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Isabel Ribeiro
Ficha Técnica
Conteúdos do Manual
OBJETIVOS:
Identificar características genéricas do texto literário.
expressão artística.
estrangeiros.
CONTEÚDOS:
Conceito de literatura
Conceito de texto literário
artística
Dinis Machado
José Saramago
Lídia Jorge
Manuel Alegre
Vergílio Ferreira
Fontes Bibliográficas
GÉNERO NARRATIVO..............................................................................................17
TEXTOS NARRATIVOS.............................................................................................18
GÉNERO LÍRICO........................................................................................................18
TEXTOS LÍRICOS.......................................................................................................19
GÉNERO DRAMÁTICO.............................................................................................19
GÉNEROS LITERÁRIOS...........................................................................................22
MIGUEL TORGA.........................................................................................................44
RUY BELO..................................................................................................................743
Trabalho de Pesquisa
1-Define “literatura”.
Literatura pode ser definida como a arte de criar e recriar textos, de compor ou
estudar escritos artísticos; o exercício da
eloquência e da poesia; o conjunto de
produções literárias de um país ou de uma
época; a carreira das letras.
Sabemos que o reino das palavras é farto. Elas brotam do nosso pensamento de
maneira natural, não temos a preocupação de elaborar o que dizemos ou até mesmo
escrevemos. As palavras, contudo, podem ultrapassar os seus limites de significação,
podendo assim conquistar novos espaços e passar novas possibilidades de perceber a
realidade.
O caminho que a literatura percorre é este. O artista sente, escolhe e manipula as
palavras, organiza-as para que produzam um efeito que vá além da sua significação
objetiva, procurando aproxima-las do imaginário.
A literatura é uma manifestação artística e difere das demais pela maneira como
se expressa, a sua matéria-prima é a palavra, a linguagem. O texto literário caracteriza-
se pelo predomínio da função poética.
Procura da poesia
Não recomponhas
tua sepultada e merencória infância.
Não osciles entre o espelho e a
memória em dissipação.
Que se dissipou, não era poesia.
Que se partiu, cristal não era.
Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite, as palavras.
Ainda húmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.
LITERATURA: CONCEITUAÇÃO
Havia um mendigo cego e as pessoas que passavam por ele não lhe davam
quase nada, mas um homem fez a diferença; para ele ganhar mais esmolas trocou o
cartaz que carregava com as palavras ”cego de nascença” por outro: “chegará a
estação das flores e eu não a verei mais”. Através do exemplo nota-se que simples
palavras ganham sentimento.
- Um elemento de catarse
Mas esta mesma palavra em outro contexto pode ter outro sentido, ou
interpretação.
Na conotação aparece:
EX: Os anos que você esteve ao meu lado, foram anos dourados.
ATIVIDADES
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1- Determine em que sentido foram empregues as palavras:
2) Explique: porque é que as expressões com sentido conotativo são muito usadas em
textos poéticos?
4) Escreva uma frase com sentido conotativo e uma frase com sentido denotativo para cada
palavra abaixo:
Gelo:
Conotativo:
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Denotativo:
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Mundo:
Conotativo:
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Denotativo:
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Estrela:
Conotativo:
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Denotativo:
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Género Literário
Género narrativo
O género narrativo nada mais faz do que relatar um enredo, sendo ele imaginário
ou não, situado em tempo e lugar determinados, envolvendo uma ou mais personagens,
e assim o faz de diversas formas. As narrativas utilizam-se de diferentes linguagens: a
verbal (oral ou escrita), a visual (por meio da imagem), a gestual (por meio de gestos),
além de outras.
Epopeia ou Épico: é uma narrativa feita em versos, num longo poema que
ressalta os feitos de um herói ou as aventuras de um povo. Quatro belos
exemplos são O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien, Os Lusíadas, de Luís de
Camões, Ilíada e Odisseia, de Homero.
Textos líricos
Haicai (ou haiku): é uma forma de poesia japonesa, sem rima, constituídos
normalmente por três versos na ordem de 5-7-5 sílabas.
Género Dramático
É muito difícil ter uma definição de texto dramático que o diferencie dos demais
géneros textuais, já que existe uma tendência atual muito grande em teatralizar qualquer
tipo de texto. No entanto, a principal característica do texto dramático é a presença do
chamado texto principal, composto pela parte do texto que deve ser dito pelos atores na
peça e que, muitas vezes, é induzido pelas indicações cénicas, rubricas ou didascálias,
texto também chamado de secundário, que informa os atores e o leitor sobre a dinâmica
do texto principal. Por exemplo, antes da fala de uma personagem é colocada a
expressão: «com voz baixa», indicando como o texto deve ser falado.
Já que não existe narrador neste tipo de texto, o drama é dividido entre as duas
personagens locutoras, que entram em cena pela citação dos seus nomes.
"Classifica-se por drama toda a peça teatral caracterizada por seriedade, ou solenidade,
em oposição à comédia propriamente dita".
O que faz do homem aquilo que ele é, um ser distinto de todos os demais seres
vivos, é a linguagem, a capacidade de comunicar com os outros homens, partilhando
com eles todo o tipo de informação. Pela linguagem o homem é capaz não apenas de
comunicar (transmitir e receber informações), mas também, e principalmente, de
recolher e tratar dados, elaborando a informação que transmite. Em suma, graças à
linguagem, o homem é capaz de pensar e de comunicar. Pensamento e linguagem estão,
portanto, indissoluvelmente ligados. Podemos dizer que não há pensamento sem
linguagem, nem linguagem sem pensamento,
GÉNEROS LITERÁRIOS
Dissemos atrás que a literatura, entendida como a procura do prazer estético através da
linguagem, é tão antiga como o homem. É uma afirmação arriscada, porque não existem
documentos que a comprovem. Dado que a invenção da escrita é relativamente recente
na história da humanidade, os registos literários mais antigos têm escassos milhares de
anos. Mas sabemos todos que a linguagem oral precede a escrita e, por isso, não
corremos o risco de errar ao afirmarmos que antes das primeiras narrativas serem
registadas pela escrita já existiam contos que os mais velhos transmitiam aos mais
novos; antes da poesia circular em cancioneiros já existiam canções; antes de Ésquilo e
Aristófanes escreverem as suas tragédias e comédias já havia certamente representações
por ocasião das festividades.
02) O género dramático geralmente é composto de textos que foram escritos para
serem encenados em forma de:
a) Música.
b) Peça de teatro.
c) Poesia.
d) Novela.
e) Cinema.
04) A sátira é um texto de caráter ridicularizador, podendo ser também uma crítica
indireta a algum facto ou a alguém. Um bom exemplo pode ser:
a) Canção.
b) História.
c) Piada.
d) Filme.
e) Teatro.
10) O género épico é formado por obras (em verso ou em prosa) de extensão maior,
em que um narrador apresenta personagens envolvidas em situações e eventos. As
grandes navegações portuguesas a partir do século XVI também foram
representadas em versos escritos na literatura portuguesa do século XVI. Qual o
nome mais importante dessa época na literatura portuguesa?
a) José Saramago
b) Eça de Queiroz
c) Luís Vaz de Camões
d) Carlos Drummond de Andrade
e) Paulo Leminski
FIGURAS DE LINGUAGEM
As figuras de linguagem são recursos usados para dar maior ênfase ou sentido à
expressão. O estudo dessas figuras ajuda a entender melhor os recursos utilizados pelos
escritores nos seus textos. Veja algumas das figuras de linguagem mais usadas:
COMPARAÇÃO
METÁFORA
METONÍMIA
Eu li machado de Assis.
CATACRESE
É como uma metáfora do dia-a-dia. O seu objetivo é desviar uma palavra do seu
sentido próprio para dar nome a outra coisa que não tem nome específico.
Perna da mesa.
EUFEMISMO
EX: Ela foi desta para melhor. (quer dizer ela morreu)
IRONIA
É o uso de palavras, expressões, mas que querem dizer o contrário do que está
sendo dito.
EX: Com governo honesto e sem corrupção não precisa ter medo do futuro.
ANTÍTESE
É usada para opor dois termos na mesma frase ou parágrafo, enfatizando os seus
contrastes.
ELIPSE
Uma ou mais palavras são omitidas na frase, mas que são subentendidas.
EX: Elas todas no quintal de casa. (Quer dizer que elas todas estavam no quintal
de casa; o verbo estar ficou em elipse.)
ANÁFORA
HIPÉRBOLE
PROSOPOPÉIA
Estrutura externa
Estrutura interna
Linguagem poética
Há que ter em conta a época em que se contextualiza o poema, pois poderá não respeitar
estes itens de análise. Assim sendo, também é importante salientar a liberdade formal.
Há que ter consciência que um poema é tão aberto e suscetível de tantas análises
diferenciadas quantas as sensibilidades que o olham.
Estrutura externa
Estrutura interna
Linguagem poética
Fonologia
O principal recurso fonológico que apresenta o texto já foi abordado na estrutura
externa, pois todos os elementos métricos são fonológicos.
A aliteração, muito presente em muitos poemas pode apresentar valores expressivos
importantes conforme os sons que se repetem.
Morfologia
A Língua oferece múltiplas possibilidades expressivas, apresento algumas mais
significativas:
O substantivo: os valores do substantivo radicam mais do seu significado do que do
seu aspeto morfológico. Talvez que o único aspeto morfológico que interessa mais é a
presença de morfemas apreciativos- diminutivos, aumentativos e depreciativos. Em
todos eles são os valores afetivos que se sobrepõem aos verdadeiramente denotativos. O
poeta não aumenta ou diminui magnitudes, apenas manifesta a sua subjetividade face às
realidades que alude o substantivo.
O adjetivo: Deve ser tido em conta pois as suas possibilidades são muito variadas.
Aumentam segundo a sua função e frequência: desde o adjetivo com função de atributo
aos adjetivos epítetos à volta do nome. A sua colocação face ao nome também é muito
variável: por exemplo os adjetivos valorativos normalmente antepõem-se enquanto os
objetivos se pospõem.
O verbo: Os valores modais, aspectuais e temporais que o verbo oferece são muito
usados por muitos poetas.
Determinantes e pronomes: normalmente unem-se ao verbo para mostrar as pessoas
gramaticais.
Sintaxe
Os recursos sintáticos mais frequentes são: paralelismo, repetição, hipérbato, assíndeto e
polissíndeto.
Semântica.
A maior complexidade dos textos poéticos radica do predomínio dos valores conotativos
frente aos denotativos. Podem remeter para determinados temas constantes em cada
poeta. As figuras literárias presentes no plano semântico são numerosas.
Figuras de pensamento
Personificação/prosopopeia
Antítese (contraste de ideias)
Hipérbole
Tropos
Metáfora
Sinestesia
Comparação
Metonímia
Sinédoque
As citações devem aparecer entre aspas. Quando não for necessário citar um verso
completo ou uma frase completa deve-se utilizar o sinal [...] no local em que se
interrompe a transcrição. Quando se desejar citar mais do que um verso e essa citação
seguir exatamente a ordem do poema em análise, deverá separar-se os respetivos versos
por meio da utilização de uma barra oblíqua.
Para compreenderes melhor o texto poético é importante que tenhas algumas noções que
te ajudarão a apreciar toda a sua beleza.
1 verso - monóstico
2 versos - dístico ou parelha
3 versos - terceto
4 versos – quadra ….
Rima - correspondência de sons nas sílabas finais dos versos. Também há versos soltos
ou brancos em que não se verifica a correspondência de sons. No entanto, a rima é um
elemento importante para o ritmo e a expressividade do poema facilitando, também, a
memorização.
Ritmo - é dado ao poema pela combinação dos sons das palavras. Confere, ao verso,
musicalidade dando expressividade ao poema e tornando mais agradável a sua audição.
♦ Monossílabos
♦ Dissílabos
♦ Trissílabos
♦ Tetrassílabos
♦ Pentassílabos
♦ Hexassílabos
♦ Heptassílabos
♦ Octossílabos
♦ Eneassílabos
♦ Decassílabos
♦ Hendecassílabos
♦ Dodecassílabos
♦ rima toante: quando há conformidade apenas da vogal tónica, ou das vogais a partir da
tónica (lima / bonita).
a) AGUDAS
Vinhos dum vinhedo, frutos dum pomar,
Que no céu os anjos regam com luar...
(Guerra Junqueiro)
b) GRAVES
Calçou as sandálias, tocou-se de flores,
Vestiu-se de Nossa Senhora das Dores.
(António Nobre)
c) ESDRÚXULAS
No ar lento fumam gomas aromáticas,
Brilham as navetas, brilham as dalmáticas.
(Eugénio de Castro)
RIMA PERFEITA
A rima é uma coincidência de sons, não de letras:
Há rima perfeita tanto entre sul e azul, como entre as formas trouxe, doce e fosse, que
apresentam a mesma terminação grafada de três maneiras diferentes.
RIMA IMPERFEITA:
Nem sempre há identidade absoluta entre os sons dispostos em rima:
Pensar eu que o teu destino
Ligado ao meu outro fora,
Pensar que te vejo agora,
Por culpa minha, infeliz...
(Gonçalves Dias)
RIMA POBRE:
RIMA RICA
São as rimas que se fazem com palavras de classe
gramatical diversa ou de finais pouco frequentes.
O teu olhar, Senhora, é a estrela da alva
Que entre alfombras de nuvens irradia:
Salmo de amor, canto de alívio, e salva
De palmas a saudar a luz do dia...
(Alphonsus de Guimaraens)
a) rima cruzada
b) rima emparelhada
Ora, se o filho do alfaiate qualquer dia a
Inaugurava ainda a Quinta dinastia!... a
Eu sentado no trono!... Eu rei de Portugal!... b
Que, rei ou presidente, enfim é tudo igual... b
(Guerra Junqueiro)
c) rima interpolada
Não raro, a rima está ausente do texto poético. Os versos tomam então o nome de
versos brancos ou soltos.
Roseira magra
em seiva ardendo
sem folhas
defende com espinhos
áspera
a pequenina flama
do coração exposto.
(Henriqueta Lisboa)
ESTROFES:
Vida e obra
Miguel Torga
Ladino
Grande bicho, aquele Ladino, o pardal! Tão manhoso, em toda a freguesia, só o
padre Gonçalo. Do seu tempo, já todos tinham andado. O piolho, o frio e o costeio não
poupavam ninguém. Salvo-seja ele, Ladino.
Mas como havia de lhe dar o lampo, se aquilo era uma cautela, um rigor!... E
logo de pequenino. Matulão, homem feito, e quem é que o fazia largar o ninho?! Uma
semana inteira em luta com a família. Erguia o gargalo, olhava, olhava, e - é o atiras dali
abaixo!... A mãe, coitada, bem o entusiasmava. A ver se o convencia, punha-se a fazer
folestrias à volta. E falava na coragem dos irmãos, uns heróis! Bom proveito! Ele é que
não queria saber de cantigas. Ninguém lhe podia garantir que as asas o aguentassem. É
que, francamente, não se tratava de brincadeira nenhuma!
Uma altura! Até a vista se lhe escurecia... O pai, danado, só argumentava às
bicadas, a picá-lo como se pica um boi. Pois sim! Ganhava muito com isso. Não saía,
nem por um decreto. E, de olho pisco, ali ficava no quente o dia inteiro, a dormitar.
Pobre de quem tinha de lho meter no bico...
Contudo, um dia lá se resolveu. Uma pessoa não se aguenta a papas toda a vida.
Mas não queiram saber... Quase que foi preciso um para-quedas.
Mais tarde, quando recordava a cena, ainda se ria. E deliciava-se a descrever as
emoções que sentira. Arrepios, palpitações, tonturas, o rabinho tefe-tefe. E a ver as
coisas baças, desfocadas. Agoniado de todo! Valera-lhe a santa da mãe, que Deus haja.
- Abre as asas, rapaz, não tenhas medo! Força! De uma vez!
Tinha de ser. Fechou os olhos, alargou os braços, e atirou o corpo, num repelão...
Com mil diabos, parecia que o coração lhe saía pelos pés! Ar, então, viste-o.
Deu às barbatanas, aflito.
- Mãe!
Mas afinal não caía, nem o ar lhe faltava, nem coisíssima nenhuma. Ia descendo
como uma pena, graças aos amortecedores. Mais que fosse! No peito, uma frescura fina,
gostosa... Não há dúvida: voar era realmente agradável! E que bonito o mundo, em
baixo! Tudo a sorrir, claro e acolhedor...
A mãe, sempre vigilante e mestra no ofício, aconselhou-lhe então um bonito
antes de aterrar. Dar quatro remadas fundas, em cheio, e, depois, aproveitar o balanço
com o corpo em folha morta, ao sabor da aragem...
Assim fez. Os lambões dos irmãos nem repararam, brutos como animais! A mãe
é que disse sim senhor, com um sorriso dos dela...
E pousou. Muito ao de leve, delicadamente, pousou no meio daquela matulagem
toda, que se desunhava ao redor duma meda de centeio.
Terra! Pisava-a pela primeira vez! Qualquer coisa de mais áspero do que o
veludo do ninho, mas também quente e segura. Deu alguns passos ao acaso, a tirar das
cócegas nos dedos um prazer de que ainda tinha saudades. Depois, comeu. Comeu com
fome e com gula os grãos duros que o sol esbagoava das espigas cheias. Numa bicada
imprecisa, precipitada, foi a ver, engolira uma pedra. Não lhe fez mal nenhum. Pelo
contrário. Ricos tempos! Desde o entendimento ao estômago, estava tudo inocente,
puro. Fosse agora, e era indigestão pela certa. Arrombadinho de todo! Por isso fazia
aquela dieta rigorosa...
Falava assim, e ria-se, o maroto. Nem pejo tinha da mocidade, que o ouvia
deslumbrada.
- A vergonha é a mãe de todos os vícios - costumava dizer.
E tanto fazia a Ti Maria do Carmo pôr espantalho no painço, como não. Ladino,
desde que não lhe acenassem com convite para arrozada numa panela, aos saltinhos ia
enchendo a barriga. Depois, punha-se no fio do correio a ver jogar o fito, como quem
fuma um cigarro. Desmancha-prazeres, o filho da professora aproximava-se a assobiar...
Ah, mas isso é que não. Brincadeiras com fisgas, santa paciência. Ala! Dava corda ao
motor, e ó pernas! Numa salve-rainha, estava no Ribeiro de Anta. Aí, ao menos,
ninguém o afligia. Podia fartar-se em paz de sol e grainha.
- Que mais quer um homem?!
- O compadre lá sabe...
- Bem... Tudo é preciso... São necessidades da natureza... Desde que não se
abuse...
E continuava, muito santanário, a catar o piolho. Depois, metia-se no banho.
- Rica areia tem aqui o cantoneiro, sim senhor!
D. Micas concordava. E só as Trindades o traziam ao beiral da Casa Grande.
Adormecia, então. E a sono solto, como um justo que era, passava a noite.
Acordava de madrugada, quando a manha rompia ao sinal de Tenório, o galo. Isto, no
tempo quente. Porque no frio, caramba!, ou usava duma tática lá sua, ou morria gelado.
Aquelas noites da Campeã, no Janeiro, só pedras é que podiam aguentá-las. E chegava-
se à chaminé. Com o bafo do fogão sempre a coisa fiava de outra maneira.
Ah, lá defender-se, sabia! A experiência para alguma coisa lhe havia de servir. Se
via o caso mal parado, até durante o dia punha o corpo no seguro. Bastava o vento
soprar da serra. Largava a comedoria, e - forro da cozinha! Não havia outro remédio.
Tudo menos uma pneumonia!
A classe tinha realmente um grande inimigo - o inverno. Mal o Dezembro
começava, só se ouviam lamúrias.
- Isto é que vai um ano, Ti Ladino!
A Cacilda, com filhos serôdios, e à rasca para os criar.
- Uma calamidade, realmente. Mas vocês não tomam juízo! É cada ninhada, que
parecem ratas!
- O destino quer assim...
- Lerias, mulher! O destino fazemo-lo nós...
Solteirão impenitente, tinha, no capítulo de saias, uma crónica de pôr os cabelos
em pé. Tudo lhe servia, novas, velhas, casadas ou solteiras. Mas, quando aparecia
geração, os outros é que eram sempre os pais da criança.
- Se todos fizessem como eu...
- Ora, como vossemecê!... Cala-te, boca. Mudemos de conversa, que é melhor...
Segue-se que não sei como lhes hei-de matar a fome... - gemia a desgraçada.
- Calculo a aflição que deve ser...
E o farsante quase que chorava também. Quisesse ele, e a infeliz resolvia num
abrir e fechar de olhos a crise que a apavorava. Pois sim! Olha lá que o safado ensinasse
como se ia ao galinheiro comer os restos!... Enchia primeiro o papo e, depois, a palitar
os dentes, fazia coro com a pobreza.
- É o diabo... Este mundo está mal organizado...
Um monumento! Como ele, só mesmo o padre Gonçalo. Quanto maior era a miséria,
mais anediado andava.
- Aquilo é que tem um peito! Numas brasas, com uma pitada de sal...
Mas já Ladino ia na ponta da unha. Não queria quebrar os dentes de ninguém.
Carne encoirada, durásia... E acrescentava:
- Isto, se uma pessoa se descuida, quando vai a dar conta está feita em torresmos.
Que tempos!
O mais engraçado é que já falava assim há muitos anos, com um sebo sobre as
costelas, que nem cabrito desmamado.
De tal maneira, que o Papo Magro, farto daquela velhice e daquelas manhas, a certa
altura não pôde mais, e até foi malcriado.
- Quando é esse funeral, ti Ladino?
Mas o velho raposão, em vez de se dar por achado, respondeu muito a sério,
como se fizesse um exame de consciência:
- Olha, rapaz, se queres que te fale com toda a franqueza, só quando acabar o
milho em Trás-os-Montes.
1. O título do conto que leste é o nome do seu protagonista- um pardal que se comporta
como um ser humano. De acordo com o seu nome, qual é a principal característica da
maneira de ser da personagem?
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2. Pela leitura das primeiras linhas fica-se a saber que Ladino é um pássaro resistente. A
que característica psicológica se deve esse facto?
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4. Já em adulto, as ações de Ladino continuam a revelar a “cautela” que lhe permite ser
o único “do seu tempo” ainda vivo.
4.1. Refere:
a. a alimentação;
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b. as noites e os dias de Inverno;
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c. a sua relação com os pássaros fêmeas.
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5. “Falava assim, e ria-se, o maroto.”
A expressão sublinhada, que o narrador utiliza para referir Ladino, contribui para a
construção do retrato psicológico do pardal.
5.1. Transcreve, da parte final do texto, outras expressões utilizadas.
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6. A linguagem utilizada no conto apresenta algumas características da oralidade e
marcas de um registo de língua popular. Retira, dos primeiros parágrafos, exemplos
das seguintes características:
a. Construção frásica com elipses;
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b. Interjeições e expressões populares;
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c. Frases exclamativas.
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enumeração
d. “Deu às barbatanas, aflito.”
eufemismo
e. “Ia descendo como uma pena (…)”
8. O recurso à personificação do pardal poderá ser utilizado para criticar os seres
humanos que têm comportamentos idênticos à personagem.
8.1. Reflete sobre que características humanas são criticadas, indicando os comportamentos
de Ladino que as ilustram.
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II- Gramática
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3. As frases seguintes são frases ativas em que as formas verbais estão em tempos
compostos. Converte-as em frases passivas, conforme o exemplo:
Ladino terá vencido a preguiça. → A preguiça terá sido vencida por Ladino.
a. O pardal terá visto muitos companheiros esfomeados.
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b. O bicho tinha guardado algum milho.
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c. Algumas pessoas teriam feito a mesma coisa.
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4. Numa frase passiva, nem sempre o complemento agente da passiva está explícito.
Indica a(s) frase(s) em que tal acontece:
a. Ladino foi elogiado pela mãe.
b. As suas habilidades no ar foram ignoradas.
c. No Ribeiro de Anta, o pardal não era incomodado.
5. Indica a que classe e subclasse pertencem as palavras da frase “Grande bicho, aquele
Ladino, o pardal!”
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sujeito
predicado
complemento direto
complemento indireto
complemento oblíquo
A sua carreira literária teve início em 1945, com a publicação de alguns poemas na
revista Seara Nova. Três anos mais tarde, ingressou no Teatro-Estúdio do Salitre e no
Teatro da Rua da Fé. Publicou as peças Isolda (1948), Contrabando (1950) e O Irmão
(1965). Em 1950, foi um dos cofundadores da revista literária Távola Redonda, que se
assumiu como veículo de uma alternativa à literatura empenhada, de realismo social,
que então dominava o panorama cultural português, defendendo uma arte autónoma.
Entre os seus livros de poesia encontram-se Tempestade de verão (1954, Prémio Delfim
Guimarães), Os Quatro Cantos do Tempo (1958), In Memoriam Memoriae (1962),
Infinito Pessoal ou A Arte de Amar (1962), Do Tempo ao Coração (1966), A Arte de
Amar (1967, reunião de obras anteriores), Lira de Bolso (1969), Cancioneiro de Natal
(1971, Prémio Nacional de Poesia), Matura Idade (1973), Sonetos do Cativo (1974), As
Lições do Fogo (1976), Obra Poética (1980, inclui as obras À Guitarra e À Viola e
Órfico Ofício), Os Ramos e os Remos (1985), Obra Poética, 1948-1988 (1988) e
Música de Cama (1994, antologia erótica com um livro inédito). Ensaísta notável,
escreveu Vinte Poetas Contemporâneos (1960), Motim Literário (1962), Hospital das
Letras (1966), Discurso Direto (1969), Tópicos de Crítica e de História Literária (1969),
Sobre Viventes (1976), Presença da «Presença» (1977), Lâmpadas no Escuro (1979), O
Essencial Sobre Vitorino Nemésio (1987), Nos Passos de Pessoa (1988, Prémio Jacinto
do Prado Coelho), Marguerite Yourcenar: Retrato de Uma Voz (1988), Sob o Mesmo
Teto: Estudos Sobre Autores de Língua Portuguesa (1989), Tópicos Recuperados
(1992), Jogo de Espelhos (1993) e Magia, Palavra, Corpo: Perspetiva da Cultura de
Língua Portuguesa (1989). Na ficção narrativa, estreou-se em 1959 com as novelas de
Gaivotas em Terra (Prémio Ricardo Malheiros), os contos de Os Amantes (1968), e
ainda As Quatro Estações (1980, Prémio da Crítica da Associação Internacional dos
Críticos Literários), Um Amor Feliz, romance que o consagrou como ficcionista em
1986 e que lhe valeu vários prémios, entre os quais o Grande Prémio de Romance da
APE e o Prémio de Narrativa do Pen Clube Português, e Duas Histórias de Lisboa
(1987). Deixou ainda traduções e uma gravação discográfica de poemas seus intitulada
«Um Monumento de Palavras» (1996). Alguns dos seus textos foram adaptados à
televisão e ao cinema, como, por exemplo, Aos Costumes Disse Nada, em que se baseou
José Fonseca e Costa para filmar, em 1983, «Sem Sombra de Pecado».
David Mourão-Ferreira foi ainda autor de poemas para fados, muitos deles celebrizados
por Amália Rodrigues, tal como «Madrugada de Alfama». Recebeu, em 1996, o Prémio
de Consagração de Carreira da Sociedade Portuguesa de Autores.
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Penélope
Exercícios:
Vida e obra
A sua tomada de posição sobre a ditadura e a guerra colonial levam o regime de Salazar
a chamá-lo para o serviço militar em 1961, sendo colocado nos Açores, onde tenta uma
ocupação da ilha de S. Miguel, com Melo Antunes. Em 1962 é mobilizado para Angola,
onde dirige uma tentativa pioneira de revolta militar. É preso pela PIDE em Luanda, em
1963, durante 6 meses. Na cadeia conhece escritores angolanos como Luandino Vieira,
António Jacinto e António Cardoso. Colocado com residência fixa em Coimbra, acaba
por passar à clandestinidade e sair para o exílio em 1964.
Passa dez anos exilado em Argel, onde é dirigente da Frente Patriótica de Libertação
Nacional. Aos microfones da emissora A Voz da Liberdade, a sua voz converte-se num
símbolo de resistência e liberdade. Entretanto, os seus dois primeiros livros, Praça da
Canção (1965) e O Canto e as Armas (1967) são apreendidos pela censura, mas passam
de mão em mão em cópias clandestinas, manuscritas ou datilografadas. Poemas seus,
cantados, entre outros, por Zeca Afonso, Adriano Correia de Oliveira, Manuel Freire e
Luís Cília, tornam-se emblemáticos da luta pela liberdade. Regressa finalmente a
Portugal em 2 de maio de 1974, dias após o 25 de Abril.
Tem edições da sua obra em italiano, espanhol, alemão, catalão, francês, romeno e
russo.
Em janeiro de 2010, Manuel Alegre anuncia a sua disponibilidade para travar o combate
das presidenciais em 2011 e em maio de 2010 apresenta formalmente a sua candidatura
à Presidência da República.
Atente no poema.
CANTAR A LIBERDADE
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
ManuelAlegre
Sophia Mello Breyner Andersen
Tem origem dinamarquesa pelo lado paterno. O seu avô, Jan Henrik Andresen,
desembarcou um dia no Porto e nunca mais abandonou esta região, tendo o seu filho
João Henrique comprado, em 1895, a Quinta do Campo Alegre, hoje Jardim Botânico
do Porto. Como afirmou em entrevista, em 1993, essa quinta "foi um território fabuloso
com uma grande e rica família servida por uma criadagem numerosa".
Criada na velha aristocracia portuense, educada nos valores éticos e cristãos, dirigente
de movimentos universitários católicos, veio a tornar-se uma das figuras mais
representativas de uma atitude política liberal, apoiando o movimento monárquico e
denunciando o regime salazarista e os seus seguidores. Ficou célebre a sua Cantata da
Paz "Vemos, Lemos e Ouvimos. Não podemos ignorar!" Casou-se, em 1946, com o
jornalista, político e advogado Francisco Sousa Tavares e foi mãe de cinco filhos, um
dos quais é Miguel Sousa Tavares.
Bibliografia:
Poesia;
Prosa;
Teatro;
Ensaios,
Traduções
Sophia diz que «o poeta é um escutador». Esta expressão relembra outras formulações
como a de Fernando Pessoa: «o poeta é um fingidor», ou a de Vitorino Nemésio: «O
poeta é um mostrador». Para Sophia, a poesia é a «arte mágica do ser» e o poeta «o
sacerdote», o «mago», que se compromete com o sofrimento do mundo.
A noite é para esta poetisa «o espaço imenso» que lhe permite uma libertação pelo
sonho.
FICHA DE TRABALHO Nº 7
Há um murmúrio
Uma telegrafia
Sem gestos sem sinais sem fios
5. Faça uma pequena dissertação a partir das afirmações de Sophia de Mello Breyner
Andresen:
1. “ O verdadeiro desenvolvimento só nascerá do desenvolvimento cultural de toda a
população de cada país. E essa é a grande transformação que poderá salvar o mundo em
que estamos”.
FICHA DE TRABALHO Nº 8
PORQUE
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Vida e Obra
Ruy Belo Nascimento nasceu em 1933 e veio a falecer em
Lisboa, em 1978. Poeta e ensaísta, natural de São João da
Ribeira, Rio Maior, licenciado em Filologia Românica e em
Direito pela Universidade de Lisboa, obteve o grau de
doutor em Direito Canónico pela Universidade Gregoriana
de Roma, com uma tese intitulada Ficção Literária e
Censura Eclesiástica. Exerceu, ainda que por pouco tempo,
o cargo de diretor-adjunto no então Ministério da Educação Nacional, mas o seu
relacionamento com opositores ao regime da época, a participação na greve académica
de 1962 e a sua candidatura a deputado, em 1969, pelas listas da Comissão Eleitoral de
Unidade Democrática (CEUD), levaram a que as suas atividades fossem vigiadas e
condicionadas.
Ruy Belo
2.2. Pode dizer-se que o verso transcrito se refere aos dois momentos acima
referidos. Como?
Embora não se integre em nenhum dos movimentos literários que lhe são
contemporâneos, não os ignorou, mostrando-se solidário com as suas propostas teóricas
e colaborando nas revistas a eles ligadas, como Cadernos de Poesia; Vértice; Seara
Nova; Sísifo; Gazeta Musical e de Todas as Artes; Colóquio, Revista de Artes e Letras;
O Tempo e o Modo e Cadernos de Literatura, entre outras.
A sua poesia caracteriza-se pela importância dada à palavra, quer no seu valor
imagético, quer rítmico, sendo a musicalidade um dos aspetos mais marcantes da
poética de Eugénio de Andrade, aproximando-a do lirismo primitivo da poesia galaico-
portuguesa ou, mais recentemente, do simbolismo de Camilo Pessanha.
O tema central da sua poesia é a figuração do Homem, não apenas do eu individual,
integrado num coletivo, com o qual se harmoniza (terra, campo, natureza - lugar de
encontro) ou luta (cidade - lugar de opressão, de conflito, de morte, contra os quais se
levanta a escrita combativa).
No mesmo ano publicou Os Sulcos da Sede, distinguida com o prémio de poesia do Pen
Clube Português.
http://www.fundacaoeugenioandrade.pt/index3.htm
Vida e obra:
Da sua obra poética destacam-se, para além do volume de estreia, Lírios do Monte
(1918), Poesia, Poesia II e Poesia III (1948, 1950 e 1961, respetivamente), recebendo
este último o Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores. A sua
obra poética foi reunida em 1977-1978, em Poeta Militante. O seu pendor jornalístico
reflete-se nos volumes de crónicas O Mundo dos Outros (1950) e O Irreal Quotidiano
(1971). No campo da ficção escreveu O Mundo Desabitado (1960), Aventuras de João
Sem Medo (1963), Imitação dos Dias (1966), Tempo Escandinavo (1969) e O Enigma
da Árvore Enamorada (1980). O seu livro de reflexões e memórias A Memória das
Palavras (1965) recebeu o Prémio da Casa da Imprensa. É ainda autor de ensaios sobre
literatura, tendo organizado, com Carlos de Oliveira, a antologia Contos Tradicionais
Portugueses (1958).
Em junho de 2000, foi lançada no porto a coletânea Recomeço Límpido, que inclui
versos e prosas de dezenas de autores em homenagem a José Gomes Ferreira
FICHA DE TRABALHO Nº 11
Questionário:
2. Há uma forma diferente de morte nos versos de um poeta? Explique por palavras
suas.
Vida e obra
Em 1968 publica dois novos livros de poesia, Sobre o Lado Esquerdo e Micropaisagem
e colabora com Fernando Lopes no filme por este realizado e terminado em 1971, Uma
Abelha na Chuva, a partir da obra homónima. Publica em 1971 O Aprendiz de
Feiticeiro, coletânea de crónicas e artigos, e Entre Duas Memórias, livro de poemas,
pelo qual lhe é atribuído no ano seguinte o Prémio de Imprensa. Em 1976 reúne toda a
sua poesia em Trabalho Poético, dois volumes, apresentando os livros anteriores,
revistos, e os poemas inéditos de Pastoral, livro que será publicado autonomamente no
ano seguinte. Publica em 1978 o seu último romance Finisterra, paisagem povoada de
inspiração gandaresa, obra que lhe proporciona a atribuição do Prémio Cidade de
Lisboa, no ano seguinte.
Carta da infância
Amigo Luar:
2. Ligue o emprego do pronome “eles” à intenção que subjaz a esta “Carta da infância”.