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Semana Santa – 2018

“Jesus é o Senhor” (Filipenses 2, 11)


Quinta-Feira Santa, 29/03/2018

Jesus é o Senhor no serviço e na instituição da Eucaristia

Elton Alves

Boa tarde! Me chamo Elton, sou membro da Comunidade de Vida, moro atualmente na Diaconia. É
a minha primeira vez aqui, desta forma, neste Retiro.
O que nós celebramos hoje? Que dia é hoje? Quinta-Feira, mas é uma quinta-feira qualquer? Não. É
Quinta-Feira Santa. Este complemento não é por nada um acréscimo inútil. Indica a qualidade desta
semana, uma qualidade toda particular.
Antes de falar do dia de hoje, eu quero percorrer um caminho breve. Primeiro, fazendo uma
pergunta, e eu gosto muito de fazer perguntas. Quando nós começamos o nosso Retiro, nesse tempo santo
que o Senhor abriu para nós? A resposta correta seria na Quarta-Feira de Cinzas. Nós já estamos retirados,
porque fomos para o deserto. Jesus Cristo está no deserto e nós não temos outro lugar para estar. Se não
estamos com Cristo, estamos na morte. Cristo está no deserto e a igreja está no deserto, vivendo a partir
da Quarta-Feira de Cinzas este longo Retiro que a igreja nos oferece a cada ano para fortalecer a nossa
vida.
Entramos, vamos dizer assim, na etapa final desse Retiro quando? Domingo de Ramos. Por isso o
nosso Retiro, esta estrutura está montada para hoje, mas nós iniciamos o nosso Retiro na Quarta-Feira de
Cinzas e a sua etapa final e forte nós já a iniciamos a partir do Domingo de Ramos.
O que aconteceu no Domingo de Ramos? Jesus faz o quê? Jesus está no Monte das Oliveiras. Ele
atravessa do Monte das Oliveiras, passando do Vale do Cedron, porque não tem outro caminho, até chegar
a Jerusalém. Esse ato não é por nada, não é um ato simplesmente teatral. Se tivermos atenção nas
Sagradas Escrituras, vamos ver que é cumprimento de uma profecia de Zacarias 9, 9: “Exulta muito, filha de
Sião! Grita de alegria, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem a ti: ele é justo e vitorioso, humilde,
montado sobre um jumento” 1.
O povo de Israel acreditava que o Messias viria do Monte das Oliveiras, passando pelo Vale do
Cedron. O Vale do Cedron tem outro nome, que se chama Vale de Josafá, ou seja, Vale da Ressurreição. Ali
estão sepultados muitos judeus. Os judeus quiseram e fizeram de tudo para poder fazer dali um cemitério,
porque o Messias, vindo do Monte das Oliveiras, descendo pelo Vale do Cedron, ressuscitaria todos que ali
estivessem, entrando em Jerusalém e estabelecendo o Seu reinado. Essa era a crença, a fé do povo de
Israel. Jesus faz esse caminho, entra em Jerusalém, caminho que ele vai fazer mais uma vez hoje. Hoje,
dentro da Sua agonia, da Sua angústia, Ele também vai sair do Monte das Oliveiras, porque é ali que Ele
vive essa angústia, e vai mais uma vez atravessar o Vale do Cedron para entrar em Jerusalém como rei.
Quais foram as primeiras leituras que ouvimos nesses primeiros dias de Semana Santa, a partir de
segunda? Profeta Isaías. Há quatro cânticos do Servo do Senhor em Isaías, e estes quatro cânticos são lidos
a cada dia dessa semana, menos na Quinta-Feira, hoje, e já explico o porquê.
Na segunda-feira nós lemos Isaías 42, o cântico do Servo; Isaías 49 na terça-feira; Isaías 50 na
quarta-feira, e leremos amanhã Isaías 53, o quarto cântico. É o cântico do Servo do Senhor que é obediente
a Deus e instrumento de salvação para Israel.
Quando nós vemos que de segunda a sexta os quatro cânticos são lidos na Liturgia e hoje não, um
olhar muito superficial poderia dizer: “Existe um erro de continuidade”. Não. Qual é a leitura de hoje? A
leitura de hoje é do Êxodo, onde é narrada a Pascoa antiga. Nós poderíamos nos perguntar: “Qual é a
relação da Páscoa antiga com o Servo do Senhor? Qual é a relação da Páscoa antiga com esse momento
que nós estamos vivendo?”. A Páscoa é a celebração da saída do povo do Egito para a terra prometida.
Aquele Êxodo se completou, mas permaneceu misteriosamente incompleto. Ele sim foi uma passagem, sim
foi fundamental. Todo judeu celebra esse dia como se ele tivesse atravessado e saído do Egito, mas ele
permaneceu incompleto, porque só o Filho de Deus poderia realizar o êxodo completo.

1
Tradução Bíblia de Jerusalém.
1
Nós estamos exatamente no dia em que lembramos, relemos o êxodo antigo e ao mesmo tempo já
celebramos o novo êxodo. A liturgia tem uma grande riqueza de antecipar para nós aquilo que é futuro,
assim como a nossa esperança nos antecipa já a vida divina, já vivida aqui em certa medida e plenamente
no céu. É isso o que nós viemos celebrar. Viemos celebrar uma vida que nos foi dada e que está diante de
nós, nos é oferecida e que cabe a nós crer, seguir Cristo em Seus passos e viver da vida que Ele nos dá.
Vamos para o texto que escutaremos hoje no Evangelho. O texto de hoje é a narração do Lava pés,
em João 13, 1-15. O texto diz: “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar
deste mundo para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. Durante a ceia, -
quando o demônio já tinha lançado no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, o propósito de traí-lo -,
sabendo Jesus que o Pai tudo lhe dera nas mãos, e que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-se da
mesa, depôs as suas vestes e, pegando duma toalha, cingiu-se com ela. Em seguida, deitou água numa
bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido. Chegou
a Simão Pedro. Mas Pedro lhe disse: " Senhor, queres lavar-me os pés!" Respondeu-lhe Jesus: "O que faço
não compreendes agora, mas compreendê-lo-ás em breve". Disse-lhe Pedro: "Jamais me lavarás os pés!"
Respondeu-lhe Jesus: "Se eu não tos lavar, não terás parte comigo". Exclamou então Simão Pedro: "Senhor,
não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça". Disse-lhe Jesus: "Aquele que tomou banho não tem
necessidade de lavar-se; está inteiramente puro. Ora, vós estais puros, mas nem todos!" Pois sabia quem o
havia de trair; por isso, disse: "Nem todos estais puros". Depois de lhes lavar os pés e tomar as suas vestes,
sentou-se novamente à mesa e perguntou-lhes: "Sabeis o que vos fiz? Vós me chamais Mestre e Senhor, e
dizeis bem, porque eu o sou. Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar-
vos os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós"”. Palavra
da Salvação.
O Senhor, lavando os pés dos Seus discípulos, e com certeza nós já lemos muitas vezes essa
passagem, mas temos de aprofundar um pouquinho a compreensão do que está acontecendo. Capítulo 13,
1: “Antes da festa da Páscoa”. João é muito atento a marcar os tempos e a história na vida de Jesus.
Segundo grandes exegetas, João é o evangelista mais atento à questão histórica, e realmente é assim.
Sabemos que Jesus viveu três anos de Sua vida pública porque João narra três Páscoas.
“Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o
Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”. Durante a ceia, Jesus lhes lava os
pés. Que significado pode ter esse gesto? Nós sabemos que um significado muito claro e graças a Deus
muito difundido entre nós é a extrema humildade de Jesus, e é verdade. A extrema humildade de Jesus que
se coloca aos pés dos discípulos, quando nós sabemos que nem a um escravo judeu poderia se obrigar de
lavar os pés, no caso de seu senhor. Mas Jesus, sendo mestre e Senhor, se inclina e lava os pés dos Seus
discípulos.
Liturgicamente nós estamos no dia da Paixão de Cristo, porque na Quinta-Feira à noite para o judeu
era já Sexta-Feira, era já o sexto dia. Então Jesus já no início desse dia de Sua entrega, Ele mostra com um
gesto o que Ele vai realizar: se inclinar diante dos Seus, lavar os pés, purificá-los. Purificá-los sim, porque
esse gesto é também um gesto de purificação.
Se nós olharmos, por exemplo, à luz de Êxodo 30, 20, onde o texto diz: “Quando entrarem na Tenda
da Reunião, lavar-se-ão”. A Tenda da Reunião era aquele lugar, quando Israel ainda era peregrino, onde o
povo tinha um lugar para encontrar a Deus. Quando o povo se fixou em Jerusalém, foi-se construído o
Templo, mas antes existia uma Tenda. Assim como o povo dormia em tendas, assim também existia uma
tenda para se colocar a Arca da Aliança e ser o lugar de encontro com Deus. Esta tenda não é de reunião de
pessoas, mas é a Tenda do encontro entre o homem e Deus.
O texto continua: “Quando entrarem na Tenda da Reunião, lavar-se-ão com água, para que não
morram; e também quando se aproximarem do altar para oficiar, para fazer fumegar uma oferenda
queimada para Iahweh. Lavarão as mãos e os pés, e não morrerão”. Antes de oficiar um sacrifício devem-se
lavar as mãos e os pés. Por isso, somada a lavagem das mãos, que é habitual para os judeus quando ele vai
comer, e eles estão numa ceia! Então a lavagem das mãos certamente foi feita. Jesus lava os pés dos Seus
discípulos porque Ele quer prepará-los para a oferta. Jesus cumpre assim as palavras de Êxodo 30.
Os Seus discípulos estão na iminência de Sua morte, mas eles não compreendem. Porém, o texto
de João inicia dizendo: “Sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo para o Pai”. Jesus
sabe que é a Sua hora. Jesus quer que os Seus discípulos participem intimamente do Seu mistério. Por isso,
Ele os prepara também lavando os seus pés.
2
A Eucaristia que é instituída na última ceia é antecipação do mistério da Paixão, ela é já o êxodo
inaugurado. Jesus, quando dá o corpo aos Seus discípulos e o sangue, pão e vinho, diz: “Este é o Meu corpo
dado, este é o Meu sangue entregue”. Corpo dado, sangue entregue. Um verdadeiro sacrifício que se
realiza. Um sacrifício incruento, como diz a Igreja, porque nós não vemos o sangue, diferente dos sacrifícios
de animais e do sacrifício de Cristo na cruz no qual nós vemos o sangue. O sacrifício eucarístico é incruento.
A primeira leitura de hoje fala sobre a Páscoa. Para se celebrar a Páscoa precisa do quê? Qual
animal? Um cordeiro. João Batista, no Evangelho de João, apresenta Jesus como? Ele é o Cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo2, mas não somente. No Evangelho de João, quando Jesus vai ao Templo, Jesus
começa a expulsar os vendilhões do Templo3, tira os cambistas. Jesus expulsa também os animais: bois,
ovelhas. Porque Jesus faz esse gesto? Exatamente porque chegou a vítima agradável a Deus. Jesus é esta
vítima que vai se oferecer, é a vítima agradável, aceita, a nova vítima, que instituirá um novo pacto, uma
nova aliança. Por isso as vítimas antigas podem ser retiradas do Templo. Não é um problema que essas
vítimas, que esses bois sejam retirados.
Os judeus não entendem o ato de Jesus, e perguntam: “Qual é o sinal que nos dais para fazer
isso?”, e Jesus diz: “Destruireis esse templo e Eu o reerguerei no terceiro dia”. Jesus Cristo é apresentado
por João como o Cordeiro, mas é apresentado por João também como Templo. João apresenta Jesus
também como pastor, sim ou não? João 10. Jesus é o bom pastor. Ele reúne em si todas as categorias para
o sacrifício e para a condução do novo povo de Israel.
Mas quero contar uma coisa que pode deixar alguns abismados, mas já explico! O Cordeiro não é
um animal para expiação de pecado. O boi sim. O touro sim. Mas o cordeiro não expia o pecado nos
sacrifícios de Israel. Serve para sacrifício de comunhão, mas não serve para sacrifício de expiação. Porque
Jesus então é chamado por João como o Cordeiro? E aqui quero ler com vocês uma passagem que leremos
amanhã, mas que é a chave de leitura para compreendermos o mistério que estamos celebrando.
Isaías 52, 13 e 53, 12. O quarto cântico do Servo do Senhor. Só uma anotação importante! Os
discípulos, quando entendem o gesto de Jesus, o evangelista diz algo muito interessante: “Então eles
compreenderam o que dizia a Escritura” 4. Sem compreender a Escritura nós não compreendemos o que
Jesus está realizando. É preciso entrar na inteligência da Escritura para assim compreender aquilo que Jesus
está fazendo.
O quarto cântico do Senhor é um dos cânticos mais tensos. É um cântico até às vezes complexo na
sua leitura e compreensão. Porém, é também um dos cânticos mais magníficos de todo o Israel antigo, por
quê? Diz coisas que nunca em outro lugar em Israel fora dito. Nós vamos entrar nesse aspecto agora.
Este é o Servo do Senhor apresentado em Isaías 52, 13-15, quando o Senhor diz: “Eis que meu
Servo prosperará, ele se elevará, será exaltado, será posto nas alturas. Exatamente como multidões ficaram
pasmadas à vista dele – pois ele não tinha mais figura humana e sua aparência não era mais a de homem –
assim, agora nações numerosas ficarão estupefatas a seu respeito, reis permanecerão silenciosos, ao verem
coisas que não lhes haviam sido contas e ao tomarem consciência de coisas que não tinham ouvido”.
Em Isaías 53, 4-5, toda a sua deformidade é explicada: “E no entanto, eram nossos sofrimentos que
Ele levava sobre si, nossas dores que Ele carregava. Mas nós o tínhamos como vítima do castigo, ferido por
Deus e humilhado. Mas Ele foi trespassado por causa das nossas transgressões, esmagado por causa das
nossas iniquidades. O castigo que havia de trazer-nos a paz, caiu sobre ele, sim, por Suas feridas fomos
curado”. O castigo que nos trouxe o Shalom pesou sobre Ele. É o que está dizendo o texto bíblico. O castigo
que nos trouxe o Shalom pesou sobre Ele. Shalom é a reconciliação desse povo desgarrado e perverso. Para
que tenhamos o Shalom, o Senhor fez cair sobre o Seu Servo a falta, a culpa e a iniquidade de todos nós. O
castigo que nos trouxe o Shalom pesou sobre Ele. Sim, por Suas feridas fomos curados. Nunca em Israel
ouviu-se dizer que uma ferida poderia curar.
Continuando Isaías 53, 6-7b; “Todos nós como ovelhas, andávamos errantes, seguindo cada um o
seu próprio caminho, mas Iahweh fez cair sobre Ele a iniquidade de todos nós. foi maltratado, mas
livremente humilhou-se e não abriu a boca, como cordeiro conduzido ao matadouro”. Eis a chave de leitura
daquilo que se realiza em João. O Servo é também como um Cordeiro que vai para o matadouro, sem abrir
a boca.

2
João 1, 29.
3
João 2, 13-25.
4
Lucas 24, 44-45.
3
Por isso, João Batista ao dizer: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”, ele tem em
mente o Servo, o Servo sofredor, do qual Jesus é figura plena, do qual Jesus é realização. O Servo que o
Antigo Testamento não consegue entender, os rabinos não conseguem entender de quem se trata, se
manifesta claramente em Jesus Cristo. Não somente, mas se nós pensarmos em um dado importante, na
época de Jesus já não se falava mais o hebraico. A língua falada era o aramaico, e em aramaico os termos
Servos e Cordeiro são um só: Talj. João Batista, indicando Jesus como o Cordeiro de Deus, O está indicando
também como o Servo, como o Servo de Deus que pode sim tirar o pecado do mundo, porque é o
instrumento divino escolhido pelo Pai. Por isso, João com muita atenção vai delineando a nova Páscoa, do
qual a Eucaristia é antecipação.
Vamos entrar daqui a pouco no aspecto da Eucaristia, que é como que exemplificação e a força de
tudo isso que estamos falando. Jesus, quando se abaixa para lavar os pés dos Seus discípulos, Ele os
convida a fazerem o mesmo, e diz: “Dei-vos o exemplo, para que como Eu vos fiz, também vós o façais”.
Mas ao dizer isso Jesus está dizendo duas coisas. Primeiro, que Ele dá o exemplo depois que Ele dá a
capacidade de agir assim.
Algumas vezes temos uma visão um pouco distorcida sobre quem é Jesus e sobre os Seus mistérios,
e pensamos assim: “Ah, Jesus é Deus, claro! Obviamente! E deu-nos o exemplo, mas como é que vou fazer
para seguir Jesus? Ele é Deus, tem as infinitas capacidades, mas eu não sou Deus, graças a Deus! Como vou
segui-lo?”. De que modo o Seu exemplo se torna para nós um exemplo conveniente e caímos em erros que
muitos outros caíram antes de nós? No protestantismo se fala exatamente isso, principalmente quando se
fala de celibato, quando se fala de alguns aspectos: “Mas Jesus é Deus”, mas isso é desconhecer
completamente a doutrina e o que Cristo veio realizar em nós.
Aqui queria trazer uma afirmação de um grande santo e um grande doutor da Igreja, Santo Tomás
de Aquino. Ele diz: “Os mistérios de Cristo não têm somente uma razão exemplar, não quer ser somente
para ti exemplo, até porque o que Jesus faria de diferente da lei, se Ele viesse só dar exemplos? Sim, fez
coisas diferentes, mas eu não consigo alcançar, e como diz Paulo, a lei se torna no fundo aquela que me
revela o que eu não consigo, mas Jesus não tem somente em si, nos Seus atos, a função de nos dar
exemplo, mas também uma razão eficiente”. Eficiente. Por isso, quando Jesus realiza algo em seu mistério,
gera um novo modelo de homem. Nós, que fomos inseridos em Cristo pelo batismo, quando nós seguimos
Cristo, não simplesmente seguimos o Seu exemplo. Sim, isso é verdade, mas nós também agimos no agir de
Cristo, uma razão eficiente, uma graça que transforma o meu ser e me faz agir como Ele age, e isso é
fundamental para que entendamos esse abaixamento e possamos segui-lo. Sendo assim, nós
compreendemos que ao Jesus agir e se abaixar, está inclinando o orgulho humano para o serviço, está nos
fazendo participar, como em todo o Seu processo de Kenosis, da novidade que se realiza na Páscoa, por
meio de um profundo abaixamento, porque a Páscoa de Jesus se dá por meio de um profundo
abaixamento. E dessa vez, por antecipação do mistério d4e cruz, Jesus institui a Eucaristia, que é sim a Sua
Páscoa celebrada com os discípulos.
Por isso, quando Jesus dá o Seu corpo, entrega o Seu sangue, dá a Si mesmo, e nesse mistério, diz o
documento Ecclesia de Eucharistia5: “Contém em si na Eucaristia a síntese e o núcleo do mistério da Igreja”.
Na Eucaristia nós temos a síntese e o núcleo de tudo aquilo que a Igreja celebra. Na Santíssima Eucaristia
está contido todo o tesouro espiritual da igreja, ou seja, o próprio Cristo, a nossa Páscoa.
Por isso, nós, nesse dia, celebramos o grande mistério de receber o Seu corpo e de receber o Seu
sangue, instituídos por nós. Precisamos sim entrar nesse mistério e compreender a grandeza do que está
sendo realizado. O Senhor havia prometido estar conosco todos os dias, até o fim dos tempos. É o que nos
diz o Senhor pelo Evangelho de Mateus 28. Pois bem, São João Paulo II diz: “É na Eucaristia de maneira
particular que essa promessa se cumpre”. É na Eucaristia que o Senhor continua a se inclinar e a lavar os
nossos pés, continua a se inclinar e nos encontrar na nossa situação, continua a nos purificar para que
ofereçamos junto a Ele o Seu sacrifício, porque a Santa Missa, o que é a Santa Missa? Sacrifício de Cristo.
Há uma oração na Santa Missa muito interessante! “Receba o Senhor por tuas mãos este sacrifício,
para glória do Seu Nome, para nosso bem e de toda a santa Igreja”. Em francês se diz: “Receba o Senhor o
sacrifício da Igreja”, e nós podemos nos perguntar: qual é o sacrifício da Igreja? Porque, bom, sabemos qual
é o sacrifício de Cristo, o sacrifício da cruz. Qual é o sacrifício da Igreja? Qual é o teu e o meu sacrifício

5
Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia do Sumo Pontífice João Paulo II aos bispos, aos presbíteros e diáconos, às
pessoas consagradas e a todos os fiéis leigos sobre a Eucaristia na sua relação com a igreja. 17 de abril de 2003.
4
dentro do mistério eucarístico? O autor Hans Urs Von Balthasar6 diz que nós nunca entenderemos qual é a
nossa parte nesse mistério se não olharmos para a cruz, e ao olharmos para a cruz olharmos para Aquela
que está aos pés da cruz: a Virgem Maria, porque Ela participa integralmente desse sacrifício, dando
consentimento ao mistério que está sendo celebrado, participando intimamente desse sacrifício. Uma
espada traspassa o seu coração. Estar aos pés da cruz, eis o nosso lugar na celebração eucarística! Porque,
como diz São João Paulo II nesse mesmo documento já citado, a Eucaristia nos leva a sermos
contemporâneos da cruz de Cristo. Quando celebramos a Eucaristia nós estamos lá, aos pés da cruz de
Cristo, e isso não é uma hipótese, mas é uma verdade. Se não estivéssemos lá, não teríamos o corpo de
Cristo. Se não estivéssemos lá, morreríamos por inanição espiritual. O Espírito Santo nos leva, no mistério
da Igreja, a estar aos pés de Cristo e participar intimamente desse mistério.
Por isso, esse dia nos convida também a rever como temos celebrado a Eucaristia, como nos
preparamos para esse mistério. Esse mistério da cruz é o mistério do qual surge a vida divina para nós. É o
mistério no qual tudo é possível, onde o Senhor realiza tudo, tudo para nós. A Eucaristia contém todo o
tesouro espiritual da Igreja. E aí nós podemos pensar: “Como entramos?”, e, sobretudo, depois: “Como
saímos desse mistério?”. Como participamos e quais são as graças, a força desse sacramento na minha
vida?
A Eucaristia não foi feita para Deus. Jesus não instituiu a Eucaristia para si. Ele instituiu por nós.
Toda a vida de Cristo é um “para nós”, é um “por nós”. Ele a instituiu para que justamente essa graça
eficiente, a força da ressurreição de Cristo, a força e todos os Seus méritos fossem comunicados ao
homem, que vive uma vida nova. Eis porque no abaixamento de Cristo, pelo mistério da Eucaristia, o
homem sim é elevado.
No mistério da Eucaristia surge também algo que é importante tratarmos, uma nova antropologia.
Santo Agostinho diz: “O mistério do que somos, nós o recebemos do corpo de Cristo” 7. O que nós somos,
nós recebemos do corpo de Cristo. Recebemos o corpo de Cristo para sermos mais nós mesmos, segundo o
pensamento divino, para viver intimamente a vida de Cristo, para que não haja entre nós e Cristo a
distancia, e que não olhemos simplesmente como um exemplo, mas, entendamos que Ele vive em nós. A
Eucaristia, instituída para nós, é esta força, é esta graça, é a possibilidade e é já a passagem para a vida
nova.
Cremos nisso? Todos os santos creram. Eu costumo dizer, quando me vem momentos difíceis ou
quando algo me é difícil de acreditar, eu costumo dizer algo que aprendi na Imitação de Cristo, não é nada
novo meu. Ele diz: “Crê na igreja, crê nos padres da Igreja, crê nos seus santos, e abandona este
pensamento”. É preferível crer em toda a grandeza da Igreja, com toda a sua história, em todos os seus
santos, do que viver, talvez, em nossas dúvidas. Abandonemo-nos. Esse mistério exige fé, exige o crer, o
acolher a Palavra de Cristo, até porque o Senhor, quando Ele via um homem cego e dizia: “O que queres?”.
E esse homem dizia: “Senhor, que eu veja!”. O Senhor diz: “vê!”, e o quê que acontecia? A vista era
recobrada. Aqueles que não conseguiam andar, os coxos, o Senhor dizia: “Levanta-te!”, e o que acontecia?
A pessoa se levantava. Jesus ordena aso demônios: “Sai daí!”, e eles saem. Jesus diz: “Pega o pão, rende
graças, e depois diz: este é o Meu corpo”, e ele é o Seu corpo. Aqui está o sinal mais límpido e claro, mais
teológico e simples para compreendermos esse mistério, mistério de um profundo abaixamento de um
Deus que nos amou e não nos quis deixar onde estávamos, mas quis que celebrássemos com Ele, a cada
dia, uma nova passagem, até a passagem eterna, que será o êxodo definitivo, que pela graça de Deus
seremos acompanhados também pelo viático, que é o corpo de Cristo que nos dará força para a passagem
definitiva.
E o Senhor ainda diz: “Em verdade, em verdade vos digo: o servo não é maior do que o seu senhor,
nem o enviado maior do que quem o enviou. Se compreenderdes isso e o praticardes, felizes sereis” 8. As
palavras de Cristo, que não mentem, que são fonte de vida para nós, nos ensinam o caminho da felicidade.
“Se compreenderdes isso e o praticardes, felizes sereis”. A felicidade está na assimilação desse mistério, o
mistério de Cristo, o mistério do Seu abaixamento, e na prática, na imitação não exterior, mas, como nós
dissemos, pela razão eficiente, na imitação interior, no Cristo que em mim me diz: “Abaixa-te!”.

6
Hans Urs Von Balthasar (Lucerna, 12 de agosto de 1905 — Basileia, 26 de junho de 1988) foi um sacerdote, teólogo e
escritor suíço. É considerado um dos mais importantes teólogos do século XX.
7
Santo Agostinho. Sermão 229, 1.
8
João 13, 16-17.
5
É Cristo a fonte de toda virtude, que vivendo no homem novo o ensina a seguir Seus caminhos. É o
Espírito Santo, como diz o Evangelho de João, que estando no homem dá testemunho de Jesus. Este
testemunho de Sua entrega, de Sua doação, de Seu martírio. Felizes sereis, se compreenderdes e
praticardes. As palavras de Cristo são para nós hoje um bálsamo e um desafio para a nossa fé.
Jesus diz: “Felizes sereis”, na iminência de Sua Paixão. Muitas vezes consideramos a dor como o
oposto da felicidade. A vida cristã não nos diz isso. Santa Catarina de Sena diz que Jesus na cruz é o homem
das dores e o homem das alegrias. Sim, porque o cumprimento perfeito do desígnio do Pai traz a profunda
felicidade no Filho, Jesus Cristo, e cada um de nós.
Por isso, “felizes sereis” indica exatamente que nesta oferta, no acompanhamento do Seu sacrifício
que a Eucaristia nos convida, ao final de cada missa somos realmente enviados à participação desse
mistério, à assimilação, à transformação interior, e à vivência deste mistério em vida ofertada conforme
Cristo, na força, na graça de Cristo. Não na imitação exterior. Isso seria uma loucura para cada um de nós.
Mas sim na íntima relação Dele conosco, que convence o nosso coração em ir para a morte, para a entrega,
em viver com Ele esses dias de dor, porque sabemos que a morte não tem a última palavra, e que Cristo,
dando-nos a Sua vida e Seu corpo, já nos deu o remédio de imortalidade. Não morremos, porque a
Eucaristia é o remédio de imortalidade. Ela é a segurança de que passaremos daqui para a vida plena de
Deus.
Por isso irmãos, uma vida de fé é uma vida transfigurada, é uma vida completamente transfigurada,
é uma vida que não tem medo de perder, não tem medo de obedecer, porque vive já inteiramente no
mistério de Cristo. Ou cremos nisso ou não entendemos ainda o que é a Vida, com “v” maiúsculo. Ou
cremos nisso, ou ainda não compreendemos, mas esta é a oportunidade. Eis a oportunidade! Eis o tempo
favorável que se apresenta a nós!
E talvez, quando eu tenha falado no início que o nosso Retiro começou na Quarta-Feira de Cinzas,
você tenha dito: “Meu Deus! não vivi nada desse Retiro”. E que a parte mais intensa começou no Domingo
de Ramos, você tenha dito: “Também não consegui”. Existe uma parábola que nos consola no Evangelho,
todas, aliás, mas quero apresentar uma aqui, onde Jesus fala do operário da última hora9, que recebe o
mesmo salário. O Senhor é aquele que é capaz de dar tudo em um momento, desde que queiramos, desde
que o nosso coração se inflame de desejo e diga: “Senhor, eu quero, eu desejo, desejo participar
intimamente e integralmente daquilo que estamos celebrando. Não desejo viver uma vida paralela a Tua
nesse tempo, mas viver aquela que é a minha vida, que és Tu”.
Por isso meus irmãos, somos convidados e desafiados positivamente em nossa fé a viver um
caminho novo por meio de Jesus Cristo. Ele é capaz de nos dar e nos faz capazes de acolher. Se o nosso
coração desejar, nada é impedimento. Nada é impedimento para a vida nova que Ele veio nos trazer.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, para sempre Seja Louvado!

9
Mateus 20, 1-16.
6

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