Patrice Pavis no primeiro capítulo de “O Teatro no Cruzamento de Fronteiras”,
intitulado “Para uma Teoria de Cultura e de Encenação” afirma que o seu livro tem como objetivo “o cruzamento de culturas no trabalho teatral contemporâneo” (PAVIS, 2008, p. 01). Esse cruzamento é realizado por discursos estranhos que causam um efeito artístico de estranhamento, sendo um lugar incerto; o lugar do Teatro de Culturas, substituindo o Teatro de Arte, o do modelo clássico, dramático e historicizante. Para Pavis a encenação teatral contemporânea é o local em que o cruzamento de culturas e seu mais rigoroso laboratório de experimentação faz-se morada - sendo ela quem interroga todos esses modelos de representação das culturas: ela coloca um ver e um entender sobre as mesmas, as avalia e apropria-se delas por meio da aprovação no espaço cênico e do público. O autor levanta um questionamento que faz-se caro tanto para o teatro pós-dramático, usando aqui a conceituação de Lehmann, tanto para a tradição antropológica: pode uma visão puramente estética e consumista das culturas dispensar teorias socioeconômicas e antropológicas (2008).Meu foco na leitura do Pavis foi o de pensar em como o teatro contemporâneo apropria-se do saber antropológico sem jogá-lo contra toda uma semiologia cênica de um teatro pensado a partir da imagem e do som - utilizando-se aqui as palavras da escritora modernista Gertrude Stein, citada pela diretora teatral Martha Ribeiro em um dos seus artigos do processo de montagem de “Mas Afinal, Quantos Somos Nós” (2014), do Laboratório de Criação e Investigação da Cena Contemporânea (LCICC - UFF). Pavis fala de uma possível perda de controle desse Teatro de Culturas, pois ele é removido de um universo (semiótico) para um universo outro (antropológico) - ficando ele no meio do caminho, criando assim “um ponto de não se ter mais os meios para observar todas as manobras que acompanham essa transferência e essa apropriação” (PAVIS, 2008, p. 02). Pensar na semiótica indo ao encontro da teoria antropológica, criamos assim um novo campo de análise onde o fazer teatral e a arte do ator dialogam com tradições antropológicas imersas em suas próprias análises científicas - com esse cruzamento estabelecemos diálogos entre a “ciência do homem” e a “arte do homem”, formando um ninho aconchegante para que pesquisas teatrais e antropológicas possam dialogar nessa possível perda de controle de remoção de um universo para outro. A teoria que permite esse entendimento mais claro, segundo Patrice Pavis, o modelo da intertextualidade proveniente do estruturalismo e da já citada semiologia, cede seu lugar ao da interculturalidade (2008). Já não nos basta descrever somente as relações entre as culturas (que posteriormente Pavis vai chamar de cultura fonte e cultura alvo), é preciso entender sua inserção em contextos outros e acima de tudo analisar a produção cultural que resulta desses deslocamentos previstos - algo que Pavis faz em seu livro analisando montagens (inserir, ver no sumário). Antonin Artaud, próximo autor na lista de leituras dessa pesquisa de iniciação científica, Bob Wilson, Eugenio Barba, Heiner Müller, Ariane Mnouchkine e etc,são alguns nomes citados por Patrice Pavis de confrontadores e interrogadores do Teatro de Arte. Ele explica o interesse pelo Teatro de Culturas