ensalçado,
estas dos que vos enbio
son de otro alvedrio,
fechas para Juan Furtado
.......................................
La una como discor,
la otra commo deslay;
los yerros que en ellos ay,
digalos algunt doctor.
33
Outras passagens com esse sentido de discor, que não podemos citar aqui, são loc. cit. I, pp. 49,
95, 209; II, pp. 54, 139, 185.
34
Cf. Cancionero de Estúñiga, p. 230, onde essa peça é atribuída a Juan de Mena.
35
C. Baena, II, pp. 54, 139, 185.
493
3 3 7 3 3 7 4 4 7 4 4 7
I a a b a a b b b a b b a
4 4 7 4 4 7 3 3 7 3 3 7
II c c d c c d d d c d d c
4 4 7 4 4 7 4 4 7 4 4 7
III e e f e e f f f e f f e
4 4 7 4 4 7 3 3 7 3 3 7
IV g g h g g h h h g h h g
3 3 7 3 3 7
a a b a a b
494
O genete
poys remete
seu alfaraz corredor,
estremece
e esmorece
o coteyfe con pavor.
Leonoreta,
Fin roseta,
Bella sobre toda fror,
Fin roseta,
Nom me meta
Em tal coita voss’ amor39.
36
Cf. CM. nº. 380.
37
Amadis de Gaula, l. II, c. XI.
38
Vid. Vasconcelos, Grundriss II 2, 220-1.
39
Para a edição de todo o texto, vid. o artigo da Sra. Vasconcelos, em Zeitschr. f. rom. Phil. IV,
pp. 347-351.
40
Cf. Vasconcelos, Grundriss, loc. cit.
41
Cf. Appel, loc. cit., pp. 229-230, e, para o período em questão, o acoplamento de lai e deslay, cor
e discor, e de deslai e discor, já referido. Para a forma de “Leonoreta, fin roseta” e as ocorrências
da strophe couée no Canc. de Baena, cf., por exemplo, Rossinhol, el seu repaire, de Peire
d’Alvernhe, e Jeanroy, Origines etc., pp. 364-377. Há uma certa semelhança de forma entre o
descordo de Nuneannes (= I) e partes do lai de Bonifaci Calvo (Appel, Zeitschrift XI, p. 227) e
também o descordo publicado no mesmo volume, p. 216.
495
Graciosa,
muy fermosa,
de muy linda fermosura;
amorosa
é donosa,
de angelica fygura,
muy pura
criatura,
deleytosa.
5 5 5 5 5 5 5 5
a a a b a a a b
496
onde recebeu uma nova direção, o descordo parece ter perdido cada vez
mais o seu caráter como um tipo especial de poema amoroso e finalmente
ter sido tratado, tanto no assunto quanto na forma estrófica, como pouco
mais que um poema lírico em geral42.
O tema da relação do discor com as outras formas de lírica cortês
em Castela merece, contudo, um estudo mais aprofundado e cuidadoso do
que fui capaz de lhe dedicar no presente, e pretendo retornar a ele no futuro
próximo.
I.
CB. 135 (= 109)
42
Num poema de Rodriguez del Padron (ed. Bibliófilos p. 78), lemos sobre um jovem que dentro
las flores en son de alabança Dezia un discor. Aqui, novamente, discor parece denotar pouco
mais que uma canção.
497
25 Ca sei de mi
quanto sofri
e encobri
en esta terra de pesar.
Como perdi
30 e despendi,
vivend’ aqui,
meus dias, posso m’ en queixar.
E cuidarei
e pensarei
35 quant’ aguardei
o ben que nunca pud’ achar.
E[s]forçar-m’ ei
e prenderei
como guarrei
40 conselh’ agor’, a meu cuidar.
Pesar
d’ achar
logar
provar
45 quer’ eu veer, se poderei.
O sen
d’ alguen,
ou ren
de ben
50 me valha, se o en mi ei!
Valer
poder,
saber,
dizer
55 ben me possa, que eu d’ ir ei.
D’ aver
poder
prazer
prender
60 poss’ eu, pois esto cobrarei.
Assi querrei
buscar
498
viver
outra vida que provarei,
e meu descord’ acabarei.
II.
CB. 470 ( = 362)
Sé nulha ren
sen vosso ben
que tant’ ei desejado,
que ja o sen
15 perdi por ren,
e viv’ atormentado
sen vosso ben.
De morrer en
ced’, é mui guisado.
20 Penado, penado!
Ca log’ ali
u vus eu vi,
fui d’ amor aficado
tan muit’ en mi
25 que non dormi
nen ouve gasalhado.
E se m’ este mal
499
durar assi
eu nunca fosse nado,
30 Penado, penado!
III.
CV. 963
10 Ca pois onrado
non é nen graado,
dõado
faz leito dourado
depos si trager,
15 e ten poupado
quant’ a, e negado.
Pecado
o trag’ enganado
que lh’ o faz fazer.
20 Ca nunca el de seu
aver deu ren,
esto sei eu,
que lh’ esteuesse ben.
Demo lh’ o deu
25 pois que lhi prol non ten;
muito lh’ é greu
quando lh’ o ped’ alguen.
500
E mantenente
perd’ o contenente
30 verdadeiramente,
e vai-s’ asconder;
e faz-se doente,
e vosso mal non sente,
e fuj’ ant’ a gente
35 po-la non veer.
IV.
CV. 481
15 Ja de verdade
nen de lealdade
non ouço falar,
ca falsidade,
mentira e maldade
20 non lhis da[n] logar.
Estas son nadas
e criadas
e aventuradas
e queren reinar.
25 As nossas fadas
iradas
501
foron chegadas
por este fadar.
Louvamiantes
30 e prazenteantes
an prez e poder.
Enos logares
u nobles falares
soian dizer,
35 vej’ alongados,
deitados,
do mund’ eixerdados,
e van-se perder.
Vej’ achegados,
40 loados,
de muitos amados
os de mal dizer.
Pela crerizia
per que se soia
45 todo ben reger,
paz, cortezia,
solaz que avia,
fremoso poder,
quand’ alegria
50 vevia
no mund’ e fazia
muit’ a ‘lguen prazer,
foi-se sa via
e dizia
55 cada dia:
ei de falecer.
502
V.
C. Baena II, p. 185.
En el viso
á mi priso,
con grant fuerça de amor,
cuerpo lisso,
5 muy enviso,
que non vý tal nin mejor.
Con grant dolor
¡ay pecador!
en pessar será mi rysso,
10 por ser mi cor
su servidor
de la que non quier nin quiso.
Cos natural,
angelical,
15 criatura muy polida,
gesto rreal,
nunca vi tal,
de todos bienes conplida,
nobleçida
20 é guarnida
de bondades sin egual;
la mi vyda
es perdida,
sy su merçed non me val.
503
Çafir gentil,
claro beril
es la su lynda fegura,
40 una de mill,
muy doñeguil,
excelente criatura;
mucho pura,
syn orrura,
45 su color commo brasyl
por natura,
syn mesura,
lynda ymagen de marfyl.
VI.
C. Baena II, 188.
Dyme, Muerte,
¿porque fuerte
es á todos tu memorya?
ca tu suerte
fué conuerte
á los que biven en gloria.
Çitatoria
é munitorya
enbias que me conhuerte;
dilatoria,
perentoria
á mi puerta non apuerte.
Tú desfases
muchas fases
que fueron fermosas caras;
los rrapases
de almofases
con los señores conparas;
algasaras
muy amaras
504
VII.
C. Baena II, 101.
Magüer la promesa
que fyso muy gruesa
á fuer de Vynuensa,
de darme batalla,
presumo que çessa
su lyd é revessa;
pues veo ssu fuessa
abierta syn falla.
etc.
505
NOTAS
I. 8. seus desejos = desejos dela. Cf. Trovas nº. 115 (= CA. 291) 7. En qual coita
me seus desejos dan. Para esse uso do pronome possessivo, vid. Liederbuch
pp. 117-8, nota ao v. 249 [neste volume, p. 312]
13-18. Para a ideia expressa nesses versos, cf. CB. 130 (CA. 384), do mesmo
autor.
22. “Tudo era por essa razão (isto é, porque eu não experimentava nenhum prazer
etc.) e por nenhuma outra”.
41-45. Aceitando o texto como foi recebido, a construção pretendida parece ser:
Desejo ver se serei capaz de experimentar o sofrimento de procurar outro lugar.
Uma leitura que se sugere também aqui é pe[n]sar por pesar, fazendo esse infinitivo
dependente de quer’eu; mas mesmo assim a passagem não seria satisfatória.
II. 10. “Infeliz de mim!” Cf. Trovas nº. 124 (= CA. 283): Des i penado me ten;
Trov. 125 (= CA. 284): penad’ irei d’ amor.
11. Para se (contração de see = sedet; cf. sejo = sedeo) vid. Zeitschr. f. rom. Philol.
XIX, 522 e 531.
26. gasalhado, aqui = ajuda, conforto. Cf. CB. 20, v. 4-5 e CV. 230, v. 2-3.
9. sei, se for a lição correta, é a 2ª. p. s. Imperativo (= sedi). Cf. Cornu, Grundriss
I, 800.
IV. 2. mê condensação por meu. Vid. Zeitschr. f. rom. Philol. XVI, 219 e Liederbuch
p. CXLVI [neste volume, p. 179]
5. “Dói-me o coração”. Antejo, por entejo, desgosto, desprazer, como antre por
entre. Do Lat. in taedio, como a Sra. Vasconcelos afirma no glossário da sua edi-
ção de Sá de Miranda. Cf. CV. 1025: E que grand’ entejo / En toda molher a
(= que causa desgosto a toda mulher). Vid. também o Dicionário de Bluteau, s.v.:
Ter entejo a algum manjar.
506
35. Entende-se que o objeto de vejo é algo assim: Os que nobres falares soian
dizer. Cf., para o sujeito indefinido de soian, Trovas 180 (= CA. 206) e d, p. 300
(= CA. 305). Possivelmente a lição original de 32-3 fosse: E os jograres Que n.f.
etc.
48-53. A construção dessa passagem não é muito clara. Como se lê o texto agora,
os nomes nos vv. 46-8 parecem ser o sujeito de foi-se sa via, mas este e o verbo
seguinte, como singulares, fazem muito melhores predicados para alegria, e toda
a passagem ganharia em clareza e força com a seguinte lição: Grand’ alegria [Que]
vevia etc.
52. Cf. Trovas 77 (= CA. 10) 19 dirá ‘lguen; 88 (= CA. 26) 24 ja ‘lguen; d, p. 300
(= CA. 305) 16 quen a ‘migo leal.
507
I. ALBAS
As coletâneas existentes da primitiva lírica cortês portugue-
sa contêm sete cantigas que podem ser consideradas como pertencentes a
essa categoria. Encontram-se todas no Cancioneiro da Vaticana (CV.) e
podem, de acordo com os assuntos de que tratam, ser divididas em três
grupos1.
O primeiro grupo é representado por apenas um exemplo, a primo-
rosa cantiga de D. Denis (CV. 172 = Cancioneiro d’el Rei Dom Denis,
nº. XCIII), que consiste de estrofes encadeadas cantadas por dois coros e
variando apenas nas rimas ou assonâncias2. Esta cantiga apresenta-nos uma
donzela que se levanta de madrugada e se dirige ao ribeiro da montanha
para lavar a roupa, a qual, para seu grande desgosto, é carregada pelo ven-
to. O refrão: Levantou-s’alva contém, é verdade, a palavra alva, mas a
situação característica do tipo poético em questão está totalmente ausente
desse poema, e não parece haver razão para considerá-lo uma alba, não
mais do que a encantadora cantiga em francês antigo, cuja heroína, Belle
Aelis, também se levanta cedo:
* “Old Portuguese Songs”, in Bausteine zur romanischen Philologie. Festgabe für Adolfo Mussafia
zum 15. Februar 1905. Halle a. S.: Max Niemeyer, 1905, pp. 27-45. [Na biblioteca da Universi-
dade de Yale, há uma Miscellanea. Articles and Reviews on Romance Languages and Literature
by H. R. Lang (cota He 34). Nessa Miscelânea, encontra-se uma prova deste artigo, com corre-
ções manuscritas do punho de Lang. Juntamos a esta tradução algum comentário ou correção,
quando não foram acolhidos na publicação, indicando por Misc. a sua origem. (N.E.)]
1
Carolina Michaëlis de Vasconcelos, Grundriss II, p. 152, fala de “Morgenständchen, in denen
das Wort alba im Kehrreim auftritt” [“alvoradas, em cujo refrão ocorre a palavra alba” (N.E.)] e,
consequentemente, na nota 7, classifica-as da seguinte maneira: “Vat. 170. 172. Comp. 242 e
1049 (771. 772. 782) e Barbieri no. 6.” Na pág. 193 da mesma obra, contudo, a distinta senhora,
falando novamente de “mehrere Morgenständchen (albas)” [várias alvoradas (albas)], agrupa os
poemas em questão de forma ligeiramente diversa: “Vat. 170. 172 e 1049. Cfr. 242 e 771. 772.
782”.
2
Para a estrutura dessas cantigas, tão típicas da poesia lírica autóctone de Portugal, vid. Jeanroy,
Origines, pp. 420-423; C. M. de Vasconcelos, Grundriss, II, p. 151-153; Liederbuch p. CXXXVIII-
CXLII [Cancioneiro d’el Rei Dom Denis, neste volume, pp. 172-176]
3
Para o texto dessa cantiga, vid. Jeanroy, Origines, p. 423, e G. Paris, Mélanges dediés à C. Wahlund,
p. 1 ss.
4
CCB. traz lieto por liero. Leia-se: ledo?
5
Vid. Liederbuch, p. XXXVI. [neste volume, p. 82]
6
É lamentável que as lições do CCB. estejam ainda sonegadas ao público científico.
7
Há duas composições provençais, uma de Bernart de Venzenac (Choix IV, p. 432), outra de
Guillem d’Autpol (ibid., p. 473), que poderiam ser também classificadas como albas, se o crité-
rio fosse a presença da palavra alba no refrão.
8
Vid. Origines, pp. 142-145, onde CV. 242 e 771 são traduzidas do texto de Braga.
9
Citado por G. Paris, Romania I, p. 117, e por Jeanroy, Origines, p. 143, de Schneidewin, Deletus
poet. iamb., p. 465.
10
Cf. Jeanroy, ibid., pp. 69-71.
11
Citado por G. Meyer, Essays und Studien, p. 347, de E. Meier, Schwäbische Volkslieder, p. 142.
510
Nada mais natural que o galo, cujo primeiro canto teve papel tão
importante na solução de disputas de fronteira nos tempos antigos12,
aparecesse como o arauto da rósea manhã na cantiga de despertar! Assim
na seguinte alba da Galiza moderna13:
“O galo cantou;
A corte está cheia de gente”.
12
Vid. J. Grimm, Kleinere Schriften, vol. 2, pp. 71-73.
13
Ballesteros, Canc. pop. gall., vol. 1, p. 10; cfr. C. M. de Vasconcelos, Ztschr. f. r. Ph., XIX,
p. 607.
14
Barbieri, Canc. mus. nº. 413.
15
Jeanroy, Origines, p. 70, cita essa canção na versão latina do Padre Lacharme.
16
Liederbuch, p. CXLII. [neste volume, p. 176]
17
The Chinese Classics, vol. IV, pt. I, p. 150.
511
18
Vid., para exemplos desse motivo, Jeanroy, ibid., pp. 68-69, e também G. Paris, Origines,
pp. 36-37.
19
Cf. C.M. de Vasconcelos, Ztschr. f. r. Ph. XX, p. 203.
20
Bartsch, Chrest. 4ª. ed., col. 281.
21
Cf., mais adiante, o refrão e a segunda estrofe da anônima alba provençal, publicada em Mahn,
Gedichte, nº. 132.
22
Vid. o meu Cancioneiro Gallego-Castelhano, nº. LXXI, e p. 237.
512
II. UM DESCORDO.
Há uma cantiga de amor de Afonso X (CB. 468, vv. 9-34) que
mostra irregularidade métrica nos últimos versos de cada estrofe e cujo
sentimento está bem em harmonia com o de um descordo. Colocci pode
não a ter designado como tal, porque as primeiras oito linhas do número
(468), sob o qual se encontra, são parte de uma cantiga em honra da Virgem.
Foi por essa mesma circunstância que não reconheci a sua natureza, a tempo
de incluí-la no meu estudo “O descordo na antiga poesia portuguesa e
espanhola”, embora tenha chamado atenção para ela em nota24. O poema é
agora oferecido aqui como nº. IX. Assumindo que o texto, como foi
estabelecido, está correto, o esquema métrico da composição é:
23
Vid. Appel, Prov. Chrest. nº. 57. [Misc.: Cf. Mitjana, Cincuenta y Cuatro Canc. Uppsala, 1909,
nº. XXVI: Estas noches atan longas/ Para mí / no solían ser así. (N.E.)]
24
Vid. Beiträge zur romanischen Philologie. Festgabe für Gustav Gröber, p. 491, nota 3. [neste
volume, p. 491, nota 24]
513
8 7 8 7 8 7 4 8 3 7
I. a b a b a b c c c c
8 7 8 7 8 7 3 8 4 7
II. d e d e d e f f f f
8 7 8 6 8 7 3 4 4 3 7
III. g h g h g h j j j j j
III. O ESCONDICH.
Na sua relação de poetas do antigo catalão (Obras completas,
vol. 3, p. 227), Milá y Fontanals, falando de um escondich de Romeu Lull,
diz: “Aquesta escusació es la quarta y derrera poesía que trobam de la
mateixa especie, comensant per un escondig del trovador provensal Bertran
de Born, seguint per Petrarca y nostre Llorens Mallol y acabant ab Romeu
Lull”25. Tanto quanto sei, as composições citadas nessa passagem são os
únicos espécimes do escondich na literatura românica que se conhecem até
agora. Pode ter algum interesse, portanto, comparar a essas umas poucas
cantigas em português arcaico que, embora compostas naquele simples e
original modelo de tom e textura tão peculiar da lírica em antigo português,
possuem no entanto as características essenciais desse tipo poético, como
se pode observar nos quatro* exemplos existentes, num grau suficiente
para merecerem o título de escondich. Desses poemas, dois (CCB. 228,
231) são de Fernan Garcia Esgaravunha, um (CCB. 329) de Johan Coelho,
trovadores do tempo de Afonso III de Portugal (1246-1279) 26, um
(CV. 523) de Per’Eannes Marinho e o último (CV. 636) de Johan Ayras de
Santiago, trovadores do tempo de D. Denis (1279-1325)27.
25
Vid. também o artigo de Milá no Jahrbuch für rom. u. engl. Lit., vol. 5, p. 159, onde se chama a
atenção para a notável semelhança entre as composições de Mallol e Lull e a canção de Petrarca “S’i’
l dissi mai”. Partes do poema de Mallol, pode-se acrescentar, também lembram bastante a canção de
Bertran de Born. [Misc.: Cf. também Milá, Obras III, 161, 463: Escondit de Jordi. (N.E.)]
* Corrigido para “cinco” em Misc. (N.E.)
26
Vid. Ztschr. f. r. Ph. XX, p. 179-194. – Para o texto dessas três cantigas, remeto o leitor ao
Cancioneiro da Ajuda (nºs. 411, 115, 178), que será proximamente publicado pela Sra. Carolina
Michaëlis de Vasconcelos.
27
Vid. Liederbuch des Königs Denis, p. XXXV ss. [neste volume, p. 81 ss.]
514
28
Cfr. a definição do escondich nas Leys d’Amors (vol. 1, p. 348): “Escondigz es us dictatz del
compas de chanso, cant a las coblas . et al so . e deu tractar de desencuzatio. es contradizen se. en
son dictat. de so deques estatz acuzatz o lauzeniatz . am sa dona. (de) oz am son capdel.”
29
Vid. Liederbuch des Königs Denis, p. LXXIV [neste volume, p. 118]
30
Numa sátira do seu irmão Martin encontramos uma imagem que relembra as famosas neiges
d’antan de François Villon. CV. 1154, 5-6:
E as calças seran de melhor pano:
feitas seran de nevoa d’antano.
31
Vid. Elucidário s.v. salvar, e Liederbuch des Königs Denis, p. 122. [neste volume, p. 318]
[Misc.: Cf. CCB. 218 (= 233 = CA. 117), que é uma justificativa em relação a CCB. 217
(= CA. 116); CA.115; CA. 178. (N.E.)]
515
I. (CV. 242)
Levad’, amigo, que dormides as manhanas frias,
toda-las aves do mundo d’amor dizian.
Leda mh-and’ eu.
516
* No texto está “mostra-mh-a noites daueto”. Nas provas, porém, Lang havia corrigido “mostra-
mh-asnoites” com um traço separando “as” de “noites”, o qual foi provavelmente interpretado
pelo editor como indicação de elisão do “s” final de “as”. (N.E.)
517
* No texto consta “sen heira”. Nas provas, porém, estava “senlheira”, que não foi corrigido por
Lang. (N.E.)
518
V. (CV. 1049)
Maria genta, Maria genta da saya cintada,
e masestes esta noite ou quen pos cevada?
Alva, abriades m’alá.
519
520
VII. 2 seu 5 mea 6 nen hunha 7 Uma sílaba a mais. 14 Falta uma
sílaba. Leia-se sei [eu] ca etc.?
521
VIII. Cf. Monaci, Notes. 1 Boa – mistr’ 3 desseruir (de tal) 7 poys
u(9)os s.a. 8 curacom 11 amollãr ege 13 E meu am’ eu uos uenho r.
15 e sã (q)cramã 16 Faltam duas sílabas.
522
Traduções
I. 32
32
Não é preciso dizer que as versões métricas desta cantiga e da de número V não têm outro mérito
senão o de dar uma ideia aproximada da forma do original. [Mantemo-nos aqui mais fieis à
tradução de Lang que ao texto em galego-português, uma vez que a sua versão para o inglês
esclarece a maneira como entendeu o poema. (N.E.)]
523
II.
1. Sem o meu amigo estou sozinha e triste, e o sono abandona os meus
olhos; e com todo o coração rogo a Deus pela luz do dia, Ele, porém,
não ma dá. Mas se eu estivesse com o meu amigo, a luz seria comigo
agora mesmo.
2. Quando eu estava com o meu amigo, a noite acabava rapidamente; e
agora ela vem e cresce e fica, e a madrugada não vem nem aparece o
dia. Mas se eu etc.
3. E quando a minha luz e meu amado está comigo, parece-me que a ma-
drugada, que não me dá alegria, vem logo; mas agora a noite vem e
alonga-se. Porém se eu etc.
4. Rezo mais de cem preces Àquele que morreu na cruz, que Ele me possa
mostrar a luz do dia; mas, em vez disso, mostra-me estas noites intermi-
náveis. Mas se eu etc.
III.
1. Da noite de ontem poder-se-iam fazer três longas noites, parece-me; mas esta
última noite estive muito bem! Pois meu amigo veio e antes que eu lhe disses-
se uma palavra, amanheceu e a manhã estava logo comigo.
2. E ontem, quando me deitei sozinha, a noite veio e passou lentamente; mas esta
última noite foi muito diferente, pois meu amigo veio e antes que começasse a
falar comigo, amanheceu etc.
3. E ontem eu comecei a cuidar, e a noite cresceu cada vez mais longa; mas esta
última noite não foi assim, pois meu amigo veio e quando falei alegremente
com ele, amanheceu etc.
IV.
1. Essas noites tão longas que Deus fez para meu mal, porque as passo sem dor-
mir, por que não mas deu no tempo em que meu amigo conversava comigo?
2. Porque Deus as fez tão longas, passo-as sem dormir, coitada de mim! Mas tão
longas como são agora, gostaria de tê-las tido no tempo em que etc.
524
3. Como Deus as faz tão longas, além da razão e da medida, e não posso conciliar
o sono, por que não as fez assim no tempo em que etc.
V.
1. Maria bonita, Maria bonita, da saia cintada,
Onde afinal ficaste esta noite, ou quem alimentou o gado?
Levanta-te, abre para mim!
VI.
1. Bem sabia eu, bela Senhora, que a partir do momento em que me separasse de
vós nunca mais teria prazer em coisa alguma, já que não poderia ver-vos, pois
sois a melhor mulher de que já se ouviu falar, e sei que nunca ninguém encon-
trará igual à vossa adorável aparência!
2. E já que Deus quis que eu estivesse tão longe de vós, podeis estar certa de que
nunca mais viverei sem dor, pois nunca estiveram nem Páris nem Tristão tão
afligidos pelo amor, nem nunca sofreram tal angústia, nem sofrerá quem quer
que viva ou venha a viver.
3. O que farei quando não mais contemplar a vossa adorável figura? Vós sois a
causa do meu sofrimento e portanto não posso desistir de vos amar ardente-
mente, nem o farei; antes, sei muito bem que morrerei, se não vos ganhar, a
vós que sempre amarei.
VII.
1. Dizem, meu amigo, que quereis, contra a minha vontade, tomar outra senhora,
para me causar sofrimento por meio dela; mas juro que não tenho medo disso,
pois todas sabem que vós sois meu, e nenhuma vos quererá por seu!
* Por óbvia gralha, que passou inclusive nas provas, este verso em inglês diz: “Up, upon to me”,
em vez de “Up, open to me”, como nos vv. 3 e 6. (N.E.)
525
2. E agradar-vos-ia, de fato, causar-me essa dor, mas não sei hoje de ninguém
que vos tirasse de mim, e portanto o vosso plano não vos vale de nada, meu
amigo, e vede por que razão: pois todas etc.
3. E quem vos aconselhou assim, sei bem que vos aconselhou mal, e o vosso
plano não vos serve de nada, meu amigo, pensastes nele muito tarde, pois
todas etc.
Que Deus confunda aquela que me tiraria o meu amigo, e a mim, se lhe tirasse
o dela.
VIII.
Esta cantiga foi composta por Per’Eannes Marinho, o filho de Johan Annes de
Valladares, para justificar outra cantiga composta por Johan Airas de Santia-
go, cujo começo é assim: “Dizem, meu amigo, que quereis, contra a minha
vontade, tomar outra senhora”.
1. Excelente senhora, o que me enredou convosco, estou seguro de que vos infor-
mou erroneamente de que eu tencionava servir a outra mulher. Diante disso,
assim venho justificar-me diante de vós: Se eu hoje amar outra mulher senão
vós, morrerei penitenciando-me por isso.
2. E, minha nobre amiga, já que vos amo com todo o meu coração, deveis aceitar
esta justificativa que vos venho oferecer, e não deveis crer em quem quer
falsear-me, pois se eu hoje etc.
3. E, minha amiga, venho pedir-vos que não acrediteis em qualquer maldizente,
e sempre, minha luz e meu amor, que creais em mim e não naqueles que me
querem fazer mal, pois se eu hoje etc.
Nem desejo, bela senhora, ter como dona do meu coração nenhuma outra se-
não vós, que amo e sempre amarei.
IX.
1. Meu amigo, minha felicidade e meu amor, contaram-vos, para vos causar dor,
que me viram conversando com outro homem e, portanto, peço a nosso Se-
nhor que possa confundir quem vos contou isso, e a vós mesmo, se o
acreditastes, e a mim, se o mereci.
2. E contaram-vos que eu conversei com outro homem, e não tive consideração
por vós, e se o fiz, que nunca mais eu seja feliz. Mas sempre rogarei a Deus
que possa confundir quem disse isso, e a vós, se acreditastes em tão grande
falsidade a meu respeito, e a mim, se jamais pensei nisso.
526
3. Sei que vos contaram, com efeito, que conversei com outro homem, e disse-
ram-no apenas para vos causar dor. Mas rogo a Deus que está no céu que possa
confundir quem vos disse tal coisa, e a vós se então o crestes e a mim, se for
verdade.
E possa Ele confundir quem tem tal prazer em provocar ódio entre mim e vós!
Pois não há no mundo amor maior [que o nosso].
NOTAS
III, 3 Obviamente dito com ironia. Cf. II. 9 e 15.
11. Cf. IV, 6 etc. Para o sentido de falar, vid. Canc. Gallego-Castelhano, p. 161.
VI, 15-18 Para essa e imagens semelhantes do amante fiel, tomadas pelos antigos
poetas portugueses da tradição celta e de outras tradições, vid. Liederbuch des
Königs Denis, p. 123 [neste volume, p. 319], e o artigo da Sra. Vasconcelos na
Revista Lusitana 6, pp. 1-43.
Nessa passagem, também temos uma instância do schema apò koinù. Outros
casos dessa figura sintática em português arcaico são os seguintes: CV. 370,
II. 1-4: Ay amigas, perdud’ an conhocer Quantos trobadores no reyno son De
Portugal ia non an coraçon De dizer ben que soyan dizer; Canc. Resende II,
p. 376, II. 16-20: Poys foy causa su’armada e ser Elena rroubada, Por end’eu
soo em meu leyto com muyta pena me deito que causa tua tardada. Para exem-
plos em francês antigo, vid. Tobler, Verm. Beiträge, vol. 1, p. 115; 3, p. 88;
Ebeling, Auberee, p. 98.
VIII, 1 Fai além de faz também, p.ex., Canc. Gallego-Castelhano I. 462; para o
espanhol antigo, vid. Gassner, Altspan. Verbum § 133; para o provençal, p.ex.,
Appel, Chrest., p. XXVII. Assim também temos faes por fazes 2ª. pres. ind.,
como CV. 1022 (em rima com desiguaes); CM. 82; Cronica troyana II,
pp. 101, 229; e fais, 2ª. imper. por faz, CM. 125, 263, 303, 355; Festa XII, p.
585. Para o antigo espanhol fay, vid. Gassner, loc. cit., §§ 133, 269.
527
15-16 O texto destes versos parece imperfeitamente transmitido, pois não satisfaz
nem o sentido nem o metro.
IX, 18 Para a rima fe : sé (= sedet), cf. p. ex. CV. 1044; CM. 53, 122, 135 etc.
528
529
Nº. 124 (2ª. estr.): Que quien bien catare en cada renglon, Fallará
ditongos4 e gaçafaton E los consonantes errados, perdidos; 139 (rubrica)
Este dezir fizo e ordenó el dicho Alfonso Alvares de Villasandino flabando
con el Amor, el qual es fecho de caçafatones; 196 (Fynida)5: Aunque es
caçafaton, Ya vasio es mi bolson; 223: Noble rey, tres peticiones. Vos enbié
bien derechas Quitas de caçafatones, 573: Encerradas e abiertas, Sufrase el
caçafaton6.
É claro que a familiaridade com esses textos teria por si mesma
tornado impossível o engano do Sr. Tallgren, e é igualmente claro que um
conhecimento profundo de documentos tais como a poesia e os tratados
métricos da Idade Média é o preparo indispensável para qualquer estudo
crítico de um trabalho como a Gaya de Segovia, de Pero Guillén.
Em vista do que se disse, não é necessário citar as definições do
termo gazafaton dadas nos dicionários castelhanos, catalães e portugueses.
É suficiente dizer que, começando com a 12ª edição do Dicionário
da Academia (1884), todas essas obras são unânimes em identificar o ter-
mo gazafaton e o seu posterior companheiro (contaminado) gazapaton com
cacophaton ou, mais corretamente, com cacephaton7 (por cacemphaton8).
Em catalão9, encontramos a forma gasafetó, tanto para o período antigo
como moderno, e para o português, Bluteau oferece-nos caçafetam10.
Resta-nos agora inquirir como o termo gaçafaton era entendido na
poética do tempo, de onde veio para os poetas da escola castelhana, e como
se deve explicar o desenvolvimento da sua forma.
4
Por ditongos (cf. nº. 209), o poeta sem dúvida se referia àquelas sequências de vogais condena-
das, que as Leys d’amors (I, 22) chamavam diptonge contrafag (cf. também a proibição de hiatus
nas Leys d’amors, III, 50), e Enrique de Villena, na sua Arte de trobar (Mayans y Siscar, ed.
1875, pp. 275 e 282), chama ditongos impropios.
5
Esse poema é referido no glossário do Canc. de Baena s.v. caçafaton!
6
Essa passagem é assunto de uma excelente nota de Puymaigre, La Cour littéraire de Juan II, I,
pp. 193-194, na qual o termo é apropriadamente ligado à forma cacephaton, definida no
Compendium latino-hispanum, usualmente chamado o Calepino de Salas (Barcelona,
MDCCLXLVIII).
7
Essa forma, presumivelmente mero erro por cacephaton, aparece como uma varia lectio em
Orig. de Isidoro (ed. Lipsiae, 1833), p. 48. Cf. abaixo o português antigo cacefeton.
8
A edição da Academia de 1726-1734 é instrutiva, porque acrescenta, depois de gazafaton: “Otros
dicen gazapaton”, abonando a primeira forma com Guevara, e a segunda, com Cervantes, Nov.
ejempl., 8, 287. Vid. abaixo. O excelente trabalho de John Stevens (Londres, 1706) concorda
com o Tesoro de Covarrubias na definição e derivação do termo de cacephaton, enquanto o
Dictionarium de Lebrija registra apenas cacophaton.
9
Gasafetó é citado por Baist, Romanische Forschungen, I, 115, em Ramon Lull. Ainda não pude
verificar essa referência. O Diccionari de Lavernia (Barcelona, 1888-9) designa gasafetó como
uma palavra antiga, traduzindo-a por gatada, esta última expressão sendo explicada pelo castelhano
gazafatón, gazapatón. Outros dicionários catalães modernos dão substancialmente a mesma in-
formação. – Devo ao Prof. J. D. M. Ford, da Universidade de Harvard, as referências a esses
dicionários catalães modernos.
10
R. Bluteau, Vocabulario Portuguez e Latino. Coimbra, 1712-21. 7 vols.
530
11
Publicadas por Gatien-Arnoult em Monuments de littérature romane, 1841-1843. 3 vols. Vid.
Wolf, Studien, p. 235 ss.; Milá, Obras completas, III, p. 279 ss.; Chabaneau, Origine et
établissement des Jeux Floraux (no vol. X de Histoire du Languedoc, p. 177 ss.).
12
Cf. o que se diz, na p. 42 ss., da nona flecha, cacosyntheton. Ambos os termos são citados no
Lexique roman, de Raynouard, II, p. 284.
13
Vid. Milá, Antiguos Tratados de Gaya Ciencia, em Revista de Archivos, VI (1876), 313, 329,
345, 361 (= Obras, III, pp. 279-297); também De los trobadores en España, em Obras, II,
p, 506 ss. – P. Meyer, Traités catalans de grammaire et de poétique, editados em Romania VI,
p. 341 ss.; VIII, p. 181 ss.; IX, p. 51 ss.
No Compendi de Castellnou (Romania VI, pp. 342-3), baseado nas Leys d’amors (cf. Chabaneau,
Origine, p. 184, nº. 1) e que trata especialmente dos vicis, não se inclui a secção que fala dos
primeiros oito erros comuns. O cacemphaton tampouco é mencionado em Johannis Anglici (de
Garlandia) Poetria de arte prosayca, metrica et rithmica (século XIII, publicado por G. Mari em
Romanische Forschungen XIII, p. 882 ss.), nem nos tratados métricos franceses dos séculos XIV
e XV, editados por E. Langlois em Recueil d’Arts de seconde Rhétorique, Paris, 1902.
14
Vid. Farinelli, “Appunti su Dante in Ispagna”, em Giornale Storico della Lett. ital., 1905, Suppl.
no. 8, p. 38, nº. 2.
15
Contido em Il Canzoniere Portoghese Colocci-Brancuti pubblicato da E. Molteni. Halle a.d.S.
1880; e editado por Monaci em Miscellanea di filol. e linguist., 1886, pp. 417-423. Para uma
discussão do valor desse tratado, vid. Liederbuch des Königs Denis, 1894, p. XI ss. [Cancioneiro
d’el Rei Dom Denis, neste volume, p. 62 ss.]
16
As razões para adotar o ano 1175, em vez de 1200 (Grundriss der roman. Philol. II, 2, p. 177),
como a data aproximada para o começo literário da lírica portuguesa são dadas no Liederbuch,
p. XXV ss. [neste volume, p. 73 ss.] e em Modern. Lang. Notes X (1905), 105 [neste volume,
p. 456]
17
Vale a pena observar que o metricista catalão Jofre de Foxa, a quem Santillana se refere como a
sua autoridade, não nomeia o castelhano entre os dialetos poéticos do seu tempo. Nas suas Regles
(vid. Romania IX, p. 53 ss.), ele diz, § 11: “Languatge fay a gardar, car si tu vols far un cantar en
frances, nos tayn que y mescles proençal nen cicilia ne gallego, ne altre lengatge que sia strayn
a aquell”.
18
É uma coincidência interessante que, tanto aqui como em dois poemas do Cancionero de Baena,
se tratem conjuntamente o cacemphaton e o hiato ou ditongo proibidos.
531
19
Colocci anotou na margem a variante: cacephetó.
20
A Sra. Vasconcelos, Canc. da Ajuda II, p. 661, lê caçorria, e essa emenda é apoiada pela aproxi-
mação semelhante de cazurro e lijo em Juan Ruiz, 921: Fis cantares cazurros de quanto mal me
dixo; Non fuyan dello las duenas, nin los tengo por lijo.
21
Essa expressão não ocorre nem uma única vez em todas as 2116 composições dos cancioneiros
galego-portugueses, incluindo as Cantigas de S. Maria, de Afonso X.
22
Romania XV, p. 461.
23
Langlois, loc. cit., s.v. taille.
24
Vid. Grundriss d. rom. Ph. II, 2, pp. 235-240; Canc. Gallego-Castelh.
25
Vid. Canc. Gall.-Castelh., pp. XI-XII, e a bibliografia ali citada.
26
Vid. Monarchia lusitana, V (1650), l. XVII-XIX.
27
Para uma completa e magistral discussão de todas as questões envolvidas nesse importante as-
sunto, remeto o leitor à excelente edição do Cancioneiro da Ajuda (Halle 1904), da Sra. C. M. de
Vasconcelos, vol. II, pp. 180-288. – O Cancioneiro que o Marquês de Santillana viu na biblioteca
da sua avó, D. Mencía de Cisneros, pode ser considerado como uma outra cópia da compilação
feita por D. Pedro.
532
28
Vid. Canc. Gall.-Cast., loc. cit.; Canc. da Ajuda, loc. cit., p. 228.
29
Origine, 180, nº. 4. Cf. Grundriss d. rom. Ph. II, 2, p. 197.
30
Vid. Petit de Julleville, Histoire de la langue et de la litt. française, II, p. 392.
Quanto ao uso do termo talho, no sentido do francês taille (vid. supra), isto é, a forma de uma
estrofe ou poema, pode atribuir-se a uma tradição poética mais antiga, comum a Portugal e à
França, ocorrendo a palavra talho frequentemente nos próprios textos poéticos com a significa-
ção de “feitio”, “molde”, “forma”, como, por exemplo, Canc. Vat. 1024, v. 13; 1040, v. 5;1109,
v. 13. Cf., ibid., 344, 981. – O mesmo significado liga-se também ao provençal talh.
Vid. Raynouard, Lexique Roman, s.v.
31
Tudo o que se sabe da história da arte lírica na Espanha Ocidental e Central assegura-nos que o
código português deve ter precedido as Reglas, de D. Juan Manuel.
32
Vid. Baist, El Libro de la Caza, pp. 153-154; Grundriss der rom. Ph. II, 2, p. 419.
33
Tais como o acima mencionado Poetria Johannis Anglici, ou outros editados por G. Mari em
Trattati medioevali di rimica latina (Milão, 1899).
Cf. Ramon Vidal, Razós de trobar e o Donat Proençal (em Stengel, Altprovenz. Gramm.); as
Regles de Jaufre de Foxa († 1327), compostas antes de 1291 (Romania IX, p. 52) e o seu prede-
cessor italiano, Terramagnino de Pisa (Romania VIII, p. 182). – Que Foxa levou em conta a lírica
galego-portuguesa, fica claro pela passagem citada acima.
34
Vid., em relação a esses, Grundriss d. rom. Ph. II, 2, p. 178; Liederbuch des Königs Denis,
p. XXXVI ss. [neste volume, p. 82 ss.]
35
Vid. Liederbuch, p. XXXVIII ss. [neste volume, p. 84 ss.]; Canc. da Ajuda, II, pp. 281-2;
pp. 510-512.
533
Seja qual for o modelo que o autor do nosso código, que cita os
seus clerigos, teve diante dos olhos, não devemos imaginar que o tenha
seguido muito de perto. Nem a atitude mental dos portugueses, nem o
caráter decididamente nacional e arcaico da sua poesia, tão refrescante-
mente diferente das canções provençais, graças a cujo exemplo ela se
elevara ao campo da literatura, lhe permitiram fazer assim36. Muitos dos
termos técnicos de nosso tratado, como dobre, mordobre, joguete d’arteiro,
atafiinda e outros, que não aparecem absolutamente nos textos poéticos
que chegaram até nós37, são tão genuinamente do solo que podem ser, em
si mesmos, prova suficiente da individualidade profundamente enraizada
dessa poesia. Pela mesma razão, não nos deve surpreender que alguns
dos preceitos do nosso tratado estejam em contradição com a prática ob-
servável na própria produção poética. Alguns desses casos, como a regra
que diz respeito à alternância das rimas masculina e feminina dentro da
mesma estrofe e poema (cap. V, § 2)38, podem ser devidos ao fato de o
metricista ter confinado a sua observação a uma porção comparativamente
pequena da matéria agora conhecida por nós; outros, como a proibição de
hiato, que segue imediatamente a do cacemphaton (cap. VI, § 3), podem
creditar-se à sua aceitação acrítica de uma tradição escolástica39. Por es-
sas razões, bem como por causa da sua condição fragmentária, o nosso
código poético pode ter comparativamente pouco valor para nosso co-
nhecimento da técnica da lírica em português arcaico40, nem é de forma
alguma possível que tenha servido de fonte de informação aos poetas da
escola castelhana. E esse ponto de vista ganhará força se considerarmos
que há pouca evidência, se é que alguma, de que os poetas desse confuso
36
Em relação à independência com a qual os portugueses trataram os seus exemplos estrangeiros,
vid. Grundriss II, 2, p. 180; Liederbuch, p. LXVI & CXXV ss. [neste volume, pp. 90 e 162 ss.] e
Modern Lang. Notes X (1895), 213 [neste volume, p. 460]
37
Mas o artifício que esses termos denotam ocorre frequentemente na poesia. Cf., por exemplo,
para o dobre e mordobre, as referências em Grundriss II, 2, 195, nº. 9, e Liederbuch, p. CXXV ss.
[neste volume, p. 162 ss.]
38
Vid. Liederbuch, p. CXXVII [neste volume, p. 164] e as críticas de Tobler, Archiv f. d. Stud. d.
neueren Sprach., 1895, p. 472; Mussafia, Antica Metrica Portoghese, Viena, 1895, p. 6 ss., e a
Sra. C.M. de Vasconcelos, Literaturblatt, 1896, p. 308 ss.
39
A persistência de tal tradição pode ser vista, por exemplo, nas Leys d’amors, nas quais, para só
citar um ou dois casos, o hiato é proibido (I, p. 26 ss), embora fosse frequente no período anterior
(cf. Stengel, Grundriss d. rom. Phil. II, 1, pp. 43-44) e a figura chamada perizologia (III, p. 30),
uma espécie de tautologia frequentemente usada na poesia medieval (vid. Canc. Gallego-Cast.,
pp. 163-4). Nesse caso, encontramos mesmo a ilustração (Yeu soy vius e no mortz) praticamente
idêntica ao uso empregado por Isidoro, Orig., I. I., 1. c. XXXIV, para o mesmo propósito (Vivat
Ruben et non moriatur).
40
Vid. Liederbuch, p. X ss. [neste volume, p.62 ss.]
534
41
Vid. Grundriss d. rom. Ph. II, 2, pp. 236-240; Canc. Gallego-Castelhano.
42
O dialeto poético empregado por esses poetas é, contudo, consideravelmente diferente do gale-
go-português da poesia mais antiga.
43
Vid. Amador de los Rios, Obras del Marques de Santillana, pp. 11-12.
44
Muito provavelmente antes de 1414, pois nesse ano entrou na vida pública (vid. Rios, loc. cit.,
p. XXIII), e as suas próprias declarações indicam que ele nunca examinou a coleção nos seus
últimos anos. O Cancioneiro não está registrado na biblioteca do Marquês que chegou até nós
(vid. o valioso trabalho de M. Schiff, La bibliothèque du Marquis de Santillane. Paris, 1905). Foi
provavelmente enviado à Itália pelo Marquês em troca de um Dante ou um Petrarca, ou então
destruído pelo fogo, no castelo de Guadalajara, em 1702 (cf. Schiff, loc. cit., p. XC).
45
Vid. supra.
46
Na minha nota sobre “cantigas de citação” (Canc. Gallego-Cast., pp. 223-224), chamei a atenção
para o fato de que uma das citações no encantador villancico de Santillana em honra das suas
filhas (Rios, p. 462) é idêntica aos versos citados numa cantiga do clérigo galego Ayras Nunes,
do século XIII (Canc. Vat., 454):
Quem amores ha,
Como dormirá?
Ay bela flor.
Essa coincidência deve-se, sem dúvida, à sobrevivência desse refrão na tradição popular.
47
Cap. IV, § 6. O escriba de Colocci, copiando de um texto já defectivo, naturalmente escreveu mal
a palavra, mas as formas moz dobre e mor dobe não deixam dúvida quanto à correção da lição
mordobre, sendo mor a contração da forma mais antiga moor. Cf. para essas formas, por ex.,
Liederbuch, v. 1562.
535
48
São os seguintes os substitutos de mordobre (= Cast. mayor doble) até agora notados nos textos
que sobreviveram: masobre, Canc. Baena, 261-340; mansobre, C. Baena 255; Santillana, Obras,
p. 12; mançobre, Gomez Manrique, II, p. 155 (Paz y Meliá o substituiu por manobre!) ; mãzobre,
Gaya de Segovia, fol. 287, onde doble também ocorre.
É possível que, como a Sra. Vasconcelos muito apropriadamente sugere (Grundriss II, 2, p. 195,
nº. 9), um escrutínio cuidadoso dos manuscritos possa revelar, em uma ou outra dessas instân-
cias, uma forma mais próxima da original, mas o fato de que a significação do termo se tivesse
também tornado obscura parece indicar que a corrupção da palavra, qualquer que seja a sua
causa, é mais antiga do que qualquer dos textos que temos.
49
C. Baena 255 (2ª estr.): Syn dobre mansobre sensillo ó menor, Syn encadenado, dexar ó prender;
ibid., 340 (p. 398): Sy discor, deslay en desir conpuestos Con masobre llano en uno fablaron. Em
ambos esses casos, mansobre refere-se ao que os portugueses chamavam dobre e os provençais,
rim equivoc, e sem dúvida foi nessas passagens que Amador de los Ríos se baseou para a defini-
ção do termo, no glossário das obras de Santillana.
50
Cf. Canc. Ajuda, II, p. 118 ss.
51
Vid. C. Baena, nºs. 377, 451.
52
A importante influência dos catalães sobre a poesia castelhana naquela época, embora inegável,
e integralmente reconhecida por estudiosos como Wolf (Studien, p. 192 ss), Milá y Fontanals (De
los trobadores, p. 535 ss.), e a Sra. Vasconcelos (Grundriss II, 2, pp. 236, 241 etc.), ainda não
está suficientemente apreciada. É difícil entender como Baist (Grundriss, loc. cit., 427) pôde
negar a sua colaboração no estilo lírico da península, pelo simples motivo de que o decassílabo
dos catalães e dos portugueses não era mais empregado pelos castelhanos do século XV.
* No original, provavelmente por gralha, está “it is this new poetic school which parted together
with many other technical terms, doubtless introduced that of the gaçafaton”.
53
Vid. Pidal, no seu excelente Manual elemental de gramática histórica española, 2ª. ed. § 18, 3. –
Formas com um a desse tipo não são infrequentes no C. Baena, como, por exemplo, Vaspasiano
(nº. 381), abrayco (114), astatuto (187), matáfora (292).
536
dentem)54. Até aqui, então, caçafaton ou gaçafaton poderia bem ser de ori-
gem portuguesa. Quanto à sonorização da explosiva gutural inicial, ilustrada
na última forma, é um fenômeno não frequentemente observado em caste-
lhano55, embora fosse sem dúvida mais comum na linguagem popular56,
como se pode inferir do fato de que é bem conhecido na fala indo-euro-
peia57. Em português a mudança não é incomum, especialmente em palavras
de origem grega58, mas no vocábulo em discussão apenas a forma com c
parece ocorrer59. Em catalão, por outro lado, as condições fonéticas são
diferentes. Nas estrofes medievais, assim como nas modernas dessa lín-
gua, o e e a átonos misturam-se num som neutro, que pode ser descrito
aproximadamente como um intermediário entre a francês e e feminino60.
Aqui, de novo encontramos uma tendência mais geral para sonorizar a ex-
plosiva inicial61. A forma gasefató citada acima pode ser vista, portanto,
como o desenvolvimento catalão regular de cace(m)phaton, e temos assim
boas razões para supor que as palavras caçafaton e gaçafaton, encontradas
nos nossos textos castelhanos, vieram da Catalunha.
Uma ou duas palavras, finalmente, acerca das relações entre
gazafaton, a forma que permaneceu até os dias de hoje, e o seu substituto
gazapaton. Que o último é uma formação comparativamente tardia deduz-
se do fato de que não há constância da sua ocorrência nos textos dos séculos
XIII e XIV, e de que nem Covarrubias nem Minsheu ou Oudin a registram
nos seus dicionários. É verdade que o Dicionário da Academia de 1726
(vid. supra) assevera a sua ocorrência, citando Cervantes, Nov. Ejempl. 8,
54
Vid. Cornu, Grundriss d. rom. Ph. (2a. ed.), I, p. 947; Cancioneiro de Resende, II, 49, v. 15.
55
Pidal, loc. cit., § 37, não toca nesse ponto, nem o menciona no seu importante estudo sobre El
dialecto leonés, do qual apareceu recentemente uma parte na Revista de Archivos etc., 1906,
p. 128 ss.
56
Baist, Grundriss, I, 896, § 39, diz, corretamente, que na linguagem do povo essa mudança parece
ser mais frequente do que na linguagem literária.
57
Isso se revela na seguinte bibliografia sobre o intercâmbio de consoantes surdas e sonoras nas
línguas arianas, que devo à gentileza do meu colega, Prof. Hanns Oertel, de Yale University:
Sânscrito: Wackernagel, Altind. Gramm., I (1896) pp. 116-7, § 100 a-b; p. 123, § 130; Pischel,
Gramm. der Prakrit-Sprachen (1900) p. 138, § 191; Brugmann, Grundriss, I (2a. ed.) § 701, p. 629,
cita pares indo-europeus nos quais tenues e mediae alternam. Latim: Lindsay, Lat. lang., cap. II,
§ 73-4; Stolz, Histor. Gramm., I (1894), p. 261, § 257 (c : g); p. 266, § 263 ( t : d); p. 272, § 270
( p : b); Sommer, Handbuch der lat. Laut u. Formenlehre (1902), p. 185, § 105, e p. 283, § 158.
58
Vid. Cornu, loc. cit., p. 983, § 163-166, e a Sra. Vasconcelos, Miscellanea di filol. e linguist.,
p. 120.
59
Vid. supra caçafetam e cacefeton.
60
Vid. Milá, Obras, III, pp. 514-515; Morel-Fatio, Grundriss, I (2ª. ed.), p. 853, § 28.
61
Vid. Milá, loc. cit., p. 524; Morel-Fatio, loc. cit., p. 862, § 46. Uma tendência semelhante observa-
se em provençal, como se pode ver por casos tais como gadafale por catafale, Levy, Supplem.-Wb.
s.v., e o termo musical garip, italiano caribo, que é discutido por Ascoli, Archivio glottol., XIV,
p. 348 ss., e independentemente, embora de forma menos satisfatória, por Grandgent: Annual Report
of Dante Society (Cambridge, Mass., 1902, pp. 67-68).
537
62
Vid. Ilustre Fregona (ed. Brockh., p. 235): Ya os dijo vuestro tío el clérigo que decíades mil
gazafatones cuando rezábades en latin.
63
Vid. Meyer-Lübke, Grammaire des langues romanes, I, § 17.
64
Romanische Forschungen I, pp. 115-116. – Ao discutir, nesse artigo, as formas gazafaton e
gazapaton, que a Sra. Vasconcelos, Romanische Wortschöpfung, p. 238, tinha citado como ilus-
tração do suposto intercâmbio de p e f, Baist chegou, inesperadamente, parece, a cacemphaton
como o étimo de gazafaton, uma etimologia que não era de forma alguma nova naquela altura.
65
loc. cit. Baist, aparentemente sem ter buscado nenhuma evidência nos seus dicionários, pergun-
ta-se se a forma mais primitiva é gazafaton ou gazapaton e diz: “A favor de gazafaton fala, além
da difusão, a circunstância de que se poderia, com maior facilidade sonora, anexar, ao invés de -
faton, -paton, por exemplo, a paton, zapaton, e subsequente a gazapo”.
66
Enquanto gazapo se encontra em Lebrija e Covarrubias, gazapa não se registra em nenhum dos
dois. Contudo, o Dicionário da Academia, de 1726, inclui a palavra e cita-a de Lope de Vega,
Gatomaquia (1634). – Parece-me menos provável que gazapa tenha comunicado o seu p a
gazafaton. Acerca da etimologia de ambas as palavras, cf. Dozy-Engelmann, Glossaire (2ª. ed.
1869) p. 381: “gaçapo, dans le sens de ‘menteur’, ‘trompeur’, et gazapa, ‘mensonge’, font penser
à cadzdzáb et cadzib, qui ont les mêmes significations. Müller. – Gazapo signifie jeune lapin, et
métaphoriquement ‘homme rusé’. En hollandais, on appelle un homme rusé ‘un vieux lapin’”.
Não pude consultar os glossários de Eguilaz Yanguas e de Simonet.
Em este coidad’estando
muit’ aficad’ e mui forte,
ante que o começasse,
door o chegou a morte.
* “Portug. chegar”, em Zeitschrift für romanische Philologie XXXV (1911), pp. 736-737.
2
Enquanto nas duas outras estrofes cada palavra rimante é empregada sempre com o mesmo sig-
nificado, o emprego de senhor aqui é distinto do usado nas outras posições.
3
iam.
4
e pero oya etc. Pronuncie-se p’ro ao invés de pero. Cf. Zeitschrift, loc. cit., p. 298, para o v. 4592
e p. 395, para o v. 9845.
5
auer.
6
alguen
7
Como observa Nobiling na sua edição do poeta, p. 29, alguen refere-se à amada, no sentido de
“uma certa dama”. [Vid. O. Nobiling, As Cantigas de D. Joan Garcia de Guilhade e Estudos
Dispersos. (N.E.)] Compare-se, por exemplo, ainda CV. 30, 35, 37; Trovas 20 (CA. 175), 245
(CA. 237).
8
Nobiling, loc. cit., p. 13, diz: “Na terceira [estrophe], C. apresenta rima identica (alguen: alguen),
comtanto que não haja êrro de copista”; mas na p. 35, lê-se: “ 18 alguen] Por ventura al ren?”
[Vid. O. Nobiling, op. cit., pp. 57 e 82, respectivamente. (N.E.)]
542
infra arrolados para o uso ocasional da rims equivocs nos nossos Cancio-
neiros, deveriam legitimar a opinião, por mim expressa em Zeitschrift, loc.
cit., nota 3 [neste volume, p. 394, nota 39], de que a rima não apenas ocor-
re, como se trata de um dobre9.
Seguem-se, pois, os exemplos de dobres e mordobres.
I. DOBRE.
a) Regulares. CV. 16, 24, 20 e 38 (CA. 228)10, 60, 196 (Liederbuch, CXVII),
217, 326, 343, 349, 359, 417, 428, 448, 463, 483, 488, 491, 520, 539,
542, 544, 550, 576 (CA. 464); 577 (CA. 465); 595, 616, 620, 622, 630,
650, 67111, 680, 685, 695, 699, 815, 819, 826-8, 844, 912, 984-5, 1006,
1016, 1023, 1142, 1178, 1180; CB. I (CA. 311), 22 (CA. 332), 10
(CA. 320)12, 62 (CA. 372), 198 (CA. 104), 231, 241 (CA. 134), 277
(CA. 417), 345, 377, 402-4; Trovas 36 (CA. 185); 125 (CA. 284), 211
(CA. 104); 220 (CA. 134), 241 (CA. 233); 243 (CA. 235), 245
(CA. 237), 280 (CA. 250).
b) Irregulares. CV. 12, 16, 33, 37 (CA. 455), 104 (Liederbuch, XXV),
409, 575 (CA. 463), 629, 653, 663, 702, 863, 978, 1081, 1083, 1097,
1135, 1149, 1158; CB. 10 (CA. 320), 45 (CA. 355), 112 (CA. 392), 113
(CA. 393), 147 (CA. 398), 182 (CA. 8), 185, 278 (CA. 418); Trovas
244 (CA. 236).
II. MORDOBRE.
a) Regulares. CV. 417, 567 (CA. 289), 681, 1018; CB. 223 (CA. 409);
Trovas p. 299, c. (CA. 304); p. 313, 9 (CA. 30).
9
Não se compreende como o Senhor Leite de Vasconcelos pode declarar, em Revista lusitana 13
(1910), p. 141], onde propõe esta solução da questão da rima como algo novo: “Lang, na Zs. f. r.
Phil. XXXII, p. 397, contorce-se em volta do verso, sem resolver nada”.
10
Os algarismos em negrito marcam as cantigas nas quais o dobre ou o mordobre colocam-se ou
apenas no refrão ou se estendem da estrofe até o refrão ou até a fiida.
11
Aqui, como, por exemplo, ainda, CV. 33, 237, 663, CB. 182, parece ter sido usada, para forma-
ção do dobre, também a terminação do futuro, que em Portugal se pode separar, ainda hoje, do
infinitivo. Outros casos de autonomia do verbo auxiliar habere em português arcaico e espanhol
foram dados por mim em Romanic Review 2, p. 339. – Em CV. 828 (1ª. estrofe), a ligação ey: ey
é, muito provavelmente, acidental.
12
Em algumas cantigas, temos exemplos mais ou menos regulares de dobre e mordobre juntos;
assim, ainda CV. 417, CB. 276 (CA. 416), CV. 463, 1135.
543
b) Irregulares. CV. 39, 50, 68, 463, 494, 552, 574 (CA. 462), 575 (CA. 463),
597, 84413, 862, 911, 1015, 1109, 1135; CB. 8, 87 (CA. 371), 141, 208, 220
(CA. 406), 309 (CA. 424), 374 (CA. 435); Trovas 85 (CA. 23), 126 (CA. 285),
230 (CA. 221)14, 246 (CA. 238), 275 (CA. 245).
13
Acompanham o mordobre, ocasionalmente, também as rimas macho e fêmea, como, por exem-
plo, em CV. 884 (digo, diga), CB. 276 (CA. 416) amigo, amiga . Vid., sobre esse tipo de rima,
Zeitschrift, loc. cit., p. 140 [neste volume, p. 395, nota 45], nota 6 e infra para manzobre.
14
Em Zeitschrift, loc. cit., por desatenção, foi considerado regular, ao invés de CA. 40, que perten-
ce, antes, àquela categoria.
15
Como Tallgren, loc. cit., corretamente percebe, não é exata, portanto, a explicação da erudita
romanista, loc. cit., de que as formas espanholas são mera distorção ou equívoco de leitura dos
editores do texto. Reproduziram de modo deficiente manzobre, não mordobre.
16
Em Bibl. Real. 2-F-5, antigo VII-A-e, e no assim denominado Códice de Alcalá, R. Acad. de la
Historia, D, 132, falta a passagem; no Códice de Batres, R. Acad. d. l. Hist. nº. 24, está mansobre,
como Ríos imprimiu.
17
Sabe-se que palavras devem sua existência a má leitura ou má interpretação. Pense-se aqui ape-
nas na forma deteriorada gazapaton, derivada de gazafaton, presente no dicionário da Academia
544
guesa mordobre, ocorrido por volta de meados do século XIV, o que se pode
mesmo deduzir apenas recorrendo ao dobre, seguramente transmitido no Tra-
tado métrico18 e determinado com exatidão, no seu significado, a partir das
duas grafias moz dobre e mor dobe, que nos foram conservadas no mesmo
fragmento. As circunstâncias relevantes são as seguintes: em primeiro lugar,
o Marquês de Santillana, no seu Prohemio composto em Guadalajara, por
volta de 1449, caracteriza a palavra, expressamente, como uma denomina-
ção tomada da Escola galego-portuguesa; em segundo lugar, em uma cantiga
de Villasandino, cuja atividade poética remonta já ao terceiro quartel do sé-
culo XIV, a expressão é apresentada em conexão com doble (CBaena nº.
255, 2ª. estrofe)19:
I. DOBLE
a) Regulares. CBaena 313; Nieva20, p. 26-29; 260-261; CGeneral 191.
b) Irregulares. CBaena 175 (estrofe I, 3), 181 (estrofe 5), 250 (estrofe 47, 49),
284, 507; Nieva, p. 274, 289; CGeneral 117, 120.
Espanhola (13ª. ed.) e outros lugares (vid. Revue Hisp., loc. cit., pp. 24-25), que o Professor Dr.
Meyer-Lübke também considera originada de má compreensão, conforme me comunicou por carta.
18
CB. p. 5, cap. V. Vid., sobre esse Tratado e a questão aqui mencionada, Rev. Hisp., loc. cit.,
pp. 15-22.
19
Ao lado de mâzobre encontra-se, no dicionário de rimas de Pero Guillén de Segovia, também
doble, presumivelmente como expressão culta.
20
Colección de poesías de um Cancionero inédito del siglo XV..., por A. Pérez Gómez Nieva.
Madri, 1884 (contém excertos do manuscrito da Biblioteca Real, 2-F-5 = X1; vid. Canc. Gallego-
Castelhano, p. 276.)
545
546
Sem entrar agora numa discussão acerca do mérito dos dois pri-
meiros versos desse texto tão engenhosamente revisado, que representa
* “Old Portuguese brou”, em The Romanic Review, III (1912), pp. 417-421. (Repr. Nova York:
Kraus Reprint Corporation, 1962)
1
Vid., por exemplo, Portugaliae Monumenta Historica, Leges, p. 193 ss., e Sempere, Historia del
Luxo, Madrid, 1788.
2
Nada, no texto transmitido, autoriza a proposta substituição de governa por no verão, uma ex-
pressão na qual se perde, além disso, a desejada simetria sintática com o antitético d’inverno. Em
CV. 1146, 5-6, por outro lado, a emenda no verão e no inverno é claramente sugerida pelo texto
original:
547
548
Nesse período, portanto, como nos dias de hoje, Rouen era conhe-
cida pelos portugueses como “un centre de l’industrie textile, principalement
pour la filature et le tissage du coton”6. Na lista de preços de tecidos conti-
da em Portugaliae Monumenta etc., p. 194, encontramos ingres (= inglês)
mencionado como um dos menos caros tecidos de lã: “et cobitus de ingres
tinto in grana valeat 45 solidos”*.
Em vista desses nomes próprios usados pelos portugueses do tem-
po de D. Denis, com o sentido de artigos de vestimenta, não poderíamos
tomar o nosso enigmático brou como sendo idêntico ao nome da cidade
francesa de Brou (que não se deve confundir com aquela cuja igreja Matthew
Arnold celebra em canção), no Departamento d’Eure et Loir, perto de
Châteaudun, sobre a qual nos diz La Grande Encyclopédie, s.v.:
governa, e d’inverno
o vestem bem de brou7
6
La Grande Encyclopédie, s.v.
* “E o côvado de lã barata tingida de escarlate valerá 45 sólidos”. (N.E.)
7
Na revisão da Sra. Vasconcelos, esse verso é metricamente incorreto.
8
Para esse nome próprio, vid. Gonçalves Viana, Rev. lus. 5, p. 78, onde se chama a atenção para o
fato de que Moscóvia representa a forma do nominativo do russo Moskvá, enquanto o francês
Moscou deriva da forma acusativa Moskvú.
549
(< suu), CA. 7126-7128; de sou com dou, achou etc., CM. 314 e p. 567,
rimas que apontam para o valor de ditongo de ou em português arcaico,
podemos supor que brou seria pronunciado brou . , a menos que admitamos
o uso de uma rima imperfeita.
Considerando, finalmente, a lição proposta pela Sra. Vasconcelos
para os dois primeiros versos da nossa estrofe, pode-se dizer que, além do
seu desvio do original, ela parece questionável por outras razões. Não ape-
nas não existe nada na composição que peça a introdução de Melyon, o
herói de duas outras cantigas burlescas de D. Denis, n. CXXIX e CXXX
(= CCB. 406 e 407), mas há uma circunstância que depõe diretamente
contra ela. Temos um total de dez cantigas de escárnio de Denis, preserva-
das nos nºs. 406-415 do Cancioneiro Colocci-Brancuti. Um olhar mostra
que elas se dividem em cinco grupos, o primeiro (406-407) satirizando um
certo Melyon Garcia, o segundo (408-409), Joham Bolo, o terceiro
(411-412), D. Joam, o quarto (413-414), duas vítimas não nomeadas, e o
último (415), Joham Symhon. Considerando esse arranjo, não deveríamos,
sem razões irrefutáveis, introduzir Melyon no poema em discussão.
Parece aconselhável, portanto, aderir ao texto original reproduzi-
do no Cancioneiro, com exceção de duas leves mudanças requeridas pelo
metro9, e ler então:
9
Cf. Tobler, Archiv f..d. St. d. n. S., 1895, p. 472.
550
* “Readings from the Ajuda-Codex of Old Portuguese Lyrics”, em Neophilologus XIII (1927-
1928), pp. 262-266. [A tradução reproduz exatamente a formatação do original. (N.E.)]
1
Zeitschrift f. roman. Philol. XXXII, 1908, pp. 129-160, 290-311, 385-399. (Esse artigo será refe-
rido daqui para a frente pela letra Z, seguida do número da página). [neste volume, “Sobre o
Cancioneiro da Ajuda”, pp. 383-454]
2
Cancioneiro da Ajuda. Edição critica e commentada. Volume I, Texto, com resumo em alemão,
notas e eschemas metricos. Volume II: Investigações bibliographicas, biographicas e historico-
literarias. Halle a/S. Max Niemeyer, 1904 (= CA).
3
Revista lusitana, XXIII (p. IX + 95).
4
As letras Aj. referem-se ao manuscrito lisboeta; V., à sua edição anterior por Varnhagen, intitulada
Trovas e Cantares de um codice do seculo XIV (Madrid, 1849); CCB., ao apógrafo italiano da
coletânea matriz, conhecido como Canzoniere Colocci-Brancuti, publicado em parte por Molteni
em 1880 (Halle), e agora na Biblioteca Nacional de Lisboa; CV., ao outro apógrafo italiano, conser-
vado na Biblioteca Vaticana, e publicado em 1875 por Monaci, com o título: Il canzoniere portoghese
della biblioteca vaticana, messo a stampa da E. Monaci (Halle a/S.: Max Niemeyer editore).
551
552
553
554
555
* “Old Portuguese Sea Lyrics”, em Revue Hispanique LXXVII (1929), pp. 187-200. [Repr. Vaduz:
Kraus Reprint Ltd., 1966]
1
Em: Torre de Babel, 1º. milhar. Lisboa: Empresa literaria fluminense, 1925, pp. 211-227. – A
Antologia Portuguesa do mesmo autor contém cerca de vinte cantigas em português arcaico,
nenhuma contudo relativa ao mar.
2
Não revela muita familiaridade com a bibliografia das letras portuguesas dos períodos mais anti-
gos, ao afirmar (Torre de Babel, p. 131) que foi somente com a publicação da monografia sobre
Fernão Lopes, de Aubrey Bell, pela Hispanic Society of America, em 1921, que “se iniciou a
curiosidade desta corporação pelas coisas portuguesas”. Como Diretor da Biblioteca Nacional de
Lisboa, o Dr. Figueiredo deveria ter sabido que já em 1903 o Sr. Archer M. Huntington publicara
uma bela reprodução facsimilar da edição de Lisboa,1626, dos Lusíadas, e em 1904, uma repro-
dução semelhante da edição de Lisboa, 1516, do Cancioneiro de Resende.
3
Lisboa: Livraria Aillaud, 1926. 24 volumes.
4
Lisboa, 1927. [No original, está “Arturo”, em vez de “Artur”. (N.E.)]
5
Glossario do Cancioneiro da Ajuda. Por Carolina Michaëlis de Vasconcellos. Em Revista lusita-
na XXIII (1922), p. XII + 95. Vid. p. V.
6
Nas suas Regles (§ II), compostas antes de 1291, o poeta catalão Jofre de Foxa nomeia o galego
como um dos quatro idiomas poéticos da época (Vid. P. Meyer, Romania IX, p. 53).
7
Assim são, por exemplo, CCB. 456, 48 (= CA. 332), 147, 149, 150 (= CA. 32, 34, 35), Tr. I
(= CA. 39), CV. 239-241; CCB. 140, 141 (= CA. 392-3); CV. 327-329; CCB. 367-368b
(= CA. 427-9); CV. 656-660, 662, 726-773; CCB. 104 (= CA. 375). Todas essas são cantigas de
refrão, seja em dísticos paralelísticos ou em outras formas de textura simples, e pertencem aos
mais antigos poetas conhecidos (de cerca de 1175-1245), cuja posição social os levou a ter con-
tato íntimo com os poetas provençais. Embora essas 32 reproduções literárias de tipo autóctone
estejam unidas a um número igual de peças sem refrão ou cantigas de meestria, compostas na
maior parte pelos mesmos poetas e caracterizadas parcialmente por quatro ou cinco rimas (por
ex., CA. 31 abbaaccdd; 38 abbaccde; 50 ababccdd; 115 abbccdd; 119 abbccdda; 388 abcbddaac),
elas mostram de forma conclusiva que, como se pode inferir de outros fatos (Cancioneiro d’el
Rei Dom Denis, neste volume, pp. 108, 123, 175 ss.) e como a Sra. Vasconcelos mais tarde
admitiu (cf. CA. II, pp. 76, 600-601, nota 4, e Zeitsch. f. rom. Philol. 19, p. 592), os primeiros
ensaios palacianos promovidos pelo contato com os provençais foram feitos à maneira tradicio-
nal autóctone, e não cantigas de meestria segundo o modelo provençal. As mais antigas cantigas
de amor preservadas (CCB. 48 = CA. 332; 140, 141, 147 = CA. 392, 393, 32) são cantigas de
refrão autóctones, de um tipo arcaico, não cantigas de meestria. É a forma poética, não a fraseologia
558
dentro dela, que importa. O argumentos recentemente avançados por C. de Lollis no seu artigo
“Dalle cantigas de amor alle cantigas de amigo” (Homenaje a Menéndez Pidal, I, pp. 617-626)
não são relevantes. Bastante contrária a fatos longamente estabelecidos é, por outro lado, a afir-
mação de G. Bertoni (Archivum romanicum VII, 1923, pp. 174-75) de que “in realtà, ‘la maneira
de proençal’ era stata, sì, propriamente ed esclusivamente quella di re Denis; ‘ma Alfonso X, se
mal non m’appongo, avrebbe preteso di più”. Ao contrário disso, sabe-se bem que a imitação da
altamente elaborada cansó provençal estava em declínio desde a metade do século XIII. Nem o
escárnio de Afonso X contra Pero da Ponte, em CV. 70, reproduzido por Bertoni, nem o contato
de ideias entre D. Denis e Montagnagol, citado por ele a partir do Liederbuch, p. XLV ss. [neste
volume, p. 90 ss.] (cf. também Modern Language Notes X, 1895, col. 219-220 [neste volume,
pp. 466-467]) têm relação direta com essa questão. Não deixa de ter interesse, contudo, que o
único exemplo que temos de uma tentativa da parte de um português de escrever em provençal
(CCB. 454) date dos anos 1211-1218, pelo menos três anos antes do nascimento de Afonso X
(1221). Nele, Garcia Mendes d’Eixo, um magnata da poderosa família de Sousa, então exilado
na corte de Afonso IX de Leão, expressa a saudade que sente do seu lar ancestral.
Abreviaturas: CV. = Canzoniere della Vaticana; CCB. = Canzoniere Colocci-Brancuti;
CA. = Canc. da Ajuda (ed. de C. M. de Vasconcelos); Tr. = Trovas e Cantares (ed. de Varnhagen);
CM. = Cantigas de Santa Maria (atribuídas a Afonso X).
8
Os casos em que o mar é apenas mencionado, por uma ou outra razão, como CV. 429, 719, não
são considerados.
9
O termo cossante adotado por Aubrey F.G. Bell (History of Portuguese Literature, pp. 26-27, e
passim) é conveniente, mas nem exato nem autorizado pelo uso em português. Não dá ideia da
textura peculiar do tipo em questão, especialmente porque o canto do romance, de natureza se-
melhante, é também acompanhado de música e dança. Vid. os vários usos do termo cossante na
Cronica del Condestable D. Miguel Iranzo (Memorial histórico español, VIII, pp. 42, 50, 56,
141, 161-162, 167, 446-447).
559
Todo o corpus de 512 cantigas de amigo está agora acessível no vol. II de um trabalho a ser logo
completado pelo Dr. J. J. Nunes (Coimbra, 1926). – CCB. 368 parece ter escapado à atenção do
editor. A edição de alguns desses poemas por A. F. G. Bell, em Modern Language Review XV
(1920) e XVII (1922), não é crítica.
10
Entre os 138 poemas atribuídos a D. Denis, apenas 48 não têm refrão; em outras palavras, se-
guem mais ou menos o modelo da cansó provençal. E mesmo dentre as 76 cantigas de amor, a
maior parte é marcada pela acima mencionada variação do mesmo tema em cada estrofe.
11
Vid. CA. II, p. 424 e A. F.G. Bell, History of Portuguese Literature, p. 30.
* No texto, “car”, certamente por gralha. (N.E.)
560
12
Das 467 peças incorporadas pela Sra. Vasconcelos na sua edição do CA., dos três cancioneiros
apógrafos existentes, CA., CV., CCB., 440 são cantigas de amor, e dessas apenas 209 são de
meestria. Mas mesmo nessa categoria, cerca de um terço exibe a tríplice variação do mesmo
tema. Embora Diez conhecesse apenas os 310 poemas parcialmente fragmentários editados por
Varnhagen com o título Trovas e Cantares, ficou muito impressionado pela preeminência desse
traço.
13
Giornata V, 10: “L’onda del mare mi fa gran male”. Vid. Denis, p XXXIV [neste volume, p. 80,
nota 107].
14
Para a construção de frases como las altas de brocas, “os altos penhascos”, nas quais temos um
exemplo da designação de uma classe da qual um ou mais casos individuais, qualificados por um
nome ou adjetivo determinante, são segregados, vid. Meyer-Lübke, Gramm. III, § 240. Essa
construção, encontrada em francês e italiano antigos, é particularmente comum em espanhol e
português arcaicos. Cf., p. ex., Alixandre (Ms. P.) 2118 b: “Las dulces de bayladas, el plorant
semiton”; Apol. 179 a: “Fazia fermosos sones e fermosas de bayladas”; Juan Ruiz, 1231 a: “La
viuela de arco faz dulçes de vayladas”. Em Gautier de Coincy encontramos, p. ex., II, 10: “Quant
a la foiz sent a meschief Mon las de cervel et mon chief”; 337, 164: “A mes piez la sainte de
bouche”. Como podemos ver por esses exemplos, o uso dessa construção pode servir a propósi-
tos métricos, e pode ser utilizado mesmo quando falta o nome qualificante, como Apol. 189 b:
“Doblas e debayladas”. A junção de de e bayladas nessa passagem deve-se a um erro de copista,
não ao poeta aventurando-se num composto como debayladas.
561
15
Ms.: “por gran coita tenn a q. f. p.”; mayor é uma correção posterior.
16
Uma bem sucedida versão desse poema por F. Diez encontra-se em Kunst- und Hofpoesie, p. 82.
562
17
Cronica del Sancto Rey D. Fernando, Tercero del nombre, que ganó a Sevilla y toda el Andalozia,
etc. Medina del Campo. MDLXVIII; cap. XLIII-XLV (1246-1248). – Mondéjar, Memorias
historicas del Rey D. Alonso el Sabio. Madrid, MDCCLXXVII, l. I, c. XXII (p. 40) – l. II, c.
XVII (p. 92). – (Primera Crónica General, publicada por D. Ramón Menéndez Pidal. T. I. (Madrid,
1906), c. 1075 – c. 1125 (pp. 748 b – 767 b).
18
Crónicas de los Reyes de Castilla (Biblioteca de Aut. Esp., LXVI, pp. 3-66, 69-90, 93-96.) Du-
rante os anos 1255-1259, o Almiraje de la mar era Ruy Lopez de Mendoza (Memorial hist.
español, I, p. 79-154). Em 1260, o mesmo cargo foi entregue a Johan Garcia de Villamayor, o
mordomo-mor do rei (vid. loc. cit., p. 164) e os documentos referentes a Afonso X encerram-se
no ano 1279, sem qualquer menção a Charinho.
19
Bibl. de Aut. Esp., LXVI, p. 61ª (ano 1284).
20
Loc. cit., p. 96b (ano 1295).
21
CA, II, pp. 423-434.
563
22
Memorial hist. esp. I, p. 164 (27 de julho de 1260).
23
Mondéjar, loc. cit., l. I, c. I-V (pp. 273-282). Cf. CA. II, pp. 423-434.
24
A editora de CA. lê poden semellar, mas isso é incompatível com o sujeito qual, que pede um
predicado no singular. Quanto ao composto ensemelhar, que é novamente substituído pelo
simples semelhar no Glossário da editora, é verdade que até agora não o encontrei em outro
lugar. Tem análogos, contudo, em embaralhar, ensalmourar, ensamblar, entapizar, entisnar, ao
lado de baralhar, salmourar, semblar etc. Cf. embolcar (Rev. lusit., 13, 116), ao lado de bolcar =
virar etc. e o esp. entropezar, ao lado de tropezar etc. [Refere-se ao artigo do Abade Tavares
Teixeira, publicado na Revista lusitana XIII. (N.E.)]
25
Ms. cuncto.
26
Ms. fazer, provavelmente devido a prolepse de fezer.
564
27
“Se alguém entender propriamente a matéria”.
28
Partida II, tít. 9, ley 28.
565
con lo que llevan, e arriban al puerto que quieren, otrosi la Corte, quando en ella
son los pleytos librados con derecho, van los omes en saluo, e alegremente a sus
lugares, con lo que llevan, e dende adelante non gelo puede ninguno contrallar, ni
ha que auer alzada a otra parte. E aun la Corte ha otra semejanza con la mar: que
bien assi como los omes que van por ella, si han tormenta, o non se saben guiar, ni
mantener, vienen a peligro, porque pierden los cuerpos, e lo que traen, afogandose,
beuiendo el agua de la mar amarga; otrosi los que vienen a la Corte con cosas sin
razon, pierden y sus pleytos, y afogaseles aquello que cobdician auer; y algunas
vegadas mueren y con derecho, beuiendo el amargura de la justicia por los yerros
que fizieron. Onde primeramente el Rey, que es cabeza de la Corte, e los otros que
son y, para darle consejo e ayuda con que mantenga la justicia, deuen ser muy
mesurados, para oyr las cosas de sin razon, e muy sufridos, para non se arrebatar,
ni mouer por palabras sobejanas, que los omes dizen, ni por los desamores, ni por
las embidias, que los omes han entre si, porque han a desamar al Rey e a los omes
que le consejan si non se les fazen las cosas como ellos quieren. E porende aquellos
que en la Corte estan, deuen ser de un acuerdo e de una voluntad con el Rey, para
consejarle siempre, que faga lo mejor, guardando a el, e a si mismos, que non
yerre, nin faga contra derecho. E bien assi como los marineros se guian en la
noche escura por el aguja, que les es medianera entre la piedra e la estrella, e les
muestra por do vayan, tambien en los malos tiempos, como en los buenos; otrosi
los que han de consejar al Rey, se deuen siempre guiar por la justicia, que es
medianera entre Dios e el mundo, en todo tiempo, para dar gualardon a los buenos,
e pena a los malos, a cada uno segund su merescimiento”.
29
Vid. Knust, Jahrbuch für roman. u. engl. Sprache u. Literatur X, pp. 253 e 303.
30
Publicado por Knust em Mittheilungen aus dem Eskurial (Stuttg. Liter. Verein, CLXI), pp. 66-
394.
31
Para citar apenas alguns exemplos, o paralelo entre o reino e um jardim, encontrado em Secret.
Secret., Bocados de Oro etc., ocorre com desenvolvimento similar em Siete Partidas, II-10-3
(cf. Knust, loc. cit., pp. 276-277); a definição de franqueza em Siete Part. II-5-18; a definição de
fe em S.P. I-4-31, II-5-7 (cf. Knust, loc. cit., p. 398).
566
32
Vid. loc. cit., p. 315 e cf. as sentenças citadas na nota a essa passagem; Buenos Proverbios, loc.
cit., p. 37.
33
Corpus Script., eccles. latin., ed. Vindobonae, 1897, vol. 32: St. Ambrosii Opera, Pars I, pp. 74-
5. – Essa passagem é citada pelo comentador das Siete Partidas com a observação: “Ex istis
proprietatibus adaptabilis ad curiam Regis”.
34
Migne, Patrol. graeca, vol. 29, § 7, pp. 93-94.
35
Para citar apenas um exemplo. Na lei sobre a castidade dos reis, as Siete Partidas (I-5-38) in-
cluem a seguinte passagem: “E en razon de la castidat, dixo Salomon, que fue Rey e Propheta,
estas palabras que pertenescen a la Eglesia: ‘Fermosas son tus mexillas como tortola’: porque
esta aue guarda mas castidat que otra que sea”. O comentador, nesse ponto, cita as bem conheci-
das palavras de São Bernardo (Migne, Patrol. lat., 183, § 1410), que refletem a lenda familiar
relativa à rola. Cf. Berceo, Missa, c. 21. Para a interpretação teológica dessa ave como símbolo
de pureza e fidelidade, devemos contentar-nos aqui com a remissão ao instrutivo trabalho de A.
Salzer, Die Sinnbilder und Beiworte Mariens in der latein. Hymnenpoesie des Mittelalters
(Leipzig, 1893), pp. 134-140, e ao comentário em Goldstaub e Wendriner, Tosco-Venet. Bestia-
rius (Halle a/S., 1892), pp. 112, 137 ss., 180 ss., 429 ss. – Para o papel da rola na poesia români-
ca, vid. W. Hensel, “Die Vögel in der provenz. u. nordfranz. Lyrik des Mittelalters” (Roman.
Forsch., 26, p. 650), e especialmente a encantadora balada espanhola “Fonte Frida” ([Wolf e
Hofmann], Primavera y Flor, nº. 116). Nesse poema, no qual a rola repele a corte do rouxinol,
ela é dotada de todas as propriedades importantes que lhe atribuem as versões mais antigas e
mais novas do Physiologus: a pureza e o isolamento, a fidelidade ao companheiro perdido, a
recusa em voltar a pousar em um ramo verde ou beber água cristalina. Cf. P. S. Allen, “Die
Turteltaube” (Modern Lang. Notes, XIX, 1904, col. 175-177). [No original, não se indica o lugar
onde deveria estar colocada esta nota. Colocamo-la aqui, considerando o contexto. (N.E.)]
36
Para outras e mais antigas ocorrências, vid. J. W. Bright, em Modern Language Notes, VIII
(1893), col. 186-187 [na verdade, 187-188. (N.E.)].
567
* “The text of a poem by King Denis of Portugal”, em Hispanic Review I: 1 (January 1933),
pp. 1-23.
1
Vid. Denis, p. XLV ss. [Cancioneiro d’el rei Dom Denis, neste volume, p. 90 ss]; Mod. Lang.
Notes X (1895), p. 110 [neste volume, p. 466].
2
Cancioneiro d’El Rei D. Diniz. Por C. Lopes de Moura, Paris, 1847.
3
Abreviaturas: CA = Cancioneiro da Ajuda. Edição crítica por Carolina Michaëlis de Vasconcellos,
Halle a.S. (Max Niemeyer), 1904. CB = Il Canzoniere portoghese Colocci-Brancuti, pubblicato
nelle parti che completano il codice Vaticano 4803, da E. Molteni, Halle, 1880 (agora chamado
pelos portugueses C.B.N., por ter sido adquirido pela Biblioteca Nacional de Lisboa).
CM = Cantigas de Santa Maria. Las publica la R. Academia Española, Madrid, 1889. CV = Il
Canzoniere portoghese della Vaticana, pubblicato da E. Monaci, Halle, 1875. Denis = Liederbuch
des Königs Denis von Portugal. Zum ersten mal vollständig herausgegeben ... von H. R. Lang,
Halle, 1894. Publicado em 1892 sem Introdução e Glossário. Tr. = Trovas e Cantares de um
Codice do XIV seculo. Publ. por F. A. de Varnhagen, Madrid, 1849. Essa edição contém as 310
composições do códice da Ajuda, incorporadas ao Cancioneiro da Ajuda editado por Carolina
Michaëlis.
4
Loc. cit., Prefazione, p. VII ss.
570
571
572
12
Cf. Cancioneiro Resende, I, p. 459: Calay-vos muyto bem.
573
en com o sentido de “receber dela”. Mas nenhuma evidência de tal uso foi
até agora encontrada na poesia da época, embora não seja incomum no
Graal, cuja língua, como bem se sabe, é praticamente idêntica à dos trova-
dores. Assim 10, 22-24: Beento sejas tu, que me leixaste tanto uyuer que
uisse a tavolla redonda comprida, que nom fallacesem ende fora dous; 30,
4-5: Ca tu por tua mãao, que em maao ponto filhaste a espada, matarás em
xviii destes teus companheiros; 108, 13: que me saudades meus compa-
nheiros, aquelles que ende achardes ujuos; 110, 39: E quando tornauam,
falleciam ende os chus.
No, no texto do Sr. Lapa, deveria ser non (ms. nõ).
6. A conjunção [e] no começo do segundo hemistíquio estabelece
uma conexão sintática muito melhor com o que precede do que a de certa
forma abrupta retomada do argumento, transmitida por quem, que o Sr.
Lapa conserva. A conjunção pode formar sinalefa com o final átono (d’ela)
do primeiro hemistíquio, um fenômeno comum ao verso de arte mayor e
outros metros da época. Cf. F. Hanssen, Zur span. u. portug. Metrik
(Valparaíso, 1900) pp. 3, 6, 8, 34 ss.; Metrische Studien zu Alfonso u. Berceo
(Valparaíso, 1903) p. 20 ss. Cf. abaixo v. 22.
7. Ambos os manuscritos têm dama. Essa palavra e treiçom (v. 23)
são as que Nobiling considera como não-dionisinas, porque não ocorrem
em outros poemas do rei. Mas como pode alguém esperar que expressões
como essas sejam usadas mais do que uma vez num total de apenas 2784
versos? Quanto a dama, por que não seria essa palavra provençal tão ade-
quada no verso de Denis como senher, no v. 1728 (CV. 164, 10)?13 O preparo
crítico de Nobiling, porém, levou-o a conservar dama, com o devido res-
peito ao apoio de ambos os manuscritos. O Sr. Lapa, por outro lado,
substitui-o por dona, observando: “Os editores da cantiga levaram-se em
escrúpulo de conservar a lição do ms.” Os editores futuros, é de crer, serão
não menos conservadores quando considerarem que o termo dama não é
“excepcional na época trovadoresca”, mas ocorre diversas vezes:
Assim, CV. 666 (Pregunta que foi feita a Fernam d’Amboa, e feze
a Hugo Gonçalves de Montemayor o Novo), 3:
13
Senher também em CV. 912, 18; 986, 12; 1021, 29; CM. 5, 1; 25, 5; 63, 15 etc.
574
CV. 768, 2:
Assaz he desasisado
O que cuyda que tem dama
Que nenhuu outro nom ama.
14
Ms. ca hua mays servi dama non.
15
O Sr. Lapa afirma, erroneamente, que sugeri [é que] para o começo do segundo hemistíquio por
causa do metro. O que eu disse então explicitamente foi que o sentido parecia exigir a adição
proposta.
575
e à passagem citada de CB. 31 (CA. 341), 20: Quan pouco proveito me ten
De vos dizer. Desconsiderando essas ocorrências e a clara aprovação de
tiinha p. por Carolina Michaëlis, Nobiling adota o mais legível uiinha 16 na
forma viinh’a, sem nem sequer se perguntar, por um instante, se viir a
proveito era uma frase corrente no idioma dos trobadores. Expressões como
venir a pelo em espanhol, ou venir a plazer “redundar no prazer de alguém”,
em provençal (p.ex. Chrestom. de Appel, 13, 48; 17, 51), são bem comuns,
mas não se segue daí, como o Dr. Nobiling parece tomar por certo, que viir
a proveito fosse a construção correta, mesmo se uma semelhante ocorre em
francês antigo, como por exemplo nas Fables de Marie de France (ed.
K. Warnke) 57, 26: que nuls n’ en est a prou venuz. Ele poderia ter dado a
devida atenção ao fato, evidenciado por todos os textos poéticos disponíveis,
para não falar dos ainda mais convenientes glossários de CM (1889), Denis
(1894) e CA (1922), de que os trobadores portugueses não empregavam,
nem tampouco os provençais17, o verbo viir, em lugar de teer, aver, fazer
etc.18, com proveito, prol, pro, proe. Daremos aqui alguns exemplos não
listados nos Glossários: CV. 337 (refrão): Tanta prol mi ten; 865, 15: Que
prol mi á; Graal, 55, 36: nom vos ha prol; 58, 7: nom vos ha prol de vollo
dizer; 100, 16: e porem leixei a batalha, ca bem vi que nom tynha i prol; fol
194 (Rev. Lus., V, 344): Ca ainda poderia teer prol a el ou a outrem. Se não
for um erro por tem, o verbo vem ocorre uma vez (mas não com a prep. a),
Graal, fol. 194 (Rev. Lus., loc. cit.): “Ai”, dise el Rey (isto é, Artur), “se eu
escapei vivo, que prol me vem; ca mia vida nom é nada?”
O mesmo uso encontra-se em espanhol antigo, como por exemplo
em Siete Partidas, III-22-21, III prol. 23; III-23-5; Juan Ruiz, 1170 d,
1424 c; Canc. Baena, 113, 5.
Quanto ao advérbio i, que o Sr. Lapa, também seguindo Nobiling,
suprime, não interfere com o metro, uma vez que tiinha, viinha e formas
similares são não infrequentemente dissílabos no interior do verso ou em
posição proclítica. Assim CB. 1559, 3, e nom tijnha el de pan; 9, ca non
tiinha que comer (todo terceiro verso nas quatro estrofes é um octossílabo
trocaico); CA∗ ∗ 311 (CB 17): Ca me tynhan tan en vil; CM. 16, 6: Mas con
16
Tanto quanto nos permitem julgar as listas de Abreviaturas e Erros de Monaci, bisuha não pode
ser tomado como um erro de cópia por uiinha, preferivelmente a tiinha. É uma questão, porém,
saber como uiinha entrou em CB.
17
O único texto provençal no qual venir é citado nesse contexto é uma tradução do poema francês
Chastiement des dames. Vid. Raynouard, Lexique roman, s.v. prol.
18
Em Denis, v. 2604 (CB. 406, 10), encontramos o verbo atar: Ca demo lev’ a prol que xi lh’em
ata; e Graal, 112, 25, adubar: e nom adubaredes y rem da vossa prol na demanda.
* O texto original traz CH. O verso referido é o 10, que CA lê: ante me tinhan tan en vil. (N.E.)
576
coita grande que tijnna no coraçon Com’ ome fora∗ ∗ de seu siso, se foi
enton (13 sílabas); 23, 3: Ca non tijnna senon pouco en un tonelcynno; 28,
3: Et o tesour’ en leuar Que tijnnan ascondudo (um hexassílabo no último
verso de cada estrofe).
É mais provável, portanto, que a lição correta do v. 12 seja a que se
adota na presente edição.
16. Em 1894, a obscura forma Sfrom, contendo a requerida sílaba-
rima em -om, foi preservada no meu texto, mas a fórmula adjetival semrazom
foi sugerida na nota a esse verso [neste volume, p. 330] como uma que
satisfaria o sentido e o metro, bem como a rima; e na Introdução (p. CXXXVI
e nota 4 [p. 170, nota 53], a emenda proposta foi apoiada pela referência ao
fato de que semrazom reaparecia na fiinda, ou estrofe final, de acordo com
a prática provençal e portuguesa de frequentemente repetir na fiinda não
apenas uma ou mais rimas, mas mesmo as próprias palavras-rimantes usadas
na estrofe precedente19. Sem prestar qualquer atenção a essa consideração
métrica, Carolina Michaëlis (p. 527) positivamente põe de lado semrazom,
com o argumento de que o contexto solicitava uma palavra com o sentido
de Frechling*, esperando para esse propósito encontrar ou cunhar uma
formação “provençalizante” como (um) semfrom ou (um) desfrom, com o
sentido de descarado. Como seria de esperar, esse desejo não se
concretizou20. Dez anos mais tarde, contudo, Nobiling, também rejeitando
semrazom, incorporou a fantasiosa criação um desfrom na sua edição do
nosso poema, embora não sem refletir, mais sobriamente (pp. 188-189),
que “não deveria ser difícil encontrar no vocabulário dessa escola lírica,
em lugar de sfrom, a palavra nativa trissílaba significando algo como
‘impudente’, sem ter de recorrer a uma formação como desfrom, proposta
pela Sra. Vasconcelos, que não parece ocorrer em nenhum lugar”*.
Aparentemente, esse termo nativo, procurado para ocupar o lugar do
rejeitado semrazom, continuava ainda escondido em 1930, quando o
Sr. Lapa retomou a busca de um substituto estrangeiro, dessa vez um latino.
577
21
Arrebatado significa “impetuoso”, “precipitado”, “arrojado” e, portanto, não pode ser propria-
mente classificado como sinônimo de ávido.
22
Lembro ao leitor que a lição registrada é sfrom, não enfron, sendo que esta última forma foi
cunhada e introduzida no texto português pelo Sr. Lapa.
* O parêntese na citação de Lapa é de Lang, referindo-se à antecedente nota 22. (N.E.)
23
Uma série de ocorrências foi coligida pelo presente autor no Cancioneiro Gallego-Castelhano,
p. 181.
578
24
Por exemplo, CV. 901, 1: O voss’ amigo trist’ e sem razom; CA. 177 (CB. 328) 13: E a mi
semelha cousa sen razon: Canc. Resende, I, p. 97:
Cuydar he no coraçom
Um ardor muy sem razom.
* Em português no texto. (N.E.)
579
580
581
28
Fl. 1385. Para sua identificação, vid. Aubrey F.G. Bell, Mod. Lang. Review XII (1917),
pp. 357-358.
29
Vid. agora o belo estudo desse Cancioneiro por Jole Ruggieri, Genebra (Leo S. Olschki), 1931.
30
CB. p. 5, tit. IV, cap. 4. Editado por E. Monaci em Miscellanea Caix-Canello, Florença, 1886,
pp. 417-425. Cf. o artigo do presente Autor em Revue Hispanique XVI (1907), pp. 15-22.
582
31
Este é o número total resultante da eliminação de duplicados e outros erros.
32
Vid. Cancionero de Baena. Reproduced in facsimile from the unique manuscript in the
Bibliothèque Nationale of Paris. Foreword by H.R. Lang. Printed by Order of theTrustees of the
Hispanic Society of America, New York, 1926.
583
A. CASOS REGULARES
Identidade da rima da fiinda com a da estrofe imediatamente pre-
cedente33.
33
Para melhor ilustração, reproduzem-se na íntegra o texto da última estrofe e o da fiinda de dois
poemas.
584
34
Daqui para a frente, esse termo será em geral referido pela letra F.
585
462 (CV. 574) abbacca; cca, bba, d. Coblas uniss. O primeiro verso da
primeira F tem a mesma palavra-rimante que IV c 2 (levou).
466 (CV. 578) abbaccb; aab. Rims sing. A rima c de II reaparece como a
em III. O primeiro verso de F repete III a 1 (sen) e o último verso, pran, de
II b 1.
CB 1524 (397) aabab; ab. Rims sing. O primeiro verso da F repete a
palavra-rimante de III a 2 (son).
CB 1526 (399) abbacacd; acd, acd. Rims sing. conectadas pela rima d. O
primeiro verso da segunda F tem a mesma palavra-rimante que IV a 2
(matar).
CV 27. abbacca; cca; cca. Tensó. O primeiro verso da segunda F repete
bem de IV c 2.
CA 264 (CV. 53) ababbc; aac. Quatro coblas uniss. O segundo e o quinto
versos de cada estrofe têm um dobre (matar, falar, pesar, queixar). O
primeiro verso de F repete a palavra-rimante amparar de I b 2.
CV 208 ababccb; ddb; e. Rims sing. O último verso de F I repete a palavra-
rimante de III b 2.
344 abbacca; dda. Rims sing. ligadas pela rima b de I, que reaparece como
c em III. O verso final de F e III a 3 terminam, de forma idêntica, em quer.
397 ababcca; ccaa. Pares de estrofes com o seu próprio conjunto de rimas.
O segundo verso de F e IV c 2 têm a mesma palavra-rimante (serví).
448 abbcca; cca. Coblas uniss., diferenciadas, contudo, pela variação de c
de estrofe a estrofe. O primeiro e o último versos de cada estrofe têm rima
idêntica (ben, sen, ten). O primeiro verso de F repete a palavra-rimante min
de III c 2. Pode dever-se ao mero acaso o fato de, além disso, o advérbio i
de I c 2 reaparecer na rima do segundo verso de F.
473 abbacca; aa. Rims sing., conjugadas, contudo, pela rima a de I, que
reaparece em III; pela rima c, repetida em II e servindo como b em III, e
pela rima b de II, que serve como c em III. O primeiro verso da F tem a
mesma palavra-rima que III a 1 (melhor).
479 abbabac; abc. Rims sing. O segundo verso de F repete a palavra-rimante
de IV b 2 (sey).
482 abbacca; cca. Rims sing. A fiinda repete, em ordem inversa, as palavras-
rimantes de IV cc (eu, seu).
541 abbacca; cca. Coblas uniss., diferenciadas, contudo, pela variação da
rima c, de estrofe a estrofe. O segundo verso de F e III c 2 terminam, de
forma idêntica, em seu, enquanto o último verso e III a 3 têm em comum a
palavra-rimante mi.
545 abbacca; dda. Rims sing. O último verso de F tem rima idêntica a III a
3 (perdi).
586
35
Esse poema é um exemplo de salva ou “justificação”, correspondendo ao escondich dos provençais.
Para demais instâncias de salva, vid. o artigo do presente Autor em Bausteine zur romanischen
Philologie. Festgabe für Adolfo Mussafia, Halle, 1905, p. 32 ss. [neste volume, pp. 514-515]
587
36
A rima c da primeira estrofe desse poema, quiser’: dever, pode ser considerada correta, tendo
em vista formas do futuro do subjuntivo tais como devier, tevier, tevieren, que ocorrem no Testa-
mento de Alfonso II (Rev. Lusit. VIII, pp. 81-84) e foram primeiro observadas por J. Cornu,
Grundriss I2, p. 1026.
588
1177 ababccb; ccb. Rims sing., mas reunidas pela rima b de II, que reaparece
como a em III. O verso final de F ecoa a palavra-rimante de III b 2 (ren).
1183 abbacca; cca. Pares de coblas unissonans. O segundo verso de F
repete ren de IV c 1.
1186 abbacaca; caac, ca. Tensó. O segundo verso de F I retoma a palavra-
rimante de III a 1 (direy), e o último verso de F II retoma el rey de III a 4.
B. CASOS EXCEPCIONAIS
I. A fiinda é ligada ao artifício chamado dobre, introduzido no corpo
do poema.
CA 132 (CB. 253) abbacca, dda. Rims sing., ligadas, contudo, pelo fato de
que a rima a, no primeiro e no último versos de cada estrofe, contém um
dobre (senhor, melhor, sabor). O último verso de F repete a palavra-rimante
senhor de I.
135 (CB. 256) abbacca; aa. Coblas uniss., tendo cada uma um dobre no
primeiro e no último versos (será, já, ren, ben). F retoma as palavras-
rimantes já, ren de II, III.
136 (CB. 257) abbacca; ca. Coblas uniss.¸ com rima idêntica (ben) no
primeiro e no último versos de cada estrofe e no fim de F.
CV 542 aaabab; ab. Rims sing. Há um dobre em b 1 e 2 de cada estrofe
(prazer, ben, senhor), repetindo-se senhor em F.
680 abbacca; cca. Coblas uniss. As rimas dos versos 1 e 4 de cada estrofe
formam um dobre (dizer, poder, morrer). F repete morrer.
1142 abbacca; dda. Rims sing. O primeiro e o último versos de cada estrofe
formam um dobre (ajudasse, tenho, filho, dano). Tenho reaparece no último
verso de F.
CA 115 (CB 231) abbccdd; aad. Rims singulars, começando cada estrofe
com um verso sem rima (palavra perduda) que termina em senhor. Essa
palavra é retomada no segundo verso de F, em rima com melhor.
131 (CB. 252) abbaccb; ccb. Estrofes nem estritamente singulars nem
unissonans, continuando apenas c em todo o poema, enquanto a de I e III
serve como b em II e IV, b de I, como a em II, e b de III, como a em IV. A
palavra-rimante do segundo verso de cada estrofe é repetida no último verso,
589
590
333 (CB. 49) abbaccddb; bbccb (não ccddb como está na edição da Sra.
Vasconcelos). Pares de coblas uniss. Os dois primeiros versos de F repetem,
em ordem inversa, poder de I b 1 e fazer de II b 1.
359 (CB. 75) abababb; abb. Coblas uniss. O segundo verso de F e I b 2
terminam, de forma idêntica, em sei.
404 (CB. 200) abbacca; aaa. Pares de coblas uniss., marcadas, contudo,
pela irregularidade de II c diferir de I c, e IV c, de III c. Os dois primeiros
versos de F têm, em ordem inversa, as mesmas palavras-rimantes que I a 2,
3 (ben, en) e II a 2 (en).
409 (CB. 223) abbcddc; ddc, ddc. Coblas uniss., com a como palavra
perduda. O primeiro verso de F I retoma o vocábulo viver de I d 1, e o
segundo verso de F II retoma fazer, de F I.
464 (CV. 576) abbacca, cca. Coblas uniss. Os dois primeiros versos de F e
III c 1 terminam igualmente em oir.
CB. 1530 (403) abbacca; ba. Rims sing. A rima I b serve como a em II, e
cada uma das três estrofes tem dois dobres, I a fiz, I b bem, II quen, cobrar
(o segundo cobrar falta, juntamente com o verso como um todo); III y,
prez. O primeiro verso de F retoma a palavra-rimante ben de I.
1550 (423) abbacca; cca; cca. Tensó. O segundo verso de F II e o de III
c 1 terminam, de forma idêntica, em hy.
1551 (424) abbacca; bba, bba. Tensó. O primeiro e o quarto versos de cada
estrofe formam um dobre (á, já, razon, son). O primeiro verso de F I repete
a palavra-rimante sen de III c 1, e o segundo verso de F II retoma a de III
c 2 (poren).
CV. 370 abbacca; bba. Estrofes de rims singulars, mas ligadas pela rima
b de I, que serve como a de II, e pela rima a de I, que serve o mesmo
propósito em III. O primeiro verso de F e I b 1 terminam igualmente em
son.
509 abbacca; cca. Coblas uniss. O segundo verso de F retoma a palavra-
rimante asy de II c 1.
560 A ordem da rima em I é aabccbdad; a de II: aabccbdde, sendo d de I
em –or, d de II em –en. A fiinda traz: aaeff. Embora não sejam infrequentes
irregularidades desse tipo nos poemas dessa escola poética, no presente
caso elas podem ser devidas ao copista. Põe-se a questão se mal (II e), em
lugar de ser uma palavra-rimante isolada, não pretenderia fazer assonância
com amar-dar, em cujo caso a ordem da rima de II deveria ser estabelecida
como aabccbddb. O primeiro verso de F está de acordo com I a 3, terminando
igualmente em asy.
925 abbacca; cca. Rims sing. O último verso de F tem a mesma palavra-
rimante (vem) que III a 3 (convem).
591
983 abbaccb; bbb. Rims sing., exceto quanto à rima a, que continua até o
fim. Os dois primeiros versos de F concordam com II b, o último verso,
com III b. O segundo verso de F e o de II b 2 terminam igualmente em
fazer.
1064 abbacca; dda, dda. Coblas unissonans, diferenciadas, contudo, pela
variação da rima c de estrofe a estrofe. O terceiro verso de F I repete a
palavra-rimante pagado de II a 3.
1159 abbacca; cca. Pares de coblas unissonans. O segundo verso de F e o
de III c 2 terminam, de forma idêntica, em á (matar-s’á, perder-s’á).
592
593
7
Não se pode subscrever a hipótese, enunciada por De Lollis (Vita e poesie di Sordello di Goito,
Halle, 1896, p. 28 ss.), de uma primeira estada de Sordel na corte de Fernando III de Castela, de
1229 a 1232, e de uma viagem posterior a Espanha e Portugal perto de 1241. Consultem-se,
acerca desta edição das canções de Sordel, as resenhas de F. Torraca em Giornale Dantesco IV,
pp. 1-43; de O. Schultz-Gora em Zeitsch. f. roman. Philol. XXI, pp. 237-259; de C. Appel, em
Literaturblatt, 1898, p. 227 ss.; de Levy, Zeitsch. f. roman. Philol. XXII, pp. 251-258.
8
Veja-se o texto citado mais abaixo.
9
Ed. de C. de Lollis, nº. XXV.
594
10
Vejam-se ainda os nºs. IV, V, X, XV, XXIII, XXIV, XXVII, XXXIII, XXXIV, XXXVII da mesma
edição.
11
Confiram-se ainda os nºs. II, III, V, VIII, XI na edição de Jules Coulet, Le troubadour Guilhem de
Montagnagol (Toulouse, 1898).
12
CD (1894), p. CXXXVII e nota 6. [neste volume, p. 172, nota 535]
13
Tit. iv, c. 4: E se for a cantiga de meestria, deve a fiida rimar con a prestuneira [sic] cobra; e se for
de refram, deve de rimar con o refram.
595
A. – CASOS REGULARES
Nestes casos há identidade de rima entre a fiinda e a estrofe ante-
cedente. Para maior clareza começamos por citar o texto de alguns exemplos.
Martin Soares. “Maravilho-m’eu, mia senhor”. (CA. 42
= CCB. 154).
14
Os trovistas galaico-portugueses empregaram a fiinda muito menos do que os provençais. Sub-
traindo do total de 1195 cantigas do Cancioneiro da Vaticana as 54 de textura paralelística,
achamos que de entre as restantes 1141 somente 297 têm fiindas (106 sendo cantigas de meestria,
191 de refrão). O Cancioneiro da Ajuda (ed. de C. M. de Vasconcelos) contém 455 cantigas
completas, 225 sendo de meestria, 230 de refrão. Do primeiro grupo, 77 têm fiindas, do segundo,
59.
15
Vid. Biadene, La forma metrica del commiato (em Miscellanea di Filologia e Linguistica, Flo-
rença, 1886) p. 369. – Talvez se possam considerar como exemplos portugueses de tal uso, e.g.,
os nºs. CA. 4, 15, 28, 68, 82, 93, 199, 247, 320, 343, 357, 367, nos quais a estrofe final e a
antecedente têm rimas idênticas.
16
Como casos desta peculiaridade poderão mencionar-se CA. 3 (= CCB. 93), 50 (CCB. 162), 167-
8 (CCB. 319), salvo o verso final isolado, que se liga à fiinda antecedente; CV. 222, 456, 480,
706, 1142, e talvez o verso final de 208 (CD. LXXVI), precedido de uma fiinda de três versos.
596
E ja eu muitos namorados vi
que non dauan nulha ren por auer
sas senhores mal, pois assi prazer
fazian, e por esto dig’ assi:
Se eu mha senhor amo polo meu
ben, e non cato a nulha ren do seu,
non am’eu mha senhor, mais amo mi.
E mal mi venha se atal fui eu,
ca desque eu no mund’andei por seu,
amei sa prol muito mais c’a de mi.
Resta citar a cantiga CV. 208 (CD. LXXVI), cujo texto, muito
viciado em ambos os apógrafos italianos, ainda agora não satisfaz. Nesta
poesia D. Denis, a quem está atribuída no CV., exprime, conforme já ficou
indicado, a concepção idealizada do amor que distingue a época posterior
da lírica provençal. Tiro o texto, que aqui transcrevo para maior comodida-
de do leitor, com algumas alterações, da redação que publiquei em 1895
em Modern Language Notes X, p. 110 [neste volume, p. 466]19:
17
Ambas as cantigas têm estrofes equiconsoantes, diferenciadas porém pela rima c, que varia de
estrofe em estrofe.
18
Veja-se mais acima, p. 592.
19
No mesmo lugar vem citado, para confronto com a cantiga portuguesa, o sirventês de Montagnagol
que começa: “Nulhs om no val ni deu esser amatz”. [neste volume, p. 467]
597
20
Quem não admitir o uso de hiato entre muito e amo, uso que todavia é muito comum na praxe
seguida pelos trovadores, poderá suprir a sílaba de que se carece pela inserção de que depois de
pero. A conjunção concessiva pero que alterna com pero, por ex., CD. vv. 15, 175, 366, 369;
CA. vv. 1514, 3320, 3326; CM. nº. 82 etc.
21
A forma moderna conheço, em lugar das mais arcaicas conhosco, conhoço, que são as regulares
nos nossos Cancioneiros, é devida, como se sabe, à analogia dos verbos em -ecer. Em manuscri-
tos do século XV, p. ex. nos da “Vida de S. Aleixo” (Revista Lusitana I, pp. 334-345), conhoçer
alterna ainda com conheçer.
22
O hemistíquio está falto de uma sílaba. Talvez se deva acrescentar o pronome adverbial én depois
de aver.
23
O 2º. hemistíquio tem uma sílaba a maior, a menos de se supor anacruse ao princípio, ou sinalefa
entre as duas secções do verso, procedimentos que, como se sabe, se dão em vários metros anti-
gos, como, por ex., no dodecassílabo e no verso de arte maior. Confira-se F. Hanssen, Zur
spanischen u. portugiesischen Metrik (Valparaíso, 1900), pp. 3, 6, 8, 9, 12; 34 ss.; 53 ss.; 63-4;
Metrische Studien zu Alfonso u. Berçeo (Valparaíso, 1903), p. 20 ss.
24
O hemistíquio anda falho de uma sílaba. Enquanto não se ofereça emenda mais feliz, proponho
que se acrescente gram ao princípio. – A construção da primeira parte da estrofe não é bem clara.
25
Hi bisunha CV; viinha CCB. – Nos nossos Cancioneiros, tanto proveito como prol aparecem
invariavelmente contruídos com aver, teer, seer, não com viir. Assim CA. 341 (CCB. 57) v. 17-
18. “Pois eu entendo, mia senhor, Quam pouco proveito me tem De vos dizer”; 31 (Tr. v), v. 14:
“Quando me prol nom tem cousimento”; 58 (CCB. 169), v. 16: “E se me contra vos gran ben prol
non tover”; CD. vv. 394, 463, 1439 etc.; Graal (ed. Reinhardstoettner), p. 100, 16-17: “E porem
leixei a batalha, ca bem vi que nom tynha i prol”.
26
Pelo que respeita à medida do 2º. hemistíquio, veja-se a nota 23 acima.
27
O hemistíquio está bem, quanto à medida, se admitirmos o uso de hiato entre o pronome átono
me e eu (e encontros parecidos de vogais), procedimento que, embora não frequente, é menos
598
raro do que se supõe (cf. Zeitsch. für roman. Philol. XXXII, pp. 144-147 e 392-394 – [neste
volume, pp. 398-401 e 448-449]). Parece, contudo, que o texto transmitido precisa de retifica-
ção, visto ser pouco regular e saliente o nexo sintático entre a fiinda e a estrofe antecedente.
Estou disposto, portanto, a introduzir ao princípio do verso a conjunção e, que na lírica trovado-
resca se emprega muitíssimas vezes para começar estrofes, assim como orações independentes e
mesmo subordinadas (cf. CD. nº. 1, 5, 12, 13, 16, 19, 21, 25, 29, 30 etc., e Carolina Michaëlis de
Vasconcelos, Glossário do Cancioneiro da Ajuda, s. v. e), e mudar que pois em pois que. Uma
lição mais correta do verso seria pois: “E pois que m(e)’eu cham(o)’e sõo servidor”.
28
Visto a fiinda principiar por dois versos independentes da cantiga, quanto à rima, não é de estra-
nhar que o último verso, que conclui o argumento, esteja sem consonância, sendo verso realmen-
te solto. Veja-se a nota 16.
29
Zeitsch. f. roman. Philol. XXVII, p. 189. [Vid. O. Nobiling, As cantigas de D. Joan Garcia de
Guilhade e estudos dispersos, p. 168. (N.E.)]
30
Conforme fiz notar no meu artiguinho sobre a suposta forma provençal afron em Romanic Review
VII (1916), pp. 177 e 349.
31
Bluteau, Dicc., s.v.
599
Ventadorn (ed. Appel) nº. 17, vv. 2 e 28 tener, “ter” e “prender”; nº. 22,
vv. 30 e 45 umana, “bondosa” e “humana”.
Parece pois acertado considerarmos a cantiga CV. 208 como mais
um exemplo do uso de rima idêntica na fiinda a aditar aos que vêm registados
na lista que se segue.
600
601
32
A rima c da 1ª. copla (quiser’; devêr) é um exemplo das rimas impuras a que os trovadores
recorriam de vez em quando. Vejam-se os casos que citei a propósito do verso 2 da cantiga CA.
602
B. – CASOS EXCEPCIONAIS
I. A fiinda liga-se ao artifício do dobre empregado no corpo da
cantiga. Estes casos formam grupo especial de per si.
CA. 135 (CCB. 256) abbacca; aa. Estrofes pareadas, cada uma
das quais tem um dobre no primeiro e último verso (será, já, ren, ben). A
fiinda tem as mesmas rimas que a 2ª. e 3ª. estância.
136 (CCB. 257) abbacca; ca. Estrofes equiconsoantes, com a
mesma rima (ben) no princípio e fim de todas as coplas, assim como no fim
da fiinda.
CV. 542. aaabab; ab. Estrofes singulares. Os versos 2 e 5 de cada
copla formam dobre (prazer, ben, senhor). A fiinda repete a palavra senhor.
680. abbacca; cca. Estrofes equiconsoantes. Os versos 1 e 4 de cada
estância formam dobre (dizer, poder, morrer). A fiinda repete o vocábulo morrer.
1142. abbacca; dda2. Estrofes singulares. O primeiro e o último
versos de cada estrofe têm rima idêntica, de sorte a formar dobres (ajudasse,
tenho, filho, dano). O último verso da fiinda repete a palavra tenho.
414 (CCB. 266), em Zeitsch. f. rom. Philol. 32, pp. 391-392 [neste volume, pp. 446-447], e no
volume consagrado à memória da Sra. D. Carolina Michaëlis de Vasconcelos. Pelo que diz res-
peito à forma dever posta em rima com quiser, vejam-se, no entanto, as formas do futuro do
conjuntivo devier, tevier, tevieren, do “Testamento de D. Afonso II” (1214), na Revista Lusitana
VIII, pp. 82-84, e a recente observação de Rodrigues Lapa na revista A Língua Portuguesa, 1
(1929), p. 44.
603
* Sic. O sentido, contudo, é de “retoma”, provavelmente uma interferência do verbo inglês “to
resume”, retomar. (N.E.)
33
Escusado dizer que nem sempre é possível decidir se a repetição é intencional ou fortuita.
604
605
ADENDA
I. – À lista dos exemplos.
A. – CV. 479. abbabac; abc. Quatro estrofes singulares. O segundo
verso da fiinda repete a palavra rimante de IV b 2 (sey).
482. abbacca; cca. Quatro estrofes singulares. O 2º. verso da fiinda
tem a mesma rima que IV c 2 (seu).
B (a) CA. 132 (CCB. 253) abbacca; dda. Três estrofes singulares.
O último verso da fiinda tem a mesma rima que I a 1, 3 (senhor).
(c) CV. 53 (CA. 264) ababbc; aac. Quatro estrofes equiconsoantes.
O 2º. e 5º. versos de cada copla têm rima idêntica (matar, falar, pesar,
queixar). O verso inicial da fiinda repete a palavra rimante de I b 2
(amparar).
643. abbcacb; bcb. Três estrofes equiconsoantes, diferenciadas
porém pela rima a, que varia de estrofe para estrofe. O último verso da
fiinda tem a mesma rima que I b 1 (nacer).
654. ababccd; ccd. Quatro estrofes equiconsoantes. O 2º. verso da
fiinda repete a palavra rimante de III c 2 (fazer).
606
607
AFONSO X. Las Siete Partidas del Rey Don Alfonso el Sabio cotejadas con varios
códices antiguos por la Real Academia de Historia. Madrid: Imprenta Real, 1807.
_____ Setenario (ms. 43-20, Bibl. Capitular da Catedral de Toledo; ms. P II 20, Real
Biblioteca del Escorial; ms. 12991, Biblioteca Nacional de Madrid.) Publicado em
parte por Miguel de Manuel Rodríguez, in Memorias para la vida del santo rey don
Fernando III. Madrid, 1800.
APPEL, C. Das Leben und die Lieder des Trobadors Peire Rogier. Berlim: G. Reimer,
1882.
______ “Poésies provençales inédites tirées des manuscrits d’Italie”, em Revue des
langues romanes 40 (1897), pp. 405-426.
_____ Bernart von Ventadorn: seine Lieder, mit Einleitung und Glossar. Halle: Max
Niemeyer, 1915.
ARCHIV = Archiv für das Studium der neueren Sprachen und Literaturen. Ed. L.
Herrig. Braunschweig, 1846-
BAIST, G. Don Juan Manuel. El libro de la caza. Halle: Max Niemeyer, 1880.
_____ Romances et pastourelles françaises des XIIIe. et XIVe. siècles. Leipzig, 1870.
610
_____ “The eleven songs of Joan Zorro”, em Modern Language Review XV (1920),
pp. 58-64.
_____ “The Hill Songs of Pero Meogo”, em Modern Language Review XVII
(1922), pp. 258-262.
_____ Vida de Santo Domingo de Silos. Em Poetas Castellanos..., pp. 39-64. (Éd.
Critique, publiée par J. D. Fitz-Gerald. Paris: Émile Bouillon, 1904.)
BIADENE, L. “La forma metrica del commiato nella canzone italiana dei secoli 13.
e 14.” Florença: Tip. dei Successori Le Monnier, 1885. (Sep. da Miscellanea di
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