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The article introduces the field of Economic Psychology, which studies the economic
behaviour of the individual, making use of psychological theories. The history of this
pulsional > revista de psicanálise > artigos > p. 20-29
ma especial o significado do dinheiro. cologia Social, que teria, por sua vez, origem
Alguns outros trabalhos acadêmicos podem na Sociologia (Farr, 2002). Portanto, encon-
ser encontrados em nosso país (Halfeld, tramos entre os seus precursores tanto so-
2001, Mantovanini, 2003, Milanez, 2001, ciólogos, como psicólogos sociais.
1> O outro foi Herbert Simon, em 1978, por suas teorias a respeito de racionalidade limitada (bounded
rationality) (Simon, 1982).
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Na década de 1940, o psicólogo húngaro ra- teorias desvinculadas da observação mais
dicado nos EUA, George Katona, inicia uma direta.
série de pesquisas sobre o comportamento Em 1975, ele publica seus resultados no livro
econômico de grandes amostras da popula- Psychological Economics, que é considerado
ção norte-americana, incluindo hábitos de um marco histórico p a r a a Psicologia
consumo, atitudes e expectativas, e chega a Econômica.
conclusões diversas daquelas obtidas por Antes desta data, outros pesquisadores já
analistas econômicos (Katona, 1975). vinham investigando essa interface também
Os dados de Katona lhe permitiram fazer na Europa, e tinham início as primeiras ca-
previsões sobre o desempenho futuro da deiras de Psicologia Econômica nos cursos
Economia, que se mostraram mais corretas de graduação de algumas universidades eu-
do que aquelas elaboradas por economistas. ropéias, como Estrasburgo, com Pierre-Louis
Além de causar surpresa, isso lhe rendeu o Reynaud, em 1946, e Estocolmo, com Karl-
início de uma parceria com agências gover- Erik Wärneryd, em 1958 (Van Raaij, 1999).
namentais, que passaram a se interessar Em 1976, 12 pesquisadores se reuniram pela
pelas informações que ele e sua equipe co- primeira vez na Universidade de Tilburg, na
letavam periodicamente, através daqueles Holanda, para discutir seus trabalhos (Van
amplos levantamentos. Raaij, 1999). Este encontro modesto é con-
Qual a razão para haver disparidade entre siderado o primeiro colóquio de Psicologia
as análises realizadas por psicólogos e eco- Econômica, de uma série que chega à sua
nomistas, a respeito da Economia? trigésima edição em 2005, ocorrendo de
Observando o método adotado, até hoje, forma ininterrupta desde então, em dife-
pela maior parte dos economistas, verifica- rentes países europeus. (As únicas exce-
mos que estes fundamentam seus estudos ções foram Israel, em 1986, São Francisco,
basicamente em premissas sobre o com- EUA, em 1998, Nova Zelândia, em 2003 e
portamento humano, e a partir daí, em Philadelphia, EUA, novamente, em 2004).
fórmulas e modelos matemáticos, rara- Em 1981, fundou-se o periódico Journal of
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mente buscando dados empíricos a respei- Economic Psychology,* e em 1982, foi insti-
to da realidade que pretendem descrever tuída a International Association for
(Earl, 2003). Research in Economic Psychology – IAREP.
Katona, por outro lado, inovou ao levantar A associação conta atualmente com cerca
seus dados diretamente junto à popula- de 200 membros, entre psicólogos, econo-
ano XVII, n. 181, março/2005
*> Disponível na biblioteca do IPUSP (Instituto de Psicologia da USP ), e em formato eletrônico, no Portal
CAPES de periódicos.
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e alguns aqui na América Latina e na Ásia. tas, da qual se derivam os demais funda-
Não se conhece pesquisadores do tema na mentos dessa ciência, é a chamada “teoria
África (Kirchler e Hölzl, 2003). da racionalidade”, ou neo-clássica. Ela pos-
Paralelamente, economistas norte-america- tula que, tendo as informações necessárias,
nos, também no início da década de 1980, o homem – o “agente econômico” – se com-
começaram a se reunir regularmente, e porta sempre de modo racional frente às
constituíram uma sociedade, a Society for decisões que precisa tomar, visando
the Advancement of Behavioral Economics otimizá-las. A partir desse grande pressu-
– SABE, com o objetivo de agregar um mai- posto geral, os economistas elaboram suas
or número de perspectivas ao estudo eco- teorias, análises e previsões. Suas ferra-
nômico, com a colaboração de ciências como mentas habituais costumam ser os modelos
sociologia, psicologia, antropologia, história, matemáticos, e geralmente, dispensam o
biologia e outras. Outros economistas deci- recurso à observação ou à coleta de dados
diram por um viés mais social e político, através de pesquisas ou experimentos
além do psicológico, e fundaram a Society (Earl, 2003).
for the Advancement of Socio-Economics, Está aí o grande pomo da discórdia entre
que conta com seu próprio periódico, o economistas e investigadores da mente.
Journal of Socio-Economics (Kirchler e Hölzl, Psicólogos – e psicanalistas – voltam-se
2003). fundamentalmente para a experiência
Mais recentemente, na década de 1990, uma prática, seja através da clínica, ou por ou-
ramificação dessas disciplinas começou a tros meios, como a pesquisa empírica, para
ganhar importância e visibilidade, as Finan- sustentar suas teorias e descobertas. Ao fa-
ças Comportamentais, que, como foi men- zer uso desses instrumentos, dificilmente
cionado, estudam o comportamento dos conseguem chegar à mesma conclusão a
mercados a partir de pontos de vista tam- respeito do funcionamento psíquico dos in-
bém psicológicos, embora incluam igualmen- divíduos quanto à presença de uma supos-
te a perspectiva histórica, sem abandonar ta racionalidade ilimitada em seu
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dentro desse campo, vem sendo questiona- costuma ser pouco entusiasmada (ibid.). No
da por estas novas disciplinas? entanto, observamos hoje que o panorama
Em primeiro lugar, devemos mencionar a começa a se transformar, lentamente, já
visão de homem que ela defende, que pode apresentando algumas brechas no que diz
causar alguma perplexidade a estudiosos de respeito a uma inclusão desta perspectiva
outras áreas – e a psicanalistas em particu- multidisciplinar para estudar o compor-
lar. A grande teoria adotada por economis- tamento econômico. O prêmio Nobel, con-
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cedido recentemente a Daniel Kahneman, Psicanálise
parece apontar nessa direção, bem como o Teria a Psicanálise alguma coisa a dizer a
financiamento de pesquisas na área, e o respeito de tudo isso?
crescimento do número de cursos ofereci- Os psicanalistas são especialistas em com-
dos, além do interesse que o assunto vem portamento psíquico (Freud, 1911). Se enten-
despertando de forma crescente. demos comportamento econômico – o
As áreas de pesquisa dentro do campo objeto de estudo da Psicologia Econômica –
são variadas, e incluem temas como psi- como um dos aspectos do comportamento
cologia do dinheiro, tomada de decisão, psíquico mais amplo, teríamos, então, uma
bem-estar e meio-ambiente, comporta- importante colaboração a oferecer ao estu-
mento econômico de crianças e socializa- do da Psicologia Econômica (Ferreira, 2000).
ção e c o n ô mica, inflação, psicologia Considerando que o método utilizado por
trans-cultural, economia experimental, psicólogos econômicos não inclui a investi-
representações sociais, psicologia da dívi- gação baseada no contato regular, aprofun-
da, da poupança e do investimento, evasão dado e a longo prazo, entre duas
fiscal, motivação e satisfação no trabalho, personalidades, como pode ocorrer na rela-
e-commerce (comércio via internet), com- ção analítica, e que permite a apreensão
portamento organizacional, psicologia mais rigorosa dos fenômenos da subjetivi-
da pobreza, políticas econômicas, psicolo- dade (Bion, 1979), disporíamos, como psica-
gia do turismo, dentre outras (Kirchler e nalistas, de um conhecimento diferenciado
Hölzl, 2003). para o estudo do comportamento econômi-
Com relação à abordagem metodológica, co dos indivíduos, que acreditamos que po-
tem prevalecido a utilização de estudos deria enriquecer o campo da Psicologia
empíricos, através de levantamentos, pes- Econômica.
quisas de opinião e experimentos em labo- A reflexão acerca deste diálogo – suas pos-
ratório (Webley et. al., 2001; Earl, 2003). sibilidades, oportunidade e desafios – pode-
Muitos estudos seguem as linhas teóricas ria ter início a partir dos psicanalistas, de
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ciado ao comportamento econômico, com gia Econômica, embora não tenha havido
a ajuda de equipamentos modernos da ainda uma grande sistematização dessas
tecnologia de ma p e a m e n t o c erebral, idéias, nem sua divulgação em larga escala,
por exemplo, e trabalho de equipes mul- o que caracterizaria uma produção de co-
tidisciplinares reunindo neurocientistas, nhecimento sobre o tema.
economistas e psicólogos (Camerer et. al., Ao utilizarmos o método clínico (Bleger,
2003). 1984), que nos dá condições para observar,
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levantar hipóteses, formular questões e tro- cluiu que o brasileiro costuma associar te-
car idéias dentro da relação analítica, pode- mas que envolvam sexo e religião ao di-
mos oferecer importantes vertentes à nheiro.
exploração do campo psicológico-econômi- Permanecendo no contexto brasileiro, po-
co, ao lado daquelas habitualmente estuda- deremos constatar a importância capital de
das pelos colegas da Psicologia Econômica. tratar de tudo que se relaciona ao cresci-
Estes indicam manter uma abertura relati- mento socioeconômico, e às dificuldades
va – e talvez pudéssemos acrescentar, prag- envolvidas nesse processo. Um seminário
mática, também – quanto ao aumento do foi organizado em 1991 por pesquisadores de
volume de informações e dados a respeito diferentes disciplinas, na Universidade Fe-
do funcionamento mental. A psicanálise deral Fluminense, para tratar de questões
não é a língua comum do grupo, embora referentes à inflação, ou de modo mais am-
haja um grande interesse em conhecer mais plo, à então chamada ‘cultura da inflação’.
sobre o modo como operamos psiquicamen- Mais tarde, as apresentações foram publica-
te (Lewis et. al., 1995). Encontramos também das sob a forma de livro (Vieira, Barbosa,
algumas referências mais específicas a con- Prado, Leopoldi e D’Araújo, 1993).
tribuições da psicanálise ao tema do dinhei- Chama-nos a atenção, entretanto, a falta
ro, por exemplo, como a seção dedicada à de continuidade em se tratando de iniciati-
“loucura do dinheiro – dinheiro e saúde vas dessa natureza. Não temos notícia de
mental”, em Furnham e Argyle (1998), que outros empreendimentos equivalentes que
citam teorias desenvolvidas por Freud tenham buscado tratar de temas econômi-
(1908), Ferenczi (1926) e Fenichel (1947), cos de forma mais ampla, incluindo aí, por
sustentadas por trabalho empírico (Beloff, exemplo, como foi o caso no seminário cita-
1957; Grygier, 1961; Kline, 1967, 1971; do, a presença de psicanalistas, represen-
Wernimont e Fitzpatrick, 1971; Goldberg e tados por Joel Birman e Jeremias Ferraz de
Lewis, 1978; Howarth, 1980, 1982; Forman, Lima. Uma exceção seria o “Pré-encontro
1987; O’Neill et. al., 1992 e outros). de Psicologia e Economia – fronteiras, con-
pulsional > revista de psicanálise > artigos
E por parte dos psicanalistas, existe interes- vergências, dilemas”, organizado em São
se em empreender este diálogo? Paulo, quase uma década depois, em 2002,
Em nosso país, Lima (1996), estudou o signi- por três psicanalistas,2 com o objetivo de
ficado de grafite anotado em notas de di- propor debates em torno de questões de
nheiro brasileiro ao longo de 7 anos natureza psíquica e econômica, reunindo
(1979-1986), que haviam sido retiradas de alguns profissionais dessas áreas e outros
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2> Marco Aurélio F. Velloso, Nilton R. Filomeno e Vera Rita de Mello Ferreira.
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lar, e suas intensas repercussões no Brasil, tada”, que parece existir apenas em teoria.
bem como o preço salgado que pagamos por Ao contrário, observamos, na realidade, as
elas. Em outras palavras, identificamos a enormes dificuldades que nos confrontam
necessidade de criar um espaço para inves- quando tentamos pensar, alcançar pensa-
tigar e refletir sobre esses temas que nos mentos que ainda não nos estão acessíveis,
atingem de modo direto. encarar o que nos provoca dor e descon-
forto (Bion, 1961). Conseqüentemente, estas
Ilustração limitações de acesso às informações, ao co-
O período que antecedeu a eleição presi- nhecimento da realidade – seja ela interna
dencial de 2002 nos fornece um exemplo ou externa – provocam, de imediato, um
claro das grandes oscilações econômicas sério comprometimento na capacidade de
que sacudiram o país e suas frágeis reser- tomar as decisões mais acertadas, de usar
vas econômicas. Entretanto, a turbulência a “racionalidade” para nos permitir decidir
pareceu ter origem, predominantemente, sempre pelo mais favorável, “otimizar” nos-
no âmbito emocional, e não no econômico. sas decisões, como querem os economistas.
As reações em cadeia, a força dos boatos, o Quando analisamos situações concretas ao
poder de contágio de notícias, freqüente- lado de nossos clientes, na clínica, podemos
mente sem fundamento, entre analistas aprender a respeito da precariedade que
econômicos, agências de avaliação de risco nos acompanha, e estas observações, pen-
e meios de comunicação, as chamadas “pro- sadas e organizadas, poderiam se juntar
fecias de auto-realização”, tudo isso contri- aos dados reunidos por psicólogos econômi-
buiu para que perdêssemos tempo, energia cos, que os obtêm de outras formas.
e dinheiro valiosos (Ferreira, 2003). Ao mesmo tempo, o Brasil possui caracterís-
Não existe indenização por previsões equi- ticas específicas, diversas daquelas encon-
vocadas, que resultam em perdas concretas. tradas no hemisfério norte, onde a
Melhor seria se tais previsões não tivessem Psicologia Econômica tem florescido até o
sido feitas em primeiro lugar, e se em vez momento. Caberia, assim, discutir também
pulsional > revista de psicanálise > artigos
delas, dados mais corretos e precisos, pro- as nossas necessidades, o nosso contexto e
piciando análises mais cuidadosas, pudes- as nossas alternativas, possivelmente em
sem ter sido oferecidas à população e ao parceria com outros países latino-america-
mercado em geral (ibid., 2002). Dessa forma, nos, como quem compartilhamos inúmeros
podemos pensar que haveria uma maior problemas socioeconômicos, para pensar
possibilidade de que decisões mais apro- como encaminhá-los.
ano XVII, n. 181, março/2005