Академический Документы
Профессиональный Документы
Культура Документы
VICIOS DA VONTADE
Caso 1
• Erro
Em função desta nova situação, Antonino sente-se prejudicado com a venda e pretende
anular o negócio.
Quid Juris?
Proposta de Resolução:
I. NA GENERALIDADE
1
como sustentadamente ilegítimas1. Como refere Manuel de Andrade, a vontade não se formou
de um “modo julgado normal e são”2.
Com a substituição do Código de Seabra pelo actual Código Civil, podem nomear-se 3 tipos de
erro: erro sobre a pessoa do declaratário ou objecto do negócio; erro sobre os motivos não
1
Distinta será a noção de vício na formulação da vontade em que a normal relação de concordância entre o
elemento interno (vontade) e o elemento externo (declaração em causa) é afastada, sendo cambiada por uma
relação patológica ou viciada. Ou seja haverá uma distonia ou divergência notória entre a vontade e a declaração.
Finalmente, refira-se que os regimes jurídicos associados ao vício de formulação e formação de vontade são
diferentes inter se e, portanto, acarretam implicações legais heterogéneas.
2
In MANUEL DE ANDRADE, ob.cit., Vol II. pág. 227.
3
Entre os vícios de vontade que têm enquadramento jurídico-legal no nosso direito destacam-se o erro-vício, o dolo,
a coação moral, a incapacidade acidental, o estado de necessidade, e outras circunstâncias previstas,
nomeadamente, no artº 282º do Código civil.
4
__________________________________________________
Na análise desta temática convém estabelecer a diferença entre erro-vício e o erro na declaração negocial ou erro
absoluto, primeiro é um vício na formação da vontade, já o segundo constitui um vício na formulação da vontade.
Outra figura próxima do erro-vício mas com características distintas é a pressuposição., que traduz a convicção
plena e inequívoca por parte do declarante, fundamental para a sua decisão em efectuar o negócio, de que certa
circunstância se verificará no futuro ou que se manterá certo estado de coisas (a falta de uma pressuposição
denomina-se na terminologia jurídica, de imprevisão). A nível civil, nos termos do artº 437º, do Código Civil, a
alteração anormal das circunstâncias implica a resolução ou modificação do contrato, desde que o perdurar do
contrato inciso contraria a boa-fé e esta não se encontra devidamente ressalvada (assegurada) em sede de riscos
próprios do contrato. A grande diferença entre este instituto e o do erro-vício é que o primeiro refere-se a uma
circunstância superveniente que vem alterar algo que anteriormente se previa, ao passo que o segundo traduz o
desconhecimento total ou o conhecimento inexacto de qualquer circunstância passada ou contemporânea à
celebração do contrato.
Ora no caso em causa, é líquido que não estamos perante uma pressuposição, já que as alterações relativas à zona
envolvente do terreno do António estavam planeadas desde a campanha de eleição do presidente da câmara e,
objectivamente, foram iniciadas dias antes de Antonino efectuar o negócio. Portanto são circunstâncias passadas e
não futuras ou supervenientes.
2
referentes às pessoas do declaratário ou ao objecto do negócio (Cfr. arts.251.° e 252. °, n.º 1 do
Código Civil) e, finalmente, erro sobre a base negocial (Cfr. art. ° 252. °, n.º 2 do Código Civil) 5 .
Na análise em estudo, encontramo-nos perante um erro sobre a base negocial (Cfr art.° 252.°,
n.° 2). A Escola de Lisboa, no seu ensino, entende que a base do negócio encerra a ideia de
uma representação de uma das partes, do conhecimento da outra, relativa a certa
circunstância respectiva ao próprio contrato, que foi peremptória para a decisão de efectua-lo.
Desta feita, destacar-se-iam, objectivamente, como erros sobre a base negocial aqueles em
que a contraparte, atentos os princípios básicos de boa fé, aceitaria ou deveria aceitar um
condicionamento do negócio à verificação do elemento circunstancial sobre que incidiu o erro,
se esse mesmo condicionamento tivesse sido objecto de proposta pelo errante, já que houve
representação simultânea de ambas as partes da existência de certa vicissitude, sobre a qual
ambas consolidaram, de maneira crucial, a sua vontade negocial. Na perspectiva de Castro
Mendes, o artº 252, nº 2, traduz plenamente a noção de um “erro bilateral sobre as condições
patentemente fundamentais do negócio jurídico " 6. Já Menezes Cordeiro 7 contesta esta
posição, afirmando que nada na lei exige ou implica bilateralidade, ou seja, o erro é,
necessariamente, do declarante, recaindo, porém, sobre um elemento decisivo do negócio
jurídico, que é do conhecimento da outra parte, a qual, sobre ele, poderia não ter qualquer
opinião.
Os erros por motivos não referentes à pessoa do declaratário nem o objecto do negócio, dizem respeito a erros
sobre a causa factual ou jurídica correspondente a legislação anterior ou proveniente de erro de pessoa de terceiro.
O erro sobre a base negocial, perspectivado no artº 252º, nº2 do Código Civil, consagra um erro relativo a uma
circunstância exterior ao objecto contratual, que alteraria os contornos totais do contrato ou impediria a sua
realização se o errante tivesse conhecimento dela.
6
In CASTRO MENDES, ob.cit .Vol II, pág. 107
7
V. MENEZES CORDEIRO, Da Boa Fé, Vol II, pág. 1032 e ss.; Alteração das circunstâncias, separata, págs. 27 e
ss., .
3
concreto deverá ser realizada sempre como se disse supra, tendo por base um contexto geral
de boa fé dos contraentes.
A nível geral, para ser fundamento de pretensão anulatória, o erro-vício tem de obedecer a
alguns requisitos de relevância.
O segundo requisito geral que fundamenta a pretensão anulatória de um contrato envolto num
erro- vício é a propriedade. Neste sentido, um erro é próprio quando incide sobre uma
circunstância alheia a qualquer elemento legal ou formal do negócio.
8
Cfr. MANUEL DE ANDRADE, ob.cit.Vol.II, pág.237.
9
Cfr. CARVALHO FERNANDES, Teoria Geral do Direito Civil Vol. II, 2ª Edição, Lex Editora, 1996, pág.126.
10
A este propósito, Castro Mendes, in ob. cit. págs.88 e 89, subdivide o requisito da essencialidade numa série de
termos que configuram várias hipóteses: o erro essencial absoluto, relativo, parcial, incidental ou indiferente.
11
Cfr. CABRAL DE MONCADA, Lições de Direito Civil (Parte Geral), Vol. II, 1939.págs.291
12
Cfr. GALVÃO TELLES, ob.cit .Direito das Obrigações, pág.80.
13
Cfr. MANUEL DE ANDRADE, ob. cit., Vol.II, págs. 239 a 240.
14
Cfr. FERRER CORREIA, ob. cit págs.300 e ss.
4
Relativamente aos requisitos especiais exigidos para que a pretensão anulatória do erro tenha
procedência, analisaremos pausadamente a situação condensada no artº 251º do Código Civil
(erro sobre a pessoa do declaratário e objecto do negócio) e nos arts 252.°,ns. 1. e 2 do
Código Civil (erro sobre os motivos).
Assim, nos casos de erro sobre a pessoa do declaratário e objecto do negócio, o requisito vem
preceituado taxativamente no artº 251º do Código Civil, ou seja, o erro terá que atingir “ … os
motivos determinantes da vontade”. Porém, este artigo apressa-se a chamar à colação o art.º
247. °, que acrescenta que , para que esse negócio seja anulável , é obrigatório, igualmente,
que o declaratário conheça ou não deva ignorar "... a essencialidade, para o declarante do
elemento sobre que incidiu o erro".
Já no caso de erro sobe os motivos, mas que não se refira à pessoa do declaratário, nem ao
objecto negocial, para além do erro ter que recair sobre os motivos determinantes da vontade,
deverá também haver, por ambas as partes, um acordo que reconheça a essencialidade do
erro. Por acordo subentende-se uma cláusula, expressa ou não, e firmada com o sentido de
que a validade do negócio dependerá da circunstância sobre que incide o erro. Diga-se, de
modo franco, qu0 esta cláusula é totalmente coerente com a segurança das partes na liberdade
de contratar, visto que seria irrazoável anular um negócio apenas com base na convicção,
conhecimento ou simples cognoscibilidade da contraparte do erro em causa, pois tal daria
lugar a enormes litígios e querelas.
A questão prende-se em saber qual o sentido que se pode retirar da remissão do art.° 252.°, n.°
2 para os arts. 437º a 439.°, (resolução ou modificação do contrato por alteração das
circunstâncias).
Para a vertente doutrinária, compreendida entre outros, por Mota Pinto 15, Menezes Cordeiro16
e Oliveira Ascensão17 , o erro sobre a base negocial arrastara, incomensuravelmente, a
anulabilidade do negócio, pelo que a hipótese prevista no art." 252.°, n.“ 2, deverá considerar-
se um “vício genético”18, temporalmente coincidente com a edificarão do negócio. Segundo
esta linha doutrinaria, a remissão para o regime dos art." 437.° a 439.° do Código Civil serve
apenas para indicar os requisitos especiais de anulabilidade, e que, no fundo, são três: haver
uma alteração anormal das circunstâncias, que a exigência do cumprimento das obrigações
assumidas pelo lesado afecte gravemente os princípios da boa fé, e que o cumprimento das
15
Cfr. MOTA PINTO, ob.cit.., pág.515, nota 2
16
Cfr. MENEZES CORDEIRO, ob.cit. Da Boa Fé, VolII, pág. 1091.
17
Cfr. OLIVEIRA ASCENÇÃO, ob. cit. Vol.II, pág.139,
18
In. CARVALHO FERNANDES, ob.cit., Vol II, pág. 139
5
respectivas obrigações a ele impostas não esteja coberta pelos riscos próprios do contrato.
Desta feita, a remissão do art.° 252.°, n.° 2 do Código Civil destaca apenas os pressupostos de
relevância e já não a solução directamente disposta no art." 437.°, n.°1, ou seja, a resolução ou
modificação do contrato. Na verdade, estando um contrato em processo de execução, não
seria correcto atingi-lo no passado e na sua totalidade, dado que as partes poderiam ter
realizado enormes investimentos na expectativa/garantia do seu cumprimento. Assim, no erro
sobre a base do negocial há que aplicar-se o regime comum do erro: a anulabilidade.
Posição diferente tem, nomeadamente, Heinrich Horster 19 , que defende parafraseando, que o
n.° 2 do art.° 252.° e o art.° 437.°, n.°1l dizem respeito à mesma figura jurídica, isto é, a base
negocial e seu tratamento jurídico, olhando o primeiro para o presente e o segundo para o
futuro. Adianta, inclusive, que as situações consideradas nestes preceitos legais são,
simplesmente, dois aspectos do mesmo fenómeno jurídico, embora diferidos no tempo.
Neste sentido, aqueles que partilham da posição de Heinrich Horster referem que, uma vez que
a principal preocupação dos art.° 437.° a 439.° do Código Civil é garantir a manutenção do
contrato, embora de modo adaptado, actualizado ou modificado, aquela remissão deverá ser
entendida no sentido de os efeitos do art." 252.", n.° 2 terem, de igual modo, as consequências
previstas no art.° 437.º, ou seja, a resolução ou modificação do negócio, mas nunca a sua
anulação.
II. NA ESPECIALIDADE
Volvendo ao caso em análise, e atentando que estamos perante um caso de erro sobre a base
negocial, há que verificar o cumprimento dos respectivos requisitos gerais (essencialidade e
propriedade) e do requisito especial previsto no art.° 252.° do Código Civil respeitante a estas
situações.
Em bom rigor, entendemos que a valorização do terreno, por força da construção do novo
troço de estrada, é de tal maneira relevante para o negócio em questão, que, se tivesse sido do
conhecimento do errante Antonino, este provavelmente não o teria celebrado, ou não haveria
contratado com Branca, ou mantido as mesmas condições e tipo negociais. Assim sendo, temes
que o erro é essencial e não incidental. Quanto ao requisito da propriedade, está igualmente
verificado, já que o erro não incidiu sobre qualquer exigência legal de validade do negócio, mas
somente sobre a base negocial. Finalmente, os requisitos previstos nos arts. 437.° a 439, por
remissão do art.° 252.° do Código Civil, que enumerámos acima, enco0ntram-se ,
sensatamente, preenchidos.
Dado que estão verificados todos os pressupostos necessários, refira-se que no caso de
adoptarmos a posição, que, de mais a mais, nos parece mais adequada, e, segundo a qual,
nestas situações, o negócio deverá ser ferido de anulabilidade, por força do erro sobre a base
negocial, temos que Antonino poderá arguir a anulabilidade do negócio, com fundamento nos
arts 437. ° a 439º , remetidos pelo artº 252.°, nº ° 2, e nos termos e prazos estabelecidos no
artº 287º, nº 2 todos do Código Civil.
19
Cfr. HENRICH HORSTER,- A Parte Geral do Código Civil Português, Teoria Geral do direito Civil, Coimbra
Almedina, 1992, págs. 547e ss.
6
Por outro lado, se seguirmos a posição contrária (que não parece o nosso acolhimento por
atentar manifestamente contra os princípios básicos que garantem o equilíbrio e segurança no
tráfico jurídico) para, a qual, nos casos do erro sobre a base negocial, deve ser operada a
resolução ou modificação do contrato nos termos taxativamente previstos nos arts. 437º a
439º , Antonino não obteria procedência na sua pretensão anulatória, podendo apenas, dentro
dos limites dos arts. 437º a 439º garantir a modificação ou resolução do negócio.