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linearmente se fundou em Grécia/Roma/Europa no fim do século XVIII durante o
Romantismo alemão. Era uma espécie de aparato de manipulação conceitual posterior
do “modelo ariano” de viés racista e racializante. O "modelo ariano" referenciava
negativamente diferentes grupos étnicos e suas produções tecnológicas, intelectuais e
culturais. É imprescindível não deixar de citar as contradições do Iluminismo, onde
em seus países de origem reivindicava a implantação de uma sociedade burguesa
pautada no principio de igualdade e liberdade. No entanto, os iluministas defendiam a
diferença entre os homens baseando-se num naturalismo que formulou um
determinismo biológico, no qual sistematizou as teorias raciais que ainda justificam as
desigualdades sociais entre os indivíduos na contemporaneidade. A Europa Ocidental
deve ser relida na cifra de uma invenção moderna no qual traduz uma história de
poder, por meio do processo colonial onde cria um sistema de dominação e exclusão,
que constitui formas de subalternidades referentes à África e a América. Os lugares
hierarquizados e desprivilegiados construídos para indivíduos ou grupos considerados
racializados. Em síntese, refere-se sobre aquilo que seja Europa contraposta com
aquilo que seja não/Europa. Dessa maneira, a Europa estabeleceu-se historicamente
assumindo o controle sobre os diferentes mecanismos atrelados ao trabalho, ao
capital e, também ao mercado mundial.
Portanto, um (a) artista quando se define como negro (a) reivindica o seu lugar de
fala, no qual traduz politicamente a urgência de seu tempo e de sua história numa
tentativa de reescrita de outras narrativas. Ao mesmo tempo, este (a) produz
metodologias visuais como forma de estruturação e/ou ordenação de poéticas que
mesmo que se refira ao debate étnico-racial não são homogêneas a outras produções
artísticas. Pode-se retomar a palestra proferida pela pesquisadora Renata
Bittencourt As instituições brasileiras em relação à produção de artistas
afrodescendentes, durante a programação do seminário sobre a exposição Territórios:
artistas afrodescendentes no acervo da Pinacoteca, no qual trata inicialmente sobre a
percepção imediata de sujeitos negros naquilo que o olhar do outro inegavelmente
capta: a cor da pele. São corpos visíveis. No entanto, esta existência aparece de
maneira não tão visível quando se analisa do ponto de vista de uma presença de
artistas negros e negras em galerias, museus e instituições culturais, mesmo que estas
produções existam com temas e modalidades artísticas distintas. A pesquisadora
enfatiza o papel das instituições culturais em propor diferentes formas de leituras de
produções de artistas negros (as), na mesma medida, visibilizá-las distantes de uma
história representada de modo específico sobre estes (as). Pois, estas instituições se
encontram no campo da cultura e não podem ser vistas apenas como espaços de
neutralidade, e sim como espaços de fomentação, diálogo educativo e abordagem de
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diferentes narrativas culturais e visuais. Podem-se observar relações de proximidades
formais ou situações de encontros entre Kerry James Marshall (1955) e Rosana Paulino
(1967), William Henry Johnson (1901-1970) e Heitor dos Prazeres (1898-1966). Neste
cenário contemporâneo é possível elencar uma série de produções de artistas negros,
onde formulam, sistematizam e operam formalmente suas experiências sociais em
temas e práticas artísticas diversas.
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A importância da exposição Territórios: artistas afrodescendentes no acervo da
Pinacoteca segundo o diretor geral e curador Tadeu Chiarelli é visibilizar as diferentes
narrativas de produtores negros ou afrodescendentes, olhando para a história do
próprio acervo, e sua contribuição para o debate historiográfico da arte brasileira. O
museu completou 110 anos em 2015. E, a exposição Territórios apresenta 106 obras
destes artistas de período e modalidades artísticas distintas de seu acervo. Este
debate inicia-se com a gestão do artista Emanoel Araújo na Pinacoteca (1992-2002),
uma figura relevante neste cenário. Destaca-se neste período no acervo, um
autorretrato do pintor Arthur Timótheo da Costa (RJ, 1882-1922) de 1908, doado em
1956. Logo, há a ampliação do acervo com produções desde o século 18 até o
momento presente. Acresce-se ainda, a recente aquisição de obras de artistas negros
pela gestão de Tadeu Chiarelli.
O debate sobre uma produção de autoria negra na arte brasileira possui um percurso
histórico onde se destaca a atuação do artista, gestor e curador Emanoel Araújo na
criação do Museu Afro Brasil em 2004. Araújo organizou uma vasta publicação sobre
uma autoria negra como maneira de contribuição para a história enquanto memória e
produção de arte, ciência e cultura brasileiras. Ressalta-se a exposição A mão afro-
brasileira com curadoria de Emanoel Araujo, sediada pelo Museu de Arte Moderna de
São Paulo (MAM- SP), paralelamente a publicação do catálogo homônimo em
comemoração ao centenário da abolição, lançado em 1988. E, posteriormente uma
versão reeditada e ampliada em dois volumes em 2010. Um dos objetivos do catálogo
era fazer o mapeamento de artistas negros contemporâneos. O olhar de Araujo
destaca-se por tecer diferentes perspectivas históricas para a releitura de lacunas do
passado, para repensar e tensionar o presente e alinhavar o futuro.
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O termo arte afro-brasileira aparece nos estudos de Mariano Carneiro da Cunha,
considerado pelo autor de caráter conceitual, quando cita uma visualidade atrelada a
uma estética tradicional africana e/ou que desempenha o papel de culto dos orixás
ou, então aproximada a tema ligado ao culto. Trata-se de temas ordenados de cunho
afro-brasileiro, nomeadamente em seu sentido lato e estrito, como a presença
cultural do ‘caboclo’ como representação de ancestrais indígenas presentes nos ritos
afro-brasileiros, como por exemplo, na umbanda. Por outras palavras, são formas
demarcadoras de brasilidade ou o processo dinâmico de ressignificação cultural. Numa
breve digressão, no artigo Ensaio de uma estética afro-brasileira do sociólogo francês
Roger Bastide, publicado no jornal O Estado de São Paulo, durante o período de
1948-1949, Bastide analisa o caráter místico-estético presente nos pontos riscados das
macumbas no Rio de Janeiro ou espiritismo na umbanda como expressões estéticas
afro-brasileiras. Em síntese, o termo afro-brasileiro para Cunha aparece de maneira
ambígua e provisória em razão de traduzir determinados dinamismos de aspectos
culturais africanos no Brasil. Porventura, justificar-se-ia em razão de haver a presença
de muitos artistas brancos, um tanto de mestiços e poucos negros que abordam esta
temática de modo incidental ou recorrente em suas poéticas. Anteriormente, o
artista, dramaturgo e pesquisador Abdias do Nascimento depois do 1º Congresso do
Negro Brasileiro realizado pelo Teatro Experimental do Negro (TEN) a partir de uma
comunicação de Mário Barata sobre A escultura de origem africana no Brasil em 1950,
começa a colecionar trabalhos de artistas negros ou afrodescendentes. Em 1955,
propõe um concurso em artes visuais com o tema Cristo Negro. Neste percurso, cria o
Museu de Arte Negra, sem sede própria e, apenas com uma única exposição ocorrida
no Museu de Imagem e do Som (MIS) no Rio de Janeiro em 1968. Abdias do Nascimento
coloca em questão a importância de destacar a cor da pele de uma autoria artística,
pois evidencia relações de assimetria e desigualdades sociais tecidas por uma história
de colonialidade de poder. Certamente, não existe um sujeito sem cor e composto por
uma total neutralidade. Segundo ele, somente a restituição de um autorrespeito e
autoestima permite a totalidade de uma pessoa em formas de representatividade e
reconfiguração histórica.
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impossibilidade de leitura de objeto artístico que não esteja moldado as grandes
narrativas ou a acepção de universais da arte, abordado no livro Após o fim da arte:
arte contemporânea e os limites da história pelo filósofo e crítico de arte americano
Arthur Danto publicado em 2006. A exposição Territórios: artistas afrodescendentes no
acervo da Pinacoteca propõe a leitura de uma narrativa hegemonizada que deve ser
analisada fora de uma construção no campo da experiência, da subjetividade, da
pessoalidade, da emoção e da imparcialidade. Pois, é a única forma de descolonizar
as diferentes narrativas poéticas. É imprescindível criar novas estratégias de leitura
para repensar outras escritas para uma produção vista como homogeneizada, não
formal esteticamente e aprisionada a determinados paradigmas eurocêntricos. Só
assim é possível analisar criticamente uma visualidade plural em sua potência
criativa, formal e conceitual.
http://omenelick2ato.com/artes-plasticas/ARTISTAS-E-INSTITUICOES