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Ensaio

Sobre o isolamento da interatividade e outras reflexões afins


Ian Castro de Souza1
www.intermidias.com.br

Bem, neste breve ensaio – se posso chamá-lo assim – pretendo dissertar


um pouco sobre a influência que o ambiente digital de comunicação exerce
sobre a sociabilidade humana – mais especificamente, sobre a conversa. Mas,
antes de abordagem o assunto em si, gostaria de esclarecer um pouco a
escolha do recorte.
Primeiramente se faz necessário ressaltar que não sou contra (nem
mantenho uma postura conservadora quanto) a proliferação dos meios digitais
e dos modos como são apropriados – na verdade, sou um entusiasta desse
fenômeno de (quase) simbiose, que tantos escritores de ficção científica
representam de forma tão grotesca e temerosa. A opção de tratar de um
assunto bastante específico – e um pouco clichê, admito – veio da dificuldade
que tenho em pensar em minha relação com estes meios, pois ela é
indissociável de quem sou – uma parte nutrida desde muito pequeno, quando
meu pai me jogava na frente de um computador (com o DOS) enquanto ele
trabalhava (em outro), nas horas vagas da minha adolescência, quando ou eu
passava horas e horas escondido sob um pseudônimo programando produtos
para uma engine de luta chamada MUGEN, e até hoje, quando penso em fazer
meu Trabalho de Conclusão de Curso sobre o tema. Porém, esta relação, por
mais complexa que seja, não me privou de um olhar crítico quanto a certos
aspectos que hoje se encontram tensionados por essas tecnologias. Dentre
eles, o mais visível (e, talvez, preocupante) é o nosso olhar ao outro, a nossos
semelhantes.
Como toda boa redação (de colegial) deve-se começar pela lembrança que
o ser humano é um essencialmente social, mas também se deve atentar que
são as técnicas e tecnologias (não necessariamente as novas) que definem essa
sociabilidade e alteram nossa percepção do outro. Nos primórdios de sua
existência o homem estabelecia relações simbólicas e dialogava não só com seu
habitat, mas consigo mesmo. O lugar do outro em sua vida logo se mostrou. O
que, a priori, poderia ser caracterizado como uma simples questão de
procriação se tornou o que chamamos hoje de “relação interpessoal”, que, mais
tarde, deu origem a aglomerados de pessoas que partilhavam das supracitadas
relações simbólicas, o que chamamos hoje de sociedade. O ser humano se
tornou um ser complexo, e a comunicação, que o acompanhava desde os
gestos e urros até a demarcação de território, também.

1
Ian Castro de Souza é planner / redator de mídias digitais da agência Idéia 3 e graduando em Comunicação na
Universidade Federal da Bahia. O blog Intermídias (http://www.intermidias.com.br) é o reflexo da sua prática
profissional com comunicação digital e mídias sociais, além dos estudos que desenvolve sobre as possibilidades que o
ambiente digital traz a prática publicitária.
Os outros, para um homem, não são atores coadjuvantes de sua vida,
como muitos pensam, e sim os principais. O homem vive em função do outro.
E, na medida em que ele andava cada vez mais ereto, surgiram diversos meios
e sistemas de comunicação cujo único objetivo era aproximar este “eu” dos
“outros”. Hoje, a multiplicidade dos veículos de comunicação e seus respectivos
formatos continuam a moldar permanentemente a sensibilidade humana.
Processos ritualizados são transpostos para os meios digitais e, ao mesmo
passo que ganham novas características – como o flerte, no qual novas
construções e dinâmicas discursivas surgem a fim de suprir as deficiências
básicas desse meio, como a falta do contato físico – perdem também um pouco
de sua humanidade.
A idéia de distância é uma das principais “vítimas” – sendo bem trágico –
das novas tecnologias e da redefinição dos lugares (inclusive os sociais)
causada por elas. Espaços antes distantes agora são próximos. Mas é preciso
atentar para a recíproca, que também é verdadeira: enquanto um intercambista
se comunica com sua família de forma mais rápida e barata, via Windows Live
Messenger, dois vizinhos de porta também o fazem. Ditos amigos “abraçam-se”
através do BuddyPoke, um aplicativo para o Orkut, mas nunca o fazem de fato.
Há uma verdadeira inversão do próprio conceito de distância, tanto a espacial
quanto a social. O mundo se apresenta muito próximo de nós, exatamente na
ponta de nossos dedos, mas só é possível tê-lo quando nos encontramos
isolados, na frente de um computador. Isso sim é um paradigma.
Outro aspecto bastante controverso é a interatividade, a nova paranóia
mundial. Quando é apresentada a possibilidade da fala, o consumo de
informação por si só já não é o bastante – apesar de antes o ser. Talvez a
supracitada multiplicidade dos meios e o fluxo multidirecional destes tornem
possível estender o horizonte de repercussão das informações, mas,
comumente, o que acontece é exatamente o oposto: a velocidade com as quais
as informações circulam, e, principalmente, o excesso destas, propiciam a
superficialidade em seu consumo. Ironicamente, a possibilidade de produzir
conteúdo e compartilhá-lo de modo rápido fez com que esse consumo ficasse
ainda mais raso. A interatividade virou então um sinônimo de egocentrismo. E o
dizer predomina – o que é muito perigoso, pois, se o internauta simplesmente
não se cala tudo o que ele pode fazer é construir e externar posicionamentos e
conceitos embasados em idéias de terceiros, sem nem mesmo fruir ou
constatar a validez do que consome. Obviamente que há pessoas que não o
fazem, mas meu generalismo cabe aqui, pois estas são poucas. É esquecido
que a contemplação é parte essencial do processo de construção do próprio ser
humano.
Hoje, mesmo sozinhos não queremos ficar sozinhos. Não tem nada para
fazer? Go social, como dizem os norte-americanos; entre no Orkut ou MySpace,
compartilhe um bookmark no Delicious, poste uma coisa no seu blog – ta com
preguiça? Poste no Twitter que são menos palavras. Compartilhe – pouco
importa se você acessa o que os outros compartilham. Podemos ter 500 amigos
no Orkut, mas não conversamos efetivamente nem com 50 deles; podemos ter
250 contatos no Windows Live Messenger, mas a maioria das conversas são
com os mesmos 10 amigos de sempre, com os quais convivemos – isso quando
não são conversas que não passam de extensões do velho “bom dia”, dito
puramente por educação; diálogos infrutíferos que geralmente param no “E aí
tudo bem? / Tudo e vc? / Bem tbm. / Pô legal. / É...”
Esse é um rumo muito perigoso e uma utilização muito fútil para a gama
de possibilidades que as novas tecnologias nos trazem. Eu gostaria de ser um
pouco apocalíptico neste último parágrafo e dizer que as formas de
relacionamento e comunicação interpessoal estão sendo alteradas a tal ponto
por estas tecnologias que está ocorrendo uma banalização do ato comunicativo.
A conversa hoje não é um momento de intercâmbio de opiniões e informações,
até um momento de ligação afetiva, ou um momento no qual é estabelecida
uma conexão entre os interlocutores; a conversa hoje é apenas mais uma
tarefa que você pode executar simultaneamente a outras tantas.

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