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Análise da metodologia de
ensino de ciências nas escolas
da rede municipal de Recife
Kênio Erithon Cavalcante Lima
Simão Dias Vasconcelos
Resumo
O professor de Ciências enfrenta uma sé- importância de uma educação continuada
rie de desafios para superar limitações meto- como mecanismo de atualização conceitual e
dológicas e conceituais de formação em seu metodológica.
cotidiano escolar. Este trabalho buscou conhe- Palavras-chave: Educação continuada.
cer as principais dificuldades Escola pública. Perfil do educador. Avalia-
e metodologias de ensino de ção. Recursos didáticos.
Ciências da rede pública mu- Kênio Erithon Cavalcante Lima
nicipal do Recife. Através de Mestrando em Ensino das Abstract
entrevista com 42 professo- Ciências, Universidade Federal
res de 31 escolas, observa- Rural de Pernambuco
Analysis of
mos que eles usam o livro Professor da Rede Estadual de science
didático como o recurso mais Educação de Pernambuco
freqüente, diversificam suas keclima@ig.com.br teaching
estratégias de avaliação, e Simão Dias Vasconcelos methodology
buscam, na medida do pos- PhD, University of Oxford
sível, desenvolver atividades Coordenador de Extensão
used by
extra-classe. Consideram do Centro de Ciências teachers from
como os assuntos mais difí- Biológicas, UFPE
ceis de abordar os temas li- simao@ufpe.br public schools
gados à Física e Química, e in Recife, Brazil
como os assuntos que mais despertam a aten- Science teachers face
ção de seus alunos os temas de Sexualidade e several challenges in order to overcome
Meio Ambiente. Os professores citam o custo methodological and conceptual limitations
alto dos livros e revistas científicas e a falta de in their daily profession. This study aimed
tempo como principais empecilhos para sua at detecting the main difficulties and
atualização pedagógica, e mantém fraca inte- methodologies of Science teaching in
ração com universidades locais. Destaca-se a public schools of the city of Recife, Brazil.
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novas tecnologias faz com que a formação do escolas, uma “busca que inclui desde a pro-
professor possa ser considerada “obsoleta” cura por cursos, treinamentos ou leituras,
poucos anos após sua graduação. até uma troca constante de informação com
colegas considerados mais competentes ou
A realidade da educação brasileira, com especialistas na área” (DIAS-DA-SILVA, 1998,
superlotação nas salas de aula, desvaloriza- p. 37). Certamente, não há o método ideal
ção do profissional, e defasada estrutura físi- para ensinar nossos alunos a enfrentar a com-
ca, metodológica e didática nas escolas insti- plexidade dos assuntos trabalhados, mas sim
ga o docente a (se) questionar: “como” fazer e haverá alguns métodos potencialmente mais
“com que” fazer educação, adequando-se à favoráveis do que outros (BAZZO, 2000).
proposta projetada pelos parâmetros curricu-
lares e pelo mercado de trabalho? Afinal, as A superação dessas dificuldades susten-
escolas – especialmente da rede pública – ta-se sobre dois alicerces: uma graduação
constituem-se de alunos marcantemente hete- solidamente fincada na construção de ha-
rogêneos cultural e socialmente, o que requer bilidades e competências, e uma oferta de
do professor de Ciências o uso equilibrado formação permanente/contínua aos gradu-
de conceitos, de técnicas (competências) ade- ados, aumentando o contato das instituições
quadas à comunidade; e dos seus instintos de ensino básico com universidades e cen-
de educador (habilidades). Sem este equilí- tros de pesquisa, estabelecendo laços de
brio, o papel da escola em reduzir diferenças pesquisa/ conhecimento de interesse comum.
sociais e promover igualdade entre alunos,
independentemente de suas origens étnicas, Instrumentos de
sociais e culturais, bem como do nível de ha-
bilidades e predisposições inerentes do indiví- apoio didático
duo (FOLLESDAL, 2000, apud HOLMESLAND, Freqüentemente, ao trabalhar os con-
2003), acaba não sendo concretizado. teúdos, os educadores deparam-se com frá-
geis instrumentos de trabalho, o que pode
Alunos do ensino fundamental da rede gerar dependência ao uso do livro didáti-
pública na maioria das vezes deparam-se com co. Krasilchik (2004, p. 184), assume pos-
metodologias que nem sempre promovem a tura crítica diante desta situação:
efetiva construção de seu conhecimento. Tam- O docente, por falta de autoconfiança,
pouco lhes são oferecidos mecanismos de com- de preparo, ou por comodismo, restrin-
pensação por defasagens sociais, que vão ge-se a apresentar aos alunos, com o
desde problemas de natureza familiar ao limi- mínimo de modificações, o material pre-
tado acesso a livros, sites e outras fontes de viamente elaborado por autores que são
conhecimento. Cabe ao educador em Ciênci- aceitos como autoridades. Apoiado em
as superar tais obstáculos, construindo possi- material planejado por outros e produzi-
bilidades de mudança, ao estimular ativida- do industrialmente, o professor abre mão
des que priorizem questões de Ciências, Tec- de sua autonomia e liberdade, tornan-
nologia e Sociedade (CTS). Esta tarefa pressu- do-se simplesmente um técnico.
põe unificar experiências e estratégias de ensi-
no, para qualificar a educação desenvolven- Como alternativas, o educador hoje dis-
do novas competências a serem aplicadas nas põe da internet, experimentotecas, kits didáti-
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resse entre os alunos, sistema de avaliação, lários mínimos (valores de 2002). Devido a isto,
atividades complementares, entre outros. a maioria dos professores (64,3%) afirma ne-
cessitar trabalhar em mais de uma escola.
Resultados
Perfil socioeconômico e Livros-texto e outras
a formação profissional fontes de informação/
O perfil dos professores revela uma predo- atualização
minância de mulheres (60,0%) e de profissionais Os livros adotados oficialmente pela Prefei-
com curso superior concluído (88,1%). Dentre tura da Cidade do Recife durante a pesquisa
estes, a maioria é graduada em Licenciatura em foram “Os Seres Vivos”, de Carlos Barros e
Ciências Biológicas (85,7%), sendo as institui- Wilson Roberto Paulino (2001), e “Vivendo Ci-
ções de ensino superior de origem dos gradua- ências”, de Maria de La Luz e Magaly Terezinha
dos as duas universidades públicas federais de dos Santos (2002), dos quais o primeiro foi alvo
Pernambuco (41,7%), instituições particulares/co- de maior aprovação pelos professores. Os pro-
munitárias (55,5%) e estaduais (2,8%). fessores, no entanto, declararam utilizar outros
livros-texto além do adotado pela rede de ensi-
Observou-se que 31,0% dos professores têm no como fontes complementares, acrescidos de
menos de 35 anos, 33,3% possuem entre 36 e materiais didáticos de sua própria autoria. No
45 anos, e 35,7% possuem mais de 45 anos. entanto, cerca de 43,0% dos entrevistados afir-
Quase a metade dos professores (45,0%) pos- maram ter grandes dificuldades em obter maior
sui significativa experiência na docência, ensi- acervo de material de apoio didático, as quais
nando há pelo menos 15 anos. A faixa salarial incluem falta de tempo (67,0%), ausência de
da maioria dos professores é, conforme espera- bons textos científicos em Português (17,0%), e
da, baixa: 88,1% recebem em média até 8 sa- escassez de bibliotecas especializadas (16,0%).
SATISFEITOS – (N = 27)
Comentários Freqüência
Linguajar adequado – 02 7,4%
Não fizeram comentários – 25 92,6%
INSATISFEITOS – (N = 15)
Comentários Freqüência
Não houve atualização no conteúdo – 02 15,3%
Não é detalhado (pouco didático) – 09 69,2%
Não trabalha bem os exercícios, poucas atividades com gráficos e figuras – 04 30,8%
Poucas atividades práticas – 02 15,3%
Falta de abordagem de conteúdos para a Região Nordeste – 03 23,0%
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Como fontes complementares de infor- 81% dos professores têm acesso a esta fer-
mação em Ciências, 74,0% dos professores ramenta, principalmente em casa (74%), ou
afirmam ler revistas de divulgação científi- na escola (30%). A internet é pouco usada
ca/educacional, especialmente “Superinte- para desenvolver pesquisas sobre Ciências
ressante” (55,0% dos entrevistados); “Nova e/ou Educação; como também, elaborar
Escola” (36,0%), “Ciência Hoje” (33,0%) e aulas e outras atividades por 55% dos pro-
“Galileu” (14,0%). Entre os que afirmaram fessores entrevistados.
não possuir o hábito de ler revistas de divul-
gação, 90,0% indicaram a falta de tempo Quanto aos recursos mantidos pela UFPE
como o principal motivo, 20% atribuíram a que poderiam contribuir para a atualização
dificuldade de obtenção de tais revistas ao profissional de professores de Ciências, os
seu custo elevado. Ainda como fontes de entrevistados destacaram principalmente:
informação sobre Ciências/ Educação, a laboratórios (83,4%), cursos e palestras
maioria dos docentes (57,0%) afirmou não (83,4%), experimentotecas (69,0%), coleções
freqüentar regularmente bibliotecas especi- zoológicas (64,3%), herbários (38,0%).
alizadas. Questionados sobre suas fontes de
informação específicas em ciências, os pro- Assuntos abordados:
fessores manifestaram desconhecimento so-
bre periódicos científicos, uma vez que ne- dificuldades e interesses
nhum soube citar qualquer revista científica Ao serem questionados sobre quais as-
indexada nacional ou internacional em suas suntos despertam maior interesse dos alunos
respectivas áreas de atuação/interesse. da 5ª à 8ª do fundamental, os temas ligados
à sexualidade e reprodução são os que mais
Em relação à internet, observou-se que prendem a atenção dos alunos (Tabela 2).
Tabela 2: Assuntos que despertam maior interesse pelos alunos da 5ª, 6ª, 7ª e 8ª
séries, segundo professores de Ciências da Rede Municipal de Ensino de Recife (N=42).
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Quando indagados sobre quais as- bre os motivos para tais dificuldades, os
suntos sentem mais dificuldade em ensi- entrevistados alegaram deficiências em
nar, os professores citaram principal- sua formação profissional, na qual afir-
mente Noções de Física (45%) e de Quí- mam ter recebido uma base menos apro-
mica (24%) (Fig. 1). Questionados so- fundada sobre aqueles temas.
Figura 1 – Assuntos abordados no ensino fundamental (5a. a 8a. séries) que oferecem
maiores dificuldades teóricas e metodológicas para os professores da Rede Municipal
de Ensino de Recife (N=42) (mais de uma opção possível).
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
Noções de Noções de Meio Ambiente Corpo Humano Corpo Humano Seres Vivos Seres Vivos Outros Não sente
Física Química (Ar, Água, solo) (Gén./Reprod.) (Anat./Fisiolo.) (Plantas) (Animais) dificuldades
.
Atividades intra e extra- çar mão de outros formatos, tais como or-
ganização de feiras de ciências (93%), visi-
classe e mecanismos de tas a museus e parques (50%), condução
avaliação de de experimentos (41%), excursões didáticas
(38%), entre outros categorizados como ati-
aprendizagem vidades extra-classe. Apenas 5% dos pro-
Quando indagados sobre o material de fessores entrevistados afirmaram não utilizar
apoio didático usado em sala de aula ob- nenhuma destas atividades.
servou-se que livros (93%) e vídeos (60%)
são os recursos mais utilizados. Curiosamen- A metodologia de avaliação mais fre-
te, o uso do computador já parece estar as- qüentemente utilizada pelos professores de
sumindo um papel relevante nas escolas Ciências baseia-se na avaliação escrita (mais
públicas uma vez que 31% dos professores de 90% dos entrevistados). Tais avaliações
afirmaram utilizá-lo durante as aulas. Ou- consistem de questões discursivas sobre os
tros materiais citados incluem transparênci- tópicos apresentados ao longo do curso
as (utilizadas por 24% dos professores) e re- (90% das respostas) e questões de múltipla
vistas (7%). Além da exposição oral “con- escolha (“objetivas”, aplicadas por 86% dos
vencional”, os professores declararam lan- entrevistados). Percebem-se mudanças em
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direção a um estilo mais contínuo e diversi- sido citado por 80% dos professores. Outra
ficado de avaliação, baseado em critérios forma de avaliação utilizada inclui seminá-
de participação do aluno nas atividades em rios (50% das respostas).
sala de aula e fora dela. Cerca de 95% dos
professores entrevistados afirmam lançar mão Entre as propostas citadas pelos profes-
de instrumentos de avaliação variada, que sores para compensar suas deficiências
incluem a elaboração de relatórios pelos metodológicas, as mais freqüentes foram:
alunos das atividades extra-classe; pesqui- maior interação UFPE/professores/alunos
sas na internet, livros e revistas de divulga- (34,4%); trabalhos e cursos de atualização
ção científica, e desempenho em Feiras de promovidos por instituições de ensino su-
Ciências, tendo este conjunto de atividades perior locais (18,8%) (Tabela 3).
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nhecem que “limitações nas condições de tendo em vista que não souberam citar tí-
trabalho e o baixo nível remuneratório le- tulos de revistas cientificas, alegando custo
vam muitos professores a investir a sua ne- elevado e pouco tempo para a leitura das
cessidade de expansão e de formação em mesmas. Tais respostas não se justificam
atividades fora da escola, profissionais co- totalmente nos dias de hoje, consideran-
munitários ou familiares, empenhando-se do-se a disponibilidade de textos científicos
o mínimo possivel na profissão docente”. na internet. Sites como SciELO (Scientific
Registramos ainda o envolvimento dos do- Electronic Library On-line)1, disponibilizam
centes em outras instituições de ensino, gratuitamente artigos completos de revistas
como escolas particulares, além de ofícios de qualidade internacional. Neste ponto,
distintos da educação, como efeito colate- consideramos que estão sendo sub-utiliza-
ral dos baixos salários recebidos. dos os recursos da Internet, tendo em vista
que mais de 80% dos professores pesqui-
A educação permanente sados afirmaram ter acesso a esta ferramen-
ta. Curiosamente, este percentual contraria
de professores de Ciências dados de Silva e Azevedo (2005), desta-
Diferenças no tempo de conclusão dos cando que muitos professores da educa-
estudos formais podem resultar em profes- ção pública estadual não dispõem de com-
sores de Recife estão pouco familiarizados putadores, mas gostariam de possuir.
com novas tecnologias e atualizações de
terminologia. Isto abre espaço para a dis- Frazzon (2001) destaca a distância en-
cussão: como promover ações de educa- tre universidade e professores do ensino
ção permanente que respeitem as priorida- básico; e também ressalta que as institui-
des do educador e do educando? Vianna ções superiores podem ser uma via cons-
e Carvalho (2000) destacam a importân- tante de atualização dos professores que,
cia de o educador interagir com cientistas, por sua vez, refletirão seus trabalhos na
ressaltando que muitos educadores não ti- qualificação do ensino fundamental e mé-
veram a oportunidade, durante sua forma- dio. Neste contexto, a Universidade Fede-
ção, de ter contato com pesquisas de labo- ral de Pernambuco –UFPE, tem colabora-
ratório e campo. Ressalta, ainda, a impor- do com instituições de ensino básico, abrin-
tância de despertar no educador o desejo do suas portas para visitas a laboratórios,
de gerar conhecimento científico. Caso não oferecendo tecnologia e conhecimento para
tenha acesso a laboratórios, o docente pode professores e alunos do ensino médio e fun-
consultar publicações ou participar de even- damental. Há ainda a participação de pro-
tos que discutam os avanços científicos de fessores de escolas públicas e particulares
sua área de trabalho/interesse. em eventos de extensão realizados pelo
Centro de Ciências Biológicas (CCB), os
Entre os entrevistados, a interação com quais incluem Simpósios, cursos, oficinas,
pesquisadores das IES – Instituições de En- visitas técnicas e semanas de atualização.
sino Superior, é pífia. A leitura de artigos
científicos específicos à educação ou das Periodicamente, a UFPE disponibiliza
Ciências não é ainda um hábito difundido, espaço para ações de educação continua-
1
Disponível em: <www.scielo.org.br>.
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da em parceria com outras instituições de tam ainda outros assuntos, talvez decor-
ensino básico, incluindo visitas a coleções rentes das rápidas mudanças de conceito e
didáticas, laboratórios e herbários. Contri- abordagem e/ou pela complexidade de sua
bui ainda para a construção de experimen- natureza, o que pode gerar insegurança em
totecas e disponibiliza material biológico sala de aula, levando alguns simplesmente
para exposições em feiras de ciências pro- a dedicar menor atenção aos referidos te-
movidas por escolas particulares e públicas mas. Destes assuntos, os mais citados in-
locais. Por esse motivo, conhecer o perfil do cluem temas ligados ao meio ambiente e
professor é vital no momento de formular ao corpo humano.
propostas para uma educação continuada
que corresponda aos anseios do educador Em contrapartida, relatam que os assun-
e às necessidades do sistema de ensino. tos de maior “atratividade” para os alunos
são os referentes à sexualidade, genética
No nosso estudo, algumas colocações moderna e questões ambientais. Isto é com-
aproximaram-se das registradas por Kru- preensível, pois muitos alunos encontram-
ger (2003, p. 78), em seu estudo envol- se na puberdade, quando começam a des-
vendo 28 professores do ensino básico, cobrir suas próprias transformações corpo-
principalmente de Ciências, durante curso rais e emocionais. No entanto, percebe-se
de especialização em Ensino de Ciências em Recife uma incrível carência de discipli-
em Lajeado (RS), os quais nas (isoladas ou conjuntas), e materiais de
[...] queixaram-se da carga horária ele- apoio didático voltados para o ensino de
vada e da ‘falta de tempo para se atuali- Orientação Sexual como tema transversal,
zar e preparar aulas’, manifestaram a conforme orienta os PCN. Uma breve análi-
necessidade de compartilhar idéias e se dos cursos de Licenciatura em Ciências
angústias profissionais e de ‘crescer Biológicas de Pernambuco revela que ne-
dentro de seu trabalho’, além de senti- nhum deles possui qualquer disciplina es-
rem ‘falta de estudos, de debates e de pecífica sobre Ensino de Sexualidade. No
embasamentos’. Muitas vezes não sa- curso de Licenciatura da UFPE, tal discipli-
bem como ‘lidar com questões discipli- na não foi inserida na nova estrutura curri-
nares’, pois gostariam de ‘compreen- cular por absoluta falta de professores inte-
der as dificuldades dos alunos’, ‘tornar ressados e/ou que se declaram “capazes”.
o conteúdo atrativo’, ‘aproximar con- A defasagem de conhecimento sobre Gené-
ceitos da realidade’ e discutir ‘formas tica Moderna assusta professores de Ciênci-
de avaliação’. as, ainda mais quando se observa a cres-
cente popularização de temas de Genética
Os programas de atualização/formação Molecular, desde filmes e novelas, a testes
permanente devem ter como ponto de par- de paternidade dramatizados em programas
tida as dificuldades detectadas em visitas de televisão. Por sua vez, a temática do meio
às próprias escolas. Por exemplo, os pro- ambiente é constantemente abordada em
fessores de Ciências da Rede Municipal de jornais, revistas, televisão e internet, o que
Recife destacam que, por deficiência em sua aguça a curiosidade dos alunos do ensino
formação, sentem dificuldades em traba- fundamental. Esses assuntos têm sido temas
lhar conceitos de Física e Química. Rela- de eventos de extensão organizados pela
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UFPE, os quais contam com a participação Ouvir as percepções e anseios dos pro-
de professores de Ciências. fessores do ensino básico é o primeiro pas-
so para que a universidade cumpra sua
Considerações finais função de pólo gerador de conhecimento
aplicado à comunidade. É injusto respon-
Nossa pesquisa teve como ponto de
sabilizar apenas os docentes por eventuais
partida a necessidade de maior interação
falhas na qualidade da escola pública.
entre os cursos de Licenciatura oferecidos
Mudanças recentes nas relações de “po-
nas universidades públicas locais e a reali-
der” em sala de aula têm exposto professo-
dade das escolas públicas. Acreditamos que
res a situações (muitas vezes constrange-
para o êxito na aprendizagem dos alunos e
doras) para as quais não estavam prepa-
na metodologia adotada pelo educador,
rados. A falta de interesse de alunos – uma
seria necessário
reclamação que pode ser repetida em to-
Efetivar uma prática pedagógica diferen-
dos os níveis, até em nível universitário –
ciada, promovendo o atendimento às
desestimula o educador a ousar metodolo-
diferentes necessidades dos alunos; uti-
gias de ensino mais inovadoras e de avali-
lizar técnicas e instrumentos de avalia-
ação mais criativas. Somente um processo
ção da aprendizagem que dêem mais li-
em médio prazo de valoração do profes-
berdade aos alunos para revelarem seus
sor, que permita o investimento em pesqui-
avanços e suas dificuldades e, conse-
sa educacional, poderá gerar aprendiza-
qüentemente, reorientar e implementar
gem transformadora.
o processo didático; estabelecer peque-
nas metas a serem alcançadas – que con-
templem a formação da competência e Agradecimentos
habilidades essenciais aos novos tem- Agradecemos aos professores que se
pos – que possam desencadear ações dispuseram a participar de nossa pesqui-
que tenham por perspectivas utopias fun- sa, bem como aos diretores de escolas pelo
damentadas na prática de uma escola apoio disponibilizado. À Prefeitura do Re-
pública verdadeiramente mais democrá- cife por seu apoio, interesse e autorização;
tica. (PEREIRA; SOUZA, 2004, p. 204). a Emanuel Souto pela ajuda de campo.
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Referências
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BARROS, C.; PAULINO, W. R. Os seres vivos. 66. ed. São Paulo: Ática, 2002.
KRASILCHIK, M. Prática de ensino de biologia. 4. ed. São Paulo: Ed. da USP, p.198, 2004.
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APÊNDICE 1
ROTEIRO DE ENTREVISTA - PERFIL DO PROFESSOR DE CIÊNCIAS DO RECIFE
I-) SOBRE O PROFESSOR:
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