MS n° 0002215-56.2013.8.19.9000 Impetrante: RENAULT DO BRASIL S.A. Impetrado: I JEC DA COMARCA DA CAPITAL - REGIONAL DA BARRA DA TIJUCA DA
VOTO
Cuida-se de Mandado de Segurança impetrado em razão
de decisão proferida, que deixou de receber exceção de pré-executividade por entender o juízo ser tal exceção incompatível com o sistema dos juizados especiais cíveis. Pretende a devolução de valores levantados a título de penhora e o conhecimento e julgamento da exceção de pré- executividade ou alternativamente a nulidade da citação do impetrante e a anulação da sentença que ensejou a execução.
Informações prestadas às fls. 140, por entender que no
rito dos juizados especiais cíveis somente cabem embargos de devedor como única defesa na execução.
Manifestação do Litisconsorte a fls. 137-138.
Parecer do Ministério Público a fls. 141-142, pugnando
pela denegação da segurança.
É o relatório. Passo a decidir.
O ponto controvertido do presente mandamus é saber se
é ou não cabível exceção de pré-executividade no sistema dos juizados especiais cíveis. Além disso e para tanto, deve-se analisar se a matéria alegada em exceção de pré-executividade, caso se aceite tal remédio processual em juizados, é de ordem pública e, como tal, se poderá ser examinada em sede de mandado de segurança quando não houve ainda manifestação sobre tal assunto no juízo impetrado.
A exceção de pré-executividade, a rigor, objeção de pré-
executividade é instituto criado pela doutrina e jurisprudência pátrias para análise de matérias de ordem pública, as que podem ser conhecidas de ofício pelo juízo, em virtude de eventuais nulidades prementes no processo e que deveriam impedir seu prosseguimento.
Assinado em 22/05/2014 12:44:11
LUCIA MOTHE GLIOCHE:000026903 Local: Quarta Turma Recursal Ela é perfeitamente cabível no sistema dos juizados especiais cíveis, porque não é incompatível com ele, podendo o magistrado que ocupe função em juizados cíveis recebê-las desde que seu fundamento seja relevante questão de ordem pública. Nesse sentido, a seguinte jurisprudência das Turmas Recursais Cíveis:
Processo : 0000351-80.2013.8.19.9000 1ª Ementa
Juiz(a) Juiz(a) KARENINA DAVID CAMPOS DE SOUZA E SILVA - Julgamento: 13/06/2013. Trata-se de mandado de segurança impetrado contra decisão do Exmo. Juiz do I Juizado Especial Cível da Barra da Tijuca, que rejeitou liminarmente a exceção de pré-executividade (fl. 119). Liminar deferida em parte à fl. 179. Informações prestadas pela autoridade coatora (fl. 183). Manifestação do Ministério Público, opinando pela denegação da segurança. Primeiramente, devo esclarecer que entendo não haver incompatibilidade entre o rito do Juizado Especial Cível e a exceção de pré-executividade. Tratando-se de questão que possa ser conhecida de ofício, possível é o oferecimento da chamada exceção de pré-executividade. Ressalte-se que a exceção de pré-executividade poderá ser oposta a qualquer tempo, pois trata-se de construção doutrinária e jurisprudencial. Neste sentido: "AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE ALIMENTOS. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. AUSÊNCIA DE PRAZO PARA OFERECIMENTO. DECISÃO MANTIDA. RECURSO A QUE SE NEGA SEGUIMENTO. 1. Interposição de recurso contra decisão singular que acolheu parcialmente a exceção de pré-executividade oposta para determinar o prosseguimento da execução no percentual dos alimentos cabíveis à exequente. 2. Alegação de intempestividade do incidente. 3. Modalidade excepcional de oposição à execução que não possui prazo legalmente previsto para oferecimento. 4. A exceção de pré-executividade, a rigor objeção de pré-executividade, tem como finalidade controlar os atos de constrição indevida sobre os bens do devedor, sem a rigidez dos prazos, desde que a matéria invocada seja suscetível de conhecimento de ofício pelo juiz e que a decisão não exija dilação probatória. 5. Decisão mantida. 6. Recurso a que se nega seguimento, nos termos do art. 557, caput, do Código de Processo Civil. (0043293-35.2011.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO DES. ELTON LEME - Julgamento: 12/01/2012 - DECIMA SETIMA CAMARA CIVEL)" Conforme se extrai da própria narrativa do Mandado de Segurança, toda a matéria suscitada na exceção de pré-executividade deveria ter sido deduzida em embargos à execução, tendo em vista que a matéria invocada não é de ordem pública, mas sim atinente a incidência, ou não, da multa diária pelo descumprimento da tutela antecipada, diante da alegação de que o devedor deixou de ser intimado para cumprimento. Ressalte-se, ainda, que, após a certidão cartorária tornando sem efeito o ato ordinatório de fls. 140v, tendo em vista que a penhora foi positiva e não negativa, a parte executada, ora impetrante, opôs embargos à execução, os quais foram recebidos. Ausente, portanto, qualquer ato ilícito ou abusivo do juízo impetrado Diante do exposto, denego a segurança. Custas pelo impetrante e sem honorários.
Passada essa questão, resta saber se a fundamentação da
exceção de pré-executividade rejeitada pelo magistrado do juízo impetrado é ou não questão de ordem pública que deva ser conhecida de ofício pelo juízo.
Alega o impetrante a nulidade de citação e consequente
nulidade dos atos processuais que lhe são posteriores.
De fato, a nulidade de citação é matéria que o juízo pode
conhecer de ofício e é relevante do ponto de vista do interesse público, porque a correta e válida citação está em conformidade com a segurança jurídica que se espera de todo o ordenamento jurídico nacional.
Em que pese o argumento do órgão ministerial no sentido
de que a nulidade de citação não foi comprovada, por não ter sido juntada a certidão do oficial de justiça que efetuou a citação em suposto endereço diverso do da impetrante, entendo que não cabe a esta turma recursal a abordagem de tal questão, porque seria supressão de instância, observando- se o fato de que o juízo a quo apenas rejeitou, liminarmente, a exceção ofertada.
Assim, concluo que a ordem deva ser concedida para que
o juízo impetrado conheça da exceção, determinado que o excepto se manifeste e profira decisão a respeito da matéria elencada, de forma que as instâncias não sejam suprimidas, mantendo-se o princípio constitucional do juiz natural.
Isto posto, voto no sentido de CONCEDER, em parte, a
ordem para determinar que o juízo impetrado receba a exceção de pré- executividade, abrindo prazo ao excepto em manifestação e para posterior decisão a respeito da matéria de ordem pública elencada pelo impetrante.
Sem honorários advocatícios, na forma da Súmula 512,
do STF e da Súmula 105 do STJ.
Oficie-se ao juízo impetrado comunicando-lhe o teor da