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CONSIDERAÇÕES SOBRE MONSTROS E ARQUIVOS – TEXTOS CRÍTICOS

REUNÍDOS.

As inquietações literárias de Roberto Gonzalez Echevarría sobre a narrativa latino-


americana, expostas no livro La voz de los maestros, de 1985, conforme vimos na coluna
passada, ganharão corpo, forma e maturação com a publicação de sua obra-prima, cinco
anos depois: Myth and archive – a theory of Latin American narrative(1990). Ou Myto y
archivo – una teoría de la narrativa latinoamericana (2000). Como a maioria dos seus
livros, o trabalho é publicado primeiramente em inglês e, anos depois, em espanhol:
Nesse ambicioso volume, que dista apenas três anos de La ruta de Severo
Sarduy(1987), Echevarría traz uma proposição ampla e complexa, mas enunciada de
maneira clara e sucinta, como sói acontecer em seus escritos: trata-se de uma teoria sobre
a origem e a evolução da narrativa na América Latina, em particular sobre o nascimento
da novela moderna. Esta seria encontrável em três tempos.

 Primeiro, sustenta o autor, as narrativas teriam nascedouro entre os descobridores do


Novo Mundo, a exemplo dos relatos de estupor e maravilhamento legados por Cristóvão
Colombo, Hernán Cortés e Francisco Pizarro. Com evidente inspiração foucaultiana –
embora afirmasse preferir a doçura da literatura à utilidade da teoria –, Echevarría salienta
como os textos dos conquistadores dialogam, por sua vez, com um tipo de discurso
jurídico-legal emergente durante o Império Espanhol, em princípios do século XVI.

Em paralelo à constituição do Estado moderno na Espanha dos reis católicos, a novela


picaresca, subgênero literário em prosa, adquire importância e protagonismo: tal ficção
ter-se-ia valido da imitação e da simulação de discursos provenientes do Direito, das leis
régias e dos papeis da burocracia patrimonial, que também influenciaram, diga-se de
passagem, a vida colonial hispânica.

Entre estes, destacam-se os documentos notariais e as fontes arquivísticas, como os autos


de punição e confissão criminal. Ao empregar tais modos discursivos oficiais, a finalidade
dos escrevinhadores à época era a obtenção de perdão e, por conseguinte, a conquista da
legitimidade que evitasse o castigo e a perseguição das autoridades.

 Na sequência, o segundo momento epocal da literatura latino-americana encontrar-se-ia


no cenário pós-independentista do século XIX. O autor chega a mencionar as milhares de
cartas arquivadas do libertador Bolívar, como a Carta da Jamaica, de 1815, mas é do
advento de um modelo de narração calcado no discurso cientificista, quando este torna-
se voga entre os viajantes-cientistas, que trata.
Os sábios observadores de então, como se sabe, saíam em busca da classificação da
realidade natural e social, por meio da descrição minuciosa da natureza – rios, selvas,
espécies e espécimes – e através da exploração dos traços característicos do homem e da
sociedade latino-americanos.

Conhecimento, autoridade e poder se interpenetram junto às catalogações da biologia e


às taxinomias da antropologia. Basta evocar os relatos das expedições de um Alexander
Von Humboldt ou de um Charles Darwin nos trópicos. Com base nesse paradigma,
Echevarría dedica-se a examinar o tipo de narrativa que emergirá em solo local, seu
processo de nativização, por assim dizer.
Entre os exemplos mais originais, o autor cita a obra de Domingos Sarmiento, na
Argentina, com Facundo: o civilización y barbárie en las pampas argentinas (1845) –
texto de exílio, escrito no Chile, quando o caudilho Manuel de Rosas empalma o poder
no Prata – e os topos da saga rústica de Euclides da Cunha, no Brasil, com Os
sertões (1902) – texto de um correspondente de guerra, redigido anos depois do embate
das forças do governo republicano contra jagunços e devotos de um arraial do interior
baiano.
O terceiro momento, identificado por Echevarría, atém-se ao período novecentista mais
recente, quando do boom da novelesca latino-americana. Eis algumas delas: Los pasos
perdidos (1953), de Alejo Carpentier; Terra nostra (1975), de Carlos Fuentes; El beso de
la mujer araña (1976); El arpa y la sombra, a última novela de Carpentier (1979); e El
general en su labirinto (1989), de Gabriel Garcia Marquez.

 O argumento echevarrino planteia que a novela contemporânea é de natureza polimórfica


e remissiva. Ela cria sua própria forma mítica e fabulatória, mas quase sempre mediante
um regresso atávico aos dois momentos que a precederam – séculos XVI e XIX –, quer
seja ao recinto de guarda das suas origens legais – o arquivo – quer seja à acumulação de
maneiras obsoletas de discurso do conhecimento científico e antropológico – o poder.

Sem que possamos prosseguir nessa exposição, por limitações espaciais,


sumarissimamente o que importa ressaltar nessas linhas é o fulcro da teoria de Echevarría.
Ela sinaliza para o horizonte nascente de uma literatura comparada, hoje tão em moda.
De acordo com tal ponto de partida, o registro literário só pode ser compreendido na
América Latina quando visto em relação a outras escrituras, sobretudo às legislativas,
pois são elas que moldam e informam seu substrato narrativo, marcado pela ductibilidade
e por seu caráter camaleônico.

Fico com as linhas explicativas a seguir, que apontam os princípios do crítico cubano:
“Las relaciones que la narrativa establece con formas de discurso no literárias son mucho
más productivas y determinantes que las que establece com su própria tradición, con otras
formas de literatura o con los hechos históricos concretos”.

CONSIDERAÇÕES SOBRE OS SERTÕES


Quis um livro de história, mas escreveu a literatura. Errou, mas acertou. Aproxima um
isolamento geográfica e histórica.
Fim do século XIX – tempo em que as ciências chegavam ao Brasil e se enraizavam de
uma forma muito forte. Isso influenciou as escolas, inclusive a escola militar onde
Euclides estudou. Euclides foi até Canudos e descobriu que aquilo não era uma rebelião
Monarquista. Ele manda escritos do campo de batalha. Telegramas que foram publicados:
“Diários de uma expedição”.
Aproveita muitos escritos para Os Sertões. Euclides acreditava no consorcio entre ciência
e arte. O que ele faz é começar com A Terra porque dentro do determinismo, você precisa
entender primeiro o meio e depois o indivíduo. Depois de entender o sertanejo, o grupo
social, você entende apenas uma pessoa Antônio Conselheiro (raça, meio físico e
momento histórico). Homem sofrido e resistente, tal como o meio. Se faz forte. É isolado.
O meio explica o homem e o homem explica o meio. Analisa o homem por meio da
ciência do século XIX. Euclídes é um progressista, mesmo assim, ele avalia que existe no
ser do sertão uma qualidade congelada que não pode ser perdida, pois será esmagada.
O livro necessita de uma segunda leitura para que se entenda a disposição das partes.
(OLHAR ECO). A linha determinista é muito importante, porque o livro tem uma
característica épica. Um historiador de veia poética. Depois de uma parte muita enfadonha
e científica, ele consegue abrandar o leitor (digressão), muda a marcha do leitor.
Para o crítico e tradutor alemão Berthold Zilly, Euclides da Cunha apresenta uma
concepção trágica mas alentadora da história. ―O sertanejo morreu na realidade, (...)
morreu também no livro de Euclides, mas neste, e só neste, ele também revive, sendo
ressuscitado e imortalizado como utopia e mito.‖22 Percebemos, portanto, que o texto
cumpriria uma função histórica de memória, mito e esperança. De fato, para Zilly, o livro
seria expressão da violência da colonização, segundo o ponto de vista de um autor latino-
americano. O embate de Canudos assume essa dimensão, que eleva o conflito ao ponto
fulminante de toda história brasileira.
Segundo Custódia Selma Sena, assumindo as características de um mito fundador, o
sertão torna-se o espaço referencial a partir do qual se narra a conquista da civilização
pela nação brasileira. Logo, o sertão transforma-se em metáfora que remete ao centro,
onde se encontra a essência de um povo específico destinado ao futuro nacional. Nesta
ótica, o sertão é onde a civilização não chegou, o lugar que se deve alcançar. Como
paisagem o sertão é um deserto que demanda a travessia. No dito do civilizador é o lugar
onde não se quer estar.
O crítico acredita que desde a fortuna do romantismo o sertão pode ser entendido como o
espaço da travessia do homem, metáfora de sua condição humana.
A travessia do sertão é a busca por uma sabedoria transfiguradora da vida. Como paraíso,
no sertão vive-se uma idade de ouro, numa época fora do tempo, sem carência nem
conflito; como inferno, o sertão é o paraíso perdido, onde se vive no meio de uma natureza
hostil e entre o desespero dos condenados; como purgatório, o sertão é lugar de passagem,
da ignorância à sabedoria, da perdição à salvação.

CONSIDERAÇÕES SOBRE De Sarmiento a Euclides: natureza e mito.


 De sertões, desertos e espaços incivilizados (Rio de Janeiro: Faperj/Mauad, 2001).
Berthold Zilly
Em Os sertões, ainda que falte qualquer alusão direta a Sarmiento, a presença
do Facundo é manifesta à primeira vista, a começar pela seqüência dos tópicos: o meio
físico, a população e a cultura, a guerra. Ambos os textos transitam livremente entre os
gêneros literários e modos de discurso, entre diversos tipos de pesquisa e representação
da realidade, combinando geografia, antropologia e história em um texto que é crônica,
ensaio e ficção ao mesmo tempo. Ambos coincidem na relevância dada ao contraste entre
campo e cidade, o alheio e o próprio, o desconhecido e o conhecido, o sul-americano e o
europeu, barbárie e civilização, numa visão dualista da sociedade que esboça uma teoria
implícita das duas Argentinas e dos dois Brasis
Os sertões, livro um tanto disforme em muitos sentidos, como também o seu homólogo
argentino, mais do que este se estrutura no plano espacial, além do cronológico, como é
natural em toda obra histórica. Se na visão dos letrados do litoral as antíteses Norte–Sul,
sertão–litoral, aridez–umidade, esterilidade–fertilidade estão correlacionadas com a
dicotomia barbárie–civilização, na visão dos sertanejos elas se identificam, inversamente,
com as antíteses terra da fé–terra do Anticristo, terra da promissão–terra da condenação.
O próprio sertão tem uma estrutura concêntrica, de modo que, para quem se aproxima de
Canudos, centro do sertão, aumenta o seu caráter inculto, inóspito e ao mesmo tempo
místico, sagrado. Um dos perímetros mais próximos do teatro de guerra é a elipse com
eixos de poucos quilômetros, “cercadura de montanhas” de que fazem parte o Cambaio e
a Canabrava, cujo topo estrategicamente mais significativo e mais chegado a Canudos é
o morro da Favela, a 1.800 metros das duas igrejas [11]. Estas marcam o bairro central e
mais bem defendido da aldeia sagrada que, com sua mágica força centrípeta, atrai os fiéis
para salvarem a alma e os soldados para perderem a vida, repelindo com força centrífuga
os atacantes feridos. Esta comunidade está vinculada diretamente a Deus, fora do alcance
das autoridades seculares, quase um Estado teocrático dentro da jovem República laicista.
O Conselheiro, na imagem euclidiana, é o seu antípoda em quase tudo, sendo menos herói
e dominador do que representante, quase encarnação da comunidade de Canudos, da
população do sertão todo, e emissário do poder divino. Se Antônio Mendes Maciel se
extingue através da desgraça amorosa, “fulminado pela vergonha” do incidente “algo
ridículo” [26], ele depois renasce como Antônio Conselheiro, pregador e líder popular. A
sua ascendência sobre o povo é de caráter religioso e moral, mas também
socioeconômico, pois atua como redistribuidor de renda para os moradores mais
necessitados de Canudos, aspecto negligenciado por Euclides. Se o Conselheiro tem
pouca visibilidade para o leitor e até para os soldados que podem contemplá-lo de perto
só como morto, isso também vale para o autor, mas nem sempre para o narrador, que se
permite alguns olhares diretos para o chefe de Canudos e líder do sertão. Este exerce o
seu poder de modo quase imóvel e silencioso, fugidio, e, embora seja ele o personagem
mais importante do livro, não é propriamente o seu protagonista, como Facundo no livro
que leva o seu nome no título. O Conselheiro afigura-se-nos menos como agente e herói
do que como sofredor e renunciador, na definição de Roberto DaMatta, encarnação da fé,
abnegação e perseverança, homem de transição para um mundo melhor [27]
Nos dois livros a história é encenada, mas no caso de Canudos a própria realidade vem
ao encontro de sua literarização e, principalmente, de sua representação como espetáculo.
Pois fica evidente que a guerra de Canudos preenche, aproximativamente, vários
requisitos do drama clássico, as unidades do lugar, do tempo, do enredo. A unidade do
tempo talvez seja menos patente no caso da guerra de Canudos, já que esta durou bem
mais de um dia, exatamente onze meses, tendo porém início, meio, fim, diferentemente
das intermináveis guerras civis da Argentina, algo informes e intransparentes, sem claros
contornos cronológicos. Essa mesmice, demarcação e nitidez do lugar e do tempo ajudam
a memória coletiva, ajudam a imaginação, ajudam tanto a narrativa organizadora e
reflexiva do historiador assim como a narrativa evocadora do escritor. Não é exagero
dizer que o livro euclidiano é, não obstante os seus fortes traços épicos, construído como
um drama em cinco atos [31].
Esses dois textos fundamentais e fundacionais, visando ao autodescobrimento nacional,
híbridos, violentos, opõem-se a uma classificação fácil, transgredindo os limites entre
gêneros literários e áreas do saber, podendo ser provisoriamente considerados ensaios
geográficos, antropológicos e sobretudo historiográficos parcialmente romanceados,
dramatizados, poetizados e sobretudo altamente retóricos [46]
Nota-se em ambas as obras um projeto historiográfico ambicioso, visando a um retrato
abrangente, cientificamente fundamentado, da natureza e da sociedade de uma região
periférica e, a partir dela, de todo um país em formação. Em ambos os casos esse remoto
espaço rural e semi-selvagem estava ou parecia em descompasso com a missão
civilizatória do país, rebelando-se contra ela. Os dois livros tendem a ser uma espécie de
súmula, enciclopédia e quintessência dos traços característicos de seus países, seus
problemas e possíveis soluções, na sua aspiração por se tornarem nações civilizadas,
homogêneas, abastadas, desenvolvendo amplamente o seu potencial econômico e
humano. Nas duas obras, o grande tema subjacente é, portanto, a construção de um Estado
nacional moderno, impossível sem a incorporação dos incultos espaços interioranos, tão
típicos quanto problemáticos para a definição daquilo que é nacional. Pois, o interior pode
ser incivilizado, mas ele é típico e autêntico, mais nacional do que as cidades e o litoral,
que são civilizadas, porém demasiado internacionalizadas. Se as duas obras aqui
contempladas são livros fundadores, isso se deve em parte a essa incorporação do
desconhecido e inculto interior e, por outro lado ao fato de satisfazerem a “demanda” de
nações em formação por uma epopéia que possam reconhecer como a sua “bíblia” cultural
e política [62]. A transformação do passado da nação em memória esteticamente
elaborada é fundamental para evitar a sua descaracterização e, não é de se espantar que
ambos os livros se tenham tornado lugares de memória de suas respectivas nações [63].

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