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http://cvc.instituto-camoes.pt/decadas/anos-60.html#.WomfbKhl_IU
A ditadura protagonizada por Salazar, quer se considere ou não que foi uma
ditadura fascista, foi talvez menos feroz e menos espetacular que as suas
congéneres europeias, mas foi também muito mais longa (1926-1974) e não
menos castradora em relação a todos os aspetos do desenvolvimento
económico, social e cultural de Portugal. Salvo momentos de exceção limitados
no tempo, foi um período em que predominou uma atitude oficial de isolamento
em relação às correntes que, a nível internacional, iam fazendo a história da
modernidade.
Joaquim Bravo, com formação literária, tal como Álvaro Lapa e António Areal,
estende a sua atividade artística à pintura, escultura e desenho, produzindo,
nos anos 60, uma assinalável série de esculturas.
Um filão reportável ao ambiente pop, entendido em sentido lato - incluindo o
"nouveau réalisme" e a "figuração narrativa" - permite-nos citar em conjunto os
trabalhos realizados em finais de 60 e começos de 70 por autores como
Lourdes Castro, René Bertholo, Costa Pinheiro, António Palolo ou Eduardo
Batarda, que depois evoluíram em direcções bem diferenciadas. Lourdes
Castro, René Bertholo, Costa Pinheiro, Escada e João Vieira, em conjunto com
Christo e Jan Voss, formaram, em Paris, o grupo KWY (Ka Vamos Yndo) e
lançaram uma revista homónima, cujas soluções estéticas foram apresentadas
numa exposição coletiva na Sociedade Nacional de Belas Artes, em 1960.
Ainda nesta linha pop podemos enquadrar a obra de Ruy Leitão, geralmente
sobre papel, de cores vivas, com repetições de elementos, originando um rico e
pessoal universo pictórico, que seria interrompido pela sua precoce morte em
1976. António Charrua, após uma fase de tendência expressionista, opta pela
associação da cor e formas abstratas.
Rolando Sá Nogueira, pintor já ativo nos anos 50, período em que optou por
um figurativismo de certo modo naif, enveredou, na década de 60, pela estética
pop, na sequência da sua estadia em Londres (1961-1964), realizando
colagens de grande liberdade plástica.
Os Anos 70
Nas vésperas da revolução democrática de 1974, Portugal vivia uma
conjuntura bastante desfavorável. Em primeiro lugar, colocava-se a questão de
uma guerra colonial prolongada e inconclusiva. A tardia e pouco eficaz abertura
do sistema político promovida pelo governo de Marcelo Caetano desde 1968 e
o desgaste das estruturas institucionais do Estado Novo, com um núcleo
político incapaz de resolver o impasse a que o país chegara, geravam um
governo caracterizado pela lenta agonia da luta pela sobrevivência,
extremamente debilitado perante a comunidade internacional. Em segundo
lugar, a insatisfação geral e as dificuldades económicas e sociais da população
caracterizavam a realidade isolacionista de um país que se revia ainda na
famosa expressão "orgulhosamente sós", comandado por uma classe dirigente
dependente de valores políticos e ideológicos ultrapassados.
De qualquer modo, não deve ficar a ideia de que antes do levantamento militar
democrático de 25 de Abril nada existia e que depois tudo se realizou e
concretizou com sucesso, pois a ausência de adequadas políticas culturais foi
contínua e persistente.
No Porto, uma "comissão para uma cultura dinâmica" formada por artistas
plásticos, escritores e poetas realiza nesse mesmo dia o Funeral do Museu
Nacional de Soares dos Reis. O protesto - que envolveu cerca de 500 pessoas
- era dirigido contra o sistema museológico português em geral, completamente
anacrónico.
Os acontecimentos políticos de 74 vieram interromper o ritmo das exposições
de artes plásticas, assim como o consequente trabalho da crítica. Das páginas
dos jornais quase desaparecem as referências às práticas artísticas, embora a
inevitável euforia da movimentação política tenha determinado, ainda que
fugazmente, a renovação da participação cultural, com a aspiração a um novo
tipo de relacionamento entre artistas e público em geral.
Como é habitual em períodos de agitação política pré- ou pós-revolucionária,
vários artistas e práticas culturais foram instrumentalizados pelas mais
primárias, anacrónicas e absurdas manipulações ideológicas. Se quisermos
fazer um balanço, em termos estéticos, de toda esta agitação política,
retenham-se os cartoons de João Abel Manta e os sumptuosos murais do
MRPP, quase todos já destruídos.
No campo das artes plásticas uma grande exposição - Alternativa Zero, Galeria
Nacional de Arte Moderna, Belém, 1977 - encerra o período das convulsões
pós-revolucionárias, fazendo o balanço da década de 70 no que diz respeito às
experiências artísticas mais vanguardistas. Alternativa Zero, organizada por
Ernesto de Sousa, constitui um balanço dos trabalhos que em Portugal se
mostraram mais sintonizados com as tendências da evolução da arte
contemporânea a nível internacional. Conforme o catálogo descritivo advertia a
respeito do evento: "pretende ser 'algo mais' do que uma exposição: ou,
encarando as coisas de outro prisma, pretende ser uma exposição aberta, com
todas as consequências possíveis 'nesta' sociedade, inclusive concorrer (ainda
que pouco) para transformá-la". As propostas conceptuais de Alberto Carneiro,
ou de Clara Menéres com Mulher-Terra-Vida, e o vídeo de João Vieira,
comprovam e exemplificam a linha plural orientadora da exposição, numa
altura em que o vazio do mercado de arte não permitia uma verdadeira
visibilidade das obras nacionais. A exposição intitulada Alternativa Zero -
Tendências Polémicas na Arte Portuguesa Contemporânea marca assim o
primeiro balanço dos trabalhos que em Portugal tomaram como referência as
atitudes conceptuais e congéneres. Uma situação entre nós minoritária e
marginalizada, da qual, no entanto, sairia uma primeira vaga de artistas que
viriam a desempenhar um papel do maior relevo ao longo da década de 80.
Também Pires Vieira apresenta um registo minimalista na sua pintura dos anos
70, desenvolvendo, no início da década, pesquisas em torno das cores puras e
passando depois a preocupar-se com questões relacionadas com
"desconstruções" da pintura, a sua decomposição em estruturas e processo de
elaboração. Destas operações resultam telas penduradas sem armação, com
formas geométricas padronizadas recortadas.
Esta base de dados integra mais de 600 documentos, entre desenhos técnicos,
esquissos, atas de reuniões, fotografias, notas e apontamentos. A
documentação, pertencente ao Arquivo e Biblioteca de Arte da Fundação
Calouste Gulbenkian e aos espólios pessoais de Gonçalo Ribeiro Telles e de
António Viana Barreto, abrange informação sobre este lugar desde o século
XVII até ao ano 2000. A médio prazo, será também possível consultar uma
versão inglesa dos textos curatoriais e ferramentas de busca, bem como mais
documentação, nomeadamente a referente às intervenções posteriores ao ano
2000.
Este projeto veio romper claramente com as práticas da época. Gerou uma
nova forma de desenhar o “jardim”, baseada numa geometria subtil, que
oferece espaços e ambiências em vez de eixos, e onde a geografia e a
vegetação celebram a paisagem portuguesa – de onde provém o verdadeiro
Jardim Português. A reprodução de códigos da ecologia da paisagem
portuguesa patente na escolha, combinação e localização das espécies
vegetais, o diálogo entre a orla e a clareira, a construção do espaço com a luz
mediterrânica e o copado das árvores, criam situações, “micropaisagens”, que
nos são familiares, não só a nós, humanos, como à fauna silvestre que atrai.
Esta forma de trabalhar o lugar a partir das regras da paisagem é uma
característica forte da escola de arquitetura paisagista portuguesa com raízes
na escola alemã, e que atinge neste jardim o auge da sua expressão.
Dois anos antes de morrer, o milionário refez o seu testamento. Instituiu como
legatários os seus dois filhos Nubar Sarkis Gulbenkian e Rita Gulbenkian, o
genro Kevork Loris Essayan, o neto Mikael Essayan, a sua secretária particular
Isabelle Riehl "pelos seus dedicados e valiosos serviços" e, por fim, o Hospital
de Yedi-Kule, em Istambul, terra onde nasceu, ao qual legou a sua propriedade
de Salamet Han, "com a obrigação expressa de [o hospital] continuar a cuidar
dos túmulos de seus pais e de mandar celebrar, por sua alma, as missas
habituais". Deixou também pensões vitalícias a vários familiares e a
empregados.
A sua vontade, expressa no testamento, era que o restante da sua fortuna
fosse para património de uma fundação internacional denominada "Fundação
Calouste Gulbenkian", sediada em Lisboa, com fins de "caridade, artísticos,
educativos e científicos", e onde pudesse acolher a sua colecção de arte, que
estava espalhada por vários países. Gulbenkian escolheu como executores
testamentários e "trustees" o seu advogado inglês de confiança, Lord Radcliff,
o advogado português José de Azeredo Perdigão e o genro, Kevork Loris
Essayan. E deixou um lamento: "O testador não inclui, desde já, seu filho entre
os seus executores testamentários, porque a sua conduta para com ele tem
sido, sob vários aspectos, verdadeiramente lamentável. Como pai, deplora
profundamente ser obrigado a manifestar uma tal reserva, tanto mais que
reconhece que ele, pela sua inteligência e conhecimento, poderia ser, se
quisesse, um elemento muito útil na execução do testamento."
Portugal a ler
https://books.google.pt/books?id=wNunCwAAQBAJ&pg=PA161&lpg=PA161&d
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e. logo após a morte do testador, na hipótese de ele o não haver feito antes, os
executores testamentários e «trustees» redigirão, e farão aprovar
superiormente, os estatutos da mencionada Fundação, e praticarão todos os
actos necessários, quer a legislação da Fundação criada por este testamento,
ou a sua criação, caso se entenda que só pela aprovação dos estatutos ela
pode considerar-se criada, quer à sua instalação e funcionamento. (...)»
O Hotel Aviz, em Lisboa, foi a sua casa durante 13 anos. Calouste Gulbenkian
deixou em testamento (18.06.1953) importantes legados aos seus filhos,
estabeleceu pensões vitalícias em favor de outros familiares e colaboradores
de longa data. No seu testamento estabeleceu a constituição de uma fundação
internacional, com o seu nome, que foi a herdeira do remanescente da sua
fortuna, com sede em Lisboa, presidida pelo seu advogado de confiança, Lord
Radcliffe. A este confiou a missão de agir em benefício de toda a
“humanidade”. Esta fundação deveria reflectir o que considerava as suas
maiores proezas: a sua colecção de obras de arte e o seu papel como
“arquitecto de empreendimentos”, concebendo estruturas para englobar e
reunir diferentes nações, grupos e interesses. A colecção de obras de arte
logrou ficar exposta num museu especialmente construído para esse efeito, na
sede da Fundação, o Museu Calouste Gulbenkian, mas divergências quanto ao
peso da actividade internacional da Fundação e à composição do seu
Conselho de Administração, designadamente a maioria de membros de
nacionalidade portuguesa e o receio da interferência do Governo, conduzem
Lord Radcliffe a renunciar, sendo a presidência da Fundação assumida por
José de Azeredo Perdigão. A Fundação Calouste Gulbenkian é uma das doze
maiores fundações do mundo.
DN
Até 1942, Gulbenkian está em Vichy. O que o faz vir para Portugal?
Gulbenkian tinha um filho, Nubar, e uma filha, Rita. Nubar visitou várias vezes
Portugal e conheceu o Aviz, hotel encantador. Descreveu Portugal ao pai como
uma terra muito tranquila, onde não havia guerra e onde se pagavam poucos
impostos. Gulbenkian sentiu-se atraído e instalou-se até à morte no Aviz.
Achava que Salazar era um grande homem porque tinha mantido o País em
paz. E sabe-se que Salazar ficou tão feliz com a Fundação que até dizia sobre
Azeredo Perdigão "Pode ser de esquerda, mas é um patriota."
Foi muito hábil. Era muito inteligente e compreendeu que Gulben-kian tinha
uma maneira de se comportar que apreendeu muito bem. Que gostava de dizer
às pessoas qualquer coisa que desejaria fazer e desejava encontrar nas
pessoas razões para as fazer. E foi isso que cimentou uma grande amizade.
José de Azeredo Perdigão
Em 1948 Gulbenkian decidiu elaborar o seu testamento. Havia que dar rumo à
sua fabulosa colecção de arte. A confiança que depositava em Azeredo
Perdigão levou-o a partilhar os planos da criação de uma fundação que serviria
para albergar o seu espólio artístico. A capacidade de Perdigão para ouvir as
pessoas foi fundamental para esta base de confiança. Gulbenkian não gostava
de ser contrariado pelos seus colaboradores. Portugal como sede da futura
fundação era uma hipótese que ganhava consistência. Azeredo Perdigão
começou a negociar com o governo português as condições mais favoráveis.
Calouste Gulbenkian morreu em 1955, e a sua morte marcou o início de uma
luta entre Azeredo Perdigão e Cyril Radcliff, advogado inglês do magnata. O
que estava em jogo era a nacionalidade da Fundação. A batalha terminou com
a aprovação dos estatutos da Fundação Gulbenkian em 18 de Julho de 1956.
Azeredo Perdigão ganhou em toda a linha. O passo seguinte foi convencer
Salazar a não interferir na vida interna da instituição. A tarefa não foi difícil.
Apesar de Salazar não gostar das opiniões políticas do advogado, estava
convencido de que era um patriota.
CALOUSTE GULBENKIAN
Calouste Gulbenkian
Aliando o dinheiro ao amor pela arte, Gulbenkian foi reunindo uma vasta
colecção de obras, valendo-se do seu estatuto diplomático para movimentar
livremente as peças que adquirira.
O “tactical enemy”
“A vida em Vichy naquela ocasião não era fácil para um homem habituado a
viver na sua linda casa em Paris”, conta Azeredo perdigão. Entretanto, em
Vichy, Gulbenkian conhece o embaixador português Caeiro da Mata, e resolve
vir passar duas semanas a Portugal, país que não conhecia, mas que os seus
amigos lhe diziam satisfazer os seus desejos de sol e paz, tão próprios do povo
arménio.
Calouste Saris Gulbenkian esteve dez anos sem sair de Portugal e a única vez
que o fez foi numa visita a Paris. A sua vida na capital portuguesa era feita com
os amigos Caeiro da Mata, o conhecido médico Fernando Fonseca e Azeredo
Perdigão. Acompanhava-o também a sua secretária, Isabelle Riehl, a quem
viria a oferecer um palacete em Sintra, nos Seteais.
Não se dava bem, nem com a mulher - Nevarte Gulbenkian, que residia em
Paris e só veio uma vez a Portugal -, nem com o filho, Nubar Sarkis
Gulbenkian, que era considerado como um “playboy”. Mantinha, no entanto,
uma boa relação com a filha e o genro, Rita e Kevork Essayan, pais de Mikhael
Essayan, um dos actuais administradores da Fundação.
Como era voz corrente que estava uma pessoa muito rica em Lisboa, Calouste
Gulbenkian recebia inúmeras cartas com pedidos, “a que só não respondia se
entendia que tinham algum sentido político”.
Gostava de gatos - “tinha sete ou oito”, diz o seu criado de quarto, “quatro
siameses e quatro vadios”. Não tinha carro nem motorista particular. Andava
sempre de táxi “com o senhor Esteves”, um motorista de Sintra que vinha a
Lisboa sempre que Calouste Gulbenkian o chamava. Com o senhor Esteves e
muitas vezes com a sua secretária, ia passear para Monsanto, “levando
sempre um saquinho com pão para dar aos pássaros”.
A opinião de Salazar
Quando Gulbenkian morre, em Julho de 1955, o seu filho Nubar constesta a
validade do testamento e a interpretação das suas cláusulas. Perdigão tenta
chegar a um acordo extrajudicial. Por duas vezes chegou a acordo com os
contestantes e por duas vezes estes o quebraram: “Ao outro dia as exigências
eram sempre outras”, recorda. À terceira tentativa, chama a secretária e diz-
lhe: “Acompanhe estes senhores, porque não tenho mais nada a tratar com
eles”. A questão é então submetida a tribunal. Ferrer Correia e José Dantas
Perdigão, filho de Azeredo Perdigão, patrocinam a acção. O tribunal pronuncia-
se a seu favor, o que possibilitou um acordo com o filho de Calouste
Gulbenkian, que pelo testamento de seu pai viria a receber de herança apenas
um milhão e meio de dólares, tal como a sua irmã Rita.