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All content following this page was uploaded by Isabel Poço Lopes on 13 March 2016.
SENTIDOS 10
PORTUGUÊS
Diz-se!
Não
se diz!
@i esta língua!
Manual de sobrevivência
Introdução
Dirigido aos alunos que se encontram atualmente a frequentar o Ensino Secundário (mas
de interesse também para os que valorizam a língua portuguesa), Diz-se! Não se diz! assume-
-se como um pequeno manual que visa mostrar, explicar e corrigir alguns erros mais fre-
quentes e habituais que encontramos nas produções linguísticas deste público específico.
Não se trata, por conseguinte, de um livro que elenca de forma exaustiva todos os erros do
português, mas de uma pequena brochura escrita numa linguagem simples, intuitiva e pouco
técnica, que pretende, acima de tudo, levar os jovens a perceber o porquê dos erros e, dessa
forma, a corrigi-los mais facilmente.
As explicações sobre os erros e, por vezes, sobre a sua motivação constituem pistas que
visam permitir ao aluno uma reflexão apoiada acerca da sua própria prática linguística.
Tivemos em consideração a norma, por necessidade, conservadora, mas não esquecemos
que a língua é um organismo vivo em que a norma e o uso se digladiam constantemente e,
portanto, onde o certo e o errado têm nuances por vezes difíceis de definir.
1
ÍNDICE
I. Confusões com as formas do verbo haver!................................................................................ 3
1. Há ou À? ........................................................................................................................................................................... 3
2. Hás de ou hades? ..........................................................................................................................................................4
3. Hão de ou hádem? ........................................................................................................................................................ 5
4. Houve ou houveram? .................................................................................................................................................. 5
II. Verbos com segredos escondidos! ..............................................................................................7
1. Intervim ou intervi? .......................................................................................................................................................7
2. Mantive ou manti?........................................................................................................................................................8
3. Entreteve ou entreteu? ...............................................................................................................................................9
4. Pagado ou pago? ..........................................................................................................................................................9
5. Poder ou puder? .......................................................................................................................................................... 10
6. Pode ou pôde? .............................................................................................................................................................. 11
7. Vem, vêm ou veem? .................................................................................................................................................... 12
8. Fizeste ou fizestes? ..................................................................................................................................................... 13
9. Lesse ou lê-se? ............................................................................................................................................................. 14
III. Cuidado com a pronúncia! Cuidado com ortografia! ......................................................... 15
1. Possamos, façamos e tenhamos: como se pronuncia afinal? ......................................................................... 15
2. Desequilíbrio ou desiquilíbrio? ................................................................................................................................ 15
3. Saem ou saiem? ........................................................................................................................................................... 16
IV. Confusões na pronúncia e na ortografia............................................................................... 17
V. Outras confusões habituais ...................................................................................................... 18
1. Senão ou se não? ......................................................................................................................................................... 18
2. Melhor ou mais bem? ................................................................................................................................................. 18
3. Onde ou aonde?...........................................................................................................................................................20
4. Encontramo-nos ou Encontramos-nos? ..............................................................................................................20
5. Compramos ou compra-mos / comprarmos ou comprar-mos? .................................................................... 21
6. A fim de, a fim de que ou afim? ...............................................................................................................................22
7. Ter de ou ter que? ........................................................................................................................................................23
8. Gostar que ou gostar de que? ..................................................................................................................................24
9. Ir ao encontro de ou ir de encontro a? ..................................................................................................................24
VI. Concordâncias ........................................................................................................................... 25
1. Com expressões de percentagem ...........................................................................................................................25
2. A maioria dos alunos sabe ou a maioria dos alunos sabem?...........................................................................25
3. Um dos que fizeram ou um dos que fez? ...............................................................................................................26
4. Trata-se de ou tratam-se de? ................................................................................................................................. 27
5. Pesem embora os problemas ou pese embora os problemas? ........................................................................ 27
6. Obrigado ou obrigada; obrigados ou obrigadas? ...............................................................................................28
VII. Preposições: umas esquecidas outras inventadas! .......................................................... 29
1. Ter a certeza de que ou ter a certeza que? ...........................................................................................................29
2. Deve fazer ou deve de fazer? ...................................................................................................................................29
3. As relativas para baralhar! ......................................................................................................................................30
VIII. Palavras semelhantes, possíveis, mas diferentes! ........................................................... 31
DIZ-SE! NÃO SE DIZ! @i esta língua! Manual de sobrevivência
1. Há ou À?
& Não ligo o computador há dois dias. ' Não ligo o computador à dois dias.
Há é uma forma do verbo haver. Nas frases acima há tem o sentido de:
Ő tempo decorrido – Não ligo o computador há dois dias.
Ő existir – Há vírus neste computador.
Como vês, uma coisa nada tem a ver com a outra. Mas isto talvez não chegue para
saberes quando deves usar um ou outro.
2. Hás de ou hades?
& Hás de cá vir pedir mais alguma coisa! ' Hades cá vir pedir-me mais alguma
Hás de, hás de! coisa! Hades, hades!
Hás de é uma forma do verbo haver (2.a pessoa do singular do presente do indicativo),
a que se junta a preposição de. Neste caso, logo a seguir vem outro verbo, no infinitivo,
pelo que o verbo haver é aqui apenas auxiliar. Por isso mesmo é conjugado em todas as
pessoas e significa “ser obrigado a”; “pretender”; “desejar”.
Hades é um deus da mitologia grega, o deus dos mortos, e nada mais do que isso.
Aliás, é por isso que se escreve com maiúscula.
A razão pela qual se cometem tantos atropelos na construção das formas do verbo
haver é simples.
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DIZ-SE! NÃO SE DIZ! @i esta língua! Manual de sobrevivência
3. Hão de ou hádem?
& Hão de dizer-me o que acham disto! ' Hádem dizer-me o que acham disto!
Hão de é também uma forma do verbo haver (3.a pessoa do plural do presente do in-
dicativo), a que se junta a preposição de.
A forma *hádem é usada como a forma alegadamente legítima de um suposto verbo
*hader, que, como vimos acima, não existe.
*Hádem é, tal como *hádes, a forma que os falantes criam por analogia, mais uma
vez, com a forma da 3.a pessoa do plural do presente do indicativo de verbos como beber:
bebem – *hádem.
4. Houve ou houveram?
& Ontem houve muitos aguaceiros. ' Ontem houveram muitos aguaceiros.
5
Nesta frase da página anterior, o verbo haver está sozinho e significa “existir”. Ora,
com este sentido, haver só se conjuga na 3.a pessoa do singular. É o desconhecimento
desta regra que leva os falantes a conjugar o verbo em todas as pessoas, como em haver
de. Trata-se de um erro grave, infelizmente muito recorrente.
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DIZ-SE! NÃO SE DIZ! @i esta língua! Manual de sobrevivência
1. Intervim ou intervi?
& O João tem intervindo na conversa. ' O António tem intervido na conversa.
O verbo intervir conjuga-se como o verbo vir, tal como outros compostos e derivados
desse verbo (advir, convir, desavir, desconvir, entrevir, etc.), pois manda a regra gramatical
que os verbos compostos e derivados sigam o paradigma de conjugação do seu verbo de
base.
7
Mas por que motivo acontecem estes erros com o verbo intervir? Pensa bem!
Talvez porque esquecemos que o verbo que estamos a conjugar é o verbo vir e não o
verbo ver (vi, viste, viu, etc.).
Decerto nunca mais te vais esquecer de como deves conjugar o verbo intervir!
2. Mantive ou manti?
& Mantive a minha posição desde o início. ' Manti a minha posição desde o início.
Mantive é uma forma do verbo manter que, por sua vez, se constrói com o verbo ter.
Por isso mesmo, deve conjugar-se como ele.
Por outras palavras, tal como dizes eu tive, deves dizer eu mantive.
Como é que formas a 1.a pessoa do pretérito perfeito simples de verbos como comer,
conhecer, etc.? Comi, conheci, não é?
Ora, talvez esteja aí a resposta. Esquecemos que o verbo que estamos a conjugar é o
verbo ter e conjugamos manter como se fosse igual a comer, por exemplo.
Será fácil não cometer este erro se pensares em todas as outras pessoas do verbo
manter no pretérito perfeito simples do indicativo. Se não dizes tu *mantiste, porque hás
de dizer eu *manti?
Fácil, não é?
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DIZ-SE! NÃO SE DIZ! @i esta língua! Manual de sobrevivência
3. Entreteve ou entreteu?
Entreteve é uma forma do verbo entreter, mais um composto do verbo ter. Por isso
mesmo, deve conjugar-se como ele. Assim, tal como dizes ela teve, deves dizer ela en-
treteve.
Como é que formas a 3.a pessoa do pretérito perfeito simples de verbos como comer,
conhecer, etc.? Comeu, conheceu, não é?
Ora tens aí a resposta. Estas formas servem de referência para a formação da forma
de outros verbos, nomeadamente entreter, porque se desconhece que entreter, tal como
manter, se deve conjugar como ter.
Decerto, agora as coisas ficaram ainda mais claras.
4. Pagado ou pago?
& O Filipe tem pagado a renda todos os ' O Filipe tem pago a renda todos os
meses. meses.
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Há verbos que têm dois particípios (são chamados, por isso, verbos abundantes).
O verbo pagar é um deles: tem um particípio regular (pagado) e outro irregular (pago).
Como pagar, também têm particípios duplos verbos como acender, eleger, limpar, ganhar,
entre muitos outros.
É esta abundância, aliada ao desconhecimento da regra de utilização de cada uma
destas formas, que cria dificuldades quando falamos, ouvimos ou lemos certas frases
com estas formas.
Tudo fica mais claro se souberes que há uma regra gramatical que determina que a
forma regular (pagado) emprega-se junto dos auxiliares ter e haver (isto é, na constituição
de tempos compostos na voz ativa); a forma irregular (pago) emprega-se acompanhada
do auxiliar ser (na formação dos tempos da voz passiva), mas também estar, ficar, per-
manecer, parecer.
Apesar desta regra, desconhecida de muitos falantes, é certo, há uma certa tendência
para reconhecer a forma irregular como a mais correta. Por isso, parece ser essa a mais
usada, independentemente do verbo que a acompanha. Pode até acontecer que num
futuro, que não conseguimos prever, esta tendência venha a tornar-se regra.
Para já, no entanto, esse argumento não é suficiente para desculpar o erro.
5. Poder ou puder?
& Se puder, mando-te o email ainda hoje. ' Se poder, mando-te o email ainda hoje.
& Para poder sair, tenho de acabar o tra- ' Para puder sair, tenho de acabar o tra-
balho. balho.
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DIZ-SE! NÃO SE DIZ! @i esta língua! Manual de sobrevivência
Puder e poder são formas legítimas da língua portuguesa, mas cada uma tem o seu
lugar e uma pronúncia distinta:
Ő puder é a forma do futuro do conjuntivo do verbo poder e pronuncia-se com e aberto.
Usa-se em contextos como Se puder, mando-te um email ainda hoje; Saio quando
puder; Enquanto puder, trabalho.
Ő poder é o infinitivo do mesmo verbo, pronuncia-se com e semifechado e usa-se em
frases como Para poder sair tenho de acabar este trabalho; Trabalho até poder.
Por analogia, com os verbos regulares, usa-se invariavelmente a forma regular, não
se apercebendo quem escreve do erro que está a cometer.
Dica: Na dúvida, lê a frase em voz alta e nunca te vais enganar a escrever a forma
correta: puder lê-se “pud(é)r” e poder lê-se “pod(ê)r”.
6. Pode ou pôde?
& O Carlos pode terminar o trabalho ' O Carlos pôde terminar o trabalho
agora. agora.
& Ontem, o Carlos não pôde terminar o ' Ontem, o Carlos não pode terminar o
trabalho. trabalho.
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A diferença entre pode e pôde parece pouca, mas é muita. Trata-se de duas formas do
mesmo verbo (poder), na mesma pessoa, no mesmo modo, mas em tempos diferentes.
Não acredito que pronuncies pode quando queres dizer pôde e vice-versa. É provável,
porém, que esqueças o acento circunflexo quando queres escrever pôde.
Dica: Lê a frase que queres escrever em voz alta e vais ver que não tens dúvidas
quando quiseres escrever p(ó)de ou p(ô)de.
& O Tomás e o pai vêm de Coimbra. ' O Tomás e o pai veem de Coimbra.
& O Tomás e o Ricardo veem o filme. ' O Tomás e o Ricardo vêm o filme.
Vamos lá ver se nos entendemos! A diferença entre vem, vêm e veem reside em
aspetos diferentes.
Em primeiro lugar, estas três formas pertencem a pessoas e a verbos diferentes: vem
e vêm são formas do verbo vir.
Vem é a forma da 3.a pessoa do singular do presente do indicativo e vêm a 3.a pessoa
do plural do mesmo tempo e modo; veem é uma forma do verbo ver, mais precisamente
a 3.a pessoa do plural do presente do indicativo (que antes, da entrada em vigor do Acordo
Ortográfico de 1990, se escrevia com uma acento circunflexo no primeiro e).
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DIZ-SE! NÃO SE DIZ! @i esta língua! Manual de sobrevivência
8. Fizeste ou fizestes?
& Ricardo, ontem fizeste demasiado ba- ' Ricardo, ontem fizestes demasiado ba-
rulho! rulho!
Se pensares na terminação das formas da 2.a pessoa do singular, como bebes, jogas,
etc., verás que há uma certa analogia com *fizestes.
Pois é! Quem fala e escreve parece fazer essa analogia também.
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9. Lesse ou lê-se?
& Perceberia melhor o texto, caso o lesse ' Perceberia melhor o texto, caso o lê-se
em voz alta. em voz alta.
& Este artigo lê-se bem! ' Este artigo lesse bem.
Lesse e lê-se são duas formas do verbo ler. A primeira corresponde à 1.a ou 3.a pessoa
do singular do pretérito imperfeito do conjuntivo e a segunda corresponde à 3.a pessoa
do singular do presente do indicativo, conjugado com o pronome se separado deste por
um hífen.
E então? – pensarás tu. Como é que sei se devo escrever com hífen ou não (que o
mesmo é dizer: devo escrever lê-se ou lesse?
Aqui vai a dica! Coloca a frase na negativa: Perceberia melhor o texto, caso não lesse em
voz alta; Este artigo não se lê bem. É assim, não é?
O que aconteceu afinal e por que razão aconteceu?
O elemento não levou o pronome se a posicionar-se antes do verbo. Isso só aconteceu
na segunda frase, pois é aí que o verbo se encontra conjugado pronominalmente, claro
(lê-se). Esta transformação não é consciente quando falamos, mas, na hora de tirar dúvi-
das sobre a forma correta (lê-se ou lesse), pode ajudar.
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DIZ-SE! NÃO SE DIZ! @i esta língua! Manual de sobrevivência
& Talvez possamos ir ao cinema hoje. ' Talvez póssamos ir ao cinema hoje.
& Caso façamos o trabalho hoje, pode- ' Caso fáçamos o trabalho hoje, pode-
mos sair. mos sair.
& Talvez tenhamos tempo de ir ao ci- ' Talvez ténhamos tempo de ir ao ci-
nema. nema.
Possamos, façamos e tenhamos são formas dos verbos poder, fazer e ter (1.a pessoa do
plural do presente do conjuntivo).
A sílaba tónica destas formas é a penúltima (-ssa-, -ça- e -nha-) e não a antepenúl-
tima, como se assume na pronúncia incorreta. Na verdade, estas palavras são graves e
não esdrúxulas e o a da sua sílaba tónica é fechado.
Aqui está o erro que se comete na pronúncia, provavelmente por analogia com as
formas como possa, possas, possam (do verbo poder); faça, faças, façam (do verbo fazer);
tenha, tenhas, tenham (do verbo ter).
2. Desequilíbrio ou desiquilíbrio?
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A palavra desequilíbrio é geralmente pronunciada como *desiquelíbrio, o que faz com
que, quando temos de a passar à escrita, haja a tendência para a escrever incorretamente.
Ora vejamos: a palavra desequilíbrio deriva da palavra equilíbrio. Por isso mesmo, é
fácil entender que as propriedades da base, ou seja, da palavra equilíbrio, se mantêm no
seu derivado.
Esta é a dica que deves usar, sempre que tiveres dúvidas em relação à ortografia da
palavra desequílibrio.
3. Saem ou saiem?
& Os alunos saem da sala assim que ' Os alunos saiem da sala assim que
toca. toca.
Agora que já percebeste a razão do erro, deixaste de ter justificação para errar.
Atenção: Há outros casos em que o erro pode acontecer: atraem, caem, constroem,
contraem, distraem, subtraem, traem, entre outros.
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DIZ-SE! NÃO SE DIZ! @i esta língua! Manual de sobrevivência
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V. Outras confusões habituais
1. Senão ou se não?
& O Tomás não faz outra coisa senão estar ' O Tomás não faz outra coisa se não estar
no computador. no computador.
& Se não vieres à festa, vamos praxar-te. ' Senão vieres à festa, vamos praxar-te.
É fácil confundir senão com se não, pois estas duas formas só se distinguem na escrita.
Se não corresponde a “caso não”: Tentarei mais uma vez. Se não conseguir, desisto.
& O José está mais bem preparado para ' O José está melhor preparado para o
o exame do que o André. exame do que o André.
& O texto do José está melhor do que o ' O texto do José está mais bem do que
do André. o do André.
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DIZ-SE! NÃO SE DIZ! @i esta língua! Manual de sobrevivência
Vamos relembrar!
O advérbio bem admite as formas melhor e mais bem para formar o comparativo de
superioridade e o superlativo, mas é necessário ter em conta o contexto da frase.
Posso dizer: Esta música soa-me bem, mas aquela soa-me melhor.
No entanto, tenho de dizer Este trabalho está mais bem organizado do que aquele.
Qual é a diferença?
Na segunda frase aparece o particípio organizado, o que obriga ao uso de mais bem.
Mas por que motivo se ouvem frases como *O José está melhor preparado para o
exame do que o André?
Provavelmente porque nos soa mal a expressão mais bem e a forma melhor nos parece
mais correta e até mais elegante.
Em conclusão, quando uso o advérbio bem devo dizer Este trabalho está mais bem
redigido do que aquele; Este trabalho é melhor do que aquele.
Quando uso o adjetivo bom, a única forma disponível é melhor: Este bolo é melhor do
que aquele.
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3. Onde ou aonde?
& A Sofia não disse aonde ia. ' A Sofia não disse onde ia.
Se te lembrares de outros casos em que não tens dúvidas, torna-se fácil perceber o
erro:
Por onde passaram os atletas? De onde vieram as formigas? / Para onde foram os compu-
tadores?, etc.
Neste caso, já existe uma preposição (por, de, para), pedida pelo verbo. Por isso
mesmo soar--te-iam estranhas as frases Por *aonde passaram? / De *aonde vieram? /
Para *aonde foram?
4. Encontramo-nos ou Encontramos-nos?
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DIZ-SE! NÃO SE DIZ! @i esta língua! Manual de sobrevivência
& Compramos muitas coisas de que não ' Compra-mos muitas coisas de que não
precisamos. precisamos
& Quando preciso de cadernos, o Pedro ' Quando preciso de cadernos, o Pedro
compra-mos. compramos.
& Era bom comprarmos os cadernos ' Era bom comprar-mos os cadernos
ainda hoje. ainda hoje.
Contudo, há diferenças!
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Ő Comprarmos é a forma da 1.a pessoa do plural do futuro do conjuntivo.
Ő *Comprar-mos não existe simplesmente.
& O aluno interveio na aula a fim de co- ' O aluno interveio na aula afim de colo-
locar uma questão. car uma questão.
& O João interveio a fim de que todos ' O João interveio afim de que todos
percebessem que ele sabia a resposta. percebessem que ele sabia a resposta.
& Lisboa é uma cidade afim de Barce- ' Lisboa é uma cidade a fim de Barce-
lona. lona.
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DIZ-SE! NÃO SE DIZ! @i esta língua! Manual de sobrevivência
Ő A fim de é usado com o sentido de “finalidade” e pode ser substituído por para: O
aluno interveio na aula a fim de colocar uma questão.
Ő A fim de que é também usado com sentido de “finalidade” e pode ser substituído
por para que, inserindo uma oração: O João interveio a fim de que todos percebessem
que ele sabia a resposta.
Ő Afim de é usado no sentido de:
– “parente”: O Tomás é afim da Sofia.
– “semelhante”: A loja vende computadores, impressoras e outros produtos afins.
& Tenho de acabar este livro hoje. ' Tenho que acabar este livro hoje.
& Hoje não posso sair. Tenho que fazer. ' Hoje não posso sair. Tenho de fazer.
A tradição gramatical indica a forma ter de como a mais correta para traduzir o sentido
de “obrigação”, “dever”, “necessidade”. Porém, hoje em dia, a expressão ter que parece
ser a preferida dos falantes do português, apesar de o seu sentido original ainda estar
presente em Hoje não posso sair, pois tenho que fazer (isto é, “tenho muitas coisas para
fazer”).
Em todo o caso, e porque a norma é conservadora − porque assim tem de ser −, talvez
se possa dizer que ter de tem hoje um valor mais formal e, portanto, deves sempre optar
por ela quando o registo for cuidado.
23
8. Gostar que ou gostar de que?
& O Pedro gosta que o elogiem. ' O Pedro gosta de que o elogiem.
Há várias opiniões sobre este problema, pelo que não se assume aqui que uma das
opções está incorreta.
Em todo o caso, convém lembrar que só quando o verbo gostar é seguido de uma
oração integrante é que se pode admitir a omissão da preposição de.
O uso desta preposição já é obrigatório quando o verbo gostar tem como complemento
um nome (gosto de bolachas), um pronome (gosto de ti) ou um verbo no infinitivo (gosto
de passear).
9. Ir ao encontro de ou ir de encontro a?
& A solução é boa, porque vai ao encon- ' A solução é boa, porque vai de encon-
tro das necessidades dos clientes. tro às necessidades dos clientes.
& A decisão não me agrada, porque vai ' A decisão não me agrada, porque vai
de encontro ao que eu gostava. ao encontro do que eu gostava.
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DIZ-SE! NÃO SE DIZ! @i esta língua! Manual de sobrevivência
VI. Concordâncias
& 90% dos alunos tiveram boas notas. ' 90% dos alunos teve boas notas.
& 1% dos alunos não passou de ano. ' 1% dos alunos não passaram de ano.
Diz a regra que, quando o sujeito é constituído por uma expressão de percentagem no
plural (a partir de 2%), seguida de um termo introduzido por uma preposição, singular
ou plural, o predicado concorda com este último termo. Isto é, o verbo fica no singular
se este termo for singular ou vai para o plural se ele estiver no plural: 90% dos alunos
tiveram boas notas; 10% da população das zonas do interior emigrou o ano passado.
Pelo contrário, se a expressão de percentagem for singular, tal determina que o verbo
concorde com ela, ainda que o termo preposicionado se encontre no plural: 1% dos
alunos não passou de ano.
& A maioria dos alunos sabe a matéria. ' A maioria dos alunos sabem a matéria.
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Teremos de admitir, como o fazem alguns gramáticos de renome, que ambas as al-
ternativas estão corretas. Com efeito, nas frases começadas por a maioria, a maior parte,
etc., o verbo tanto pode ir para o plural como para o singular.
Há contudo uma explicação que é necessário dar para que a resposta faça sentido. Na
frase a maioria dos alunos sabe a matéria, o verbo concorda com a palavra maioria. Tra-
ta-se de uma concordância ditada pelas regras da gramática. Na frase que vulgarmente
é considerada errada – A maioria dos alunos sabem a matéria –, o verbo concorda com
a totalidade dos alunos que são a maioria, isto é, dá-se uma concordância ao nível do
sentido. Deixamos de ter uma concordância gramatical para ter uma concordância lógica.
& O Ricardo foi um dos que fizeram o ' O Ricardo foi um dos que fez o teste até
teste até ao fim. ao fim.
A seguir à expressão um dos que, o verbo fica no plural, porque o predicado concorda
com o sujeito representado pelo pronome que, o qual, por sua vez, se refere a os.
Pode substituir-se um dos que por um daqueles que. Neste caso, o sujeito que refere-se
a aqueles.
Quando usares a expressão um dos que, não te esqueças que o verbo que vem depois
tem de aparecer na 3.a pessoa do plural.
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DIZ-SE! NÃO SE DIZ! @i esta língua! Manual de sobrevivência
& O governo decidiu hoje que todos os ' O governo decidiu hoje que todos os
portugueses terão de trabalhar mais portugueses terão de trabalhar mais
anos e descontar mais impostos. Tra- anos e descontar mais impostos. Tra-
ta-se de duas decisões muito penosas tam-se de duas decisões muito peno-
para a sociedade. sas para a sociedade.
Sempre que o sujeito indeterminado está representado pelo pronome se, o verbo usa-
-se na 3.a pessoa do singular, mesmo que o que vem depois seja plural: Trata-se de duas
decisões muito penosas para a sociedade.
& Pesem embora os vírus, o computador ' Pese embora os vírus, o computador
funciona. funciona.
Pese(m) embora é uma construção de certo modo fixa, com o sentido “apesar de”,
“não obstante”, e introduz uma expressão concessiva.
Em todo o caso, é formada pela conjunção embora, precedida do verbo pesar, que é o
verbo da oração. Neste caso, deve concordar com o sujeito, que vem a seguir.
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6. Obrigado ou obrigada; obrigados ou obrigadas?
& Eles disseram às amigas: − Obrigados. ' Elas disseram aos amigos: − Obrigados.
& Elas disseram aos amigos: − Obrigadas. ' Eles disseram às amigas: − Obrigadas.
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DIZ-SE! NÃO SE DIZ! @i esta língua! Manual de sobrevivência
& Tenho a certeza de que este livro é útil. ' Tenho a certeza que este livro é útil.
Ter a certeza (de), ter a noção (de), ter a ideia (de) são exemplos de expressões que exi-
gem a preposição quando se ligam a um nome.
& Ele deve fazer o trabalho. ' Ele deve de fazer o trabalho.
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3. As relativas para baralhar!
& O cão é o animal em que mais confio. ' O cão é o animal que mais confio.
& Era este assunto a que me referia. ' Era este assunto que me referia.
& O Filipe disse à mãe que era aquele com- ' O Filipe disse à mãe que era aquele com-
putador de que ele precisava. putador que ele precisava.
E para baralhar ainda mais a questão do uso das preposições (e não só), há aquelas
construções que nos trazem problemas acrescidos.
Os verbos das orações relativas continuam a ter as mesmas exigências (em termos de
preposições, é claro), mesmo quando fazem parte destas construções. No entanto, como
estão disfarçados, esquecemo-nos do que eles pedem.
Ninguém esquece a preposição em quando usa o verbo confiar, mas é preciso que o
verbo esteja bem visível, como em Confio em ti.
Contudo, é comum que essa mesma preposição seja simplesmente omitida quando
esse verbo faz parte de uma oração relativa, como em *O cão é o animal que mais confio.
Trata-se, como vês, de um erro de omissão da preposição em exigido pelo verbo confiar.
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DIZ-SE! NÃO SE DIZ! @i esta língua! Manual de sobrevivência
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PALAVRAS EXEMPLO EXEMPLO
32
GFSDJKNGJKJGHFJHJDKSHFHSGJHFJKHDGJDFDJKFJGHJFD