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De Maio a 31 de Agosto de 1942

Nilo, Cáucaso e Volga


Tópicos do capítulo:

Batalha dos estaleiros, contra os U-Boote


Um instrumento de vitória: o Liberty-Ship
Na Rússia, Hitler continua a desdenhar Moscou
8 de maio: objetivo da ofensiva alemã - Sebastopol
19 de junho: fim do segundo cerco de Sebastopol
28 de junho: Operação Azul. Meta: Stalingrado
Discussões anglo-americanas sobre a segunda frente
O drama do comboio PQ 17
26 de maio: começa o ataque contra Gazala
Bir-Hakeim: a França reencontrou sua alma
Churchill em Washington - Queda de Tobruk
O Exército alemão no rumo da Ásia
Von Bock, o último dos vencedores de maio de 1940, cai em desgraça
A Wehrmacht vê arder o petróleo que cobiçava
Prolonga-se a guerra no Don e ante Stalingrado
19 de agosto: desembarque britânico em Dieppe
É atingido o Volga
Não há segunda frente. Churchill parte para Moscou
Rommel esgotado. Montgomery, chefe do 8o Exército
A guerra a meio caminho

Apogeu

O verão de 1942 é o ponto culminante da guerra. Se o Japão recebe um golpe que o detém em Midway, a
Alemanha, por outro lado, conhece triunfos que voltam a dar a impressão de sua invencibilidade. Mas as
forças gigantescas que se elevam contra ela farão desses brilhantes feitos de armas vitórias de Pirro.

No Atlântico, o lance teatral do inverno foi o aparecimento devastador dos U-Boote nas costas americanas.
Doenitz pôs em serviço um submarino de longo cruzeiro, o tipo 9, assim como um submarino reabastecedor
de submarinos, transportando 600 toneladas de combustível. A extensão do raio de ação dado à guerra de
tonelagem constitui total surpresa. O U-123, sob o comando de Hardegen, entra na enseada de Nova Iorque
e, brincando, afunda 50.000 toneladas. Outros comandantes singram as proximidades do cabo Hatteras,
penetram no golfo do México, levam seus torpedos até as Antilhas. As embarcações ribeirinhas de Nova
Jersey e das Carolinas ouvem a guerra pelas explosões que fazem vibrar os ares. No entanto, a costa,
mantendo suas luzes do tempo de paz, ajuda o inimigo e, quando o blackout é, enfim, decretado, a Flórida
recusa-se a aplicá-lo, para não comprometer sua temporada de turismo. A valente e feliz América aceita os
sacrifícios da guerra, mas não seus incômodos. As tímidas restrições ordenadas em relação à gasolina, aos
pneus e à carne encontram veemente oposição.

Durante os primeiros meses de 1942, a hecatombe da tonelagem prossegue, ao longo das costas americanas.
Atinge, em maio, 491.000 toneladas, 91 navios, ou seja, dois terços das perdas totais, no Atlântico. “U-Boat’s
Paradise”, dirá Churchill... Felizmente, o número de submarinos de Doenitz é insuficiente para que ele possa
levar muito a fundo as suas vantagens. Um terço de sua centena de navios está detido nas águas
mediterrâneas e escandinavas: feitas as contas das travessias de ida e volta, 7 ou 8 submarinos, no máximo,
podem operar, ao mesmo tempo, no hemisfério ocidental. O perigo diminui do momento em que os Estados
Unidos, ajudados pelos especialistas ingleses, se decidem a organizar seriamente a luta em suas águas
costeiras. Desde o verão de 1942, o “Paraíso dos U-Boats” é um paraíso perdido.

A batalha decisiva desenrola-se nos estaleiros. Ao abordar o estudo de seus planos estratégicos, os Aliados
descobrem que suas necessidades de tonelagem excedem as possibilidades, que a guerra aeronaval reduz,
cada dia. Trata-se não apenas de compensar as perdas, mas de construir mais do que destroem os alemães, os
italianos e os japoneses. O necessário é feito magistralmente. Antes de Pearl Harbor, os estaleiros Todd-
Kaiser terminaram, para a Inglaterra, um navio de carga de 11.000 toneladas, destinado a ser construído em
série. Sob o nome de Liberty Ship, esse barco se torna um instrumento de vitória. Pré-fabricados, os navios
são convocados em um prazo que acabou por ser reduzido a quatro dias. O mar está trágico. Dezenas de
cargueiros e de petroleiros explodem, incendeiam-se e afundam. A travessia de um comboio é uma longa
agonia. As tripulações mercantes são atiradas a provas mais terríveis do que as batalhas dos soldados:
volatizam-se nas chamas, ou agonizam, lentamente, na água gelada. No entanto, a arma submarina não
recupera o caráter mortal que possuía durante a Primeira Guerra Mundial, quando os torpedeamentos
puseram os Aliados a um passo da derrota. 1942 lembra 1917: não o reproduz.

Alvo: o Cáucaso - Primeiro objetivo: Sebastopol

Na Rússia, Halder e outros generais pensam que as perdas soviéticas sofridas pelo Exército alemão, durante
o inverno, impedem uma retomada das operações ofensivas de grande envergadura. Supõem que a
Wehrmacht deve estar apertando seu front, reconstituindo reservas, melhorando suas linhas estratégicas.
Provocando os russos à ofensiva e infligindo-lhes derrotas sucessivas, através de réplicas poderosas. Mas
ninguém ousa sustentar essa tese diante de um Fuhrer cuja autocracia, longe de se moderar, acentuou-se sob
o efeitos dos reveses.

Segundo Hitler, tudo deve ser jogado na ofensiva para atingir, em 1942, o alvo que o inverno russo lhe
arrancou, em 1941: o aniquilamento do Exército Vermelho. Sabe ele que, por intervenção dos Estados
Unidos, desapareceu a esperança de uma guerra curta. Não ignora que projetos da invasão da Europa
amadurecem nos estados-maiores anglo-americanos. A destruição do Exército soviético e o rechaço dos
russos atrás dos Urais permitirão ao Terceiro Reich encontrar forças necessárias para evitar decisivamente o
perigo. Coberta a oeste, a Alemanha conservará a iniciativa a leste, fazendo desembocar, dos Bálcãs e do
Cáucaso, uma poderosa ofensiva que, em conjunto com a ação secundária conduzida por Rommel, se
apoderará de todo o Oriente Médio. Hitler espera, assim, organizar um tal mapa de guerra político e
econômico que o prolongamento indefinido das hostilidades perderá toda a importância. A Alemanha estará
preparada para esperar o esgotamento e a rendição das potências marítimas. Mas será preciso que a última
espada continental dessas potências - a Rússia - seja quebrada.

No dia 5 de abril, Adolf Hitler assina sua Diretiva n° 41. Longo documento, no qual dissertações sobre a arte
militar e até redundâncias de propaganda interferem com a sobriedade da linguagem estratégica. As idéias
gerais não se libertam dessa propaganda. Hitler permanece fiel a Hitler. Continua a desdenhar Moscou, da
qual a frente alemã ainda está a 150 km, e persiste em procurar a decisão pelas alas. Será no Sul, na estrada
do Cáucaso, que a Wehrmacht fará levar seu primeiro reforço. Duas operações preliminares repararão duas
derrotas do inverno, fornecerão à Wehrmacht bases de partidas. Na Criméia, a península de Kertch será
reconquistada e o cerco de Sebastopol bem conduzido. Na Ucrânia, a frente rompida do Donetz será
reparada. A ação que se desencadeará, em seguida, a Operação Azul, se desenvolverá em três fases, seguidas
de uma final. Na primeira, os Exércitos do Grupo Sul atacarão pela sua esquerda e aniquilarão os exércitos
russos, na região de Voronej. Na segunda, cercarão os russos, entre Donetz e Don. Na terceira, a ala esquerda
descerá, a ala direita remontará o curso do Don. Farão junção na região de Kalatch e, vencendo os 50 km que
separam do Volga e Don, tomarão Stalingrado. A marcha geral rumo ao Cáucaso será o coroamento da
campanha de verão.

O plano da Diretiva n° 41 consiste, pois, em estabelecer um imenso flanco defensivo, de Stalingrado a


Voronej, com o objetivo de isolar o Cáucaso e de permitir sua conquista. Hitler não matou, como se diz, dois
coelhos com uma só cajadada, determinando dois alvos separados, por 1.000 km de montanhas e de estepes.
A incompatibilidade dos objetivos, porém, só aparecerá depois, quando a eterna impaciência do Fuhrer o
levará a querer marchar sobre Bacu, antes que esteja terminada a batalha de Stalingrado. Mas, na arquitetura
primitiva do plano, Stalingrado é o trinco de uma fechadura sob a proteção da qual Hitler quer agarrar uma
zona cuja posse - acredita ele - lhe permitirá sustentar a guerra indefinidamente.

A fraqueza fatal do esquema de Hitler reside na desproporção dos objetivos e dos meios. Para sua ofensiva
de verão, o Grupo Sul dispõe de 60 divisões alemães, das quais apenas 9 blindadas. Os romenos, os italianos
e os húngaros lhe acrescentam 28 divisões, mas o OKH é generoso. Contando-as pela metade de uma divisão
alemã, na defensiva, e por um terço, na ofensiva. Seriam necessárias forças duplas - e, no entanto, Hitler teve
que reduzir, abaixo do limite de segurança, a 85 divisões, somente, as forças que mantêm 2.000 km de frente
defensiva entre Voronej e a Carélia.

Essas desproporções flagrantes, Hitler as combate, ou melhor, as exorciza, repetindo que o inimigo está
esgotado. O postulado vem à frente da Weisung n° 41, como princípio sobre o qual tudo se encaixa. “Em seu
esforço para provocar uma decisão, o inimigo consumiu, neste inverno, as massas que lhe eram necessárias
para operações posteriores...”. Os Serviços de informações não confirmam esse axioma, mas Hitler recusa os
serviços de informações, por incompetência e má disposição. “Ele explodiu de furor - conta Halder - quando
lhe quiseram dizer que os russos produziam 1.200 tanques por mês...”. Todos os guerreiros percorrem um
caminho estreito, bordado de precipícios. Inclinar-se diante dos fatos, renunciar a impor-lhes sua vontade
conduz à passividade e ao desastre. Injuriar os fatos, pensar que a vontade é soberana e que o possível não
tem limites conduz ao excesso e ao desastre. Hitler caiu, irremediavelmente, no segundo desses abismos.
Tudo quanto ordenar, daí por diante, será marcado de irrealidade.

A 8 de maio começa a primeira das ofensivas preliminares, a de Manstein, na Criméia. O 44 o e o 51o


exércitos russos entrincheiraram-se no pequeno istmo de Parpatch, cuja atração foi fatal ao infortunado
Conde Sponeck. Manstein engana-os mediante um desvio ao norte e derrota-os ao sul. Dez dias mais tarde, a
reconquista de Kertch está acabada. O 11 o Exército fez 170.000 prisioneiros, para menos de 8.000 mortos,
feridos e desaparecidos.

Resta-lhe a mais difícil de suas tarefas: tomar Sebastopol.

Durante o inverno, a cidade sitiada refortaleceu-se, pois suas comunicações marítimas permaneceram
abertas. O exército sob o comando do General Petrov, conta com 9 divisões de infantaria, várias unidades de
tanques, uma pequena força aérea, 1.600 canhões. A forma das margens permite o estabelecimento de uma
posição relativamente curta, indo do vale de Belbeck à enseada de Balaclava. Os nomes evocativos da
expedição franco-britânica de 1855 levantam-se, em grande quantidade, no pequeno campo de batalha. Ao
norte, o terreno é relativamente desimpedido, mas os russos ali amontoam posições defensivas, que vão de
velhos fortes modernizados, armados de canhões 305 a muralhas de infantaria. A leste, tudo é caótico. Curtas
colinas, cobertas de moitas, entravadas de barrancos, tornam difícil o avanço da infantaria. A aresta rochosa
de Sapun ergue-se retilínea como uma muralha. Sebastopol está do outro lado, na margem meridional da baía
de Svernayia, que lhe serve de defesa contra um ataque vindo do norte. Apesar das fortificações e do
obstáculo da baía, Manstein decide fazer levar seu esforço inicial ao setor norte. O brilhante adepto da guerra
rápida se transforma em técnico de uma batalha de material.

Vai procurar, no arsenal alemão, os mais excepcionais calibres: 305, 350, 420. Melhor, ainda: dois super-
morteiros de 60 cm, Thor e Odin. Ainda mais: um monstro, Dora, que foi construído em segredo, para
penetrar as fortificações da Linha Maginot. É o mais gigantesco canhão que jamais existiu: calibre, 82 cm.;
peso do projétil, 7 toneladas; comprimento do tubo, 30 metros; altura da carreta, a de uma casa de dois
andares. Sessenta trens foram necessários para transportar a peça e seus acessórios - e 4.000 homens a
servem ou protegem. Dora só atira três obuses por hora, mas que arrasam um abrigo de 30 m de
profundidade.

Assim - fato novo na Segunda Guerra Mundial -, Sebastopol é uma batalha de artilharia. Manstein põe em
forma 208 baterias e faz preceder a saída de sua infantaria por um Trommelfeuer de cinco dias. O 8 o Corpo
Aéreo, de Von Richthofen, auxilia-o com a artilharia do céu. As 4 divisões do 54 o Corpo, atacando no setor
norte, tem a impressão de que nem um só russo sobreviverá à tempestade de fogo. Mas renunciam: a
resistência dos sobreviventes é de um encarniçamento épico. Cada uma das obras de engenharia, batizadas,
pelos alemães, Máximo Gorki 1, Stalin, Tcheka, GPU, etc, é objeto de uma batalha. O calor, uma
temperatura de 50o C, sobrevem com uma brutalidade incrível e pesa sobre o combate. As perdas são
pesadas. Cita-se uma companhia alemã reduzida a 9 homens - e Manstein deve fazer vir, de Kertch, a
infantaria da 46a Divisão, para substituir a da 132a, completamente desgastada. “A batalha - disse ele - está
sobre o fio de uma navalha”.

No dia 18 de junho, 11o dia da ofensiva, a 22a DI atinge, enfim, a baía de Svernayia. Cinco dias depois,
Petrov leva novamente sua defesa para a margem sul. Dia 28, a 50 a DI apodera-se de Inkerman e de sua
colina. Esta está brocada por adegas de champanha, nas quais foram armazenadas enormes quantidades de
munições e onde, além disso, milhares de crianças e de mulheres procuram abrigo. Os russos fazem explodir
o depósito. A explosão projeta um pedaço da colina a 300 m de altura e sepulta a multidão refugiada em seus
flancos. Raramente a guerra atinge a tal intensidade de horror.

A noite seguinte testemunha dois golpes de audácia alemães. Manstein lança, sobre a baía de Svernayia,
barcos de assalto, que estabelecem uma cabeça-de-ponte para o 54 o Corpo. Mais ao sul, o 30o Corpo, após
haver progredido, passo a passo, arrebata a aresta de Sepun, em um ataque-relâmpago. A colina de Malakoff
é tomada. O segundo cerco de Sebastopol terminou. O que resta da guarnição ainda resiste quatro dias, no
cabo Quersoneso, enquanto a Marinha Vermelha embarca os elementos mais preciosos, entre os quais o
General Petrov. Ficam nas mãos do vencedor 90.000 prisioneiros. Na Ucrânia, os alemães foram precedidos
na ação. A segunda operação preliminar do Plano Azul, Fredericus, ou o restabelecimento da linha do
Donetz, devia começar a 17 de maio. Os russos atacam a 9. O primeiro alvo que eles perseguem é aquele em
que falharam no inverno: a reconquista de Karkov. Uma vez Karkov tomada, a ofensiva deve prosseguir, em
direção a Dniepropetrovsk, para a libertação geral da Ucrânia. Timoshenko, comandante da Frente Sudoeste,
a anuncia aos ucranianos, em uma proclamação retumbante de ameaças para os nacionalistas que pactuam
com o invasor. “A guerra - diz ele - toma novo rumo...”. A ofensiva russa cai sobre o 6 o Exército alemão,
comandado, desde janeiro, pelo general das tropas blindadas, Friedrich Paulus. Sua ala esquerda dobra, sem
romper-se, mas, ao sul de Karkov, seu centro é derrotado. Os alemães superam a crise, fazendo o 17 o
Exército contra-atacar no flanco do bolsão que o avanço inimigo distendeu. O 9 o Exército russo, do General
Charitonov, desmorona-se. Em algumas horas, Timoshenko vê um sucesso cheio de promessas transformar-
se em terrível perigo. Propõe a Stalin suspender o avanço para Karkov e retirar o grupo de exércitos da
armadilha em que está preso. Stalin recusa e as coisas seguem seu curso. O 17 o exército, de Ruoff, toma
Isjum, sobre o Donetz, nas costas dos russos. O exército de Paulus recobra a iniciativa e, a 25 de maio, faz
junção com o exército de Ruoff. Juntam-se 270.000 prisioneiros ao quadro da Wehrmacht. Os russos
acreditaram, prematuramente, no “novo rumo da guerra”. “Nossa ofensiva de maio de 1942 - reconhece o
historiador militar Platonov - terminou em uma derrota total. A responsabilidade dessa derrota cabe ao
Comando Supremo, que não soube regular o ritmo e não cuidou da proteção dos flancos”. Mas o vigor e o
sucesso do choque inicial deveriam provar a Adolf Hitler que os russos estão menos mortos do que ele disse.

28 de junho é um grande dia. A Operação Azul começa. Os exércitos do Eixo movimentam-se em direção a
Stalingrado.

Roosevelt quer, urgentemente, uma segunda frente

No campo anglo-americano, as deliberações militares e governamentais são dominadas pela angústia de ver a
resistência russa ruir.

Em janeiro, por ocasião da Conferência de Arcádia, o princípio que dava prioridade à guerra contra a
Alemanha foi ratificado sem discussão. A fórmula de Churchill - Fechar o Círculo - foi aceita. O anel de aço,
aprisionando o Terceiro Reich, compreenderá a frente russa, passará pela Inglaterra, pelo Atlântico, pela
África do Norte, pelo Oriente Próximo, pelo Irã e se soldará no Cáucaso. A Operação Supergymnast
representa a colocação do segmento africano.

Outra decisão da Arcádia, a operação dita Bolero, foi a transformação da Inglaterra em praça de armas da
coalizão. À medida que se forem constituindo, as divisões americanas para ali serão transferidas, a fim de
aperfeiçoarem seu treino e se prepararem para a invasão da Europa. Nenhuma divergência se manifestou,
nenhuma discussão surgiu, em relação a esse objetivo final da estratégia aliada.

Já é diferentes quando se consideram os contingentes, as etapas e os prazos. Churchill, por mais ardente que
seja, não deixava de considerar que todo o esforço ativo seria suportado quase que exclusivamente pela
Inglaterra. Razão pela qual se agarra tão teimosamente ao desembarque na África do Norte: efetivos e riscos
limitados, no momento em que considera, com apreensão, um empreendimento sobre o continente; efetivos e
riscos imensos por tanto tempo que as forças americanas não estarão mais em condições de suportar o peso
principal. Tem os trunfos na mãos para convencer que o fracasso de uma invasão da Europa seria uma
catástrofe, adiaria a derrota de Hitler por muito anos.

Os preparativos americanos tornam inexorável essa derrota de Hitler. Os Estados Unidos puseram em reserva
um exército de 143 divisões, para o fim de 1943, e de 192 divisões, para 1944. Prevêem uma força aérea de
269 grupos e uma marinha cujo efetivo atingirá 4 milhões de homens. Mas os problemas de equipamento, de
organização, de logística, implicados por esse esforço colossal, são, eles próprios, colossais. A execução do
Plano Bolero está eriçada de dificuldades. Falta tonelagem. A construção dos navios de desembarque é
retardada por dificuldades técnicas e por discussões entre o Exército e a Marinha. Os arranjos necessários -
aquartelamento, campos, aeródromos - trazem grandes problemas em uma Inglaterra atravancada. No
começo da primavera de 1942, nenhuma grande unidade americana está bem aparelhada, nas Ilhas
Britânicas. A 34a Divisão de Infantaria e a 1a Divisão Blindada começam a desembarcar na Irlanda do Norte -
e o primeiro comboio da 8a Força Aérea só chegará a Liverpool a 11 de maio.

É nessas condições que, a 2 de abril, Churchill recebe uma carta de Roosevelt anunciando-lhe a chegada de
Harry Hopkins e de George Marshall. “Eles lhe submeterão um plano que, assim espero, será saudado com
entusiasmo pela Rússia...”. Trata-se, nada mais, nada menos, de abrir precipitadamente, na Europa, uma
segunda frente! As queixas de Stalin, as pressões dos meios de esquerda e a influência de seus conselheiros
militares convenceram Roosevelt. Em janeiro, ele aderia ao ponto de vista de Churchill: preparação, a longo
prazo, de uma invasão da Europa e, de imediato, conquista da África do Norte. O Secretário da Defesa,
Stimson, e o chefe do Estado-Maior, Marshall voltaram à carga: tinham aprendido, na Primeira Guerra
Mundial, que todo desvio constitui um erro. É o caso para a Supergymnast, a que o velho muito ardente que
é Stimson chama “the wildest king of dispersion debauch”. É preciso tocar o inimigo no ponto sensível, isto
é, na França, em lugar de se perder nos meandros aconselhados pelo estrategista amador Churchill. Um
jovem tenente-coronel, a quem o ritmo precipitado do tempo de guerra deu a sua primeira estrela, Dwight
Eisenhower, chefe da divisão dos Planos de Guerra, apresentou um projeto, que Marshall, reforçado pela
eminência-parda Hopkins, acaba de vender a Churchill. A entrevista realiza-se no dia 8 de abril, em Downing
Street. O plano organizado por Eisenhower comporta uma invasão da França, em 1943, por uma travessia da
Mancha, entre Calais e o Havre. Trinta divisões americanas, 18 britânicas, 5.800 aviões, dos quais 2.250
ingleses, participarão dessa operação, chamada Round-up - uma coisa assim como a arrebanhadura feita
pelos cowboys. Uma operação mais limitada, Sledgehammer (martelo para bater na frente), é considerada
desde 1942. Consistia em conquistar uma península francesa, talvez a Bretanha, mais possivelmente o
Contentin. Das oito divisões necessárias, a Inglaterra deveria fornecer seis.

É extremo o embaraço de Churchill. Cobre de elogios “o plano magistral” do Presidente, mas amontoando-se
de objeções e fazendo com que ele dê seus soldados. O cáustico Alan Brooke julga o plano “simplesmente
fantástico” e, em seu temível caderninho clandestino, consigna, sobre Marshall, juízos severos. “Um homem
encantador, muito perigoso... Cheio de si, mas sua capacidade estratégica não me impressiona... Seu plano
não vai além do desembarque: não começou a considerar o que faríamos em seguida... Iremos ao Touquet,
para jogar bacará?...”. Pelo fato de Churchill lhe prodigalizar belas palavras, Marshall pensa que está a
caminho de ver sua causa vitoriosa, mas Hopkins compreende que os ingleses não concordam.

Um interlocutor inesperado introduz-se no debate: a Rádio alemã. Esta mergulha a conferência de Londres
em um abismo de suspeitas. Quem informa a Goebbels? Como ele terá descoberto a identidade de MAH
Hones e de MCG Mell? Onde se esconde o microfone que divulga os segredos de Estado de Downing
Street? “Nós sabemos - diz a voz inimiga - que o bolchevizante Hopkins e o General Marshall estão em
Londres, para discutir uma invasão da Europa. Só podemos repetir-lhes a proposta do Fuhrer: a Alemanha
está pronta a retirar-se da parte do continente que convenha aos ingleses, para que eles desembarquem em
maior número possível...”

Hopkins e Marshall regressam a 15 de abril, levando um vago acordo, em princípio. Molotov chega alguns
dias depois, cercado de guardas e blindado de desconfiança. Hospedado em Chequers, exige que lhe
entreguem todas as chaves, expulsa os empregados, faz com que esquadrinhem todos os móveis, refaz sua
cama, para poder saltar dela ao menor alerta, e dorme com um revólver sob o travesseiro. Quer uma
promessa categórica a respeito da abertura de uma segunda frente. Churchill recusa dar-lhe.

De Londres, Molotov vai a Washington. Pergunta a Roosevelt se pode informar a Stalin, positivamente, que
a segunda frente está em preparação. Roosevelt convoca Marshall, para que ele próprio responda. A resposta
é afirmativa. Marshall garante que tem as tropas, os blindados, as munições, a aviação necessária e que as
dificuldades de transporte não são insuperáveis. Molotov pode concluir disso, com aparente razão, que os
ingleses estão sabotando a segunda frente. Já os russos tinham, aliás, depois da fuga de Rudolf Hess, a
convicção de que negociações secretas estavam articuladas entre Londres e Berlim. Churchill - pensam eles
- quer deixar a Hitler uma oportunidade de nos esmagar.
Uma outra querela surgiu a respeito dos comboios do Ártico. Impunes, no começo, eles topam, agora, com
uma formidável barreira: submarinos, bombardeiros, navios de superfície, entre os quais o terrível Tirpitz,
irmão de estaleiro do Bismarck. Qualquer ultrapassagem vai exigir o mesmo desdobramento de forças que
uma grande batalha naval. As condições de navegação são espantosas. Os navios desaparecem sob carapaças
de gelo. O mar furioso cobre os couraçados e põe em perigo as embarcações de fraca tonelagem. As
tripulações sabem que suas chances de sobrevivência são ínfimas, em caso de fracasso: qualquer homem ao
mar é um homem morto e, no fim de algumas horas, os barcos de salvamento só transportam a bordo
cadáveres petrificados. As perdas são pesadas. Para 28 navios mercantes que atingem os portos russos,
durante o primeiro semestre de 1942, 24 acabam a viagem no fundo do mar, assim como os cruzadores
Edinburgh e Trinidad.

Entretanto, os russos se queixam. Carregados de material, 59 navios estão engarrafados na Islândia e na


Escócia. Moscou acusa Londres de se apropriar da ajuda destinada pela lei de Empréstimos e Arrendamentos
ao Exército soviético. Washington intervém, pedindo aos ingleses que façam o necessário para encaminhar as
cargas em perigo. Churchill responde, com irritação, que lhe pedem o impossível. O Almirante Tovey
acrescenta que é preciso prever uma catástrofe se, por motivos políticos, se pensa em manter, a qualquer
preço, os comboios do Ártico. O Almirante tem toda a razão: a história trágica do PQ-17 não tardará a prová-
lo

PQ-17 é o nome do comboio de 36 navios mercantes que deixa a Islândia a 28 de junho. O comboio
precedente, PQ 16, sofreu pesadas perdas, e as informações do Almirantado fazem com que se tema um
ataque, de parte dos grandes navios alemães - Tirpitz, Lützow, Scheer, Hipper - concentrados na Noruega. As
forças de proteção foram calculadas em conseqüência: 6 destróieres e 4 corvetas constituem a escolta, uma
divisão de 4 cruzadores está encarregada da proteção afastada e a Home Fleet, reforçada pelo couraçado
Washington, da US Navy, assegura o domínio geral do mar. O equinócio do verão mal acaba de ser
transposto e a permanência do dia favorece a ação aérea. Isso não impede que o tempo seja detestável, a
bruma estranha e a água gelada. Grandes icebergues rondam, pelo mar.

No dia 4 de julho, o comboio entra no Mar de Barents, perto da banquisa, pelo largo estreito que separa o
cabo Norte do Spitzberg. Às 5 horas da manhã, um navio é afundado, em pleno nevoeiro, por um avião que,
para cair sobre sua vítima, aproveita literalmente uma brecha. A Home Fleet, temendo expor seus
couraçados, conservou-se 15 graus a oeste, mas a divisão dos cruzadores, comandada pelo Almirante
Hamilton, continua a acompanhar os navios mercantes. Às 9 horas da noite, ordens precipitadas, vindas
diretamente do Almirantado, abatem-se sobre ela: deve retirar-se, a toda velocidade, e os destróieres de
escolta devem abandonar os comboios, para proteger os cruzadores a se dispersar e a ganhar Arkhangelsk,
isoladamente. O rebanho vê, com estupor, seus cães de guarda abandonarem-no e fugirem loucamente para
oeste.

Objeto de uma controvérsia que ainda dura, a decisão é ditada pelo fato de que os dois cruzadores de
Hamilton, o Tuscaloosa e o Wichita, são americanos. Pela primeira vez na história, uma força naval dos
Estados Unidos se encontra sob as ordens de um almirante britânico: tendo notícia de que o Tirpitz sai dos
fiordes, o Almirantado é tomado de pânico, imaginando um combate desigual, a destruição das duas
embarcações aliadas, as contas que terá de prestar e as conseqüências que se seguirão nas relações entre as
duas marinhas. Prefere sacrificar o comboio.

A caça que se segue é um dos episódios mais cruéis da guerra. Não está sendo feita pelos grandes navios de
superfície, aos quais uma ordem intempestiva de Hitler obrigou a fazer meia-volta, mas unicamente pelos
submarinos e pelos aviões. Os cargueiros estão sem defesa. Alguns conseguem entrar no mar Branco e
terminar a viagem. Outros penetram no mar de gelos e atiram-se à costa de Nova Zembla. A maior parte, 23
dos 36, é afundada. Centenas de marinheiros mercantes perecem em condições terríveis - e o remorso de
haver abandonado um comboio à sua sorte pesa, ainda, sobre os marinheiros de Sua Majestade.

Rommel parte para Suez - Combate por Bir-Hakeim

No Mediterrâneo, a situação dos ingleses é crítica. No dia 1 o de abril de 1942, suas forças navais se reduzem
a 4 cruzadores e 15 destróieres contra 4 couraçados, 9 cruzadores, 55 destróieres, 50 submarinos italianos e
mais 20 excelentes submarinos alemães.
Malta está em perigo. Situa-se a 50 minutos de vôo da Sicília, enquanto a metade do Mediterrâneo a separa
seja de Gibraltar, seja de Alexandria. Seus 300.000 habitantes criam um problema de abastecimento difícil.
Os comboios exigem um desdobramento de forças que nem mesmo os preservam do aniquilamento. O
comboio de fevereiro compõe-se de 3 navios mercantes: nem um chega. O de março mobiliza uma escolta de
18 navios de guerra: de quatro cargueiros, apenas dois atingem Valeta, mas para serem destruídos, no porto,
por um bombardeio aéreo. Em abril e maio, o Almirantado renuncia a uma nova tentativa. Malta raspa o
fundo de seus armazéns. Valeta, constantemente bombardeada, é destruída. O Governador, Sir William
Dobbie, vítima de um ataque nervoso, deve ser substituído por um fantasma de nervos de aço, Lorde Gort,
que, desde que caíra em desgraça, comandava Gibraltar. Muitos pensam que Malta, praticamente
neutralizada pelo constante bombardeio aéreo, deveria ser sacrificada. Além do perigo de vê-la sucumbir
pela fome, teme-se um assalto de estilo cretense, que acarretaria a perda dos 13 batalhões (26.000 homens)
que ali localizam suas guarnições.

Efetivamente, existe um Plano Herkules, para a conquista de Malta: sob o comando nominal do Duque de
Savóia, o vencedor de Creta, Student, é encarregado de sua execução. Mas Hitler recusa-se a dar o sinal
aberto. Inverte a ordem dos fatores: em lugar de ser tomada para facilitar uma vitória na África do Norte,
Malta será tomada quando Rommel chegar a Suez ou, pelo menos, a Tobruk...

No dia 29 de abril, uma tradição é estabelecida. O Fuhrer convocou o Duce a Salzburgo. A recepção não se
ressentiu dos rigores da guerra. Suntuosamente acolhidos, os italianos foram alojados no castelo dos
príncipes-bispos, remobilado, assinala Ciano, com uma mobília francesa que não deve ter custado caro a seus
novos proprietários. Era a primeira vez que Mussolini revia Hitler, depois dos reveses da frente oriental.
Encontrou-o mudado, preocupado, grisalho - porém, ainda mais verboso do que antes. Ciano cronometra
uma tirada ininterrupta, uma frase contínua de 1 hora e 40 minutos, misturando, em um pudim fantástico,
guerra e religião, arte e história, racismo e filosofia. Esses monólogos aterradores, essas divagações furiosas,
tornam-se um dos traços característicos da alienação mental crescente de Adolf Hitler.

Recapitulando seus triunfos de outrora, na Polônia e na França, Hitler contou a seu aliado como sua vontade
vencera o inverno russo e como as avenidas da vitória se haviam reaberto diante de seus exércitos. O Eixo
vai retomar a iniciativa em todas as frentes. Na África, o exército germano-italiano voltará a partir para o
ataque, que concluirá a conquista da Cirenaica e, desta vez, avançará até Suez. Malta será tomada pelos pára-
quedistas dos dois exércitos, os ingleses serão expulsos do Mediterrâneo e as provações da Itália terminarão
em glória.

O interesse do Fuhrer pelo Mediterrâneo é circunstancial e superficial. Rommel o sabe. Convocado a


Rastenburgo, a 17 de fevereiro, contava fazer valer as possibilidades do teatro africano, mas Hitler não
chegava a desviar sua palavra e seu pensamento da frente russa, onde a crise do inverno atingia seu ponto
culminante. A atmosfera do QG convenceu ao comandante do Exército Blindado da África que sua luta está
completamente fora do mundo de preocupações em que vive o Comando Supremo. Suas vitórias são guizos
de propaganda, brilhantes divertimentos atirados à Alemanha inquieta. Permanecem episódicas, ao lado do
front gigantesco e exaustivo sobre o qual a sorte da Alemanha está sendo jogada.

Os meios de Rommel continuam, consequentemente, limitados. Seu único reforço é a 15 a Brigada de Pára-
quedistas, que o General Ranke lhe traz da Grécia. Os italianos são numerosos, mas, por falta de
motorização, quatro de suas sete divisões só são utilizáveis na defensiva. As três outras, Ariete, Trieste e
Trento, continuam a sofrer insuficiências de um exército construído de fachada, por um regime de pacotilha:
enquadramento medíocre, péssimo moral, abismo entre o oficial e a tropa, material frágil e superado.

Os ingleses não estão isentos de pontos fracos. Um novo canhão antitanque entrou em serviço, mas está
longe de comparar-se ao 88 alemão, e os engenhos blindados de fabricação britânica - Crusader, Valentine,
Matilda - permanecem em desvantagem, pelo calibre irrisório, 37 mm, de sua artilharia. A aquisição mais
preciosa é o tanque médio Grant, americano. Análogo ao B francês de 1940, com seu canhão de 75 fixo,
colocado baixo demais, procede de uma concepção caduca, mas permite, enfim, um combate em pé de
igualdade com o PzKw4. Dos 630 tanques do 8 o Exército, 160 são Grant. O inimigo ainda ignora a existência
da nova arma.

O exército está fracionado em dois corpos. O 13 o do Tenente-General Gott, enquadra duas divisões sul-
africanas, das quais uma guarda Tobruk, e a 50 a Divisão Metropolitana, assim como duas brigadas
independentes de tanques. O 30o, do Tenente-General Norrie, agrupa a 1 a e a 7a divisões blindadas, duas
brigadas indianas e a 1a Brigada francesa livre. O comandante do exército continua sendo Neil Ritchie,
sempre à disposição de Auchinleck e sempre discutido por subalternos mais antigos do que ele.

Entre Auchinleck e Churchill uma outra discussão se azeda. O Primeiro-Ministro insiste em uma ofensiva
imediata, mas “The Auck” pede quatro meses de prazo para terminar seus preparativos. Churchill quer
substituí-lo por Alexander, que, após a perda de Rangum, extrai penosamente seu pequeno exército das
florestas birmanesas. Brooke consegue fazer sustar a decisão e Auchinleck, a quem convencem que a
retomada de Bengasi é o único meio de salvar Malta, promete, sem convicção, que atacará na segunda
quinzena de junho, apesar do enorme aumento de consumo de água e de gasolina que o verão do Saara
acarreta.

O complexo defensivo continua, aliás, a impregnar o espírito dos generais ingleses. Ritchie estabeleceu o 8 o
Exército de Ain el-Gazala, que é apenas um pequeno oásis costeiro, a Bir-Hakeim, que nem é mais o que
indica seu nome - uma vez que a cisterna que ali se encontrava foi atulhada. Morno campo de batalha. O
planalto de Marmarica, horizontal, mineral, está intransponível, em sua negrura e em sua nudez. A analogia
com o mar é satisfatória. As unidades navegam guiadas pela bússola e o soldado do deserto espia as colunas
de poeira como o marinheiro espreita as nuvens do horizonte. Ritchie tenta construir um front contínuo,
preparar a batalha naval do deserto, rápida e fugaz, como se tratasse de defender uma posição organizada em
Flandres ou na Picardia.

Falta qualquer obstáculo natural: meio milhão de minas fazem esse papel. Sua defesa está assegurada por
uma cadeia de boxes, praças de armas, cercadas e fechadas por extensões de arame farpado e por semeaduras
de minas. No interior desses cercados, os homens já se sentem escravizados. O grande calor chegou, sopra a
ghibly, a ração de água não é suficiente para mitigar a sede e os bilhões de moscas são de enlouquecer.

Mentor-Aunchinleck deu a Ritchie-Telêmaco o conselho de conservar à mão seu 30 o Corpo, suas duas
divisões blindadas, agrupando-as de uma parte a outra da pista de Capuzzo, prontas para serem levadas, em
bloco, para norte ou para sul. Telêmaco não atende. Seus dois corpos de exército partilham entre si a defesa
da posição - o 13o ao norte, do lado do mar, o 30 o ao sul, do lado do deserto. Bir-Hakeim, na extremidade, é a
âncora à qual a posição está amarrada. Parece-se com os outros boxes, notadamente com o de Gott el-
Ualebe, situado a uns 24 km, ao norte. O perímetro, vagamente triangular, delimitado por 50.000 minas,
engloba 16 km². Não há mais trincheiras, mas grande número de postos de combate, cavados com muito
sacrifício no solo duríssimo. O armamento compreende 26 peças de campanha, 62 canhões antitanques e 44
morteiros. A guarnição, comandada por um comandante de Narvik, o General Pierre Koenig, é constituída
pela 1a Brigada francesa livre, que reúne dois batalhões da Legião Estrangeira, um batalhão de infantaria da
marinha, um batalhão de fuzileiros navais, um batalhão do Ubangui e um batalhão do Pacífico: 3.000
homens, vindos de todos os horizontes de um império dilacerado como a pátria que o fundou.

Além de Bir-Hakeim, o patrulhamento é feito pela 3 a Brigada Motorizada indiana. Ainda além, comandos
perambulam pelo deserto.

Ritchie não olha na direção do deserto. Está convencido de que Rommel atacará no setor litoral, para
encontrar o caminho direto de Tobruk. Certamente que estão em guarda contra os estratagemas da raposa
alemã, mas, desta vez, os índices são fortes demais para serem fictícios.

A aviação segue espessas colunas blindadas, concentrando-se em direção a Gazala e, ao longe, nuvens de
poeira indicam a marcha das forças germano-italianas, para a extremidade mediterrânea do front.

Mas Ritchie não suspeita de que as colunas observadas por sua aviação voltam atrás, à noite; de que os
tanques cuja reunião lhe é assinalada são de lona e de que as nuvens de poeira são produzidas por velhos
motores de avião funcionando sobre alguns caminhões. Quando começa uma violenta preparação de
artilharia e de aviação, a 26 de maio, no setor de Gazala, Neil Ritchie se felicita pela exatidão de suas
previsões. Reservou, para a sua ala esquerda, a densidade das tropas mais fortes, pondo em primeira linha a
1a Divisão sul-africana e a 50a Divisão inglesa. Está pronto. Tem confiança. Espera.

No dia seguinte, a infantaria italiana ataca, efetivamente, diante de Gazala, sob o comando de um amigo
pessoal de Rommel - o general alemão Crüwell. Mas é ao sul de Bir-Hakeim que surge a totalidade das
forças rápidas do Eixo.
Para essa saída, 10.000 veículos rolaram, durante toda a noite, sob um luar feérico. A Luftwaffe os orienta,
semeando pelo céu foguetes luminosos, acima de Bir-Hakeim. A Divisão Trieste desvia-se e atrasa-se, mas as
outras quatro, Ariete, 15a Panzer, 21a Panzer, 90a Ligeira, giram, nesta ordem, em torno da extremidade da
frente inglesa. A idéia desta manobra é atirar a 90 a Ligeira contra Tobruk, para desorganizar as retaguardas
inimigas, enquanto a Ariete tomará Bir-Hakeim e o grosso do Afrika Korps cercará o 8 o Exército. Rommel
conduz o movimento nas fileiras da 15a Panzer.

Esta soberba carga produz, de início, efeito fulminante. A 3 a Brigada indiana é surpreendida tomando seu
desjejum, numa segurança de grandes manobras. A massa motorizada que se atira sobre ela é tão densa que
dá a impressão de que o deserto se levanta, dentro de imensa cortina de poeira, abrasada pela aurora. “No
caso de lhe interessar - transmite ao corpo de exército o comandante da brigada - há toda uma divisão
blindada alemã diante de nós...”. Mas o corpo de exército acha que se trata de manobra diversionista, estando
a ação principal empenhada diante de Gazala. As tropas do Eixo desarmam os indianos, dizendo-lhes que
estão livres. Alguns morrerão de sede. Outros ganharão Bir-Hakeim, onde se apresentam pondo a alma pela
boca. Somente os ingleses tem a honra de um cativeiro em regra. Um deles é um voluntário, um almirante de
72 anos, Walter Cowan, que ganhou sua condecoração de DSO no Nilo, 46 anos antes, na campanha de
Kitchener contra os dervixes. Os italianos o libertarão, em atenção à sua idade avançada. Mas ele dará um
desmentido dessa idade, descendo de pára-quedas na Iugoslávia, para combater com os partisans.

O único revés da manhã é o ataque a Bir-Hakeim. O box devia ter siso tomado desde as primeiras horas, mas
a Divisão Ariete perde, à toa, diante dele, 32 tanques e 91 prisioneiros, entre os quais um coronel.

Aliás, a surpresa continua a fazer seus estragos. Disseminados, o 8 o de Hussardos e a 4a Brigada Blindada são
aniquilados. Lentamente, aprendem-se as lições: 30 meses após a Polônia, um comando estático é
completamente desorganizado por uma investida blindada. Ritchie, longe demais, de nada sabe. Norrie
escapa à captura, refugiando-se precipitadamente no box de El-Adem. Messervy, comandante da 7 a Divisão
Blindada, é feito prisioneiro, mas, tendo arrancado seus galões, faz-se passar pelo ordenança de um de seus
oficiais e, graças a essa modéstia, consegue evadir-se. “A África - disse-lhe um enfermeiro alemão - acabou-
se para mim. Daqui a três dias, terei 35 anos: é a idade-limite no Afrika Korps. Surpreende-me de que um
homem de tua idade ainda sirva no deserto”. - “Que queres? - responde-lhe filosoficamente Messervy - Que
queres que um velho soldado profissional faça...?”.

A 27 de maio, no fim do dia, o 8 o Exército está quase cercado. As pontas alemães atingiram a escarpa
costeira e já avistam a Via Balbia, única linha de retirada da ala direita inimiga. Mas, além da resistência de
Bir-Hakeim, uma surpresa estragou o dia de Rommel: o tanque Grant. Desde o início do combate, blindados
alemães estavam sendo destruídos por essa arma de silhueta desconhecida, que a princípio ele tomaram por
um espantalho. À noite, o balanço é alarmante. O Afrika Korps perdeu um terço de seus tanques. A 15 a
Panzer já não tem gasolina. A 90 a Ligeira está perigosamente lançada à aventura. Rommel contornou a
posição de El-Gazala, mas está isolado de sua retaguarda, pela barragem de minas e pelas duas praças de
armas intactas, Ualebe e Bir-Hakeim. Quase cercando e quase cercado. A brilhante surpresa da aurora não
trouxe a decisão.

Mas Rommel é homem de recursos. Reagrupa suas forças, vai, ele próprio, por em ação seu abastecimento e,
para restabelecer suas comunicações, faz abrir duas brechas nos campos de minas. Encostado à barragem
principal, como a um rio, o Afrika Korps se estabelece em uma cabeça-de-ponte, à qual os ingleses dão o
nome “The Caldron” (Caldeira). Rommel passa para o lado oeste da barragem, sob o fogo do box de Ualebe,
a fim de reorganizar a batalha em sua ala esquerda, onde Crüwell, traído pelo motor do seu Storch, caiu nas
linhas inglesas. Kesselring, se bem que seja Feldmarschall, e não muito amigo de Wüstenfuchs, aceita
assumir o comando das divisões italianas que atacam Gazala. A progressão é pouco importante, mas a
pressão alivia o Exército Blindado da África.

A 31 de maio a crise está superada. Rommel escreve à sua esposa: “Crüwell caiu nas mãos dos ingleses, mas
espero libertá-lo”. Anota, ainda: “Os ingleses acompanham meus movimentos com muita prudência. Para
eles, as exigências normais de uma operação são 100% de possibilidades de êxito...”

Entretanto, reina a euforia. Após 24 horas de incerteza, devida à importância de suas perdas e à confusão da
batalha, Ritchie está convencido de que a manobra alemã fracassou. Encurralado na barragem, Rommel lhe
parece em uma situação desesperadora. “Está em meu poder - escreve ele a Auchinleck. - Vou esmagá-lo na
Caldeira”. Para conseguir isso, dá os últimos retoques, após intermináveis conferências, em uma manobra
lenta e metódica - a Operação Aberdeen, à qual, por uma questão de pessoas, não consegue dar um chefe
único: Briggs e Messervy comandarão, alternadamente, dia par, dia ímpar, como no estacionamento
alterando.

O desencadeamento da ação ocorrerá na noite de 4 para 5 de junho. Ritchie encara esse combate mais como
uma perseguição do que propriamente como uma batalha. Todas as unidades, compreendida a 1 a Brigada
francesa, recebem ordem de se movimentar, que começa assim: “O inimigo recua...”

Então, Rommel golpeia. Um vento de areia, nuvens baixas e negras, “dando à paisagem uma estranha e
sinistra beleza”, não impedem o ataque a Got el-Ualebe. O box cai, após algumas horas de combate,
deixando ao inimigo a totalidade da 150 a Brigada de Infantaria (3.000 prisioneiros, 123 canhões). “Lamento -
escreve o inconsciente Ritchie - ter perdido a 150 a, mas nossa situação melhora dia a dia...”

Mas a vez de Bir-Hakeim chegou. O ataque começa a 2 de junho. Duas noites depois, a contramanobra
inglesa, a Operação Aberdeen, começa a partida, sob uma velha lua cuja luz de agonia dá ao deserto um
aspecto fantasmagórico. Durante 48 horas, duas batalhas distintas vão ser travadas, a 40 km uma da outra: o
Eixo assaltará Bir-Hakeim e o 8 o Exército tentará quebrar o fundo da Caldeira, para agarrar as brechas na
barragem e justificar a fanfarronada de Ritchie: “Está em meu poder...”

A batalha de Aberdeen termina primeiro. Negro fracasso. Seu plano inepto conduz os ingleses a se reunirem,
em peças destacadas, seguindo um esquema rígido e sob um comando dividido. Rommel sofreu muito.
Nehring se dá conta de que só lhe restam 130 de seus 320 tanques. Mas a superioridade do comando, da
tropa e do material de novo o arrebata. O canhão 88 faz grande destruição entre os fraquíssimos Stuarts e os
engenhos desengonçados que são os Crusaders. Atacando a crista de Sidra, chave do campo de batalha, com
seus pesados Matildas mal armados, a 32a Brigada Blindada embaraça-se nas próprias minas inglesas e, sob
o fogo da artilharia alemã, perde, em alguns minutos, 29 de seus 36 mastodontes. Quando os alemães passam
ao contra-ataque, cortam em pedaços os batalhões descosidos de Briggs e de Messervy. São destruídos 153
tanques. São consumidas todas as forças de intervenção do 8 o Exército. Seu centro, deslocado, só tem por
ponto de apoio Knightsbridge, no qual se encerra a brigada da guarda. A manobra de Rommel, o cerco da ala
direita inglesa, permanentemente imóvel diante de Gazala, recupera suas oportunidades no 10 o dia dos
combates. Foi então que Rommel cometeu um erro: atirou-se, encarniçadamente, sobre Bir-Hakeim.

No dia 27 de maio, a importância de Bir-Hakeim era extrema. No dia 5 de junho, essa importância caiu a
zero. As comunicações de Rommel são restabelecidas. As brechas da barragem foram alargadas e a derrota
inglesa faz com que qualquer ameaça desapareça. O desafio está agora ao norte. O 13 o Corpo britânico estará
tomado totalmente se Rommel cortar essa Via Balbia, que ele contava atingir no primeiro dia de sua
ofensiva. Que lhe importa uma pequena brigada francesa, isolada no deserto? O papel desta se encontra de
tal maneira diminuído que Ritchie sonha com a retirada de Bir-Hakeim - o que ele ordenaria, certamente, se
fosse um general menos estático, menos cuidadoso em relação ao terreno e mais apaixonado pela manobra.
Por sua vez, esse defeito lhe serve. Ordena a Koenig que resista de qualquer maneira - e Rommel se lança
sobre o acessório, desviando-se do essencial.

O assalto é repetido a 6. Rommel o conduz pessoalmente, desviando para o sul a 15 a Panzer, que ele junta à
90a Ligeira. Exaspera-se diante da resistência de um posto que deveria ser tomado em uma hora e que resiste
há 11 dias. Quer terminar com tudo, antes de prosseguir o cerco do 8 o Exército.

Com esforços redobrados, a resistência francesa não se dobra. As bombas de 150 Stukas projetam ao céu
enormes quantidades de areia, mas os aviões se retiram sem haver ferido um único homem, de tal maneira os
defensores aprenderam a profissão da guerra. Todas as tentativas de infiltração são frustradas por um fogo de
inferno. Apesar das perdas que sofreram, as forças terrestres inglesas organizam as colunas Primrose, Daisy e
Buttercup, para aliviar os sitiados, fatigando os sitiantes. A RAF se prodigaliza com tanta eficácia, que
Kesselring, mais judicioso do que Rommel, faz uma cena a este, porque Bir-Hakeim dizima sua aviação. Os
alemães só marcam a sua primeira vitória a 8, apoderando-se da cota 186, no interior do perímetro
fortificado. A resistência está longe de ser quebrada, mas a água escasseia. Uma pequena coluna de
caminhões-tanque conseguiu penetrar no campo fortificado, na noite de 7 para 8, e os aviões ingleses
atiraram aos sitiados alguns blocos de gelo, que foram reservados para os feridos, mas não está longe o
momento em que a sede vai triunfar sobre Bir-Hakeim. Ritchie o compreende. No dia 9, ele dá ordens a
Koenig para lhe abrir um caminho.
O rompimento do cerco, numa noite negra, é difícil de contar, de tal maneira se perde em um emaranhado de
aventuras individuais. A guarnição sai, em direção a oeste, e contorna as linha inimigas, para alcançar o
encontro fixado pela 7a Brigada inglesa. Alguns elementos conseguem passar sem luta. Outros são obrigados
a combater, extraviam-se e só chegam ao ponto de encontro um a um. Koenig parte, conduzido por sua
motorista Susan Travers, que desobedeceu friamente quando foi dada a ordem de abandonar Bir-Hakeim às
seis auxiliares inglesas que serviam na 1 a BFL - mas Koenig só chega ao local de reagrupamento depois de,
por várias vezes, ter estado à beira do cativeiro e da morte. Acontece o mesmo a Amilakvari, príncipe
georgiano e coronel da Legião, e ao Capitão Messmer, que se tornará Ministro da Guerra do Presidente De
Gaulle. Os foguetes luminosos, os projéteis traçadores e as explosões de minas armam, no deserto, um fogo
de artifício que se prolonga pela noite. Apesar da algazarra, Rommel não acredita em uma retirada geral e,
ao romper da aurora, faz bombardear Bir-Hakeim, onde só resta um punhado de homens, em sua maioria
feridos. Os dois terços da 1a BFL conseguiram arrancar-se da situação difícil.

Tal foi o famoso combate de Bir-Hakeim, que devia dar à França um raio de glória. Este ainda durava
quando os exageros da rádio francesa de Londres suscitaram um rude protesto de Koenig: “O cerco de Bir-
Hakeim não precisa ser romanceado. Sou um soldado; não um palhaço”. Na escala de uma guerra imensa, a
brilhante conduta de um punhado de voluntários franceses era apenas um episódio minúsculo. A avidez com
que esse início de reabilitação nacional foi acolhido, justificava-se pela desonra sobre o renome francês. De
resto, a Inglaterra deu prova de grande habilidade ao conceder generosas coroas aos defensores de Bir-
Hakeim. “A sagacidade dessa atitude, deliberadamente calculada para despertar o povo francês - escreve o
historiador Henry Maulde - não tardou a revelar-se. Foi após a luta desesperada de Bir-Hakeim que a França
reencontrou sua alma e que o movimento de resistência, antes bastante fraco, tomou impulso.

Catástrofe em Tobruk - Churchill vacila; sua coragem o salva

No começo de junho, Churchill decidiu fazer nova viagem à Washington. A missão Hopkins-Marshall não
trouxera, afinal, qualquer fruto. A Operação Bolero - transporte das tropas americanas à Inglaterra -
prossegue com uma lentidão desesperadora. A Operação Round-up - invasão da Europa em 1943 - desperta
um ceticismo crescente. A Operação Sledgehammer - intervenção na França - está virtualmente abandonada
desde 1942. A Operação Gymnast - ocupação da África do Norte francesa - está perdida de vista. Os Aliados
já não tem nenhuma estratégia. Churchill acha que é tempo de voltar aos Estados Unidos, para repor em
marcha o mecanismo intelectual da coligação.

O rumo tomado pela batalha da Líbia deu, de início, satisfação a Londres: considerava-se que Rommel
falhou em sua ofensiva e que se debate para escapar à derrota. Os relatórios do Cairo são otimistas. De
repente, a 14 de junho, o quadro se embaralha. Um telegrama de Auchinleck comunica que Ritchie considera
a possibilidade de se retirar para a “antiga fronteira”; Churchill alarma-se. Que se passa? Por que esse brusco
projeto de recuo até o Egito? E que vai acontecer a Tobruk? O que se passará é tragicamente simples. As
jornadas dos dias 11, 12 e 13 de junho foram desastrosas para os ingleses. Desde que se desembaraçara de
Bir-Hakeim, Rommel atirara-se sobre eles. Os britânicos haviam conseguido estabelecer uma posição de
barragem, cobrindo Gazala, passando pelas duas praças-fortes de Knightsbridge e de El-Adem. Possuíam
dois tanques contra um, três canhões contra dois e, em Knightsbridge, nome sarcástico de um cruzamento de
pistas, a 201a Brigada da Guarda bateu-se com uma bravura que os ingleses dizem ter eclipsado a dos
soldados de Koenig. Tudo foi inútil. Os alemães fizeram nova destruição maciça de tanques ingleses.
Ameaçam a Via Balbia, única linha de comunicação do 13 o Corpo. Só se pode salvar o 8o Exército mediante
uma retirada precipitada. O repouso por Bir-Hakeim terá sido breve.

A retirada é extenuante. De manhã, uma bruma azulada fere os olhos - e a subida rápida da temperatura
esvazia o corpo de sua energia. À tarde, o clarão do sol castiga os cérebros. Os homens estão enegrecidos
pelo suor, a imundice, a poeira, a graxa. Não sem um sentimento de remorso, eles derramaram as reservas de
água, furaram os grossos tonéis de 80 galões e, agora, a sede cresce dentro deles, como um castigo. 150 km
de veículos ligados um ao outro e o inverossímil aparato de um exército motorizado cobrem a Via Balbia,
que se desagrega sob os eu peso e suas asperezas. A única diferença com os êxodos da França é que não há
civis naquela confusão. O escoamento é de uma lentidão mortal. A estrada serpenteia e se encaixa, para
acompanhar o relevo costeiro, descer e remontar os declives escarpados dos wadis. O mínimo incidente
interrompe o tráfego. A coluna imobiliza-se, de motores ligados, juntando suas emanações ao calor arrasador.

Felizmente, o inimigo não cresce. A Luftwaffe está enfraquecida. Teimoso, como todas as unidades de elite,
o Afrika Korps resmunga contra o esforço excessivo que lhe é pedido desde 27 de maio. Sem estarem,
positivamente, em greve, os Panzer cedem à fadiga. Rommel faz-se de artilheiro, atira, ele próprio, sobre a
interminável lagarta em procissão, mas a distância é grande demais, as condições de observação são
péssimas e os obuses por demais contados para resultados substanciais. A 1 a Divisão sul-africana, do Major-
General Pienaar, consegue retirar-se, inteira, pela Via Balbia. Mais ameaçada, a 50 a Divisão inglesa abre
passagem em direção a oeste e, contornando Bir-Hakeim, ganha os confins egípcios, por um penoso desvio.

A esse exército acossado, apresenta-se o problema de Tobruk. Quatro meses antes, o Almirante Cunningham
- que acaba de deixar o Mediterrâneo pelo Comitê Misto dos Chefes de Estado-Maior - advertiu Churchill: a
Marinha já não está em condições de reabastecer Tobruk, como o fez durante o longo sítio de 1941. Assim,
uma decisão fora tomada, pelos comandantes-chefes do Exército, da Marinha e da Força Aérea, do Oriente
Médio: não haverá mais o cerco de Tobruk. Se o destino das armas quisesse que a cidade fosse novamente
isolada, seus defensores dinamitariam o porto e incendiariam os estoques.

Mas é mais fácil tomar tal resolução do que mantê-la. A perda de Tobruk seria um choque moral, depois de
tanta literatura heróica desenvolvida sobre a resistência invencível da fortaleza do deserto. Churchill - que
não levantara objeção em fevereiro - intervém. “Quero acreditar - telegrafa a Auchinleck - que não se trata,
em qualquer hipótese, de evacuar Tobruk”.

Preso em um dilema, Auchinleck tenta escapar dele. A única maneira de evitar que Tobruk seja abandonada
ou sitiada consiste em manter suas comunicações terrestres com o Egito. Knightsbridge evacuada, o box de
Acroma será mantido como um posto avançado e os de Sidi-Rezegh, de El-Adem, de Gambut e de
Belhammed serão os nós que ligarão Tobruk às linhas nas quais o 8 o Exército se prepara para retomar a
iniciativa, com novas tropas. Os vasto retângulo fortificado, 25 km por 12, tornar-se-á uma vanguarda
ofensiva, uma praça de armas, de onde partirá a conquista da Cirenaica.

Essa decisão abre uma questão: que fazer se, apesar de tudo, as comunicações de Tobruk forem cortadas? A
guarnição deverá abrir passagem, como as de Bir-Hakeim e de Knightsbridge? Ou se aceitará o cerco
declarado inaceitável em fevereiro?

Vigoroso nos campos de batalha, indeciso nas reuniões de conselhos, Auchinleck esquiva-se a dar uma
resposta clara. O telegrama que envia a Churchill diz o seguinte: “A interpretação do Gabinete de Guerra está
correta. O General Ritchie deixa, em Tobruk, o que ele considera como uma força suficiente para resistir,
mesmo se estivesse temporariamente isolada pelo inimigo... com estoques adequados de munições, de
combustível, de víveres e de água”.

Tranqüilizado, Churchill mantém sua decisão de ir a Washington. No dia em que toma o avião (16 de junho),
os nós da cadeia que liga Tobruk à fronteira egípcia rebentam. Rommel apodera-se de Sidi-Rezegh e de
Belhammed, corta, enfim, essa Via Balbia, que contava atingir desde 27 de maio. O grosso do 8 o Exército
escapa à captura - mas acontece o que os ingleses se haviam prometido evitar: Tobruk é sitiada.

É verdade que a cidade está provida. Sob o comando de um general sul-africano, recentemente promovido,
Klopper, a 2a Divisão da África do Sul e dois grupos de brigadas independentes, 35.000 homens, munidos de
tudo o que é necessário para combater, asseguram sua defesa. A situação é incomparavelmente melhor do
que a de abril de 1941, quando Tobruk foi salva pela presença fortuita de uma brigada australiana e pela
inspiração do General Morshead. Ele resistira 243 dias.

Na narrativa trágica e morna da guerra, Churchill é uma fonte de reconforto. O cinismo e o desencanto dos
veteranos não tem influência sobre ele. Nada o abate, tudo o apaixona, e a viagem que empreende num
momento crítico da batalha da África do Norte é uma recreação.

Antes de embarcar, ele faz seu testamento e escreve ao rei, para recomendar-lhe, em caso de acidente fatal,
Anthony Eden para seu sucessor. Tomadas essas precauções, revela-se de um humor encantador. Assobia,
abominavelmente desafinado: sinal de bom tempo churchilliano. Visita o grande hidroavião, maravilhando-
se com suas dimensões, seus beliches, sua cozinha, seus toaletes. Sentado ao lado do piloto, admira, com o
entusiasmo de um pintor, um pôr-do-sol sobre o mar de nuvens. Depois, tendo jantado copiosamente, dorme,
como um bebê, toda uma noite de precioso sono. As condições de vôo são tão boas, que se suprime a escala
de reabastecimento de Gândara - mas o abastecimento de Churchill é mais exigente do que o do Boeing. Ele
reclama seu jantar. “Sir, são, apenas, quatro e meia da tarde. Daqui a três horas estaremos em Washington e
deveis jantar na Embaixada...”. Ele se zanga: “Não como de acordo com o sol. Como de acordo com minha
barriga”. São reunidas as últimas provisões de bordo, que ele rega com uma garrafa de champanha e com um
resto de brandy. Quando o aparelho pousa no Potomac, sob um admirável crepúsculo, Churchill irradia bem-
estar e, à mesa do embaixador, comporta-se como um homem que acaba de atravessar o Atlântico apenas
com um sanduíche.

Roosevelt está em Hyde Park, para onde Churchill é convidado a acabar o fim-de-semana. Após as honras da
casa familiar e a apresentação do vale do Hudson, o americano põe o inglês a par do avanço do Projeto Tube
Alloys, pseudônimo da bomba atômica. Os físicos acreditam, daí por diante, na possibilidade de uma bomba
de urânio. “Espero - comenta Churchill - que não tenhamos tempo para nos servir dela”.

Depois do jantar, o trem presidencial reconduz os dois homens de Estado a Washington. Faz uma
temperatura de forno, mas, depois de três anos de restrições, de alerta, de canhoneio e de blackout, Churchill
maravilha-se com a abundância e a segurança que o cercam. Felizes Estados Unidos! Podem forjar, em
perfeita tranqüilidade, as armas arrasadoras de amanhã. Como não se ganharia a guerra, com um colosso
desses a seu lado?

Em Washington, uma umidade intensa torna o calor mais pesado. Em seu apartamento da Casa Branca,
Winston descobre, com arrebatamento, o ar condicionado. Toma um banho, fazendo transbordar sua
banheira, imergindo e soprando dentro da água, como um delfim. Conduzido, por Hopkins, dirige-se, depois,
ao gabinete oval. Uma discussão se trava, sobre o tema familiar da dosagem das forças entre a Europa e o
Pacífico. Ainda se desenvolve quando Marshall entra. Traz a mão um papel cor-de-rosa. Em silêncio,
estende-o a Roosevelt. Em silêncio, Roosevelt estende-o a Churchill. É a notícia da tomada de Tobruk!

A coisa se desenrolara de maneira fulminante. Mais uma vez, Rommel usara de simulação. Havia feito crer
que estava perseguindo o 8o Exército e que se dirigia diretamente para a estrada de Alexandria. Em Tobruk,
Klopper e seus soldados preparam-se, vagarosamente, para o longo sítio que estava para vir. No dia 20 de
junho, às 5h30, todos os bombardeiros que Kesselring pôde colocar à disposição de Rommel, compreendida
uma formação vinda de Creta, desencadearam-se sobre o ângulo sudeste do perímetro fortificado. Uma hora
depois, os Panzer surgiram. As defesas estavam em mau estado, a fossa antitanques entulhada, parte do
terreno não minada. O choque caiu sobre um batalhão de indianos Mahratas, que nem mesmo opuseram um
simulacro de resistência. Ao meio-dia, os alemães atingiam a crista de Pilastro. Às 7 horas, estavam em
Tobruk. Depois de ter acreditado, até o último momento, em um falso ataque, o pobre Klopper dispersava
seu estado-maior e se refugiava no PC de uma de suas brigadas. Às 2 horas da manhã, através de
radiotelefone, prometia a Ritchie que se defenderia “até o último cartucho”. Às 6 horas, pedia autorização
para se render. “Deus vos abençoe - respondeu Ritchie. - Sois um exemplo para todos nós e a África do Sul
terá orgulho de vós”. Naquela mesma noite, Hitler telegrafava ao vencedor comunicando que lhe enviava seu
bastão de marechal. “Seria melhor - disse Rommel - que me enviasse uma divisão”. A catástrofe inutiliza a
viagem de Churchill. Como fazer planos, se o Afrika Korps pode estar em Suez dentro de três dias? Desde 23
de junho, Rommel atravessara a fronteira egípcia. Uma fama fantástica o precedia. Os vencidos são os
primeiros a criar-lhe essa fama, referindo-se a ele como a um super-homem, apesar de uma proclamação de
Auchinleck (“Não sinto inveja de Rommel”) na qual dizia que ele, afinal de contas, não passava de um
vulgar general alemão. No Egito, onde o princípio de neutralidade coexiste com a lei marcial inglesa,
Rommel é o rei de todas as camadas sociais, desde a grande burguesia copta, maníaca da anglofobia, até os
felás. Espera-se, calcula-se o tempo que ele vai gastar para chegar. Auchinleck, que tomara pessoalmente o
comando do 8o Exército, retira-se até Marsa-Matruh - mas à frente de um punhado de tanques, Rommel o
persegue e vence. Os ingleses recuam para El-Alamein, simples parada de estrada de ferro, perto do deserto
em que se acha a depressão de Catara - caos intransponível de areias movediças e de pântanos salgados.
Menos de 100 km separam o Nilo dessa posição que é a última oportunidade.

Por um desses curiosos contragolpes dos quais a guerra é pródiga, o triunfo alemão em Tobruk salva Malta.
Kesselring insiste para que o assalto de tropas aerotransportadas seja travado segundo as previsões, mas a
glória de Rommel é por demais grande para que ele faça prevalecer a necessidade de tomar Suez em
primeiro lugar. É preciso convencer Mussolini, ferozmente ciumento. Hitler lhe escreve: “Duce, a deusa das
batalhas só visita os guerreiros uma vez...”. O espírito ágil de Mussolini contém-se. Desta vez, não permitirá
que o aliado glutão devore o espetáculo. Não arredará o pé e será sobre ele que tombará a luz. Parte para a
África no dia 29 de junho, pilotando, ele próprio, seu avião e levando seu cavalo branco, para fazer sua
entrada no Cairo. “Em 15 dias, ali instalarei um Alto Comissariado italiano...”.
Mas uma tempestade levanta-se contra Churchill. A nação britânica o seguiu, de desastre em desastre, com os
dentes cerrados. Aceitou sua explicação quando a Grécia foi perdida, quando Creta sucumbiu, quando o
Prince of Wales foi afundado, quando a Malásia foi posta fora do páreo, quando Cingapura foi tomada de
assalto. Agora, Tobruk? Os ingleses começam a se perguntar se não teriam sido vítimas de uma memória
curta: se o verdadeiro Churchill não é o estouvado dos Dardanelos, lançando couraçados contra fortes e
peitos contra rochedos. Jamais o bom conversador deu à luz uma vitória. Em toda a sua vida pública, tanto
na guerra quanto na paz foi um retórico, um aventureiro. Não estará conduzindo a Inglaterra à derrota, atrás
de sua fachada de grandiloqüência e de obstinação?

A 2 de julho, em sua sala provisória, os Comuns discutem a moção de desconfiança apresentada pelo
deputado conservador Sir John Wardlaw Milne. Os que atacam Churchill foram seus melhores amigos: um
Hore Belisha, companheiro da luta contra Munique; um Almirante Keyes, que mal acaba de ser substituído
por Lorde Louis Mountbatten na direção das operações de “comandos” contra a Europa cativa. Sustentam
que a condução da guerra deve estar separada da direção do Governo. A Inglaterra tem necessidade de um
generalíssimo. Não pode contentar-se mais com um primeiro-ministro onipotente.

A resposta de Churchill é uma obra-prima de psicologia. Longe de atenuar a derrota, ele a descreve em traços
que queimam o orgulho inglês: “Nossas forças era superiores às do Eixo. Tínhamos 100.000 homens de
tropas imperiais, contra 90.000, dos quais somente 50.000 alemães. Possuíamos superioridade de artilharia,
na proporção de 8 para 5, e pusemos em forma nossos novos obuses de 75 libras. No entanto, Tobruk caiu
em um só dia de combate. Havíamos recuado até Marsa-Matruh, pondo 120 milhas de deserto entre o 8 o
Exército e o inimigo. Cinco dias depois, Rommel se apresentou diante de nossa nova posição e fomos
obrigados a nos movimentar de novo, voltar ao Egito e recuar até El-Alamein. Não compreendo o que se
passou...”

Imensa coragem. Suprema habilidade. Um extraordinário movimento de reuniões se produziu - e uma vaga
concreta de confiança sobe, em relação a esse homem tão forte que nenhuma verdade faz baixar o olhar e
que presta aos homens a quem se dirige a homenagem de considerá-los tão fortes como ele. Quando a
Câmara se divide, para votar, somente 25 deputados passam pela porta esquerda - a da desconfiança -
enquanto 476 se reúnem diante da porta da confiança. Um novo contrato é firmado entre a Inglaterra e o
herdeiro de Marlborough.

Investida para o Cáucaso - contra Stalingrado - Derrota britânica em Dieppe

As semanas que se seguem são saturadas de ansiosa espera. A vitória voltou às ordens de Hitler. Seus
exércitos da Rússia aproximam-se do Volga e do Cáucaso. Irá desmoronar a resistência soviética, depois de
se ter prolongado acima de qualquer expectativa? A junção das águias hitleristas irá fazer-se na Ásia Menor?
A Inglaterra e os Estados Unidos irão assistir impassíveis ao esmagamento da Rússia? Que se passará em
seguida? Tentarão eles prostrar a Alemanha, sob o domínio dos mares e sob o domínio do céu? Ou se
entenderão com Hitler, destruidor do bolchevismo e imperador da Europa?

O desencadeamento da Operação Azul, a 28 de junho, foi precedido de um infortúnio que lembra o dos
aviadores de Melcheren-sur-Meuse. Um Major Reichel trouxera, em seu avião de ligação, a ordem de ataque
do 40o Corpo Blindado. O aparelho é abatido entre as linhas, e uma patrulha alemã, quando vai recolher os
destroços, não encontra nem cadáveres, nem documentos. A franco-maçonaria dos generais adia, por 48
horas, a comunicação do incidente ao Fuhrer, mas a cólera deste nem por isso é menos explosiva. O
comandante do 48o Corpo, um gozador da vida chamado Stumme, é submetido a Conselho de Guerra. Mais
bem tratado do que Sponeck, só é condenado a uma pena em fortaleza, da qual é logo liberado. Os russos não
se surpreendem. Mesmo assim são derrotados. O início da Operação Azul se desenrola num ritmo novamente
digno da Wehrmacht. A ação parte do Norte, do Sub-grupo de Exércitos Von Weichs, reunidos o 2 o Exército,
o 4o Exército Blindado e o 2 o Exército húngaro. É prolongada, dois dias mais tarde, pelo 6 o Exército, de
Paulus, “Uberaschende Entwicklung” (desenvolvimento surpreendente) escreve o pessimista Halder, que
duvidava da possibilidade de se retomar a iniciativa na frente oriental. O Don é atravessado e Voronej é
tomada, a 8 de junho, pelo 4o Exército Blindado. É atingido, dois dias depois e a 200 km água abaixo, pelo 6 o
Exército. A resistência é fraca. Muitas das unidades com as quais se chocam os assaltantes são milícias de
engenharia, apressadamente levantadas e sumariamente armadas. Isso confirma a idéia tenaz de Hitler: a
Rússia está exausta.
A 11 de julho, o OKW faz um primeiro balanço. A frente russa é rompida ao longo de 300 km, mas o número
dos prisioneiros é pouco elevado: 88.689, para o Subgrupo de exércitos Weichs e para o exército de Von
Paulus.

O dia 15 de julho confirma esta constatação. Tendo, por sua vez, tomado a ofensiva, o 1 o Exército Blindado,
Von Kleist, faz junção, em Millerovo, com o 40 o Corpo Blindado, chegado do Norte. O bolsão está fechado -
mas está vazio. Os russos substituíram por uma tática de defesa elástica a resistência imóvel que
proporcionou à Wehrmacht suas colossais colheitas de homens em Kiev e em Viazma. Assediadas pela
Luftwaffe, grandes colunas, em retirada, atravessam o Don, pelas pontas de Kasankaia e de Jelanskaia,
enfiam-se pelas estepes do Volga, aproximam-se da Ásia...

A interpretação de Hitler é a seguinte: sangrada mortalmente, a Rússia procura o inverno, para se refugiar
nele como um animal ferido em sua toca. A Rádio de Moscou confirma sua convicção. Expressa-se num tom
de agonia, registra que a Rússia luta sozinha e que seus desleais aliados não lhe dão a segunda frente
prometida. A intuição infalível do Fuhrer lhe diz que a Wehrmacht chega ao halali (grito de caça, ao som de
trompa, anunciando que o veado está acuado). Assim, resolve precipitar e multiplicar os ataques e modificar,
pelo acabamento da vitória, a articulação dos exércitos e o desenrolar do plano. A 19 de julho, Hitler,
desmembra o Grupo Sul. Confia sua ala direita, batizada “Grupo A”, ao Marechal List, deixando a ala
esquerda, ou “Grupo B”, sob o comando de Von Bock. Dez dias depois, em uma crise de cólera, priva-se
definitivamente dos serviços deste. O Coronel-General Barão von und zu Weichs zur Glon substitui Bock na
chefia do Grupo B, cedendo seu próprio subgrupo de exércitos ao General Von Salmuth. Depois de
Rundstedt, Brauchitsch e Leeb, o último dos grandes executantes de maio de 1940 desaparece da frente
oriental.

Hitler decidiu dirigir, ele próprio, as operações contra o Cáucaso, assumindo o comando de um grupo de
exércitos, depois de haver tomado, sucessivamente, o da Wehrmacht e do Reichsheer. Deixa a Prússia
Oriental e instala-se na Ucrânia, perto de Vinitza. O clima o põe à prova, azedando, ainda, as sua relações
com os generais. A temperatura é arrasante e nem a sombra de magras florestas de pinheiros traz alguma
frescura. Hitler tem saudades de Rastenburgo e, sobretudo, de Berchtesgaden, para onde, aliás, se evade
periodicamente, deixando soltas as rédeas que, em sua ausência, ninguém ousa nem pode tomar nas mãos.

Uma atrás da outra, nos dias 21 e 23 de julho, duas ordens de operações particulares, as Weisungen n° 44 e
45, perturbam a manobra alemã. O equilíbrio da Operação Azul está destruído. Sob o clima tórrido da
Ucrânia, no mistério de uma sala de mapas, o ponto culminante da guerra é atingido. A tragédia de
Stalingrado está iniciada. O próprio Hitler derrotou-se.

A Diretiva 44 se refere ao 11 o Exército. Tendo tomado Sebastopol e recebido seu bastão de marechal, Erich
von Manstein partira, para gozar licença na Romênia. Contava, quando voltasse, atravessar o estreito de
Kertch, invadir o Cubã e tomar Batum. Mas as ordens que encontra, ao voltar a seu QG, enviam-no a
conquistar Leningrado! Deixará na Criméia suas tropas romenas e duas divisões alemães. Enviará outra
divisão alemã a Creta e cederá uma quarta ao Grupo Centro, cujas reservas são nulas. O restante do 11 o
Exército, o 30o e 54o corpos, o imenso aparato de artilharia, os canhões gigantescos do cerco de Sebastopol,
Thor, Odin e Dora, serão embarcados por ferrovia, em meio aos atentados dos partisans, e atravessarão a
Rússia de alto a baixo! Hitler pensou que a forma da operação lhe permitiria reanimar, sem qualquer espera,
a ofensiva Norte. Die Weisung n° 44 enfraquece a Operação Azul. Dei Weisung n° 45 a desarticula. Quando
Hitler lhe tirou a metade de seu grupo de exércitos, o marechal Von Bock escreveu em seu diário que a
batalha ia ser cortada em dois. E tal era a intenção de Hitler.

Já no decorrer das duas semanas precedentes, a impaciência de Hitler modificara o desenrolar da Operação
Azul. A manobra de pinça das duas alas do Grupo Sul fora abandonada. O esforço alemão reporta-se ao
curso inferior do Don, caminho direto para o Cáucaso. Rostov torna-se o ponto de convergência do Subgrupo
Ruoff (17o Exército alemão e 3o Exército romeno) e do 1o Exército Blindado, de Von Kleist.

Perdida ao iniciar-se o lúgubre inverno precedente, a cidade é retomada a 23 de julho. O Don é atravessado,
no dia seguinte, por Kleist. O inimigo retira-se em ordem, perdendo pouca munição.

O Alto-Comando saberá, daí por diante, que esse recuo é voluntário: teve, misteriosamente, conhecimento do
Conselho de Guerra realizado, a 13 de julho, em Moscou, no qual o princípio da defesa elástica foi aceito por
Stalin. Mas Hitler persiste em acreditar que os russos estão derrotados e que, desdenhando qualquer
manobra, o exército alemão pode tirar partido de sua vitória avançando em todas as direções.

A Diretiva n° 45 procede dessa teimosa convicção. O Grupo de Exércitos A é lançado ao assalto do Cáucaso.
É prescrito à sua ala direita conquistar o Cubã, ocupar todo o litoral do mar Negro, apoderar-se dos
desfiladeiros da estrada ocidental, tomar Batum e a jazida petrolífera de Maikop. À sua ala esquerda, é
prescrito conquistar Ossetia, tomar a jazida petrolífera de Grozny, forçar a estrada de Tíflis, atingir o mar
Cáspio, a fim de tomar posse de Bacu. O plano toma o nome de uma humilde flor, Edelweiss. Nome
modesto, programa insensato. O Grupo de Exércitos A não dispõe de 300 tanques. Só se pode contar com 15
divisões alemães e com os contingentes romeno e eslovaco, mal armados e de valor duvidoso. As distâncias
são desmesuradas: de Rostov, às primeiras escarpas do Cáucaso, 600 km; do Don a Bacu, mais de 1.000 km!
A frente de partida dos grupos A e B, Rostov - Zymlanskaia - Voronej, mede 1.200 km; a frente que Hitler
ordena atingir Batum - Bacu - Astracã - Stalingrado - Voronej, mede 4.100 km! O restabelecimento da via
férrea não consegue seguir o avanço de suas tropas e, com o alongamento da linha de etapa, o transporte por
comboios automóveis chega ao absurdo - os caminhões devorando toda a gasolina de que dispõem. Os
cavalos, por sua vez, conhecem outra limitação: falta água para cessar a sede. Estepe radiosa, estepe fértil,
estepe tórrida, o Cubã se resseca, no verão, como um Saara. Ver-se-ão caravanas de camelos, transportando
jerrycans para os Panzer!

As tropas alemães perdem-se na imensidão chamejante. No último dia de julho, a Wehrmacht entra na Ásia,
transpondo a depressão do Manytch, limite da Europa. As forças russas foram reagrupadas em uma frente
norte-caucasiana e colocadas sob o comando do Marechal Budienny, recuperado de seu infortúnio da
Ucrânia. Elas irrompem travando combates de retaguarda nos cortes dos rios cujo degelo sustenta a caudal
fornalha do verão. O Cubã é atravessado, Krasnodar é tomada a 8 de agosto, pelo Grupo Ruoff. Na noite
seguinte, o 3o Corpo Blindado, vê, diante de si, o horizonte abrasar-se: os russos incendeiam os poços de
Maikop, que, a partir do dia seguinte, a Mineralöl Brigade terá como dever extinguir. Seriam necessários,
porem, meses de trabalho antes que uma exploração efetiva pudesse ser retomada. Desse petróleo que o
hipnotiza, e sem o qual diz que deverá “liquidar essa guerra”, Hitler só recolherá algumas gotas, fração
insignificante da quantidade de gasolina que gasta para conquistá-lo.

O avanço continua. Morta de sede, a infantaria faz 50 km por dia. Transforma-se a região, recupera-se o solo,
encaixam-se os vales, uma alta linha de neve emerge do horizonte. Os homens mudam, os russos tornam-se
raros, as populações cossacas - Tcherkesses, Tchetchenes, Ossetas - vem pôr-se à disposição dos invasores,
aos quais patriarcas dirigem longos discursos de boas-vindas, em línguas que nenhum intérprete compreende.
Mas a dispersão do fraco grupo de exércitos continua a acentuar-se. Do mar de Azov ao centro do Cáucaso,
sua frente de marcha mede 700 km, vista de relance. Os gritos de angústia dos comandantes de grandes
unidades chegam ao QG de Stalin, a centenas de quilômetros da batalha, onde o Marechal List, totalmente
sem força, preside nominalmente um empreendimento que não compreende. Por toda parte falta gasolina e as
dificuldades de reabastecimento entravam as operações. O que não impede que Hitler acrescente ao Plano
Edelweiss modificações que ainda mais acentuam sua extravagância. O Grupo A deve estender, ainda, seu
empreendimento, aumentar a abertura de suas alas, entrar no próprio Cáucaso, abandonar as montanhas
gigantescas e, sem caminhos, interpor-se entre seus elementos dispersados... Hitler nega a natureza, depois
de haver negado o inimigo.

Esse inimigo endurece sua resistência. Ruoff pena, diante das cidades do mar Negro - Anapa, Novorossirk,
Tuaspe - habilmente defendidas por Tchervitschenko. Kleist alcança sucessos mais espetaculares, abre
desfiladeiros vertiginosos, paga-se a glória de conquistar o cume do Elbruz (5.630 m), no alto do Cáucaso,
que 21 caçadores alpinos do 1o e do 4o Gebirgen, dividem, escalando-o de 18 a 21 de agosto, sob chefia dos
capitães Groth e Gämmeler. Toma Stravopol e, depois de ter atravessado a estepe dos Nogais, apodera-se de
Pyatigorsk, a Cidade das Cinco Montanhas, rodeada de florestas e de fontes sulfurosas. Mais a leste ainda, a
13a Panzer e o 52o Corpo atingem o Terek, que escapa da grande cadeia por gargantas nas quais os soldados
do Tzar talharam a rota militar de Ossetia, para subjugarem os montanheses. As vanguardas alemães
aproximam-se de Vladicáucaso (Porta do Cáucaso), à qual os bolchevistas deram o nome bárbaro de um
tchequista coberto de crimes: Ordjonykidze. Ao flanco do Kazbek, o caminho desce, em seguida, em direção
a Tíflis.

Por toda parte, ao mesmo tempo, a ofensiva arrasta-se. Ruoff não consegue tomar Novorossirk. Kleist não
consegue atravessar o Terek. O Fuhrer não consegue compreender por que seus exércitos não avançam mais,
A 31 de agosto, convoca List a Vinitza e o enche de recriminações: “A guerra fará três anos, na próxima
noite, e estou cansado desses generais cuja incapacidade, a moleza, a falta de fé e a falta de flama a fazem
durar...”

A guerra também dura diante de Stalingrado.

No plano alemão, Stalingrado não é um objetivo primordial. Hitler até admite que a cidade não seja tomada,
desde que suas fábricas sejam mantidas sob o fogo da artilharia e que a navegação no Volga seja cessada.
Mas, em virtude de um treinamento progressivo e por motivos cada vez mais afastados dos imperativos
militares, ele será levado a dar à batalha de Stalingrado a significação de que esta deveria revestir-se.

Para os russos, ao contrário, conservar Stalingrado é de uma importância capital. Sua perda seccionaria o
último laço entre a URSS e o Cáucaso. Assim já o era, em 1918, quando Stalingrado se chamava Tzaritzine e
Iossif Vissarionovitch Djugachvili, dito Stalin, ainda era apenas um comissário, em missão de procurar, na
região do Volga, trigo para salvar Moscou da fome. Se os cossacos do ataman Krasnov tivessem tomado a
cidade, o triunfo dos nacionalistas caucasianos provavelmente estaria assegurado. O caucasiano Stalin
encontrava-se no local e no momento decisivo para se opor a isso.

A 12 de julho, o Alto-Comando soviético organizou a defesa de Stalingrado. Uma Frente com esse nome é
criada sob o comando do Marechal Timoshenko, tendo como chefe de estado-maior o General Bodine e por
comissário político Khruschev. Essa frente compreende o 63 o, o 64o, o 21o e o 62o exércitos, assim como o 8 o
Exército Aéreo, sob as ordens do General Chriukine. Seu setor começa em Pavlovsk, segue o curso do Don,
até Klatskaia e, correndo do norte a sul, corta a curva do rio, que vai reencontrar em Werchne-Kurmokaskaia,
onde começa o front sudeste. Os russos aceitam o inconveniente de travar batalha às costas de um rio, a fim
de aumentar a espessura da avenida territorial que protegia Stalingrado.

Progressivamente, os alemães e seus aliados alinham-se às margens do Don, cobrindo, frente ao norte, a
ofensiva contra Stalingrado. O 2o Exército alemão e o 2o Exército húngaro são prolongados pelo 8 o Exército
italiano, do General Gariboldi, entrando em linha na primeira quinzena de julho. A cobertura está longe de
ser ideal. Mais do que pacífico, preguiçoso, o Don não é um obstáculo de muito valor e, aliás, os russos
mantêm, à sua margem direita, várias cabeças-de-ponte, entre as quais uma, a de Serafimovitch, mede 100
km em desenvolvimento. Encarregado de tomar Stalingrado, o General Paulus chama a atenção do grupo de
exércitos para a fraqueza de seu flanco esquerdo, mas a simultaneidade da marcha sobre o Cáucaso e da
manobra de Stalingrado retira toda disponibilidade ao Comando alemão. Além disso, Hitler declara que
pressente um desembarque inglês na França e ordena que retirem antecipadamente da frente oriental duas
divisões ligeiras, para ir reforçar as guarnições do Oeste.

Os últimos dias de julho são críticos, para o 6 o Exército. Este se encontra fracionado em duas massas, uma ao
norte de Kalatsch, outra ao sul de um afluente do Don, destinado a tornar-se célebre durante os meses
seguintes, o Tchir. Uma desorganização das retaguardas, provocada pelas improvisações de Hitler, priva-o de
combustível e prega o 6o Exército no mesmo lugar durante uma semana inteira. Seu comandante, Friedrich
Paulus, filho de um caixa da casa de correção, atingiu os altos escalões por sua inflexível aplicação às tarefas
de estado-maior, mas é desprovido do dinamismo esportivo e rude, das qualidades eminentes de treinador de
homens, de seu antecessor Reichenau. Todavia, supera corretamente a crise de 11 de agosto, fecha sobre as
forças soviéticas, e a 11 de agosto, fecha sobre as ordens soviéticas do Don a pinça de seu 14 o e 24o corpos
blindados. A Wehrmacht acaba de ganhar uma nova Kesselschlacht, que lhe deixa entre as garras perto de
100.000 prisioneiros. Oito dias depois, o 6 o Exército atira sobre o Don quatro pontes de campanha e toma pé
no istmo do Don-Volga. Menos de 50 km o separam de Stalingrado.

Aliás, esse exército não está só, no ataque à grande cidade. O 4 o Exército Blindado chega em seu auxílio,
conduzido, na tradição dos grandes comandantes de blindados, pelo velho soldado que é o Coronel-General
Hermann Hoth. Sua odisséia terrestre, desde o dia 28 de junho, é significativa do turbilhão no qual caiu o
pensamento militar de Adolf Hitler. De início, Hoth tomou Voronej, no limite norte do grupo de exércitos;
depois, estimulado pela direção suprema, desceu, o mais depressa possível, no rumo sul, para participar de
uma batalha de cerco, à qual Hitler renunciou bruscamente. O 4 o Exército Blindado forçou, então, o curso
inferior do Don, conjuntamente com o 1 o Exército Blindado, que não tinha necessidade de sua ajuda e só fez
engarrafar-lhe a retaguarda. Lançava-se à conquista do Cáucaso, quando Hitler o reteve, restituiu-o ao Grupo
B e enviou-o a participar da tomada de Stalingrado, por uma longa marcha de flanco. Avança, então, em uma
região extraordinária, nos confins da Europa e da Ásia. Tropas de cavalos selvagens fogem diante de seus
motociclistas. Águias pairam por cima das colunas de tropas. Calmuques de cabelos emaranhados vêem a
invasão passar defronte de suas cabanas pintadas de amarelo. O termômetro marca 55 o C à sombra - mas não
há sombra na estepe, sobre a qual se agita um mar de poeira. O material sofreu muito e, além disso, o 4 o
Exército Blindado foi desmembrado, para proveito de outras unidades. Hoth, na verdade, só traz uma divisão
motorizada e uma divisão blindada, que, dos 200 tanques de sua dotação regulamentar, não possui mais do
que uns 50. Os termos militares perdem sentido.

Mais do que uma cidade, Stalingrado é uma grande fábrica junto ao Volga. A aglomeração começa ao norte,
pelo subúrbio de Rynok. Termina, 45 km ao sul, pelo subúrbio de Kuperosnoje. A chave da cidade é uma
pequena cadeia de colinas, que o 4 o Exército Blindado ataca pelo sul e o 6 o Exército pelo norte. Como em
Terek, os russos resistem com a energia do desespero. A hora da mobilidade passou. Voltou a hora de enterrar
os pés no solo e de morrer sem sair do lugar. O 52 o Corpo alemão apoderou-se de uma ordem do dia de
Stalin, que, em tom paternal, sem censuras, sem ameaças, dizia a seu povo que a Rússia, daquele momento
em diante, não mais poderia perder territórios ou recursos industriais. Tudo o que restava devia ser defendido
encarniçadamente.

A 19, viva agitação em Vinitza: os ingleses desembarcaram em Dieppe! Os primeiros relatórios do Grupo de
Exércitos do Ocidente (confiado, desde 1o de março, ao Marechal Von Rundstedt) descrevem uma operação
de grande envergadura - a costa francesa invadida em 30 km, com participação maciça da Marinha e da
Força Aérea. Hitler presume que os ingleses vão tentar tomar o Havre ou fazer cair as defesas do Passo de
Calais.

Mas tudo muda bruscamente. O General Kuntzen, comandante do 81 o Corpo, comunica que faz entrar em
ação a Divisão SS Adolf Hitler e a 10 a Panzer. Espera que, naquela mesma noite, não haverá mais um só
inglês em armas, em Dieppe. O ataque, efetivamente, fracassa completamente. O desembarque não
ultrapassa a estreita praia de seixos. Levados à terra por embarcações especiais, ou LCT, 27 tanques são
destruídos a 20 metros da água salgada, tendo apenas um percorrido 100 metros. Os atacantes - dois terços
de canadenses - são aniquilados. A ordem de reembarcar precipitadamente está dada desde às 9 horas da
manhã, mas, de 6.000 homens engajados nessa força, 3.000 ficam no continente, mortos ou prisioneiros. O
relatório de Rundstedt registra que, às 16 horas, a vida de Dieppe voltara ao normal e que todas as lojas
estavam abertas. Acrescenta que a atitude da população fora “não somente irrepreensível, mas absolutamente
leal”. Alguns meses antes, quando um “comando” fez explodir a grande doca do estaleiro de Saint-Nazaire,
alguns civis haviam lutado ao lado dos ingleses. Desta vez, segundo um relatório da resistência francesa,
alguns habitantes ajudaram os alemães a capturar soldados britânicos. O Fuhrer, encantado, deu ordem de
libertar os prisioneiros de guerra de Dieppe e dos arredores. Teve, também, uma palavra de agradecimento
para os ingleses. É a primeira vez, disse ele, que se tem a complacência de atravessar o mar para oferecer ao
inimigo um mostruário completo de suas novas armas.

Esse breve alerta, comprovante da impotência inglesa, é bem depressa esquecido. A única realidade é a
batalha impiedosa que se trava, furiosamente, nas estepes tórridas do Don e do Volga. No dia 20 de agosto,
os russos lançam, de sua cabeça-de-ponte de Kremskaia, um furioso ataque, que só a intervenção do 11 o e 8o
corpos alemães conseguiram vencer. Três dias depois, o 14 o Panzerkorps, comandado por um dos ex-lugares-
tenentes de Guderian, Von Wietersheim, atravessa o Don, em massa, pela ponte de Viertachi. O general
maneta Hube leva, rapidamente, a sua 16a Panzer em formação cerrada, como um esquadrão de tanques das
velhas guerras. Nada lhe resiste: 60 km são percorridos numa só arremetida. A silhueta de Stalingrado, as
chaminés das fábricas, seus castelos, seus silos surgem na intensa poeira da tarde agonizante. Ainda um
esforço: o Volga surge! Corre aos pés de uma margem escarpada, numa largura de 2 km, coberto de jangadas,
manchado de óleo, sulcado de embarcações, sob a asa dos bombardeiros alemães que castigam Stalingrado.
A outra margem, baixa, é um dédalo de ilhas cobertas de juncos, com grandes linhas melancólicas de água,
perdendo-se a distância.

O Exército alemão atinge o Volga! Mas é, ainda, uma estreita penetração, um corredor de 2 a 3 km de
largura. Durante uma semana, a 16a Panzer, cravada no subúrbio de Rynok, permanece em situação crítica.
As duas outras divisões de Wietersheim, a 3 a e a 60a motorizadas, depois o 51o Corpo, comandado pelo
General Von Seydlitz-Kurbach, que acaba de liberar Demiansk do cerco, alargam o traçado feito por Hube.

A 31 de agosto, um Schwerpunkt é constituído ao norte de Stalingrado. Um outro é formado ao sul, pelo 4 o


Exército Blindado, do qual o 48o Pz K conquistou as alturas de Gabrilovka. A cidade de Stalin está encerrada
em um estojo. A guerra termina o seu terceiro ano e espera-se a qualquer hora a queda de Stalingrado.
Churchill em Moscou: nada de segunda frente

No campo ocidental, a temeridade de Dieppe foi apenas um custoso erro, ditado pelo prurido de fazer
qualquer coisa a qualquer preço. Um exército canadense enregela-se na Inglaterra. Stalin não cessa de
protestar contra a inércia britânica e Lorde Mountbatten insiste pela intensificação de suas operações
combinadas.

A expedição é concebida como uma demonstração de força, modesta e majestosa, ao mesmo tempo. A cidade
será ocupada pela manhã, conservada até a tarde e evacuada, sem pressa, durante a noite. A guarnição alemã
é estimada, pelo Intelligence Service, em um só batalhão. Uma poderosa concentração aérea expulsará dos
ares a Luftwaffe. Todavia, para evitar uma hecatombe de civis, renuncia-se a arrasar Dieppe por um
bombardeio prévio. Renuncia-se, mesmo, a toda operação, prevista para 7 de julho, quando a tempestade
impede que os navios de desembarque deixem a ilha de Wight. O plano é retomado, contra a oposição de
Montgomery, comandante-chefe do Sudeste da Inglaterra. Não está provado que os alemães foram
informados, mas isso não é impossível. A resistência ultrapassa, de longe, a que esperavam os ingleses. O
próprio céu os traiu: eles contavam arrastar a Luftwaffe a uma armadilha, mas perdem o dobro dos aviões
que abatem.

Dieppe é uma prova de sangue da impossibilidade de uma invasão da Europa em 1942. Demonstração inútil,
do resto. No momento em que isso se realiza, a idéia da Operação Sledhehammer é, enfim, abandonada: a
prudência britânica vence o espírito de aventura americana.

A luta foi cerrada. Marshall obstina-se. Ameaça: se os ingleses não querem prestar-se a operações, na
Europa, os Estados Unidos modificarão sua estratégia. “Meu objetivo - escreve Marshall, em um memorando
a Roosevelt - é constranger os britânicos a agirem contra a Alemanha. Se isso se tornar impossível, devemos
voltar-nos imediatamente para o Pacífico, com todas as nossas forças disponíveis, para acertar as contas com
o Japão”. A alternativa proposta por Churchill - a Operação Gymnast, ou seja, a conquista da África do Norte
é, segundo Marshall, “cara e ineficaz”. O petulante Secretário da Guerra, o velho Stimson, aplaude: “Eu
cordialmente endosso a proposta de uma prova de fogo com os britânicos...”

Influências poderosas forçam o retorno da estratégia americana. Da Austrália, MacArthur é um chefe de


escola ao qual se ligam os ex-isolacionistas e toda a opinião pública do Oeste. O chefe da Marinha,
Almirante King, quer terminar o que foi começado em Midway. Duas extremas se conjugam contra as
concepções inglesas: os anti-soviéticos mais violentos, que não vêem nenhum inconveniente em deixar
Hitler esmagar Stalin, e os pró-soviéticos mais fanáticos, que querem abrir imediatamente, custe o que
custar, uma segunda frente.

A 17 de junho, Hopkins e Marshall reaparecem na Inglaterra, acompanhados do Almirante King. A missão


está mergulhada no mau humor. Hopkins, notadamente, cuja viagem adia suas segundas núpcias, só a aceitou
sob pressão de Roosevelt, que exigiu a presença de seu alter ego, para uma deliberação decisiva. Um
primeiro incidente torna-se ponto de partida. Chegando por Prestwick, os americanos tomam o expresso da
Escócia, que Churchill, excepcionalmente, manda parar em Chequers, mas Hopkins recusa-se a descer,
dizendo que deve entender-se com o Estado-Maior americano em Londres, antes de se encontrar com o
Primeiro-Ministro. A explicação telefônica que se segue é de tal vivacidade que, perdendo o sangue-frio,
Churchill ameaça mandar expulsar o representante pessoal do Presidente dos Estados Unidos. “Lançou-me
no rosto a Constituição do Reino Unido - escreve Hopkins a Roosevelt - mas, como se trata de um
documento não escrito, a ofensa não foi considerável”.

Ultra-secreta, a conferência anglo-americana realiza-se no local menos secreto possível de se imaginar: o


quarto andar do Claridge’s. Os espíritos se pacificam, mas a discussão permanece apaixonada. King
manifesta uma desaprovação glacial por tudo quanto desvie do Pacífico qualquer fração das forças
americanas. Marshall limita a Operação Sledgehammer à conquista do Cotentin, mas ali se mantém com
obstinação. Os ingleses fazem sentir sua oposição a qualquer desembarque prematuro no continente.
Atingido o âmago do impasse, a questão consiste em saber se a ameaça de Marshall - voltar-se o poder
americano para a luta contra o Japão - será executada. Marshall será o primeiro a saber que nada disso
acontecerá: a 16 de julho, antes de sua partida de Washington, Roosevelt manda dizer que não admitiria essa
transferência. Deseja uma segunda frente, na Europa, o mais breve possível, a fim de salvar a Rússia, mas
não se cogita de punir os ingleses decidindo que a Alemanha já não é a adversária número um. Se for preciso
renunciar à Operação Sledgehammer, será para a operação africana que os Estados Unidos dedicarão sua
atenção.

Churchill ganha. Sensível às palavras, faz mudar para Torch o apelo convencional Gymnast, que considera
vulgar. Está entendido que o plano primitivamente considerado será ampliado, que Argel será incluída no
desembarque inicial e que se deverá tomar Túnis o mais depressa possível. Em princípio, a operação deve ser
desencadeada antes do fim de outubro e o General Dwight Eisenhower, que se encontra em Londres, é
oficiosamente informado, por Marshall, de que Roosevelt lhe destina o comando.

Resta avisar a Stalin do adiamento definitivo da segunda frente. Churchill aceita encarregar-se da penosa
tarefa. Deixa Londres, a 2 de agosto, em um bombardeiro desprovido de qualquer conforto e, passando por
Gibraltar, Cairo, Teerã, chega a Moscou no dia 12. O choque com o ditador é de extrema violência. “Estais
faltando a vossos compromissos - diz Stalin - porque tendes medo de vos medir com a Alemanha”. - “Fostes
aliados dela - replica Churchill - enquanto contra ela lutávamos sozinhos”. A entrevista se resume nessa troca
de recriminações.

Diante de El-Alamein, Rommel arrasta-se. A vitória enfraqueceu o vencedor. O Afrika Korps, cuja dotação
regulamentar é de 371 tanques, só conta com 50. A 90 a Divisão Ligeira é reduzida a 1.500 combatentes, O
desgaste italiano não é menor. Restam, ao 20o Corpo, 54 tanques, e todos os batalhões de infantaria, do 10 o
ao 21o corpos, foram desfalcados num terço de seus efetivos.

Rommel nem mesmo consegue nutrir suas fracas tropas. Em agosto, o Afrika Korps recebe 2.800 toneladas
de provisões, ou seja, 32% da quantidade necessária. Os homens são postos a meia ração. Sua situação ainda
seria pior, não fossem os estoques tomados ao cair Tobruk. O exército teuto-italiano anglo-saxoniza-se. Fuma
cigarro inglês, come conservas americanas, assegura 85% de seus transportes com veículos fabricados em
Coventry e em Detroit, conta com numerosas baterias cujos canhões foram enviados à África para destruí-lo.
Mas presas não conseguem substituir uma corrente regular de transportes. Sozinhos na tarefa de
abastecimento, a ação dos italianos é desesperadamente inferior à requerida. Rommel diagnostica a causa
dessa carência: ineficácia e corrupção do regime fascista, derrotismo e até sabotagem de parte daqueles que,
combatendo ao lado dos alemães, desejam sua derrota.

Todas as pressões exercidas sobre Roma fracassam diante de uma passividade sistemática ou se chocam
contra uma contraproposta: ocupemos Túnis. Os alemães recusam, sabendo que esse gesto acarretaria a
passagem da África do Norte francesa para o campo inglês.

Rommel é execrado entre os italianos. Mussolini está saturado de humilhações. Após três semanas de espera,
na Líbia, teve que regressar a Roma, deixando para atrás de si o cavalo branco que levara para a sua entrada
triunfal no cairo. Durante estas três semanas, Rommel não se dignou a fazer-lhe uma só visita. Na Itália,
como na África, a arrogância alemã e a suscetibilidade italiana tornam-se fonte constante de incidentes.
Ciano rememora a advertência de François-Poncet, no dia da declaração de guerra à França: “Os alemães são
senhores duros”. Duros e desdenhosos. “O que a Polônia, a Noruega, a França, a Rússia e a África não
conseguiram - diz Hitler - os italianos estão realizando: desmoralizam meus soldados”.

Da mesma maneira que seu exército, Rommel está esgotado à beira do triunfo. O clima do deserto triunfava
sobre seu organismo. Seu médico, o professor Horster, diagnostica “uma afecção estomacal crônica, catarro
intestinal, difteria nasal, distúrbios circulatórios”, tudo acompanhado de dores tão violentas que lhe
provocam desmaios. “O Marechal - conclui Horster - não está em condições físicas de conduzir a próxima
ofensiva”. Imediatamente, Rommel telegrafa a Hitler, dizendo que acha só poder ser substituído por
Guderian. A resposta chega na mesma tarde. Uma só palavra: “Inaceitável”. Rommel decide ficar.

Diante deles, uma vasta atividade se desenrola. O poder fala. Malta sucumbia à fome. Os ingleses, para
salvá-la, concentram 2 couraçados, 4 porta-aviões, 7 cruzadores e 25 destróieres, e encerram no estojo dessa
imponente força naval um comboio de 14 navios. A batalha que se trava de 11 a 13 de agosto, contra 600
aviões do Eixo, toma todo o Mediterrâneo ocidental. O porta-aviões Eagle e dois cruzadores são afundados,
mas 5 navios mercantes, entre os quais o grande petroleiro Ohio, atingem Valeta. Malta está salva.

Contornando o cabo da Boa Esperança, outros comboios menos movimentados levam ao Egito forças
crescentes. Churchill, a caminho de seu encontro com Stalin, em Moscou, inspeciona longamente o Oriente
Médio e, impiedosamente, procede às execuções necessárias. Auchinleck, embora tenha retido Rommel em
El-Alamein, é substituído por Alexander. Para suceder a Ritchie no comando do 8 o Exército, Churchill
designa o comandante do 13o Corpo, Gott, um vencido, é verdade, mas considerado por sua força de caráter e
sua agressividade. Não houve tempo para a mudança. Gott partia, em licença, a bordo do avião de Bombaim.
Dois Messerschmitt interceptam o aparelho, no momento em que deixava o cairo: Gott é morto. É Bernard
Montgomery quem, recomendado pelos chefes de estado-maior, herda o 8 o Exército.

A última chance de Rommel consiste em precipitar a decisão, antes que as forças adversárias se tornem
esmagadoras. Seu exército está um tanto refeito. O número de tanques alemães subiu a 229 e suas reservas
de combustível permitem-lhe novo esforço. Mas ele sabe que deverá estar no Cairo dentro de 48 horas, ou
seu último trunfo terá sido arriscado à toa.

No dia 30 de agosto, começa o ataque das linhas de El-Alamein. Três anos antes, era a própria guerra que
começava, com as soberbas divisões blindadas da Wehrmacht quebrando a resistência da frágil fronteira
polonesa, num arrebatamento de poder e orgulho. Hoje - mas quem poderia sabê-lo - a grande provação
chega. As duas nações agressoras pularam da concha com extraordinária força explosiva. Uma atinge a Índia
e a Austrália. A outra, o Nilo e o Cáucaso. Mas fizeram levantar-se as mais poderosas forças do mundo e seus
próprios chefes não ignoram que se esvaiu a esperança de um desenlace totalmente vitorioso.

A guerra está a meio caminho. A Alemanha e o Japão já demonstraram sua capacidade de vitória. Resta-lhe
provar sua invencibilidade.

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