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] a
refutação dessa cultura pela realidade [...] traiu as esperanças e destruiu a verdade que
eram preservadas nas sublimações da cultura superior [...] a cultura superior esteve
sempre em contradição com a realidade social, e somente uma minoria privilegiada
gozava de suas bênçãos e representava os seus ideais.
A cultura superior ocidental foi pré-tecnológica [...] feudal [...] até mesmo quando o
período burguês lhe deu algumas de suas formulações mais duradouras [...] suas obras
autênticas expressaram uma alienação consciente, metódica, de toda a esfera dos
negócios e da indústria.
Conquanto essa ordem burguesa tenha encontrado sua representação rica continuou
sendo uma ordem que foi empanada, desbancada, refutada por outra dimensão
irreconciliavelmente antagônica [...] essa outra dimensão não está representada pelos
heróis religiosos, espirituais e morais, mas por caracteres demolidores como o artista, a
prostituta, a adúltera, o grande criminoso, o guerreiro, o poeta insubmisso, o demônio, o
tolo [...]. Esses caracteres não desapareceram da literatura na sociedade industrial
desenvolvida, mas sobreviveram essencialmente transformados [...] Não mais imagens
de outro estilo de vida, mas aberrações ou tipos da mesma vida, servindo mais como
afirmação do que como negação da ordem estabelecida.
Essa lacuna essencial entre as ordens e a ordem do dia, conservada aberta na alienação
artística, é progressivamente fechada pela sociedade tecnológica em desenvolvimento.
E, com o seu fechamento, a Grande Recusa é, por sua vez, recusada; a "outra dimensão"
é absorvida pelo estado de coisas predominante [...] Os privilégios culturais
expressaram a injustiça da liberdade, a contradição entre ideologia e realidade, a
separação entre produtividade intelectual e material; mas também garantiram um campo
protegido no quais verdades feitas tabus podiam sobreviver com integridade abstrata -
afastadas da sociedade que as suprimia. Agora, esse afastamento foi removido - e, com
ele, a transgressão e a denúncia [...] a contradição é a obra do Logos – confronto
racional daquilo "que não é" com aquilo "que é" ela deve ter um meio de comunicação.
No passado a cultura superior era o espaço da recusa, e tal recusa não pode ser
bloqueada sem uma compensação que pareça mais agradável do que a recusa. A
conquista e a unificação dos opostos, que encontram sua glória ideológica na
transformação da cultura superior em popular, ocorrem num campo material de
crescente satisfação. Esse é também o campo que permite uma dessublimação
arrasadora.
Supondo-se que o Instinto de Destruição (em última análise. o Instinto de Morte) seja
um grande componente da energia que alimenta a conquista técnica do homem e da
natureza, parece que a crescente capacidade da sociedade para manipular o progresso
técnico também aumenta a sua capacidade para
manipular e controlar esse instinto, isto é, para satisfazê-lo "produtivamente". Então, a
coesão social seria fortalecida nas mais profundas raízes instintivas. O supremo risco e
até o fato de uma guerra teriam não apenas aceitação inapelável como também
aprovação instintiva por parte das vítimas. Teríamos
aqui também dessublimação controlada [...] A dessublimação institucionalizada parece,
assim, ser um aspecto da "conquista da transcendência" conseguida pela sociedade
unidimensional [...] O resultado é a atrofia dos órgãos mentais, impedindo-os de
perceber as contradições e alternativas e, na única dimensão restante da racionalidade
tecnológica, prevalece a Consciência Feliz.