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A Interacção entre Eleitorado do Norte e

Deputados no Contexto Democrático


Moçambicano
Percepções dos círculos eleitorais de:

CABO
DELGADO
NIASSA

NAMPULA

ZAMBÉZIA

Barbosa Morais e António Gaspar

1
A interacção entre eleitorado do norte e deputados no
contexto democrático moçambicano

Percepções dos círculos eleitorais de


Cabo Delgado, Nampula, Niassa e Zambézia

Barbosa Morais e António Gaspar

2
FICHA TÉCNICA
TÉCNICA

Direcção

Barbosa Morais: Director do CEPKA

Coordenação da pesquisa e edição

Barbosa Morais: Coordenação Geral

António Gaspar: Pesquisador Principal

Edição

Editor: Barbosa Morais e António Gaspar


Autor: CEPKA
Capa e Maquetização: Vasco Filipe Camudimo

Ano de Edição: 2007


@ CEPKA, 2007
Impressão: DINAME, Maputo
Tiragem: 500 Exemplares
Ano de Publicação: 2007

CEPKA: Centro de Pesquisa Konrad Adenauer


Endereço físico: Av. Filipe Samuel Magaia Nº1009, Bairro Central,

3
Cidade de Nampula, Nampula, Moçambique
Tel. 258 – 26215048 TeleFax: 258 – 26214552
Email: cepka@tdm.co.mz
Índice

Índice.........................................................................................................(iv)
Agradecimentos..........................................................................................(v)
Abreviaturas..............................................................................................(vi)
Lista de caixas, gráficos e tabelas...........................................................(viii)
Sumário Executivo......................................................................................(x)

Introdução........................................................................................1
Introdução................................................................................. .......1

Objectivo geral........................................................................................2

Objectivos específicos.............................................................................2

Metodologia............................................................................................4

Estrutura do trabalho...........................................................................10

Parte I:
I: Análise de percepções do eleitorado por província........12
província........12

Capítulo I: Percepções do eleitorado de Cabo Delgado...........................13

Capítulo II: Percepções do eleitorado de Nampula.................................34

Capítulo III: Percepções do eleitorado de Niassa....................................51

Capítulo IV: Percepções do eleitorado da Zambézia...............................70

Parte II: Análise


Análise de percepções de deputados.............................88

Capítulo V: Percepções de deputados....................................................90

Conclusões e recomendações....................................................113
recomendações....................................................113

Referência bibliográfica..................
bibliográfica................................................
gráfica.............................................................
............................................116
..............116

Anexos.........................................................................................117
Anexos.........................................................................................117

Anexo I: Questionário I (Deputados)....................................................117

4
Anexo II: Questionário II (Cidadão)......................................................121

Agradecimento

A produção da presente obra é fruto de uma valiosa e multiforme ajuda e


assistência de diversas entidades públicas e privadas, destacando-se a
Assembleia da República, os Governos provinciais e distritais, bem como
as autoridades municipais das dos locais onde decorreu a pesquisa de
campo. O nosso incomensurável agradecimento para estas entidades. À
Fundaçãp Konrad Adenauer (KAS), representada em Moçambique pelo
Dr. Ingo Scholz, o autor endereça o seu agradecimento pelo suporte
financeiro prestado ao projecto de pesquisa e pela paciência que
demonstrou desde a concepção do mesmo e pelo encorajamento
proporcionado durante a preparação e execução do projecto.

O CEPKA realça, também, o seu agradecimento aos académicos das


províncias de Cabo Delgado, Nampula, Niassa, Maputo e Zambézia pelo
inestimável contributo dado na recolha, tratamento e análise de dados
empíricos. Aos representantes das organizações da sociedade civil destas
províncias que participaram activamente nos seminários de divulgação
dos resultados preliminares da pesquisa vai, igualmente, o nosso
sincero. De forma especial aos talentosos jovens académicos, João Inácio
Ferrão e Chagas Levene, expressamos a nossa maior gratidão pelo apoio
prestado em todas fases da produção desta obra.

Finalmente, gostaria de agradecer à todas personalidades e cidadão


comum que directa ou indirectamente contribuíram para o sucesso da
pesquisa de campo que culmina com a publicação deste livro,
particularmente, aos ilustres senhores deputados dos círculos eleitorais
de Cabo Delgado, Nampula, Niassa e Zambézia e ao eleitorado das

5
mesmas províncias, pelo fato de disponibilizar seu tempo para contribuir
com informações, para efectivamente concretizar a publicação deste livro.

Abreviaturas

AR - Assembleia da República

CEPKA – Centro de Pesquisa Konrad – Adenauer

CNE – Comissão Nacional de Eleições

FRELIMO – Frente de Libertação de Moçambique

KAS - Fundação Konrad Adenauer

MAE – Ministério de Administração Estatal

RENAMO-EU – Coligação Renamo e União Eleitoral

STAE – Secretariado Técnico de Administração Eleitoral

Lista de caixas, gráficos


gráficos e tabelas

Lista caixas
Caixa 1.1: Impacto da acção do deputado na vida do cidadão........................................................17

6
Caixa 1.2: O que pensa e espera o cidadão do deputado...............................................................24
Caixa 1.3: AR debate tópicos que reflectem aspirações do eleitorado............................................31

Caixa 2.1: O que espera dos deputados para melhorar a sua vida.................................................35
Caixa 2.2: O que pensa e espera o cidadão da actividade do deputado.........................................43
Caixa 2.3: AR debate tópicos que reflectem aspirações do eleitorado............................................49

Caixa 3.1: O que espera dos deputados para melhorar a sua vida.................................................54
Caixa 3.2: O que pensa e espera o cidadão da actividade do deputado.........................................61
Caixa 3.3: AR debate tópicos que reflectem aspirações do eleitorado............................................67

Caixa 4.1: O que espera dos deputados para melhorar a sua vida.................................................72
Caixa 4.2: O que pensa e espera o cidadão da actividade do deputado.........................................80
Caixa 4.3: AR debate tópicos que reflectem aspirações do eleitorado............................................86

Caixa 5.1: Falta de transportes e comunicações: o escudo do deputado........................................91


Caixa 5.2: Debates inter-multipartidários precisam-se.....................................................................96
Caixa 5.3: Contornos da interacção entre deputados e círculos eleitorais......................................99
Caixa 5:4 Forma de encaminhamento de preocupações do eleitorado.........................................100
Caixa 5.5: Sessões plenárias como palcos da discórdia...............................................................103
Caixa 5.6: Grau de satisfação das expectativas do eleitorado......................................................105
Caixa 5.7: Processo interno de tomada de decisões.....................................................................108
Caixa 5.8: Consenso vs disciplina partidária..................................................................................110
Caixa 5.9: Auto-avaliação do deputado.........................................................................................112

Lista gráficos
Gráfico 1.1: Tem algum interesse pela política?..............................................................................14
Gráfico 1.2: A Assembleia da República tem a função de?............................................................20
Gráfico 1.3: Sabe porque se diz que o Deputado é representante do povo?..................................23
Gráfico 1.4: O carácter dos debates na Assembleia da República..................................................30

Gráfico 2.1: As eleições mudam alguma coisa na sua vida?...........................................................37


Gráfico 2.2: Conhece a Assembleia da República?.........................................................................38
Gráfico 2.3: Relacionamento institucional entre a FRELIMO e RENAMO-UE na AR......................46
Gráfico 2.4 O nível de relacionamento entre os deputados da AR.................................................47

Gráfico 3.1: As eleições mudam alguma coisa na sua vida?...........................................................53


Gráfico 3.2: Conhece a Assembleia da República?.........................................................................56
Gráfico 3.3: Relacionamento institucional entre FRELIMO e RENAMO-UE....................................63
Gráfico 3.4: Nível de relacionamento entre deputados da AR.........................................................65

Gráfico 4.1: Tem algum interesse pela política?..............................................................................71


Gráfico 4.2: Conhece a Assembleia da República?........................................................................75
Gráfico 4.3: Conhece a diferença entre o Governo e a Assembleia da República?........................78
Gráfico 4.4: A relação de trabalho na AR entre a FRELIMO e RENAMO-UE.................................81
Gráfico 4.5: O carácter de debates na Assembleia da República...................................................84

7
Gráfico 5.1: Relacionamento institucional entre a FRELIMO e RENAMO-UE.................................95
Gráfico 5.2: A interacção entre deputados e seus círculos eleitorais..............................................97
Gráfico 5.3: O pronunciamento do deputado sobre actos do governo rege-se por......................104
Gráfico 5.4: Factores determinantes nas comissões especializadas.............................................109

Lista de Tabelas
Tabelas
Tabela 0.1: Distribuição da amostra por província.............................................................................6
Tabela 0.2: Distribuição de locais de entrevistas por distrito/província..............................................7
Tabela 0.3 : Entrevistados por sexo e província................................................................................8
Tabela 0.4: Entrevistados por idade e província................................................................................9
Tabela 0.5: Entrevistados por grupos ocupacionais/província.........................................................10

Tabela 1.1: As eleições mudam alguma coisa na sua vida?...........................................................16


Tabela 1.2: Conhece a Assembleia da República?.........................................................................18
Tabela 1.3: Conhece a diferença entre o Governo e a Assembleia da República?........................20
Tabela 1.4: A relação de trabalho na AR entre a FRELIMO e RENAMO-UE.................................25
Tabela 1.5: O Relacionamento institucional entre a FRELIMO e RENAMO UE na AR..................27
Tabela 1.6: O nível de relacionamento entre os Deputados da AR................................................29

Tabela 2.1: Tem algum interesse pela política?.............................................................................34


Tabela 2.2: A Assembleia da República tem a função de?............................................................39
Tabela 2.3: Conhece a diferença entre o Governo e a Assembleia da República........................41
Tabela 2.4: Sabe porque se diz que o deputado é representante do povo?..................................42
Tabela 2.5: As relações de trabalho na AR entre a FRELIMO e da RENAMO-UE........................44
Tabela 2.6: O carácter de debates da Assembleia da República...................................................48

Tabela 3.1: Tem algum interesse pela política?..............................................................................51


Tabela 3.2: A Assembleia da República tem a função de?.............................................................58
Tabela 3.3: Conhece a diferença entre o Governo e a Assembleia da República?........................59
Tabela 3.4: Sabe porque se diz que o deputado é representante do povo?...................................60
Tabela 3.5: Relação de trabalho na AR entre a FRELIMO e RENAM-UE......................................62
Tabela 3.6: O carácter de debates da Assembleia da República....................................................69

Tabela 4.1: As eleições mudam alguma coisa na sua vida?...........................................................73


Tabela 4.2: A Assembleia da República tem a função de?.............................................................76
Tabela 4.3: Sabe porque se diz que o Deputado é representante do povo?..................................79
Tabela 4.4: O relacionamento institucional entre a FRELIMO e RENAMO-UE na AR..................82
Tabela 4.5: Nível de relacionamento entre os deputados da Assembleia da República.................84

Tabela 5.1: Dificuldades dos deputados durante o exercício das suas actividades........................90
Tabela 5.2: Relacionamento institucional entre a FRELIMO e RENAMO-UE.................................93
Tabela 5.3: A interacção entre deputados e seus círculos eleitorais...............................................98
Tabela 5.4. Relacionamento na AR entre os deputados é moldado por..........................................99
Tabela 5.5. O nível de relacionamento entre os deputados da AR................................................102
Tabela 5.6 As decisões nas bancadas para influenciar o plenário da AR.....................................107
Tabela 5.7. Qual é efeito das decisões tomadas na AR?..............................................................111

8
Sumário Executivo

A Constituição da República de Moçambique elege como “modus”


primário de realização da “vontade do povo” a representação
parlamentar, que significa delegação de poderes à Assembleia da
República (AR). Este órgão tem competências para agir institucional e

9
autonomamente, dentro do quadro legal, em nome do povo para o povo.
Assim, o Parlamento moçambicano representa “todos os cidadãos
moçambicanos”, independentemente de terem participado ou não no
“voto geral, directo, livre e secreto” na eleição dos deputados.

Nos últimos tempos tem estado a crescer o sentimento de que existe uma
certa erosão no índice de confiança e decepção do eleitorado
moçambicano em relação ao desempenho do sistema representativo.
Ademais, nota-se a perda de credibilidade e confiança nos actores
políticos, dos quais se destacam o Parlamento e partidos políticos. Este
fenómeno tende a ganhar maior consistência nos últimos tempos, com o
crescimento do índice de abstenção nos pleitos eleitorais.

A pesquisa permitiu testar o grau de interactividade entre o eleitorado e o


deputado da Assembleia da República, tendo constatado o seguinte:

 a maioria esmagadora dos entrevistados das 4 províncias tem um


forte interesse pela actividade política, que pode ser um indicativo
positivo da maturidade cívica dos moçambicanos da região onde a
pesquisa foi conduzida. A grande mancha deste processo reside na
crescente subida de abstenção que se verifica em cada pleito
eleitoral;
 os cidadãos entrevistados acreditam que os diferentes pleitos
eleitorais produzem algum impacto positivo nas suas vida;
 os cidadãos entrevistados demonstraram que têm conhecimento
sólido sobre a AR, e sabem distinguir esta do Executivo. Este
conhecimento pode estar relacionado com o forte interesse
demonstrado pelos entrevistados na política.

O estudo indica ainda que as relações de trabalho entre as bancadas


parlamentares da Frelimo e da Renamo-EU são cordiais, embora
apontem haja problemas no relacionamento institucional. Este factor
repercute-se na imagem dos deputados junto da opinião pública,
sobretudo, porque:

 o comportamento dos parlamentares na AR é ditado, basicamente,


pela “disciplina partidária”;
 o “interesse do eleitorado” é subalternizado não valorizado
devidamente pelos deputados; e
 o crescimento a erosão dos índices de confiança dos cidadãos para
com as instituições democráticas.

Por seu turno, a ideia predominante no seio de deputados entrevistados é


de que as suas grandes dificuldades residem nos transportes e
comunicações e a exiguidade de recursos financeiros para se deslocarem
aos círculos eleitorais. Quanto ao relacionamento das suas bancada, os

10
deputados convergem e sublinham que está ainda muito longe de ser o
“ideal ou desejável”. A interacção entre os deputados e o eleitorado
corresponde às condições específicas da democracia em Moçambique,
particularmente devido às dificuldades de ordem material e financeira.

O relacionamento interpessoal dos deputados na Assembleia da


República é moldado, essencialmente, pela combinação da disciplina
partidária e interesse do eleitorado. Todavia, é indiscutível que o critério
de “disciplina partidária” domina o cenário de relacionamento
interpessoal da AR, em detrimento do “interesse do eleitorado”.

O processo interno de tomada de decisões tanto nas bancadas


parlamentares como nas comissões especializadas está ainda
rigidamente centralizado. Os grupos parlamentares funcionam
“amarrados” aos ditames da “disciplina partidária” em detrimento dos
“interesses do eleitorado”.

Finalmente, é importante sublinhar que o conflito entre as bancadas tem


superado o consenso, particularmente, em assuntos de interesse
nacional. Este cenário explica a existência de constantes divergências de
opiniões e de visão na interpretação do regimento e da lei mãe entre as
bancadas e entre membros das comissões especializadas. Infelizmente,
este tem sido a nota dominante no funcionamento da AR ao longo dos
anos de sua existência como parlamento multipartidário.

11
Introdução

O conceito de democracia, apesar de ser articulado com muita frequência


no nosso país, o seu real significado e alcance na vida do cidadão é ainda
mal entendido. No geral, entende-se por democracia “o governo em que o
povo” tem o poder, investido nas pessoas e exercido directamente por
elas ou por pessoas eleitas por sufrágio universal. Por outras palavras, a
democracia incorpora um “governo do povo, pelo povo e para o povo”.

A Constituição moçambicana elege como “modus” primário de realização


da “vontade do povo” a representação parlamentar. A representação
democrática significa, em primeiro lugar, a delegação de poderes do povo
a Assembleia da República (AR). Este órgão tem competências para agir
institucional e autonomamente, dentro do quadro legal, em nome do
povo para o povo.

O Parlamento moçambicano representa “todos os cidadãos


moçambicanos”, independentemente de terem participado ou não no
“voto geral, directo, livre e secreto” na eleição dos deputados. Este facto
explica, de algum modo, que o deputado continua a ser o digno
representante do povo perante aos cidadãos moçambicanos e não apenas
ao partido ao qual está filiado. Este enunciado permite assumir que a AR
tem também o mandato daqueles que não votaram ou não o puderam
fazer por vários motivos, tal como aconteceu nas eleições1 de 2004.

Perante a definição acima apresentada, pode-se questionar até que ponto


a democracia representa, efectivamente, o “Governo do povo, pelo povo e
para o povo”. Questiona-se ainda em que medida a AR representa “todos
os moçambicanos”? As respostas para estas perguntas não são fáceis
tendo em conta o actual estágio de desenvolvimento da democracia em
Moçambique. Com efeito, estamos perante um desafio de construção de
pilares fundamentais da democracia representativa. Um passo neste

1
Recorde-se que nas eleições gerais de 2004 a abstenção foi de 63.7%.

12
sentido foi iniciado, pois os dirigentes do Estado e as instituições
democráticas são eleitos democraticamente.

Todavia, constata-se que existe uma certa erosão de confiança e


decepção do eleitorado moçambicano em relação ao desempenho do
sistema representativo. Ademais, nota-se a perda de credibilidade e
confiança nos actores políticos, dos quais se destacam o Parlamento e
partidos políticos. Este fenómeno tende a ganhar maior consistência nos
últimos tempos, com o crescimento do índice de abstenção nos pleitos
eleitorais. A emergência de cidadãos cada vez mais críticos e exigentes
com relação ao funcionamento das instituições democráticas é um sinal
positivo no contexto de consolidação do exercício da cidadania.

No entanto, é importante sublinhar que a estrutura de distribuição do


poder político em Moçambique reserva as competências da área de
legislação à Assembleia da República, definido-a como o mais alto órgão
legislativo com a função de determinar as normas que regem o
funcionamento do Estado e a vida económica e social através de leis e
deliberações de carácter genérico.

Finalmente, importa referir que a realização deste trabalho teve,


igualmente, como móbil a constatação de que é escassa a informação
pública sobre as diversas formas de relacionamento entre os
representantes (parlamentares) e os representados (cidadãos) em
Moçambique. Este aspecto representa, também o ponto forte das
propostas para a realização deste trabalho.

Objectivo Geral do Estudo

O objectivo geral do presente trabalho assenta na identificação do grau


de interlançamento entre os representantes do povo e seu respectivo
eleitorado, no contexto do aprofundamento e consolidação da democracia
multipartidária, em Moçambique.

Objectivos Específicos do Estudo

Este estudo tem em vista alcançar os seguintes objectivos específicos:

 Reflectir e tirar ilações sobre a articulação entre os deputados e o


eleitorado;
 Identificar o desempenho do deputado na busca de soluções para
os grandes problemas do povo;
 Conhecer, na prática, os contornos da função do Poder Legislativo
em Moçambique; e

13
 Identificar e conhecer as diferentes dimensões da actividade
parlamentar2.

Em termos gerais o estudo constata que a grande maioria dos


entrevistados das 4 províncias mostrou forte interesse pela política, o que
é indicativo positivo da maturidade cívica dos moçambicanos da região
onde decorreu a pesquisa. Os mesmos entrevistados acreditarem, que os
diferentes pleitos eleitorais já realizados no país estão a produzir impacto
positivo na vida do cidadão. Apesar disso, não deixa de representar um
factor de preocupação a crescente onda de abstenção que tomou conta
dos eleitores nas últimas eleições gerais. Este cenário obriga os políticos
e outros intervenientes a repensarem seriamente sobre este problema,
sob pena de se agravar.

No que toca aos órgãos de soberania, com destaque para a Assembleia da


República e o Governo, constatou-se que a esmagadora maioria dos
entrevistados das 4 províncias tem conhecimento sólido sobre o que é a
AR, suas funções, definidas pela Constituição, assim como as diferenças
entre a AR e o Executivo. De alguma forma, este conhecimento pode
estar relacionado com o forte interesse demonstrado pelos entrevistados
na política. Por causa disso, a esmagadora demonstrou conhecimento
sobre o verdadeiro significado do que é ser parlamentar.

No que toca às relações de trabalho desenvolvidas pelos dois grupos


parlamentares, da Frelimo e da Renamo-EU, o estudo indica que a
maioria dos entrevistados defende que estas, apesar de diferenças na
abordagem, visão e interpretação dos assuntos de interesse nacional, são
cordiais. Porém, o grande problema está no relacionamento institucional,
onde se verificam diferenças significativas entre as partes, o que faz com
seja considerado de negativo. Apesar de haver uma divisão equitativa
entre as províncias na qualificação do mesmo, entre positivo e negativo, o
saldo não é nada animador, o que pressupõe que as bancadas têm de
apresentar uma melhor imagem perante a opinião pública, pois esta
situação pode também ser um dos factores que esteja a contribuir para o
aumento do número dos abstencionistas nos processos eleitorais.

Associado a isto se constatou que os entrevistados das 4 províncias


acreditam que o comportamento dos parlamentares é ditado,
basicamente, pela “disciplina partidária” e pelo “interesse do eleitorado”.

2
Destas actividades se podem destacar, a produção legislativa, disciplina partidária,
relacionamento entre deputados das duas bancadas e trabalho das comissões
permanentes etc.

14
De alguma forma, só o facto de acreditarem que o interesse do eleitorado
é equacionado pode servir como ponto de partida para valorizar o
trabalho desenvolvido pelos deputados moçambicanos.

A percepção predominante no seio do eleitorado é de que esses actores e


os organismos no plano prático são ineficientes e eficazes perante as
crescentes demandas da sociedade. Por seu turno, a falta de confiança
dos cidadãos para com as instituições democráticas contribui para a
triste situação que caracteriza o cenário político nacional. Não menos
importante é o facto de estes acreditarem que as motivações de grande
parte dos políticos são, meramente, de carácter individual e egoísta.

Por seu turno, a ideia predominante no seio de deputados entrevistados é


de que as suas grandes dificuldades residem nos transportes e
comunicações e a exiguidade de recursos financeiros para se deslocarem
aos círculos eleitorais. Quanto ao relacionamento das suas bancada, os
deputados convergem e sublinham que está ainda muito longe de ser o
“ideal ou desejável”. A interacção entre os deputados e o eleitorado
corresponde às condições específicas da democracia em Moçambique,
particularmente devido às dificuldades de ordem material e financeira.

O relacionamento interpessoal dos deputados na Assembleia da


República é moldado, essencialmente, pela combinação da disciplina
partidária e interesse do eleitorado. Todavia, é indiscutível que o critério
de “Disciplina partidária” domina o cenário de relacionamento
interpessoal da AR, em detrimento do “Interesse do eleitorado”.

Igualmente, o processo interno de tomada de decisões nas bancadas e


Comissões especializadas está rigidamente centralizado. Os grupos
parlamentares funcionam tendo em conta a necessidade de combinar os
critérios de defesa dos “interesses do eleitorado” e da “disciplina
partidária”. Assim, a produção de consensos sobre assuntos de interesse
nacional tem sido dificultada.

Por fim, importa salientar que o estudo constata que o desencanto dos
entrevistados para com as instituições democráticas, bem como o seu
distanciamento em relação à política e dos assuntos públicos é evidente.
Igualmente, é inquestionável o fraco sentido de apropriação do processo
por parte dos cidadãos. Estes factores, que de uma forma isolada ou
combinada, podem estar a traduzirem a fragilidade do actual modelo de
governo e democracia representativa em curso no país.

Metodologia do Estudo

15
Para a realização deste estudo, a equipa de trabalho fez recurso a
diversas técnicas e métodos de trabalho usados em ciências sociais. A
recolha de dados foi feita junto dos deputados da Assembleia da
República e dos cidadãos interpelados nas províncias de Cabo Delgado,
Niassa, Nampula e Zambézia.

Em Cabo Delgado, as entrevistas foram realizadas nos


distritos/município de Pemba, Mocímboa da Praia e Chiúre. Em
Nampula, o processo decorreu em Angoche, Lalaua e cidade de Nampula.
No Niassa, as entrevistas foram realizadas em Cuamba, Majune e
Mavago. Por último, na Zambézia, a recolha de dados decorreu em
Gúrurè, Mopeia e no Município de Quelimane.

As entrevistas foram realizadas com base em 2 questionários específicos


(qualitativo e quantitativo) com perguntas quase similares, sendo um
para deputados e outro para cidadãos comuns (ver anexos). Assim, para
os deputados foi usado o Questionário I, enquanto que para os cidadãos
foi administrado o Questionário II.

A recolha de dados privilegiou, fundamentalmente, a busca de


percepções de deputados da Assembleia da República das duas
bancadas e dos cidadãos. Tendo em conta que se trata de percepções
estas estão sujeitas às modificações ao longo do tempo. Este facto mostra
que os resultados do estudo poderão, igualmente, sofrer alteração ao
longo do tempo.

Fases preparatórias do estudo

A fase preparatória da pesquisa compreendeu duas fases:

(i) A primeira fase

Esta fase consistiu na conceptualização do estudo, organização e


testagem dos instrumentos de recolha de dados (inquéritos). Além disso,
esteve reservada para realizar o pré-teste dos questionários, que
consistiu na administração do sobre um número reduzido de elementos
que possuíam as mesmas características da amostra seleccionada para o
estudo. Por outro lado, é importante sublinhar que este exercício visava
permitir que os entrevistadores ou inquiridores se familiarizassem com
os referidos questionários, assim como para examinar a capacidade e/ou
habilidade dos inquiridores seleccionados.

(ii) A segunda fase

16
Durante esta fase, o questionário foi adoptado como principal
instrumento de trabalho. Os conhecimentos dos inquiridores foram
consolidados nesta fase através de discussões adicionais realizados sob a
coordenação da equipe técnica de pesquisa dirigida por um supervisor.

Recolha de dados e grupos-


grupos-alvo

Durante a recolha de dados foram empregues técnicas tais como


discussões em pequenos grupos, entrevistas com informantes
previamente identificados para recolher informações tanto quantitativas
como qualitativas. Assim, o estudo resulta de dados recolhidos junto de
deputados e de cidadãos comuns que constituíram o principal grupo-
alvo. No geral, o grupo alvo é constituído por cidadãos moçambicanos
com idade igual ou superior a 18 anos de idade. Por seu turno, os
questionários contêm perguntas fechadas e abertas.

Amostra

A amostra inicial era estimada em 1200 inquiridos a razão de 300 por


cada província e 100 pessoas por cada distrito. Todavia, devido a
problemas de vária ordem a recolha de dados teve uma cobertura acima
da média como ilustra a tabela abaixo.

A Tabela 1.1, abaixo, ilustra a distribuição da amostra, da participação


efectiva dos inquiridos e da taxa de resposta.

Tabela 0.1 Distribuição da amostra por província


Participação no
Província Taxa de resposta
Tamanho da amostra inquérito
Cabo Delgado 300 248 82.6
Nampula 300 285 95.0
Niassa 300 290 96.6
Zambézia 300 238 79.3
Total 1200 1120 88.8

A Tabela 1.1 permite visualizar o tamanho inicial da amostra, que era de


1200, mas que foi possível inquirir apenas 1061 pessoas de todas as
quatro províncias, correspondendo à taxa global de 88.8%.

Esta taxa de resposta de 88.8% traduz uma certa confiança nos dados,
pois apenas 11.2% de inquiridos são que ficaram por entrevistar. No
global, pode-se afirmar que a participação do eleitorado no inquérito foi
positiva.

17
A Tabela 1.2, abaixo, apresenta a distribuição de entrevistados por locais
de entrevistas, nomeadamente por distrito e por província.

Local da recolha de dados

As entrevistas foram realizadas por equipes constituídas por inquiridores


que se deslocaram para 12 distritos das províncias acima mencionadas,
ou seja, Cabo Delgado, Nampula, Niassa e Zambézia.

A recolha de dados decorreu em 4 províncias e 12 distritos do Norte e


centro do país. A Tabela 1.2, acima, apresenta a distribuição de
entrevistados por locais de entrevistas, nomeadamente por distrito e por
província.

Tabela 0.2 Distribuição de locais de entrevistas por distrito/província


Província Distrito/Município
Chiúre
Mocimba da Praia
Cabo Delgado Pemba
Angoche
Lalaua
Nampula Nampula – Cidade
Cuamba
Majune
Niassa Mavago
Gúrurè
Mopeia
Zambézia Quelimane

Os locais seleccionados tiveram em conta aspectos marcantes de ordem


político e sócio-económico caracterizados pelos seguintes elementos:

 Existência de grandes potencialidades em termos de recursos


naturais não explorados;
 Dependência acentuada na agricultura de sobrevivência;
 Inexistência de um sector industrial dinamizador da actividade
económica, entre outros;
 Ausência de políticas claras sobre o equilíbrio social, incluindo de
género;
 Lacunas em termos de infra-estruturas de desenvolvimento (vias
de acesso, energia eléctrica);
 Falta de infra-estruturas económicas e sociais;
 Deficiente sistema de drenagem;
 Fraca cobertura de abastecimento de água potável;

18
 Baixa renda das famílias e deficiente sanidade nos mercados;
 Elevado índice de pessoas vulneráveis e perfil de pobreza aguda
(em alguns distritos); e
 Falta de projectos que envolvam organizações não governamentais,
e programa do governo no combate a pobreza absoluta e o
desemprego.

Em suma, pode-se afirmar a selecção dos locais de entrevista teve em


conta aos factores acima descritos na convicção que não são os mais
representativos, mas que permitem tirar ilações por amostragem e por
responderem os objectivos desta pesquisa.

Entrevistas com deputados da AR

Foram entrevistados 50 deputados destas quatro províncias, sendo 25 da


Frelimo e os restantes da RENAMO-UE. Do total dos deputados
entrevistados, independentemente da sua filiação partidária, 51.0% eram
do sexo masculino e 49.0% do sexo feminino. As entrevistas com os
parlamentares foram conduzidas na Cidade de Maputo, no decurso dos
trabalhos da XII Sessão da Assembleia da República.

Distribuição por sexo e província do entrevistado

De um total de 1134 entrevistados, a maioria era do sexo masculino que


representou 74.0% de homens, contra 26.0% de mulheres. A cobertura
de inquiridos por sexo e província tomou a seguinte configuração: Em
Cabo Delgado, Niassa e Zambézia foram entrevistadas 293 pessoas das
quais 76.0% eram homens, contra apenas 24.0% de mulheres. Todavia,
a Zambézia tem a particularidade de apresentar a menor taxa de
participação de entrevistados 248 (82.0%), contra 300 iniciais. A nota
dominante nestas três províncias foi à fraca participação da mulher que
situa muito abaixo de 50.0% do número total previsto.

A Tabela 1.3 anuncia a distribuição dos entrevistados por sexo e


província.

Tabela 0.3 Entrevistados por sexo e província


Entrevistados por sexo e província
Província
Total (%) Total casos
Masculino Femenino
Cabo Delgado 76 24 100 293
Nampula 68 32 100 300
Niassa 76 24 100 293

19
Zambézia 76 24 100 248
Total (%) 74.0 26.0 100.0 1134

Em Nampula a cobertura de entrevistados foi a 100 por cento em que


68.0% eram homens contra 32.0% de mulheres. Nestes termos foi a
única província que conseguiu alcançar máxima preconizada pelo
estudo. Igualmente, foi a única província que mostra alguma tendência
de maior participação da mulher em relação ao homem.

Em suma a predominância do homem é notável em todas as províncias.


A causa principal deste cenário tem explicações nos aspectos culturais e
práticas sociais. Com efeito, segundo as práticas locais, somente o
homem é que responde as perguntas de questionários e a mulher
somente pode participar em actos políticos com a anuência do seu
marido. Estes pressupostos sócio-culturais ajudam a entender a fraca
participação da camada feminina nas entrevistas em relação ao homem.

Distribuição por idade e província do entrevistado

A Tabela 1.2 mostra que de um total de 1120 entrevistados 42.8% dos


quais tinham idades compreendidas entre 25 – 35 anos contra 4.5%
daqueles que apresentavam a idade avançada entre 51 – 60 anos. O
segundo maior grupo de entrevistados tinha idades de 18 – 24 (28.5%),
seguidos daqueles que ostentavam idades de 36 – 50 (26.3%). Por outras
palavras isto significa que em cada 10 entrevistados 4 tinham idades
compreendidas entre 25 a 35 anos, 3 eram jovens com idades
compreendidas entre 18 a 25 anos, 3 tinha idades entre 36 a 50 anos.

A Tabela 1.2 apresenta a participação dos entrevistados por grupo de


idades por província.

Tabela 0.4: Entrevistados por idade e província


PROVÍNCIAS
IDADES
Cabo Delgado Nampula Niassa Zambézia Total

18-24 24 25 33 32 28.0
25-35 35 44 45 43 42.0
36-50 37 27 18 23 26.0
51-60 7 4 4 3 4.0
Total % 100 100 100 100 100.0
Total de casos 286 297 290 247 1120

20
A maioria de entrevistados tinha as idades compreendidas entre 25 a 30
anos. Importa-se salientar se trata de uma faixa etária cheia de sonhos e
expectativas sobre o seu futuro e apresenta-se como voluntária para
aceitar desafios.

Distribuição por grupos ocupacionais/província dos entrevistados

O estudo identificou alguns grupos ocupacionais, mais ao menos


representativos, para tomá-los como referência para análise do
comportamento dos entrevistados em face à problemática da relação
entre o eleitorado e o deputado”.

Da Tabela abaixo, se constata que de um total de 1061 entrevistados,


43.0% eram funcionários, contra 3.0% de desempregados. Os estudantes
constituíram o segundo maior grupo de inquiridos com 28.0% seguidos
de camponeses (11.0%) e comerciantes (10.0%).

O cenário acima descrito revela que os funcionários são mais propensos


a expressar os seus sentimentos e opiniões sobre os assuntos de
natureza política que os outros grupos profissionais.

A Tabela abaixo ilustra a composição dos entrevistados por grupos


ocupacionais e por província.

Tabela 0.5: Entrevistados por grupos ocupacionais/província


PROVÍNCIA
OCUPAÇÃO Cabo
%
Delgado Nampula Niassa Zambézia
Camponês 16 4 19 5 11.0
Comerciante 8 14 10 8 10.0
Desempregado 5 4 1 2 3.0
Domestica 2 8 6 3 5.0
Estudante 24 22 27 40 28.0
Funcionário 44 48 37 42 43.0
Total % 100 100 100 100 100.0
Total de casos 248 285 290 238 1061

Processamento e análise de dados


O tratamento (processamento e tabulação) dos dados obtidos pelos
inquéritos foi realizado com recurso ao programa estatístico “SPSS for
Windows”. O estudo apresenta as percepções dos entrevistados em
relação ao objecto da pesquisa, na forma de tabelas e gráficos.

21
A leitura e análise dos dados representados foram feitas em forma de
tabelas e gráficos. A análise desta informação incidiu sobre dados
quantitativos e qualitativos, em que consulta de fontes secundárias foi
importante para consubstanciar as fontes primárias.

Estrutura do trabalho

O trabalho está organizado em duas Partes e cinco capítulos. A Parte I


apresenta quatro capítulos que avaliam, separadamente, as percepções
dos entrevistados por província.

O capítulo I analisa as percepções dos entrevistados da Província de Cabo


Delgado. Enquanto que o Capítulo II retrata o cenário do maior círculo
eleitoral do país - Nampula.

O Capítulo III ocupa-se por discutir as percepções dos entrevistados de


Niassa. Finalmente, o Capítulo IV, aborda as percepções da província da
Zambézia.

A Parte II tem apenas um único Capítulo (V), onde se avaliam as


percepções dos deputados sobre os mais diversos temas relativos a vida
ou actividade parlamentar e de interacção com o eleitorado.

Finalmente, a última parte do trabalho, apresenta as principais


considerações e recomendações.

22
PARTE I

ANALISE COMPARATIVA DE PERCEPÇÕES


PERCEPÇÕES

POR PROVÍNCIAS

23
Capítulo I

PERCEPÇÕES DO ELEITORADO DE CABO DELGADO

1. Sumário

Este capítulo analisa as percepções dos entrevistados da Província de


Cabo Delgado, nomeadamente do distrito de Chiúre e municípios de
Mocímboa da Praia e Pemba. As percepções dos entrevistados em relação
aos diversos assuntos abordados são convergentes, exceptuando alguns
aspectos específicos que têm a ver com o nível de desenvolvimento de cada
distrito ou município.

1.1
1.1 O cidadão e a política

O grau de interesse do cidadão pela actividade política em Moçambique,


particularmente em Cabo Delgado, constitui um bom indicador do actual
estado de desenvolvimento e exercício da cidadania, por um lado, e da
democracia, por outro. Por seu turno, é importante sublinhar que, por
força de necessidade de satisfação das necessidades básicas individuais
ou colectivas, materiais ou não materiais (valores, estatuto social etc.),
pode estar a encorajar algumas pessoas a envolver-se na política.

Neste trabalho, a análise das percepções dos inquiridos tem em conta o


entendimento geral que se tem sobre o conceito de política. Com efeito, a
política, no presente texto, deve ser vista no sentido holístico, por forma a
capturar as mais diversas percepções dos cidadãos entrevistados.
Recorde-se, todavia, que estes cidadãos apresentarem uma enorme
heterogeneidade em termos de background político, académico e sócio-
cultural.

24
Todavia, a política pode ser entendida como uma das esferas do exercício
do poder político, dentro da qual os processos de governação e eleitoral
ocorrem. Estas actividades são de domínio da maioria dos cidadãos,
alguns dos quais foram inquiridos. Depois, é importante equacionar a
política como o âmbito de governação, sobre a qual o eleitorado
moçambicano é mobilizado e encorajado a participar activamente.

Por último, a política deve também ser analisada e entendida como uma
das actividades normais de interesse e utilidade público em que o povo
deve se envolver em benefício da sua própria família, comunidade e da
sociedade em geral.

1.1.1
1.1.1 Interesse
Interesse do eleitorado pela política

O interesse do eleitorado pela política funda-se a uma serie de factores


políticos e sócio-económicos que motivam e impulsionam a participação
das pessoas em actividades de utilidade publica. Primeiro como forma de
exercício da cidadania, o que desperta a consciência do cidadão para a
sua apropriação do processo. Depois, o interesse do eleitorado pela
política pode estar subjacente aos interesses colectivos (formações
políticas, grupos cívicos de interesses) ou individuais (busca de bem
estar).

Os resultados do estudo mostram que, em Cabo Delgado, o interesse


pelas actividades políticas é expressivo. A taxa de participação dos
cidadãos entrevistados sobre este assunto é elucidativa, na medida em
que se situou muito acima da média, ou seja, foi de 96.6%.

O Gráfico 1.1 apresenta o quadro detalhado das percepções dos cidadãos


interpelados em Chiúre, Mocímboa da Praia e Pemba. Os entrevistados,
de uma forma inequívoca, revelam o seu forte interesse pelo mundo
político.

Gráfico 11: Tem algum interesse pela política?

25
100.00%
90.00%
80.00%
70.00%
60.00% Sim
50.00% Não
40.00% Nem s empre
30.00%
20.00%
10.00%
0.00%
Pemba Moc imboa Chiure

De um total de 290 entrevistados, 82.0% mostram o seu forte interesse


pela política, contra 14.0% daqueles que não se mostram interessados
por esta actividade política. Por outras palavras, significa dizer que, em
cada 10 cidadãos entrevistados, 8 disseram que tinham interesse pela
política e os restantes 2 mostraram-se sem interesses. Este
posicionamento dos entrevistados, certamente, se deve a lealdade política
baseada em considerações histórica das populações desta província.
Com efeito, a sua lucidez política desenvolve-se e se consolida no
contexto da emancipação de Moçambique do colonialismo português.
Por seu turno, nota-se que uma pequena percentagem de pessoas
inquiridas disse que “Nem sempre” (3.8%) se interessava pela política.

Em termos comparativos, os dados mostram que no Distrito de Chiúre, o


interesse dos cidadãos entrevistados pela política é acentuado (89.6%),
em relação à Pemba, que é capital da província, que apresenta uma
posição situada na fronteira entre o “Sim” (45.3%) e o “Não” (43.2%).

Na situação intermédia, figura o Município de Mocímboa da Praia


(53.0%). Aliás, os últimos desenvolvimentos políticos registados na região
demonstram, claramente, que a população tem se envolvido na
actividade política. O desinteresse pela política em Pemba, que figura na
ordem de 43.2%, não é desprezível e pode constituir uma clara indicação
de que os pembenses têm outras prioridades.

Em suma, pode concluir-se que o grande interesse manifestado a favor


da política estará associado ao elevado índice de expectativas da maioria
de cidadão que ainda acreditam que, apenas participando, poderão ver
parte dos seus problemas resolvidos.

1.1
1.1.2 Impacto de eleições sobre a vida do cidadão

26
A análise do impacto de actos eleitorais sobre o dia a dia do cidadão
moçambicano é um exercício de grande utilidade porque permite medir o
grau de legitimidade dos titulares do poder político durante o seu
mandato. Todavia, no presente estudo, fica demonstrado que este
exercício não é uma tarefa fácil tendo em linha de conta que este
processo é relativamente recente na história política de Moçambique.

Com efeito, Moçambique, desde 1994, tem vindo, regularmente, a


conduzir, com sucesso, os processos eleitorais multipartidários,
intercalando entre gerais e locais3. Neste contexto, foram realizados três
pleitos eleitorais gerais (1994, 1999 e 2004) e dois ciclos eleitorais locais
(1998 e 2003). O país com apenas 5 processos eleitorais realizados, já
ocupa uma posição privilegiada na região de África Austral e no mundo.
A razão deste cenário reside, exactamente, na forma exemplar como tem
vindo a conduzir estes processos.

Este cenário não representa, necessariamente, que a democracia tenha


atingido o seu apogeu, e tão pouco representa a ausência de problemas
no processo. Apesar disso, constata-se que as eleições, no cômputo geral,
para os entrevistados em Cabo Delgado, têm vindo a influenciar o seu dia
a dia no contexto da família, aldeia ou distrito.

A Tabela 1.1 ilustra o quadro detalhado das percepções dos cidadãos


interpelados em três distritos de Cabo Delgado, sobre o impacto que as
eleições podem produzir para mudar algo na vida dos cidadãos.

Tabela 1.1: As eleições mudam alguma coisa na sua vida?


Distrito Sim Não Não sei Total de Casos
Pemba 58.0 38.0 4.21 95
Mocimboa 63.0 8.0 28 95
Chiúre 89.6 9.38 1.04 96
Total casos 201 53 32 286
% em relação ao total 70.0 19.0 11.0 100

Com efeito, constata-se que, de um total de 286 casos registados, 70.0%


dos entrevistados acreditam que as eleições mudam algo nas suas vidas,
uma posição que não é partilhada por 19.0% dos entrevistados. Estes
últimos são cépticos em relação ao impacto das eleições, enquanto os
primeiros acreditam nessa possibilidade. Este posicionamento pode estar
ligado a enorme expectativa da população em relação ao novo Governo,
ao melhoramento da relação entre os dois principais partidos e aos

3
Em relação a esta matéria importa recordar que somente este ano vão ser realizadas as primeiras eleições
provinciais que vão eleger deputados a este nível.

27
projectos de desenvolvimentos turístico que estão sendo implementados
na província.

Por seu turno, nota-se que uma percentagem não significativa de


pessoas inquiridas preferiu dizer “Não sei” (11.0%) sobre a pergunta se
as eleições mudam algo ou não na sua vida. Este posicionamento
significa que, em cada 10 entrevistados, havia 7 que responderam
positivamente, 2 disseram que não viam mudanças e 1 mostrava-se
indeciso na sua decisão em relação a pergunta.

Em termos comparativos, os dados mostram que, mais uma vez, Chiúre


(89.9%), apesar de ser um distrito com o fraco nível de desenvolvimento,
apresenta a esmagadora maioria de entrevistados que acreditam no
impacto positivo dos actos eleitorais que têm estado a ocorrer em
Moçambique nas suas vidas, seguida por Mocímboa (63.0%), e
finalmente Pemba (58.0%).

Refira-se, entretanto, que Pemba, que simboliza o centro de decisão e do


poder político ao nível da província, apresenta 38.0% dos entrevistados
que não acreditam que as eleições possam lhes trazer algumas
mudanças para as suas vidas. No caso de Mocímboa, é também
compreensível que as pessoas esperem que, depois dos tristes
acontecimentos de 2003, estas possam restituir o espírito de convivência
pacífica entre os apoiantes e simpatizantes dos dois principais partidos
políticos. Esperam, igualmente, que o município possa responder
cabalmente as suas preocupações.

Caixa 1.1: Impacto da acção do deputado na melhoria de vida do cidadão

A maioria de cidadãos entrevistados defendeu de uma forma categórica que “nenhum


trabalho” desenvolvido pelos deputados tem impacto directo no desenvolvimento dos
distritos onde fazem a sua vida normal. Estes cidadãos, sobretudo, de Pemba e de
Mocímboa da Praia, consideram a implementação real dos projectos no terreno ainda
não corresponde totalmente aos seus anseios. Todavia, é preciso ressalvar que
alguns entrevistados mostraram-se satisfeitos com o trabalho levado a cabo pelo
governo no sector de construção e/ou de obras públicas. Este sector tem estado a
assegurar o melhoramento de infra-estruturas públicas, particularmente, na saúde,
educação e vias de acesso. Este sector segundo as opiniões de um número
significativo de entrevistados “está em progressão”.

A contribuição do deputado na melhoria da vida do cidadão é uma das questões


colocadas ao eleitorado de todos os distritos de amostra. Com efeito, em Cabo
Delgado constatou-se que mais de 50 por cento de entrevistados considera que o
trabalho dos deputados, “em nenhum aspecto”, ajuda a melhorar a sua vida. Este
posicionamento vem, que foi mais saliente em Pemba e Mocímboa da Praia, mais
uma vez, reafirmar a ausência da visibilidade da acção do representante do povo
junto do povo que representa. Todavia, cerca de um quarto de entrevistados desta

28
província, particularmente, de Pemba admite que algo tem sido feito que “ajuda a
resolver problemas do povo”.

Por seu turno, nota-se que os entrevistados destacam a ausência ou a hibernação do


deputado nas suas bases sociais. Este posicionamento foi manifestado por mais de
50 por cento de entrevistados, que se mostraram bastantes cépticos quanto à
presença dos deputados no seu distrito. Estes cidadãos salientam que a ausência de
parlamentares na base é mais notória nos períodos que separam os pleitos eleitorais.
Eles acrescentam lembrando que estes apenas “reactivam os seus contactos nos
momentos de eleições”. Com efeito, os cidadãos entrevistados em Chiúre disseram
que os deputados “aparecem apenas nas eleições”. Em Pemba disseram que “não se
fazem sentir”, enquanto que em Mocímboa da praia defenderam que a presença de
deputados “faz-se sentir”.

Assim, tendo em linha de conta os factos acima arrolados é compreensível que seja
reduzido o impacto da acção do deputado no distrito.

Em suma, pode concluir-se que o grande interesse a favor da política


manifestado pelos entrevistados os leve a acreditar que as eleições, por
sua vez, contribuam para imprimir mudanças nas suas vidas. Por seu
turno, não é de descurar a existência de um elevado índice de
expectativas da maioria de cidadão que olha para os pleitos eleitorais
como uma janela de oportunidade para alterar algo na sua vida e da sua
família. Assim, elas acreditam ainda que só participando no mundo
político, económico, militar e social poderão ver parte dos seus
problemas resolvidos.

1.2. Órgãos do poder do Estado

A Constituição da República estabelece as bases políticas e legais


fundamentais para a implantação e funcionamento de um regime político
democrático em Moçambique. Neste contexto, foi consagrado o princípio
de separação do poder Legislativo, Executivo e Judicial em Moçambique.
A Assembleia da República (AR), segundo os dados do estudo, é um dos
órgãos fundamentais do Estado Moçambicano e um dos órgãos mais
conhecidos pela população.

1.2.1.
1.2.1. Assembleia da República

A maioria de cidadãos entrevistados tem alguma ideia sobre a


composição e papel da AR, eventualmente, devido ao mérito das
campanhas eleitorais que antecedem as eleições, promovidas pelos
Órgãos de Administração Eleitoral (OAE), Comissão Nacional de Eleições
(CNE) e Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE). A acção
dos partidos políticos e dos deputados contribui, igualmente, para a
promoção dos objectivos e função deste órgão do Estado moçambicano.

29
A Tabela 1.2, abaixo, apresenta o quadro detalhado das percepções dos
cidadãos interpelados em relação ao conhecimento sobre a Assembleia
da República.

Tabela 1.2: Conhece a Assembleia da República?


Distrito Sim Não Não sei Total de Casos

Pemba 69.47 28.42 2.11 95


Mocímboa da Praia 66.0 20.0 14.0 93
Chiúre 83.0 15.0 2.0 96
Total 207 60 17 284
% em relação ao total 73.0 21.0 6.0 100.0

De um total de 284 casos, 73.0% dos entrevistados afirmaram conhecer


a Assembleia da República, contra apenas 21.0% de entrevistados que
disseram não conhecer a “Magna Casa”. Este posicionamento pode estar
ligado aos trabalhos de sensibilização levados a cabo por diversas
instituições públicas e privadas, organizações políticas e cívicas no
âmbito dos processos eleitorais ou de governação. Por seu turno, nota-se
que uma percentagem insignificante de pessoas inquiridas afirmou “Não
saber” (6%.0) algo sobre a Assembleia da República, o que é
perfeitamente aceitável. Em síntese, isto significa dizer que, em cada 10
entrevistados, havia 7 que conheciam a AR, 2 não conheciam e apenas 1
mostrava-se reservado.

Em termos comparativos, os dados mostram, curiosamente, que Chiúre


(83.0%) apresenta a esmagadora maioria de entrevistados que conhecem
a Assembleia da República, superando, deste modo, Pemba (69.5%) e
Mocímboa (66.0%). No entanto, curiosamente Pemba, que é capital
provincial, é o local que apresentou uma maior percentagem (28.0%) de
pessoas que revelaram desconhecer a Assembleia da República. No
entanto, é importante sublinhar que esta elevada percentagem do grau
de conhecimento sobre a AR apresentado pela maioria de entrevistados
pode ser o reflexo de factores como o acesso à informação e a educação e
ainda à divulgação das actividades daquele órgão de soberania.

Em suma, pode-se concluir que o grau de conhecimento da existência e


funcionamento da AR é um bom indicador sobre os desafios que se
colocam a jovem democracia moçambicana.

1.2.2
1.2.2 As funções da Assembleia da República

30
A estrutura de distribuição do poder político em Moçambique reserva as
competências da área de legislação à Assembleia da República,
definindo-a como o mais alto órgão legislativo com a função de
determinar as normas que regem o funcionamento do Estado e a vida
económica e social através de leis e deliberações de carácter genérico.

O estudo mostra que, efectivamente, o eleitorado tem um conhecimento


mais ou menos consolidado, não só o que é a Assembleia da República,
como também conhece a sua função fundamental, que assenta na
produção de leis e deliberações. Com efeito, a maioria esmagadora das
pessoas entrevistadas com a capacidade eleitoral reafirma que a
Assembleia da República tem como função principal “Fazer leis”. Este
conhecimento pode estar, igualmente, associado ao trabalho de
sensibilização dos actores políticos e da sociedade civil.

De um total de 192 casos, a esmagadora maioria de entrevistados, ou


seja, 82.0% afirmaram que a Assembleia da República tem a função de
“Fazer leis”, enquanto que 9.0% disseram que tem a função de “Promover
o desenvolvimento económico” e de “Administrar a justiça”. Por outras
palavras, este cenário mostra que, em cada 10 entrevistados, 8
conheciam as funções fundamentais da AR e os restantes 2 distribuíam
entre “Promover o desenvolvimento económico” e “Administrar a justiça”.

O Gráfico 1.2, abaixo, ilustra o quadro inerente as percepções dos


cidadãos entrevistados nesta província sobre as principais funções da
Assembleia da República.
Gráfico 1.2: A Assembleia da República tem a função de?

1.2

0.8

0.6

0.4

0.2

0
Pemba Mocímboa Chiúre
Fazer leis 73.0 98.0 78.6
Administrar a Justiça 7.6 0 17.3
Promover o desenvolvimento 19.4 2.0 4.0
Económico

31
O facto de a maior parte dos entrevistados ter dito que a função daquele
órgão de soberania é fazer leis revela, claramente, que as pessoas estão
cientes do trabalho desenvolvido pela Assembleia da República e das
funções a si atribuídas pela Constituição da República.

O Município de Montepuez, certamente, devido ao seu nível de


desenvolvimento e engajamento político, económico e social na província,
apresenta a fasquia mais alta de respostas daqueles que conhecem as
funções da AR. Com efeito, 98.0% entrevistados do distrito conhecem as
funções do Parlamento moçambicano, contra 79.0% de Pemba, que está
em último lugar. Em segundo lugar, figura Chiúre, com 79.0% de
entrevistados a confirmar que conhecem as funções fundamentais da
Assembleia da República, que é de legislar sobre o funcionamento do
Estado e da Sociedade. Por seu turno, é positivo notar que foram poucos
os entrevistados que escolheram as opções “Promover o desenvolvimento
económico” e “Administrar a justiça” como funções da Assembleia da
República. Neste aspecto, é curioso notar que Pemba (19.0%) apresenta
maior número de entrevistados que ainda confundem as funções da AR,
em relação a Chiúre (17.0%).

O acesso à informação e à disseminação regular das funções e


actividades daquele mais alto órgão legislativo na República de
Moçambique mais alto de soberania pode estar na origem deste grau
satisfatório de conhecimento dos entrevistados província sobre as suas
funções.

Em suma, pode concluir-se que a maioria esmagadora dos entrevistados


desta província revelou que detém um conhecimento apreciável do que é
a Assembleia da República e que “determina as normas que regem o
funcionamento do Estado e a vida económica e social através das leis e
deliberações”4.

1.2.
1.2.3.
2.3. Diferenças entre Governo e Assembleia da República

A Assembleia da República é eleita por sufrágio universal, directo, igual,


secreto, pessoal e periódica. A sua composição é de duzentos e cinquenta
deputados eleitos de cinco em cinco anos. Segundo o texto
constitucional, concorrem às eleições os partidos políticos, isoladamente
ou em coligação de partidos. Por seu turno, o Executivo emerge de um
processo em que o vencedor das eleições presidenciais procede à
indicação dos membros do governo.

4
Artigo 169 da Constituição da República de Moçambique, 2005.

32
O Chefe de Estado é, simultaneamente, o chefe do Governo. O Presidente
da República é, igualmente, eleito por sufrágio universal directo, igual,
secreto e pessoal, num sistema de maioria em que ganha o candidato
que reuna mais de metade dos votos.

No âmbito de separação de poderes do Estado, o Executivo, o Legislativo


e o Judiciário são órgãos de soberania, claramente, descritos na
Constituição da República. Neste contexto, o estudo revela que reina, no
seio do eleitorado, uma percepção satisfatória sobre as diferenças
fundamentais entre o Executivo e o Legislativo. Com efeito, mais de 50
por cento dos entrevistados, nesta província, conseguem distinguir o
Governo da Assembleia da República.

Com efeito, de um total de 295 casos, 57.0% dos entrevistados


afirmaram que conheciam as diferenças entre o Governo e a Assembleia
da Republica, contra 37.0% daqueles que disseram “Não”. Por seu turno,
a Tabela mostra, igualmente, que 6.0% dos entrevistados preferiram
responder “Outros”.

No cômputo geral, o cenário mostra que, na altura das entrevistas, havia,


em cada 10 pessoas, 6 que sabiam as diferenças entre o Executivo e o
Parlamento, 3 não conheciam e apenas um é que considerava outras
situações, como por exemplo, de não se lembrar naquele momento .

A Tabela 1.3 apresenta o quadro detalhado das percepções dos cidadãos


interpelados em três distritos de Cabo Delgado, sobre as diferenças entre
o Executivo e o legislativo.

Tabela 1.3: Conhece a diferença entre o Governo e a Assembleia da República?


Distrito Sim Não Outros Total de Casos

Pemba 53.19 43.62 3.19 100


Mocímboa 60.40 25.74 13.86 100
Chiúre 58.0 41.0 1.0 100
Total 169 108 18 295

% em relação ao total 57.0 37.0 6.0 100

Os dados mostram que o Município de Mocímboa (60.0%) lidera o grupo


de entrevistados que asseguraram que conheciam a diferença entre o
Governo e Assembleia da República, seguido por Chiúre (58.0%) e Pemba
(53.0%). No entanto, é assinalável a percentagem de entrevistados de
Pemba (44.0%) e de Chiúre (41.0%) que afirmaram não conhecer a

33
diferença entre o Governo e a Assembleia da República. A situação do
Distrito de Chiúre pode ser tolerada, mas o mesmo não se pode dizer em
relação a Pemba, tendo em linha de conta o seu estatuto político e sócio-
económico, já que constitui o centro do poder político provincial.

Em suma, pode afirmar-se que, no global, o grau de conhecimento das


instituições do Estado, particularmente do Executivo e da AR, é
satisfatório (75.0%). No entanto, nota-se que ainda há muito por fazer,
para que as pessoas possam saber distinguir os diferentes órgãos de
soberania e instituições estatais, sob risco de não poder exercer, de
forma plena, os direitos e deveres constitucionais.

1.3
1.3 Contornos da democracia representativa

Nos termos da Constituição da República, a Assembleia da Republica é


assembleia representativa de todos os cidadãos moçambicanos. O
deputado, por seu turno, representa todo o país e não apenas o circulo
pelo qual foi eleito. Assim, os deputados da Assembleia da República são
os legítimos representantes do povo, em que os Partidos políticos são a
expressão da vontade popular e de participação democrática dos
cidadãos na governação do País.

1.3
1.3.1. Noção sobre o papel do deputado

O estudo mostra que a maioria dos entrevistados sabia porque é que se


diz que o “deputado é representante do povo”. Aliás, esta é uma das
formas mais sublimes da participação do povo no processo de tomada de
decisões.

O Gráfico 1.3 apresenta o quadro detalhado das percepções dos cidadãos


interpelados nos distritos de Chiúre, Mocímboa da praia e Pemba, sobre
significado do deputado como representante do povo.
Gráfico 1.3: Sabe porque se diz que o Deputado é representante do povo?

34
80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Sim Não Outros
Pemba 76% 24% 0.00%
Mocimboa 71% 21% 8%
Chiure 76% 24% 0%

O Gráfico 1.3, acima, permite verificar que, de um total de 275 casos,


74.0% dos entrevistados afirmaram que sabiam o significado do
deputado ser representante do povo, contra 23.0% de entrevistados que
afirmaram “Não” conheciam. Por seu turno, 3.0% de outros entrevistados
preferiram responder “Outro” casos para tentar justificar se conheciam
ou não o papel do deputado. Por outras palavras, isto significa dizer que,
em cada 10 entrevistados, havia 7 que conhecia o papel do deputado, 2
não conhecia e 1 tinha outro tipo de resposta.

Este posicionamento dos entrevistados pode ser o reflexo ou impacto do


trabalho de sensibilização que tem sido realizado por instituições estatais
ou privadas vocacionadas para este tipo de acções. A acção dos partidos
políticos e das organizações da sociedade civil que, obviamente, tem sido
notória no âmbito dos processos eleitorais e da sua actividade quotidiana
contribuiu, igualmente, para a disseminação da informação.

O Gráfico acima mostra que Pemba e Chiúre estão empatados em termos


percentuais, com 76.0% de entrevistados cada, como locais onde existem
mais pessoas informadas sobre “porque se diz que o deputado é o
representante do povo”. Mocímboa, com 71.0% de entrevistados ocupa
um lugar de destaque na província. Estas elevadas percentagens de
pessoas que sabem porque se diz que o deputado é o representante do
povo podem estar associadas a factores como o acesso fácil à informação,
a expansão do ensino, o acesso às tecnologias de informação e
comunicação, entre outros factores.

35
Todavia, de um total de 245 entrevistados5, 59.0% referem que a
presença dos deputados na sua zona ou área “Não se faz sentir”, contra
33.0% que acreditam que se fazem sentir. Por esta via, nota-se que, de
um total de 256 casos, 62.0% de entrevistados reafirmam o trabalho do
deputado não produz impacto algum, embora 21.0% de entrevistados
acredite no impacto positivo, sobretudo, na construção e/ou
melhoramento de infra-estruturas económicas e sociais.

Caixa 1.2: O que pensa e espera o cidadão da


da actividade do
do deputado

Na província de Cabo Delgado, a expectativa dos cidadãos entrevistados em relação


aos deputados, em particular, e dos políticos, no geral, era enorme. Com efeito, a
maioria dos entrevistados aguarda com ansiedade que os deputados sejam os
“verdadeiros representantes do povo”. Esta atitude dos cidadãos sugere a ideia de que
não estão satisfeitos com o desempenho do deputado, particularmente, da sua
actuação nos círculos eleitorais.

Em geral, conclui-se que os deputados têm muito trabalho pela frente para mudar a
imagem negativa que o cidadão tem sobre o seu desempenho, particularmente neste
círculo eleitoral não menos importante para todos actores políticos. O número de
entrevistados que acredita nas suas nobres tarefas é bastante pequeno.

Em suma, pode dizer-se que não obstante a fraca visibilidade do


deputado em algumas áreas onde decorreram as entrevistas, é salutar
constatar que, no cômputo geral, os entrevistados conhecem o
significado e papel do deputado da AR. A diferença entre os
distritos/municípios é relativamente pequena.

1.4
1.4 Relações intra-
intra-parlamentares

O sistema político moçambicano é de uma democracia multipartidária


dominado, essencialmente, pela Frente de Libertação de Moçambique
(Frelimo) e pela Resistência Nacional de Moçambique (Renamo) e, ainda
por cerca de 40 partidos políticos sem assento6 na Assembleia da
República. Este cenário replica-se na Assembleia da República, em que a
Frelimo, na actual legislatura, detém a maioria de assentos, ou seja, 160
contra 90 da RENAMO-UE.

5
Ver mais detalhes nos Anexos sobre Cabo Delgado.
6
Estes partidos também são designados por “extra-parlamentares”.

36
1.4.1
1.4.1 Qualidade de relações de trabalho entre Bancadas

Na Assembleia da República funcionam grupos de bancadas,


nomeadamente da Frelimo e da RENAMO-UE, que mantêm relações de
trabalho à luz do regimento parlamentar. No geral, nota-se que, apesar
das suas diferenças estruturais e ideológicas, as duas bancadas mantêm
um relacionamento de trabalho aceitável, suficiente para o
funcionamento do Parlamento e para a consolidação da democracia. Com
efeito, as percepções dos entrevistados apontam para um relacionamento
que se pode classificar, no seu todo, de satisfatório.

A Tabela 1.4 ilustra o quadro detalhado das percepções dos cidadãos


interpelados nos distritos de Chiúre, Mocímboa da Praia e Pemba, sobre
as relações de trabalho na AR entre as Bancadas da Frelimo e RENAMO-
UE.

Tabela 1.4: A relação de trabalho na AR entre as Bancadas da FRELIMO e RENAMO-UE é:


Total de
Distrito Excelente Boas Razoável Má
Casos
Pemba 9.0 11.0 52.0 28.0 89
Mocímboa 2.0 48.0 20.0 30.0 96
Chiúre 3.0 32.0 54.0 10.0 96
Total 13 87 117 64 281
% em relação ao total 5.0 31.0 42.0 23.0 100

De um total de 281 casos, houve uma ligeira divisão de opiniões entre os


entrevistados, em que nenhuma das variáveis conseguiu atingir a fasquia
dos 50.0%. Com efeito, somente 42.0% dos entrevistados consideram que
as relações de trabalho na Assembleia da República entre as bancadas
da Frelimo e da Renamo eram “Razoável”, contra 5.0% daqueles que
sustentam que são “Excelentes”. Por seu turno, 31.0% de entrevistados
defendem que essas relações eram “Boas”, contra 23.0% daqueles que
afirmaram ser “Más”.

No geral, nota-se que, apesar das suas diferenças estruturais, as duas


bancadas mantém um relacionamento de trabalho aceitável, suficiente
para o funcionamento do Parlamento e para a consolidação da
democracia. Com efeito, as percepções dos entrevistados apontam para
um relacionamento que se pode classificar de satisfatória (78.0%)7.

7
As relações inter-bancadas são satisfatória porque resultam do somatório de respostas
com excelente (5.%), boas (31.0%) e razoáveis (42.0%).

37
Os dados da Tabela 1.4 mostram que Chiúre (54.0%) está ligeiramente
adiantado em relação à Pemba (52.2%) quanto as relações de trabalho
entre as duas bancadas. Com efeito, Chiúre é o local onde mais pessoas
acreditam que a relação entre as bancadas da Frelimo e da Renamo na
Assembleia da República sejam, efectivamente, “Razoáveis”. Enquanto
isso, Mocímboa, com 48.0% de entrevistados, assume a dianteira
daqueles que acreditam que a relação entre as duas bancadas é “Boa”.
Esta visão é partilhada por 32.0% dos entrevistados de Chiúre. Por outro
lado, é significativa a percentagem de entrevistados de Mocímboa (30%)
que acreditam que a relação entre as bancadas é “Má”. Os entrevistados
de Mocímboa da Praia (30.0%) e Pemba (28.0%) são os que se salientam
na lista dos que classificam negativamente as relações interbancadas.

No geral, nota-se que, apesar das suas diferenças estruturais, as duas


bancadas mantém um relacionamento de trabalho aceitável, suficiente
para o funcionamento do Parlamento e para a consolidação da
democracia. Com efeito, as percepções dos entrevistados apontam para
um relacionamento que se pode classificar de “satisfatória” (73.0%).

Todavia, é importante salientar que as constantes divergências de pontos


de vista e de posicionamento entre as duas bancadas, sobretudo em
matérias cruciais, não contribui para manter o interesse dos cidadãos
entrevistados em Cabo Delgado, pelas actividades desenvolvidas por este
mais alto órgão legislativo. Por exemplo, do questionário qualitativo (ver
anexo), constata-se que, de um total de 264 casos, 68.0% de
entrevistados consideram que os “assuntos discutidos na AR reflectem as
suas preocupações”, contra 25.0% daqueles que sustentam a opinião
contrária.

Em suma, pode concluir-se que, em termos gerais, muitos entrevistados


acreditam que a relação entre as bancadas da Frelimo e da RENAMO-UE
na Assembleia da República são de um nível apreciável, não obstante as
diferenças de visão, percepção e orientação ideológica.

1.4.2.
1.4.2. Nível de relacionamento
relacionamento entre bancada

O nível de relacionamento institucional entre as duas bancadas, na


perspectiva do eleitorado entrevistado em Cabo Delgado, é,
essencialmente, baseado no espírito de compromisso. Com efeito, tudo
aponta para que essas relações girem na fronteira entre “relações de
cooperação e de conflito de interesses”.

Este cenário cria uma dependência mútua entre as duas partes que, por
outras palavras, significa que as relações entre as duas bancadas têm

38
sido regidas por uma interdependência. Esta situação, segundo 55.0% de
entrevistados, cria um ambiente de trabalho caracterizado por “conflito,
tensão e crise”, contra 45.0% dos que defendem o clima de “cooperação”.
Ademais, importa recordar que as duas bancadas, vias da regra, agem
em bloco quando se trata de assuntos de interesse dos seus respectivos
membros. Este fenómeno tem sido frequente quando se trata de
benesses.

A Tabela 1.5, que se apresenta abaixo, ilustra o quadro detalhado das


percepções dos cidadãos interpelados nos distritos de Chiúre, Mocímboa
da praia e Pemba, sobre o relacionamento institucional entre as
bancadas da Frelimo e Renamo-EU.

Tabela 1.5: O Relacionamento institucional entre as bancadas da FRELIMO e RENAMO UE na AR é de:


Distrito Cooperação Conflito Tensão Crise Total de Casos

Pemba 24.0 34.0 23.0 19.0 86


Mocímboa 55.0 27.0 14.0 4.0 95
Chiúre 52.0 33.0 3.0 12.0 86
Total 118 83 36 30 267

% em relação ao total 45.0 31.0 13.0 11.0 100

Com efeito, constata-se que, de um total de 267 casos, houve uma ligeira
divisão de opiniões entre os entrevistados, em que nenhuma opção
atingiu os 50.0%. Com efeito, 45.0% dos entrevistados caracterizaram o
relacionamento institucional entre as duas bancadas como sendo de
“Cooperação”, contra 11.0% daqueles que apontaram ser de “Crise”.
Enquanto isso, 31.0% de inquiridos indicaram que se tratava de
“Conflito” e 13.0% disseram que a mesma era de “Tensão”.

Esta configuração de resultados revela que, em cada 10 entrevistados, 5


defenderam que as relações entre as duas bancadas eram de cooperação,
3 disseram que eram de conflito, enquanto os restantes 2 defendiam
relações de tensão e de crise, respectivamente. Em geral, a Tabela acima
mostra que o relacionamento institucional entre as duas bancadas na AR
é de “cooperação e interdependência”. Este facto revela, de alguma, que
essas relações são mais intensas e se verificam em situações específicas
de interesse comum das duas partes.

Dos entrevistados que sustentam relações institucionais de cooperação,


salientam-se os de Mocímboa (55.0%), seguida de entrevistados de
Chiúre (52.0%). Refira-se que Pemba (24.0%) é o local que menos
acredita no relacionamento de “cooperação”, já que a maioria de

39
entrevistados desta urbe (34%) é de opinião que o relacionamento é de
“conflito”. Esta posição de Pemba é partilhada por entrevistados de
Chiúre (33.0%) e de Mocímboa (27.0%).

Em suma, pode dizer-se que, nesta província, a maior parte das pessoas
entrevistadas (55.0%) considera que as relações institucionais das duas
bancadas são regidas por conflito de interesses e duvidam que possam
conviver num clima harmonioso para o bem-estar do povo.

1.4.
1.4.3
4.3 Relações
Relações interpessoais de deputados

O estado de relações interpessoais entre os deputados das duas


bancadas, na opinião do eleitorado entrevistado nesta província é, de um
modo geral, animador porque se situa entre o “Razoável” e “Bom”. Este
cenário sugere que, apesar das diferenças ideológicas e de outro tipo que
possam existir no seio de deputados, eles conseguem manter relações
interpessoais e humanas de bom nível. Este facto mostra que há espírito
de respeito e de reconhecimento mútuo entre os deputados.

De um total de 248 casos, segundo a Tabela abaixo, a maioria de


entrevistados considera que o nível de relacionamento entre os
deputados da Assembleia da República é apreciável. Com efeito, apesar
de nenhuma variante ter atingido a fasquia dos 50 por cento nota-se que
a percepção dos entrevistados aponta para uma apreciação positiva.

Assim, 44.0% dos entrevistados disseram que o nível de relacionamento


entre os deputados da Assembleia da República era “Razoável”, contra
4.0% daqueles que defenderam ser “Excelente”. Enquanto isso, 33.0% de
inquiridos disseram que era “Bom”, contra 19.0% dos que disseram ser
“Mau”.

A Tabela 1.6, que se apresenta acima, ilustra o quadro detalhado das


percepções dos cidadãos interpelados nos distritos de Chiúre, Mocímboa
da Praia e Pemba, sobre a qualidade de relação de trabalho na AR entre
as Bancadas da Frelimo e RENAMO-UE.

Tabela 1.6: O nível de relacionamento entre os Deputados da Assembleia da República é:


Total de
Distrito Excelente Bom Razoável Mau
Casos
Pemba 5.0 11.0 70.0 14.0 76
Mocímboa 0.0 56.0 15.0 29.0 86
Chiúre 6.0 29.0 51.0 14.0 86
Total 9 81 110 48 248

40
% em relação ao total 4.0 33.0 44.0 19.0 100.0

Dos entrevistados que defendem que o nível de relacionamento entre


deputados é “Maus”, 29.0% foram interpelados em Mocímboa da Praia e
28.0% foram entrevistados em Pemba e Chiúre. Enquanto isso, 70.0% de
entrevistados de Pemba consideram que esse nível é “Razoável” e 56.0%
de entrevistados de Mocímboa da Praia acha que o nível de
relacionamento entre os deputados é excelente.

Em suma, pode afirmar-se que a apreciação da maioria dos entrevistados


é positiva em relação ao nível de relacionamento interpessoal dos
deputados da AR. A maioria dos entrevistados acredita que existe um
ambiente acolhedor no seio da Assembleia da República. Com efeito,
81.0% de entrevistados suportam esta constatação, contra apenas 19.0%
dos que apresentam uma visão crítica.

1.5 Factores determinantes dos debates na AR

O debate sobre os mais diversos assuntos que têm lugar na AR, segundo
um número significativo de entrevistados, é influenciado pela “Disciplina
Partidária”. Esta deve ser uma das causas que influenciou 50.0% de
entrevistados, de um total de 244 casos, a afirmar que os trabalhos dos
deputados “em nenhum aspecto”8 ajudam a melhorar a sua vida.

Esta situação constitui uma clara indicação de que os parlamentares


ainda estão fortemente “amarrados” aos ditames dos seus respectivos
partidos políticos, em detrimento dos interesses do eleitorado ou da
disciplina parlamentar.

O Gráfico 1.4 (abaixo) apresenta as percepções dos cidadãos


entrevistados nos Distritos de Chiúre, Mocímboa da Praia e Pemba, sobre
o carácter de debates na Assembleia da República.

Gráfico 1.4: O carácter dos debates na Assembleia da República

8
Ver mais detalhe em anexo questionário qualitativo.

41
70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Pemba Moc imboa Chiure
Dis c iplina Partidária 63% 56% 26%
Dis c iplina Parlamentar 5% 21% 17%
Interes s es do eleitorado 23% 10% 54%
Outros 9% 13% 3%

De um total de 261 casos, entre os entrevistados, houve uma clara


divisão de opiniões em torno das variáveis. Por essa razão, nota-se que
nenhuma variável conseguiu alcançar e superar a fasquia dos 50.0% de
respostas dos entrevistados. Assim, 48.0% dos entrevistados disseram
que os debates da Assembleia da República têm o carácter de “Disciplina
partidária”, contra apenas 14.0% daqueles que sustentaram que os
debates são determinados pelo regimento parlamentar.

Enquanto isso, 30.0% de inquiridos afirmaram, de forma partilhada, que


os debates na AR são caracterizados por “interesses do eleitorado” e
“outras” motivações. e, finalmente, 14.0% disseram que são
caracterizados por “disciplina parlamentar”.

O facto de os entrevistados terem partilhado a sua opinião revela que as


pessoas têm opinião variada sobre os aspectos que influenciam a tomada
de decisão neste órgão de soberania. No geral, nota-se que 60.0% dos
entrevistados acreditam que os debates na AR procuram salvaguardar os
interesses do “eleitorado e de outra natureza”.

Em termos comparativos, os dados apontam que Pemba, com 63.0%, é o


local onde existe mais entrevistados que acreditam que os debates da
Assembleia da República são caracterizados pela “Disciplina partidária”.

Caixa 1.3: AR debate tópicos que reflectem aspirações do eleitorado

Os assuntos que constam da agenda da Assembleia da República (AR) que depois são
objecto de discussão em Sessões da AR foram, igualmente, postos à prova junto do
eleitorado do de Cabo Delgado. Os cidadãos entrevistados convergem nas suas

42
respostas e manifestam a sua satisfação por constatar que a maioria das matérias
discutidas nas Sessões da AR vão de encontro com as suas aspirações. Este cenário
repete-se um pouco por todas restantes províncias onde o estudo foi realizado.

Na verdade, os cidadãos entrevistados nesta província mostraram-se satisfeitos com os


assuntos que o parlamento tem estado a debater, alegadamente, porque “reflectem os
seus anseios”. O Município de Mocímboa da Praia aparece na dianteira deste grupo
seguido de Chiúre e Pemba. Todavia, outro pequeno grupo constituído somente por
entrevistados de Chiúre afirma que as matérias “sim reflectem, mas o Governo não
implementa”. Esta censura ao Governo Moçambicano não retira o mérito do
parlamento. A posição radical veio, essencialmente, de cidadãos entrevistados em
Pemba e Mocímboa da praia, que consideram que as matérias tratadas no Parlamento
“não reflectem” os seus anseios e aspirações.

Em suma pode-se afirmar que é salutar constatar que, não obstante a imagem
negativa dos deputados junto da população, os assuntos que debatem na AR
convergem com as aspirações da maioria dos cidadãos entrevistados.

Enquanto isso, 54.0% dos entrevistados de Chiúre salientam-se dentre


aqueles que acham que os debates são influenciados pela necessidade de
defesa de “interesses do eleitorado”. Por seu turno, é notório o cepticismo
de Pemba (5.0%) em relação a opção “Disciplina parlamentar”, talvés
esteja relacionado com a característica dos próprios debates em que
raramente existe consenso e cada uma das bancadas vota contra a
proposta de lei apresentada pela outra.

Em síntese, perante os entrevistados exigentes e divididos, pode-se


afirmar que os parlamentares ainda estão fortemente “amarrados” aos
ditames da “Disciplina partidária” (48.0%) dos seus respectivos partidos
políticos, em detrimento dos “Interesses do eleitorado” (30.0%) ou da
“Disciplina parlamentar” (14.0%).

1.6. Considerações
Considerações gerais

Os entrevistados de Cabo Delgado mostraram que nutrem um forte


interesse pelos assuntos nacionais e têm uma ampla visão sobre os
processos políticos nacionais, tal como se descreve a seguir:

 A maioria esmagadora de entrevistados (82.0%) em Cabo Delgado


revelou que tem um forte o interesse pelas actividades políticas que
pode estar associado ao elevado índice de expectativas da maioria
de cidadão, que é o seu bem-estar;

 O estudo aponta que mais de 70 por cento de entrevistados


acredita que os pleitos eleitorais constituem uma janela de
oportunidade para alterar algo na sua vida e da sua família;

43
 A maioria de cidadãos entrevistados (73.0%), tem alguma ideia
sobre a composição e papel da AR. Neste contexto, A maioria
esmagadora das pessoas entrevistadas (82.0%) com a capacidade
eleitoral comprovou que conhece a função primordial da
Assembleia da República que é de “Fazer leis”;

 Mais de 70 por cento de inquiridos têm conhecimento das


instituições do Estado e sabe distinguir o Executivo da Assembleia
da República;

 O estudo mostra que a maioria dos entrevistados (74.0%) conhece


o significado de ser deputado como representante do povo; e

 Os resultados do estudo indicam que as opiniões dos entrevistados


estavam divididas em relação às relações de trabalho na AR devido
as suas diferenças em termos de visão, percepção e orientação
ideológica. Assim, maior parte não acredita na convivência pacífica
das duas bancadas o que dificulta a defesa integral do bem-estar
do povo.

 Um pouco mais de 50 por cento de entrevistados acha que o nível


de relacionamento institucional entre as duas bancadas é
essencialmente, baseado no espírito de compromisso. Este cenário
cria uma dependência mútua entre as duas bancadas que por
força do regimento têm de algum modo que cooperar.

 Os entrevistados estavam divididos em relação a atitude dos


deputados na AR. Para eles os parlamentares ainda estão
fortemente “amarrados” aos ditames da “Disciplina partidária”
(48.0%) dos seus respectivos partidos políticos, em detrimento dos
“Interesses do eleitorado” (30.0%) ou da “Disciplina parlamentar”
(14.0%).

 A maioria esmagadora de entrevistados (81.0%) acredita que,


apesar das diferenças ideológicas e de visão que possam existir no
seio de deputados, eles conseguem manter relações interpessoais e
humanas de bom nível. Este facto mostra que há algum espírito de
respeito e de reconhecimento mútuo entre os deputados.

Capítulo II

PERCEPÇÕES DO ELEITORADO DE NAMPULA

44
2. Sumário

Este capítulo retrata, exclusivamente, a situação da Província de Nampula.


O interesse pela política e pelos processos políticos nacionais é a nota
dominante no seio de entrevistados.

2.1 Cidadão e a política

O interesse do cidadão pela política na Província de Nampula situa-se


num nível bastante encorajador. Os dados do estudo revelam que existe
uma tendência clara de ascendência dos entrevistados com algum
interesse pela política em relação aos entrevistados que manifestaram a
posição de não simpatizante pelo mundo político.

2.1.1
2.1.1 Interesse do eleitorado
eleitorado pela política

Os resultados do estudo mostram, claramente, que, contrariamente à


realidade do Niassa, onde o interesse pelas actividades políticas é ainda
fraco, nesta província o cenário é diferente. Com efeito, mais de 50 por
cento de entrevistados expressou, sem hesitação, o seu interesse pela
política.

A Tabela 2.1, abaixo, ilustra as percepções dos interpelados em três


distritos seleccionados na província de Nampula, sobre o interesse do
cidadão pela política.

Tabela 2.1: Tem algum interesse pela política?

Distrito Sim Não Nem sempre Total de Casos

Lalaua 70 18 12 93
Cidade de Nampula 70 13 17 100
Angoche 55 35 10 86
Total 189 61 39.0 289
% em relação ao total 65.0 21.0 14.0 100

De um total de 289 casos, 65.0% dos entrevistados afirmaram que têm


forte interesse pela política, contra 21.0% daqueles que não se mostram
interessados por este ramo de actividade. Por seu turno, é saliente a
percentagem de inquiridos que disseram que “Nem sempre” (14.0%) se
interessam pela política. Por outras palavras, este cenário significa que
em cada 10 entrevistados, 7 reafirmaram o seu interesse pela política, 2

45
disseram que não têm inclinação pela política e 1 disse que se interessa,
algumas vezes, por esta área de actividade ou do saber.

Caixa 2.1: Impacto da acção do deputado na melhoria de vida do cidadão


cidadão

De um total de 204 cidadãos entrevistados a maioria mostrou que tinha opinião


diferente quanto ao impacto das actividades desenvolvidas pelos parlamentares da
Assembleia da República (AR). Por exemplo, os entrevistados de Angoche e Cidade de
Nampula apresentaram o seu pessimismo ao defender que a actividade dos
deputados “em nenhum aspecto” tem impacto visível nos seus respectivos distritos.
Enquanto isso, os cidadãos de Lalaua, acreditam que a acção dos deputados “ajuda
a solucionar problemas do povo”. Neste contexto é importante realçar, mais uma vez,
tal como em Cabo Delgado, o sector de construções e obras públicas destacou-se no
“melhoramento de infra-estruturas públicas”. Os cidadãos apontaram este sector
como sendo um daqueles onde se nota um trabalho preliminar dos deputados. Com
efeito, alguns empreendimentos resultam do trabalho desenvolvido pelos deputados
moçambicanos.

Os entrevistados, de um modo geral, mostram-se cépticos e divididos em relação ao


impacto do trabalho dos deputados na melhoria das suas vidas. Por exemplo, os
cidadãos inquiridos em Nampula Cidade e Angoche, disseram que “em nenhum
aspecto” o trabalho dos deputados ajuda a sua melhorar a vida. Enquanto isso, os
deputados de Lalaua acreditam que os deputados estão a desenvolver um trabalho
importante para as populações. Para os cidadãos entrevistados neste distrito a acção
dos parlamentares tem se destacado na “auscultação das preocupações do povo” o
que, alegadamente, tem reflexo no “desenvolvimento económico do distrito”.

Quanto à presença dos parlamentares nos distritos, os entrevistados desta província


estavam divididos em três grupos destacáveis com uma média de 42 por cento de
pessoas cada. O primeiro defendeu que os deputados se “fazem sentir” no seu
distrito. Neste grupo os cidadãos da cidade de Nampula foram os maiores defensores
desta posição. O segundo grupo assumiu uma posição oposta a do primeiro
sustentando que os deputados “não se fazem sentir” nas suas zonas. O destaque de
entrevistados vai para o distrito de Lalaua que não contenta com a acção dos
parlamentares. O terceiro e último grupo, admitiu que os parlamentares têm alguma
presença no distrito embora seja “fraca e poucas vezes”. Angoche está na dianteira
dos entrevistados que sustentam o argumento da ausência dos deputados nos
círculos eleitorais, salvo em momentos de campanhas eleitorais.

Para este posicionamento, concorrem vários factores, sendo de destacar


a posição privilegiada que a província ocupa no cenário político nacional.
Esta província apresenta algumas vantagens comparativas que a tornam
peculiar. Primeiro, é o maior círculo eleitoral e apresenta o maior número
de municípios (5), por essa razão, esta província está familiarizada com
os processos políticos em curso no país. Depois, nota-se que, neste
círculo eleitoral, o acesso a informação é assinalável.

Em termos comparativos, os dados revelam que o Município de Nampula


e o Distrito de Lalaua, ambos com 70.0% de entrevistado cada um, são
os locais onde existem pessoas que mais interesse mostram pela política,

46
seguidos por Angoche, com 55.0%. No entanto, Angoche (35.0%)
apresenta maior percentagem de entrevistados que deram a conhecer
que não têm qualquer interesse pela política. A cidade de Nampula
(17.0%), que é a terceira maior do país, apresenta o maior índice de
pessoas que “nem sempre se interessam” pela política.

Os Municípios de Nampula e Angoche apresentam entrevistados com um


forte interesse pela política, eventualmente, devido a uma maior
maturidade e participação popular nos processos eleitorais. A estes
factores se associa a experiência em governação local.

Por seu turno, importa sublinhar que, de um total de 204 casos do


questionário qualitativo, 37.0% de entrevistados disseram que “em
nenhum aspecto” o trabalho dos políticos (deputados) ajuda a melhorar a
sua vida, contra 37.0% daqueles que defenderam que os deputados são
úteis para “auscultar as preocupações do povo”. No primeiro caso, a
crítica ao trabalho dos deputados é mais saliente em Nampula (36.0%) e
Angoche (31.0%). No segundo caso, a apreciação positiva do trabalho dos
políticos foi mais saliente em Lalaua (36.0%).

Em suma, pode dizer-se que a maioria de entrevistados desta província


tem interesse pelos processos políticos em curso no país, com maior
incidência em Lalaua e cidade de Nampula.

2.1.2. Impacto de eleições sobre a vida do cidadão

O presente estudo revela que mais de 50 por cento de entrevistados


admite que as eleições “mudam algo na sua vida”. A taxa de respostas
nesta pergunta situou-se em 97.0%, o que reforça a validade das
opiniões dos entrevistados.

O presente estudo conclui que a maioria esmagadora de entrevistados se


expressou a favor do impacto positivo das eleições, alegadamente, porque
“mudam algo na sua vida”. Com efeito, na opinião dos entrevistados, os
pleitos eleitorais têm vindo a influenciar o seu quotidiano na família, na
comunidade, na aldeia ou no distrito.

O Gráfico 2.1 ilustra o quadro detalhado das percepções dos cidadãos


interpelados em três distritos da Nampula sobre o impacto das eleições
na mudança de condições de vida dos cidadãos.

Gráfico 2.1: As eleições mudam alguma coisa na sua vida?

47
0.9

0.8

0.7

0.6

0.5

0.4

0.3

0.2

0.1

0
Sim Não Não sei

Lalaua 84 16 0
Cidade de Nampula 72.7 20.9 6.3
Angoche 80.4 18.3 1.14

Do Gráfico 2.1, acima, constata-se que, de um total de 297 casos, 79.0%


dos entrevistados acreditam que as eleições mudam algo nas suas vidas,
uma posição que é contrariada por 18.0% dos entrevistados. Uma
percentagem bastante insignificante de pessoas inquiridas optou por
responder “Não saber” (3.0%) se as eleições mudam algo na sua vida. Isto
significa que, em cada 10 entrevistados, 8 disseram que tinham a
confiança de que as eleições mudam algo nas suas respectivas vidas, 2
não acreditavam e apenas 1 era indeciso.

Este posicionamento pode estar ligado a enorme expectativa da


população em relação ao novo Governo e aos investimentos que estão
sendo efectuados nesta província nortenha.

Em termos comparativos, Lalaua (84.0%) tem alguma ascendência em


relação a Angoche (80.0%) em termos de entrevistados que acreditam
que as eleições mudam algo nas suas vidas. Por último, Nampula-cidade,
com 73.0% de entrevistados, mostra que as pessoas acreditam, mas
apresentam alguma reserva.

Em suma, como se pode notar, em todos os locais, os entrevistados


acalentam enormes expectativas de que as eleições não sirvam apenas os
propósitos dos políticos, mas que possam trazer melhoria nas suas
condições de vida. Esta assumpção encontra acolhimento na mudança
da tendência de voto nas eleições gerais de 2004 verificada neste círculo
eleitoral.
2.2. Órgãos do poder do Estado

A popularidade da AR nesta província, eventualmente, resulta da


disseminação da sua imagem no seio dos cidadãos que têm acesso a

48
informação, entre outras, facilidades que o desenvolvimento pode
oferecer. Assim, os resultados da pesquisa mostram que a maioria
esmagadora dos cidadãos entrevistados tem o domínio sobre aspectos
marcantes deste mais alto órgão do poder legislativo do Estado tais como
a sua composição e funções.

2.2.1. Assembleia da República

Os dados mostram que os entrevistados de Nampula, efectivamente,


conhecem a AR como o órgão mais alto da legislatura moçambicana.
Com efeito, constata-se que perto de 80 por cento dos entrevistados
conhecem AR.

O gráfico 2.2, abaixo, apresenta o quadro detalhado das percepções dos


cidadãos interpelados em Nampula, nomeadamente, em Angoche, Lalaua
e no Município de Nampula, sobre a AR.

Gráfico 2.2: Conhece a Assembleia da República?

70.00%

60.00%

50.00%

40.00%

30.00%

20.00%

10.00%

0.00%
Lalaua Cidade de Nampula Angoche

Sim 52.75% 57% 59%

Não 41.76% 39% 36%

Out r os 5.49% 4% 5%

De um total de 288 casos, 79.0% dos entrevistados disseram que


conheciam a Assembleia da República, contra 18.0% daqueles que
disseram que não conheciam a “Magna Casa do Povo”. Por seu turno,
apenas 3.0% de entrevistados mostraram-se hesitantes perante a
pergunta. Isto significa que, em cada 10 entrevistados, 8 entrevistados
conheciam e 2 entrevistados não conheciam. Este índice de
conhecimento situa-se acima da média, o que sugere que pode ser o
reflexo do trabalho de sensibilização.

Em termos comparativos, os dados mostram, curiosamente, que Lalaua,


com 88.0%, é o distrito onde existe maior número de pessoas que
conhecem a Assembleia da República, ultrapassando Angoche, que se

49
quedou em segundo lugar com 79.0%, e a cidade de Nampula, com
71.0%. Esta posição positiva dos entrevistados em termos de
conhecimento pode estar ligada a factores como acesso à informação e à
divulgação das actividades daquele órgão de soberania. Por exemplo,
Lalaua tem o sinal da TVM desde 2006, o que constitui uma mais valia
para o desenvolvimento do Distrito, particularmente das populações
locais.

Por seu turno, importa recordar que o índice de popularidade da AR


poderá incrementar-se drasticamente nesta província assim como
noutras, na sequência das acções do ciclo eleitoral que se avizinha a
partir de 2007. Esta jornada política poderá, certamente, criar outra
forma de ser e estar dos representantes do povo – deputados – e, a partir
daí, dinamizar processos9 de disseminação das funções e actividades
deste órgão da soberania.

Em suma, nesta província, é visível o interesse manifestado pelos


entrevistados em relação ao conhecimento de órgãos de soberania e pela
classe política.

2.2.2 As funções da Assembleia da República

Em relação às funções da AR, o estudo mostra que há uma indicação de


que os entrevistados de Nampula têm o domínio das funções da AR,
salvo algumas excepções, em que existe algumas confusões que se
podem tolerar. Na verdade, dos dados, observa-se que quase 70 por
cento dos entrevistados apontam a produção de leis e deliberações como
a função fundamental deste mais alto órgão da legislatura moçambicana.

Na perspectiva de 69.0% dos entrevistados, a Assembleia da República


tem a função de “Fazer leis”, contra 7.0% daqueles que apontaram
“Administrar a justiça”. Enquanto isso, 24.0% de inquiridos acham que
este órgão tem a função de “Promover o desenvolvimento económico”.
Isto significa que, em cada 10 entrevistado, 7 conheciam correctamente
as funções da AR e 3 apresentavam dificuldades. Este cenário revela que
a maior parte das pessoas tem estado a acompanhar os trabalhos
desenvolvido pela AR, embora se note que ainda persiste algum défice de
conhecimento.

9Os Secretariados Provinciais da AR vão, certamente, contribuir para a disseminação


deste órgão de poder do Estado junto do eleitorado.

50
A Tabela 2.2, abaixo, apresenta o quadro detalhado das percepções dos
cidadãos interpelados em três distritos de Nampula, sobre as funções da
Assembleia da Republica.

Tabela 2.2: A Assembleia da República tem a função de?


Promover o
Administrar a
Distrito Fazer leis desenvolvimento Total de Casos
Justiça
económico
Lalaua 56.0 6.0 38.0 91
Cidade de Nampula 72.0 12.0 16.0 100
Angoche 84.0 0.0 16.0 56
Total 177 18 61 256
% em relação ao total 69.0 7.0 24.0 100.0

A posição dos entrevistados sobre esta matéria dá uma indicação de que


um bom número de pessoas já conhece a vocação da AR. Com efeito, os
dados revelam, ainda, que a maioria de entrevistados conhecia a função
daquele órgão de soberania e as pessoas estão cientes do trabalho
desenvolvido pela Assembleia da República e das funções.

Todavia, prevalecem ainda desafios no concernente à disseminação, no


seio do eleitorado, das actividades e funções da Assembleia de República.
O índice de desconhecimento das funções da AR está patente, por
exemplo, em 26.0% de entrevistados que responderam incorrectamente a
pergunta ao indicar “Promover o desenvolvimento económico”. Este
cenário é mais saliente em Lalaua, onde 38.0% de entrevistados deram
este tipo de resposta. Por seu turno, em Angoche, um Município
altamente politizado, 84.0% de entrevistados disseram que conhecem,
efectivamente, as funções da Assembleia da República, ultrapassando a
cidade de Nampula, que ficou em segundo lugar com 61.0% de
entrevistados.

Em suma, pode concluir-se que os entrevistados desta província


mostraram que detêm um conhecimento apreciável sobre as verdadeiras
funções da Assembleia da República.

2.2.3 Diferenças
Diferenças entre Governo e Assembleia da República
República

O cenário constatado em Cabo Delgado sobre a separação de poderes do


Estado em Executivo, Legislativo e Judiciário repete-se em Nampula,
fundamentalmente, porque esta matéria não é do senso comum. Com
efeito, o estudo revela que somente um pouco mais de 50 por cento dos
entrevistados é que sabia distinguir as diferenças entre o Governo e a

51
AR. Nesta província, a margem diferencial entre as correntes de opiniões
entre os que sabem e os que não sabem identificar é de 17.0%, sendo a
maior para os primeiros.

A Tabela 2.3, abaixo, apresenta o quadro detalhado das percepções dos


cidadãos interpelados em três distritos de Nampula, sobre as diferenças
entre o Executivo e o legislativo.

Tabela 2.3: Conhece a diferença entre o Governo e a Assembleia da República?


Distrito Sim Não Outros Total de Casos
Lalaua 53.0 42.0 5.0 91
Cidade de Nampula 57.0 39.0 4.0 108
Angoche 59.0 36.0 5.0 83
Total 159 110 13 282
% em relação ao total 56.0 39.0 5.0 100.0

De um total de 282 casos, 56.0% dos entrevistados afirmaram que


sabiam identificar os aspectos mais importantes que marcam a diferença
entre o Governo e Assembleia da República, contra 39.0% daqueles que
afirmaram não saber. Por seu turno, apenas 5.0% de entrevistados
preferiram responder “Outro”, eventualmente, para evitar dizer se
conhecia ou não as diferenças entre o Governo e a AR. Isto significa que,
em cada 10 entrevistados, 6 sabiam distinguir o Executivo do
Parlamento e os restantes 4 tinham dificuldades em estabelecer essa
diferença.

Este posicionamento revela que mais de 40 por cento de pessoas não é


capaz de discernir a diferença entre os órgãos de soberania do Estado.
Com efeito, os dados mostram, curiosamente, mais uma vez, que
Angoche (59.0%), apresenta o maior índice de pessoas que conhecem a
diferença entre o Governo e a Assembleia da República, ultrapassando a
cidade de Nampula, que ficou em segundo lugar com 57.0%. Neste
contexto, Lalaua ficou em terceiro lugar, com 53.0%, e apresentou uma
percentagem bastante alta (42.0%) de entrevistados que não conheciam a
diferença entre o Governo e a Assembleia da República.

Em suma, pode afirmar-se que somente um pouco mais de 50 por cento


de entrevistados é que sabe diferenciar correctamente o Governo da
Assembleia da República.

2.3
2.3 Contornos da democracia
democracia representativa

52
2.3.1 Noção sobre papel do deputado

Em Nampula, um número representativo de entrevistados reafirma que


conhece os contornos da democracia representativa, particularmente
quando diz que o deputado “é representante do povo”. Esta componente
constitui uma das formas mais sublimes da democracia participativa, em
que o povo, por via indirecta, participa no processo de tomada de
decisões no contexto do quadro legal vigente no país.

A Tabela 2.4 mostra que, de um total de 283 casos, 74.0% dos


entrevistados sabiam que o deputado é representante do povo, ao
contrário de 25.0% de entrevistados que afirmaram não saber. Por seu
turno, observa-se que uma percentagem bastante insignificante de
pessoas inquiridas disse que preferia dar “Outro” (1.0%) tipo de resposta
para justificar o seu conhecimento em relação à pergunta. Este quadro
revela que a maioria dos entrevistados sabia interpretar o sentido do
deputado ser o representante do povo, tal como prescreve a Constituição
da República. Por outras palavras, significa que, em cada 10
entrevistados, 7 sabiam o que é ser deputado e 3 não sabiam.

A Tabela 2.4, abaixo, apresenta o quadro detalhado das percepções dos


cidadãos interpelados nos distritos de Angoche, Lalaua e Nampula, sobre
significado de deputado como representante do povo, tal como prescreve
a Constituição da República.

Tabela 2.4: Sabe porque se diz que o deputado é representante do povo?


Distrito Sim Não Outros Total de Casos
Lalaua 81 19 0 95
Cidade de Nampula 75 25 0 107
Angoche 64 32 4 81
Total 209 71 3 283
% em relação ao total 74 25 1 100

Este índice é positivo em termos gerais, pois, eventualmente, resulta do


estado de desenvolvimento da província em todos os aspectos.

Em termos comparativos, os dados mostram que, surpreendentemente,


Lalaua (81.0%) é o distrito que apresenta o maior índice de entrevistados
que afirmaram conhecer o significado da expressão “deputado é o
representante do povo”, seguido de perto pela cidade de Nampula
(75.0%). Por seu turno, Angoche com 32.0% de entrevistados, lidera o
grupo de inquiridos que não sabem interpretar, correctamente, a noção
do poder representativo.

53
Caixa 2.2: O que pensa e espera o cidadão da
da actividade do
do deputado

A expectativa dos cidadãos entrevistados neste maior círculo eleitoral de Nampula em


relação aos deputados é diversificada. No entanto, quase a metade dos entrevistados
espera que os Deputados dediquem parte do seu tempo para “auscultar o povo e levar
as suas preocupações para a Assembleia”. Esta mensagem, de alguma forma, revela a
maturidade do cidadão que já se apercebeu que o deputado continua ainda afastado
dos seus reais problemas. Uma parte significativa dos entrevistados gostaria de ver os
deputados mais empenhados na busca de soluções para os seus problemas. Para
melhorar a sua vida o cidadão comum clama por maior uma contribuição do
representante do povo na “promoção do desenvolvimento económico do país”.

Em suma, pode afirmar-se que mais de 70 por cento de entrevistados


desta província revelaram que sabiam interpretar o significado da
democracia representativa.

2.4 Relações intra-


intra-parlamentares

2.4.1 Qualidade de relações de trabalho


trabalho entre bancadas

Os grupos parlamentares da AR, nomeadamente da Frelimo e da


Renamo-EU, funcionam graças as relações de trabalho que são
razoavelmente aceitáveis, o que permite o normal funcionamento do
Parlamento e para a consolidação da democracia. Com efeito, tal como o
disseram os entrevistados de outras províncias, o seu relacionamento de
trabalho intra-parlementar é aceitável.

A Tabela A Tabela 2.5, que se apresenta abaixo, ilustra as percepções


dos cidadãos entrevistados nos distritos de Angoche, Lalaua e Nampula-
cidade sobre o grau das relações de trabalho na AR entre as Bancadas da
Frelimo e RENAMO-UE.

Tabela 2.5: As relações de trabalho na AR entre as Bancadas da FRELIMO e da RENAMO UE


Total de
Distrito Excelente Boa Razoável Má
Casos
Lalaua 8.0 33.0 48.0 10.0 97
Cidade-Nampula 2.0 14.0 50.0 34.0 109
Angoche 0 13 56.0 31 71
Total 10 56 142 69 277

% em relação ao total 4.0 20.0 51.0 25.0 100

De um total de 277 casos, constata-se que um pouco de 50 por cento dos


entrevistados descreve e enquadra as relações de trabalho das bancadas

54
dentro de uma razoabilidade. Com efeito, 51.0% dos inquiridos disseram
que a relação de trabalho na Assembleia da República, entre as
bancadas da Frelimo e da Renamo-EU, era “Razoável”, contra 25.0%
daqueles que afirmaram que era “Má”. Enquanto isso, 20.0% de
entrevistados afirmaram ser “Boa” e, finalmente, apenas 4.0% disseram
que era “Excelente”.

Deste cenário, pode-se afirmar que, em cada 10 entrevistados, 5


classificaram essa relação de “Razoável”, 3 disseram que era “Má” e os
restantes 2 apontaram que era “Boa”. A opção da maioria dos
entrevistados pela resposta “Razoável” transmite o sentimento de que a
relação de trabalho entre as duas bancadas situa-se na fronteira entre o
desejável e o indesejável, uma situação que tem sido uma característica
dominante em algumas vezes.

O cenário nos distritos mostra que existe uma certa aproximação de


pontos de vista em quase todos os três, sendo de destacar Angoche, que
está na dianteira com 56.0% de entrevistados, que caracteriza a relação
entre as bancadas da Frelimo e da Renamo na Assembleia da República
como sendo “Razoável”. Esta percepção é, igualmente, defendida por
50.0% dos inquiridos da cidade de Nampula e Lalaua com uma maioria
relativa de 48.0% de entrevistados. Por seu turno, 31.0% dos
entrevistados do Município de Nampula caracterizam esta relação de
“MÁ”. Esta é uma atitude aceitável tendo em linha de conta o espírito
crítico que caracteriza os cidadãos urbanos. Um dado curioso mostra que
em Angoche, dos entrevistados, ninguém acredita que a relação entre as
duas bancadas seja “Excelente”.

Em suma, pode concluir-se que 70 por cento de entrevistados apreciam


positivamente a relação entre as bancadas da Frelimo e da Renamo na
Assembleia da República. Os entrevistados, igualmente, notam que as
constantes divergências em matérias cruciais e a convergência em
matéria de seu interesse dão a imagem de que os deputados pretendem
apenas defender os seus interesses.

2.4
2.4.2. Nível de relacionamento institucional das bancada
bancada

O nível de relacionamento institucional entre as duas bancadas, na


perspectiva do eleitorado entrevistado em Nampula, indica que se baseia
no espirito de compromisso e de interdependência institucional. Com
efeito, segundo os entrevistados (52.0%), o ambiente de trabalho na AR
não é dos que seria de desejar.

55
A atmosfera de trabalho na AR resulta da necessidade da “cooperação
institucional” entre as duas bancadas para garantir o funcionamento
institucional.

O Gráfico 2.3 ilustra as percepções dos interpelados nos distritos de


Angoche, Lalaua e Nampula-cidade, sobre nível de relacionamento
institucional entre as bancadas da Frelimo e Renamo-EU.
Gráfico 2.3: Relacionamento institucional entre as bancadas da FRELIMO e RENAMO UE na AR
70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Cooperação Conflito Tensão Crise
Lalaua 54% 38% 5% 3%
Cidade de Nampula 18% 64% 14% 4%
Angoche 47% 52% 0% 2%

De um total de 268 casos, 52.0% dos entrevistados são de opinião que o


relacionamento institucional entre as duas bancadas parlamentares na
AR era caracterizado por “Conflito”, enquanto que 38.0% disseram que
era de “Cooperação”. Por seu turno, 7.0% e 3.0% disseram ser de
“tensão”, e de “Crise”, respectivamente. Isto significa que, em cada 10
entrevistados, 5 defendiam relacionamento de conflito, 4 sustentavam
relacionamento de cooperação entre as bancadas e 1 defendia relação de
crise/ou de tensão.

No cômputo geral, constata-se que 62.0% de entrevistados caracterizam


o relacionamento institucional entre as duas bancadas como estando
ainda longe do que seria de desejar. Com efeito, segundo os dados tem
sido dominado por uma relação que se situa entre “Conflito”, “Tensão” e
“Crise” (62.0%). Este facto mostra, de forma clara, que os cidadãos
guardam uma imagem negativa dos deputados e das suas respectivas
bancadas parlamentares.

Os dados do Gráfico 2.3 mostram que os entrevistados da cidade de


Nampula (64.0%) foram mais críticos em relação ao relacionamento entre
as bancadas da Frelimo e da Renamo-EU. Com efeito, estes citadinos
acreditam que o relacionamento institucional entre as duas bancadas na

56
Assembleia da República é marcadamente de “Conflito”, seguida por
munícipes de Angoche (52.0%).

Enquanto isso, a maioria dos entrevistados de Lalaua (54.0%) tem a


visão de que a relação entre as duas bancadas é caracterizada por
“Cooperação”. Esta posição é partilhada por 47.0% de munícipes de
Angoche e 18.0% da cidade de Nampula.

Em suma, pode concluir-se que a maioria dos entrevistados (62.0%)


admite que o nível de relacionamento não seja o dos melhores. Esta
situação resulta da existência de relações de conflitualidade, de tensão e
às vezes de crise entre as bancadas da Frelimo e da RENAMO-UE na
Assembleia da República.

2.4.3 Relações
Relações interpessoais de deputados da AR

O grau de relações interpessoais entre os deputados das duas bancadas


é, de um modo geral, normal tendo em linha de contas as opiniões dos
entrevistados que são claramente disperso e divergentes.

No entanto, este cenário sugere que, apesar das suas diferenças


ideológicas, os deputados conseguem cultivar e manter relações
interpessoais e humanas de bom nível. Este facto mostra que há espírito
de respeito e de reconhecimento mútuo entre si, que se baseiam no
espirito de reconciliação nacional.

De um total de 276 casos, constata-se que existe uma dispersão de


opinião dos entrevistados, o que faz com que nenhuma das opções seja
dominante. No entanto, nota-se que 45.0% dos entrevistados disseram
que o relacionamento entre os deputados da Assembleia da República
era “Razoável”, enquanto que 29.0% disseram que era “Bom”. Por seu
turno, 20.0% de inquiridos disseram que o relacionamento pessoal entre
os deputados era “Mau”, e, finalmente, apenas 6.0% disseram que o
mesmo era “Excelente”.

O Gráfico 2.4 ilustra o quadro das percepções dos cidadãos entrevistados


nos distritos de Angoche, Lalaua e Nampula-cidade, sobre o nível de
relacionamento interpessoal dos deputados da AR.

Gráfico 2.4 O nível de relacionamento entre os deputados da AR

57
50%
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Lalaua Cidade de Nampula Angoc he
Ex c elente 11% 5% 1%
Boa 31% 26% 32%
Raz oável 46% 46% 42%
Mau 13% 23% 25%

Por outras palavras, significa que, em cada 10 entrevistados, 5


descreveram o relacionamento entre deputados de “Razoável”, 3
tomaram-no de “Bom” e os restantes 2 defenderam ser “Más”. Neste
contexto, verifica-se que quase todos os distritos/municípios apresentam
índice de opiniões aproximadas. Com efeito, Lalaua e Nampula, que
partilham a fasquia de 46.0% de entrevistados, consideram que essas
relações interpessoais são “Razoáveis”, seguidos de perto por 42.0% de
inquiridos de Angoche.

Entretanto, 32.0% de entrevistados de Angoche acreditam que o


relacionamento entre os deputados é “Bom”, seguido pelos 31.0% de
Lalaua. Nampula, não obstante a sua atitude crítica, apresenta 26.0% de
entrevistados que, igualmente, admitem que o relacionamento entre
deputados é “Bom”, apesar das suas diferenças partidárias. Existe uma
dispersão clara de pontos de vista entre os entrevistados sobre o
relacionamento entre os deputados. Este posicionamento pode ser o
reflexo da imagem negativa da atitude dos deputados que tem estado a
ser construída pelos representantes do povo durante as sessões de
trabalho no plenário.

Em suma, pode concluir-se que a maior parte dos entrevistados (78.0%)


considera o relacionamento normal e aceitável que tem permitido um
convívio profissional e socialmente satisfatório.

2.5 Factores determinantes nos debates da AR


AR

O debate sobre os mais diversos assuntos que têm lugar na AR tem sido,
de certo modo, influenciado por factores de ordem “disciplinar e

58
partidária” (43.0%). Todavia, observa-se uma tendência assinalável de
opiniões que sustentam que os deputados agem em defesa dos
“interesses do eleitorado” (30.0%). Este cenário é ligeiramente diferente
da que se registou em Niassa, onde os entrevistados acham que os
parlamentares de ambas bancadas ainda estão fortemente “amarrados”
aos ditames dos seus respectivos partidos políticos.

A Tabela 2.6, abaixo, apresenta o quadro detalhado das percepções dos


cidadãos entrevistados nos distritos de Angoche, Lalaua e Nampula
Cidade sobre os principais factores que influenciam e determinam o
carácter e rumo dos debates na AR.

Tabela 2.6: Debates da Assembleia da República tem carácter de:


Distrito/ Disciplina Disciplina Interesse do Total de
Outros
Município Partidária Parlamentar eleitorado Casos
Lalaua 31.0 23.0 37.0 10.0 93
C. Nampula 53.0 17.0 21.0 9.0 100
Angoche 44.0 12.0 35.0 9.0 66
Total 112 46 78 24 260
% em relação ao total 43.0 18.0 30.0 9.0 100

A Tabela 2.6, acima, mostra claramente que, de um total de 260 casos,


houve uma ligeira divisão de opiniões ou pontos de vista entre os
entrevistados, de tal modo que nenhuma variável atingiu a fasquia de 50
por cento. Com efeito, nota-se que 43.0% dos entrevistados disseram que
os debates na Assembleia da República são determinados por factores
inerentes à “Disciplina partidária”, contra 30.0% daqueles que disseram
tratar-se de “Interesses do eleitorado”.

Por seu turno, 18.0% e 9.0% de entrevistados disseram que a atitude dos
parlamentares é regida por “Disciplina parlamentar” e por “Outros”
interesses, respectivamente. Deste posicionamento, pode-se afirmar que
em cada 10 entrevistados 4 defendiam a disciplina partidária como factor
determinante, 3 sustentava a defesa de interesses do eleitorado, 2
defendiam a disciplina parlamentar e por último, 1 sustentava outro tipo
de motivação. Este quadro de respostas mostra que havia uma clara
dispersão de pontos de vista em relação ao desempenho da AR e a
atitude dos deputados perante os interesses do eleitorado.

Em termos comparativos, os dados constantes da Tabela 2.6 mostram


que 53.0% de entrevistados na cidade de Nampula, são de opinião que os
debates da Assembleia da República são influenciados pela “Disciplina
partidária”. Esta posição é partilhada por 44.0% dos entrevistados de
Angoche. Por seu turno, 37.0% dos entrevistados de Lalaua admitem que

59
os debates na AR procuram salvaguardar os “Interesses do eleitorado”,
apoiados de perto por 35.0% de Angoche.

Caixa 2.3
2.3: AR debate tópicos que reflectem aspirações do eleitorado

As matérias que constam da agenda da AR que posteriormente são discutidas em


Sessões da AR foram, postos à prova junto do eleitorado de Nampula. As respostas
são, de um modo geral animadoras, porque convergem com as aspirações da maioria
dos cidadãos entrevistados nesta província.

Com efeito, segundo as opiniões da maioria de entrevistados é inquestionável à


pertinência dos assuntos debatidos na AR para a vida da população. Nesta ordem de
ideias, a esmagadora maioria de cidadãos entrevistados Angoche, Lalaua e cidade de
Nampula é de opinião que, de facto, os assuntos discutidos na AR “sim reflectem” os
seus reais anseios. Este posicionamento foi mais saliente, por ordem decrescente,
Nampula, Lalaua e Angoche. Todavia, em jeito de crítica alguns cidadãos disseram que
os deputados “discutem boas coisas, mas não implementam”. Apesar desta opinião
favorável dos entrevistados, um pequenino grupo de cidadãos considera que as
discussões do parlamento “não reflectem as suas preocupações”. Por ordem
decrescente, figura Lalaua, Nampula e Angoche.

Em poucas palavras, pode-se afirmar que este posicionamento é surpreendente na


medida em que este é dos poucos aspectos com os quais os entrevistados reconhecem
positivamente os deputados.

Em síntese, pode concluir-se que não existe uma convergência


dominante de pontos de vista entre os entrevistados sobre os debates na
AR. Com efeito, as situações de consenso entre as bancadas têm sido
raras, excepto nos casos que são de interesse dos deputados.

2.5
2.5. Considerações gerais

Em termos gerais pode-se afirmar que os entrevistados desta província


de Nampula apresentam um índice aceitável do conhecimento sobre os
processos políticos em curso no país. Assim, constata-se o seguinte:
 A maioria de entrevistados (62.0%) desta província tem interesse
pelos processos políticos em curso no país;

 O estudo revela que apenas um mais de 50 por cento de


entrevistados é que admite que as eleições “mudam algo na sua
vida” no seu meio;

 Os dados mostram que a maioria dos entrevistados (79.0%)


conhece a Assembleia da República;

60
 A maioria de entrevistados (69.0%) tem o domínio das funções da
AR como órgão mais alto da legislatura moçambicana;

 Um pouco mais de 50 por cento de entrevistados é que sabia


diferenciar correctamente o Governo da Assembleia da República;

 O estudo revela que mais de 70 por cento de entrevistados desta


província sabiam interpretar correctamente o significado de ser
deputado da AR;

 O estudo aponta que 70 porcento de entrevistados avalia


positivamente as relações entre as bancadas da Frelimo e da
Renamo na Assembleia da República;

 A maioria dos entrevistados (62.0%) admite que o nível de


relacionamento não seja o dos melhores. Esta situação resulta da
existência de relações de conflitualidade, de tensão e às vezes de
crise entre as bancadas da Frelimo e da RENAMO-UE na
Assembleia da República;

 O grau de relações interpessoais entre os deputados das duas


bancadas é, de um modo geral, normal e aceitável tendo em linha
de contas que as opiniões dos entrevistados foram, claramente,
disperso e divergentes em relação a esta matéria;

 Os dados revelam que entre entrevistados desta província não


houve convergência total de pontos de vista sobre as razoes que
determinam a atitude e comportamento dos deputados na AR. Mas
acreditam que os debates têm sido influenciados pela “Disciplina
partidária” (43.0%) e defesa dos “Interesses do eleitorado” (30.0%).

61
Capítulo III

PERCEPÇÕES DO ELEITORADO DE NIASSA

3. Sumário

Este capítulo ocupa-se por discutir as percepções do Niassa, onde se


avaliam as opiniões dos entrevistados sobre os mais diversos temas e
sobre a sua interacção com os deputados.

3.1 Cidadão e a política

O interesse do cidadão pela política no Niassa, particularmente em


Cuamba, Majune e Mavago, é marginal, segundo os dados do estudo.
Com efeito, os dados são de certa forma divergente, embora haja uma
ligeira ascendência de entrevistados interessados pela política em relação
aos que não têm interesse pelos assuntos políticos.

3.1.1 O interesse do cidadão pela política

Os resultados do estudo mostram que, na província do Niassa, o


interesse pelas actividades políticas é ainda fraco. Todavia, é importante
sublinhar que a taxa de respostas nesta pergunta foi de 82.0%, uma
cifra razoavelmente aceitável, pois se situa acima da média. Este facto
mostra que, apesar de terem acedido às entrevistas, o seu interesse pelos
aspectos políticos é ainda limitado.

A Tabela 3.1 (abaixo) apresenta as percepções dos cidadãos entrevistados


em três distritos da província do Niassa, sobre o interesse dos cidadãos
entrevistados pelas actividades do mundo político.

Tabela 3.1: Tem algum interesse pela política?

Distrito Sim Não Nem sempre Total de Casos

Cuamba 60.0 26.0 14.0 90


Majune 57.0 33.0 10.0 94
Mavago 19.0 64.0 18.0 97
Total 126 116 39 281

% em relação ao total 45.0 41.0 14.0 100

62
De um total de 281 casos, constata-se que existe uma forte tendência de
equilíbrio entre os admiradores e amantes da política e os seus
detractores. Assim, 45.0% de entrevistados afirmaram que têm forte
interesse pela política, contra 41% daqueles que não se mostram
interessados por esta área de actividade. Por seu turno, 14.0% de
pessoas inquiridas referiram que “Nem sempre” se interessavam pela
política. Isto significa que, no dia da entrevista, havia, em cada 10
entrevistados, 5 amantes da política, 4 detractores e 1 que nem sempre
aprecia a política.

Este posicionamento mostra um certo desalento dos entrevistados tendo


em conta o contexto em que estão inseridos. A província está ainda a
ressentir-se da falta de desenvolvimento a todos os níveis. Com efeito,
Niassa está afastada do centro de tomada de decisões e, com isso, sente
alguma marginalização do processo de desenvolvimento político,
económico e social. Além disso, se pode associar o fraco acesso de parte
da população à informação e às novas tecnologias de informação e
comunicação.

A Tabela 3.1, acima, apresenta dados que revelam que, em termos


comparativos, Cuamba (60.0%) apresenta o maior número de
entrevistados que se identificam com a política, contra Mavago (19.0%).
Cuamba é seguida de perto por Majune (57.0%). Enquanto isso, nota-se
que Mavago (64.0%) apresenta a percentagem mais elevada de
entrevistados que não tem qualquer interesse pela política. Este cenário
é quase diametralmente oposta a situação do município de Cuamba
(60.0%), onde se regista um forte interesse pela política.

A aderência dos entrevistados de Cuamba à política pode estar associada


a uma cada vez maior maturidade política dos seus munícipes,
resultante da sua participação nos vários processos eleitorais. Por seu
turno, em Mavago, o desinteresse pela política manifestado pelos
entrevistados pode estar ligado a vários factores, entre os quais as
condições económicas e sociais da população local. Com efeito, constata-
se que de um total de 209 casos, do questionário qualitativo, 55.0%
disseram que, “em nenhum aspecto”, o trabalho dos políticos (deputados)
ajuda a melhorar a sua vida. Este aspecto foi mais saliente em Mavago
(68.0%), contra Cumba (16.0%).

Em suma, pode-se afirmar que os entrevistados estavam quase divididos


a meio em termos de interesse pela política. O desinteresse pela política,
que é a maioria (55.0%), pode significar uma chamada de atenção para
que algo seja feito para alterar o actual cenário. Por outro lado, a
mensagem dos entrevistados pode, ainda, significar que “dificilmente
acreditam” que a política ou os políticos possam resolver os seus

63
inúmeros problemas. Por exemplo, foram realizados 5 pleitos eleitorais,
mas os entrevistados acham que o trabalho dos políticos ainda não tem
um forte impacto nas suas vidas.

3.1.2. Impacto de eleições sobre a vida do cidadão

O presente estudo revela que apenas um pouco mais de 50 por cento de


entrevistados admite que as eleições “mudam algo na sua vida”. A taxa
de respostas nesta pergunta situou-se em 97.0%, o que reforça a
validade das opiniões dos entrevistados.

A Tabela 3.1, acima, ilustra as opiniões dos cidadãos entrevistados em


Cuamba, Majune e Mavago, sobre o impacto das eleições nas suas vidas.

Gráfico 3.1: As eleições mudam alguma coisa na sua vida?

80%

60%
Sim
40% Não
Não sei
20%

0%
Cuamba Majune Mavago

Sim 76% 51% 38%


Não 22% 48% 51%
Não sei 2% 1% 11%

De um universo de 290 casos, 51.0% dos entrevistados acreditam que as


eleições mudam algo nas suas vidas, uma posição que é contrariada por
31.0% dos entrevistados. Enquanto isso, 18.0% de entrevistados
mostraram-se indecisos ou hesitantes em relação à pergunta. Assim,
constata-se que, em cada 10 entrevistados, 5 admitem que as eleições
produzem um impacto positivo sobre as suas vidas, 3 não acreditam, e
os restantes 2 são indiferentes.

Subjacentes a este posicionamento podem estar associados vários


factores que ultrapassam a vontade política das autoridades locais e dos
políticos. De qualquer modo, a falta de realização das enormes
expectativas da população pode contribuir para este estado de espírito
dos entrevistados. A implementação de projectos de desenvolvimentos
agrícola e turístico que estão sendo implementados na província poderá,

64
eventualmente, vir alterar o posicionamento dos entrevistados e da
população em geral.

Em termos comparativos, os dados mostram que Cuamba (76.0%) é o


local de entrevista onde existe maior número de pessoas que acreditam
que as eleições mudam algo nas suas vidas, seguida por Majune (51.0%).
Mais uma vez, Mavago, com 51.0% de opiniões, é o distrito mais céptico
dos três. Estes entrevistados de Mavago tentam mostrar que não
acreditam que as eleições possam trazer algumas mudanças nas suas
vidas.

O cepticismo dos entrevistados de Mavago está, igualmente, patente no


contexto do questionário qualitativo em que, de um total de 247casos,
64.0% de entrevistados reafirmam que o trabalho dos políticos, incluindo
os deputados, não tem impacto algum para o seu distrito. Neste
contexto, 83.0% de entrevistados disseram que, efectivamente, ainda não
sentem o impacto das eleições nas suas vidas.

Caixa 3.1: Impacto da acção do deputado na melhoria de vida do cidadão

A esmagadora maioria de cidadãos entrevistados defendeu que “nenhum trabalho”


desenvolvido pelos deputados produz um impacto digno de realce sobre a vida dos
distritos. Os cidadãos de Mavago salientaram-se na crítica directa aos deputados que
na sua opinião a acção destes representantes do povo é quase nula nos seus
respectivos distritos. Enquanto isso, os cidadãos de Majune regozijavam os feitos no
“melhoramento das infra-estruturas económicas e sociais, nomeadamente as “vias de
acesso, saúde e educação”. Estes posicionamentos revelam que a maturidade das
populações mede-se tanto através da crítica como pelo reconhecimento das actividades
complementares entre o governo e deputados.

Em relação a questão sobre o impacto do trabalho do deputado constatou-se que mais


de metade dos entrevistados acredita que o trabalho dos Deputados, “em nenhum
aspecto” ajuda a melhorar a vida da população”. Os entrevistados do distrito de
Mavago se destacaram em relação aos restantes. Esta posição é contrariada por um
grupo minoritário (quase a metade) daqueles que acreditavam que o trabalho dos
deputados contribuía em “em alguns aspectos, para resolver os problemas do povo”.
Igualmente, se observa que uma terceira franja, embora seja marginal de pessoas se
contentava com o trabalho dos deputados, alegadamente “porque os nossos problemas
são discutidos no problema“. Estes cidadãos foram única e exclusivamente registados
na cidade de Cuamba.

Finalmente, importa referir que quanto à presença física do deputado nos distritos de
Niassa, não foge muito da situação das outras províncias em que a nota dominante
tem sido a ausência. Com efeito, a esmagadora maioria dos entrevistados em nesta
província, destaca que a presença dos deputados nos seus distritos “não se faz sentir”.
Esta crítica teve maior destaque nos distritos de Mavago e Majune. Enquanto isso,
parte significativa de entrevistados de Majune e do Município de Cuamba defenderam
a posição segundo a qual a presença dos deputados, apesar de tudo “faz-se sentir”.

65
Este cepticismo em relação ao impacto das eleições resulta, também, da
impaciência dos entrevistados de Mavago em relação às mudanças que
tardam a concretizar-se, o que alimenta a descrença que existe quanto a
real capacidade dos políticos em tirá-los da pobreza em que se
encontram mergulhados.

Por outro lado, é saliente e peculiar a atitude dos munícipes


entrevistados de Cuamba, que apontam mais para o optimismo que o
cepticismo manifestado em Mavago. Este posicionamento pode reflectir o
resultado do trabalho positivo desenvolvido pelas autoridades municipais
e do distrito em termos de investimentos que estão sendo efectuados em
infra-estruturas de desenvolvimento económico e social.

Em suma, pode-se concluir que a percepção global dos entrevistados é de


que o acto eleitoral como um dos pilares da democracia representativa,
pode, de alguma forma, contribuir para imprimir mudanças nas suas
vidas das pessoas. Todavia, nota-se que os entrevistados não são,
totalmente, unânimes em relação a esta matéria. Primeiro, porque um
número significativo de entrevistados considera que as eleições ainda
não estão a produzir um impacto directo para o melhoramento da sua
vida pessoal. Depois, constata-se que, em termos comparativos, os
entrevistados de Mavago tendem a distanciar-se de Cuamba.

3.2 Órgãos do poder do Estado

A popularidade dos mais altos órgãos do Estado moçambicano pode ser


medida em função da disseminação da sua imagem ou pelo seu
desempenho. Assim, o estudo revela que a popularidade da Assembleia
da Republica nos distritos de Cuamba, Majune e Mavago, no geral é
satisfatória.

3.2.1 Assembleia da República

Os resultados do estudo mostram que apenas um pouco mais de 50 por


cento de cidadãos entrevistados tem uma noção consolidada da
composição e papel deste órgão mais alto da soberania – Assembleia da
Republica (AR). Os restantes entrevistados deixaram a entender que não
conhecem.

O Gráfico 3.2 (abaixo) apresenta as percepções dos cidadãos interpelados


em três distritos do Niassa, nomeadamente Cuamba, Majune e Mavago,
sobre o seu conhecimento em relação a Assembleia da República.

66
Gráfico 3.2: Conhece a Assembleia da República?
80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Sim Não Não sei
Cuamba 76% 22% 2%
Majune 51% 48% 1%
Mavago 38% 51% 11%

De um total de 288 casos, 55.0% dos entrevistados disseram que


conheciam a Assembleia da República, contra 40.0% daqueles que
disseram não conhecer a “Magna Casa do Povo”. Por seu turno, nota-se
que 5.0% de outros entrevistados disseram “não saber” algo sobre a
Assembleia da República. Isto significa que, em cada 10 entrevistados,
havia 5 que conhecia a AR, 4 não conheciam e 1 era indeciso. Como se
pode ver, a diferença entre os que conhecem e os que ainda não
conhecem a AR é mínima (10.0%), o que leva a supor que há muito ainda
por fazer nesta matéria.

Assim, acredita-se que, com a realização das primeiras eleições


provinciais multipartidárias, em 2007, este cenário venha a sofrer
melhorias significativas10, em termos de disseminação das funções e
actividades da AR.

Em termos comparativos, os dados mostram que, mais uma vez, o


Município de Cuamba (76.0%) assume a dianteira dos entrevistados que
referiram conhecer a AR, contra Mavago (38.0%), distrito onde existem
mais pessoas que desconhecem a Assembleia da República. Na posição
intermédia, figura o distrito de Majune (51.0%), onde os entrevistados
manifestaram que conhecem a Assembleia da República.

No caso de Cuamba, esta elevada percentagem sobre o grau de


conhecimento da AR pode estar ligada a factores com o acesso à
informação e à divulgação das actividades daquele órgão de soberania,
provavelmente o contrário do que acontece em Mavago. Enquanto isso,
mais uma vez, do Gráfico 3.2, nota-se que Mavago, com 51.0% de

10 Tendo em conta que vai ser instalado o secretariado provincial da AR pode-se esperar
que venha a contribuir a popularização deste órgão de poder do Estado, junto do
eleitorado.

67
entrevistados, assume a dianteira daqueles que ainda não conhecem a
AR, seguidos de Majune com 48.0% de pessoas.

Adicionalmente, pode-se afirmar que a falta de conhecimento da AR é


agravada pela ausência quase total da acção ou presença do deputado
nalguns distritos/municípios. Com efeito, do inquérito qualitativo11
constata-se que, de um universo de 258 casos, 74.0% dos entrevistados
disseram que a presença do deputado no seu distrito/município “não se
faz sentir”, contra 22.0% daqueles que defenderam que se “faz sentir”.
Neste quadro de posicionamentos, Mavago adianta-se com 94.0% de
entrevistados, seguido de Mavago (60.0%) e Cuamba (38.0%). Por outro
lado, 3.0% de entrevistados, curiosamente todos de Cuamba, sustentam
que os deputados “aparecem apenas nas eleições”.

Em suma, pode-se aferir que o nível de conhecimento do eleitorado em


relação a AR, pelo menos da percepção dos entrevistados, no geral é
encorajador. Todavia, nota-se que o desafio é enorme porque há distritos
que apresentam um índice apreciável de cidadãos entrevistados que
conhecem os órgãos do Estado (Cuamba), enquanto outros o nível é
ainda fraco (Mavago).

3.2.2 As funções da Assembleia da República

Em relação às funções da AR, o estudo mostra que há uma divisão de


opiniões no seio de entrevistados do Niassa, e dos locais da entrevista em
particular. Com efeito, constata-se que um pouco mais de 50 por cento
de entrevistados conhecem a função fundamental da AR, que assenta na
produção de leis e deliberações que orientam o funcionamento do
Estado. Todavia, não menos importante é o facto de se constatar que
49.0% de entrevistados não conheciam a função fundamental da AR.

De um total de 255 casos (Tabela abaixo), 51.0% dos entrevistados


disseram que a Assembleia da República tem a função de “Fazer leis”,
enquanto que 33.0% indicaram que tem a função de “Promover o
desenvolvimento económico”. Finalmente, 16.0% de entrevistados
sustentaram que a AR tem a vocação de “Administrar a justiça”.

Assim, nota-se que, em cada 10 entrevistados, 5 sabiam a função da AR,


3 confundiam com a promoção do desenvolvimento económico e os
restantes 2 entrevistados, também, não acertaram a verdadeira vocação
deste órgão do Estado.

11 Ver sobre esta matéria no anexo referente a província do Niassa.

68
A Tabela 3.2 (abaixo) ilustra as percepções dos cidadãos entrevistados
em Cuamba, Majune e Mavago, sobre as funções da Assembleia da
República.

Tabela 3.2: A Assembleia da República tem a função de?


Promover
Administrar Total de
Distrito Fazer leis desenvolvimento
Justiça Casos
económico
Cuamba 68.0 13.0 19.0 88
Majune 27.0 20 53.0 91
Mavago 61.0 16.0 24.0 76
Total 131 41 83 255
% em relação ao total 51.0 16.0 33.0 100.0

Em termos comparativos, os dados mostram que Cuamba (68.0%) lidera


o grupo de locais de entrevistas, porque apresenta o maior índice de
pessoas que conhecem, efectivamente, as funções da Assembleia da
República, seguida de perto por Mavago (61.0%). Curiosamente,
constata-se que o maior desvio em termos de resposta correcta verificou-
se em Majune. Com efeito, neste Distrito, 53.0% de entrevistados
responderam “promoção de desenvolvimento”, contra 20.0% daqueles
que deram a resposta correcta sobre as funções da AR.

Em relação ao Município de Cuamba, mais uma vez, o acesso à


informação e de outra facilidades podem estar na origem da clareza que
os seus munícipes apresentam em relação aos órgãos do Estado. Este
nível de desenvolvimento, certamente, não é extensivo a Majune que
apresenta respostas com um nível de desvio na ordem de 73.0% em
relação às respostas correctas.

Em suma, pode concluir-se que no seio dos entrevistados havia uma


divisão clara de opiniões em relação às funções da AR, em que somente
51.0% é que conhecia a função fundamental da AR, e 49.0% dos quais
não conheciam.

3.2.3 Diferença entre Governo e Assembleia da República

A separação de poderes do Estado em Executivo, Legislativo e Judiciário


não é de domínio público, de certa forma porque não faz parte de debates
do senso comum da maioria dos cidadãos. Assim, é totalmente tolerante
constatar que se verifique um inequívoco empate nas respostas dos
entrevistados.

69
O estudo revela que reina, no seio do eleitorado, uma certa confusão
sobre as reais atribuições e vocação específicas do Executivo e do
Parlamento, a partir dos quais se pode encontrar as diferenças
fundamentais entre estes dois órgãos do poder do Estado. Com efeito,
nota-se que, nesta província, há uma clara divisão de opiniões entre dois
grupos de corrente de opiniões que divergem quanto à distinção de cada
um dos órgãos.

A Tabela 3.3 (abaixo) apresenta as opiniões dos cidadãos interpelados em


três distritos/municípios do Niassa, sobre as diferenças existentes entre
o Executivo e o Legislativo moçambicanos.

Tabela 3.3: Conhece a diferença entre o Governo e a Assembleia da República?


Distrito Sim Não Outros Total de Casos
Cuamba 65.0 30.0 5.0 89
Majune 51.0 44.0 5.0 90
Mavago 19.0 59.0 22.0 99
Total 123 125 30 278
% em relação ao total 45.0 45.0 11.0 100.0

Da Tabela 3.3, constata-se que, de um total de 278 casos, houve uma


clara divisão de pontos de vista no seio dos entrevistados em relação às
diferenças existentes entre o Executivo e Parlamento. Curiosamente,
45.0% dos entrevistados responderam que conheciam as principais
diferenças entre o Governo e a Assembleia da República, enquanto
outros tantos disseram que não sabiam destrinçar os aspectos que
marcam a diferença entre estes dois órgãos do poder estatal. Por seu
turno, 11.0% de entrevistados optaram pela variável “Outros” para não
se identificar com o sim ou não.

Este posicionamento sugere a ideia segundo a qual os desafios são


enormes para a disseminação das actividades e funções da Assembleia
de República. Estes dados revelam, ainda, que o trabalho de base é
necessário por forma a aumentar o número de pessoas que possam
saber a diferença entre os vários órgãos de soberania, assim como as
instituições estatais e políticas do país.

Cuamba (65.0%) é o local onde a maioria de entrevistados afirmou que


sabia identificar a diferença entre o Governo e a AR, seguido de Majune,
com 51.0% de entrevistados. Por outro lado, o Distrito de Mavago (59.0%)
apresenta a maior cifra de entrevistados que afirmaram que não sabiam
distinguir a diferença entre o Executivo e o Parlamento.

70
Em suma, importa salientar que a paridade verificada nas respostas
entre o “Sim” e o “Não” mostra, claramente, que, no seio dos
entrevistados, reinava uma certa confusão sobre as reais atribuições e
vocação específicas do Executivo e do Parlamento. Com efeito, nota-se
que, nesta província, há uma clara divisão de opiniões entre dois grupos
de corrente de opiniões que divergem quanto à distinção de cada um dos
órgãos.

3.3 Contornos da democracia representativa

3.3.1 Noção
Noção sobre o papel do deputado
deputado

Um pouco mais de 50 por cento de pessoas inquiridas considera que


conhece os contornos da democracia representativa, particularmente
quando diz que o deputado “é representante do povo”. Aliás, esta é uma
das formas mais sublimes da democracia participativa em que o povo,
por via indirecta, participa no processo de tomada de decisões.

A Tabela 3.4 (abaixo) apresenta o quadro detalhado das percepções dos


cidadãos interpelados nos distritos de Cuamba, Mavago e Majune, sobre
significado de deputado como representante do povo, tal como prescreve
a Constituição da República.

Tabela 3.4: Sabe porque se diz que o Deputado é representante do povo?


Distrito Sim Não Outros Total de Casos
Cuamba 68.0 31.0 1.0 90
Majune 68.0 27.0 5.0 85
Mavago 33.0 43.0 23.0 99
Total 152 94 28 274
% em relação ao total 56.0 34.0 10.0 100.0

De um total de 274 casos, 56.0% dos entrevistados sabiam que o


deputado é representante do povo, contra 34.0% daqueles que afirmaram
que não sabiam. Enquanto isso, apenas 10.0% de inquiridos disseram
“Outro” tipo de resposta que não é necessariamente o “sim” ou o “não”.
Por outras palavras, nos dias das entrevistas, em cada 10 entrevistados,
6 entrevistados sabiam o sentido e alcance de ser deputado, 3 não
sabiam e 1 era indeciso.

Em termos comparativos, Cuamba e Majune partilham a cifra de 68.0%


de entrevistados que defendem que conheciam o sentido de ser deputado
como representante do povo moçambicano, contra Mavago (33.0%).

71
Mavago, por seu turno, com 43.0%, é o distrito onde existe maior
número de pessoas que não afirmaram não saber porque se diz que o
deputado é o representante do povo.

Caixa 3.2
3.2: O que pensa e espera o cidadão
cidadão da actividade do
do deputado

A expectativa dos cidadãos entrevistados quanto ao desempenho do deputados não é


uniforme. Alguns cidadãos entrevistados em Niassa disseram que espera do deputados
uma contribuição multiforme com vista a impulsionar a melhoria de “muitos aspectos
da vida política, económica e social do país”. Outro grupo de cidadãos desta província
mostrou-se indiferente ao que o deputado possa fazer para melhorar a sua vida,
limitando-se a responder “em nenhum aspecto”.

Enquanto isso, das respostas constata-se que existe uma outra franja de cidadãos que
acredita nas potencialidades dos deputados poder influenciar o curso dos
acontecimentos. Eles acham que poderia ser mais activos para “contribuir na
promoção do desenvolvimento do distrito”. Este grupo espera ainda que haja “mais
discussão de assuntos de interesse do povo”.

Em suma, pode-se afirmar que os entrevistados têm os deputados em boa conta, mas
estes têm muito trabalho pela frente para aglutinar as pessoas em torno do projecto
comum que é o desenvolvimento sócio-económico do país.

Em suma, pode afirmar que, não obstante, as críticas dirigidas aos


deputados devido a sua ausência em algumas zonas destas províncias,
no cômputo geral, os entrevistados têm a noção sobre papel do deputado
da AR como representante do povo.

3.4 Relações intra-


intra-parlamentares

3.4.1 Qualidade de relações de trabalho entre bancadas

Os grupos de bancadas que funcionam na AR, nomeadamente da


Frelimo e da RENAMO-UE, gozam de óptimas relações de trabalho, o que
permite funcionamento normal do Parlamento e para a consolidação da
democracia. Com efeito, nota-se que, apesar das diferenças estruturais e
ideológicas existentes entre duas bancadas, esse relacionamento de
trabalho é aceitável e encorajador. As percepções dos entrevistados
apontam para um relacionamento intra-parlamentar que se pode
classificar, no seu todo, como estando acima da média.

A Tabela 3.5, abaixo, ilustra o quadro detalhado das percepções dos


cidadãos interpelados nos distritos de Cuamba Majune e Mavago, sobre o

72
grau das relações de trabalho na AR entre as Bancadas da Frelimo e
RENAMO-UE.

Tabela 3.5: Relação de trabalho na AR entre Bancadas da FRELIMO e RENAM- U


Distrito Excelente Boa Razoável Má Total de Casos
Cuamba 8.0 21.0 41.0 31.0 78
Majune 5.0 25.0 48.0 21.0 91
Mavago 3.0 26.0 48.0 22.0 95
Total 14 64 122 64 264
% em relação ao total 6.0 24.0 46.0 24.0 100.0

A Tabela 3.5, acima, revela que de um total de 264 casos, 46.0% dos
entrevistados defendem que as relações de trabalho na Assembleia da
República entre as bancadas da Frelimo e da Renamo eram “Razoáveis”,
contra 6.0% daqueles que admitiam ser “Excelentes”. Enquanto isso,
nota-se um facto curioso que tem a ver com a partilha da cifra de 24.0%
de entrevistados entre as opiniões dos que defendiam ser “Boas” e “Más”
relações. Em termos mais simples, isto significa dizer que, em 10
entrevistados, havia 5 que defendiam relações “Razoáveis”, 2 defendiam
ser “Boas”, 2 sustentavam ser “Más” e apenas 1 que defendia ser
“Excelentes”.

Os Distritos de Majune e Mavago partilham a cifra de 48.0% de


entrevistados que pensam que as relações entre as duas bancadas são
“Razoáveis, contra Cuamba (41.0%). Note-se, entretanto, que o Município
de Cuamba (31.0%) apresenta maior percentagem de entrevistados que
considera que o relacionamento entre as duas bancadas é “Má”, em
relação a Mavago (22.0%) e Majune (21.0%).

Em suma, pode concluir-se que os entrevistados acreditam que a relação


entre as bancadas da Frelimo e da Renamo na Assembleia da República
são normais, que apenas se alteram em função dos interesses em jogo.
As constantes divergências em matérias cruciais e a convergência em
matéria de seu próprio interesse dão a imagem de que os deputados
reforçam a sua identidade colectiva em função das circunstâncias e dos
seus próprios interesses12. Por exemplo, unem-se apenas quando
pretendem realizar os seus próprios objectivos e defender os seus
objectivos.

12Por exemplo, a ideia de construção de uma clinica especialmente reservada para os


deputados tem sido reprovada pela maioria população, mas de consenso dos
deputados.

73
3.4
3.4.2 Nível de relacionamento institucional entre bancadas

O nível de relacionamento institucional entre as duas bancadas, na


perspectiva do eleitorado entrevistado em Niassa, é, essencialmente,
baseado no espírito de compromisso. Com efeito, segundo os
entrevistados (54.0%), o ambiente de trabalho na AR não é dos melhores.
A atmosfera de trabalho na AR resulta da necessidade da “cooperação
institucional” entre as duas bancadas e do conflito de interesses que está
sempre presente na sua interacção que é obrigatória e involuntária,
porque é imposta pelo seu regimento.

O Gráfico 3.2, abaixo, ilustra as percepções dos cidadãos interpelados


nos distritos do Niassa sobre o relacionamento institucional entre as
bancadas da Frelimo e RENAMO-UE.
Gráfico 3.3: Relacionamento institucional entre a FRELIM e RENAMO-UE
60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Cooperação Conflito Tensão Crise
Cuamba 34% 42% 19% 6%
Majune 55% 26% 3% 15%
Mavago 48% 35% 0% 17%

De um total de 266 casos, constata-se que nenhuma das variáveis


conseguiu ultrapassar a fasquia de 50.0%,o que mostra que não houve
consenso entre os entrevistados sobre esta matéria. Com efeito, 46.0%
dos inquiridos consideram que o relacionamento institucional entre as
bancadas da Frelimo e da RENAMO-UE é baseado na “Cooperação”,
contra 7.0% daqueles que acham que são caracterizadas por “Tensão”.
Enquanto isso, 34.0% disseram que era de “Conflito” e 13.0% afirmaram
de “Crise”. Isto significa dizer que, em cada 10 entrevistados, 5 defendem
relações de cooperação, 3 sustentam relações de conflitualidade e os
restantes 2 são distribuídos entre relações de tensão e de crise.

O facto de parte significativa dos entrevistados ter dito que a relação


entre as duas bancadas era de “cooperação”, revela, acima de tudo, no

74
seio das bancadas e da AR o sentido patriótico de servir os interesses
nacionais, particularmente do eleitorado. O relacionamento cooperativo
entre as duas bancadas é imprescindível para o funcionamento desta
instituição democrática como agente promotora do equilíbrio e do
consenso nacional dos interesses divergentes e convergentes das duas
bancadas.

No entanto, é importante salientar que, não obstante as constantes


divergências de pontos de vista e de posicionamento entre as duas
bancadas, sobretudo em matérias cruciais, não tem contribuído para a
queda do índice de interesse do cidadão entrevistado em Niassa, em
relação a esta instituição democrática. A titulo de exemplo, constata-se
que, de 229 casos, 56.0% de entrevistados consideram que os “assuntos
discutidos na AR reflectem as suas preocupações”, contra 39.0%
daqueles que sustentam a opinião contrária. Enquanto isso, 3.0%
adiantam que apesar desses debates reflectirem os seus interesses nota-
se que na prática o “Governo não implementa”13, as decisões da AR. Esta
posição critica é saliente apenas no Município de Cuamba (7.0%).

Todavia, em termos globais, verifica-se que um pouco mais de 50 por


cento dos entrevistados (54.0%) considera que o ambiente de trabalho
“não é são” e não é o que seria de desejar. Com efeito, tendo em conta
que se trata da “Casa do Povo”, seria de esperar de outro tipo de
relacionamento que deveria inspirar bons exemplos para o resto da
sociedade.

Em termos comparativos, os dados mostram que o Distrito de Majune


(55.0%) suplanta os restantes locais onde foram efectuadas entrevistas,
pois apresenta o maior número de pessoas que acreditam que o
relacionamento institucional entre as bancadas da Frelimo e da Renamo
é dominado pelo espirito cooperativo. Mavago, com 48% de entrevistados,
figura em segundo lugar na ordem decrescente de participação dos
inquiridos. Note-se, entretanto, que o Município de Cuamba (42.0)%
apresenta o maior número de pessoas entrevistadas que acreditam que a
relação entre as duas bancadas é caracterizada por “Conflito”. Esta
posição crítica é partilhada por 35% de entrevistados de Mavago, que
resulta, certamente, do grau de acesso a informação e a educação pelos
entrevistados.

Em suma, a maior parte dos entrevistados (78.0%) considera que o


relacionamento entre os deputados das duas bancadas é aceitável e
animador o que tem permitido um convívio profissional e social
satisfatório.

13 Ver anexo III, sobre Província do Niassa.

75
3.4.3 Relacionamento interpessoais de deputados da AR

O grau de relações interpessoais entre os deputados das duas bancadas,


na opinião do eleitorado entrevistado nesta província, é, de um modo
geral, animador porque se situa entre o “Razoável” e “Bom”. Este cenário
sugere que, apesar das diferenças ideológicas e de outro tipo que possam
existir no seio de deputados, eles conseguem manter relações
interpessoais e humanas de bom nível. Este facto mostra que há espírito
de respeito e de reconhecimento mútuo entre os deputados e baseados
no espirito de reconciliação nacional.

O Gráfico 3.4, abaixo, ilustra o quadro das percepções dos cidadãos


entrevistados nos distritos de Cuamba, Mavago e Majune, sobre o nível
de relacionamento interpessoal dos deputados da AR.
Gráfico 3.4: Nível de relacionamento entre deputados da AR
70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Excelente Boa Razoável Mau
Cuamba 7% 14% 53% 26%
Majune 12% 11% 58% 19%
Mavago 2% 34% 44% 20%

O Gráfico permite visualizar que, de um total de 273 casos, 51.0% dos


entrevistados disseram que o relacionamento entre os deputados era
“Razoável”, contra 7.0% daqueles que classificaram-nas de “Excelentes”.
Enquanto isso, 22.0% de inquiridos disseram que esse relacionamento
era pura e simplesmente “Mau”, contra 20.0% que defenderam ser
“Bom”. Este cenário mostra que, em 10 casos, 5 defendiam relações
razoáveis, 2 maus e outros tantos bom e apenas 1 admitia ser excelente.

Os entrevistados que defendem que o relacionamento é “Razoável”,


fazem-no, certamente, porque acreditam que existe um ambiente
acolhedor aceitável para o convívio necessário durante os 5 anos do
mandato na Assembleia da República.

76
Em termos comparativos, os dados mostram que Majune, com 58.0%, é o
distrito onde existe mais pessoas que acreditam que o relacionamento
entre os deputados é “Razoável”, seguido por perto de Cuamba, com
53.0% de entrevistados. Em Mavago, 44.0% dos entrevistados
consideraram que o relacionamento era “Razoável”, ao passo que 34.0%
defenderam que era “Bom”.

Em suma, pode concluir-se que a maior parte dos entrevistados (78.0%)


considera o relacionamento aceitável e que tem permitido um convívio
profissional e social satisfatório. Este facto mostra que há espírito de
respeito e de reconhecimento mútuo entre os deputados e baseados no
espirito de reconciliação nacional.

3.5 Factores determinantes nos debates da AR

O debate sobre os mais diversos assuntos que têm lugar na AR, segundo
os resultados do inquérito, é influenciado e determinado por uma série
de factores, particularmente pelos princípios partidários de “disciplina
partidária”. Esta situação revela que os parlamentares de ambas
bancadas, infelizmente, ainda estão fortemente “amarrados” aos ditames
dos princípios dos seus respectivos partidos políticos, em detrimento dos
princípios da disciplina parlamentar (regimento) ou interesses do
eleitorado.

A Tabela 3.6 (abaixo) apresenta os posicionados detalhado dos


entrevistados por distritos do Niassa sobre os factores que determinam o
carácter dos debates da AR.

Tabela 3.6: O carácter de debates na Assembleia da República


Disciplina Disciplina Interesses do Total de
Distrito Outros
Partidária Parlamentar eleitorado Casos
Cuamba 24.0 22.0 37.0 17.0 83
Majune 59.0 14.0 21.0 6.0 95
Mavago 24.0 4.0 36.0 36.0 98
Total 100 35 86 55 276
% em relação
36.0 13.0 31.0 20.0 100.0
ao total

A Tabela 3.6 mostra que, de um universo de 276 casos, os entrevistados


estão claramente divididos em termos de opiniões sobre os principais
factores que determinam o carácter dos debates na AR. Esta dispersão
de ponto de vista é responsável pela ausência de consistência do

77
posicionamento dos entrevistados. Nota-se, neste contexto, que
nenhuma das variáveis se aproxima aos 50.0% de respostas.

Com efeito, observa-se que 36.0% dos inquiridos apontaram a


“Disciplina partidária” como factor-chave e determinante da atitude dos
deputados nas sessões de trabalhos na AR, contra 13.0% daqueles que
apontaram a “Disciplina parlamentar“. Imediatamente a seguir figura
31.0% de entrevistados que consideram como móbil dos debates a defesa
dos “Interesses do eleitorado”, seguido por 20.0% daqueles que acham
que existem “Outros” factores não menos importantes que influenciam o
cursos dos acontecimentos ou debates na AR.

Assim, verifica-se que, em cada 10 entrevistados, havia 4 que apontaram


a disciplina partidária como factor chave, 3 que sustentaram a defesa
dos “interesses do eleitorado”, 2 defenderam “Outros” e somente 1 que
defendia a “disciplina parlamentar”. Nesta perspectiva, assiste-se uma
clara divergência e dispersão de pontos de vistas dos entrevistados nesta
província, particularmente nesta matéria.

Caixa 3.3: AR debate tópicos que reflectem aspirações do eleitorado

Os assuntos que constam da agenda e posteriormente discutidos em Sessões da


Assembleia da República (AR) foram, igualmente, postos à prova junto do eleitorado do
Niassa que se manifestou de diversas maneiras. O grupo maioritário dos entrevistados
desta província defende a ideia de que os assuntos debatidos no Parlamento “reflectem
as aspirações” da população. Os entrevistados de Majune e Cuamba se destacaram na
tomada desta posição favorável.

No entanto, esta posição é contrariada por um número significativo de entrevistados


que acreditam que os mesmos não reflectem as suas preocupações. Por ordem
decrescente, nota-se que se distinguiram os entrevistados de Mavago e Majune.

Por outro lado, importa sublinhar que, de um total de 209 casos14,


55.0% de entrevistados são bastante críticos em relação ao trabalho dos
deputados. Na sua opinião, o desempenho dos deputados, “em nenhum
aspecto”, contribui para melhorar a sua vida no distrito onde vivem. Esta
posição crítica é mais visível em Mavago (68.0%), seguido de Majune e
Cuamba, com 31.0% e 16.0%, respectivamente.

Em termos comparativos, os dados mostram que Majune, de forma


esmagadora, com 59.0%, é o distrito onde existem mais pessoas que
defendem que os debates da Assembleia da República são influenciados
pela “disciplina partidária”, enquanto que Cuamba e Mavago,

14
Ver mais detalhes em anexo questionário qualitativo.

78
respectivamente com 37.0% e 36.0%, defendem que os debates são
influenciados por “interesses do eleitorado”.

No entanto, 36% dos entrevistados de Mavago defendem, igualmente, que


existem “outros” interesses que norteiam os debates da Assembleia da
República. O posicionamento de Majune pode estar associado aos
próprios acontecimentos da Assembleia da República em que raramente
existe consenso e cada uma das bancadas vota contra a proposta de lei
apresentada pela outra.

Em suma, pode-se afirmar que as discussões em torno de assuntos de


interesse nacional, nem sempre são de consenso no seio dos
parlamentares. Por exemplo, os debates sobre os Planos Económicos e
Sociais do Governo, assim como o Orçamento Geral do Estado têm sido
calorosa e amplamente debatidos, mas não têm merecido o devido
consenso por parte das bancadas parlamentares. Neste contexto, a
“disciplina partidária” tem a nota dominante na atitude dos
parlamentares perante os assuntos sublimes da nação moçambicana.

3.6
3.6 Considerações gerais

O estudo revela que os entrevistados desta província apresentam um


índice aceitável do conhecimento sobre os processos políticos em curso
no país. Assim, constata-se o seguinte:

 O estudo apresenta um cenário de divisão de pontos de vista entre


entrevistados desta província sobre o seu interesse pelas
actividades políticas. A maioria (55.0%) mostrou algum
desinteresse, enquanto apenas 45.0% é que disse que tinha
interesse. Isto pode significar uma reclamação em relação ao
cenário sócio-económicos local;

 Um pouco mais de 50 por cento de entrevistados admite que as


eleições “mudam algo na sua vida”. Entretanto, os entrevistados
não são, totalmente, unânimes em relação a esta matéria. Por
exemplo, 31.0% de inquiridos consideram que as eleições ainda
não estão a produzir um impacto directo para o melhoramento da
sua vida pessoal;

 A popularidade dos mais altos órgãos do Estado moçambicano


pode ser medida em função a disseminação da sua imagem ou pelo
seu desempenho. Assim, os entrevistados estavam divididos em
relação a esta matéria na proporção de 55.0% daqueles que

79
conheciam a AR, contra 40.0% de entrevistados que
desconheciam;

 O estudo mostra que entre os entrevistados havia uma divisão


clara de opiniões em relação às funções da AR, em que somente
51.0% é que conhecia a função fundamental da AR, e 49.0% dos
quais não conheciam;

 O estudo revela que reina, somente 51.0% de entrevistados é que


sabia distinguir claramente as reais atribuições e vocações
específicas do Executivo e do Parlamento;

 A percepção de um pouco mais de 50 por cento de pessoas


inquiridas conhece os contornos da democracia representativa,
particularmente, quando se diz que o deputado “é representante do
povo”;

 As percepções dos entrevistados apontam para um relacionamento


intra-parlamentar normal e situado acima da média. Com efeito, a
maioria de entrevistados (76.0%) acredita que as relações entre os
dois grupos parlamentares sejam normais e aceitáveis. Todavia, é
importante sublinhar que essas relações são susceptíveis de sofrer
alteração em função dos interesses específicos em jogo numa dada
altura dos debates na AR;

 A maioria de entrevistados (54.0%) acredita que o relacionamento


entre os deputados das bancadas da Frelimo e da RENAMO-UE
não é dos melhores, mas há espaço para a cooperação mútua
(46.0%);

 A maior parte dos entrevistados (78.0%) considera que o


relacionamento entre os deputados das duas bancadas é aceitável
e animador o que tem permitido um convívio profissional e social
satisfatório; e

 As discussões sobre assuntos de interesse nacional, nem sempre


são de consenso no seio dos parlamentares. Os entrevistados
estavam divididos de tal forma que 36.0% apontou a “Disciplina
partidária” e 31.0% indicou os “Interesses do eleitorado” como
factores dominante na atitude dos parlamentares.

80
Capítulo IV

PERCEPÇÕES DO ELEITORADO DA ZAMBÉZIA

4. Sumário

Este capítulo identifica e aborda as percepções dos entrevistados da


Zambézia, particularmente de Gúrurè, Mopeia e Quelimane. Os
entrevistados convergem em muitos assuntos, denotando um forte
interesse pelo desenvolvimento político local e nacional.

4.1 O cidadão e a política

O interesse do cidadão pela política na Província de Zambézia é


encorajador. Os dados do estudo revelam uma ascendência clara dos
entrevistados que têm algum interesse pela política (64.0%) em relação
aos entrevistados que manifestaram a posição de não simpatizante pelo
mundo político (20.0%). A percentagem dos indiferentes (16.0%),
igualmente, é assinalável.

4.1.1. Interesse do eleitorado pela política

Os resultados do estudo demonstram, claramente, que, contrariamente


ao que aconteceu com os entrevistados, por exemplo, do Niassa, onde o
interesse pelas actividades políticas é ainda fraco, na Zambézia o cenário
é quase totalmente oposto. Com efeito, os dados permitem constatar que
mais de metade das pessoas que responderam esta pergunta expressou,
sem hesitação, o seu forte interesse pela actividade política.

Nesta perspectiva, os dados da pesquisa mostram que, de um total de


246 casos, 64.0% dos entrevistados afirmaram que têm forte interesse
pela política, contra 20.0% daqueles que se mostram desinteressados.
Por seu turno, uma percentagem significativa de pessoas inquiridas, por
algum motivo, disseram que “nem sempre” (16.0%) se interessam pela
política. Isto significa que, em cada 10 entrevistados, 6 mostraram o seu
forte interesse pela política, 2 revelaram desinteresse e outros 2 disseram
que, algumas vezes, têm interesse.

Este posicionamento, certamente, tem a ver com a facto desta província


constituir o segundo maior círculo eleitoral depois de Nampula. Não
menos importante é o facto de Zambézia, no âmbito da

81
descentralização15, contar já com três cidades e uma vila
municipalizadas, o que explica a participação regular da população em
processos eleitorais.

Neste contexto, é importante sublinhar que, de facto existe, um forte


interesse pela política. Por exemplo, a taxa de resposta nesta pergunta foi
de 82.0%, uma cifra que constitui um sinal positivo em termos de
participação que se pode considerar representativa e consequentemente
boa para efeitos de validação dos resultados.

O Gráfico 4.1 ilustra as percepções dos interpelados em três distritos


seleccionados na província da Zambézia, nomeadamente em Gúrurè,
Quelimane e Mopeia sobre o interesse do cidadão pela política.
Gráfico 4.1: Tem algum interesse pela política?

80.00%

60.00%
Sim
40.00% Não
Nem sempre
20.00%

0.00%
Gurue Quelimane Mopeia

Sim 64.44% 62.32% 65.52%


Não 28.89% 10.14% 18.39%
Nem sempre 6.67% 27.54% 16.09%

Os dados constantes do Gráfico 4.1 revelam que em Mopeia, 66.0% de


entrevistados têm interesse pela política, contra 62.0% de Quelimane.
Mopeia, como se pode constatar, é seguido de perto por Gúrurè (64.0%).
Um dado curioso tem a ver com o facto de Quelimane, que congrega
todas as sensibilidades ao nível da província, ter ficado atrás nas
preferências pela política. Por seu turno, importa sublinhar que é a
capital zambeziana, Quelimane, que lidera o grupo de entrevistados que
disse “Nem sempre” se interessa pela política. O Distrito de Gúrurè
(28.9%), entre os três objectos de pesquisa, apresenta o maior índice de
pessoas com manifesto desinteresse pela política.

Por seu turno, importa salientar que, de um total de 204 casos do


questionário qualitativo, se nota que 48.0% de entrevistados apreciaram
positivamente o trabalho dos políticos, tendo salientado que tem sido útil

15Trata-se das Cidades de Quelimane, Mocuba e Gúruè e ainda a Vila de Milange.


Refira-se que as Cidades de Quelimane e Mocuba são objecto deste estudo, enquanto
que a Milange não faz parte.

82
“em alguns aspectos” para melhorar a sua vida, contra 34.0% daqueles
que disseram o contrário.

Caixa 4.1: O impacto da acção do deputado na


na melhoria de vida do
do cidadão

O impacto da actividade do deputados no distrito ou de um modo geral no círculo


eleitoral ainda está aquém do ideal. Este cenário ocorre em quase todos as províncias
onde o estudo foi realizado, em que a Zambézia não constitui excepção. Neste
contexto, os dados disponíveis revelam que a esmagadora maioria de pessoas
entrevistadas sustenta que “nenhum trabalho” desenvolvido pelos parlamentares
produz impacto directo sobre a vida dos distritos. Esta posição radical foi mais saliente
entre os cidadãos entrevistados dos três distritos, mas com maior incidência em
Mopeia. Todavia, importa salientar que apesar deste cepticismo, parte significativa de
entrevistados acredita que os deputados têm jogado papel importante no processo de
melhoramento das infra-estruturas económicas e sociais dos distritos. Eles apontam o
caso de acção sobre as vias de acesso, a ampliação das redes sanitária e escolar, entre
outras actividades de relevo para a vida das populações. Curiosamente, de novo, os
entrevistados de Mopeia se destacaram em reconhecer a acção positiva das
autoridades competentes na promoção do desenvolvimento local. Com efeito, este tipo
de acção tem o mérito porque contribui para o desenvolvimento do distrito e
representa uma mais-valia para inverter a má imagem que a população têm dos
deputados.

Por seu turno, os entrevistados desta província estavam divididos quanto ao impacto
directo do seu trabalho na melhoria das suas vidas. No entanto, nota-se um ligeiro
ascendente, quase na metade, de opiniões que sustentam que reconhecem que a acção
do parlamentar “em alguns aspectos” contribui para criação do bem-estar do cidadão.
Os entrevistados reconhecem a acção positiva dos deputados e apontam, por exemplo,
o simples facto de Aprovar as leis”, que servem de instrumento regulador da sociedade
moçambicana. Este sentimento foi expresso com maior notoriedade nos distritos de
Gúrurè e Mopeia. No entanto, importa sublinhar que um número significativo de
cidadãos entrevistados defendeu, de forma inequívoca, que o trabalho do deputado
“em nenhum aspecto”, ajuda a melhorar a vida da população. Os entrevistados de
todos os distritos, particularmente os de Gúrurè é que se sobressaíram na tomada
desta posição radical em relação aos deputados da AR.

A presença do deputado nos seus círculos eleitorais constitui um indicador sobre o


seu desempenho junto das populações. Nesta ordem de ideias constata-se que a
esmagadora maioria dos entrevistados é bastante céptica quanto à presença dos
deputados no seu distrito. Eles defenderam a posição segundo a qual o deputado “não
se faz sentir” no seu seio. O destaque desta posição vai para os cidadãos entrevistados
em Gúrurè, Mopeia e Quelimane, em que se nota alguma ascendência do primeiro.
Enquanto isso se observa que existe um pequeno número de entrevistados que
defendeu, exactamente, o contrário. Este grupo minoritário reconhece algum mérito na
acção do parlamentar moçambicano, particularmente porque a sua presença
representa o reforço da democracia em Moçambique.

Em suma, estes depoimentos revelam que os desafios para os deputados são enormes
para conseguir inverter o cenário actual junto dos cidadãos que acreditam cada vez
menos no seu trabalho. Com efeito, existe muito por fazer para que as populações
considerem, de forma positiva, o trabalho dignificante desenvolvido pelos
representantes do povo a vários níveis de exercício do poder.

83
No primeiro caso, a apreciação positiva do desempenho dos políticos foi
mais saliente em quase todos os três locais de entrevistas, com Mopeia
(34.0%) e Quelimane (34.0%) a assumirem, conjuntamente, o maior
protagonismo, seguidos de perto por Gúrurè (28.0%). Enquanto isso, no
segundo caso, a crítica ao trabalho dos deputados é mais saliente em
Gúrurè (30.0%). Assim, mais uma vez, nota-se um forte interesse das
pessoas pela esfera política, o que pode estar associado a uma maior
maturidade e politização da maioria das pessoas. O interesse e taxa de
participação nos processos eleitorais podem, igualmente, estar na origem
por este fenómeno.

Em resumo, pode-se afirmar que a maioria dos entrevistados se mostrou


interessada pela política (64.0%) em relação aos que não se interessam
por esta área de actividade (36.0%). Com efeito, isto mostra que a
população dos três distritos desta província não está totalmente alheia
dos acontecimentos da vida política do país. Este cenário sugere ainda
que as pessoas acompanham com alguma preocupação e detalhe os
problemas que os afecta directamente, na expectativa de poder
influenciar o poder político em seu favor.

4.1.2. Impacto de eleições sobre a vida do cidadão

O presente estudo revela que a maioria esmagadora de entrevistados que


respondeu a esta pergunta reafirma que as eleições “mudam algo na sua
vida”, tal como os entrevistados de Nampula asseguraram. Com efeito,
na opinião dos entrevistados, os pleitos eleitorais têm vindo,
progressivamente, a influenciar a vida dos cidadãos aos diversos níveis.
Por seu turno, importa salientar que a taxa de respostas nesta pergunta
foi de 97.0%, o que reforça a consistência das opiniões dos entrevistados.

A Tabela 4.1 ilustra, o índice das percepções dos entrevistados em


Gúrurè, Quelimane e Mopeia sobre o impacto das eleições na mudança
de condições de vida dos cidadãos.

Tabela 4.1: As eleições mudam alguma coisa na sua vida?


Distrito Sim Não Não sei Total de Casos

Gúrurè 68.0 18.0 14.0 71.0


Quelimane 64.0 17.0 19.0 70.0
Mopeia 78.0 13.0 9.0 87.0
Total 161 36 31 228
% em relação ao total 71.0 16.0 13.0 100.0

84
A Tabela 4.1, acima, permite verificar que, de um total de 228 casos,
quase a maioria esmagadora de entrevistados nesta província confirma
que os pleitos eleitorais influenciam para as mudanças na sua vida.

Com efeito, 71.0% de inquiridos acreditam que as eleições mudam algo


nas suas vidas, contra apenas 16.0% daqueles que pensam o contrário.
Por seu turno, 13.0% de outros entrevistados disseram que “Não sabiam”
se, efectivamente, as eleições contribuem para que algumas mudanças
ocorram na sua própria vida. Por outras palavras, isto significa que, em
cada 10 entrevistados, 7 acreditam que as eleições contribuem para
mudanças nas suas vidas, 2 disseram que não, enquanto1 estava em
dúvidas.

O posicionamento positivo pode estar ligado ao renovar de enormes


expectativas da população em relação ao Governo agora dirigido pelo
Presidente Armando Guebuza. O desempenho das autoridades
municipais, bem como os investimentos em curso na província,
contribuem para renovar estas expectativas populares. Os dados de
Mopeia mostram que 78.0% de entrevistados acreditam no impulso das
eleições na mudança das suas vidas. Em segundo e terceiro lugares,
figuram Gúrurè (68%) e Quelimane (64%), onde os entrevistados,
também, são optimistas em relação a este assunto.

Em síntese, pode-se afirmar que a maioria de entrevistados nesta


província, na ordem de 71.0%, admite que as eleições produzem algum
impacto positivo nas suas vidas, comparando com os que se mostram
cépticos, ou seja, apenas 29.0%.

4.2 Órgãos do poder do Estado

A popularidade dos órgãos do Estado, especialmente da AR na Zambézia,


está directamente relacionada com a posição estratégica e privilegiada
que ocupa no panorama político nacional. Esta situação facilita,
sobremaneira, a sua disseminação no seio do eleitorado. Com efeito, os
resultados da pesquisa mostram que dois terços dos cidadãos
entrevistados têm o domínio sobre aspectos mais importantes dos órgãos
do Estado moçambicano, particularmente a AR, o Executivo, entre
outros.

85
4.2.1 Assembleia da República

Os dados recolhidos e sistematizados mostram que os entrevistados da


Zambézia conhecem, efectivamente, a AR como o órgão mais alto da
legislatura moçambicana. Com efeito, constata-se que perto de 80% dos
entrevistados conhecem a AR. A taxa de participação ou de resposta foi
de 81.0%, facto que reforça o índice de confiança e consistência dos
dados.

O Gráfico 4.2, abaixo, apresenta as percepções dos cidadãos interpelados


em Gúrurè, Quelimane e Mopeia, sobre a Assembleia da República.

Gráfico 4.2: Conhece a Assembleia da República?


90.00%

80.00%

70.00%

60.00%

50.00%

40.00%

30.00%

20.00%

10.00%

0.00%
Gurue Quelimane Mopeia
Sim 77.53% 84.29% 68.60%
Não 21.35% 12.86% 31.40%
Não sei 1.12% 2.86% 0.00%

Dos dados disponíveis, constata-se que, de um total de 245 casos, 76.0%


conhecem a Assembleia da República, contra 23.0% daqueles que ainda
não conhecem a “Magna Casa”. Por seu turno, nota-se que apenas 1.0%
de entrevistados se mostrou “Não saber” responder devidamente a
pergunta. Esta posição de entrevistados, por ser marginal, transmite, no
entanto, uma mensagem positiva no cômputo geral da análise da
popularidade da Assembleia da República. Por outras palavras, isto
significa que, em cada 10 entrevistados, 7 conheciam a AR, 2 não
conheciam e apenas 1 estava duvidoso.

Neste contexto, acredita-se que este posicionamento resulta de um


trabalho de consciencialização e sensibilização das populações, levados a
cabo por algumas instituições ou pelos partidos políticos no âmbito dos
processos eleitorais. Por seu turno, acredita-se que a expansão do
ensino, tanto médio como superior, e o acesso à informação pode estar

86
constituir uma mais valia em matéria de divulgação deste órgão de
soberania.

Os dados disponíveis mostram que Quelimane (84.0%) está na dianteira


em relação a Gúrurè (78.0%) e Mopeia (51.0%). No caso de Quelimane,
este elevado grau de conhecimento dos entrevistados é produto de
factores como o acesso fácil à informação, a expansão do ensino, entre
outros, que caracterizam esta cidade. Por outro lado é importante frisar,
certamente, que o índice de popularidade da AR poderá sofrer um
incremento no contexto do ciclo eleitoral que se avizinha a partir de
2007. Esta jornada política poderá impulsionar produzir efeitos
colaterais significativos16 em termos de disseminação das funções e
actividades da AR.

Em suma, pode concluir-se que os entrevistados (76.0%) da Zambézia


estão atentos às políticas internas e às actividades desenvolvidas pelos
órgãos de soberania, principalmente a Assembleia da República.

4.2.2 As funções da Assembleia da República

Em relação às funções da AR, o estudo constata que os entrevistados de


Zambézia apresentam um certo domínio das funções da AR. Na verdade,
os dados permitem notar que acima de 60 por cento dos entrevistados
sabem que a AR tem a vocação primária de fazer leis e deliberações.

A Tabela 4.2 (abaixo) apresenta as percepções dos cidadãos entrevistados


em Gúrurè, Quelimane e Mopeia, sobre as funções da Assembleia da
Republica.

Tabela 4.2: A Assembleia da República tem a função de?


Promover o
Administrar a
Distrito Fazer leis desenvolvimento Total de Casos
Justiça
económico
Gúrurè 66.0 6.0 28.0 85
Quelimane 70.0 15.0 15.0 68
Mopeia 70.0 15.0 15.0 68
Total 134 22 63 221
% em relação ao total 61.0 10.0 29.0 100.0

16 Tendo em conta que vai ser instalado o secretariado provincial da AR pode-se esperar
que venha a contribuir a popularização deste órgão de poder do Estado, junto do
eleitorado.

87
De um total de 221 casos, 61.0% dos entrevistados disseram que a
Assembleia da República tem a função de “Fazer leis”, contra 29.0%
daqueles que responderam, erradamente, que tem a função de “Promover
o desenvolvimento económico”. Finalmente, 10.0% de entrevistados
disseram, incorrectamente, que a AR tem a vocação de “Administrar a
justiça”. Enquanto isso, nota-se que perto de 30 por cento de outros
entrevistados têm ainda dificuldades de identificar as funções da AR, por
essa razão confundem com a função de “promoção do desenvolvimento
económico”.

Este quadro de respostas mostra que a maioria de entrevistados


conhecia a função daquele órgão de soberania. As respostas revelam
ainda, de alguma forma, que as pessoas estão cientes do trabalho
desenvolvido pela Assembleia da República e das funções a si atribuídas
pela Constituição da República.

No entanto, não deixa de ser curioso verificar o desconhecimento


manifestado por 39.0% de entrevistados que responderam
incorrectamente à pergunta colocada. Com efeito, ao indicarem que a
Assembleia da República é responsável por “Promover o desenvolvimento
económico” e “Administrar a justiça”, revela que ainda há muito trabalho
de base por fazer com vista a elucidar a população sobre o verdadeiro
papel da Assembleia da República.

Em termos comparativos, os dados revelam que as respostas dos


entrevistados de Quelimane e de Mopeia são numericamente
coincidentes em todos as variáveis17. Por exemplo, em termos de
respostas correctas (fazer leis), estes dois distritos estão empatados,
ambos com 70.0% de entrevistados cada. Enquanto isso, Gúrurè
apresenta um comportamento diferente. Por exemplo, 66.0% de
entrevistados responderam correctamente a pergunta ao afirmarem que
as funções da Assembleia da República são, efectivamente, de “Fazer
leis”.

Em suma, pode concluir-se que, pelo facto de 61.0% de entrevistados


conhecerem as verdadeiras funções da Assembleia da República, revela
que algo tem sido feito para a consolidação da democracia. Por outro
lado, os restantes 39.0% que não acertaram a pergunta deixaram a
mensagem segundo a qual os desafios para o futuro são ainda enormes
para a promoção e consolidação da democracia.

17 Para mais pormenores ver Tabela 4.3.

88
4.2.3. Diferenças entre Governo e Assembleia da República

A maioria esmagadora dos entrevistados da Zambézia, diferentemente


dos inquiridos de Cabo Delgado, Niassa e Nampula, sabe estabelecer a
diferença entre os órgãos principais do Estado. Com efeito, o dado
constante do Gráfico 4.3, abaixo, revela que mais de 70 por cento dos
entrevistados zambezianos sabiam distinguir a diferença entre o Governo
e a AR. A título ilustrativo deste facto é a margem diferencial entre as
correntes de opiniões daqueles que sabem e os que não sabem identificar
que é de 47.0%, sendo a maior para os primeiros.

O Gráfico 4.3, abaixo, apresenta o quadro das percepções dos cidadãos


interpelados em Gúrurè, Quelimane e Mopeia sobre as diferenças entre o
Executivo e o legislativo.

Gráfico 4.3: Conhece a diferença entre o Governo e a Assembleia da República

100.00%
90.00%

80.00%
70.00%

60.00%
S im
50.00% Não
40.00% Out r os
30.00%

20.00%
10.00%

0.00%
Gur ue Quelimane Mopeia

De um total de 244 casos, 72.0% dos entrevistados afirmaram que


sabiam discernir a diferença entre o Governo e Assembleia da República,
contra 25.0% daqueles que afirmaram não ser capaz de o fazer. Por seu
turno, apenas 3.0% de inquiridos deixaram a entender que havia “Outro”
tipo de respostas a dar sobre este assunto. Isto significa que, em cada 10
entrevistados, havia 7 que sabiam identificar a diferença entre o
Executivo e Parlamento, enquanto que 3 não sabiam.

Este posicionamento sugere a ideia segundo a qual os desafios que se


colocam nestas matérias são susceptíveis de ser superáveis, pois tudo
depende de futuras acções de disseminação das actividades e funções da
Assembleia de República.

Os dados mostram que, na cidade de Quelimane (91.0%), a maioria


esmagadora de entrevistados admitiu que saber destrinçar a diferença

89
existente entre o Governo e a Assembleia da República, seguido por
Gúrurè e Mopeia, ambos com 64.0% cada. A concentração de uma série
de facilidades em Quelimane justifica este índice de conhecimento sobre
os órgãos de soberania. Por exemplo, o acesso aos órgãos de
comunicação social, às tecnologias de informação e comunicação, bem
como ao ensino de todos os subsistemas é maior em Quelimane em
relação aos restantes distritos.

Em suma, pode afirmar-se que a maioria de entrevistados sabe


diferenciar o Governo da Assembleia da República. Este facto dá uma
indicação clara do interesse dos inquiridos da província em conhecer as
instituições e órgãos de soberania do Estado.

4.3 Contornos da democracia representativa

4.3.1 Noção sobre papel do deputado

Na província da Zambézia, mais de dois terços de entrevistados disseram


que conheciam os contornos da democracia representativa, em curso no
país. Eles sabem interpretar o que significa o deputado “ser
representante do povo”. Assim, os entrevistados sabem que a democracia
participativa permite o povo, por via indirecta, participar no processo de
tomada de decisões.

A Tabela 4.4, abaixo, apresenta o quadro detalhado das percepções dos


cidadãos interpelados em Gúrurè, Mopeia e Quelimane sobre significado
de deputado como representante do povo, tal como prescreve a
Constituição da República de Moçambique.

Tabela 4.3: Sabe porque se diz que o Deputado é representante do povo?


Distrito Sim Não Outros Total de Casos

Gúrurè 84.0 16.0 0 86


Quelimane 94.0 4.0 2.0 69
Mopeia 75.0 25.0 0 84
Total 200 38 1 239

% em relação ao total 84.0 16.0 0 100.0

De um total de 239 casos, segundo a Tabela 4.4, a maioria esmagadora


dos inquiridos sabia interpretar o significado da democracia
representativa. Com efeito, 84.0% dos inquiridos responderam
positivamente à pergunta, contra apenas 16.0% daqueles que reagiram

90
negativamente. Por outras palavras, isto significa que, em cada 10
entrevistados, no dia da entrevista, 8 sabia dizer o que significa ser
deputado e apenas 2 é que não sabiam.

Este posicionamento mostra que o grau de conhecimento e interesse


pelos assuntos políticos nesta província é elevado. A posição estratégica
que a província ocupa no panorama político nacional pode ser um dos
factores impulsionadores desse conhecimento. Uma nota importante tem
a ver com o facto de todos os entrevistados terem respondido sem
rodeios, positiva ou negativamente, a esta pergunta.

Caixa 4.2: O que pensa e espera o cidadão da actividade do deputado

As expectativas dos entrevistados deste segundo maior círculo eleitoral do país –


Zambézia - em relação aos deputados são variadas. Neste sentido, quase metade dos
entrevistados de um universo de 100 pessoas espera que os deputados contribuam
para a “promoção do desenvolvimento do distrito”. Este posicionamento deixa
transparecer a ideia segundo a qual os cidadãos estão preocupados com o seu bem-
estar social e com a estabilidade económica e social do país, que tardam acontecer.

Ademais, existe a percepção geral de que os deputados podem desempenhar um


importante papel no reforço da cidadania através da participação do cidadão em
tarefas de desenvolvimento. O reforço da democracia e a “defesa dos interesses da
população” constituem também parte das expectativas dos entrevistados na Zambézia.

Em termos comparativos, os dados mostram que o Município de


Quelimane, com 94.0% de entrevistados, lidera, de forma esmagadora, a
lista dos entrevistados que responderam positivamente a pergunta,
seguido por Gúrurè, com 84.0%. Mopeia, com 75.0% de entrevistados,
ocupou a terceira posição. Estas percentagens elevadas podem ser
explicadas por factores como o impacto dos órgãos de informação, o
ensino e circulação e troca de informação entre as pessoas.

Em síntese, pode-se afirmar que a maioria esmagadora de entrevistados


(84.0%) mostrou saber o que significa ser deputado da Assembleia da
República.

4.4 Relações intra-


intra-parlamentares

4.4.1 Qualidade de relações de trabalho


trabalho entre bancadas

Na perspectiva de entrevistados da Zambézia, os grupos parlamentares


da AR, nomeadamente da Frelimo e da Renamo-EU, funcionam, segundo
as circunstâncias, com maior ou menor sobressalto. Com efeito, os dados

91
mostram que os entrevistados deste círculo eleitoral foram bastante
críticos em relação às relações de trabalho entre as duas bancadas. O
posicionamento dos entrevistados, em termos gerais, é positivo, embora
haja uma expressiva a cifra daqueles que classificam este relacionamento
de “Mau”.

O Gráfico 4.4, abaixo, ilustra o quadro das percepções dos cidadãos


interpelados em Gúrurè, Mopeia e Quelimane sobre a qualidade de
relações de trabalho entre as Bancadas parlamentares da Frelimo e
RENAMO-UE.

Gráfico 4.4: A relação de trabalho na AR entre as Bancadas da FRELIMO e RENAMO-UE UE é


70%

60%

50%
Excelente
40% Boa

30% Razoável

20%

10%

0%
Gurue Quelimane Mopeia
Excelente 4% 1% 9%
Boa 15% 11% 20%
Razoável 53% 60% 37%
Má 28% 27% 34%

De um universo de 238 casos, 50.0% por cento dos entrevistados


disseram que a relação de trabalho na Assembleia da República entre as
duas bancadas era “Razoável”, contra apenas 5.0% que defenderam que
era “Excelente”. Enquanto isso, 30.0% de entrevistados sustentaram que
era “Má”, enquanto que 15.0% disseram que era “Boa”. Por outras
palavras, isto significa que, em cada 10 entrevistados, 5 acreditavam que
essas relações são boas, 3 defendiam que são más e os restantes
defendiam que as relações são boas e excelentes.

Os dados mostram que os pontos de vista dos entrevistados estão


bastante divididos em relação a este assunto, certamente, influenciados
pela imagem negativa projectada pelos próprios deputados durante as
sessões de trabalho na plenária. A percepção dos entrevistados incide
sobre o razoável e o aceitável. Com efeito, acredita-se que a maioria de
pessoas toma em linha de conta o estágio actual de desenvolvimento da
democracia representativa no país.

92
Os dados do Gráfico 4.4 mostram que Quelimane e Gúrurè foram os
únicos locais que conseguiram ultrapassar a barreira dos 50 por cento
de opiniões de entrevistados. Assim, 60.0% e 53% de entrevistados de
Quelimane e Gúrurè, respectivamente, admitiram que a relação entre as
bancadas da Frelimo e da RENAMO-UE na Assembleia da República era
“Razoável”. Esta percepção é, igualmente, partilhada por 37.0% de
entrevistados de Mopeia. Todavia, é neste último distrito onde se registou
a maior percentagem de entrevistados que classifica essa a relação como
sendo “Má”.

Em suma, pode concluir-se que, as bancadas da Frelimo e da RENAMO-


UE desenvolvem relações de trabalho normais e aceitáveis, condições
suficientes para garantir a interdependência entre estes dois grupos
parlamentares. Este ambiente de trabalho é salutar e constitui a
condição sine qua non para colocar em funcionamento este órgão estatal
de soberania. Os dados mostram ainda que reina no seio das bancadas
um espírito de coexistência pacífica e de interdependência mútua, não
obstante a maioria absoluta da Frelimo em relação a RENAMO-UE, na
proporção de 160-90 deputados.

4.4.2 Nível de relacionamento institucional das bancada


bancada

O relacionamento institucional entre as duas bancadas, na perspectiva


dos cidadãos entrevistados na Zambézia, é determinado pela força de
circunstâncias. A necessidade de se encontrar soluções de compromisso
as duas bancadas asseguram o funcionamento deste órgão de soberania
tendo em conta o princípio da interdependência institucional. Estes
factores garantem a produção de alguns consensos entre os deputados.

Segundo os entrevistados (47.0%), o ambiente de trabalho na AR ainda


não é o desejável. Todavia, pode-se afirmar que a atmosfera onde
decorrem os trabalhos no parlamento resulta da necessidade da
“cooperação institucional” entre as duas bancadas, porque ainda não
atingiu o estágio ideal de relacionamento.

A Tabela 4.4 ilustra que, de um total de 238 casos, os entrevistados


apresentam opiniões divididas em relação ao nível de relacionamento
institucional no seio da AR. Com efeito, 47.0% dos entrevistados
disseram que o relacionamento institucional entre as bancadas da
Frelimo e da RENAMO-UE era de “Conflito”, contra 7.0% daqueles que
disseram que era de “Crise”. Enquanto isso, nota-se dois grupos de
entrevistados, com 23.0% cada, que admitem que este relacionamento
era de “Cooperação” e de “Tensão”.

93
A Tabela 4.4, abaixo, ilustra o índice das percepções de cidadãos
interpelados em Gúrurè, Mopeia e Quelimane sobre o relacionamento
institucional entre as bancadas da Frelimo e RENAMO-UE.

Tabela 4.4: O relacionamento institucional entre as bancadas da FRELIMO e RENAMO-UE na AR

Distrito Cooperação Conflito Tensão Crise Total de Casos

Gúrurè 27.0 41.0 23.0 9.0 90


Quelimane 16.0 44.0 34.0 6.0 70
Mopeia 26.0 56.0 13.0 5.0 78
Total 55 112 55 16 238

% em relação ao total 23.0 47.0 23.0 7.0 100%

O quadro traçado pelas respostas dos entrevistados permite constatar


que eles fazem uma leitura pouco abonatória do relacionamento entre as
duas bancadas. Com efeito, mais de 70 por cento de entrevistados
consideram que os deputados integrados nas suas respectivas bancados
raramente têm mantido algum diálogo construtivo. Isto significa que, em
cada 10 entrevistados, 7 consideram que essas relações são de
conflitualidade e apenas 3 é que admitem haver alguma cooperação.

Os dados mostram que Mopeia (56.0%) apresenta o maior índice de


pessoas que acreditam que o relacionamento institucional entre as
bancadas da Frelimo e da RENAMO-UE na AR é de “Conflito”, contra
Gúrurè (41.1%). Quelimane com 44.0% de entrevistados ficou em
terceiro lugar. Por outro lado, o Município de Quelimane, com 34.0% de
entrevistados, caracterizou esta relação como sendo de “Tensão”.
Enquanto isso, Gúrurè (27.0%) e Mopeia (26.0%) admitem que o
relacionamento entre as duas bancadas é caracterizado por uma relação
de “Cooperação”.

Em suma, pode concluir-se que um pouco mais de 70 por cento de


entrevistados censuram o relacionamento institucional entre as
bancadas da FRELIMO e RENAMO-UE na AR. Esta visão crítica dos
entrevistados revela que o ambiente institucional não é dos melhores, o
que representa desafios para os próximos tempos, mas também revela
que há espaço para a cooperação (30.0%).

4.4.3 Relações interpessoais de


de deputados da AR

O grau de relações interpessoais entre os deputados das duas bancadas


é, de um modo geral, apreciável tendo em linha de contas que mais de 50

94
por cento de entrevistados defendem relações “Razoáveis”. Os dados
mostram que a dispersão de pontos de vista ocorre na segunda metade
dos inquiridos. De qualquer modo, importa sublinhar que apesar das
suas diferenças ideológicas os deputados conseguem cultivar e manter
relações interpessoais e humanas de bom nível.

A Tabela 4.5, abaixo, ilustra o quadro das percepções dos entrevistados


nos distritos de Gúrurè, Mopeia e Quelimane sobre o nível de
relacionamento interpessoal dos deputados da AR.

Tabela 4.5: Nível de relacionamento entre os deputados da Assembleia da República


Distrito Excelente Bom Razoável Mau Total de Casos
Gúrurè 3.0 17.0 55.0 25.0 89
Quelimane 1.0 19.0 61.0 19.0 70
Mopeia 13.0 25.0 38.0 24.0 79
Total 14 48 122 54 238

% em relação ao total 6.0 20.0 51.0 23.0 100.0

De um total de 238 casos, nota-se uma divisão clara de pontos de vista


dos entrevistados. Com efeito, 51.0% dos entrevistados consideraram
que os deputados da Assembleia da República mantêm um
relacionamento “Razoável”, contra 6.0% daqueles que o classificaram de
“Excelente”. Enquanto isso, da Tabela 4.6 nota-se que dois grupos de
entrevistados de 23.0% e 20.0% disseram que este relacionamento era
“Mau” e “Bom”, respectivamente. Este quadro de respostas mostra que,
no dia da entrevista, em cada 10 entrevistados, 5 classificavam de
razoável o relacionamento entre os deputados e os restantes estavam
fraccionados, pois 2 defendiam que as relações eram más, 2 apontavam
haver relações boas e apenas 1 considerava-o de excelente.

O facto de uma cifra considerável de entrevistados ter dito que o nível de


relacionamento entre os deputados da Assembleia da República ser
“Razoável” revela que as pessoas têm a percepção de que o ambiente de
trabalho não é tão acolhedor quanto seria de desejar na Assembleia da
República.

Todavia, em termos comparativos, os dados mostram que Quelimane


(61.0%) lidera o grupo de pessoas que acreditam que o relacionamento
entre os deputados é, efectivamente, “Razoável”, contra Mopeia (38.0%).
Gúrurè, com 55.0% de entrevistados, situa-se na posição intermédia
entre Quelimane e Gúrurè.

95
Em suma, pode concluir-se que a maior parte de entrevistados (51.0%)
considera que o relacionamento interpessoal entre deputados da AR era
“Razoável”. Este posicionamento resulta do facto de existir no seio destes
enormes diferenças de interpretação dos factos e por tomarem posições
antagónicas aos quais nenhuma das partes dá sinais de cedência.

4.5 Factores determinantes nos debates da AR

Diversos factores interferem no curso das discussões, quer no plenário


quer nas comissões especializadas da AR. Todavia, é curioso notar que à
semelhança de Nampula, os entrevistados zambezianos apresentam
alguma dispersão de pontos de vista, o que reduz a consistência dos
mesmos. Com efeito, segundo os entrevistados, o debate na AR tem sido
influenciado por dois factores essenciais, nomeadamente a “Disciplina
partidária” (36.0%) e “Interesse do eleitorado” (33.0%).

Desta paridade, nota-se que existe uma forte disputa entre os dois
factores, em que a “disciplina partidária” (3.0%) leva vantagem sobre os
“interesses do eleitorado”. A diferença entre as duas correntes de
opiniões é ilustrativa, o que mostra que nem sempre os deputados estão
“amarrados” a disciplina partidária.

O Gráfico 4.5 apresenta o quadro detalhado das percepções dos


entrevistados de Gúrurè, Mopeia e Quelimane sobre os principais
factores que influenciam e determinam o rumo dos debates na AR.
Gráfico 4.5: Os debates na Assembleia da República têm carácter de:

50%
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Gurue Quelimane Mopeia
Disciplina Partidária 47% 28% 32%
Disciplina Parlamentar 9% 13% 25%
Interesses do eleitorado 40% 39% 21%
Outros 5% 19% 22%

96
De um total de 236 casos, constata-se que o comportamento dos
entrevistados não foi uniforme. Com efeito, houve uma clara divisão de
opiniões entre eles em que nenhuma das opções conseguiu atingir os 50
por cento. Por exemplo, apenas 36.0% de entrevistados é que disseram
que os debates da Assembleia da República decorrem à luz da “Disciplina
partidária”, enquanto que 33.0% sustentaram que os mesmos são
guiados por “Interesse do eleitorado”.

Finalmente, constata-se que somente 7.0% de inquiridos é que


consideraram que as discussões da AR são caracterizados por “Disciplina
parlamentar”. Este último aspecto revela que, de facto, os interesses do
eleitorado ainda têm o peso que deveria ter nas discussões deste órgão
estatal de soberania.

Caixa 4.3
4.3: AR debate tópicos
tópicos que reflectem aspirações do eleitorado

As questões que têm merecido debates acesos nas Sessões da AR foram, igualmente,
postos à prova junto do segundo círculo eleitoral do país – Zambézia - que se situa
entre as regiões norte e centro. As respostas dos entrevistados zambezianos não fogem
muito da regra. Nesta ordem de ideias, a esmagadora maioria é de opinião que, de
facto, os assuntos discutidos na AR “sim reflectem” os seus reais anseios. Este
posicionamento foi mais saliente, por ordem decrescente, em Gúrurè, Mopeia e
Quelimane. Apesar desta opinião favorável dos entrevistados, é importante referir que
houve um pequenino grupo de cidadãos que defendeu posição contrária. Com efeito,
este grupo minoritário disse que as discussões do parlamento “não reflectem as suas
preocupações”. Por ordem decrescente, figura Quelimane, Mopeia e Gúrurè.

Em síntese pode-se dizer que, um dos poucos aspectos positivos que os cidadãos
abonam favoravelmente aos deputados é aplaudir os conteúdos dos assuntos e
debates que realizam nas sessões da AR. Neste aspecto, os cidadãos convergem em
termos de opiniões porque acham que esses assuntos correspondem com as suas
aspirações.

Os dados de Gúrurè revelam que 46.0% dos entrevistados deste distrito


são de opinião que os debates da Assembleia da República são
influenciados pela “Disciplina partidária”, enquanto que 40.0% do
mesmo distrito defendem que os debates são influenciados por
“Interesses do eleitorado”.

No entanto, 39.0% dos entrevistados de Quelimane são de opinião que o


“Interesse do eleitorado” influencia os debates na Assembleia da
República. Por seu turno, 32.0% dos entrevistados de Mopeia são de
opinião de que a “Disciplina partidária” é o factor influenciador dos
debates, uma posição que é partilhada por 29.0% dos entrevistados de
Quelimane. Neste sentido, é compreensível que a “Disciplina partidária”
tenha sido a opção mais escolhida, já que os acontecimentos da
Assembleia da República demonstram que raramente existe consenso em

97
assuntos de interesse nacional. Com efeito, nota-se que cada uma das
bancadas vota quase sempre contra qualquer proposta de lei
apresentada pela outra parte.

Em síntese, nota-se que no relacionamento entre os deputados


interferem em vários factores. Os dados revelam que vários interesses
individuais ou colectivos, normas e procedimentos e regras de conduta
determinam o rumo das discussões e a selecção de assuntos na AR. Por
seu turno, nota-se que 33.0% das percepções de entrevistados
consideram que os debates não reflectem o interesse do eleitorado.

4.6 Considerações gerais

O estudo permite afirmar que os entrevistados da Província da Zambézia


apresentam um índice de conhecimento situado acima da média sobre os
processos políticos em curso no país. Assim, dos resultados da pesquisa
constata-se o seguinte cenário:

 A maioria dos entrevistados se mostrou interessada pela política


(64%);

 A maioria esmagadora de entrevistados (71.0%) nesta província,


admite que as eleições produzem algum impacto positivo nas suas
respectivas vidas;

 Os dados mostram que mais de 70 por cento de entrevistados da


Zambézia têm estado atentos às políticas internas e em relação às
actividades desenvolvidas pelos órgãos de soberania,
principalmente a Assembleia da República;

 A maioria dos inquiridos (61.0%) conhece as verdadeiras funções


da Assembleia da República, facto que revela que algo tem sido
feito para a promoção e consolidação da democracia no país;

 A maioria esmagadora de entrevistados (72.0%) sabia estabelecer a


diferença entre o Governo da Assembleia da República;

 Mais de dois terços (84.0%) de entrevistados conheciam os


contornos da democracia representativa, em curso no país,
particularmente sabiam o que significa ser deputado da
Assembleia da República;

 Os dados mostram ainda que reina no seio das bancadas um


espírito de coexistência pacífica e de interdependência mútua, não

98
obstante a maioria absoluta da Frelimo em relação a RENAMO-UE,
na proporção de 160-90 deputados.

 Um pouco mais de 70 por cento de entrevistados censuraram o


relacionamento institucional entre as bancadas da FRELIMO e
RENAMO-UE na AR. Para eles, o ambiente institucional de
trabalho ainda não é dos melhores;

 A maior parte de entrevistados (51.0%) considera que o


relacionamento interpessoal entre deputados da AR é “Razoável”,
mesmo reconhecendo as suas diferentes formas de leitura e
interpretação dos factos;

 Finalmente, o estudo mostra que os entrevistados desta província


estavam divididos quanto as razões que influenciam a atitude e
comportamento dos deputados na AR. Para eles, o debate na AR
tem sido influenciado por dois factores essenciais: a “Disciplina
partidária” (36.0%) e “Interesse do eleitorado” (33.0%). Com este
facto os entrevistados sugerem que os interesses partidários e do
eleitorado tendem a determinar rumo das discussões na AR.

99
PARTE II

Análise de percepções dos deputados

100
Capítulo V

Percepções de deputados

5. Sumário

Este capítulo apresenta as principais percepções dos deputados sobre


vários aspectos ligados à sua actividade política. Identifica, igualmente, as
dificuldades e as relações institucionais entre as bancadas e deputados
da Frelimo e Renamo-EU.

5.1 O grau de dificuldades dos deputados

Os deputados deram a conhecer que enfrentam uma série de


dificuldades, o que influencia negativamente no desempenho das suas
actividades políticas e para a satisfação das necessidades dos seus
respectivos eleitores. Estas dificuldades estão relacionadas com os
transportes e comunicações, a falta de recursos financeiros e materiais,
assim como a existência de alguns problemas de relacionamento entre os
deputados.

A Tabela 5.1 mostra o posicionamento dos deputados no que toca à


identificação das dificuldades que enfrentam no âmbito das suas
actividades.

Tabela 5.1: Dificuldades dos deputados durante o exercício das suas actividades
Transp/Com
Províncias Financeiro Relacionamento Material Total
unicação
Nampula 25.0 0.0 6.0 69.0 16
Cabo Delgado 11.0 0.0 0.0 89.0 9
Niassa 0.0 0.0 0.0 100.0 5
Zambézia 15.0 5.0 5.0 75.0 20
Total 8 1 2 39 50
% em relação ao total 16.0 2.0 4.0 78.0 100

De um universo de 50 deputados entrevistados, constata-se que a


maioria esmagadora considera que os “Transportes e comunicações” são
o seu maior calcanhar de aquilles na prossecução das suas actividades.
Com efeito, 78.0% dos deputados apontaram a falta de facilidades de
transportes e comunicações, contra apenas 2.0% daqueles que
indicaram o problema de “Relacionamento” entre os deputados. Em
segundo e terceiro lugares, os deputados colocaram como preocupação
os aspectos “Financeiros” (16.0%) e de ordem “Material” (4.0%),

101
respectivamente. Por outras palavras, em cada 10 deputados
entrevistados, 8 apontaram a dificuldade de transporte e comunicações,
enquanto os restantes 2 ficaram repartidos entre os problemas de
natureza imaterial (relacionamento) e de ordem material (financeiro).

É importante destacar que a dificuldade dos deputados relacionada com


“Transportes e comunicações” foi a mais dominante em todas as
Províncias. Neste aspecto, Niassa aparece a liderar, pois todos os
deputados (100.0%) se referiram a esta problemática, seguida de Cabo
Delgado (89.0%), Zambézia (75.0%) e, em último, a província de Nampula
(69.0%). Este quadro de resultado mostra o grau de dificuldades que o
país atravessa neste sector, principalmente no que toca à locomoção das
pessoas e bens. O degradado e deplorável estado das vias de acesso, não
só ao nível provincial como interprovincial e intradistrital, impossibilita
ou dificulta a movimentação dos deputados.

Caixa 5.1: Falta de transportes e comunicações:


comunicações: o escudo do deputado

Para os deputados da FRELIMO, as dificuldades de falta de meios de transporte se


repercutem no seu desempenho, pois se mostram incapazes de contactar os seus
eleitores, principalmente aqueles que residem nas zonas rurais. Muitas vezes, segundo
disseram, para colmatar esta situação, fazem recurso a viaturas pessoais e outros
meios alternativos, com destaque para o “Chapa 100”, o que não dignifica em nada o
próprio deputado. Por seu turno, os deputados da bancada da Renamo alinham no
mesmo diapasão, pois concordam com os pontos de vista apresentados pelos
deputados da bancada maioritária sobre esta matéria.

As grandes dificuldades dos deputados deste partido são a falta de transporte e


comunicação e, em alguns casos, de carácter financeiro. Segundo os entrevistados dos
círculos eleitorais de Niassa, Cabo Delgado, Nampula e Zambézia, a falta de transportes
e a falta do alargamento da rede de telefonia fixa e móvel são os principais “nós de
estrangulamento” para as suas actividades. As vias de acesso dificultam, igualmente, a
deslocação dos deputados, principalmente a partir das Sedes Distritais para localidades
e postos Administrativos e vice-versa. Sobre os meios de transporte, referiram que os
deputados se socorrem dos vulgos “Chapa 100” que, às vezes, não chegam aos locais
desejados. Nestes casos, a alternativa tem sido a bicicleta ou a deslocação a pé até ao
destino.

Um deputado do círculo eleitoral do Cabo Delgado disse que tem percorrido cerca de
108 Km a pé, desde Mazeze até a zona de Namugelia, pois naquela zona não circulam
chapas há muito tempo. Para atenuar a situação, os deputados apelaram às entidades
do Governo para alargar a rede de telefonia fixa e móvel, a fim de facilitar o seu
trabalho.

Os deputados deram a conhecer, igualmente, o não menos importante


aspecto que interfere directamente no desempenho do deputado, que
está relacionado com a problemática da verba orçamental alocada à
Assembleia da República. Para os deputados das duas bancadas, a

102
mesma é insuficiente, por isso, constitui um dos entraves ao bom
desempenho das actividades do deputado.

Um deputado disse, a título de exemplo, que o dinheiro disponibilizado


para o deputado trabalhar durante o ano de actividade “não chega
sequer para custear as despesas de um mês”. Assim, consideram que os
problemas financeiros são, o “nó de estrangulamento” de todo o
programa de actividade dos deputados.

Em suma, pode-se dizer que as grandes dificuldades encaradas pelos


deputados das duas bancadas parlamentares estão relacionadas com
transportes e comunicações e a exiguidade de recursos financeiros.

5.2 Nível de relacionamento institucional entre bancadas

O tipo de relacionamento entre os deputados do Parlamento pode


determinar a qualidade e o grau de sucesso das actividades deste órgão
de soberania. Primeiro, porque o nível de cooperação ou de
conflitualidade tem relação directa com o produto final e, neste caso, as
leis que satisfaçam as expectativas do eleitorado. Depois, é importante
notar que o padrão de relacionamento amistoso ou de hostilidade
influencia o curso normal de actividades.

Neste sentido, é importante considerar que se os deputados de bancadas


diferentes se vêem como inimigos, é mais que provável que as actividades
desta casa sejam ditadas pelas disputas que podem paralisar ou impedir
a produção de leis úteis ao Estado. Enquanto isso, se eles se relacionam
como adversários e lutam pela causa e objectivo comuns, que é o bem-
estar da população, é provável que haja um aumento da eficácia e da
eficiência deste Órgão de soberania estatal.

Como efeito colateral, igualmente, pode incrementar-se a legitimidade


dos respectivos deputados perante o cidadão comum ou eleitor. Isto
significa dizer que, no primeiro caso, os interesses individuais e
partidários tendem a estar acima dos interesses nacionais. Na última
categoria, nota-se que o espírito cooperativo dos parlamentares reforça e
catalisa as actividades dos deputados para uma complementaridade.

Assim sendo, de acordo com os deputados entrevistados, o


relacionamento entre as suas respectivas bancadas situa-se num nível
cujos extremos são o “razoável e o mau”.

103
A Tabela 5.2 mostra o relacionamento institucional entre as bancadas da
Frelimo e da RENAMO-UE.

Tabela 5.2: Relacionamento institucional entre as bancadas da FRELIMO e RENAMO-UE


Províncias Excelente Bom Razoável Mau Total
Nampula 0 13.0 56.0 31.0 16
Cabo Delgado 0 0 67.0 33.0 9
Niassa 0 0 60.0 40.0 5
Zambézia 0 10.0 55.0 35.0 20
Total 0 4 29 17 50
% em relação ao total 0 8.0 58.0 34.0 100.0

Segundo a Tabela 5.2, acima, há dois grupos de opinião sobre o


relacionamento entre os deputados. Um é dominado por aqueles que
acreditam que esse relacionamento é razoavelmente aceitável, embora
reconheçam que não é dos melhores e tão pouco o desejável. O segundo
é constituído por um número significativo daqueles que não hesitam
qualificá-lo de mau.

Com efeito, 58.0% dos deputados entrevistados responderam que o


relacionamento entre as duas bancadas era “Razoável”, contra apenas
8.0% daqueles deputados que disseram que era “Bom”. Na situação
intermédia, figuram 34.0% de respostas de deputados que classificaram
o relacionamento de “Mau”. Por outras palavras, nota-se que, em cada 10
deputados entrevistados, 6 defenderam que relacionamento era
“Razoável”, 3 afirmaram que era “Mau” e apenas 1 disse que era “bom”.
Este posicionamento revela que, efectivamente, o grau de relacionamento
nesta “Casa do povo” ainda está longe de corresponder às expectativas
da maioria do cidadão, porque não atingiu o nível desejado.

Os deputados de Niassa e cabo Delgado são os mais cépticos no que toca


a qualidade do relacionamento, pois a opção “Boa” não foi equacionada,
isto é, foi nula. Enquanto isso, Niassa é a Província que apresenta o
maior índice crítico em relação a este assunto, superando um pouco às
outras já que 40.0% dos deputados afirmaram que o mesmo era “Mau”.
Este posicionamento propicia um ambiente agitado na AR, já que, para
os deputados da Frelimo, o relacionamento institucional entre a
bancadas parlamentares é, no essencial, mau. Justificaram a sua
posição com o facto de prevalecerem posições incoerentes ou
inconstitucionais no Parlamento moçambicano.

Por seu turno, os deputados da RENAMO-UE com o mesmo tom que


seus colegas da FRELIMO, reafirmaram que, efectivamente, as relações

104
inter-bancadas são más. Para eles, a falta de confiança, as intrigas, as
acusações e divergências de opiniões são os elementos caracterizadores
de tal situação. Assim sendo, reconhecem que estes factores de desunião
minam e enfraquecem a jovem democracia moçambicana.

Para os deputados da Renamo, em Moçambique ainda não há sinais de


uma efectiva reconciliação nacional. A Assembleia da República apenas
existe porque a Constituição da República assim o exige. Um deputado
do círculo eleitoral da Zambézia, numa atitude de desabafo, apontou os
contornos da aprovação da nova Lei da “Nova Família” do Metical e a
recusa da alteração dos Símbolos Nacionais como algumas das provas
evidentes que evidenciam a “ditadura do voto” na Assembleia da
República pela bancada da FRELIMO.

Em suma, constata-se que, da leitura crítica às respostas, que os


deputados apresentam opiniões convergentes quanto ao grau de
relacionamento entre as duas bancadas que está muito longe de ser o
“ideal ou desejável”. Neste quadro, nota-se que apenas 8.0% é que
responderam que o mesmo era “Bom” e ninguém afirmou que era
“excelente”.

5.3 Estados de relacionamento entre bancadas

A forma como as duas bancadas se relacionam na Assembleia da


República influencia o grau de valorização deste órgão e dos deputados.
Infelizmente, constata-se que as relações entre as bancadas são
dominadas por um clima de tensão e de conflito. Este clima pode estar a
condicionar o envolvimento activo dos eleitores nos processos políticos,
particularmente nos processos eleitorais. Os deputados das duas
bancadas defendem que o grau de relacionamento entre as suas
respectivas bancadas é caracterizado por alguma interacção de
cooperação, de conflito, de crise e de tensão.

O Gráfico 5.1 mostra, claramente, que entre os deputados entrevistados


havia uma divisão nítida de pontos de vista em relação ao
relacionamento entre as bancadas da Frelimo e da Renamo-EU. Com
efeito, houve uma total dispersão de opiniões em que nenhum grupo de
respostas conseguiu suplantar os demais, tanto em termos globais, como
ao nível de cada Província.

No primeiro caso, torna-se claro que, de um total de 50 entrevistados,


30.0% apontaram o clima de tensão, contra 22.0% daqueles que
indicaram o conflito. Dois grupos de deputados entrevistados, ambos
com 20.0% cada, caracterizaram o relacionamento entre as bancadas

105
como sendo de “Cooperação” e de “Crise”. Este posicionamento dos
entrevistados, mais uma vez, revela que a maioria esmagadora de
deputados de ambas bancadas, ou seja, 80.0%, sentem que o
relacionamento entre institucional entre a FRELIMO e Renamo-EU não é
dos melhores. Esta posição havia sido, igualmente, manifestada pelos
cidadãos entrevistados em todas Províncias onde o estudo foi conduzido.

O Gráfico 5.1 mostra o tipo de relacionamento institucional entre as


bancadas da Frelimo e da RENAMO-UE.
Gráfico 5.1: Relacionamento institucional entre a FRELIMO e RENAMO-UE
70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Nampula Cabo Delgado Niassa Zambézia
Cooperação 31% 0% 0% 25%
Conflito 38% 44.44% 40% 15%
Tensão 19% 22.22% 60% 35%
Crise 13% 33% 0% 25%

No segundo caso, as opções de confrontação e divergências foram


preponderantes. Em Cabo Delgado, 44.44% deputados entrevistados
apontaram as relações de conflitualidade, contra 15.0% de deputados da
Zambézia. Os deputados do Niassa (40.0%) e Nampula (38.0%) ficaram,
respectivamente, no segundo e terceiro lugares. Enquanto isso, constata-
se que a maioria esmagadora de deputados entrevistados no Niassa
(60.0%) acredita que as relações têm sido de “Tensão”, contra apenas
19.0% de entrevistados de Nampula. Os deputados entrevistados na
Zambézia (35.0%) e em Cabo Delgado (22.22%) defendem, igualmente,
este ponto de vista, tendo se situado em segundo e terceiro lugares,
respectivamente.

Em geral, nota-se, mais uma vez, que os deputados entrevistados no


Niassa e em Cabo Delgado estão cépticos quanto à melhoria do
relacionamento entre as duas bancadas. Apesar deste cepticismo,
Nampula e Zambézia, respectivamente com 31.0% e 25.0% de
entrevistados, acreditam que o relacionamento entre as duas bancadas

106
tem sido caracterizado por espírito de “cooperação” em defesa do
interesse colectivo.

Caixa 5.2: Debates inter-


inter-parti-
parti-dáriso precisam-
precisam-se

No que toca à necessidade e importância de debates inter-partidários envolvendo os


partidos extra-parlamentares, as posições dos entrevistados das duas bancadas foram
unanimemente convergentes. Os deputados da FRELIMO destacaram não só a
necessidade destes debates como também enalteceram a importância da participação
dos Partidos sem assento na AR e da sociedade civil. Estes debates poderiam permitir
uma abrangência das ideias para ajudar o Governo na resolução dos problemas do
eleitorado. Por seu turno, os deputados da Renamo-EU secundaram os seus colegas
da FRELIMO. Acrescentaram ainda que deviam ser criados fóruns próprios para
debater vários assuntos de interesse nacional. Para a Renamo, a democracia significa
participação de cidadãos na discussão dos problemas nacionais. Esta acção seria uma
plataforma segura para reforçar cada vez mais a própria democracia e ajudaria a
“combater o sistema do partido único que a Frelimo pretende manter”.

No entanto, um deputado do círculo eleitoral de Nampula sublinhou, a dado passo,


que os partidos sem assentos no Parlamento são marginalizados. Estes fóruns
contribuiriam para reduzir o nível de conflitualidade existente entre as duas bancadas.
Disseram ainda que o envolvimento de mais cidadãos ajudaria a cultivar o espírito de
reconciliação nacional, a favor do desenvolvimento sócio-económico do País. Os
deputados da bancada da Renamo acham que se devia criar espaço para os partidos
sem assentos no parlamento. Curiosamente, esta bancada votou contra a abolição da
barreira dos 5 por cento.

Os deputados da Renamo deploraram a atitude da Frelimo, acusando


esta de estar a rejeitar sistematicamente as opiniões da oposição e,
consequentemente, impor as suas decisões. Uma deputada da Zambézia
revelou, por exemplo, que o projecto de aprovação do novo Hino Nacional
tinha sido da iniciativa da RENAMO-EU, mas que a FRELIMO usurpara a
ideia em seu favor. Para ela, a Frelimo “é imprevisível”, o que faz com se
viva, muitas vezes, num ambiente de tensão e de crise.

Um deputado de Cabo Delgado revelou, por seu turno, que o clima de


tensão e de crise resulta da acção negativa da FRELIMO. Ele deu a
conhecer que em algumas zonas do seu círculo eleitoral tais como
Mueda, Nangade e Muidumbe, a Frelimo insta a população a desprezar
deputados da oposição. Contudo, reafirmou que a sua Bancada goza de
maior prestígio nessas zonas e ainda no litoral e no Sul da Província de
Cabo Delgado.

Em suma, pode-se afirmar que os deputados das duas bancadas são


unânimes em classificar o relacionamento institucional entre as
Bancadas como sendo, no geral, de tensão e, algumas vezes, de crise.

107
5.4 Interacção entre deputados e círculos eleitorais

A qualidade e intensidade da interacção entre os deputados da AR com


os seus círculos eleitorais depende da forma como o parlamentar percebe
a importância e tratamento que o eleitor merece na cena política. Na
auto-análise, os representantes do povo sugerem que a sua interacção
com os círculos eleitorais é saudável e ocorre sem grandes dificuldades,
embora não seja frequente.

5.4.1 Nível da interacção

Os deputados entrevistados, na sua maioria, afirmaram que a interacção


entre eles e os seus respectivos círculos eleitorais era adequada às
condições materiais que o parlamento oferece. Eles garantiram que o
nível de interactividade era bom para o exercício das suas actividades,
não obstante as dificuldades de meios de transportes.

O Gráfico 5.2 mostra a qualidade e nível de interacção entre os


deputados e seus círculos eleitorais.

Gráfico 5.2: A interacção entre deputados e seus círculos eleitorais


90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Nampula Cabo Delgado Niassa Zambézia
Excelente 31% 11% 20% 35%
Bom 25% 67% 80% 55%
Razoável 44% 22% 0% 10%
Mau 0% 0% 0% 0%

Na perspectiva de 57.0% de deputados entrevistados, a qualidade e a


interacção com os círculos eleitorais era “Boa”. Dois grupos de deputados
defenderam a ideia segundo a qual a interacção era “Excelente” e
“Razoável”, com 24.0% e 19.0% de pessoas, respectivamente. Facto
curioso é que, nesta pergunta, não se registou alguma resposta a indicar
um relacionamento “Mau”. Este facto reforça a opinião segundo a qual o
relacionamento entre as duas partes situa-se num nível aceitável. Este
cenário repete-se quando analisado por círculo eleitoral, pois os
deputados, mais uma vez, assumem uma posição unânime reafirmando

108
que a sua interacção com os círculos eleitorais é “Boa”. Esta opção é
saliente com mais de 50 por cento de opiniões em todas as províncias, à
excepção de Nampula, que regista apenas 25.0%.

Com efeito, a província de Niassa lidera esta tendência, com 80.0% de


respostas, seguida de Cabo Delgado, com 67.0%, e, finalmente,
Zambézia, com 55.0% de respostas dos deputados. Por seu turno, os
deputados de Nampula são mais cautelosos e, por isso, acreditam que a
interacção entre os deputados e o seu respectivo círculo eleitoral é
“Razoável” (44.0%).

Os deputados da RENAMO-UE consideram que a sua interacção com os


respectivos círculos eleitorais é boa. Eles sustentam que apesar das
dificuldades de meios de transportes, eles têm conseguido, dentro das
possibilidades, “viver de perto, colher opiniões” sobre as preocupações
principais das populações. Estas preocupações são, a posterior,
canalizada às entidades competentes para a sua resolução. Este grupo
parlamentar acrescentou que procuram manter informados os
respectivos círculos eleitorais de tudo quanto é debatido na AR. Eles
apontam ainda que, sempre que vão para o terreno, aproveitam a ocasião
para realizar actividades de sensibilização da população e prestam apoio
à juventude através de distribuição de materiais como bandeiras,
panfletos e bolas.

No cômputo geral, a julgar pelas percentagens apresentadas, em que as


opções de “Bom” e de “Excelente” são mais salientes, pode-se concluir
que, realmente, a interacção entre os deputados e os seus círculos
atravessa melhor momento.

5.4.2 Tendência positiva da interacção

Mais de 50 por cento de deputados de ambas as bancadas qualificam a


interacção existente entre eles e seus respectivos círculos eleitorais como
sendo normal, embora admitam algumas dificuldades.

De um total de 49 deputados entrevistados, constata-se que existe uma


clara divisão no seio de deputados entrevistados, por isso, nenhum
grupo de potenciais respostas ultrapassou a fasquia de 50 por cento.
Assim, 45.0% de deputados entrevistados afirmaram que a interacção
era “Normal”, contra os 24.0% daqueles que disseram ser “Fácil”.

Na posição intermédia estão posicionados 31.0% de entrevistados que


caracterizaram a interacção como sendo “Difícil”. Por outras palavras,
pode-se afirmar que, em cada 10 deputados entrevistados, 5 defendiam

109
que a interacção era “Normal”, 3 sustentavam que era “Difícil” e 2
apontavam que era “Fácil”.

A Tabela 5.3 apresenta o grau de dificuldade da interacção existente


entre deputados os seus círculos eleitorais.

Tabela 5.3: A interacção entre deputados e seus círculos eleitorais


Províncias Fácil Difícil Normal Outra Total

Nampula 31.0 25.0 44.0 0 16


Cabo Delgado 11.0 11.0 78.0 0 9
Niassa 25.0 50.0 25.0 0 4
Zambézia 25.0 40.0 35.0 0 20
Total 12 15 22 0 49
% em relação ao total 24.0 31.0 45.0 0 100

Em termos comparativos, nota-se que existem alguns deputados que


assumem posições críticas e cépticas sobre este assunto. Com efeito,
50.0% dos entrevistados de Niassa e 40.0% da Zambézia defenderam que
a interacção era “Difícil”. Enquanto isso, no sentido oposto, os deputados
de Cabo Delgado (78.0%) e de Nampula (44.0%) acreditam que eles
mantêm um relacionamento cordial com os seus círculos eleitorais.

Caixa 5.3: Contornos da interacção entre


entre deputados e círculos eleitorais

Os deputados da bancada da Renamo-EU têm contactado o seu círculo eleitoral,


geralmente, no intervalo entre as sessões parlamentares, concretamente entre os
meses de Maio e Outubro de cada ano. Este período favorece principalmente àqueles
que vivem longe dos seus círculos eleitorais. Estes deputados acrescentaram, por
outro lado, que os deputados que fazem parte das comissões especializadas, bem como
aqueles que vivem junto dos respectivos círculos eleitorais, tem tido contacto
permanente com os seus eleitores.

No geral, os deputados ressentem-se da falta de transporte. Neste contexto,


lamentaram o facto de o Governo18 ainda não ter cumprido coma sua promessa feita
na primeira legislatura de afectar viaturas 4x4 aos deputados para facilitar o trabalho
do campo.

No entanto, os deputados da Renamo-EU indicam que o contacto que


estabelecem com os seus círculos eleitorais é difícil, principalmente
devido à falta dos meios de transporte e o estado avançado de
degradação das estradas. A sua acção tem sido mais difícil nas zonas

18
A entrevista foi realizada muito antes do processo de afectação deste tipo de veículo aos deputados
iniciar.

110
rurais comparativamente às urbanas. Lamentaram este facto, já que é
nas zonas rurais onde se localiza a maior parte do eleitorado.

Em suma, importa salientar que uma leitura atenta às percentagens das


respostas permite observar que os deputados estão cientes da
necessidade de melhorar cada vez mais a interacção com os seus círculos
eleitorais. Esta melhoria é, principalmente nítida naquelas províncias
cujos deputados foram críticos ou cépticos, que são os casos de Niassa e
Zambézia.

5.5 Relações interpessoais de deputados da AR

Os critérios de tomada de decisão em cada uma das bancadas


parlamentares, de um modo geral, dependem da filosofia de trabalho e de
orientação de cada partido político. O caso moçambicano não constitui
excepção. Com efeito, nota-se claramente que, por exemplo, o critério de
obediência escrupulosa à “Disciplina partidária” tornou-se num
instrumento disciplinador dominante de deputados da AR.

5.5.1
5.5.1 A influência da disciplina partidária

De acordo com os deputados, o relacionamento entre os deputados na


Assembleia da República é moldado essencialmente pela combinação da
disciplina partidária e interesse do eleitorado, assim como de regimento
da AR. Todavia, existe alguma ligeira ascendência da disciplina
partidária sobre os restantes indicadores.

A Tabela 5.4 projecta os factores determinantes que moldam as relações


interpessoais de deputados da Assembleia da República.

Tabela 5.4. Relacionamento na AR entre os deputados é moldado por


Disciplina Regimento Interesse do
Províncias Outros Total
Partidária da AR eleitorado
Nampula 38.0 38.0 25 0 16
Cabo Delgado 44 0 44 11.0 9
Niassa 80.0 0 20 0 5
Zambézia 45.0 25.0 30.0 0 20
Total 23 11 15 1 50
% em relação ao total 46.0 22.0 30.0 2.0 100

A Tabela 5.4 mostra que os deputados da AR seguem à risca a


“Disciplina partidária” nos seus actos, particularmente no seu

111
relacionamento interpessoal. Com efeito, constata-se que 46.0% dos
entrevistados afirmaram que o relacionamento interpessoal é moldado
pela “Disciplina partidária”, contra apenas 2.0% de deputados que
apontaram “Outros” critérios.

Em segundo e terceiro lugares, os deputados indicaram como critérios o


“Interesse do eleitorado” (30%) e o “Regimento da AR” (22%). Isto significa
que, em cada 10 deputados, 5 apontaram a “Disciplina partidária” como
factor determinante no seu relacionamento, 3 disseram que era o
“Interesse do eleitorado” e 1 se referiu ao “Regimento da AR” e, por
último, 1 apontou “Outros” critérios que influenciam a conduta pessoal
na AR.

Os deputados de Niassa (80.0%) aparecem na dianteira daqueles que não


têm dúvidas que o seu relacionamento durante o mandato tem sido
grandemente influenciado pelas orientações partidárias. Esta percepção
é secundada pelos colegas de Zambézia (45.0%) e de Cabo Delgado
(44.0%). Na cauda da lista encontra-se Nampula, com 38.0% de
deputados, igualmente, a salientar a disciplina imposta pelo partido.

Caixa 5.4: Forma de encaminhamento de preocupações do eleitorado

A questão sobre o tratamento que é dado as preocupações dos círculos eleitorais


mereceu, dos deputados entrevistados, considerações muito diversificados. Os
deputados da Frelimo referiram que os assuntos são tipificados e posteriormente
canalizadas a quem de direito, de acordo com cada caso. Esta bancada parlamentar
aponta que existem casos que são resolvidos pelas estruturas locais e outros que são
canalizados às diferentes Comissões da Assembleia da República ou mesmo
apresentadas nas sessões plenárias.

Por seu turno, os entrevistados da Renamo-EU confidenciaram que as questões que


lhe são apresentadas pelo eleitorado, dependendo dos casos, são, em primeiro lugar,
registadas e analisadas sob ponto de vista do seu teor. Em relação aos problemas de
menos rigor, como sejam assaltos, roubos, adultérios, perseguições e outros são
resolvidos junto das estruturas competentes ao nível local. Enquanto isso, os
problemas de maior proporção são encaminhados ao “Cabeça de lista” do círculo
eleitoral que, por sua vez, os encaminha às diversas Comissões Especializadas da
Assembleia da República. Os deputados desta bancada deram também a conhecer que
existem situações em que, excepcionalmente, alguns problemas são apresentados
antes da ordem do dia no plenário e, às vezes, nas sessões de pergunta e resposta ao
Governo.

Por seu turno, importa salientar que alguns deputados têm a consciência
de que o seu relacionamento é fortemente motivado pelo “Interesse do
eleitorado”. Deste grupo, destacam-se os entrevistados de Cabo Delgado
(44.0%) e de Zambézia (30.0%). Por outro lado, o “Regimento da AR” é
apontado por alguns deputados de Nampula (38.0%), que está a frente de
Zambézia (25.0%), como sendo outro critério que molda o relacionamento

112
inter-pessoal. Enquanto isso, os deputados de Niassa e de Cabo Delgado
não acreditam que o regimento da AR seja um critério mais influente no
relacionamento interpessoal.

No entanto, na perspectiva de deputados da FRELIMO, o relacionamento


entre os deputados da AR é moldado pelo “Regimento da Assembleia da
República”. Na sua opinião, o seu desempenho, alegadamente, “é
regulado rigorosamente pelas leis em vigor”. Por seu turno, os deputados
da RENAMO-UE consideram que as relações interpessoais na AR são,
muitas vezes, moldadas por uma combinação entre “Interesses do
eleitorado” e “Disciplina partidária”. Eles acham que a defesa dos
interesses do eleitor funda-se na filosofia de que “foram eles que nos
elegeram para os representar na Assembleia da República”.

Os deputados deste grupo parlamentar priorizam a discussão dos


assuntos nacionais independentemente das cores partidárias. Para este
grupo parlamentar, o critério de “Disciplina partidária” assume, de
algum modo, um papel importante ao nível dos deputados. Eles referem
ainda que as suas iniciativas são quase sempre frustradas pela bancada
maioritária. Neste contexto, lamentam a atitude dos seus colegas da
Frelimo, pois “em nenhum momento, aceitou as nossas iniciativas”.

Em suma, é indiscutível que o critério de “Disciplina partidária” domina


o cenário de relacionamento interpessoal da AR, em detrimento do
“Interesse do eleitorado”. Este fenómeno é compreensível em democracias
emergentes como a de Moçambique, que ainda está em processo de
formação e reforço.

5.5.2 Atmosfera salutar no relacionamento entre os deputados

A atmosfera que caracteriza e domina a convivência dos representantes


do povo na AR é salutar, tendo em linha de conta a sua própria auto-
avaliação. Com efeito, a maioria esmagadora dos deputados
entrevistados, ou seja, 84.0% qualificam o nível do seu relacionamento
de “mais ou menos bom”.

A Tabela 5.5 revela que a esmagadora maioria de entrevistados é de


opinião que o nível de relacionamento entre os deputados na AR é
“Razoável”. Com efeito, 51.0% dos deputados caracterizaram o seu
relacionamento como sendo “Razoável, contra 16.0% daqueles que
apontaram ser “Mau”. Na posição intermédia ficou o grupo de deputados
que defendeu que o seu relacionamento era “Bom” (33.0%). Por outras
palavras, isto significa que, em cada 10 deputados entrevistados, 6

113
defenderam relações razoáveis, enquanto 3 apontaram relacionamento
bom e por último 1 qualificou de “Mau”.

A Tabela 5.5 apresenta as percepções dos deputados sobre o nível de


relacionamento entre os deputados da AR.

Tabela 5.5. O nível de relacionamento entre os deputados da AR


Províncias Excelente Bom Razoável Mau Total
Nampula 0 41.0 55.0 5.0 16
Cabo Delgado 0 22.0 78.0 0 9
Niassa 0 40.0 20.0 40.0 5
Zambézia 0 30.0 50.0 20.0 20
Total 0 19 30 6 50
% em relação ao total 0 33.0 51.0 16.0 100

Em termos comparativos, nota-se que a maioria dos deputados


entrevistados em Cabo Delgado (78.0%) acredita mais no nível de
relacionamento razoável, enquanto que os de Niassa (20.0%) admitem
menos nessa qualificação. Depois de Cabo Delgado, seguem-lhe Nampula
(55.0%) e Zambézia (50.0%). Por seu turno, Nampula (41.0%), seguido de
perto por Niassa (40.0%) destaca-se pela classificação “Bom” que atribui
a este relacionamento, contra Cabo Delgado (22.0%). Os deputados de
Zambézia (30.0%), igualmente, dão nota positiva ao relacionamento
interpessoal dos deputados das duas bancadas.

Caixa 5.5: Sessões plenárias como palcos da discórdia

Os deputados das duas bancadas transformam as sessões plenárias em verdadeiros


palcos da discórdia quase total, como garantem os entrevistados, o que “mancha” o
seu relacionamento, eventualmente por influência da “disciplina partidária” imposta
pelos seus respectivos partidos. Para os deputados da Renamo-EU, o nível de
relacionamento entre os deputados da AR, à semelhança do relacionamento entre
bancadas, é “Mau”. Para este grupo parlamentar, este relacionamento menos
agradável ocorre principalmente durante a realização do plenário.

Com efeito, os deputados das duas bancadas reconhecem que a sua pior imagem é
exposta durante as sessões plenárias em que as divergências de opiniões e acusações
sistemáticas e humilhantes ganham maior notoriedade. Estas contrariedades são
protagonizadas pelos deputados dos dois lados.

Mais uma vez, observa-se que os deputados entrevistados nem sempre


apresentam o mesmo raciocínio sobre o seu próprio relacionamento. Com
efeito, da Tabela 5.5 verifica-se que existem alguns deputados que se
mostram cépticos no que toca as suas relações. Niassa (40.0%) destaca-
se com a posição “Mau”. Este posicionamento é contrariado pelos
deputados de Cabo Delgado que pautaram pelo nulo. Depois de Niassa,

114
figura a Zambézia (20.0%), cujos deputados se mostram cépticos em
relação a esta matéria.

Neste contexto, é importante recordar que a maioria dos deputados da


FRELIMO considera ser “Razoável” o relacionamento entre deputados,
fundamentalmente, fora das sessões do plenário. Este grupo parlamentar
defende que tem se verificado muitas “conversas, trocas de impressões
fora da AR”. Enquanto isso, durante as sessões plenárias, este
relacionamento, segundo as suas palavras, “é manchado por intrigas e
acusações entre ambos”, eventualmente devido à influência da
“disciplina partidária” imposta pelos seus respectivos partidos.

Em suma, pode-se afirmar que, apesar de tudo, os deputados acreditam


que muito trabalho tem de ser feito para elevar o actual seu nível de
relacionamento, que, em muitos casos, se mostra turbulento.

5.6 A posição do deputado perante os actos governativos

O pronunciamento do deputado sobre os actos governativos, de um modo


geral, é regido por algum mecanismo interno de regulação. Este
mecanismo disciplinador pode funcionar ao nível de bancadas
parlamentares ou do Parlamento (Regimento interno). No caso
moçambicano, os dados mostram que, de acordo com os depoimentos
dos deputados, os seus pronunciamentos sobre os actos governativos são
regidos pela combinação entre o interesse do eleitorado, o regimento da
AR e a disciplina partidária.

O Gráfico 5.3 mostra a percepção dos deputados entrevistados perante


os actos do Governo, quer no parlamento como fora dele.
Gráfico 5.3: O pronunciamento do deputado sobre actos do governo rege-se por
80%

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0%
Nam pula Cabo Delgado Nias s a Zam béz ia
Dis c iplina P artidária 6% 22% 0% 21%
Regim ento da A r 25% 11% 75% 5%
Interes s e do eleitorado 69% 67% 25% 74%
P ens am ento indenpendente 0% 0% 0% 0%

115
De um total de 50 deputados, 58.7% defenderam que o seu
pronunciamento sobre os actos governativos é guiado pelo critério de
defesa de interesse do eleitorado19, contra o nulo registado na opção
“Pensamento independente”. Em segundo e terceiro lugares, ficaram os
critérios “Regimento da AR” (29.0%) e “Disciplina partidária” (12.25%),
respectivamente. Esta relação, no mínimo, mostra que não há um
pronunciamento que seja livre de pressões ou de orientações partidárias.
Por outro lado, isto significa que, em cada 10 deputados entrevistados, 6
defenderam que agem em defesa dos seus círculos eleitorais, 3
pronunciam-se seguindo o regimento da AR e 1 actuam de acordo com a
disciplina importa pelo seu partido.

Fazendo uma análise comparativa, facilmente se nota que a maioria dos


deputados se defende apontando o “Interesse do eleitorado”, como sendo
o móbil da sua acção. Esta opção é mais saliente em quase todas as
Províncias. Assim, a Zambézia está à frente com 74.0% de respostas,
seguida de Nampula, com 69.0%, e Cabo Delgado, com 67.0%. Niassa é a
Província que menos acredita nesta opção, pois apenas 25.0% de
deputados entrevistados é que se referiram aos interesses do eleitorado.

Caixa 5.6: Grau de satisfação das expectativas do eleitorado

O deputado consegue aperceber-se sobre o grau de satisfação das expectativas e


anseios do eleitorado através de diferentes mecanismos. Com efeito, as opiniões dos
deputados entrevistados foram variadas em função as cores políticas e local de
proveniência. Por exemplo, os deputados da FRELIMO sustentaram que conseguem se
aperceber deste facto através da acção do Governo, liderado pelo seu partido, tais
como a construção de infra-estruturas económicas e sociais especialmente as Escolas,
hospitais, estradas, entre outras áreas. Por seu turno, os deputados da Renamo-EU
afirmaram que testam as suas realizações perante as expectativas do eleitorado,
quando se deslocam aos respectivos círculos eleitorais, quer em missão de serviço ou
não. Nessas ocasiões, segundo os deputados desta bancada “os eleitores aparecem em
massa com ansiedade de ouvir as decisões tomadas na AR sobre os seus problemas
apresentados”.

Os deputados da oposição garantem que quase sempre “os eleitores nos exigem para
pressionarmos o Governo para dar resposta aos problemas da pobreza absoluta”. Um
deputado do círculo eleitoral de Nampula, disse que, muitas vezes, os eleitores
consideram que o deputado tem uma “varinha mágica” para dar respostas imediatas
aos problemas por eles apontados. Para elucidar a sua experiência, disse que, em
Intheta, testemunhou a morte de cidadãos por consumo de cogumelos devido à fome.
Na sua qualidade de representante do povo, contactou o então governador da
Província, Filipe Paúde que, de imediato, se deslocou ao local para confirmar o facto,
tendo mais tarde enviado produtos alimentares para minimizar a fome naquela zona.

19Este posicionamento não converge com o dos cidadãos entrevistados que consideram
que os deputados fazem-no na escrupulosa obediência das orientações partidárias.

116
No que toca ao “Regimento da AR”, os entrevistados de Niassa são os que
mais acreditam que esta modalidade é a mais dominante quando se faz o
pronunciamento dos actos do Governo. Com efeito, 75.0% dos deputados
entrevistados sustentaram esta opção, contra 5.0% de deputados de
Zambézia. Na zona intermédia situaram-se os deputados de Nampula
(25.0%), e Cabo Delgado (11.0%).

Por outro lado, os deputados de Cabo Delgado mostraram que partilham


a ideia de que o pronunciamento sobre os actos do Governo é regido pela
“disciplina partidária”. Com efeito, 22.0% dos entrevistados desta
Província defenderam esta modalidade, contra o nulo de Niassa. Depois
de Cabo Delgado seguem-lhe Zambézia (21.0%) e Nampula (6.0%).

Para os deputados da Frelimo, o seu pronunciamento sobre os actos do


Governo rege-se por “interesses do eleitorado”, alegadamente porque
“eles são dignos e legítimos representantes do povo que nos elegeu”. Ao
mesmo tempo, eles reafirmam a ideia de que as suas intervenções no
Parlamento reflectem as preocupações dos respectivos círculos eleitorais.

Por seu turno, os deputados da RENAMO-UE, na sua maioria, são de


opinião que o seu pronunciamento sobre os actos do Governo é regido
pela “Disciplina partidária”. Eles Acrescentaram também que, durante as
sessões partidárias, analisam os assuntos que o partido considerar de
interesse nacional. Eles afirmam que a diferença entre a sua bancada e a
da Frelimo reside no facto de “nós conseguirmos criticar e fiscalizar
pública e abertamente a acção governativa”. Esta posição é,
aparentemente, contrária a da Frelimo, pois, na opinião dos deputados
da RENAMO-UE aquela bancada “tem medo de falar por temer
represálias no Comité Central”.

Neste âmbito, uma deputada do círculo eleitoral da Zambézia sublinhou


que os deputados da Frelimo “têm medo de criticar os seus colegas,
membros do Governo, por temer os seus Chefes no partido e no Comité
Central”.

Em suma, pode-se afirmar que os deputados, a julgar pelas respostas


apresentadas, tentam mostrar que agem em plena defesa dos “Interesses
do eleitorado”, contrariamente a ideia e imagem negativa que eles têm
estado a transmitir ao cidadão na Assembleia da República.

5.7 O processo de tomada de decisões

O processo de tomada de decisões nos órgãos políticos colegiais está


rigidamente centralizado, tal como o demonstraram os cidadãos nos

117
capítulos precedentes. Todavia, os deputados entrevistados tendem a
contrariar esta assunção, apresentando quase sempre a retórica de estar
a defender os interesses do eleitorado.

5.7.1 Processo interno de tomada de decisões

O processo interno de cada grupo parlamentar da AR é determinado pela


combinação entre a defesa dos “interesses do eleitorado” e da “Disciplina
partidária”. De acordo com os deputados entrevistados, este é o
mecanismo que norteia o curso dos debates no Plenário da AR.

A Tabela 5.6 mostra os contornos do processo de tomada de decisões nas


bancadas parlamentares para influenciar o plenário da Assembleia da
República.

Tabela 5.6 As decisões nas bancadas para influenciar o plenário da AR são tomadas por imperativos de
Disciplina Interesse do Liberdade
Províncias Consenso Outras Total
Partidária eleitorado individual
Nampula 38.0 44.0 6.0 6.0 6.0 16
C. Delgado 44.0 56.0 0 0 0 9
Niassa 40.0 40.0 20.0 0 0 5
Zambézia 36.8 53.0 5.0 5.0 5.0 19
Total 19 24 3 2 1 49
% relação ao
39.0 49.0 6.0 4.0 2.0 100.
total

De um universo de 49 deputados entrevistados, constata-se que as suas


respostas estão, mais ou menos, dispersas, de tal modo que não
conseguiram ultrapassar a fasquia dos 50 por cento. Assim sendo, 49.0%
dos entrevistados apontaram a defesa do “Interesse do eleitorado” como o
principal mecanismo orientador usado no processo de tomada de
decisões nas bancadas, contra os apenas 2.0% daqueles que
consideraram que existem “Outras” motivações. No plano intermédio
figuram, 39.0% dos entrevistados que defenderam a “Disciplina
partidária” e “Consenso” com 39.0% e 4.08%, respectivamente, como
sendo o critério influenciador no processo de tomada de decisões.

Por outras palavras, isto significa que, em cada 10 deputados inquiridos,


havia 5 que defendiam o “Interesse do eleitorado” como o móbil principal
das suas decisões nas bancadas, 4 defendiam a “Disciplina partidária” e
1 estava dividido entre o “Consenso”, a “Liberdade individual” e “Outras”
opções.

Em termos comparativos, o cenário mostra que o argumento de defesa de


“Interesse do eleitorado” domina as respostas dos deputados de todas as

118
províncias onde o estudo teve lugar. A frente deste processo está a
Província de Cabo Delgado (56.0%), seguida de perto pela Zambézia
(53.0%). Nampula (44.0%) e Niassa (40.0%)% se posicionaram em
terceiro e quarto lugares, respectivamente.

Os defensores da vertente “Disciplina partidária” são liderados, mais


uma vez, pelos deputados de Cabo Delgado (44.0%), embora tenha tido
uma pequena ascendência sobre os de Niassa (40.0%). Nampula (38.0%)
e Zambézia (36.8%), ocuparam o terceiro e quarto lugares,
respectivamente. Por último, constata-se que o “Consenso” foi a opção
menos preferida pelos entrevistados, pois apenas 20.0% dos deputados
entrevistados em Niassa é que referiram a ele. Nas restantes províncias,
a resposta dos entrevistados foi marginal como a Tabela 5.6 ilustra.

Caixa 5.7: Processo interno de tomada de decisões

Em relação à pergunta sobre como são tomadas as decisões dentro dos partidos para
influenciar a Plenária da Assembleia da Republica, as respostas dos deputados
entrevistados foram distintas. Por exemplo, os deputados da Frelimo defendem que “as
decisões internas são tomadas em primeiro lugar nas reuniões do Partido”, através da
selecção dos assuntos mais importantes da vida dos eleitores.

Por seu turno, os deputados da Renamo-EU defendem que o processo interno de


tomada de decisões ocorre em sede própria, isto é, “ao nível da chefia do partido,
durante as reuniões e tendo em conta o interesse do eleitorado”. Um deputado do
círculo eleitoral de Niassa afirmou que as decisões são tomadas pelos órgãos do
partido, nomeadamente o Congresso, a Comissão Nacional, o Secretariado-Geral da
Renamo. No entanto, os deputados da RENAMO-UE, mais uma vez, deploraram a
atitude da FRELIMO, alegadamente, porque “todas as iniciativas apresentadas pela
RENAMO-UE são rejeitadas pela bancada maioritária por serem oposição”.

Todavia, importa salientar que a maioria de deputados entrevistados acha que este
tipo de questões deveria ser posta à chefia sua respectiva bancada, que, alegadamente,
conhece melhor os contornos do processo.

Neste contexto, os deputados da RENAMO-UE, num outro


desenvolvimento, disseram que as decisões que são tomadas nas duas
bancadas antes das sessões do plenário são determinadas pela
necessidade de defesa dos interesses partidários através da “disciplina
partidária”.

Todavia, reafirmaram que eles são o “espelho do partido em primeiro


lugar e escolhidos pelos seus eleitores”, daí que procuram defender os
seus interesses influenciando o plenário a fim de deliberar sobre as
preocupações do eleitor. Mais uma vez, eles recordaram que, devido a
sua inferioridade numérica na A.R, a “Frelimo sempre puxa para si o
protagonismo” na AR.

119
Em suma, importa sublinhar que, à semelhança de outras situações,
mais uma vez, os deputados foram quase unânimes em destacar que no
processo de interno de tomada de decisões não existe espaço para o
“Consenso” e “Liberdade individual”. Na opinião dos deputados, este
processo é dominado, alegadamente, pelo espírito de defesa de
“interesses do eleitorado”.

5.7.2
5.7.2 A toma de decisões nas comissões especializadas da AR

O processo de tomada de decisão nas comissões especializadas na AR


não é tão simples quanto possa transparecer. Nesta óptica, importa
salientar que este processo, na prática, mostra que tem estado a exigir
muita ponderação, avaliação sistemática dos custos e benefícios das
bancadas.

O aspecto mais saliente reside na dificuldade de se conseguir alcançar


facilmente os consensos necessários sobre as questões de interesse
nacional. Esta dificuldade prende-se, em parte, com a natureza e
composição das comissões especializadas. Com efeito, estas comissões
estão altamente politizadas e, por conseguinte, são regidas pela
combinação entre os princípios da disciplina partidária, do regimento da
AR, do consenso, entre outros.

O Gráfico 5.4 apresenta as opiniões dos deputados em relação aos


factores que influenciam a forma como são tomadas as decisões no seio
das comissões especializadas da Assembleia a Republica.

Gráfico 5.4: Factores determinantes nas Comissões Especializadas da AR


100%

90%

80%

70%

60% Outros
Conc ens o
50%
Regime da Ar
40% Dis c iplina P artidária

30%

20%

10%

0%
Nampula Cabo Nias s a Zambéz ia Total
Delgado

120
De um universo de 45 deputados, que acederam ser entrevistados de
uma amostra de 50, constata-se que a maioria tem a convicção de que o
processo decisório nas comissões especializadas da AR tem sido
fortemente influenciado pela “disciplina partidária”.

Com efeito, 49.0% dos entrevistados reafirmaram que a filosofia de


“Disciplina partidária” domina e influencia os debates nas comissões
especializadas, contra apenas 2.0% daqueles que não põem de parte o
recurso de “Outros” critérios. Enquanto isso, 35.0% dos deputados
entrevistados defenderam o uso do “Regimento da AR” como guia
orientador dos debates. Em terceiro lugar, destacou-se um grupo de
deputados que defendeu o recurso ao “Consenso” (14.0%).

A filosofia de “Disciplina partidária” foi nota dominante na opção dos


deputados de quase todas as províncias. Os entrevistados de Cabo
Delgado lideram o grupo com 61.0%, seguidos de Niassa (50.0%). Os
deputados de Nampula e Zambézia não foram para além da fasquia de
40 por cento, com 43.0% e 41.0%, respectivamente.

Por seu turno, entre os deputados que apontaram o Regimento da AR,


destacam-se, com alguma ascendência, os de Niassa, pois, 50.0% dos
entrevistados acreditam que esta tem sido a opção mais influente nos
debates. Nas posições seguintes ganharam notoriedade os deputados de
Zambézia (35.0%) e Nampula (31.0%). Cabo Delgado, com apenas 25.0%
dos entrevistados, quedou-se em último lugar, ou seja, são os que menos
acreditam na influência deste instrumento orientador”.

Caixa 5.8: Consensos vs disciplina partidária

A tónica crítica dos deputados entrevistados da bancada da Renamo-EU, sobre


comissões especializadas refere que as decisões são tomadas, geralmente, por
influência da “disciplina partidária” e poucas vezes por “Consenso”, em que a ditadura
do voto da maioria é nota dominante. Segundo eles, os deputados da FRELIMO nas
comissões especializadas impõem que a matéria em análise seja elevada ao plenário.
Esta estratégia tem sido usada muitas vezes como instrumento de “quebra impasses
prolongados” que se registam nas comissões especializadas.

Por seu turno a Renamo-EU acusa sistematicamente a FRELIMO de estar a criar


dificuldades no processo democrático. Por exemplo, eles salientam que este partido no
poder “tem imensas dificuldades de perceber que o país está a viver no sistema
democrático e multipartidarismo”. O partido maioritário é acusado pelos deputados da
RENAMO-UE de ser “imprevisível, alegadamente, porque sempre que se discute uma
dada matéria tudo pode acontecer. Na sua opinião, mesmo quando se alcança algum
consenso, “tudo fica estragado e adulterado por influência do Comité Central”. Nestas
condições o assunto acaba sendo encaminhado para a sessão plenária onde acaba
sendo aprovado por força da ditadura do voto da maioria.

121
Enquanto isso, os deputados de Nampula (25.0%) lideram o grupo de
entrevistados que mais acredita no “Consenso” como meio usado. Esta
posição, todavia, não é partilhada pelos entrevistados de Niassa, pois não
foi equacionada. A Zambézia (18.0%) e Nampula (13.0%), de alguma
forma, se referiram ao papel do consenso no processo decisório.

Em suma, constata-se que o processo de tomada de decisão nas


comissões especializadas na AR é complexo. O espírito de defesa
intransigente de interesses partidários domina os debates que culminam
com decisões pouco consensuais. A natureza, a composição e a filosofia
de trabalho das comissões especializadas dificultam, de certa forma, a
produção de consensos sobre assuntos de interesse nacional.

5.7.3 O impacto das


das decisões da AR

A percepção dos deputados de ambas bancadas sobre esta matéria é


unânime e salienta que tem sido mais de carácter “político/técnico”. Na
perspectiva dos deputados entrevistados, o impacto das decisões
tomadas na AR, depois de longos e polémicos debates, é
predominantemente “Político/técnico”.

A Tabela 5.7 ilustra o grau de percepção dos deputados sobre o efeito das
suas decisões tomadas na AR.

Tabela 5.7. Qual é efeito das decisões tomadas na AR?


Político/
Províncias Político Técnico Não sabe Total
técnico
Nampula 25.0 6.0 69.0 0 16
Cabo Delgado 33.0 11.0 56.0 0 9
Niassa 60.0 0 40.0 0 5
Zambézia 35.0 10.0 55.0 0 20
Total 17 4 29 0 50
% em relação ao total 38.0 7.0 55.0 0.0 100

A Tabela 5.7, acima, ilustra o posicionamento de um pouco mais de 50


por cento de deputados entrevistados que admitem, de forma inequívoca,
que o efeito das suas decisões não sai da esfera política e técnica. Neste
contexto, 55% dos entrevistados são de opinião que o efeito das decisões
tomadas no Parlamento são mais de carácter “Político/técnico”, contra
apenas 7.0% daqueles que apontam mais para o carácter “Técnico”. A
consubstanciar o que foi referido, constata-se que 38.0% dos
entrevistados defendem que as suas decisões na AR produzem mais um
efeito de carácter “Político”. Por outras palavras, isto significa que, em

122
cada 10 deputados entrevistados, 6 defendiam o carácter “Político e
técnico” e os restantes 4 sustentavam apenas carácter “Político”.

Os deputados entrevistados de quase todas as províncias são unânimes


em afirmar que as decisões tomadas no Parlamento são de carácter
“Político/técnico”. Os entrevistados de Nampula (69.0%) lideram os
defensores desta opinião, contra 40.0% de Niassa. Nas posições
subsequentes figuram os entrevistados de Nampula (56.0%) e de Cabo
Delgado (55.0%), que, como se pode constatar, estão separados apenas
por 1.0%. Enquanto isso importa sublinhar que os deputados de Niassa
(60.0%) se mostraram ser os que mais acreditam no carácter “Político”
das suas decisões, contra os de Nampula (25.0%). Depois de Niassa,
seguem-lhe Zambézia (35.0%), e Cabo Delgado (33.0%).

Caixa 5.9: Auto-


Auto-avaliação do deputado

A maioria dos deputados avalia positivamente o seu próprio desempenho na AR. Os


deputados da FRELIMO sentem-se realizados porque conseguem trazer para o
Parlamento e apresentam ao Governo os problemas e preocupações principais do
eleitor. Eles referem que, apesar das dificuldades conjunturais enfrentadas pelo país,
têm conseguido dar resposta a algumas questões essenciais, como sejam a construção
de Escolas, Postos de Saúde, estradas, pontes e outras. Por seu turno, os deputados
da Renamo-EU mostraram-se cauteloso em avaliar o seu trabalho. Isto se prende com
o facto de alguns deputados entrevistados estarem a viver uma nova experiência20.
Contudo, sublinharam que as dificuldades em meios de transportes e comunicações,
bem como os de cariz financeiro, dificultam o bom desempenho das suas actividades.
Os deputados deste grupo parlamentar lamentaram o facto de a bancada da FRELIMO
estar a rejeitar permanentemente “todas as ideias apresentadas pela bancada da
RENAMO-UE” por alegadamente ser da oposição. Enfatizaram que a FRELIMO,
todavia, “não compreende o papel que a oposição desempenha no desenvolvimento do
País, particularmente da democracia”.

Um deputado da Zambézia apontou como exemplo negativo o facto de na sua zona os


deputados da oposição não serem respeitados pelas autoridades Administrativas locais
(Líderes Comunitários e Milícias). Muitas vezes, quando vão aos círculos eleitorais para
trabalhar devem ser portadores de “Guia de Marcha” emitida pelo Governador, sob
pena de sofrer insultos ou humilhações protagonizadas por estas. Lamentaram,
igualmente, o facto de, muitas vezes, a FRELIMO instar as populações para não
acatarem as ideias ou opiniões apresentadas pela oposição, ou obrigar os eleitores a
inscreverem-se naquele partido.

Finalmente, importa sublinhar que os parlamentares entrevistados equacionaram o


actual estágio da democracia para sustentar que os seus “trabalhos na AR decorrem
de forma positiva”.

20 É de referir que os deputados entrevistados pela bancada da Renamo foram


apontados pela sua respectiva chefia de bancada. Isto mostra, mais uma vez, a
influencia da “disciplina partidária” no seio dos deputados.

123
Neste contexto, os deputados das duas bancadas convergem quanto ao
carácter “Político/técnico” das suas decisões. Os parlamentares
entrevistados reconheceram, igualmente, que, apesar de morosidade,
algumas decisões reflectem e coincidem com as aspirações do eleitorado.
Os deputados destacam a resolução de alguns problemas básicos da
população, tais como a construção de escolas, hospitais, estradas,
abertura de furos de água, entre outros.

Em síntese os deputados entrevistados avaliaram de forma positiva o seu


desempenho, não obstante as dificuldades de percurso que se
apresentam por causa da falta de recursos materiais e financeiros.

5.8 Considerações gerais

No exercício das suas actividades os deputados enfrentam de


dificuldades, que influenciam negativamente os seus desempenho junto
do eleitorado. A falta de transportes e comunicações e a escassez de
recursos (financeiros e materiais) são os principais obstáculos que
condicionam a interacção entre deputados e círculos eleitorais. Todavia,
eis alguns aspectos importantes:

 Os deputados enalteceram que o relacionamento entre as duas


bancadas está muito longe de ser o “ideal ou desejável”,
essencialmente porque é dominado por um clima de tensão e de
conflito;

 a interacção entre deputados e círculos eleitorais é fraco e está


condicionado aos recursos disponibilizados pelo parlamento. Todavia,
os deputados reconhecem que ainda há desafios por ultrapassar;

 o critério de “Disciplina partidária” domina o relacionamento


interpessoal dos deputados da AR, em detrimento do “Interesse do
eleitorado”. Contudo, os deputados salientam que apesar disso a
atmosfera que caracteriza e domina a sua convivência é normal e
salutar;

 o processo de tomada de decisões está rigidamente centralizado. Por


exemplo, em cada bancada a disciplina partidária constitui a voz do
comando para a atitude e comportamento dos deputados. Este
cenário replica-se nas comissões especializadas da AR; e

 os deputados destacam que no processo de interno de tomada de


decisões dificilmente se alcançam “Consenso”, assim como a
“Liberdade individual” do deputado devido a disciplina partidária.

124
6. Conclusões
Conclusões e recomendações
recomendações

O estudo apresenta as principais percepções os entrevistados entre os


cidadãos comuns e deputados da Assembleia da República (AR). Os
entrevistados convergem nalguns aspectos e divergem noutros o que
torna interessantes os relutados do estudo. Sendo assim, eis as partes
significativas das constatações que a obra apresenta:

 O estudo mostra que a Província do Niassa, devido as suas


especificidade registou um índice elevado de desinteresse pela
política (55.0%). Todavia, a maioria esmagadora de entrevistados
em todas as províncias apresentam um “forte o interesse pelas
actividades políticas” (63.2%). Este cenário revela que a maioria de
cidadãos não está totalmente alheios aos acontecimentos políticos
em curso no país, particularmente, a democratização.

 A pesquisa aponta que mais de 60.8% de entrevistados de todas as


províncias abrangidas pelo estudo acredita os pleitos eleitorais
constituem uma janela de oportunidade para a alteração de algo
nas suas vidas e das suas respectivas famílias;

 A maioria esmagadora de cidadãos entrevistados (70.7%) apresenta


uma visão sólida sobre a composição e papel da Assembleia da
República. No entanto, Niassa, mais uma vez, é a única província
onde se registou uma clara divisão de opiniões no seio dos
entrevistados em relação ao conhecimento da existência da AR.
Com efeito, 55.0% de entrevistados conheciam a AR, contra 40.0%
de entrevistados não conheciam.

 Os dados revelam que a maioria das pessoas entrevistadas nas


quatro províncias (65.7%) sabia que a função primordial da
Assembleia da República como órgão mais alto da legislatura
moçambicana. Isto revela que algo tem sido feito no âmbito de
promoção e consolidação da democracia no país. Todavia, em
Niassa havia uma divisão clara de opiniões em relação a estas
matérias em que somente 51.0% é que conhecia a função
fundamental da AR, contra 49.0% daqueles que desconheciam;

 O estudo revela que em Niassa somente 51.0% de entrevistados é


que sabia distinguir, claramente, o Executivo do Parlamento.
Enquanto isso, um número significativo de entrevistados (59.0%)
sabia estabelecer a diferença entre o Governo da Assembleia da
República; e

125
 O estudo mostra que a maioria dos entrevistados (72.0%) conhecia
o real significado de ser deputado como representante do povo.

 As percepções da maioria (74.7%) dos entrevistados apontam para


um relacionamento intra-parlamentar normal e guiado por um
espírito de coexistência pacífica e de interdependência mútua. Os
inquiridos acreditam que o relacionamento entre a Frelimo e a
Renamo-EU parlamentares seja normal num mundo político de
constatante competição pelo poder e pelo protagonismo;

 A maioria dos entrevistados (68.7%) admite que o nível de


relacionamento institucional entre as duas bancadas seja
animador, mas é, essencialmente, baseado no espírito de
compromisso. Este cenário é produto da existência de relações de
conflitualidade, de tensão e às vezes de crise entre as bancadas da
Frelimo e da Renamo-EU.

 A maioria esmagadora de entrevistados (80.0%) acredita que,


apesar das diferenças ideológicas e de visão entre os deputados,
eles conseguem sustentar relações interpessoais e humanas de
bom nível. Este facto mostra que há algum espírito de respeito e de
reconhecimento mútuo entre os deputados.

 O estudo permite apreender que a maioria dos entrevistados de


todas províncias estavam basicamente divididos em dois grupos
quanto as razões que influenciam a atitude e comportamento dos
deputados na AR. Para eles, o debate na AR tem sido influenciado
por dois factores essenciais: a “Disciplina partidária” (40.75%) e
“Interesse do eleitorado” (30.75%). Este facto revela que os
interesses partidários e do eleitorado tendem a determinar o rumo
das discussões na AR.

6.1 Algumas recomendações

A avaliar pelas percepções dos entrevistados o reforço da democracia


representativa exige a participação directa e consciente do cidadão
eleitor. O eleitorado não deve servir apenas de “viveiro de votos” para
alimentar os pleitos eleitorais. O cidadão eleitor e o deputado devem unir
esforços no pensamento e no plano prático, constituindo uma alavanca
impulsionadora da democracia participativa. O cidadão deveria, assim,
neste processo apropriar-se gradualmente dos processos políticos o que
poderia contribuir incrementar os índices de confiança e de legitimidade
dos representantes dos povos - parlamentares - aos olhos daqueles. Por

126
outro lado, o cenário do cepticismo em relação ao trabalho dos
deputados e a abstenção eleitoral poderia ganhar outros contornos.

Neste contexto, seria pertinente introduzir alteração de alguns aspectos


práticos de procedimento que se verificam presentemente na interacção
entre o eleitorado e os deputados da AR, particularmente, dos círculos
eleitorais cobertos pela pesquisa:

 Os grupos parlamentares deveriam esforçar-se em assegurar um


“equilíbrio mínimo necessário” entre os princípios de disciplina
partidária e de defesa de interesses do eleitorado. Este equilíbrio
poderia contribuir para melhorar a actual percepção negativa do
deputado junto do eleitorado;

 As entidades competentes deveria esforçar-se no melhoramento das


condições de trabalho dos deputados nos seus respectivos círculos
eleitorais (transportes e comunicações);

 O contacto entre o deputado e cidadão eleitor deveria transcender os


períodos de campanhas eleitorais, pois é imperativo que a presença
do deputado no seu circulo eleitoral seja de caracter permanente;

 A abordagem de assuntos de interesse nacional deveria ser produto


de decisões consensuais, por forma a reforçar a legitimidade dos
decisores e a credibilidade das leis aprovadas aos olhos dos cidadãos;

 Os deputados e as suas respectivas chefias de bancadas deveriam


lutar por tornar o seu relacionamento “ideal e/ou desejável”,
caracterizado por um clima de cooperação e compreensão mútua em
defesa dos interesses do eleitorado; e

 Os deputados deveriam lutar por reduzir aos índices mínimos do


clima de tensão e de conflito que actualmente domina o
relacionamento intraparlamentar. Assim, poderia contribuir para
reforçar a actual atmosfera, que é menos má, em direcção a criação
de um mecanismo apropriado de uma convivência interdependente.

Finalmente, importa enfatizar que caso ocorram algumas mudanças no


seio dos deputados e suas respectivas bancadas na filosofia e
mecanismos de articulação entre si e com o eleitorado acredita-se que o
eleitor poderia deixar de ser tomado como “objecto de cobiça” durante os
pleitos eleitorais. Ele poderia passar ser considerado como um agente e
sujeito activo de mudanças e imprescindível na promoção da cidadania
nacional através dos processos de alargamento e implementação dos
princípios da democracia participativa.

127
7. Referência bibliográfic
bibliográfica

- Assembleia da República (2004). Regimento da Assembleia da


República. Maputo.

- Anchieschi, Lucrecia e Santos, Luciano Pereira (2004). Policidadania:


Pollítica e Cidadania. São Paulo, Paulinas;

- Brazão, Mazula (2006). Voto e Urna de Costas Voltadas: Abstenção


Eleitoral 2004. Maputo, Imprensa Universitária.

- STAE (2006). Eleições Autárquicas 2002. Maputo.

- STAE (2006). Eleições Gerais 2004. Maputo.

Documentos

- Constituição da República de 2004. Maputo

- Governo provincial de Cabo Delgado (2001). Plano Estratégico de


Desenvolvimento 2001 – 2005. Pemba, Fevereiro de 2001.

- Governo Provincial de Nampula (S/ano). Plano Estratégico de


Desenvolvimento da Província de Nampula 2003 – 2207. Maputo.

- MAE (2002). Folha Informativa dos Municípios II. Maputo, Junho de


2002, MAE.

- MAE (2004). Perfil de Dirigentes dos Órgãos Locais do Estado em


Moçambique. Maputo.

128
8. ANEXOS

8.1 Anexo
Anexo I: Questionário 1 (Deputados)

QUANTITATIVO E QUALITATIVO
Província (Círculo Eleitoral) Ocupação Idade Sexo

O questionário está dividido em duas partes onde na parte I, trata de


perguntas fechadas e a parte dois trata de perguntas abertas.

PARTE I. QUANTITATIVO

1. As grandes dificuldades que os deputados encaram no âmbito das


suas actividades são de carácter?

a) Financeiro b) Relacionamento c) Material

d) Transporte/comunicação

Comentário____________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

2. O relacionamento institucional entre as bancadas da Frelimo e


RENAMO-UE é?

a)Excelente b)Bom c)Razoável d)Mau

Comentário____________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

3. O relacionamento institucional entre as bancadas da Frelimo e


RENAMO-UE é de?

a) Cooperação b) Conflito c) Tensão d) Crise


Comentário____________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

4. A interacção entre deputados e seus círculos eleitorais é?

a) Excelente b) Bom c) Razoável d) Mau

129
Comentário____________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

5. O contacto entre deputados e seus círculos eleitorais é?

a) Fácil b)Difícil c) Normal d) Outra

7. O relacionamento entre os Deputados da Assembleia da República


é moldado por?

a) Disciplina partidária a) disciplina parlamentar

c) Interesses do eleitorado d) Outros

Comentário____________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

6. O nível de relacionamento entre os Deputados da Assembleia da


República é?

a) Excelente b)Bom c) Razoável d)Mau

Comentário____________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

7. O pronunciamento do deputado sobre os actos do governo rege-se


por:

a) Disciplina partidária a) disciplina parlamentar

c) Interesses do eleitorado d) pensamento independente

Comentário____________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

8. As decisões nas bancadas para influenciar o plenário da


Assembleia da República são tomadas tomando por imperativos de:

a) Disciplina partidária b) Interesse do eleitorado c)

Consenso d) Liberdade Individual d) outras

130
Comentário____________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

9. As decisões nas Comissões Especializadas da Assembleia da


República são tomadas por influencia de:

a) Disciplina partidária b) Disciplina parlamentar

c) Consenso d) outros

Comentário____________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

10. Qual é o efeito das decisões tomadas no parlamento depois dos


debates?

a) Político b)Técnico Político/técnico Não sabe

Comentário____________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

PARTE II. QUALITATIVO

1. De que forma, como deputado, consegue perceber que a sua tarefa


responde aos anseios do eleitorado?

Comentário____________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

2. Acha importante haver encontros inter partidários, incluindo os


partidos sem assento na Assembleia da República para discutir
assuntos nacionais?

Comentário____________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

131
3. Como são tomadas as decisões internas dos partidos para
influenciar na Assembleia da República?

Comentário____________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

4. Quais são os períodos que, como deputado, têm contactado o seu


circulo eleitoral e o eleitor?

Comentário____________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

5. Que tratamento dá as questões que lhe são apresentadas pelo seu


circulo eleitoral

Comentário____________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

6. Que avaliação faz do seu trabalho

Comentário
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

Observações
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

Preenchido por: ____________________ Data:_______________

132
8.2 Anexo II: Questionário 2 (Cidadãos comuns)

Quantitativo e qualitativo
Província Distrito Ocupação Idade21 Sexo

O questionário está dividido em duas partes onde na parte I trata de


perguntas fechadas e a parte dois trata de perguntas abertas.

PARTE I. QUANTITATIVO

1. Tem algum interesse por questões políticas?

a) Sim b) Não c) Nem sempre

Comente______________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

2. As eleições mudam alguma coisa na sua vida?

a) Sim b) Não c) Não sei

Comente_______________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

3. Conhece a Assembleia da República

a) Sim b) Não c) Outros

Comente_______________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

4. A Assembleia da República tem a função de:

a) Fazer leis do país b) Administrar a justiça no país


c) Promover o desenvolvimento económico do país

Comente
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

21
As pessoas inquiridas devem ter idade superior a 18 anos

133
5. Conhece a diferença entre o Governo e a Assembleia da
República?

a) Sim b) Não c) Outros

Qual (Comente)________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

6. Sabe porque se diz que o Deputado é o representante do povo?

a) Sim b) Não c) Outros

Comente_______________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

7. A relação de trabalho na AR entre as bancadas da Frelimo e


RENAMO-UE é:

a)Excelente b)Boa c)Razoável d)Má

Comentário _______________________________________________________
_______________________________________________________________
__________________________________________________________________

8. O relacionamento institucional entre as bancadas da Frelimo e


RENAMO-UE na AR é de:

a)Cooperação b)Conflito c) Tensão d) Crise

Comentário _______________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

9. Os debates da Assembleia da República têm carácter de:

a) Disciplina Partidária b) Disciplina Parlamentar

C) Interesses do eleitorado d) Outros

134
10. O nível de relacionamento entre os Deputados da Assembleia da
República é:

a) Excelente b) Bom c) Razoável d) Mau

Comentário____________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

PARTE II. QUALITATIVO

1. Em que medida os trabalhos dos deputados ajudaram a melhorar a


sua vida?

Comente_______________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

2. Como tem sentido a presença do deputado no seu distrito?

Comente_______________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

3. Os assuntos que se discutem na Assembleia da República


reflectem as suas preocupações?

Comente_______________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

4. Quais são os trabalhos que os Deputados fazem que tenham um


impacto no seu distrito?

Comente_______________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

5. O que espera dos deputados para melhorar a sua vida

Comente_______________________________________________________________

135
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________

Observações___________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________

Preenchido por:________________________________ Data: _________________

136

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