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Lei t o r p r o s s um ido r
Desafios da ubiquidade
para a educação
O MAIOR DELES É A CRIAÇÃO DE ESTRATÉGIAS DE INTEGRAÇÃO – E NÃO DE SUBSTITUIÇÃO –
DOS QUATRO TIPOS DE LEITORES: CONTEMPLATIVO, MOVENTE, IMERSIVO E UBÍQUO
O
objetivo deste artigo é perscrutar o perfil cog- consumidor de textos multimídia) é esse que hoje
nitivo do usuário que navega pelas arquitetu- transita pelas redes? Creio que essa questão é fun-
ras líquidas informacionais do ciberespaço. Tanto damental para se pensar quaisquer projetos que
quanto posso ver, o cerne da questão da aprendi- visam introduzir a utilização das redes informacio-
zagem e da aquisição de conhecimento localiza- nais para incrementar processos educativos em
se, antes de tudo, na figura do leitor, no perfil cog- quaisquer de seus níveis. É para a discussão des-
nitivo do leitor. Que leitor prossumidor (produtor e sa questão que este artigo está dedicado.
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esde os livros ilustrados e, depois, com os dar conta disso. Consequentemente, não há por
jornais e revistas, o ato de ler passou a não que manter uma visão purista da leitura restrita à
se limitar apenas à decifração de letras, decifração de letras. Do mesmo modo que, desde
mas veio também incorporando, cada vez mais, o livro ilustrado e as enciclopédias, o código escri-
as relações entre palavra e imagem, entre o tex- to foi historicamente se mesclando aos desenhos,
to, a foto e a legenda, entre o tamanho dos tipos esquemas, diagramas e fotos, o ato de ler foi igual-
gráficos e o desenho da página, entre o texto e mente expandindo seu escopo para outros tipos
a diagramação. Além disso, com o surgimento de linguagens. Nada mais natural, portanto, que
dos grandes centros urbanos e com a explosão o conceito de leitura acompanhe essa expansão.
da publicidade, a escrita, inextricavelmente unida
à imagem, veio crescentemente se colocar dian- Três tipos de leitores
te dos nossos olhos na vida cotidiana. Isso está Em uma pesquisa realizada há alguns anos,
presente nas embalagens dos produtos que com- depois transformada em livro (SANTAELLA,
pramos, nos cartazes, nos pontos de ônibus, nas 2004), tendo como objetivo compreender o novo
estações de metrô, enfim, em um grande número tipo de leitor que emergiu com as redes de comu-
de situações em que praticamos o ato de ler de nicação planetárias, leitor que passei a chamar de
modo tão automático que nem chegamos a nos imersivo, ao aplicar o princípio da generalização,
em plena era da mobilidade, que também chamo logo cedeu passagem para a Web 2.0, também
de tecnologias comunicacionais da conexão contí- chamada de Web colaborativa na qual emergiram
nua constituídas por uma rede móvel de pessoas e as Wikis, as redes sociais, junto com o crescimen-
de tecnologias nômades que operam em espaços to gigantesco do Google. Foi nesse período que
físicos não contíguos. surgiram novos processos de aprendizagem aber-
Essas tecnologias estão gestando novas sub- tos, nos quais “os problemas são compartilhados
jetividades em contínua mutação, subjetividades e resolvidos de forma colaborativa”, formas pro-
autoprogramáveis, dotadas de meios para repen- fundamente distintas “da lógica do conhecimento
sar de modo intermitente suas falhas e compe- individual e autoral desenvolvida pela cultura tipo-
tências, seus limites e suas expectativas. Isto por- gráfica” e, em parte, pela acadêmica (DI FELICE,
que tecnologias da inteligência estão se tornando 2009, p. 30).
cada vez mais maleáveis e aptas para dar abrigo a
subjetividades em construção no contexto de co-
munidades adaptativas (para mais detalhes, ver
SANTAELLA, 2010, p.263-296).
P rocessos de aprendizagem abertos significam
processos espontâneos, assistemáticos e mes-
mo caóticos, atualizados ao sabor das circunstân-
cias e de curiosidades contingentes. O advento dos
Aprendizagem ubíqua dispositivos móveis intensificou esses processos,
Entre outros aspectos derivados das condições pois, graças a eles, o acesso à informação tornou-
propiciadas pelas tecnologias do acesso e da co- se livre e contínuo, a qualquer hora do dia e da noite.
nexão contínua, notáveis são aqueles que afetam Dispositivos móveis são definidos como qualquer
diretamente as formas de educar e de aprender. equipamento ou periférico que pode ser transpor-
Tenho chamado de “aprendizagem ubíqua” as tado com informação que fique acessível em qual-
novas formas de aprendizagem mediadas pelos quer lugar. São eles, palms, lap-tops, i-pads, até
dispositivos móveis. Quais são as características mesmo os pendrives e, certamente, os celulares
emergentes dessa modalidade de aprendizagem? multifuncionais, tais como smart-phones e i-pho-
Desde o surgimento das redes de informação nes. Por meio desses dispositivos, que cabem na
alimentadas pela internet e baseadas em nós in- palma de nossas mãos, à continuidade do tempo
terligados, por mim denominadas de tecnologias se soma a continuidade do espaço: a informação
do acesso, a aprendizagem ubíqua já havia co- é acessível de qualquer lugar. Os artefatos móveis
meçado a se insinuar graças às vantagens que as evoluíram nessa direção, tornando absolutamente
redes apresentam em termos de flexibilidade, ve- ubíquos e pervasivos o acesso à informação, a co-
locidade, adaptabilidade e, certamente, de acesso municação e a aquisição de conhecimento.
aberto à informação. Conhecido como Web 1.0, Por permitir um tipo de aprendizado aberto,
esse foi o período dos sites, dos chats, dos e-mails, que pode ser obtido em quaisquer circunstân-
dos fóruns e das buscas ainda dificultosas, pois cias, a era da mobilidade inaugurou esse fenô-
não se contava na época com motores de bus- meno inteiramente novo: a aprendizagem ubí-
ca tão sofisticados quanto os atuais. Esse período qua. Ela não se confunde com nenhuma forma
de aprendizagem existente até hoje, nem com a Quando passamos para a educação a distân-
e-learning, que se pode traduzir por aprendiza- cia, creio que uma reflexão é indispensável. Cos-
gem em ambientes virtuais. Embora tenha paren- tuma-se chamar de educação a distância todas as
tesco, também não se confunde com o que vem formas de aprendizagem que vieram depois dos
sendo chamado de m-learning, ou seja, aprendi- meios de comunicação de massa, quais sejam,
zagem móvel. Mas esta afirmação exige distinções o e-learning e o m-learning. Embora o uso da ex-
mais pormenorizadas. pressão educação a distância seja convencional-
mente aceito para caracterizar todas as formas de
Tecnologias e modelos ensino-aprendizagem por meios digitais, discordo
educacionais dessa generalização, pois ela, mais uma vez, deixa
Embora seja amplamente empregado entre os de lado distinções que precisam ser consideradas.
especialistas em educação, o uso da expressão Creio que é apenas ao modelo educacional próprio
TIC é genérico e oculta, por trás dessa generalida- das mídias massivas que cabe com justeza o título
de, sutis e importantes distinções que devem ser de educação a distância, tal como esta é operada
estabelecidas entre os diversos tipos de tecnolo- via rádio, telecursos, vídeo e outras vias similares.
gias de informação e comunicação. As distinções Isto porque nesses casos, de fato, trata-se de uma
são importantes na medida em que cada novo educação que se processa a distância, o que não é
estágio tecnológico introduz um modelo educa- o caso quando o computador entra em cena, uma
cional e processos de aprendizagem que lhe são vez que, cada vez mais, a ubiquidade está se tor-
próprios, a saber: nando uma constante, afastando decididamente
a ideia de distância.
processos baseados na tecnologia do livro;
a educação a distância;
aprendizagem em ambientes virtuais;
aprendizagem móvel;
É justamente em razão da ubiquidade computa-
cional que não cabe mais o nome de educação
a distância, pois um dos aspectos mais primordiais
aquilo que estou chamando de das mídias digitais encontra-se na abolição da dis-
aprendizagem ubíqua. tância e na paradoxal simultaneidade da presença
e ausência, presença ausente, ou ausência pre-
Cada um desses processos origina um mode- sente que essas mídias ensejam. Portanto, a esse
lo educacional que lhe é característico. O modelo modelo educacional cabem muito mais as expres-
que nasce das mídias impressas, que também sões “educação on-line” ou ambientes virtuais de
pode ser chamado de modelo gutenberguiano, é aprendizagem (AVA), também conhecidas como
aquele que forjou o conceito tradicional de educa- e-learning. Este conceito já apareceu nas déca-
ção baseado na legitimidade da linguagem escrita das de 1970-80, junto com o advento da cultura
e de seu veículo privilegiado, o livro impresso. do computador, trazendo consigo infraestruturas
É provável que, do ponto de vista educativo, me- favorece a emergência de práticas de autoforma-
diar, na era das tecnologias digitais, implique en- ção. Entretanto, é muito instável o equilíbrio entre
frentar o desafio de se mover com engenhosidade a difusão indiscriminada da informação no cibe-
entre a palavra e a imagem, entre o livro e os dispo- respaço e a construção individualizada do conhe-
sitivos digitais, entre a emoção e a reflexão, entre cimento. O universo das redes é um espaço em
o racional e o intuitivo. Talvez o caminho seja o da constante mutação, dispersivo e assistemático. O
integração crítica, do equilíbrio na busca de propos- que ele tem de positivo, a oferta desmedida de in-
tas inovadoras, divertidas, motivadoras e eficazes. formação que pode potencializar a aprendizagem,
é contrabalançado, no outro extremo, pela ausên-
Ora, cada tipo de leitor implica formas de apren- cia de orientação, cujos efeitos negativos atingem
dizagem específicas com potenciais e limites que particularmente aprendizes ainda imaturos. Loca-
lhes são próprios. Por isso mesmo, a educação a lizar conteúdos nas redes está se tornado cada vez
distância não substitui inteiramente a educação mais refinado. Entretanto, localizar não prescinde
gutenberguiana, assim como a aprendizagem da capacidade seletiva, avaliativa e da utilização
em ambientes virtuais não substitui ambas, tanto eficaz dos conteúdos.
quanto a aprendizagem ubíqua não é capaz de Sem o suporte da formação, que só a educa-
substituir quaisquer dessas formas anteriores. Ao ção formal pode fornecer, torna-se difícil avaliar
contrário, todas elas se complementam, o que tor- rapidamente o resultado de uma busca, “incluin-
na o processo educativo muito mais rico. do a confiabilidade, a autoria e a aceitação geral
da fonte” (WARSCHAUER, 2006, p. 157). Como
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