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29/01/2018 Zilma de Moraes Ramos de Oliveira: Educação Infantil na Base Nacional Comum Curricular ­ Entrevistas ­ Plataforma do Letramento

Zilma de Moraes Ramos de Oliveira: Educação Infantil na Base
Nacional Comum Curricular
A aprendizagem na Educação Infantil oscila entre dois parâmetros,
que muitas vezes se contrapõem: o brincar e o alfabetizar. Se, de um
lado, há educadores e escolas que defendem as brincadeiras como
parte da aprendizagem das crianças, de outro, há aqueles que focam
na alfabetização, desenvolvendo práticas do Ensino Fundamental.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) buscará esclarecer essa
questão, orientando a produção de propostas curriculares de escolas públicas e privadas ao longo de toda a
Educação Básica, incluindo a Educação Infantil. O portal da BNCC foi lançado em julho de 2015, e, após a
divulgação da versão preliminar e da abertura à consulta pública, o documento final será apresentado em junho
deste ano.

A Plataforma do Letramento entrevistou a professora Zilma de Moraes Ramos de Oliveira, professora livre­
docente aposentada da Universidade de São Paulo (USP), coordenadora do curso de especialização em Educação
Infantil do Instituto Superior de Educação (ISE) Vera Cruz e consultora do Ministério da Educação (MEC) na
definição da BNCC.

Plataforma do Letramento: Qual é a importância da Educação Infantil na vida escolar do aluno?
Zilma de Moraes Ramos de Oliveira: É de grande importância no desenvolvimento infantil, desde que sejam
asseguradas boas condições de atendimento a seus direitos educacionais, como propõe a BNCC: conviver, brincar,
explorar, participar, expressar e conhecer­se.

PL: Quais são os objetivos de estabelecer a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para a Educação
Infantil?

ZMRO: A BNCC deve orientar a elaboração dos projetos pedagógicos das
unidades de Educação Infantil e a prática pedagógica cotidiana com as
crianças. Isso é particularmente importante neste momento em que a
identidade do trabalho pedagógico nessa área ainda não é de todo
compartilhada.

PL: Como foi o trabalho de elaboração e construção da proposta para a BNCC?
ZMRO: Foi um trabalho com ampla participação tanto de universidades quanto de docentes indicados pelo
Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de
Educação (Undime), com representação de todas as unidades da federação. Essa equipe de cerca de 120 pessoas
preparou uma versão preliminar, que ficou disponível para consulta pública por seis meses, com mais de 12
milhões de acessos. A partir das contribuições dessa consulta e de pareceres de leitores críticos e da sociedade
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científica, a equipe preparou uma segunda versão, entregue em 3 de maio deste ano para o Conselho Nacional de
Educação (CNE). Esse órgão ouvirá as manifestações das 27 unidades federativas, coordenadas pelo Consed, e
deverá aprovar parecer e resolução que estabelecem a BNCC como orientadora dos sistemas de ensino. 

PL: A Educação Infantil recebeu muitas sugestões e contribuições para a BNCC?
ZMRO: Foram muitas contribuições de professores, escolas, redes de ensino e
instituições. As principais contribuições foram no sentido de apresentar os
objetivos de aprendizagem por faixas de idade e de explicitar melhor o trabalho
com a leitura e a escrita na Educação Infantil. Já a organização curricular por
campos de experiências foi muito bem recebida por se diferenciar da estrutura de
campos de experiência adotada pelos Ensinos Fundamental e Médio e por
responder melhor às características das crianças menores de 6 anos.

PL: Quais os maiores desafios da Educação Infantil na BNCC, em
relação, por exemplo, à grade curricular e às atividades inadequadas?
ZMRO: O maior desafio é construir com as equipes escolares uma visão de planejamento pedagógico que
considere principalmente o modo de a criança ser, aprender e desenvolver­se, em vez de pensar em definição
prévia de conteúdos a serem dominados, muitas vezes de forma mecânica, pelas crianças por meio de atividades
descontextualizadas das experiências infantis.

PL: A BNCC segue as atuais Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil (DCNEI), que
determinam que a proposta pedagógica deve respeitar as especificidades
etárias, sem antecipar os conteúdos a serem trabalhados no
Ensino Fundamental. No entanto, muitas escolas iniciam a
alfabetização já nessa etapa, muitas vezes buscando atender à
expectativa dos pais e responsáveis. Como iniciar o letramento
das crianças sem necessariamente ensiná­las a ler e a escrever,
mas de forma harmônica com uma proposta de educação
lúdica?
ZMRO: O ponto básico para entender essa polêmica é que, diante do paradigma defendido tanto nas DCNEI
quanto na BNCC, que reconhece o protagonismo das crianças em suas aprendizagens, o foco não se coloca no
objeto cultural a ser conhecido pela criança, no caso a linguagem alfabética, assim como poderíamos também
dizer dos conhecimentos matemáticos, as noções já sistematizadas pelas ciências da natureza e ciências humanas.
O foco deve ser posto na atividade da criança em atribuir significado a esses objetos e se apropriar deles de modo
singular em experiências em que esses objetos estão presentes, instigando a curiosidade por meio de formas mais
promotoras do desenvolvimento nessa idade: na interação com parceiros ao brincar, na exploração do contexto,
na expressão de necessidades e concepções. Assim, o
contato da criança com a leitura e com a escrita se faz desde cedo, por meio da escuta de histórias, do
aprendizado de parlendas e trava­línguas, e das brincadeiras de escrever, ainda que de modo não convencional.
Dessa maneira, a proposta pedagógica da Educação Infantil obedece às DCNEI no sentido de se respeitarem as

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especificidades etárias, sem antecipar os conteúdos que serão trabalhados
no Ensino Fundamental. Essa concepção do trabalho com a língua escrita
deve ser levada ao conhecimento dos pais e responsáveis. Acredito que
deverá haver uma boa e necessária alteração das práticas educacionais
escolares quanto às especificidades etárias. Além disso, a formação inicial e
continuada dos professores é fundamental para a BNCC produzir bons
efeitos nos sistemas de ensino.

PL: Como o brincar e o trabalho com outras linguagens e formas de
expressão são vistos na BNCC?
ZMRO: O brincar na BNCC é tratado como direito e como principal recurso
de desenvolvimento da criança. Nos diferentes campos de experiências, o
brincar aparece como objetivo a ser trabalhado, já que a brincadeira é
mediadora de aprendizagens significativas em todos eles. O trabalho com
diferentes linguagens parte da constatação de que hoje a criança vive circundada
pela música, pela dança, pelo teatro, pelas linguagens plásticas do desenho, da
pintura, da escultura etc. Muito já se sabe sobre como orientar adequadamente
a apropriação dessas linguagens pela criança desde muito pequena.

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